Empresa Alex
Empresa Alex
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4
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL – CPDOC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA, POLÍTICA E BENS
CULTURAIS
MESTRADO PROFISSIONAL EM BENS CULTURAIS E PROJETOS SOCIAIS
E
APROVADO EM
PELA BANCA EXAMINADORA
5
Ao amigo Valmir Bessa da Silva (in memoriam)
que com amor, carinho, dedicação e trabalho criou
sua família.
6
AGRADECIMENTOS
Não posso deixar de agradecer em primeiro lugar, ao Prof. Celso Castro que
além de me orientar com muita calma, destreza e sabedoria, foi a pessoa que me sugeriu
este tema que abracei com muito prazer.
Agradeço também aos meus amigos (não caberia no papel o nome de todos, mas
gostaria de destacar o nome do Marcello Pires) e familiares (destacando minha querida
mãe, pai, sogra e irmãos), que muito me apoiaram nesta etapa. Aos colegas do CEFET,
que dentro de nossas limitações, me ajudaram na reta final.
Não posso deixar de fazer um agradecimento especial ao Prof. Joaquim Eloy dos
Santos, que pacientemente me atendeu por várias vezes no Instituto Histórico de
Petrópolis e até mesmo em sua casa, além de gentilmente me emprestar grande parte de
seu acervo pessoal. Agradeço também à senhora Mariza da Silva Gomes e toda a equipe
da “Sala Petrópolis” que me “agüentaram” durante longos dias na Biblioteca Municipal
Gabriela Mistral.
7
“Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”.
Jean Cocteau
8
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................................ 16
9
3.3: Revistas e guias turísticos da época ................................................... 58
4. Bibliografia ...................................................................................................... 84
10
RESUMO
11
ABSTRACT
The present paper intended to analyze the way the construction of the so called
“touristic nature” of the town of Petrópolis was originated, through a historical
perspective. As an specific object, I intended to describe how the organization of the
touristic activity in the town happened., highlighting its origins, trying to comprehend
and identify the main narratives and images in which the cultural construction relies on,
highlighting its origins between the years of 1900 and 1930. With this aim, the paper
put forward the origins and evolution of the town of Petrópolis since the antecedents of
its foundation in the 19th century. Following it, I worked in the sense of unveil the
social changes in the act of travelling, in the perspective of comprehending the origins
and consolidation of the organized touristic activity in town. Finally, I analyzed some
narratives and images which represent the cultural construction of the “touristic nature”
of Petrópolis, holding as reference the first decades of the 20th century. The study was
done with the resource of the existing techno-scientific literature and, also the
documentary and iconographic research which portrayed narratives and images of
tourism in Petrópolis at the beginning of its organization. Therefore, guides and
magazines published between the years of 1900 and 1930 were selected.
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
13
LISTA DE FIGURAS
Figura 17: Capa do guia “Petrópolis Cidade do Brasil: A Rainha das Serras” ..... 61
14
Figura 19: Anúncio de procedimentos médicos .................................................... 63
15
Introdução
Conheci a cidade de Petrópolis há uns dez anos. Estava sem visitá-la desde 2004.
Quando retornei em 2008, percebi grandes e significativas transformações,
principalmente em sua região central. Num primeiro momento, achei que a cidade
estava bem mais agradável, mais bonita, mais limpa, com calçadas mais largas, mais
arborizada, e principalmente, percebi que os prédios históricos do centro estavam bem
mais conservados do que antes. Foi quando descobri que a cidade estava passando por
um projeto denominado “Reurbanização do Centro Histórico”.
Por isso, a presente pesquisa teve como objetivo geral analisar de que forma se
originou a construção da chamada “natureza turística” da cidade de Petrópolis, através
de uma perspectiva histórica. Como objetivo específico, pretendi descrever como se deu
a organização da atividade turística no município através dos tempos, destacando as
suas origens, buscando compreender e identificar as principais narrativas e imagens que
sustentam essa construção cultural, destacando as suas origens entre os anos de 1900 e
1930. Com este fim, o trabalho foi dividido em três momentos:
17
Capítulo 1: Antecedentes do turismo organizado em Petrópolis
A região onde hoje a cidade está situada aparece no mapa do Brasil a partir do
século XVIII, com a abertura dos caminhos para as minas de ouro no interior da
colônia. O chamado “Caminho-Novo”, aberto por Garcia Rodrigues Pais, que ligava a
cidade do Rio de Janeiro ao atual Estado de Minas Gerais, recebeu no ano de 1725 uma
variante denominada “Atalho de Soares de Proença”, que encurtava o trajeto e
proporcionava um percurso menos sinuoso em direção às atividades mineiras. O mesmo
atravessava grande parte do que é hoje a cidade de Petrópolis.
1
Fonte: IBGE (2007).
2
A tese de Ambrozio (2008:132-145) detalha as origens e a evolução territorial da cidade de Petrópolis
através dos tempos. Na Parte II, Capítulo 1, Seção “1.2 – Da Sesmaria à Fazenda Imperial”, o autor
demonstra com detalhes a formação e a trajetória das propriedades da região no século XVIII.
18
Figura 1: Mapa do Caminho Antigo das Minas Gerais (desenhado pelo autor)
Fonte: Rabaço (1985:8-9).
Uma importante fazenda originária desta época foi a Fazendo dos Correas, que
se destacou pela privilegiada localização junto ao Caminho Mineiro. A propriedade
pertencente ao casal Correa-Goulão, foi herdada em 1802 pelo filho, o eclesiástico
Antônio Tomás de Aquino Correa da Silva Goulão, mais conhecido como Padre Correa.
Nas mãos do Padre Correa, a fazenda alcançou o seu apogeu econômico. Nos
vinte anos que se seguiram, a propriedade se destacou pela produção de milho, arroz e
também pela fabricação de ferraduras para animais, mantendo um intenso comércio com
a cidade do Rio de Janeiro, despontando como uma das principais fazendas da
província. Segundo Ambrozio:
É no ano de 1830 que Dom Pedro I finalmente adquire uma propriedade próxima
à fazenda do Padre Correa: a então chamada Fazenda do Córrego Seco. Quando ao
destino dessa propriedade na década de 1830, Schwarcz descreve a seguir:
3
É importante lembrar que era comum, dentre as monarquias européias, a existência de uma segunda
residência real, também chamada de residência de verão.
20
No ano de 1843, depois de sanada a situação legal e financeira, a Casa Imperial 4
assume a administração da Fazenda do Córrego Seco. Dom Pedro II, por sua vez,
demonstrou profundo interesse em dar continuidade aos planos de seu pai. Vale
ressaltar que a idéia de se edificar outro palácio fora da capital já era antiga e não se
configurava apenas como um fetiche pessoal ou familiar dos dois imperadores. O
palácio na serra também continha justificativa política, militar e sanitária, defendida
também por outros atores do Império, como o mordomo-mor Paulo Barbosa. Schwarcz,
ao descrever a origem do nome Petrópolis a futura cidade, demonstra essa vontade junto
aos oficiais do Império:
4
A Casa Imperial era uma instituição responsável pela administração, dentre outras, dos palácios do
imperador e das finanças da família imperial. O administrador da Casa Imperial era o chamado
“mordomo-mor” que nomeado pelo imperador, constituía-se como empregado oficial mais importante e
possuía direta comunicação com o rei. Dentre os Palácios estavam o Paço da Cidade, O Paço de São
Cristóvão (ou Palácio da Boa Vista), a Fazenda de Santa Cruz e posteriormente o Palácio de Petrópolis.
(Schwarcz, 1998:207-208).
21
suas respectivas dependências e demarcar o restante para abrigar um povoado aforado a
particulares. Além disso, deveria pensar na edificação de uma igreja e de um cemitério.
Todo esse plano urbanístico ficou conhecido como “Plano Köeler”, que Taulois
descreve a seguir:
Para povoar a região, duas medidas foram adotadas: A primeira, por parte de D.
Pedro II, foi de doar terras para “certos homens notáveis pelos serviços prestados ao
Estado”6. A segunda medida foi criar uma colônia agrícola, da qual também ficou a
cargo do major Köeler7. Segundo Schwarcz, “Os primeiros colonos, todos imigrantes
alemães que para cá vieram com o objetivo de trabalhar inicialmente na construção da
estrada, erguiam suas moradas, plantavam as primeiras hortas e davam existência real a
Petrópolis.” (1998:233).
Na década de 1850, algumas das obras vão ficando prontas e Petrópolis vai
tomando forma. Em 1856 o Palácio estava praticamente terminado. Os alemães
continuavam chegando da Europa. Suas famílias cresciam ao ponto que, no ano de
1859, a população alemã em Petrópolis era de aproximadamente 3300 pessoas. A
5
TAULOIS, E. T. História de Petrópolis Universidade Católica de Petrópolis / Instituto Histórico de
Petrópolis. Petrópolis, Fev. de 2007. Extraído de < www.petropolis.rj.gov.br > em 21/08/2008.
6
LACOMBE, A. J. Paulo Barbosa e a fundação de Petrópolis. Petrópolis, Typ. Ypiranga, 1939. (p. 58)
(Apud Schwarcz, 1998: 232).
7
É importante lembrar que Júlio Frederico Koeler (Julius Friedrich Koeler) era alemão naturalizado
brasileiro.
22
aristocracia que recebeu terras de D. Pedro II já edificava seus palacetes dando uma
nova roupagem ao espaço urbano. O Império, por sua vez, não media forças e
investimentos em prol da construção de seu novo reduto de verão. Com toda essa
dinamização, o povoado de Petrópolis foi elevado à categoria de cidade 8 em 1857.
Estava fundada a “Cidade de Pedro”.
8
Schwarcz lembra que Petrópolis foi elevada de povoado a cidade sem ter passado por vila. Isso
significava um grande salto na escala administrativa da época (1998:235).
9
Petrópolis se distancia da cidade do Rio de Janeiro em 65 quilômetros. Informações extraídas do site da
Fundação de Cultura e Turismo da Prefeitura de Petrópolis. Disponível em:
<http://www.petropolis.rj.gov.br/> Acesso em 29/10/2009.
23
Um contingente multiforme e flutuante de livres e libertos, cada
vez mais numeroso, trabalhava, residia, e perambulava nos limites
dessa mesma área central. Ali prevalecia a mais completa e caótica
contigüidade entre o mercado onde a força do trabalho era posta à
venda, cotidianamente, e o mercado – formal e ambulante – onde
as “diárias” incertas se convertiam em gêneros e elementos
indispensáveis a sobrevivência e reprodução dessa heteróclita plebe
urbana. As diárias eram consumidas no armazém que fornecia
alimentos caros, muitas vezes a crédito, no pagamento de um
quarto de cortiço (geralmente nos fundos do mesmo armazém),
contíguo à oficina, próximo ao porto, vizinho a um sobrado de
comerciante opulento, da moradia de um empregado público ou,
quem sabe, de uma viúva que, a duras penas, sobrevivia com a
renda proporcionada por um ou dois escravos postos ao ganho.
(Benchimol, 1990:112)
A natureza física do Rio de Janeiro também não era apontada como a das mais
salubres. Benchimol sintetiza o pensamento higienista da época sobre a cidade da
seguinte maneira:
10
Tese apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1852. GUERRA, D. M. Apud
Benchimol (1990:117).
25
de Janeiro como um lugar insalubre. A proliferação de doenças e epidemias foram
conseqüências naturais desta situação:
Diante de todo esse contexto, uma das medidas emergenciais tomadas pelo
Governo Imperial foi proteger a Corte brasileira desses possíveis contágios, isolando-a
em algum lugar seguro. Nesse momento, Petrópolis aparece como uma boa rota de fuga
contra as epidemias e miasmas que assolavam a capital.
11
A Fazenda de Santa Cruz era uma das residências da Família Real administradas pela Casa Imperial.
Ela foi fundada pelos jesuítas e foi confiscada pela Coroa portuguesa com a expulsão dos padres em
1759, por Marquês de Pombal. A Fazenda foi colocada a disposição da Família Imperial desde a sua
chegada ao Brasil em 1808. Distante cerca de 60 quilômetros do Centro do Rio de Janeiro, a Fazenda de
Santa Cruz funcionou como a primeira residência de veraneio da Família Imperial, ofuscada depois pelo
Palácio na Serra, em Petrópolis (Schwarcz, 1998:222).
26
nesse mesmo ano a febre amarela vitimou para valer os habitantes
da cidade-corte, levando aqueles que tinham meios a seguir a
mesma rota do imperador. Além de oferecer os prazeres da
convivência com a Coroa, Petrópolis convertia-se em rota de fuga
da febre amarela, em uma política sanitária da corte. (Schwarcz,
1998:235)
A partir daí, pode-se entender que Petrópolis foi utilizada não apenas para o ócio
e desfrute de uma Corte. A cidade também serviu como refúgio de pessoas abastadas
que esquivavam das epidemias do Rio de Janeiro, principalmente nos meses de verão.
Vale lembrar que Petrópolis possuía uma questão física que favorecia sua salubridade.
O clima ameno da região serrana aliado ao ordenamento urbano proposto por Koeler
proporcionavam condições sanitárias muito mais favoráveis do que as do Rio de
Janeiro. Segundo Henri Raffard, “Centenas de pessoas abastadas [que] fugiram dos
logares empestados e procuraram abrigo no bello clima de Petrópolis. (...) Pessoas que
talvez nunca tivessem vindo a Petrópolis ficaram conhecendo o logar e gostado d´elle.
(apud Ambrozio, 2008:245)
27
Petrópolis, então, adquire também uma atração política. Muitas pessoas
veraneavam na cidade não apenas pelo clima ameno ou por descanso. Elas também
procuravam uma proximidade com a monarquia que muitas vezes não era possível na
capital.
12
Carta de Ernesto de V. Magalhães para Paulo Barbosa. Ms., 8/4/1851, Coleção Tobias Montero, FBN
(apud Schwarcz, 1998:239).
13
Renânia, mais tarde São Pedro de Alcântara, 1873; Cia. Petropolitana, 1874; D. Isabel, 1889
(Ambrozio, 2008: p. 20).
28
1.3: Viagens e Viajantes na Petrópolis do século XIX
14
O Museu Imperial de Petrópolis reeditou essas quatro obras raras em um único volume originalmente
em 1957 e depois relançada em edição comemorativa no ano de 1995. (Ministério da Educação e Cultura.
Anuário do Museu Imperial. [Ed. Comemorativa]; Petrópolis, 1995).
29
Figura 2: Folha de rosto da edição original de Cidade de Petrópolis: Reedição de quatro obras raras
(1957).
Fonte: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA (1995:07).
31
Figura 6: Cascata dos Correas
Fonte: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E
CULTURA (1995:127).
32
Figura 8: Hotel Inglês
Fonte: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA (1995:113).
Esse livro possui uma perspectiva mais informativa. Trata-se de um guia para
viajantes um pouco mais resumido. O que pode ser destacado nessa publicação é a
descrição feita dos hotéis: Hotel de Bragança, Hotel Beresford e Hotel Inglês, mais
detalhada do que nas outras obras. Ele também dá grande atenção aos equipamentos
voltados para questões de saúde como asilos, hospitais e estabelecimentos
hidroterápicos.
33
Figura 9: Folha de rosto da edição original de “Os Figura 10: Folha de rosto da edição original de
Estabelecimentos Uteis de Petropolis”. “Petropolis: Guia de Viagem”.
Fonte: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E Fonte: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E
CULTURA (1995:269). CULTURA (1995:197).
Este livro também possui uma perspectiva mais informativa, com o objetivo de
apresentar aos viajantes diversas informações sobre os meios de transporte e as vias de
acesso, hospedagens, história da cidade, altitude, distâncias, clima, pluviosidade, dentre
outras. O autor também descreve um importante atrativo da cidade que é reconhecido
até os dias de hoje: o Palácio de Cristal. Ele descreve a existência de uma espécie de
“fábrica” de laticínios e cita também diferentes indústrias de tecidos. Ao final descreve
os principais estabelecimentos de comércio e serviços.
34
diferentes equipamentos turísticos ainda raros no Brasil naquela época, como ferrovias e
estradas de rodagem.
15
(Koseritz, Carl Von. Imagens do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia/EDUSP, 1980:64-5.)
35
1.4: A Proclamação da República na cidade de Pedro
16
Relação dos logradouros que tiveram seus nomes modificados: “A Câmara aprova a substituição que
tem de ser presente ao governador do estado para aprovar, é a seguinte: Quinze de Novembro a rua do
Imperador – Sete de Setembro a da Imperatriz – Silva Xavier a de Dona Maria II – 28 de Setembro a de
Dom Afonso – 13 de Maio a de Dona Isabel – 7 de Abril a de Dona Leopoldina – Marechal Deodoro a de
Dona Januária – General Osório a de Dona Francisca – Bento Gonçalves a do Conde d‟Eu – Nunes
Machado a do Duque de Saxe – Piabanha a de Nassau – Cruzeiro a de Bourbon – 1º de Março a de
Bragança – Ipiranga a de Joinville – praça de Dom Pedro a de Dom Pedro II, digo, praça de Dom Pedro
de Alcântara a de Dom Pedro II, Inconfidência a do Príncipe do Grão Pará.” (Ata redigida pela Câmara
Municipal de Petrópolis no dia 05/12/1889)
36
Além de permanecer a cidade dileta para a estação calmosa,
Petrópolis continua a abrigar, como residentes ou veranistas,
ocupantes dos mais altos cargos do poder. Proclamada a República,
os presidentes, até a inauguração de Brasília, deram continuação ao
rito de transferir os despachos de verão para a cidade, onde
permaneciam durante um curto período do ano (Lima, 2001:34).
O Palácio Rio Negro, como é hoje conhecido, foi edificado a partir de 1889 pelo
senhor Manuel Gomes de Carvalho, intitulado Barão do Rio Negro ainda no Império.
Em 1896, o Palácio foi adquirido pelo governo do estado do Rio de Janeiro para servir
de residência para os presidentes do estado, ora sediada em Petrópolis. Com o retorno
da capital do estado para Niterói em 1903, o prédio foi desocupado e hipotecado ao
Banco da República.
37
diretamente com o progresso que inscreveu parte do conhecido
lema positivista na Bandeira Nacional modificada. (Lima, 2001:36)
17
Informações extraídas do site da Fundação de Cultura e Turismo da Prefeitura de Petrópolis.
Disponível em: <http://www.petropolis.rj.gov.br/> Acesso em 06/01/2009.
38
Capítulo 2: Da Vilegiatura ao Turismo de Massa: O advento do turismo
organizado em Petrópolis
39
queremos mostrar aqui é que o turismo é uma criação e uma
possibilidade do capitalismo.
Com isto, Ouriques conclui que “(...) o homem sempre viajou, mas só muito
recentemente começou a fazer turismo”. (2003:36). Outros autores também defendem a
visão de que o turismo nasce com o capitalismo. Para reforçar a idéia, serão utilizadas
as palavras de Moesch (2000:9):
É no século XIX, quando o sistema capitalista adquiriu seu ímpeto, que muitos
autores consideram o surgimento do chamado “turismo moderno”. Segundo Hobsbawm,
“o capitalismo industrial produziu duas novas formas de viagens de prazer: turismo e
viagens de verão para a burguesia e pequenas excursões mecanizadas para as massas em
alguns países como a Inglaterra” (2000:285). O Turismo, assim como o lazer, surge
como nova forma de produção e reprodução do capital. Com isso, as destinações
turísticas passam também a ser entendidas como espaços de consumo.
Para Pires (2001) o inglês Thomas Cook foi o precursor do chamado “turismo
moderno”. Segundo o autor, Cook foi o responsável pela organização da primeira
excursão de trem, em 1841. Foi também Cook quem criou a primeira agência de
turismo, a “Thomas Cook and Son”, tornando-se também primeira operadora de turismo
do mundo:
40
encontravam-se em atividade permanente e oferecendo seus
serviços de forma profissional. (Fúster apud Pires, 2001:48)
É no século XX que o turismo atinge o seu ímpeto. É nesse século que o turismo
deixa de ser um privilégio das elites e são criadas condições para transformá-lo em um
fenômeno mundial de massas. Segundo Montejano (2001:56), as principais conquistas
obtidas que desencadearam o turismo de massa são as seguintes: a) Redução da jornada
de trabalho, que gradativamente foi diminuindo até chegar às oito horas diárias na
década de 1920, em alguns países mais desenvolvidos; b) Férias remuneradas que
começam a se regulamentar por diversos países na década de 1930; c) Livre circulação
de pessoas, devido aos acordos bilaterais e multilaterais firmados entre os países; d)
Avanços técnicos e comerciais dos transportes e a “democratização” de seus preços
(automóvel, trens, aviões, etc.); e) A “industrialização” maciça dos pacotes turísticos,
organizados por operadoras de turismo.
41
vocábulo tour, que, de fato, apenas surgiu quando os trabalhadores
dos países altamente industrializados foram incorporados, como
sócios menores, aos benefícios do aumento da produtividade do
trabalho, dentre esses proveitos, a redução da jornada de trabalho
gerando maior tempo livre remunerado – as férias. O vocábulo
turismo nasceu no século XIX na Inglaterra. Não existiria tal
prática de deslocamento antes desse século e mesmo aí fora apenas
organizado para a burguesia. Até então, deslocamento de cura ou
descanso fora prática usual da aristocracia, com ritmo e lugares
distantes vinculados à vilegiatura e, no tempo, apartados do
turismo. (2008:18-19).
18
É importante lembrar que “Durante diversas décadas após a sua invenção, bicicleta e automóvel foram
meios de turismo – elitista – mas não meios de transporte que os entendemos atualmente (...) foi
primeiramente para sair em férias que esses novos veranistas adquiriram um automóvel” (Boyer,
1999:09).
19
Vale lembrar que o Touring Club do Brasil só recebeu esta denominação em 1926. No ato de sua
inauguração, foi nomeado de Sociedade Brasileira de Turismo.
43
uma villa20 aristocrática: a villa de Pedro e de sua Corte que naturalmente vai se
configurar como um importante destino de vilegiatura no século XIX.
20
Boyer afirma que termo villegiatura se origina com a construção das mansões de verão em torno das
cidades italianas no século 16, denominadas de villas, como as villas paladianas de Brenta. Boyer também
afirma que a villegiatura é ancestral das residências secundárias. (2003: 21). Sobre as origens do termo
villegiatura, vale também consultar o artigo AMBROZIO, J. Viagem, Turismo e Vilegiatura. GEOUSP –
Espaço e Tempo, São Paulo, nº 18, (pp. 105-113), 2005. Nele, o autor realiza um profundo estudo
etimológico dos termos Villa e Villegiatura.
44
organizada na capital federal só se dá a partir das primeiras décadas do século. Segundo
Castro:
21
A Inspetoria de Turismo do Município de Petrópolis foi criada pela Deliberação nº 322, de 31 de março
de 1952 pela administração do prefeito Cordolino José Ambrósio (PTB), tendo como atribuições:
“a) Propaganda do Município; b) Difusão do turismo; c) Organização de excursões turísticas; d) Controle
do elemento turista”.
45
transformada em 1962 em Departamento de Turismo e Certames22. Mas é apenas no ano
de 1973 que o poder público começa a tomar efetivas ações quanto à organização da
atividade turística. É na gestão do prefeito Paulo José Alves Rattes (MDB) que se
institui a primeira Política Municipal de Turismo e se cria a Empresa de Turismo de
Petrópolis (denominada PETROTUR).23
22
Em 4 de dezembro de 1962, o então prefeito Nelson de Sá Earp (UDN), através da Deliberação nº
1611, transforma a Inspetoria de Turismo em Departamento de Turismo e Certames, adicionando ao
mesmo as seguintes atribuições: “a) manter um escritório central de Turismo, de preferência no Centro da
Cidade; b) manter intérpretes para atendimento dos turistas estrangeiros, podendo os mesmos serem
requisitados na Secretaria de Educação do Município, ou entre os estudantes de Petrópolis, mediante
concurso; c) manter ou contratar ou por concorrência pública, ônibus de preferência com serviço sonoro
interno, para conduzir os turistas aos pontos de visitas da cidade.” Além disso, o mesmo decreto cria o
Conselho Municipal de Turismo.
23
Deliberação nº 3.509, de 20/12/1973.
24
Acesso em 15/01/2009, 15:19 h.
46
A “Empreza ALEX” foi fundada por ele em 1908. Tratava-se de uma empresa
que inicialmente se apresentava como uma agência publicitária voltada para a
divulgação das riquezas ambientais do município e que depois foi se diversificando para
as mais distintas prestações de serviços. A empresa foi responsável pela edição de
mapas, folhetos e guias de turismo ainda nas décadas de 1910 e 1920, onde se destaca o
guia “Petrópolis Cidade do Brasil: A Rainha das Serras” (1910). No referido guia, ao
apresentar a “Empreza ALEX”, os seguintes objetivos são expostos:
Vale lembrar que a “Empreza ALEX” também se destacou por uma infinidade
de outros serviços. Segundo o anúncio publicado na própria revista Verão em
Petrópolis25 de 1914, “A „ALEX‟ faz tudo – tudo sabe e tudo informa”. Dentre a
diversidade dos serviços oferecidos estão transações e corretagens imobiliárias, serviços
de transportes, de construção civil, serviços publicitários e contratação de seguros.
25
No capítulo 3, serão analisadas em detalhes as publicações “Verão em Petropolis” e o guia “Petrópolis
Cidade do Brasil: A Rainha das Serras”.
47
Figura 12: Os Serviços da ALEX (Parte 1)
Fonte: Verâo em Petrópolis (1914:s/p)
48
Figura 13: Os Serviços da ALEX (Parte 2)
Fonte: Verâo em Petrópolis (1921:s/p)
26
Luís Afonso D´Escragnolle também foi uma importante personalidade da cidade, sendo um dos
primeiros diretores do Museu Imperial de Petrópolis.
50
Figura 15: Foto de Alberto de Faria Figura 16: Foto de Cerqueira Lima
Fonte: Guia de Petropolis (1925:19) Fonte: Guia de Petropolis (1925:21)
51
ponto de vista da conservação das estradas e da guarda das bellezas
naturaes ou historicas.27
27
O Estatuto aparece tanto nos diferentes números da Revista “Petropolis-Turismo” (1923, 1924), quanto
no Guia de Petropolis (1925).
28
No próximo capítulo, analisarei com maior profundidade os conteúdos da revista “Petrópolis-Turismo”,
o “Guia de Petropolis”,e também alguns discursos e causas defendidas pelo Sindicato.
52
noto em palestras com pessoas que, sei, aspiram dilatar o ambito de
nossa possibilidades industriaes e economicas, tudo isso me dá a
impressão de já possuirmos aqui o que observei no estrangeiro...
Falta-nos ainda, vamos dizer, uma completa actuação, harmonica
em seu conjunto, de tantos elementos dispersos e aproveitaveis...
E o turismo, organizado no Brasil como deve ser não nos trará a
imigração do ouro estrangeiro? Estou certo de que assim como o
brasileiro vae gasta-lo lá, no Brasil, devido a uma perfeita
organização turística, seria Brasil procurado por inumeros
excursionistas, que aqui chegando unicamente despertados pelo
desejo de conhecerem o paiz, suas bellezas naturaes e artisticas,
encontrariam tambem pelo conhecimento dos muitos recursos e
facilidades, occasião de empregar capitaes, crear industrias, com o
que, contribuiram para o engrandecimento do paiz.
Organizado, portanto, o turismo, não só despertará no espirito do
visitante das capitaes e cidades prioncipaes as idéas apontadas, mas
tambem o levará pelo interior a observar "de visu" nossas florestas,
terras de cultura, fabricas, etc... o que tal succederia por certo,
desde que lhe fossem facilitadas todas as indicações, meios de
transportes, etc,. para tal fim.29
29
Esta entrevista foi transcrita na íntegra no artigo “Uma instituição de turismo no Brasil em 1923”
assinado por Márcio BENSUASCHI. Extraída de
<http://www.turismologia.com.br/reportagem.asp?codigo=73&estado=RJ> em 31/07/2009 às 17:17.
53
Mas, a Sociedade Brasileira de Turismo, que já é uma realidade,
tem a sua verdadeira origem no “Syndicato de Iniciativa de
Turismo do Municipio de Petropolis”, do qual esta revista é o
orgam, desde o início.
Realmente é justo que se remonte, ha um anno, a Petropolis, onde
outro núcleo de cavalheiros da escól social se reunia também a
fundação do “Syndicato de Iniciativa de Turismo do Municipio de
Petropolis”. Então, como agora, foi o iniciador desse
emprehendimento o sr. P. B. de Cerqueira Lima ... (Petrópolis-
Turismo, 1924:s/p).
Apesar de não encontrar nenhuma evidência contrária, não se pode afirmar ainda
que o Sindicato de Iniciativa petropolitano foi a primeira associação de turismo do
Brasil; provavelmente, todavia, foi uma das primeiras. O que pode-se afirmar é que o
Sindicato de Iniciativa de Petrópolis surgiu antes da Sociedade Brasileira de Turismo e
suas ações, atores e ideais foram fundamentais para constituição da mesma. Vale
também lembrar que após alguns anos, as duas associações se transformaram em
Touring Club de Petrópolis e Touring Club do Brasil, respectivamente.
54
Capítulo 3: Narrativas e imagens do Turismo em Petrópolis entre 1900 e
1930.
30
Para saber mais sobre as origens e evoluções dos guias de viagens e também de outros meios de
comunicação relacionados com o turismo, uma boa referência é Montejano, em seu capítulo 23:
“Jornalismo turístico e literatura de viagem” (2001:301-312).
56
3) Biblioteca do Museu Imperial de Petrópolis (M.I.P.): guarda quatro obras
raras31 publicadas por viajantes do século XIX que passaram pela cidade,
além de possuir alguns guias do século XX. Um dos guias procurado, só
foi encontrado nesta biblioteca;
31
Já citadas anteriormente em diferentes capítulos.
32
O Museu Imperial de Petrópolis (M.I.P) é um dos principais centros de pesquisa e documentação sobre
o Segundo Império no Brasil.
57
3.3: Revistas e guias turísticos da época
O período da República Velha foi bem significativo quanto à produção dos guias
de viajantes. Conforme analisado nos capítulos anteriores, foi justamente nesta época
que o fenômeno da villegiatura foi aos poucos dando lugar ao turismo organizado. Um
dos fatores que determinaram a transição da villegiatura para o turismo organizado em
Petrópolis foi o surgimento dos guias e de uma imprensa especializada para este fim.
33
Obra já analisada no capítulo 1, item 1.3.
58
diversos gêneros. Sobre a imprensa petropolitana desse período, Silveira Filho faz a
seguinte afirmação:
Um tipo de publicação que se destacou na época foi das revistas que tratavam
das mais variadas temáticas como religião, literatura, política, informação, vida social,
esportes, diversões, dentre outras. Silveira Filho (s/d:s/p) 34, em um ensaio sobre as
revistas petropolitanas na República Velha, listou 22 títulos de periódicos diferentes que
surgiram neste período.
34
SILVEIRA FILHO, O. F. A Imprensa petropolitana na república Velha: revistas. Extraído de:
<http://profferreira.sites.uol.com.br/histimprensrevistas.htm > em 02/02/2010. O artigo aparece no site
com a seguinte observação: “Este ensaio continua inédito. Não foi publicado pela imprensa”
59
públicos e legações estrangeiras. Algumas funcionavam inclusive
como roteiro de festas, piqueniques, e outras atividades. (Silveira
Filho, s/d:s/p)
35
Para saber mais sobre os vários guias, revistas e outras publicações raras em Petrópolis no período, o
historiador e professor Oazinguito Ferreira Silveira Filho (1985, 2009, 2010) publicou no jornal Tribuna
de Petrópolis e no seu site particular < http://profferreira.sites.uol.com.br/histimprensrevistas.htm >
alguns ensaios sobre a história da imprensa, das tipografias e de várias obras produzidas em Petrópolis na
República Velha. Estes ensaios contêm uma descrição resumida de grande parte das publicações
encontradas. Vale lembrar que estes ensaios são uma das poucas fontes secundárias encontradas sobre o
assunto.
60
3.3.1: “Petrópolis Cidade do Brasil: A Rainha das Serras” (1910)
Figura 17: Capa do guia “Petrópolis Cidade do Brasil: A Rainha das Serras”.
Fonte: Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral
Este guia se destaca primeiramente por ser editado pela já mencionada “Empreza
ALEX”, que tinha a frente o empresário, publicitário e escritor João Roberto
D´Escragnolle. O que também chama atenção é o acabamento gráfico, bem superior ao
de outras obras semelhantes da época. O guia apresenta fotografias e ilustrações de
diferentes pontos da cidade.
Outra questão relevante foi o fato dele ser o primeiro a se apresentar como um
guia para turistas. A sétima página inicia a seguinte seção: “Guia para o „touriste‟ 36:
como se faz a viagem do Rio para Petropolis” e mostra o trajeto adotado pelo turista
para chegar a cidade através de seu principal centro emissor: a capital, Rio de Janeiro.
Para isso, o guia demonstrava os meios de transporte disponíveis, serviços de
36
Observe que a expressão “touriste” (turista) ainda aparece escrita em francês.
61
alimentação no trajeto, preços de passagens e serviços, além de destacar as belezas do
caminho.
62
Outros detalhes interessantes ajudam a firmar a idéia de “cidade de cura”. São
muitos os anúncios publicitários de médicos, farmácias e estabelecimentos
hidroterápicos. Seguem abaixo dois interessantes anúncios:
Figura 18: Contra-capa do guia “Petrópolis Cidade Figura 19: Anúncio de procedimentos médicos
do Brasil” Fonte: Petrópolis Cidade do Brasil (1910:s/p).
Fonte: Petrópolis Cidade do Brasil (1910:s/p).
b) Destaque para os atrativos dos bairros periféricos: Bem diferente dos guias e
publicações atuais, que enfatizam o Centro Histórico e seus arredores:
Curiosamente, esta publicação faz menção a bairros que nos dias atuais não
aparecem nos roteiros turísticos convencionais. Uma interessante passagem do guia
apresenta esses bairros como passeios pitorescos por Petrópolis:
63
Figura 20: Planta da cidade de Petrópolis de 1906.
Fonte: Petrópolis Cidade do Brasil (1910:s/p).
37
Tese apresentada à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1852. GUERRA, D. M. Apud
Benchimol (1990: 117). Citação já apresentada no item 1.2
64
urbanas, possuía pouquíssimas praças e este quesito foi lembrado por Koeler 38 ao
planejar a cidade de Petrópolis.
O mapa que consta no guia não deve necessariamente ser tratado como um
“mapa turístico”, ou seja, um mapa confeccionado prioritariamente para direcionar o
turista para os atrativos e equipamentos que podem lhe interessar na localidade visitada.
Como pode ser observado em seu cabeçalho, ele é descrito como uma “Planta da cidade
de Petropolis levantada pelo Dr. Henrique Franco por determinação da „Camara
Municipal‟”. Provavelmente foi uma planta levantada para as mais diversas finalidades.
Mas o que deve ser considerado é o fato de ele aparecer dentro de um guia de turismo, o
que pressupõe sua utilização para a orientação de turistas.
38
Vale ressaltar que o plano inicial proposto por Koeler possuía muito mais praças do que foi
efetivamente edificado na cidade de Petrópolis. Para saber mais sobre o plano original de Koeler, a
implantação das praças na cidade, e também sobre as praças que não saíram do papel, Ambrozio (2008)
destina parte de sua tese a este assunto.
65
Fonte: Museu Imperial de Petrópolis (M.I.P.)
66
Figura 22: Costumes antigos
Fonte: Guia de Petropolis (1925,s/p).
39
Alguns trechos do Guia não possuem paginação.
40
Pode ser que a legenda tenha se desprendido do mapa com o passar dos anos.
41
Pelos símbolos apresentados e pela localização geográfica atual, acredito que tais indicações fazem
referência aos hotéis, restaurantes e outros equipamentos de uso turístico da época.
68
Figura 23: Mapa da cidade de Petrópolis de 1922.
Fonte: Guia de Petropolis (1925,s/p).
69
Figura 24: Mapa do caminho do Rio de Janeiro para Petrópolis.
Fonte: Guia de Petropolis (1925,s/p).
70
3.3.3: Revista Petrópolis Turismo
Figura 25: Capa da Revista “Petropolis-Turismo” Figura 26: Capa da Revista “Petropolis-Turismo”
(1923) (1924)
Fonte: Biblioteca Municipal Gabriela Mistral Fonte: Acervo particular do Prof. Joaquim Eloy
dos Santos
Esta revista se diferenciou das demais publicações pesquisadas pelo tom mais
politizado em sistemáticas “campanhas” em prol de duas bandeiras:
42
Trecho do 1º Artigo do Estatuto do S.I.T.M.P. Já referenciado no Capítulo 2, item 2.3.2.
71
1) o desenvolvimento do turismo como atividade econômica em Petrópolis e no
Brasil;
72
Estes artigos reforçam a idéia de que na década de 1920 já havia em Petrópolis
pessoas não só trabalhando ou empreendendo no setor de turismo, mas também
esboçando um pensamento crítico sobre o assunto. Apesar dos autores enfatizarem
quase que por unanimidade os aspectos econômicos do turismo, sem refletir sobre as
conseqüências negativas do mesmo, já se pode considerar como um avanço relevante
para a época relatada.
74
Figura 28: Concurso Pró Turismo
Fonte: Petropolis-Turismo (1924,s/p).
Revista fundada pelo senhor João Roberto D´Escragnole que veio a ser
proprietário da já mencionda “Empreza ALEX”. Ela foi publicada a partir de 1902. Sua
periodicidade variou muito durante os anos, sendo hora quinzenal, hora semanal, hora
anual, marcada por diversas fases:
75
Segunda fase: editada pelos senhores Leoncio Correia e Henrique
Mercado, de 1923 até 1930;
Figura 29: Capas da Revista “Verão em Petrópolis” em suas diferentes fases (1902, 1923, 1930).
Fontes: Biblioteca Municipal Gabriel Mistral.
Era uma revista eminentemente literária, que circulava nos verões de Petrópolis,
tendo como público alvo os “veranistas”. Além de literatura, ela trazia também
informações úteis sobre a cidade e dicas de passeios, divulgação de festas e eventos,
crítica de teatro e cinema. Falava também sobre esporte, política (principalmente em sua
última fase), notícias de importantes veranistas presentes na cidade como os presidentes
da República, parlamentares, intelectuais, e artistas. Além disso, veiculava publicidades
em geral como anúncios de hotéis, de serviços médicos (todas as edições contém uma
página exclusiva para os médicos), odontológicos (após 1924), propagandas da famosa
Cervejaria Bohemia, restaurantes, cafés, dentre outras.
76
Figura 30: Presidente Epitácio Pessoa em visita a Figura 31: Condes de Leopoldina.
Petrópolis. Fonte: “Verão em Petrópolis” (15 de jan. de 1922)
Fonte: “Verão em Petrópolis” (31 de jan. de 1922)
77
Figura 33: Anúncio do “Rapido” Praia Formosa.
Fonte: “Verão em Petrópolis” (20 de nov. de 1924).
78
existem mosquitos transmissores dessas molestias e onde a
temperatura é sempre uma delicia. (Verão em Petropolis, 1902:18)
43
Jornalista e poeta de relevante destaque na imprensa carioca e petropolitana na primeira metade do
século XX. Fonte: IHP (Extraído de: < http://www.ihp.org.br/colecoes/lib_ihp/docs/gkf20000731.htm >
em 12/02/2009).
79
natureza pittoresca e ao mesmo tempo hospitaleira. (Verão em
Petropolis, 1930:s/p)
Para completar, Amorin faz críticas aos meios de divulgação e aos equipamentos
turísticos existentes em Petrópolis:
O último fragmento citado e bem relevante porque parece ser uma crítica atual.
Se olharmos documentos e estudos contemporâneos sobre a demanda turística em
Petrópolis, ou conversarmos com qualquer agente público ou privado do turismo na
cidade, certamente aparecerá o discurso relatando a dificuldade de manter o turista por
80
mais dias no município. Será o excursionismo 44 em Petrópolis um fenômeno de quase
um século ou será mais uma construção cultural que vêm desde o início de sua
organização?
Este texto é importante para relativizar as narrativas expostas sobre o turismo em
Petrópolis, inclusive para mostrar que os serviços e equipamentos existentes, apesar de
precursores, não eram considerados por todos como os mais apropriados. É importante
lembrar que este texto foi o mais recente dos analisados, datando de 1930.
44
Excursionismo: viagem onde o visitante não pernoita no local visitado. Conseqüentemente, menos
rentável aos promotores do turismo. Adaptado de LOHMANN & PANOSSO NETTO (2008:90).
81
Considerações finais
A partir da análise das narrativas e imagens, percebe-se que alguns discursos são
unânimes nas publicações analisadas: 1) É dada uma grande ênfase à privilegiada
situação climática e higiênica da cidade, construindo uma noção de Petrópolis como
uma “cidade de cura”; 2) É construída uma contraditória noção de um local “Campestre,
82
Bucólico e Pitoresco”, ao mesmo tempo em que se “vende” a idéia de Petrópolis como
um “burgo industrial”; 3) As publicações também apresentaram de forma bem nítida a
noção de Petrópolis como “Rainha das Serras” ou “Princeza do Piabanha”, ou seja, um
destino voltado para as elites da época.
83
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