Liderança Com Credibilidade
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1. Introdução
A confiança entre líderes e seguidores é um componente vital especialmente nos dias atuais,
marcados por mudanças cada vez mais freqüentes. O grande desafio é a sobrevivência em
tempos de incerteza, onde empresas precisam ser cada vez mais eficientes, ágeis e flexíveis,
para sobreviver à concorrência e acessar potenciais mercados. Isto implica na assunção de
riscos e na criação de um sentimento de confiança na organização. Alguns autores como
McArdle e Ramerman (2002) definem este cenário como a grande área cinza, onde riscos e
ambigüidades convivem com oportunidades de mercado. A liderança em tempos de
incertezas é caracterizada por ser distribuída, ou seja, ela permeia toda a organização, pessoal
e podendo ser desenvolvida, o que representa que não existe uma única forma de liderar, mas
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sim com líderes exercitando suas melhores aptidões no dia a dia, e procurando,
continuamente, melhorar e desenvolver habilidades (ANCONA, 2005). É um processo de
criação de mudança, de fazer acontecer, criando um ambiente no qual as pessoas estejam
energizadas e motivadas para desafios e resultados, e desenvolvida continuamente, ao longo
do tempo.
Um dos grandes desafios dos líderes atuais, para garantir a eficiência, agilidade e flexibilidade
da organização e seus processos, é o estabelecimento de altos níveis de confiança, via, por
exemplo, a redução de sentimentos como medo, frustração, ceticismo e da relação “nós –
eles”, e paralelamente a criação de melhores condições e ambientes de trabalho. A confiança
organizacional requer, primeiramente, a confiança pessoal nos líderes da organização
(GALFORD e DRAPEAU, 2002). De acordo com Senge (1999), o papel do líder atual é
basicamente o da condução da mudança, a potencialização da energia criativa, que uma vez
existindo leva à pessoas mais comprometidas, produtivas e satisfeitas no ambiente de
trabalho. Esta energia, por sua vez, é gerada através da tensão criativa, que nesta visão é
considerada a essência da liderança. Líderes energizam equipes através da geração e
sustentação da tensão criativa, alimentando o comprometimento para realização de um
objetivo e falando a verdade sobre o que ele representa. Além da caracterização do papel do
líder, torna-se importante também determinar quais características fundamentais ele deve
apresentar para ser considerado confiável. A tabela 1 apresenta um quadro comparativo das
características esperadas de um líder, sob a ótica de diversos autores.
Uma primeira relação a ser analisada é a proposta por Carrilo (2003). Ela estabeleceu uma
fórmula de liderança, baseada em termos como confiança, credibilidade e competência:
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obtidas a partir do contato real e abertas entre as pessoas. Hacker (1999) também se baseia na
consistência como elemento chave para a confiança, e alia também a capacidade e o
comprometimento ao seu modelo. Para ele a capacidade é a habilidade de um indivíduo
produzir resultados ou atingir as expectativas de desempenho. Nesta visão, comprometimento
diz respeito à preocupação de uma pessoa em relação a outra, e sua intenção em atingir o
sucesso, conjuntamente. A consistência tem dois aspectos que são o alinhamento entre
palavras e ações e a capacidade do indivíduo de manter níveis semelhantes de performance
ao longo do tempo. Para Nootebom e Six (2001) existem quatro dimensões da confiança; a
competência, a benevolência, a dedicação e a ética. A competência é representada por um
grupo de habilidades e características que habilitam pessoas a ter (exercer) influência sobre
algum domínio. A benevolência tem haver com a preocupação (do líder) com o bem estar das
pessoas (seguidores), a parte a questão do ganho pessoal. Dedicação é o empenho
demonstrado pelo líder em atingir as expectativas do grupo, o que naturalmente gera uma
noção de confiabilidade. A ética representa a aceitação dos valores e princípios dos líderes e
sua prática na relação com os seguidores. A partir da análise realizada na literatura, fica claro
que o termo comum, que sustenta a visão de uma liderança confiável, para vários autores, é a
credibilidade. Embora representada muitas vezes por outros valores como honestidade,
integridade, correção, confiabilidade, autenticidade, dedicação, comprometimento entre
outros, é fácil perceber que todos eles, direta ou indiretamente, levam ao conceito de
credibilidade. Em outras palavras, sem ela, a credibilidade, não existe liderança confiável.
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Poder do expertise
Para Kouzes e Posner a estratégia para a liderança com credibilidade é baseada em cinco
ações. A primeira é a modelação do caminho, que consiste na compreensão, dos líderes, de
seus valores pessoais antes de tentar influenciar outras pessoas. Líderes devem falar com suas
próprias palavras e dar a sua própria mensagem. Líderes organizacionais podem não exibir
um alto perfil, mas devem ser igualmente comprometidos com um conjunto de valores.
Líderes devem descobrir a si mesmos, adquirir competência, auto confiança, auto
conhecimento, definir valores, acreditar em si mesmos, e demonstrar excelente caráter. A
segunda ação é inspirar e compartilhar uma visão. Para realizar esta estratégia, líderes devem
falar a linguagem dos seguidores e lembrar que liderança é um diálogo e não um monólogo.
Um líder com visão não é suficiente, os seguidores têm que comprar a idéia e compartilhar
um senso de destino único. Por outro lado lembre-se de não tentar ser ou aparentar aquilo o
que você não é. Líderes devem encontrar um lugar comum, criando um ambiente de
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Tabela 2: Atributos do líder transformacional com credibilidade adaptado de Stone e Patterson (2005)
COMPORTAMENTO ATITUDE
Sendo totalmente honesto Respeito
Consideração
Sem agenda secreta
Agregando inteligência Auto conhecimento
Pedindo feedback
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O alicerce principal da liderança confiável, com credibilidade, é a ética. Pode-se definir ética,
de um modo bastante simplificado, como sendo a diferença entre o certo e o errado, o bom e o
ruim, e então em se decidindo em fazer a coisa certa (PRICE,2002; NORTHOUSE,2004). A
ética por si só não decide nada, mas serve como um guia para a tomada de uma decisão, como
justificá-la. Líderes sabem que sempre serão julgados com base nas decisões que tomam no
seu dia a dia. Estas decisões têm que ser tomadas baseadas em critérios responsáveis, não
perdendo o foco na confiança e credibilidade das pessoas. Mas o que é certo e o que é errado?
Talvez o ditado popular “em cada cabeça uma sentença” seja bastante apropriado nesta
situação. Esta noção de certo ou errado é grandemente influenciada por aspectos culturais e
valores individuais, pela história (experiência) de vida das pessoas. Cultura (valores culturais)
é um assunto complexo, que essencialmente está relacionado ao compartilhamento de valores,
atitudes, crenças e comportamentos (THARP,2005). Em um ambiente de trabalho, os valores
culturais das pessoas e da organização, que orientam e direcionam decisões e
comportamentos, são críticos para a credibilidade desta organização perante seus
funcionários, clientes e acionistas. Os valores base de uma organização devem servir de
fundamento a tudo que é feito nos âmbitos interno e externo à organização. Atualmente a
ética serve para a priorização de valores individuais e operacionais de uma organização,
estabelecendo códigos de moral e de conduta, que garantam que comportamentos e sistemas
internos ao ambiente de trabalho estejam alinhados com estes valores (PRICE,2002).
Na visão de Bass (1998) a melhor liderança é a composta pela liderança transacional e pela
transformacional. A liderança transacional foca na interação entre líderes e seguidores, em um
processo baseado em reciprocidade. Líderes não somente influenciam seguidores como
também são influenciados por eles. Este tipo de liderança é focado na manutenção do sistema
(status quo), e vinculado ao gerenciamento do dia a dia, enquanto a liderança
transformacional busca que seguidores transcendam seus interesses individuais para o bem do
grupo, organização, ou sociedade, focando no progresso e desenvolvimento a longo prazo. A
liderança transacional aumenta a efetividade da liderança transformacional, mas não a
substitui. Para ganharem credibilidade, tanto líderes transacionais como transformacionais
devem ser, e permanecerem, éticos. A liderança transformacional é ética (moral) quando
existem valores como honestidade, integridade, lealdade, justiça e imparcialidade. A liderança
transacional é moral quando a verdade é contada, promessas são mantidas, negociações são
imparciais, e escolhas são livres. O autêntico líder transformacional deve permanecer ético no
gerenciamento da imagem, para prover os seguidores com imagens de identidade de
credibilidade e moral. Aspectos morais são percebidos em virtudes como autenticidade,
confiança, integridade e credibilidade (BASS e STEIDLMEIER, 1998). Koehler (2004)
conduziu um estudo no qual analisou a correlação entre, e através, quatro variáveis;
credibilidade, valores, ética e missão, em relação ao que chamou de espírito competitivo. Para
ele existe uma distinção entre motivação e espírito competitivo. Este último tem haver com
intensidade, em quanto esforço um trabalhador faz, a persistência, para atingir um objetivo. O
resultado foi que, para alcançar o estágio desejado do espírito competitivo, é necessário o
alinhamento entre o discurso e prática de valores, um encontro entre a missão da organização
e as ações da liderança, a percepção de que ela, a liderança, é altamente ética, de modo a que,
todos em conjunto, sustentem altos níveis de credibilidade da liderança.
6. Comentários finais
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A análise realizada neste trabalho mostrou que o termo comum, que sustenta a visão de
uma liderança confiável para vários autores, é a credibilidade. Valores como honestidade,
integridade, correção, confiabilidade, autenticidade, dedicação, comprometimento entre
outros, descrevem uma liderança confiável, e direta, ou indiretamente, levam ao conceito de
credibilidade. Vários autores sustentam que, sem ela, a credibilidade, não existe liderança
confiável. Os benefícios da liderança confiável vão muito além dos ganhos individuais, têm
impacto direto no desempenho organizacional. Influenciam a lealdade de clientes,
investidores e empregados. Por este motivo a liderança, baseada na credibilidade, esta sendo
tratada por muitos como uma estratégia da empresa. O grande desafio atual é a operação em
tempos de incerteza. Em uma situação como esta, se existe credibilidade, equipes dão
respaldo a novas iniciativas, e organizações, investidores e clientes tornam-se parceiros, cria-
se um ambiente melhor para navegação em tempos de crise, e estas são mais fácil e
rapidamente superadas. Para Galford e Drapeau (2002), os benefícios da liderança confiável
são a liberação das pessoas para atuar e tomar decisões, que beneficiam a organização,
alimentar a paixão e a motivação intrínseca da equipe, dar foco ao negócio, incentivar a
inovação, dar as pessoas o tempo para fazer a “coisa certa”, reduzir o desperdício de tempo e,
por conseqüência, custos, é contagiante e ajuda a recrutar novas pessoas que estão na mesma
sintonia, a reter grandes pessoas, e melhora a qualidade do trabalho. Um líder com
credibilidade está habilitado a persuadir e influenciar a organização. A falta de credibilidade
corrói a confiança na gestão, afeta a capacidade de internalizar os objetivos organizacionais.
Para Krause e Hidley (2004), ter credibilidade parece simples, mas não é. Tornar-se um líder
confiável exige muito trabalho, uma grande dose de comprometimento e, principalmente,
disciplina.
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