A Era Da Catastrofe
A Era Da Catastrofe
A Era Da Catastrofe
ERIC HOBESBALL
1. A era da Guerra Total
A guerra mundial como o fim de um mundo, e não foram os únicos. Não foi o fim
da humanidade, embora houvesse momentos, no curso dos 31 anos de conflito mundial.
Contudo, o grande edifício da civilização do século 20 desmoronou nas chamas da
guerra mundial, quando suas colunas ruíram. Não há como compreender o Breve Século
20 sem ela. Ele foi marcado pela guerra. Viveu e pensou em termos de guerra mundial,
mesmo quando os canhões se calavam e as bombas não explodiam. Sua história e, mais
especificamente, a história de sua era inicial de colapso e catástrofe devem começar
com as guerras mundiais.
Paz significava "antes de 1914": depois disso veio algo que não mais merecia esse
nome. Era compreensível. Em 1914 não havia grande guerra fazia um século.
É quase desnecessário demonstrar que a Segunda Guerra Mundial foi global. A
Segunda Guerra Mundial foi uma aula de geografia do mundo. Locais, regionais ou
globais, as guerras do século 20 iriam dar-se numa escala muito mais vasta do que
qualquer coisa experimentada antes. Das 74 guerras internacionais travadas entre
1816 e 1965, classificada pelo número de vítimas, as quatro primeiras ocorreram
no século 20: as duas guerras mundiais, a guerra do Japão contra a China em
1937-1939, e a Guerra da Coréia. Cada uma delas matou mais de 1 milhão de
pessoas em combate. Talvez a guerra seguinte pudesse ter sido evitada, ou pelo menos
adiada, se se houvesse restaurado a economia pré-guerra como um sistema global de
prósperos crescimento e expansão econômicos. Contudo, após uns poucos anos, em
meados da década de 1920 a economia mundial mergulhou na maior e mais dramática
crise que conhecera desde a Revolução Industrial. E isso levou ao poder, na Alemanha e
no Japão, as forças políticas do militarismo e da extrema direita.
Os Estados arrastados à guerra não queriam o conflito, e a maioria fez o que
pôde para evita-lo. Em termos mais simples, a pergunta sobre quem ou o que causou a
Segunda Guerra Mundial pode ser respondida em duas palavras: Adolf Hitler. Como
vimos, a situação mundial criada pela Primeira Guerra era inerentemente instável,
sobretudo na Europa, mas também no Extremo Oriente. Todo partido na Alemanha, dos
comunistas na extrema esquerda aos nacional-socialistas de Hitler na extrema direita,
Combinavam-se na condenação do Tratado de Versalhes como injusto e inaceitável.
Que tipo de guerra queria a Alemanha, quando e contra quem, ainda são temas
de discussão, pois Hitler não era um homem que documentava suas decisões, mas duas
coisas estão claras. Uma guerra contra a Polônia (apoiada pela GrãBretanha e a França)
em 1939 não fazia parte de seu plano de guerra, e a guerra em que finalmente se viu,
contra a URSS e os EUA
As decisões de invadir a Rússia e declarar guerra aos EUA decidiram também o
resultado da Segunda Guerra Mundial. Isso não pareceu imediatamente óbvio, pois o
Eixo atingira o auge do seu sucesso em meados de 1942, e só perdeu inteiramente a
iniciativa militar em 1943.
No Leste houve ainda menos sinais de racha na determinação do Japão de lutar
até o fim, motivo pelo qual se lançaram armas nucleares sobre Hiroshima e Nagasaki,
para assegurar uma rápida rendição japonesa. A vitória em 1945 foi total, a rendição
incondicional. Os Estados inimigos derrotados foram totalmente ocupados pelos
vencedores.
A Guerra era, de ambos os lados, uma guerra de religião, ou, em termos moderno,
de ideologias. A Segunda Guerra Mundial ampliou a guerra maciça em guerra total.
Suas perdas são literalmente incalculáveis, e mesmo estimativas aproximadas se
mostram impossíveis, pois a guerra (ao contrário da Primeira Guerra Mundial) matou
tão prontamente civis quanto pessoas de uniforme.
2. A revolução mundial
Depois da Revolução Francesa, surgiu na Europa uma Revolução Russa, e isso mais
uma vez ensinou ao mundo que mesmo o mais forte dos invasores pode ser repelido,
assim que o destino da Pátria é realmente confiado ao povo, aos humildes, aos
proletários, à gente trabalhadora. A revolução foi a filha da guerra no século 20:
especificamente a Revolução Russa de 1917, que criou a União Soviética, transformada
em superpotência pela segunda fase da Guerra dos Trinta e Um Anos. Durante grande
parte do Breve Século 20, o comunismo soviético Proclamou-se um sistema alternativo
e superior ao capitalismo, e destinado pela história a triunfar sobre ele. A política
internacional de todo o Breve Século 20 após a Revolução de Outubro pode ser mais
bem entendida como uma luta secular de forças da velha ordem contra a revolução
social, tida como encarnada nos destinos da União Soviética e do comunismo
internacional, a eles aliada ou deles dependente.
A revolução de outubro foi feita não para proporcionar liberdade e socialismo à
Rússia, mas para trazer a revolução do proletariado mundial. Na mente de Lenin e seus
camaradas, a vitória bolchevique na Rússia era basicamente uma batalha na campanha
para alcançar a vitória do bolchevismo numa escala global mais ampla.
Que uma revolução na Rússia teria grande repercussão internacional, sempre foi
claro desde que a primeira revolução, em 1905-1906, abalara os antigos impérios
sobreviventes na época, da Áustria-Hungria até a China, passando por Turquia e Pérsia.
Toda a Europa se tornara um monte de explosivos sociais prontos para ignição. A
Rússia, madura para a revolução social, cansada de guerra e à beira da derrota, foi o
primeiro dos regimes da Europa Central e Oriental a ruir sob as pressões e tensões da
Primeira Guerra Mundial.
A reivindicação básica dos pobres da cidade era pão, e a dos operários entre eles,
melhores salários e menos horas de trabalho. A reivindicação básica dos 80% de russos
que viviam da agricultura era, como sempre, terra. Todos concordavam que queriam o
fim da guerra. O slogan "Pão, Paz, Terra" conquistou logo crescente apoio para os que o
propagavam, em especial os bolcheviques de Lenin.
A guerra civil na Rússia se pendurava. As únicas vantagens importantes com que o
novo regime contava, enquanto improvisava do nada um Exército Vermelho
eventualmente vitorioso, eram a incompetência e divisão das briguentas forças brancas.
Em fins de 1920, os bolcheviques haviam vencido. Assim, a Rússia soviética
sobreviveu. A Revolução Bolchevique preservou a maior parte da unidade territorial
multinacional do velho Estado czarista pelo menos por mais 74 anos. A Revolução
permitirá ao campesinato tomar a terra.
Em suma, a Revolução de Outubro foi universalmente reconhecida como um
acontecimento que abalou o mundo. Até mesmo muitos dos que viram a Revolução de
perto, um processo menos conducente ao êxtase religioso, se converteram, desde
prisioneiros de guerra que voltavam a seus países como bolcheviques convictos e
futuros líderes comunistas de seus países, como o mecânico croata Joseph Broz. A
Revolução de Outubro, como vimos, conquistara simpatias nos movimentos socialistas
internacionais, todos os quais, praticamente, emergiram da guerra mundial ao mesmo
tempo radicalizados e muitíssimo fortalecidos.
A humanidade, a URSS aprendera há muito tempo, não seria transformada pela
revolução mundial inspirada por Moscou. Nenhuma dessas hesitações perturbou a
primeira geração de inspirados pela luz brilhante de Outubro a dedicar suas vidas à
revolução mundial. Como os primeiros cristãos, a maioria dos socialistas pré1914 era de
crentes na grande mudança apocalíptica que iria abolir tudo que era mal e trazer uma
sociedade sem infelicidade, opressão, desigualdade e injustiça. O marxismo oferecia à
esperança do milênio a garantia da ciência e da inevitabilidade histórica; a Revolução de
Outubro agora oferecia a prova de que a grande mudança começara.
Os anos após a Revolução Russa iniciaram o processo de emancipação colonial
e descolonização, e introduziram a política de bárbaras contrarrevoluções, na forma do
fascismo e outros muitos movimentos. A história do Breve Século 20 não pode ser
entendida sem a Revolução Russa e seus efeitos diretos e indiretos. Não menos porque
se revelou a salvadora do capitalismo liberal, tanto possibilitando ao Ocidente ganhar a
Segunda Guerra Mundial contra a Alemanha de Hitler quanto fornecendo o incentivo
para o capitalismo se reformar, e também - paradoxalmente - graças a aparente
imunidade da União Soviética à Grande Depressão, o incentivo a abandonar a crença na
ortodoxia do livre mercado.
3. Rumo ao abismo Econômico
4. A queda do Liberalismo