Artigo - Setembro Amarelo

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SILÊNCIO E INSUFICIÊNCIA COMO RESPOSTA DE MENORES

APRENDIZES AO MERCADO DE TRABALHO NO CENTRO DE INTEGRAÇÃO


EMPRESA-ESCOLA

Djefernan Camilli Justen Coletti


Renata Cristina da Silva

RESUMO
Objetivo: relatar a experiência de discentes da psicologia na realização do estágio
básico III, voltada a temática do setembro amarelo. Método: trata-se de uma
pesquisa do tipo descritiva, qualitativa, elaborada através da vivência de
acadêmicas do curso de psicologia em uma conversa desenvolvida com 17
adolescentes que fazem parte de um projeto no Centro de Integração
Empresa-Escola (CIEE) no município de São Miguel do Oeste, Santa Catarina.
Resultados e discussões: tornou-se evidente que os jovens sentem-se na maior
parte das vezes desamparados por aqueles que deveriam ajudá-los nesse processo
confuso que é o adolescer, mostrando-se inseguros e desamparados para os
desafios que estão encarando ao entrarem no mercado de trabalho. Conclusão: Não
existem respostas concretas para o que eles ainda não conseguem visualizar e
sentir-se pertencentes, compreenderam a necessidade do trabalho e a oportunidade
do primeiro emprego, assim como o quanto a saúde mental é importante para todos
esses processos.

Palavras chave: Setembro amarelo, menor aprendiz, silêncio.

INTRODUÇÃO

Este artigo tem como tema central a pressão nos jovens pela inserção no
mercado de trabalho, a conciliação do primeiro emprego com os estudos e o projeto
de aprendizagem o qual estão inseridos e como isso tem afetado as condições
mentais, físicas e sociais dos menores aprendizes. Com isso foi proposto ao curso
de psicologia como Estágio Básico III, uma roda de conversa em alusão ao
Setembro Amarelo com as turmas do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE)
em São Miguel do Oeste.

O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), em seu artigo 62


"considera-se aprendizagem a formação técnico profissional ministrada segundo as
diretrizes e bases da legislação de educação em vigor" (ECA DIGITAL, 2021).O
curso de aprendizagem em que os jovens estão inseridos, visa o desenvolvimento
intelectual, buscando visualizar e desenvolver as competências básicas em cada
área de serviço, além de instigar os jovens aprendizes a buscar as melhores
condições para se desenvolverem profissionalmente.
Levando em consideração a realidade de cada um dos jovens, enquanto
alguns estão no pleno desenvolvimento intelectual e profissional, que é o que o
projeto visa proporcionar, para outros essa é a única forma de sustento da família.
Nesse contexto, acabam sofrendo com a disparidade e aceitação no ambiente
escolar e também no trabalho, já que são tratados como iguais aos demais
colaboradores, não sendo levado em consideração as limitações enquanto menores
aprendizes, o que ocasiona em cobranças no ambiente de trabalho.

Atualmente, o mercado de trabalho conta com cerca de 460 mil jovens


aprendizes, entre 14 a 24 anos de idade, tendo a maioria ingressado antes dos 18
anos (O GLOBO, 2022). Diante dessas condições, é imprescindível evidenciar a
importância da escuta e acolhimento desses jovens, levando em consideração à
complexidade do adolescer e também das vulnerabilidades às quais essa faixa
etária está exposta, levando-as a compreender que a qualidade de vida pode
sofrer influência. (COSTA et al., 2022).

O suicídio é modo de morrer que sempre esteve presente na história


da humanidade. De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização
Mundial da Saúde - OMS em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios em
todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados, pois com isso,
estima-se mais de 01 milhão de casos. No Brasil, os registros se aproximam de 14
mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia (
SETEMBRO AMARELO,2022). Neste contexto, abriu-se o espaço de conversa, já
que hoje o suícidio é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 39 anos (
SETEMBRO AMARELO, 2022).

DESENVOLVIMENTO

O referido trabalho trata-se de relato de experiência, a partir de uma roda de


conversa realizada no Centro de Integração Empresa-Escola no município de São
Miguel do Oeste.
A atividade dos discentes teve início no contato com 17 jovens aprendizes na
turma do CIEE que residem em diferentes cidades da região e trabalham em
empresas distintas, com faixa etária de 15 a 21 anos, sendo participantes de um
mesmo projeto.
Inicialmente, foi apresentada à turma uma provocação quanto ao
conhecimento sobre o Setembro Amarelo, que propõe o despertar de um olhar mais
sensível pelos educandos. Foram explanados conhecimentos sobre depressão,
ansiedade e percepção de saúde mental, dando visibilidade também ao
conhecimento que os próprios estudantes tinham acerca desses termos.
Notou-se que nessa faixa etária são constantes as perguntas sem respostas,
o não saber nomear o que sentem, como lidam com as rápidas transformações e
transições da vida, reportando insegurança, medo do futuro e não compreensão por
parte das pessoas mais experientes.
Durante a conversa com os jovens, foi enfatizado a importância do
autoconhecimento, sendo esse o principal alicerce para o reconhecimento de
fatores estressores e regulação das emoções. Nas breves participações partindo
dos jovens, é perceptível a queixa de estarem sendo desmotivados por terceiros em
relação ao seu futuro. Foi possível a aproximação com as vivências da rotina dos
jovens que encontram-se em um ciclo de escola, trabalho e projeto de integração ao
qual fazem parte. Diante dessa realidade, os jovens têm se movimentado e levado a
pensamentos profundos de realização e, automaticamente, insuficiência, pois é o
primeiro contato com o mercado de trabalho e carregam o sentimento de pressão
por enfrentar tantas mudanças.
Quando questionados sobre as significativas mudanças em suas vidas, os
educandos relataram que a rotina estava pesada, mas que conseguem desenvolver
atividades esportivas, hobbies como ler livros e assistir séries, para outros a
mudança se mostrou mais drástica, não possuindo tempo para nada e interferindo
na disposição para realização das tarefas escolares. Também questionados sobre o
futuro, poucos de fato sabiam o que queriam, quais as possibilidades, mas em todo
tempo, um longo intervalo entre o silêncio e cada resposta.

Podemos verificar o silêncio em todas as experiências da nossa vida. Por


vezes, concebemos o silêncio como algo desagradável, como ausência de
relação, no entanto, podemos entender o silêncio como um tipo de relação,
podendo ser algo muito significativo durante um processo. (SCHUTZ;
ITAQUI, 2016, p. 78).

Percebeu-se o quanto o silêncio também falou com eles, não era um


momento das acadêmicas, mas sim deles alinharem a sua realidade para o quanto
isso estava pesando - ou não- para si mesmos, uma construção de adolescentes
recém inseridos no mercado de trabalho.
Enquanto o tema central era desenvolvido, notou-se as diferenças de
realidade fora do espaço CIEE. Como já citado anteriormente, os menores
aprendizes residem em cidades diferentes e trabalham em espaços diferentes, mas
além disso, círculos de amizades, relações familiares e relações individuais também
diferem, o que pode afetar no desenvolvimento. Houve relatos de jovens com pais e
irmãos depressivos e não sabiam como agir perante a isso e igualmente uma forte
identificação com quando falado sobre crises de ansiedade, todas essas somatórias
individuais influenciam o processo como turma, e essa em questão, mais retraída.

CONCLUSÃO

A vivência experienciada, por ser um tema muito pertinente e sensível,


mostrou-se ao mesmo tempo complexa para ser medida, levando em consideração
a idade dos jovens expostos. É perceptível que ainda há uma concepção difusa dos
termos apresentados, porém tem-se o conhecimento que a ação realizada pode
contribuir para o desenvolvimento desses aprendizes, ressignificando e validando a
necessidade destas discussões para além do mês de setembro, refletindo um olhar
sensível enquanto seres humanos.
Mediante o exposto, a atividade desenvolvida pelas acadêmicas
apresentou-se como um vetor fundamental para a promoção da compreensão e
conhecimento acerca de assuntos relacionados à saúde mental e como é ser jovem
no mercado de trabalho nos dias atuais. Sendo pertinente a continuação de projetos
como este, para que os jovens tenham a oportunidade de olhar e serem olhados de
uma forma diferente, e também a fim da inserção da psicologia em todos os
ambientes, exaltando a importância da mesma nos desenvolvimentos das relações
humanas.
É importante a compreensão do silêncio destes jovens mediante ao que
estão sentido que não está sendo verbalizado, deve-se estimular a compreensão de
que é uma fase sensível e muitas vezes desvalidada por aqueles que mais
deveriam prestar apoio. Além disso, ressaltamos a importância da presença da
psicologia em todos os espaços, para que possamos ter um olhar mais humano
sobre o outro.

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