APOSITLA PSICOPATOLOGIA-Completa
APOSITLA PSICOPATOLOGIA-Completa
APOSITLA PSICOPATOLOGIA-Completa
AULA 1
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
SISTEMÁTICA DE AVALIAÇÃO
A avaliação será realizada com base nos objetivos propostos, levando-se em conta:
HABILIDADES
• Citar os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais conforme legislação nacional
vigente.
COMPETÊNCIAS
• Discutir criticamente sobre os avanços e desafios na garantia dos direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais dispostos na Lei 10.216/2001;
CONHECIMENTOS
• Diagnóstico diferencial.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
QUINET, A. Teoria e Clínica da Psicose, 5ª edição. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2011. (BVmb).
ROUSSILLON, R. Manual da prática clínica em psicologia e psicopatologia. São Paulo: Blucher, 2019.
(BVp)
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
TEIXEIRA, Antônio.; CALDAS, Heloisa. Psicopatologia lacaniana. Belo Horizonte: Grupo Autêntica,
2017. (BVmb).
Conversa Inicial
Tema 1 - Fenomenologia e psicopatologia
Tema 2 - Normalidade X anormalidade
Tema 3 - Quais as etiologias associadas aos transtornos mentais?
Tema 4 - Semiologia
Tema 5 - Relações da psicopatologia e psicologia
Na prática
Finalizando
AULA 02: Nesta aula, entenderemos os principais conceitos em uma primeira avaliação do paciente
psiquiátrico. Veremos como extrair o máximo de informações possíveis do paciente, sem que a entrevista
aparente um “bombardeio” de perguntas, de modo a fazer com que o paciente se sinta confortável e acolhido
para contar sua história de vida e suas queixas.
Conversa Inicial
Tema 1 - A entrevista inicial completa
Tema 2 - As quatros tarefas da entrevista psiquiátrica
Tema 3 - As três fases da entrevista
Tema 4 - História da doença atual
Tema 5 - Outros quesitos a serem investigados
Na Prática
Finalizando
AULA 03: Nesta aula, daremos início ao estudo das funções mentais. Devido a ser esse um assunto extenso
e central do curso, continuaremos tratando-o na aula seguinte. Além da definição de cada função, vamos
expor como identificar alterações em cada uma delas e como correlacioná-las com quadros psiquiátricos,
lembrando que apenas uma única função mental alterada provavelmente não configurará um transtorno
mental (obviamente, em pacientes sintomáticos e não nos que já estão estabilizados). O exame do estado
mental é parte fundamental da avaliação psicológica e bastante extenso; portanto, daremos ênfase aos
dados mais importantes e às sugestões para seu aprofundamento. Apesar de estudarmos as funções
psíquicas e suas alterações de forma separada, é preciso lembrar que esse procedimento é artificial. É útil,
pois podemos aprofundar cada função; porém, devemos ter em mente que cada uma delas não são
fenômenos psíquicos isolados. Assim, logo veremos como eles se inter-relacionam. Essa categorização de
funções e seus termos técnicos facilitam por uso de uma linguagem universal na área de saúde mental.
Conversa Inicial
Tema 1 - Aparência, atitude, consciência, atenção e orientação
Tema 2 - Sensopercepção e memória
Tema 3 - A linguagem
Tema 4 - O pensamento – parte 1
Tema 5 - O pensamento – parte 2 – alteração de conteúdo: o delírio
Na Prática
Finalizando
SUMÁRIO – PSICOPATOLOGIA
AULA 04: Nesta apresentação, finalizaremos o estudo teórico das principais funções mentais e assim você
poderá exercitar na prática em seus estágios e supervisões de casos.
Conversa Inicial
Tema 1 - A inteligência, a volição e o pragmatismo
Tema 2 - Psicomotricidade
Tema 3 - Afeto, emoções e humor
Tema 4 - Comunicação não verbal
Tema 5 - Súmula psicopatológica
Na Prática
Finalizando
AULA 05: Nesta aula daremos início ao estudo das principais síndromes psiquiátricas, com ênfase nas
alterações mais comuns na entrevista e no exame do estado mental de cada. A ideia é apresentar a vocês,
alunos, os transtornos mais recorrentes no atendimento em saúde mental. Lembre-se de que esta é uma
aula e muitas das citações e termos técnicos apresentados necessitam de aprofundamento por meio das
bibliografias sugeridas e na sua prática clínica. Na prática clínica, os sinais e os sintomas não ocorrem de
forma aleatória; surgem em certas associações, agrupamentos mais frequentes e estáveis, classificados em
síndromes. Entretanto, ao se delimitar uma síndrome (como depressiva, demencial, maníaca etc.), não se
trata ainda da definição e da identificação de causas específicas, do curso e evolução de um transtorno. Ela
descreve um conjunto momentâneo e recorrente de sinais e sintomas.
Conversa Inicial
Tema 1 - Síndromes depressivas
Tema 2 - Síndrome maníaca
Tema 3 - Suicídio e comportamento suicida
Tema 4 - Transtornos por uso de substância
Tema 5 - Transtornos neurocognitivos/demência
Na Prática
Finalizando
AULA 06: Daremos continuidade aos estudos dos principais transtornos mentais e seus fenômenos
psicopatológicos. Incluiremos um tópico sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), devido à
importância e o aumento progressivo na prevalência ao longo do tempo. Daremos continuidade aos estudos
dos principais transtornos mentais e seus fenômenos psicopatológicos. Incluiremos um tópico sobre o
Transtorno do Espectro Autista (TEA), devido à importância e o aumento progressivo na prevalência ao
longo do tempo.
Conversa Inicial
Tema 1 - Síndromes ansiosas
Tema 2 - Síndromes obsessivo-compulsivas
Tema 3 - Síndromes psicóticas
Tema 4 - Síndromes relacionadas ao comportamento alimentar
Tema 5 - Transtorno do espectro autista
Na Prática
Finalizando
INTRODUÇÃO À PSICOPATOLOGIA
CONVERSA INICIAL
3
sintomas agregam-se em certos padrões e podemos, portanto, categorizar
diferentes transtornos psiquiátricos. Os métodos precisos de diagnóstico ou a
definição da natureza do problema continuam sendo importantes. Como
veremos adiante, para organizar e aplicar todos estes conceitos na prática,
utilizamos sistematizações de diagnósticos de transtornos mentais, que
atualmente são o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM
V) (APA, 2013) e a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) (em breve
a CID-11 em português. Assim, o trabalho para aprimorar os conceitos e técnicas
para identificar os principais sinais e sintomas dos transtornos mentais é
contínuo).
O que uma pessoa acometida por um transtorno está realmente sentindo?
De que forma suas próprias experiências se parecem ou diferem da experiência
dos outros - tanto daqueles que estão bem quanto dos que estão doentes? É
importante haver um esquema para organizar os fenômenos que ocorrem, pois
um mesmo sintoma pode estar presente em mais de um transtorno mental.
Como podemos usar a palavra observador com relação à experiência interna de
outra pessoa? É exatamente aqui que o processo de empatia se torna relevante.
Concluindo, a psicopatologia descritiva abrange tanto aspectos subjetivos
(fenomenologia) como objetivos (descrição do comportamento) da variada
experiência humana, sempre permeada por aquilo que é clinicamente relevante.
Sua importância é imensurável para o uso adequado das ferramentas
diagnósticas disponíveis, refinando a avaliação clínica e a comunicação com o
paciente.
5
psicopatológicas não se evidenciam alterações anatômicas, fisiológicas
ou histológicas no cérebro, portanto convencionou-se usar o termo
“transtorno”.
3. De modo semelhante, as doenças podem ser descritas como aquelas
condições que o médico trata. Doença mental torna-se, então, um termo
para descrever os sintomas e a condição daquelas pessoas que são
encaminhadas a um psiquiatra. Porém esta definição também acaba
sendo muito reducionista.
4. A doença pode ser considerada como uma variação estatística da norma,
O normal passa a ser aquilo que se observa com mais frequência. Os
indivíduos que se situam estatisticamente fora (ou no extremo) de uma
curva de distribuição normal passam, por exemplo, a ser considerados
anormais ou doentes. Esse é um critério muitas vezes falho em saúde
geral e mental, pois nem tudo o que é frequente é necessariamente
“saudável” (ex.: prevalência do uso de álcool), assim como nem tudo que
é raro ou infrequente é patológico (p. ex.: indivíduos com altas
habilidades).
5. A doença tem implicações legais. A definição de alguém como normal
psicopatologicamente significa que o indivíduo é plenamente responsável
por seus atos e deve responder legalmente por eles. Já se o indivíduo for
considerado anormal, não responderá pelos seus atos nem terá
autonomia, e por outro lado será tratado compulsoriamente. Os limites
entre normalidade e anormalidade têm implicações sérias e legais
também na vida prática (estar apto ou não a trabalhar, a dirigir), no
planejamento das políticas de saúde, privada e pública, nos estudos
epidemiológicos de uma população e, claro, na sua prática clínica. O
modelo geral de abordagem em saúde mental foca no atendimento a
pessoas com transtornos, porém indivíduos dentro de uma faixa de
normalidade podem se beneficiar de várias terapias; profissionais que
atendem crianças e adolescentes precisam dominar o desenvolvimento
normal esperado para cada faixa etária antes de estudar e avaliar
alterações psicopatológicas nesta população.
6
2.2 Amostra psiquiátrica na população geral
7
TEMA 3 – QUAIS AS ETIOLOGIAS ASSOCIADAS AOS TRANSTORNOS
MENTAIS?
8
3.3 Sintomatologia
9
para observar, também é preciso definir, classificar, interpretar e ordenar o objeto
observado em determinada perspectiva, seguindo certa lógica observacional e
classificatória.
TEMA 4 – SEMIOLOGIA
10
possivelmente patológicas, principalmente se associadas. Por exemplo: o
paciente se queixar de tristeza prolongada voluntariamente ou conta-nos que
ouve vozes durante perguntas mais fechadas (ainda que ele não relate como
queixa) faz parte deste tipo de situação. Há sinais comportamentais – como o
paciente tapar os ouvidos ou falar sozinho durante o atendimento, que é uma
característica frequente na esquizofrenia. Para que um sintoma seja válido para
nosso raciocínio clínico, sua ocorrência deve ser esperada e ocorrer com relativa
frequência naquela condição mental.
O método clínico clássico de obter informações sobre o paciente ocorre a
partir da anamnese e do exame físico. O uso da fenomenologia na saúde mental
é uma extensão da entrevista, amplia e detalha a descrição dos fenômenos
psíquicos. É, também, um exame, já que revela o estado mental. Não é possível
para o examinador observar a alucinação do paciente, nem medi-la de maneira
direta. No entanto, para compreendê-la, podemos utilizar as vivências humanas
em comum com ele, isto é, utilizar nossa habilidade para perceber e usar a
linguagem que compartilho com ele. Inicialmente podemos hipotetizar nossa
ideia do que ele está sentindo naquele momento. A seguir, testamos para
averiguar se a nossa reconstrução da experiência do paciente está correta,
descrevendo nossa impressão e solicitando que confirme ou não. Também é
possível descrever ao paciente o que está sendo observado durante a avaliação
(a expressão de tristeza, de angústia, inquietação etc.) e, igualmente, solicitar
que nos confirme. Finalizando, é necessário se tomar muito cuidado ao se
formular e fazer perguntas. Profissionais de saúde mental muitas vezes
identificam sintomas incorretamente e fazem uma hipótese diagnóstica
erroneamente, pois fizeram perguntas capciosas com as quais o paciente, por
meio de sua vulnerabilidade e ansiedade para cooperar, acaba concordando.
12
Em relação ao desenvolvimento, estamos falando da construção e
evolução emocional e psicológica ao longo do tempo. Essa evolução pode estar
dentro do espectro da normalidade, no qual vão se formando os traços de caráter
do indivíduo, ou desviante, evoluindo para possíveis personalidades patológicas,
como os transtornos da personalidade, por exemplo.
Já os fenômenos mais recentes, ou seja, agudos ou subagudos, podem
ser classificados como: 1) crises ou ataques, 2) reações vivenciais, 3) fases e 4)
surtos. Dalgalarrondo (2018) descreve com clareza como distinguir cada um
deles:
13
Já a definição de episódio é mais genérica, compreendendo uma duração
de dias até semanas. Tanto o termo crise como o termo episódio não especificam
a natureza do fenômeno mórbido: diferem-se apenas no aspecto temporal. Na
prática, é comum utilizarmos o termo episódio de forma inespecífica, quando
ainda não há condições de precisar a natureza do fenômeno, por exemplo, diante
de uma síndrome psicótica.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
14
REFERÊNCIAS
15
Aula 1
Introdução à psicopatologia
Normal X anormal
Saúde X doença
Amostra psiquiátrica na população geral
Implicações de normalidade e anormalidade
Importante ter em mente as características
em saúde mental:
da população da qual o paciente provém
Epidemiológica
Seu comportamento e seu entendimento
Clínica do mundo têm raízes dentro da própria
Legal psicopatologia individual, mas também
de seu meio social
Políticas públicas
Aptidão a determinadas atividades
Quando suspeitamos de um quadro que Quais os cinco critérios para um transtorno
exige cuidados médico e psicológico? mental?
1. Significância clínica
2. Validade diagnóstica
Quando há evidência de que um conjunto de 3. Origem multifatorial
sinais e sintomas obrigatoriamente causa 4. Sofrimento ou incapacidade/dificuldade
prejuízo significativos
5. Os transtornos devem desviar de
comportamento socialmente aceito
Em resumo...
2
e como se comporta caminhando em nossa direção. Portanto, a anamnese (e o
exame do estado mental, que será apresentado na próxima aula) já terá iniciado
e os dados relevantes dessa observação deverão ser anotados no seu
prontuário, durante ou ao final da sessão. Comumente, os pacientes que
procuram consultório de psiquiatria e de psicologia tendem a estar passando por
uma situação de vulnerabilidade e perda de sua autoconfiança. Isso, por si só,
deve ser motivo para que procuremos ser sinceros e francos, inclusive em
relação às nossas próprias limitações, deixando claro caso não estejamos aptos
para atender um transtorno mental específico ou uma demanda específica –
como questões familiares, da infância e adolescência, idosos, vulnerabilidade
social ou casos ditos “difíceis”, que já passaram por vários profissionais, ou de
difícil resolução, principalmente quando estamos em formação ou somos recém-
formados. Por vezes é necessário uma autocrítica em prol do bem-estar do
paciente que nos procura.
O produto redigido a partir de uma entrevista denomina-se anamnese. A
anamnese em saúde mental tem muitas peculiaridades se comparada a outras
especialidades médicas e outras profissões da área de saúde. Os dados de
identificação de um paciente funcionam como uma espécie de “moldura” em
relação a tudo o que vai ser investigado e já nos fornecem diversos indícios em
relação aos caminhos que a entrevista poderá seguir. O primeiro passo é se
apresentar e identificar o paciente. Frequentemente, ele não sabe como chegou
até você e nem o que pretendemos “fazer com ele”. Quando nos identificamos
de maneira clara, eliminamos boa parte deste desconforto, principalmente se for
um atendimento dito “involuntário” (que ocorre mais frequentemente com
crianças, adolescentes, pacientes psicóticos ou intoxicados, pacientes com
comportamento suicida, idosos com suspeita de demência) ou em ambientes
menos acolhedores, como prontos-socorros, enfermarias de hospital clínico e
enfermarias de hospitais psiquiátricos.
Existe ainda uma série de relações que podem ser estabelecidas entre os
dados da identificação e um risco aumentado para certas condições
psiquiátricas:
1. Idade: há faixas etárias com maior risco para certas condições. O início
da esquizofrenia e do transtorno bipolar, por exemplo, tipicamente se dá
entre a adolescência e começo da vida adulta, enquanto as demências
ocorrem nas idades avançadas. Transtornos do neurodesenvolvimento
3
(como deficiência intelectual, transtorno do espectro autista, transtorno do
déficit de atenção e hiperatividade) invariavelmente apresentam sintomas
na infância;
2. Profissão: é menos prevalente a ocorrência de transtornos mentais
especificamente causados por uma certa atividade profissional ou contato
frequente com determinadas substâncias, como intoxicações por metais
pesados em pintores (artistas ou de paredes), de substâncias químicas
em frentistas de postos de gasolina, ou por alguns pesticidas em
indivíduos que trabalham em plantações de tabaco (que são associados
à depressão e risco aumentado para suicídio). Aqui vale uma curiosidade:
– o famoso pintor holandês Vincent Van Gogh, motivo de muitas
discussões e especulações diagnósticas (até hoje não se sabe bem ao
certo que condição mental grave apresentava), apresentava, entre outros
quadros, intoxicação por chumbo e solventes de tintas, diretamente
relacionados ao seu ofício e às tentativas de suicídio por intoxicação
exógena.
Por outro lado, cada vez mais se estudam os efeitos exercidos por
determinadas situações no trabalho, como a Síndrome de Burnout, a qual foi
oficializada recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma
síndrome crônica. Como um “fenômeno ligado ao trabalho”, a OMS incluiu a
síndrome de burnout na CID-11 (que deve entrar em vigor em 1º de janeiro de
2022). É caracterizada como uma síndrome ocupacional, que pode acarretar
sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia, apatia ou distanciamento
emocional, sentimentos de negativismo relacionados ao próprio trabalho e
prejuízo no rendimento laboral. Além de correlações clínicas, a profissão
costuma ser uma das marcas principais da nossa individualidade.
4
2. Estado civil: este dado tem muita importância quando avaliamos fatores
de risco para suicídio. É fato comprovado a partir de diversas fontes, pelo
menos entre os ocidentais, a elevação do risco de suicídio para aqueles
que vivem sozinhos, como solteiros, divorciados e, especialmente, viúvos
(Almeida et al., 2020);
3. Naturalidade e nacionalidade: as doenças mentais são as que melhor se
distribuem do ponto de vista social, pois atingem todas as classes, raças,
etnias e faixas etárias. Do ponto de vista sociocultural, a população
imigrante apresenta maior vulnerabilidade para sintomas de ansiedade,
maior pessimismo em relação ao futuro, muitas vezes
produzidos/agravados pela perda da rede social de apoio, pelo
distanciamento devido ao não conhecimento da língua e pelas mudanças
no seu estatuto social (Penha, 2012). A ocorrência de transtornos mentais
também pode ocorrer em famílias ou indivíduos que mudam de cidade ou
região do país. Vale ressaltar em nosso contexto atual a questão dos
refugiados, os migrantes involuntários, que apresentam risco aumentado
para quadros de ansiedade, de manifestações depressivas, de sintomas
hipocondríacos, sintomas de transtorno de estresse pós-traumático e um
aumento no consumo de álcool e substâncias ilícitas, acompanhadas ou
não de comportamentos agressivos (Martins-Borges, 2013). O ano de
2019 foi o maior em número de solicitações de reconhecimento de
condição de refugiado no Brasil, sendo mais frequentes pedidos de
venezuelanos, haitianos e cubanos (Silva, 2020);
4. Religião: esse dado pode nos ajudar a avaliar melhor certas crenças
compartilhadas por certos grupos e, com isso, reduzir a chance de
cometer juízos de valor. O fato de seguir uma religião é fator protetivo
frente ao suicídio, de um modo geral. Pessoas com maior envolvimento
religioso, sem levar em consideração a filiação religiosa, possuem
menores chances de desenvolver o comportamento suicida (Rasic et al.,
2011; Osafo et al., 2013). Por outro lado, alguns fenômenos psicóticos
podem ser difíceis de serem diferenciados, em um primeiro momento, de
rituais religiosos ou crenças. Estudos realizados no Brasil mostram que
pacientes internados por transtornos psiquiátricos pertencentes a grupos
evangélicos têm uma maior frequência de diagnósticos de psicoses
(Dalgalarrondo, 2004), e pertencer a religiões minoritárias (como igrejas
5
evangélicas pentecostais e espiritismo kardecista) pode associar-se à pior
saúde mental (Baptista, 2004) e qualidade de vida, o que possivelmente
seria reflexo de um processo social de busca de novos agrupamentos
religiosos por pessoas em situação de sofrimento.
De acordo com revisão de Carlat (2007) sobre o assunto, até 50% dos
pacientes abandonam o tratamento antes da quarta sessão. Podemos pensar
em vários motivos para que isso aconteça: alguns podem não ter formado boa
aliança com seus terapeutas, outros não estavam interessados em se tratar e
ainda podem ter reduzido o estresse que os levou a buscar atendimento,
somente com os atendimentos iniciais.
O ato de entrevistar e se mostrar interessado pela história do paciente
auxilia (e muito!) na formação do vínculo terapêutico. Escutar uma pessoa com
6
total atenção é uma disciplina muito difícil de atingir, a qual exige concentração
intensa em tudo o que ela está tentando dizer verbalmente ou não, além do
respeito a ela. É muito mais fácil concentrar o foco no que está sendo dito do
que no que está por trás: por exemplo, se o paciente comenta “nos últimos
meses parece que meu médico tem precisado aumentar a dose da medicação”,
o profissional pode responder “sim, talvez o senhor responda a doses maiores
mesmo”, ou pode perguntar “isso te preocupa?”. Muito provavelmente, a última
pergunta fará o paciente desenrolar o motivo pelo qual abordou este assunto.
Transpondo da literatura médica, existem estudos mostrando que o
médico interrompe o paciente em média a cada 18 segundos (Beckman; Frankel,
1984), sendo a consulta dominada por perguntas do profissional e, assim, as
necessidades do paciente podem ser ignoradas ou deixadas de lado. Um dos
erros mais comuns na prática clínica é fazer uma pergunta e já respondê-la sem
dar a chance de o paciente se manifestar: “e então, como está seu apetite? Tem
se alimentado bem?”. Michael Balint (1955), médico psicanalista e grande
estudioso da relação médico-paciente, afirmava que “se você fizer somente
perguntas, irá receber somente respostas e nada mais”. Portanto, saber
equilibrar perguntas abertas e fechadas é essencial na boa condução de uma
anamnese.
2.3 A entrevista
7
transição e otimizando o tempo disponível. Um exemplo de pergunta de transição
(a qual auxilia no direcionamento da entrevista) em uma hipótese de transtorno
de personalidade: “anteriormente, você mencionou que seu marido a deixou
anos atrás, como você costuma lidar com situações de rejeição?”.
3.3 Fechamento
Ocorre nos minutos finais da entrevista, momento em que você fará uma
súmula para o paciente sobre suas impressões do caso, de uma forma que ele
consiga compreender o que está acontecendo com ele e qual é a proposta de
tratamento. Psicoeducar o paciente sobre seu transtorno diminui sua ansiedade
com o que de fato está acontecendo com ele, além de mostrar que ele não é o
único a padecer de tal sofrimento, dando a sensação de pertencimento e
melhorando a adesão ao tratamento que será proposto. Ainda, posicioná-lo de
acordo com sua expertise no assunto desmistifica informações que ele possa ter
encontrado na internet ou em literatura pouco recomendada, apurando o nível
de confiança na sua condução do caso.
A apresentação da hipótese diagnóstica para o caso nem sempre precisa
ser feita em termos técnicos, mas sim de uma forma que o paciente entenda.
9
Assim, em vez de “transtorno depressivo maior”, pode-se dizer que ele está
passando por uma depressão clínica.
O próximo passo será investigar o que o paciente sabe sobre seu
transtorno e possibilidade de tratamento. Oriente sobre a etiologia, fatores de
risco, fatores estressores e discuta e estabeleça com ele um plano terapêutico
compartilhado, salvo exceções em que o paciente não apresenta condições de
decidir sozinho, como: comportamento suicida, psicose, agitação ou iminência
de agressividade, ou seja, situações em que o paciente pode colocar-se em risco
ou a terceiros. Nesses casos, a presença de um familiar ou cônjuge é necessária,
a fim de decidir a melhor conduta.
A adesão também se consolida se o profissional finalizar a sessão com a
próxima data e hora agendadas para um período curto e, se forem necessários,
fizer outros encaminhamentos (médico, fonoaudiologia, terapeuta ocupacional
etc.). Estabelecer limites no contato fora da sessão e formas de o contatar se
houver emergência também faz parte do fechamento e continuidade do
acompanhamento.
11
Um bom critério para discriminar os casos nos quais alguma intervenção
junto à família é imprescindível, dispensável ou mesmo prejudicial é o grau de
dependência do paciente em relação a ela. Esse é, aliás, o mesmo princípio que
implica a necessidade quase absoluta da participação da família nos tratamentos
de crianças em geral ou de idosos com declínio cognitivo. Em outras palavras,
avaliar se a dependência torna a família necessária no tratamento – isto é,
pacientes vulneráveis – ou tem cunho patológico; por outro lado, pacientes
afastados de seu núcleo familiar podem denotar relacionamento conflituoso ou
até histórico de negligência.
Diversas doenças clínicas e medicações podem estar envolvidas na
etiologia de quadros psiquiátricos ou agravá-los, como anemias, doenças da
tireoide, tumores cerebrais, traumatismos cranianos, epilepsia. Medicações
como corticoides podem influenciar em quadros de humor ou alteração de
comportamento em crianças.
NA PRÁTICA
12
exemplo, transtorno do humor reagudizado, psicose, emergência
hospitalar, solicitar familiar na sala etc.);
• O paciente persecutório: geralmente, está em quadro psicótico agudo e
qualquer pessoa à sua volta representa uma ameaça naquele momento.
Simplificar a avaliação também é uma boa saída, já que sua alteração de
juízo da realidade está alterada e ele terá pouco ou nenhuma escuta.
Nesses casos, intervenção médica é mandatória e emergencial;
• O paciente com suspeita de transtorno de personalidade: conduzindo a
entrevista de forma cronológica, focando principalmente nas suas
relações interpessoais, conseguimos tentar traçar possíveis padrões
disfuncionais;
• O paciente tímido ou ansioso: iniciar sempre com perguntas neutras
(nome, onde mora, profissão, estado civil, nome de familiares etc.) e
assuntos para “quebrar o gelo” para, então, gradativamente, começar a
formular perguntas mais diretivas.
FINALIZANDO
13
E, por fim, mas não menos importante, da personalidade do
entrevistador. Alguns profissionais são ótimos entrevistadores, falam
muito pouco durante a entrevista, sendo discretos e introvertidos;
outros só conseguem trabalhar bem e realizar boas entrevistas sendo
espontaneamente falantes e extrovertidos”.
Evitar posturas excessivamente rígidas ou emotivas demais,
julgamento de valores, responder de forma agressiva a um paciente
hostil ou provocador e direcionar o paciente quando este está sendo
muito prolixo e desviando frequentemente do motivo e andamento da
sessão.
14
REFERÊNCIAS
BALINT, M. The doctor, his patient, and the illness. The Lancet, v. 265, n.
6866, p. 683–688, 1955.
15
QUADROS, L. C. M et al. Transtornos mentais comuns e fatores
contemporâneos: coorte de nascimentos de 1982. Rev. Bras. Enferm. v. 73, n.
1, Brasília, 2020.
16
Aula 2
Psicopatologia
A entrevista psiquiátrica
A entrevista psiquiátrica
Primeiros minutos
Conhecer o paciente
As três fases da entrevista Dar espaço e tempo para que
possa contar o motivo da
sessão – sem interrupções
Momento crucial do paciente
se sentir seguro com o
profissional que está lhe
atendendo – rapport Sangoiri/shutterstock
O paciente hostil
O paciente persecutório
O paciente com suspeita de t. de
personalidade
O paciente ansioso/tímido
davit85/adobe stock
Dica de ouro
2
1.1 Aparência
1.2 Atitude
3
deve provocar, ativamente, nenhuma atitude no paciente – esta deve ser
espontânea, e podemos analisá-la desde antes de o paciente entrar na sala de
consulta. Não existem muitos termos técnicos para descrever esse quesito e
muitos extrapolam o seu uso corriqueiro. Algumas atitudes, por parte dos
pacientes, são consideradas desejáveis, pois contribuem positivamente para a
realização da avaliação psíquica, tais como: atitudes cooperantes, amistosas,
confiantes, interessadas, abordáveis. Essas atitudes mostram que o paciente
apresenta uma plena consciência de sua morbidade.
Algumas das atitudes observadas em pacientes com transtorno mental –
lembrando que, durante toda essa nossa imersão no tema, propomos um roteiro
mínimo para posterior estudo aprofundado – são: não cooperação, oposição ao
que a eles se apresenta como recomendação, hostilidade, fuga, suspicácia
(ligada a quadros delirantes), querelância (o paciente discute e briga com o seu
examinador), reivindicação (o paciente quer ser atendido na hora que bem
entender), arrogância, evasão, invasão, esquiva, inibição ou desinibição
excessivas, jocosidade, ironia, muito lamurio, dramaticidade ou teatralidade,
sedução, puerilidade, simulação ou dissimulação (o paciente tenta ocultar ou
forjar um sintoma ou doença, com objetivos secundários), indiferença,
manipulação, submissão e expansividade.
1.3 Consciência
6
sonambulismo e nas crises de terror noturno na infância. Seu curso é breve, de
início súbito: o paciente apresenta-se um pouco confuso, perplexo, demonstra
afeto indiferente e tem amnésia anterógrada. Tanto o sonambulismo como o
terror noturno, que são classificados como parassonias, têm curso benigno.
O quadro de delirium é definido como uma disfunção transitória no
metabolismo cerebral – atenção: não confundir com delírio! Tal alteração do
conteúdo do pensamento será vista mais adiante. O delirium tem início agudo ou
subagudo e, geralmente, origem orgânica (muitas vezes ligada a quadros
infecciosos, medicamentosos, de insuficiência renal ou hepática, de tumores
cerebrais) ou relativa a quadros de abstinência de substâncias (o mais comum é
o delirium tremens, pela abstinência de álcool, do qual falaremos em outra aula).
Umas das suas principais características são a flutuação do nível de consciência
e a desorientação do indivíduo no tempo e no espaço.
Por último, temos os fenômenos de despersonalização e desrealização,
caracterizados pela vivência de uma sensação de estranheza para consigo
mesmo e o mundo ao redor. Pacientes costumam descrevê-los como: percepção
de forte pressão na cabeça, sensação de sair do corpo, de ver o ambiente de
fora, como numa desconexão emocional. O indivíduo consegue fazer a crítica da
sua irracionalidade e tem medo de perder o controle. Por mais peculiar que
pareçam, esses fenômenos são comuns em transtornos ansiosos, dadas as
consequentes preocupações e angústias inerentes ao quadro.
1.4 Atenção
7
1.4.1 Principais funções da atenção
1.5 Orientação
9
• Desorientação de causa orgânica: geralmente alopsíquica, compromete
o funcionamento cerebral do indivíduo, como nos casos de deficiência
intelectual, estados confusionais (abuso de drogas, traumatismos
cranianos, delirium tremens etc.), amnésicos, lacunares (quando o
paciente não sabe o que aconteceu nem o que está acontecendo em um
espaço de tempo, comum em quadros pós-concussão), demenciais
(declínio cognitivo global).
• Desorientação por alterações da volição e do afeto: em quadros
dissociativos (fugas, amnésias, transes, em geral aqueles dois podem
estar alterados), apáticos (depressões graves – o paciente se apresenta
consciente mas pouco responsivo a estímulos externos, pela falta de
energia para processar percepções e raciocínios), maníacos (pelo seu
humor exaltado, agitado, o paciente se perde na fluência do tempo) e
psicóticos (geralmente com alteração autopsíquica, em função do quadro
delirante e/ou alucinatório).
2.1 Sensopercepção
10
2.1.1 Alterações quantitativas da sensopercepção
11
percepções e que não é patológica, por exemplo ver figuras humanas, animais,
objetos em nuvens; as alucinoses, em que há uma percepção clara e definida do
objeto, porém o paciente tem crítica de que a sua sensopercepção é algo
patológico (diferentemente das alucinações verdadeiras) – são também
chamadas alucinações neurológicas, já que estão relacionadas a distúrbios de
origem orgânica, comuns em transtornos orgânicos cerebrais, na intoxicação por
alucinógenos e no fenômeno do membro fantasma, em amputados.
Nesse grupo de alterações, há ainda aquela que deve ser mais bem
estudada: a alucinação, ou seja, a percepção clara, definida e convicta de um
objeto inexistente, vivenciada como própria do mundo do sujeito. As alucinações
não se originam de transformações de percepções reais, o que as distinguem
das ilusões. Conforme o receptor sensorial envolvido, podem ser: auditivas,
visuais, olfativas, gustativas ou táteis. Podem levar, secundariamente, ao
desenvolvimento de ideias deliroides, criadas como uma explicação para
aquelas. As alucinações verdadeiras possuem uma força irresistível de
convencimento e são aceitas pelo juízo de realidade, por mais que pareçam,
para o próprio paciente, estranhas ou especiais. Pseudoalucinações são
imagens representativas involuntárias, fugazes, sem intensidade e pouco
nítidas, geralmente visuais e auditivas. Os pacientes as percebem com os seus
olhos (ou ouvidos) internos, com o termo internos referindo-se a algo que se
opera dentro da mente (e não dentro do corpo ou da cabeça). As alucinações
manifestam-se na esquizofrenia, em transtornos de humor, situações de abuso
de substâncias e episódios de estresse e fadiga. Sua manifestação também se
refere a alucinações factícias em simuladores ou a alucinações em que há crítica
por parte do paciente (p. ex., em pacientes que têm a sensação de que alguém
os chama pelo nome).
As alucinações visuais podem ser simples ou complexas e têm
geralmente etiologia orgânica, como em quadros de delirium e na intoxicação
por alucinógenos, sendo mais raras em síndromes psicóticas (como
esquizofrenia). As alucinações auditivas são as mais comuns e podem ser
nítidas ou ininteligíveis para o paciente. Descrevemo-las como alucinações
auditivas de comando quando o paciente relata ouvir vozes imperativas e
persecutórias, comuns em síndromes psicóticas. Alucinações olfativas e
gustativas são raras e, em geral, estão associadas entre si, podendo ocorrer na
esquizofrenia (quando o paciente se recusa a comer por achar que alguém
12
envenenou sua comida). Entre as alucinações táteis estão incluídas as cutâneas,
as térmicas, as dolorosas e as hídricas.
Nas alucinações cenestésicas, as sensações dos indivíduos são
localizadas nos seus órgãos internos. Também existem as alucinações que
ocorrem nas transições vigília-sono e sono-vigília, conhecidas respectivamente
como alucinação hipnagógica e alucinação hipnopômpica, que costumam ser
visuais, mas também podem ser auditivas ou táteis, ocorrendo em pessoas
consideradas saudáveis e naquelas com narcolepsia. E, por último, as
alucinações sinestésicas compreendem estímulos sensoriais, em um órgão dos
sentidos, que são percebidos como oriundos de outro sentido, por exemplo: ver
sons, ouvir cores etc., mais comuns na intoxicação por alucinógenos.
15
aprendizagens. É observada em quadros dissociativos (como na amnésia
psicogênica).
• Hipermnésia anterógrada (de fixação): capacidade exagerada de
armazenamento de novas informações. Geralmente está relacionada a
uma habilidade específica, por exemplo, de memorizar uma grande
quantidade de números ou nomes. Pode ocorrer em pessoas
consideradas saudáveis, porém é mais frequente em indivíduos com
déficit intelectual ou TEA.
• Hipermnésia retrógrada: observada na síndrome maníaca, na qual ocorre
um excesso de recordações num breve espaço de tempo, as lembranças
são pouco claras e precisas e não há controle voluntário sobre elas.
• Hipermnésia seletiva: comum na depressão, em que se relaciona a fatos
dolorosos ou que despertem sentimento de culpa; na mania, quanto a
sucessos e realizações pessoais; e nos quadros delirantes, quanto a fatos
que pareçam confirmar um juízo patológico.
TEMA 3 – A LINGUAGEM
18
o paciente faz com base no que ouviu. Ocorre na esquizofrenia, no TEA, nas
demências, no déficit intelectual e em algumas encefalites.
A mussitação (murmúrio repetitivo em tom baixo e com pouco movimento
labial), os neologismos (uso de palavras novas ou já conhecidas a que o paciente
atribui outro significado) e a jargonofasia (ou salada de palavras) ocorrem
principalmente na esquizofrenia. O ato de falar sozinho é denominado solilóquio
e é sugestivo de alucinação auditiva, mas pode ocorrer também em pessoas
consideradas saudáveis. Por último, a coprolalia é caracterizada pela presença
de palavras obscenas de maneira repetitiva e involuntária. Quando se constitui
num tique verbal, é uma manifestação típica da síndrome de Tourette,
manifestando-se de forma involuntária.
19
velocidade e ao ritmo do pensamento, à quantidade de ideias ao longo do tempo.
A forma, por sua vez, está relacionada à relação entre as ideias. Já o conteúdo
diz respeito à temática do pensamento, às qualidades ou características das
ideias.
20
irracionais. Manifesta-se na esquizofrenia, no delirium, na demência em
estágio avançado e na síndrome maníaca.
• Prolixidade: incapacidade de síntese, raciocínio difícil e sem conclusão do
tema – o paciente detalha uma série de pormenores desnecessários,
sendo extenso e cansativo. Alguns autores preferem utilizar os termos
circunstancialidade e tangencialidade.
• Perseveração: recorrência excessiva e inadequada de um mesmo tema,
com fixação em uma única ideia e um déficit nas associações de ideias,
ocorrendo na demência, no déficit intelectual, no delirium, na epilepsia e
na esquizofrenia.
• Ideias obsessivas (ou obsessões): são reconhecidas pelo próprio
paciente como absurdas, são repetitivas e persistentes (veremos com
mais detalhes em outra aula).
• Pensamento concreto (ou pensamento empobrecido): discurso pobre em
conceitos abstratos, impossibilitando o uso do campo simbólico, com
estrutura rudimentar e dificuldade para se utilizar metáforas. Em sua
incidência, há uma intensa adesão do indivíduo ao nível sensorial e
imediato das suas vivências, com generalizações equivocadas e, além
disso, uma inflexibilidade ou dificuldade diante de regras. Ocorre na
demência, no déficit intelectual e na esquizofrenia.
21
impossível. Por meio do juízo crítico da realidade, discernimos o que é real do
que é fruto de nossa imaginação. Dependendo do contexto e das características
do paciente, a intensidade do delírio pode flutuar e o paciente pode até mesmo
ter dúvidas ou questionar a sua veracidade. Os delírios que classificamos como
bizarros são geralmente impossíveis (por exemplo, o paciente ter a sensação de
que um extraterrestre implantou um chip dentro de sua cabeça). Já os delírios
não bizarros envolvem temas plausíveis porém improváveis de acontecerem
(como o paciente achar que está sendo perseguido por um carro preto que para
todo dia na frente de sua casa).
A vivência do delírio é muito particular a cada indivíduo e difere das
crenças culturalmente compartilhadas, como os dogmas religiosos. Além disso,
é, de certa forma, autorreferente, pois o conteúdo do pensamento está em maior
ou menor grau relacionado ao paciente e se transforma no eixo em torno do qual
passa a girar a vida do indivíduo. Em função de sua convicção irredutível, o
paciente delirante não sente a necessidade de comprovar objetivamente a
veracidade de seu pensamento e seu juízo crítico, nem de convencer os outros
de que está certo.
O delírio primário costuma ser incompreensível, por ser algo novo,
duradouro e irreversível, sem nenhuma raiz anterior. É um dos sintomas
cardinais da esquizofrenia, mas também encontrado em outros transtornos do
espectro psicótico. A percepção delirante consiste na atribuição de um
significado novo ou na percepção anormal de um objeto real e ocorre
simultaneamente ao ato perceptivo. Já a ideia deliroide (ou delírio secundário) é
uma ideia semelhante ao delírio, em relação ao juízo da realidade alterado,
porém é mais compreensível ao interlocutor, já que se origina de outras
manifestações emocionais, como alterações do humor, da sensopercepção e da
consciência, e seriam mais supostamente corrigíveis do que as ideias delirantes.
Exemplos: na depressão, o humor deprimido é o evento primário, por ser
incompreensível, e daí podem surgir os conteúdos das ideias deliroides
depressivas, como as ideias de culpa; na mania, as ideias de grandeza
decorrentes de um humor eufórico. Por fim, a ideia sobrevalorada é uma ideia
distorcida, afetada por uma superestimação afetiva. Decorre do fato de a ideia
estar relacionada a uma carga afetiva muito intensa, que influencia o julgamento
da realidade pelo paciente, tornando-o pouco racional. A convicção é muito
menor do que no delírio, é mais influenciável, podendo a ideia sobrevalorada
22
ocorrer inclusive em pessoas consideradas saudáveis. Incide, por exemplo, na
hipocondria, no transtorno dismórfico corporal, na anorexia nervosa.
FINALIZANDO
23
REFERÊNCIAS
24
Aula 3
Procedimento artificial
Estudo mais detalhado e aprofundado
Linguagem “universal” dentro da área de
saúde mental
Estado mental atual e nos dias anteriores à
consulta
Lightspring/Shutterstock
Aparência
Atitude Consciência
Orientação
Sensopercepção Sensopercepção
Alterações quantitativas
Afasia, disfasia
Agrafia, alexia, prosódia e hiperprosódia
Mutismo, oligolalia, logorreia, latência O pensamento – parte 1
Hiperfonia e hipofonia
Alterações qualitativas
Ecolalia, palilalia, estereotipia,
neologismos, solilóquios, jargonofasia,
coprolalia
O pensamento Curso do pensamento
Relacionado à antecipação de
acontecimentos, à construção de modelos da
Refere-se à velocidade e ritmo do
realidade e simulação do seu funcionamento
pensamento, à quantidade de ideias
Atributos: compreensão intelectual, ideação, ao longo do tempo
imaginação e associação de representações e
Alterações -> quantitativas
ideias
Aceleração, lentificação, interrupção
Atividades essenciais: elaboração de
conceitos, a formação de juízos e o raciocínio
Esquizofrenia Finalizando
Veremos com mais detalhes em aula futura,
aqui o importante é você tentar identificar as
funções psíquicas descritas e suas alterações
1.1 Inteligência
3
1.1.3 Testes neuropsicológicos
4
1.2 Vontade
1.3 Pragmatismo
TEMA 2 – PSICOMOTRICIDADE
2.1 Psicomotricidade
7
apraxias: apraxia ideomotora – perda da capacidade de realizar movimentos
simples em resposta à solicitação do examinador: por exemplo, fazer um aceno
significando adeus; escovar os dentes etc.; e a apraxia ideativa, que significa a
perda da capacidade de realizar movimentos sequenciais: por exemplo, dobrar
uma folha de papel e entregar ao examinador. Os pacientes conseguem executar
apenas individualmente os movimentos que integram a sequência.
A hipocinesia/acinesia (ou inibição psicomotora) caracteriza-se pela
diminuição acentuada e generalizada dos movimentos voluntários e
involuntários. Os movimentos tornam-se lentos e são realizados com grande
dificuldade. Em geral, há inibição do pensamento e da fala, empobrecimento da
mímica, hipovolição e da marcha. Na acinesia (ou estupor), os movimentos
voluntários desaparecem. O paciente pode ficar por um longo período restrito ao
leito, sem qualquer reação ao ambiente, apresentando mutismo, abolição da
expressão facial, recusa alimentar e incontinência urinária/fecal, além de abulia
– caso esta condição não receba os cuidados devidos, pode levar a obito.
Este último pode ocorrer na esquizofrenia, na catatonia, na depressão
grave, nos quadros de delirium, estados dissociativos, no déficit Intelectual,
demências e em ataques de pânico. Quando o estupor é acompanhado de
rigidez muscular, com redução clara da mobilidade passiva e manutenção da
postura corporal, denominamos catatonia. Nesse caso, o paciente pode assumir
espontaneamente posições bastante incômodas por um tempo prolongado, cujo
exemplo clássico é manter os braços elevados. Também é válido mencionar que
as paralisias nas crises conversivas constituem um estado de acinesia
localizada, restrita a um ou mais membros.
Por último, a hipercinesia (ou exaltação psicomotora) define o aumento
patológico da atividade motora voluntária. Essa exaltação da psicomotricidade
pode ser dividida em três níveis de gravidade: inquietação, agitação e furor. É
uma alteração psicopatológica bastante comum e inespecífica, podendo ser
observada na esquizofrenia, na mania, no delirium, em estados crepusculares e
epilépticos, em síndromes ansiosas, em síndromes delirantes, em pacientes com
déficit intelectual ou demência e no transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH).
8
2.1.2 Alterações qualitativas da psicomotricidade
9
de apraxia ideomotora, podem ser dadas ao paciente ordens como as seguintes:
“Mostre-me como você faz um aceno de adeus”. Para avaliar se há apraxia
ideativa, podem ser dadas os seguintes comandos sequenciais: “Eu vou lhe dar
um pedaço de papel. Quando eu fizer isso, pegue o papel com a sua mão direita,
dobre-o ao meio, com ambas as mãos, e coloque-o no chão”.
10
O humor (ou estado de ânimo, ou tônus afetivo) representa um somatório
ou síntese dos afetos presentes na consciência em um dado momento. Constitui
o estado afetivo basal e fundamental, que se caracteriza por ser difuso, isto é,
não relacionado a um objeto específico e por ser em geral persistente e não
reativo. O humor oscila entre os polos da alegria, da tristeza e da irritabilidade.
O termo disforia corresponde a um estado de humor desagradável.
11
3.2 Alterações qualitativas do afeto
12
expresso e aquilo que o indivíduo verbaliza. Por exemplo: o paciente, rindo,
conta que foi torturado na noite anterior; ou então o doente afirma estar alegre,
mas sua mímica é de tristeza. A paratimia reflete uma desarmonia entre a
afetividade e o pensamento.
A ambitimia representa a presença de sentimentos opostos ou
contraditórios que são simultâneos e que se referem ao mesmo objeto, pessoa
ou situação. Por exemplo, ao mesmo tempo, amar e odiar a mesma pessoa.
A neotimia consiste em uma vivência inteiramente nova, extravagante e
inusitada. São afetos qualitativamente diferentes de todos os que o paciente
havia experimentado em sua vida. Podem ter esse caráter de neotimia alguns
sentimentos místicos, de êxtase, de elação, de desolação e de terror. A neotimia
é observada na esquizofrenia, na intoxicação por alucinógenos, por exemplo.
13
A CNV se baseia mais em respostas automáticas e reflexas, mais
espontânea que a comunicação verbal pois utiliza ferramentas ligadas às
expressões faciais, de movimentação corporal, do timbre e volume da voz, por
exemplo sendo mais difícil de modificar intencionalmente. Os sinais emitidos por
um indivíduo, quando em uma interação social, vão desde sinais visuais,
acústicos até táteis e olfativos, como por exemplo:
Também incluem movimentos feitos com as mãos, que não têm uma
função clara (como pegar uma caneta para escrever algo, ou se coçar após ter
sido picado por um inseto), mas podem sinalizar algum nível de ansiedade e
tensão, por exemplo: uma pessoa que fica passando as mãos nos cabelos
enquanto fala, ou que fica apertando os dedos enquanto fala ou escuta o
interlocutor.
Já a postura pode indicar o nível de atenção ou envolvimento durante uma
interação, por exemplo, a inclinação do corpo para a frente, na direção do
interlocutor, é associada a maior envolvimento na conversa, enquanto a postura
curvada é mais associada à tristeza.
O comportamento tátil é definido como o modo, a frequência e a
intensidade com que as pessoas se tocam: a maneira que a pessoa dá o aperto
de mão, abraça o interlocutor, se dá tapinhas nas costas até o grau de erotização
do contato, são elementos importantes da CNV.
Durante a sua prática clínica em saúde mental, você deve ser muito
cuidadoso em relação ao comportamento tátil (é preciso conhecer bem o
14
paciente para saber o que o mínimo toque significa para ele, por exemplo, um
paciente autista que tem hipersensibilidade tátil muito provavelmente
demonstrará desconforto ou rejeitará uma tentativa de toque).
Expressões faciais: o rosto e as expressões faciais revelam de forma
particularmente importante o estado afetivo de uma pessoa, principalmente o
movimento dos olhos, das sobrancelhas e da região da boca (sorrisos, lábios
cerrados, curvatura dos lábios e boca etc.) revelam os afetos básicos: tristeza,
raiva, alegria, surpresa, medo e nojo. Além disso, o rubor, a palidez e/ou suor
facial são expressões de vergonha, raiva, medo, surpresa ou susto.
Comportamento ocular: movimentos que sinalizam em qual direção,
quando e por quanto tempo uma pessoa olha para outra ou para objetos do
ambiente, assim como à dilatação e à contração das pupilas.
15
TEMA 5 – SÚMULA PSICOPATOLÓGICA
16
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
17
REFERÊNCIAS
GOLEMAN, D. Emotional intelligence: why it can matter more than IQ. New
York: Bantam,1994.
18
Aula 4
Inteligência
Volição
A inteligência, a volição e o
Pragmatismo
pragmatismo
Psicomotricidade
Afetividade
Consciência do Eu
Inteligência Alterações da inteligência
Vontade Volição
Pragmatismo
Afeto
Estado psíquico subjetivo – agradável ou
desagradável
1) Avaliação subjetiva – o indivíduo se dá
Afeto, emoções e humor
conta de que está alegre, por exemplo
2) As crenças cognitivas – ele atribui
sua alegria à ocorrência de determinado
evento positivo
3) Os processos fisiológicos
4) A expressão afetiva
Alterações quantitativas
Exaltação afetiva e embotamento afetivo
1) Expressar emoções
2) Apresentar a própria personalidade
Mímica da face, do olhar, ao outro
dos movimentos da boca 3) Acompanhar a fala com a finalidade
Postura, gestual de controlar a alternância entre os
interlocutores, monitorar o tema da
Qualidade e tom da voz
conversa e a atenção dos participantes
Modo de andar e se mexer 4) Transmitir sinais relacionados às
Vestir e utilizar adereços atitudes interpessoais
65% do significado social é transmitido
Everett Collection/shutterstock por canais não verbais
Tipo de ambiente
Aparência física
Súmula psicopatológica
A proxêmica
Movimentos corporais
A “paralinguagem”
Corte transversal do caso -> hipótese
A sequência das funções psíquicas diagnóstica sindrômica
examinadas e caracterizadas através
Seguir uma ordem, assim como na
da escrita não é arbitrária
redação do exame psíquico
Avalia as funções que mais chamam a
Único parágrafo, com cada item
atenção inicialmente e influenciam de
avaliado limitado por ponto
maneira determinante as demais
Não usar a palavra “normal”
Súmula psicopatológica
2
reduzida criam quadros psicopatológicos menos nítidos, com menos detalhes,
superficiais e, às vezes, pueris. Os transfundos mutáveis e momentâneos são
representados pelo nível de consciência, atenção, humor e estado afetivo. Eles
atuam na determinação da qualidade e no sentido do conjunto das vivências
psicopatológicas. O nível de consciência e a atenção estabelecem a clareza e a
precisão dos sintomas específicos. Sob o estado de obnubilação da consciência,
alucinações, recordações e sentimentos são experimentados em uma atmosfera
nebulosa e até confusa. O humor e o estado afetivo de fundo influenciam no
desencadeamento de sintomas e na intensidade da vivência: uma lembrança,
uma alucinação ou um delírio em um estado depressivo grave passam a ter uma
importância enorme para o sujeito. Portanto são as vivências psicopatológicas
mais destacadas que o paciente experimenta.
As síndromes são conjuntos de sinais e sintomas que se agrupam de
forma recorrente e são observados na prática clínica diária, sendo o primeiro
passo na organização do raciocínio psicopatológico dos sinais e dos sintomas
dos pacientes. Assim, o raciocínio clínico vai evoluindo gradativamente ao longo
das primeiras avaliações para o conhecimento mais aprofundado sobre o
paciente e seu sofrimento mental.
Nesta aula daremos início ao estudo das principais síndromes
psiquiátricas, com ênfase nas alterações mais comuns na entrevista e no exame
do estado mental de cada. A ideia é apresentar a vocês, alunos, os transtornos
mais recorrentes no atendimento em saúde mental. Lembre-se de que esta é
uma aula e muitas das citações e termos técnicos apresentados necessitam de
aprofundamento por meio das bibliografias sugeridas e na sua prática clínica.
Além disso, há muitos outros transtornos psiquiátricos que não foram abordados
aqui, mas que são igualmente essenciais de se estudar e aprofundar em
supervisões e atendimentos.
3
estimada como a segunda causa de incapacitação em países
desenvolvidos e a primeira em países em desenvolvimento.
Atualmente considera-se que a depressão resulta de uma interação
entre processos biológicos, psicológicos, ambientais e genéticos. Do
ponto de vista fisiopatológico, a teoria das monoaminas é a mais
consolidada e postula que a depressão está ligada a falta ou
desequilíbrio dos neurotransmissores noradrenalina, serotonina e
dopamina no sistema límbico. Os fatores genéticos têm um papel
significativo no desenvolvimento de transtornos do humor, porém
sendo padrão de herança genética complexo que contribui entre 40 a
50%. O uso de substâncias psicoativas (álcool, inibidores de apetite)
destaca-se como um fator de risco ambiental para depressão. Também
sabe-se que eventos adversos precoces (p. ex., baixo suporte social e
abuso físico e/ou sexual na infância) também configuram um fator de
risco ambiental, bem como outros fatores psicossociais, por exemplo,
perda do emprego, de um ente querido ou separações.
1. Humor depressivo;
2. Anedonia (prejuízo da capacidade de sentir alegria e prazer) e
fatigabilidade.
4
Em relação ao pensamento do paciente, a realidade passa a ser vista sob
uma ótica pessimista, predominando relatos eventos passados as quais
predominaram emoções negativas ou desconfortáveis (até mesmo os eventos
positivos são relatados de forma a desvalorizá-los). O presente se traduz pela
incapacidade de mudança e o futuro visto com desinteresse, sem planos ou
como um cenário de ruína. Estas ideias pessimistas, apesar de recorrentes e
espontâneas, são passiveis de refutação com argumentação lógica na maioria
dos casos, ou seja, não são de base psicótica. Mesmo assim, em um quadro
agudo ainda podem enviesar a entrevista e em alguns casos é necessário
confirmar a veracidade das informações com outras pessoas próximas.
A depressão também pode se manifestar com sintomas psicóticos (cerca
de 15 a 19% dos casos): os pensamentos de cunho pessimista tomam uma
proporção a ponto de tornarem-se crenças irrefutáveis, caracterizando o quadro
como delirante. É importante ter em mente que, na grande maioria dos quadros
delirantes secundários a um transtorno do humor, os delírios são congruentes
com este, ou seja, os delírios de pacientes deprimidos giram em torno de temas
como inadequação pessoal, pecado, ruína financeira ou moral, culpa,
perseguição, doenças terminais etc.
Ainda dentro do espectro psicótico, o indivíduo pode relatar alucinações
com conteúdo depressivos, geralmente auditivas, e podem ser descritas como
vozes que dizem “você não presta”, “você é inútil” ou “seus filhos vão passar
fome”. As alucinações também podem ter o conteúdo de “punição merecida”
(“vou morrer, vou sofrer, pois mereço isso”). As depressões psicóticas estão
relacionadas a uma maior gravidade dos demais sintomas e são mais
observadas em quadros bipolares do que unipolares.
Neste tópico, daremos maior ênfase ao transtorno depressivo maior, o
qual tem seus episódios caracterizados pelos critérios diagnósticos a seguir.
6
• Atenção: ocorre hipoprosexia, em função da anedonia ou então uma
rigidez da atenção, quando o paciente se concentra apenas em algumas
ideias de conteúdo de sofrimento;
• Sensopercepção: a hipoestesia, as ilusões catatímicas e as alucinações
auditivas são as mais frequentes;
• Memória: em função do desinteresse em relação ao mundo externo, a
capacidade de memória de fixação está reduzida. Quando a inibição
psíquica é muito intensa, há também uma hipomnésia de evocação. Por
outro lado, há uma maior facilidade para evocar fatos ruins, geradores de
culpa (uma hipermnésia seletiva), enquanto lembranças agradáveis
tornam-se raras. São comuns distorções das recordações (alomnésias),
geralmente permeadas por conteúdo de tristeza, ruína ou culpa;
• Linguagem: oligolalia ou mutismo, bradilalia, hipofonia e aumento da
latência de resposta, podendo ocorrer também hipoprosódia ou
aprosódia;
• Pensamento: está em geral lentificado. Temas niilistas, de culpa ou ruína,
mesmo que não sejam sob a forma de um delírio, podem se tornar
perseverantes e dominantes no discurso do paciente;
• Delírio: nas depressões psicóticas, os temas delirantes mais comuns são
ruína, culpa, hipocondria e negação;
• Inteligência: as dificuldades cognitivas são secundárias e reversíveis,
associadas com o prejuízo na atenção, à falta de motivação e à inibição
do pensamento que acompanham as alterações do afeto;
• Volição: há hipovolição, assim como anorexia ou hiporexia, insônia (mais
raramente hipersonia), perda da libido e, nos casos mais graves,
negativismo e ideação suicida;
• Psicomotricidade: costuma haver hipocinesia. Também podemos
identificar o estupor depressivo (em casos graves), no qual a mímica de
tristeza está presente, em contraste com a indiferença afetiva observada
no estupor esquizofrênico. Nas depressões ansiosas pode haver
inquietação ou agitação psicomotora;
• Orientação: o paciente sente o tempo passar vagarosamente na
depressão. Ocorre uma desorientação apática;
• Afeto: há uma tristeza patológica, que costuma ser caracterizada como
uma tristeza vital. Em alguns pacientes, podem ocorrer ansiedade ou
7
irritabilidade. O estado de humor sofre poucas variações, caracterizando
assim uma rigidez afetiva.
8
psicopatológicas. O THB tipo I apresenta uma prevalência significativa,
acometendo 1% da população ao longo da vida. Tipicamente o THB tipo I pode
ter início desde a infância até os 50 anos de idade, sendo a média de
apresentação em torno dos 30 anos e tem prevalência igual entre homens e
mulheres, os episódios depressivos são muito mais frequentes do que os
maníacos do modo geral, mas os episódios maníacos são mais comuns em
homens e os depressivos mais comuns em mulheres. Também, é mais
recorrente entre as pessoas que não concluíram ensino médio, o que pode
indicar a idade precoce de início do transtorno. Vale ressaltar que o THB vai além
do tipo 1 e que o DSM-5 engloba dentro do transtorno bipolar uma serie de
subtipos, como: THB tipo I, THB tipo II, transtorno ciclotimico, THB induzido pelo
uso de substâncias ou medicamentos, THB devido a uma condição médica, entre
outros.
Neste segundo tema daremos maior ênfase ao THB tipo I e THB tipo II.
Assim como na depressão, existem diversas alterações endócrinas,
neurológicas e metabólicas descritas em pacientes com THB I, assim como
diversas teorias psicológicas. Em relação ao componente cerebral do THB, há
certo consenso de que haveria uma combinação de comprometimento do
controle cognitivo-emocional, implicando estruturas com ação deficitária como o
córtex do cíngulo anterior dorsal, e os córtices pré-frontais dorsolaterais e
dorsomediais, hiper-responsividade de áreas límbicas, como a amígdala, o
córtex frontal ventrolateral e o córtex do cíngulo anterior ventral. Porém nenhuma
delas mostrou-se totalmente capaz de explicar as manifestações e o curso desse
transtorno. O fator genético é significativo em seu desenvolvimento e mais
importante do que na depressão, sendo também um padrão de herança é
complexo: 50% dos indivíduos bipolares possui um parente com transtorno de
humor. Se um dos pais tem THB tipo I existe chance de 25% de que qualquer
filho desenvolva um transtorno de humor. Se os dois pais têm esse transtorno, a
chance aumenta para 50-75%.
A mania é indicada por um humor elevado, expansivo ou irritável que se
desvia do humor normal do paciente (cuidado com frases feitas como “vou da
alegria à tristeza no mesmo dia”, aqui, o humor é patológico também, ou seja,
causa prejuízo e dura vários dias). Este fica impulsivo, grandioso e distraído e
apresenta comportamentos de risco. O transtorno bipolar II é caracterizado por
episódios de depressão e episódios de hipomania (os sintomas são mais leves
9
e breves e não satisfazem todos os critérios para a mania). Para ambos os
transtornos, o episódio mais recente pode ser descrito com alguns aspectos
especificadores, como “com características psicóticas”, além disso, os pacientes
podem apresentar um “estado misto”, com elementos tanto de depressão como
de mania ou hipomania (p. ex., humor deprimido com irritabilidade e insônia). É
comum o transtorno bipolar I começar com um episódio de depressão e ser um
transtorno recorrente. O prognóstico é pior para esse transtorno do que para o
depressivo maior. Ele tem um curso crônico em cerca de um terço dos pacientes,
que apresentam declínio social significativo. Pacientes do tipo bipolar II
apresentam tendência a episódios depressivos.
Além disso, quase sempre presente, observa-se nos quadros maníacos a
aceleração das funções psíquicas (taquipsiquismo); pode haver agitação
psicomotora, exaltação, loquacidade e pressão para falar, assim como
pensamento acelerado e fuga de ideias. O quadro deve durar pelo menos uma
semana, mas a média de duração do episódio maníaco é por volta de três
meses. A atitude geral do paciente pode ser alegre, brincalhona, eufórica ou,
também, muito frequentemente, irritada, arrogante e, às vezes, agressiva
tendendo a ser superficial e inconsequente.
No episódio maníaco, são frequentes a euforia, que é alegria marcante e
desproporcional aos eventos da vida e a elação, que é o sentimento de expansão
e engrandecimento do eu e/ou a irritabilidade, em graus variados. Não são raros
comportamentos espalhafatosos, como tirar a roupa em ambientes públicos ou
ficar cantando e/ou pregando e também ocorrem ideias ou delírios de grandeza,
poder, riqueza e/ou importância social. Também podem estar presentes
alucinações (geralmente auditivas e visuais). O DSM-5 exige, para o diagnóstico
de episódio maníaco, além de humor elevado, pelo menos mais três dos
sintomas de mania (quatro, se o humor for apenas irritável) descritos a seguir: -
Aumento da autoestima: o paciente se sente superior, melhor que os outros,
mais potente.
Diminuição da necessidade de sono: os familiares podem descrever como
insônia, mas trata-se, de fato, de diminuição do tempo de sono, sem queixas do
paciente (que dorme pouco, de 3 a 4 horas por noite, sem que isso o afete).
Produção verbal rápida, fluente e persistente, ou logorreia, com perda das
concatenações lógicas, substituídas por associações contingenciais ou por
assonância e tendência irresistível de falar sem parar, de não conseguir
10
interromper a fala. Alterações formais do pensamento – expressam-se como
fuga de ideias, desorganização do pensamento, tangencialidade,
descarrilhamento, incoerência, ilogicidade, perda dos objetivos e repetição
excessiva.
Atenção voluntária diminuída, e espontânea, aumentada.
Aumento de atividade dirigida a objetivos (no trabalho, na escola, na
sexualidade) ou agitação psicomotora.
Envolvimento excessivo em atividades potencialmente perigosas ou
danosas, como comprar objetos ou dar seus pertences indiscriminadamente e
realizar investimentos financeiros insensatos ou indiscrições sexuais;
comportamentos sexuais aumentados, desinibidos, e o paciente se torna
particularmente vulnerável a exposições sexuais de risco (sexo desprotegido).
Resumimos a seguir as alterações possíveis no EEM encontradas em
pacientes em mania/hipomania:
14
3.1.2 Ansiedade, inquietude e insônia
3.1.4 Desesperança
15
3.1.5 Vergonha e vingança
3.1.6 Ambivalência
17
4.2 Transtornos induzidos por substâncias
18
subdivididos em dois grandes grupos: o delirium (quadros agudos, de curta
duração) e os TNCs de longa duração ou crônicos (demências, síndrome
amnéstica, TNC leve etc.). Estes últimos foram subdivididos em maiores e leves.
Na denominação comprometimento cognitivo leve (CCL) estão reunidos quadros
semelhantes aos TNCs maiores, mas com menor gravidade ou em fase inicial.
Os déficits neurocognitivos não podem interferir na capacidade de ser
independente do indivíduo ou nas suas atividades e o prejuízo cognitivo deve
ser, de modo geral, de pouca gravidade. Uma porcentagem importante desse
paciente (aproximadamente 5 a 20%), com o tempo, evolui para demência. No
DSM – 5, os TNCs maiores são agrupados juntos, de modo a unir as demências
e as síndromes amnésticas em um grupo único: TNCs maiores, nos quais as
alterações clínicas principais são déficits cognitivos adquiridos.
5.1 Características
Saiba mais
Atenção! Não se exige mais que seja especificamente a memória como
domínio cognitivo alterado (embora em grande parte dos casos ela esteja
alterada, e, na demência de Alzheimer, essa alteração seja proeminente desde
o início).
19
5.2 Entrevista
NA PRÁTICA
A. Humor deprimido.
B. Apetite diminuído.
C. Culpa excessiva.
D. Fadiga.
E. Ideação suicida.
FINALIZANDO
20
REFERÊNCIAS
21
GABARITO
Resposta: A.
22
Aula 5 Síndromes psiquiátricas
4. Insônia ou hipersonia
5. Agitação ou retardo psicomotor
6. Fadiga ou perda de energia
7. Sentimentos de inutilidade
ou culpa excessiva
8. Capacidade diminuída para
pensar ou se concentrar
Denis Pepin/SHUTTERSTOCK
Suicídio
Ansiedade, inquietude e insônia TRANSTORNOS DOR PSÍQUICA PLANO
PSIQUIÁTRICOS DESESPERANÇA Tentativa
Impulsividade e agressividade de suicídio
Caso clínico
Hipertensão e diabetes,
Uma mulher de 60 anos solicita atendimento além da saída dos filhos de casa
queixando-se de fadiga no último mês
Qual sintoma deve estar presente
Dificuldade para adormecer, para se fazer o diagnóstico de
pouco apetite e perda de 4,5 kg, transtorno depressivo maior?
além de pensamentos sobre querer morrer
Humor deprimido
Sintomas semelhantes no passado
2
Para a consideração de tratamento (seja psicoterápico e/ou
farmacológico), deve-se levar em conta os fatores estressores
desencadeadores, além das características individuais do sujeito. As síndromes
ansiosas ocorrem em condições estressantes variadas, corriqueiras na rotina de
um profissional de saúde, como associadas a doenças clínicas, situações de
violência, na vigência de uso de medicamentos ou drogas e comórbidas com
outros transtornos mentais.
1.1 Características
3
nosológicos como transtornos ansiosos (Sampaio e Lotufo Neto, 2019):
transtorno de pânico ou ansiedade episódica paroxística, transtornos fóbico-
ansiosos (fobias específicas ou isoladas, agorafobia, fobias sociais), transtorno
de ansiedade generalizada, transtorno de ansiedade devido a uma condição
física ou uso de substância psicoativa e transtorno de ansiedade sem outra
especificação. A síndrome ansiosa é encontrada principalmente no transtorno de
ansiedade generalizada e no transtorno de pânico, mas pode ocorrer também
nos outros transtornos de ansiedade e em diversos outros transtornos mentais,
como a esquizofrenia e a depressão. Outras causas da síndrome de ansiedade
são: abstinência de nicotina, benzodiazepínicos ou opioides; intoxicação por
cafeína, simpaticomiméticos ou estimulantes; hipertireoidismo; hipoxia;
hipoglicemia; epilepsia do lobo temporal; e isquemia cerebral, conforme lista
Cheniaux (2015).
No transtorno de ansiedade generalizada, a ansiedade é crônica e
praticamente contínua, sem picos ansiosos bem delimitados, as preocupações
são persistentes e excessivas acerca de vários domínios, incluindo desempenho
no trabalho e escolar e as quais o paciente encontra dificuldade em controlar. As
manifestações mais comuns e que fazem parte dos critérios diagnósticos são os
sintomas físicos, incluindo inquietação ou sensação de “nervos à flor da pele”;
fatigabilidade; dificuldade de concentração ou “ter brancos”, irritabilidade, tensão
muscular e perturbação do sono (American Psychological Association, 2014). Já
no transtorno de pânico, há episódios bem delimitados e recorrentes de
ansiedade, que são de grande intensidade e que duram apenas alguns minutos,
os chamados “ataques de pânico”. Estes ataques constituem-se de vários sinais
e sintomas físicos que ocorrem simultaneamente e de maneira intensa, como
palpitação, dor no peito, falta de ar, vertigem, sensação de desmaio, tremor,
ondas de calor ou calafrios, náuseas e formigamento. Pode ocorrer também a
despersonalização, como comentamos anteriormente. Os ataques de pânico são
tão intensos que o indivíduo apresenta medo de morrer, de enlouquecer ou de
perder o controle sobre seus atos. Em função das alterações
cardiorrespiratórias, muitas vezes acredita estar tendo um infarto (APA, 2014).
A síndrome fóbica é sempre direcionada a um objeto, atividade ou
situação específica e a reação é desproporcional a este e, se for criança ou
adolescente, a reação pode ser desproporcional ao esperado na faixa etária;
medo, ansiedade ou esquiva são quase sempre imediatamente induzidos pela
4
situação fóbica, até um ponto em que são persistentes e fora de proporção em
relação ao risco real que se apresenta. Existem vários tipos de fobias
específicas: a animais, ambiente natural, sangue-injeção-ferimentos, situacional
e outros. Uma forma bem específica de fobia é a agorafobia, que consiste em
um comportamento de esquiva em relação a lugares ou situações em que a fuga
seria difícil ou embaraçosa, ou que o socorro poderia não ser disponível, caso o
indivíduo apresente um ataque de pânico. O paciente pode evitar passar por
túneis ou pontes, andar de trem, metrô ou avião, estar no meio de uma multidão
ou em uma fila. Em casos mais graves, recusa-se a ficar sozinho ou não sai mais
de casa. Outra forma de fobia é a ansiedade social (anteriormente chamada fobia
social), que se caracteriza por um medo persistente, excessivo e incapacitante
de agir em situações sociais como encontrar-se com pessoas que não lhe são
familiares, situações em que o indivíduo pode ser observado comendo ou
bebendo e situações de desempenho diante de outras pessoas. A distorção
cognitiva associada é a de ser avaliado negativamente por terceiros. A exposição
a essas situações sociais produz uma reação física imediata de ansiedade e,
assim, são geralmente evitadas. Pessoas com ansiedade social são muito
sensíveis às reações e expressões faciais dos outros, sobretudo de mínimos
sinais negativos, percebidos de forma exagerada em indivíduos considerados
como “importantes” ou dotados de significação “superior”. Os indivíduos com
ansiedade social vivem em frequente estado de hipervigilância.
Já as síndromes do espectro obsessivo-compulsivo ganharam
classificação própria, que veremos a seguir. Os transtornos decorrentes de
situações traumáticas, como o transtorno por estresse pós-traumático, também
deixaram de fazer parte dos transtornos ansiosos, pois suas manifestações
clínicas são distintas e faz parte dos critérios diagnósticos que o paciente tenha
vivenciado situação de ameaça à sua vida ou a de terceiros.
6
minuciosidade. O insight da doença, ou seja, a noção da morbidade, está
preservado, embora em alguns casos mais graves possa estar prejudicado.
7
2. Sintomas negativos: embotamento afetivo, diminuição da motivação,
isolamento social, empobrecimento do pensamento.
3. Sintomas cognitivos: déficits de memória, de atenção e de funções
executivas.
4. Sintomas de humor: sintomas depressivos ou sintomas maníacos e
ansiedade.
5. Sintomas de desorganização: desorganização do pensamento e
comportamento, afeto inapropriado ou incongruente.
8
entrevista. Nos quadros paranoides, observa-se uma atitude suspicaz,
hostil, querelante, ou de fuga.
• Atenção: paciente em psicose aguda podem se distrair com qualquer
estímulo externo. Já em casos de sintomas negativos predominantes, a
atenção pode estar globalmente diminuída, devido à apatia e
desinteresse. Podemos suspeitar de atividade alucinatória no momento
da consulta se ocorrer uma rigidez ou labilidade da atenção. Nos casos
em que há delírios persecutórios, a atenção espontânea costuma se
intensificar.
• Sensopercepção: apresenta grande riqueza alucinatória, predominando
as alucinações auditivas, e o paciente pode descrever vozes que
dialogam entre si, vozes depreciativas sobre o paciente ou que ordenam
algo.
• Memória: segundo Cheniaux (2015), “é possível surgir uma hipomnésia
de fixação, devido ao embotamento e desinteresse quanto ao mundo
externo, ou quando há agitação psicomotora importante. Há uma
hipermnésia seletiva em relação a eventos que possa julgar como
relacionados a seus delírios e uma hipomnésia para aqueles que os
contradizem. Ainda podem ocorrer alomnésias (memorias distorcidas de
eventos passados) e paramnésias (“recordar” fatos que na verdade nunca
ocorreram, como se criasse memorias “novas” do passado). Estudos
atuais baseados em avalições neuropsicológicas têm mostrado que
alguns esquizofrênicos podem apresentar alterações de memória
semelhantes às encontradas nas demências”.
• Linguagem: podemos observar as alterações como mussitação,
solilóquio, jargonofasia, neologismos, maneirismos, pararrespostas e até
a aprosódia completa.
• Conteúdo do pensamento: é quase que característico o delírio bizarro,
com um conteúdo impossível. Pode ser primário (quando intuitivo) ou
secundário (à atividade alucinatória).
• Inteligência: há uma deterioração intelectual, relacionada às alterações
formais e empobrecimento do pensamento e os sintomas psicóticos
também pode prejudicar o desempenho cognitivo. Atualmente, estudos
também deterioração cognitiva na esquizofrenia seja primária e
relacionada diretamente a alterações estruturais no cérebro.
9
• Volição: a hipobulia é considerada um sintoma negativo da esquizofrenia,
mas também podem ocorrer atos impulsivos, suicídio, negativismo e
obediência automática.
• Psicomotricidade: podem manifestar apraxia, catatonia, agitação (que
reflete a desorganização do pensamento, sem relação com estímulos do
ambiente) e maneirismos.
• Afetividade: O embotamento afetivo é um dos sintomas negativos
principais da esquizofrenia. Em quadros delirantes francos ou de agitação
psicomotora o afeto de tônus ansioso pode prevalecer, caracterizando
uma hipertimia. Podem ser encontradas também rigidez afetiva,
paratimias, ambitimias e neotimias (adaptado de Cheniaux, 2015).
10
3.5 Outros transtornos psicóticos
11
4.1 Anorexia Nervosa
12
2. sensação de perda de controle alimentar durante o episódio
(sensação que o indivíduo não consegue parar de comer ou não
controla “o quê” nem quanto come). Comportamento compensatório
inapropriado buscando prevenir ganho de peso como, por exemplo,
vômitos autoinduzidos; uso inadequado de laxativos, diuréticos ou
outros medicamentos; jejum ou exercício excessivo. A compulsão
alimentar e a compensação inapropriada ocorrem, em média, uma vez
por semana em período mínimo de 3 meses. Autoavaliação é
indevidamente influenciada pelo peso e forma corporal. O distúrbio não
ocorre exclusivamente durante episódios de Anorexia Nervosa.
13
• Inteligência: em boa parte dos pacientes, a inteligência está abaixo do
esperado. Mais raramente, alguns pacientes podem apresentar
habilidades cognitivas extremamente desenvolvidas, relacionadas a
música, arte, cálculos matemáticos, orientação viso espacial e memória
(hipermnésia de fixação).
• Linguagem: ecolalia, hipoprosódia e neologismos (alterações da
linguagem).
• Psicomotricidade: hipomimia, maneirismos, estereotipias e agitação.
• Volição: impulsividade e comportamentos de autolesão.
• Afeto: embotamento afetivo ou incontinência afetiva.
• Sensopercepção: pode estar exacerbada (hiperestesia) ou diminuída
(hipoestesia).
• Consciência do eu: é comum o paciente referir a si próprio usando o
pronome na terceira pessoa (“ele” ou “ela”) (Cheniaux, 2015).
14
• Padrão repetitivo e restrito de comportamentos, interesses ou atividades,
manifestado por pelo menos dois dos itens, no presente ou no relato
histórico:
o movimentos motores, uso de objetos ou discurso de forma
repetitiva ou estereotipada (ex., estereotipias motoras simples,
alinhamento de brinquedos ou brincadeiras estereotipadas com
objetos, ecolalia, frases idiossincráticas);
o insistência na similaridade de situações vividas, manutenção
inflexível das rotinas ou padrões ritualizados de comportamentos
verbais e não verbais (ex., sofrimento extremo a pequenas
mudanças, dificuldades com mudanças, padrões rígidos de
pensamento, cumprimentos ritualizados, necessidade de fazer um
mesmo caminho ou ingerir um mesmo alimento todos os dias);
o interesses fixos e significativamente restritos que são anormais em
intensidade ou foco (ex., ligação intensa ou preocupação com
certos objetos, interesses circunscritos e perseverativos); e
o hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesses
incomuns em aspectos sensoriais do ambiente (exemplo: aparente
indiferença a dor ou temperatura, resposta adversa a sons e
texturas específicas, olfação ou tato excessivo de objetos, fascínio
visual por luzes ou movimentos).
• Sintomas devem estar presentes durante o início do desenvolvimento
(mas podem não se manifestar completamente até as demandas sociais
excederem o limite das capacidades, ou podem ser mascarados por
estratégias aprendidas em estágios futuros da vida).
• Sintomas causam prejuízos clínicos em áreas sociais, ocupacionais e
outras importantes para o funcionamento atual.
• Os sintomas não são mais bem explicados por deficiência intelectual ou
atraso global do desenvolvimento. Deficiência intelectual e transtorno do
espectro autista frequentemente coexistem; para o diagnóstico comórbido
do transtorno do espectro autista e deficiência intelectual, a comunicação
social deve ser menor do que aquela esperada para o nível global de
desenvolvimento.
15
• Níveis de gravidade: grau 1 – necessita de algum apoio; grau 2 –
necessita de apoio consistente; grau 3 – necessita de intenso apoio
consistente.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
17
conhecimento bem sedimentado garante que você será bem-sucedido na sua
prática clínica, independente da área de atuação que escolher.
18
REFERÊNCIAS
Bringing the Early Signs of Autism Spectrum Disorders Into Focus. Jenna Diaz.
29 de agosto de 2013. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=YX5qETl24gs>. Acesso em: 29 set 2021.
19
Aula 6
Sintomas psíquicos
A ansiedade é uma reação normal e Sintomas comportamentais
adaptativa Sintomas somáticos
Medo x ansiedade Autonômicos, comportamentais,
Patológico: exagerado, desproporcional cenestésicos, musculares, respiratórios
em relação ao estímulo, causa prejuízo Expressão facial tensa, descarga do
sistema simpático
Classificação dos transtornos ansiosos
Transtorno de pânico
Transtornos fóbico-ansiosos
Síndromes
Fobias específicas, agorafobia,
obsessivo-compulsivas
ansiedade social
Transtorno de ansiedade generalizada
Transtorno de ansiedade devido a uma
condição física ou uso de substância
psicoativa
Três subtipos
Ideias obsessivas
EEM: rigidez da atenção, minuciosidade,
Recorrentes, vivenciadas como absurdas, consciência da morbidade preservada
irracionais, sem sentido, intrusivas
É encontrada principalmente no TOC, no
Comportamento compulsivo transtorno de Tourette e eventualmente
Repetitivos e intencionais, na maioria das na esquizofrenia e na depressão
vezes realizados em resposta a uma ideia
obsessiva
Esquizofrenia
A principal forma de psicose, por sua
frequência e sua importância clínica,
é a esquizofrenia
Síndromes psicóticas 1% da população mundial
Pico de incidência: 20 a 25 anos
Mulheres desenvolvem a doença em
média cinco anos mais tarde
Segundo pico dos 45 aos 49 anos
Um dos fatores de predisposição mais
significativos é a genética
Apresentação clínica
Fatores de risco 1. Sintomas positivos
Complicações na gestação e no parto 2. Sintomas negativos
Desenvolvimento fetal anormal 3. Sintomas cognitivos
Uso de cannabis – sintomas psicóticos 4. Sintomas de humor ou ansiosos
em indivíduos normais e piora dos 5. Sintomas de desorganização
sintomas em esquizofrênicos
Importante: perdas no funcionamento
social
Fatores de risco
Prejuízo qualitativo da socialização Familiar de primeiro grau acometido
Deficiência nas habilidades de comunicação Alterações congênitos no paciente
Comportamentos repetitivos associados a Idade parental (mãe ou pai) acima
interesses restritos de 40 anos
Hiper ou hiporreatividade a estímulos Exposição a agentes químicos, deficiência
sensoriais ou interesses incomuns em de vitamina D, de ácido fólico
aspectos sensoriais do ambiente Infecções maternas
Herdabilidade estimada em 50-90% Uso de ácido valproico durante a gestação
Prematuridade e baixo peso ao nascer
Exame do estado mental A resposta a estímulos sensoriais pode
estar exacerbada (hiperestesia) ou
Embotamento afetivo e incontinência afetiva diminuída (hipoestesia)
Ecolalia, hipoprosódia e neologismos. É Alteração em relação à consciência do eu
comum o paciente referir-se a si próprio
O nível de inteligência pode ser abaixo do
usando o pronome na terceira pessoa
normal
(“ele” ou “ela”)
Paradoxalmente, alguns raros indivíduos
Hipomimia, maneirismos, estereotipias e
apresentam habilidades cognitivas
agitação
específicas extremamente desenvolvidas
Impulsividade e comportamentos autolesivos (hipermnésia de fixação)
Caso 1