Tabata Monografia Pedro Bandeira
Tabata Monografia Pedro Bandeira
Tabata Monografia Pedro Bandeira
INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
CURSO DE PEDAGOGIA
NOVA IGUAÇU, RJ
2019
TÁBATA HALLAK FRANCO DE SÁ
Monografia apresentada pela aluna Tábata Hallak Franco de Sá, sob orientação da
Profª Drª Anelise Nascimento, como pré-requisito parcial para a conclusão do curso
de Pedagogia.
Aprovada por:
Pedro Bandeira
RESUMO
Este estudo tem como propósito apresentar uma pesquisa sobre a literatura infantil
resgatando um pouco da história da literatura infantil e dos caminhos trilhados por
esse gênero. Esta pesquisa de cunho bibliográfico teve como objetivo identificar as
principais contribuições do autor Pedro Bandeira para a literatura infantil. Como
resultados, a pesquisa aponta que a literatura infantil é um recurso rico em
informações e nos oferece um método prazeroso e divertido de ensinar crianças da
Educação Infantil. Essa afirmação pode, como aponta esse estudo, ser confirmado
na obra de Pedro Bandeira que em seus escritos estimula a reflexão, a imaginação e
a curiosidade das crianças.
Palavras-Chave: Pedro Bandeira, Literatura Infantil.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................... 1
1 O QUE É LITERATURA INFANTIL?.................................................................. 3
2 BIOGRAFIA DE PEDRO BANDEIRA................................................................. 9
2.1 A LITERATURA.............................................................................................. 10
2.2 PEDRO BANDEIRA, A PESSOA.................................................................... 13
2.3 HISTÓRIAS DA VIDA PARA A VIDA.............................................................. 14
2.4 O GOSTO PELA LEITURA: DOS QUADRINHOS AO TEATRO.................... 15
2.5 DE PEDRO PARA O PÚBLICO....................................................................... 16
3 CONTRIBUIÇÕES DE PEDRO BANDEIRA PARA A LITERATURA INFANTIL.18
3.1 ANÁLISE DOS LIVROS................................................................................. 18
CONCLUSÃO........................................................................................................ 22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................................... 23
INTRODUÇÃO
Neste trabalho monográfico, venho falar de minha trajetória de vida até chegar
ao curso de Pedagogia na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Lembro que desde tenra idade sempre gostei bastante de ouvir histórias e de
ficar foleando os livros e outros materiais de leitura. As revistinhas eram minhas
preferidas! Aos 4 anos aprendi a ler e sempre tive o incentivo da minha família para
a leitura, não consigo me lembrar agora qual o primeiro livro que li, porém um que
me marcou foi A Marca de uma Lágrima, de Pedro bandeira. Esse meu gosto
excessivo pela leitura fez com que no meu ensino médio eu fosse tachada de
“estranha”, porque foi-se perguntando aos alunos o que eles mais gostavam de fazer
nas horas livres e a minha resposta foi ler - e foi nessa mesma época que li o livro A
Marca de uma Lágrima. Eu sempre procurava algo para ler sem ser os livros
obrigatórios que a escola mandava. Foi numa dessas procuras em casa que
também achei o livro a Droga da Obediência e fiquei estarrecida com a história que,
mesmo tendo sido escrita há algumas décadas, ainda hoje é tão atual.
Meu gosto pela leitura só foi aumentando à medida que fui crescendo. Fui à
bienal do livro pela primeira vez em 1997, me apaixonei e desde então nunca faltei
uma edição. O vício é tão grande, que no ano de 2018 fui a SP só para ir à bienal de
lá. Sempre fui por gostar muito do evento e só de uns 6 anos pra cá que comecei a ir
pra pegar autógrafo dos autores, só que, na maioria das vezes, eu não conseguia
por não ir no dia do autor que eu sou fã. Até que, no dia 7 de setembro de 2017, eu
finalmente consegui o meu primeiro e tão querido autógrafo do Pedro Bandeira.
Creio que nunca tremi tanto quanto neste dia. Esse ano fui novamente à bienal só
para pegar o autógrafo dele, só que dessa vez ainda levei meu primo de onze anos
que, assim como eu, também é um leitor assíduo. Na nossa própria família já fomos
zoados porque gostamos muito de ler, disseram que viemos com defeitinho por
conta disso, já que ninguém gosta tanto assim como a gente. Eu sempre procuro
estar por dentro das novidades literárias e todo mês vou em um evento que sempre
acontece na livraria da travessa e cada mês há um tema diferente.
O objetivo deste trabalho é falar como o escritor Pedro Bandeira contribuiu
para a literatura infantil. Num primeiro momento irei falar sobre o que é literatura
1
infantil com base nos textos das autoras Patrícia Corsino, Maria Zélia Versiani
Machado, Maria Nazareth de S. Saluto de Mattos.
No segundo capítulo conto um pouco sobre a vida do autor Pedro Bandeira e
como foi sua jornada de vida até se tornar um escritor de sucesso.
No terceiro capítulo farei as análises dos livros infantis Me Respeita Eu Sou
Criança e O Fantástico Mistério de Feiurinha.
Por fim, apresento minhas conclusões de como o escritor Pedro Bandeira
contribuiu/contribui para a literatura infantil.
2
1 O QUE É LITERATURA INFANTIL?
O presente capítulo tem como objetivo apresentar alguns conceitos sobre
Literatura Infantil e como esse gênero vem se modificando com o passar do tempo.
Ao lermos alguns clássicos, observamos que a história apresentada no livro tinha
obrigatoriamente uma moral na qual o objetivo era disciplinar as crianças de acordo
com que era exigido pela sociedade a época. Observamos tal afirmação na fala de
Corsino (2003, p.11): “Há séculos o livro destinado ao público infantil carrega a ideia
de passar informações e preceitos morais e/ou religiosos”. Como exemplo dessa
prática, trazemos uns trechos do livro João Felpudo uma das primeiras publicações
de gênero traduzidas para o português:
3
Nesta perspectiva, a literatura infantil no Brasil corrobora com a escola que
tem um ensino tradicional que se preocupa mais com a sistematização do
conhecimento, com a formação do juízo moral, do que de fato com a criança e ser
criança.
Segundo Corsino (2003 p.11), mesmo passado muitos anos, ainda hoje:
“... a maioria dos livros tem como objetivo ampliar o vocabulário e informar
diferentes conhecimentos tais como: nomes de bichos, de objetos, de cores,
4
de formas, ações e situações cotidianas, hábitos de higiene e também as
letras e a decodificação da língua escrita.”
5
“O livro conta a história da menininha Obax (que significa “flor” na África
ocidental), que jura ter visto uma chuva de flores. Como o lugar em que vive é
conhecidamente árido, é evidente que seus amigos e familiares acreditam ser só
uma invenção da garota, que viaja o mundo para ver novamente uma chuva de
flores e provar que o que vira era de verdade”
(https://www.skoob.com.br/livro/resenhas/118403/recentes/).
Essa mudança dos livros de literatura que incorporam um novo olhar para a
infância só foi possível pois a própria concepção de infância foi alterada nas
diferentes áreas de conhecimento, dando a criança e a infância nova visibilidade.
Diante deste novo cenário, onde a criança é sujeito e tem voz, Machado
(2010, p.47) descarta a ideia do paralelo entre literatura e alfabetização e aposta na
abordagem de uma literatura na alfabetização quando fala que:
6
Para falar sobre literatura na alfabetização usando a linguagem verbal,
precisamos refletir sobre o modo como a criança se relaciona com as outras
pessoas antes de aprender a ler e escrever. Antes mesmo de adentrar o universo da
leitura e escrita sistematizada, a criança tenta compreender o mundo e tudo que
acontece em sua volta, traduzindo em palavras, nesse processo, linguagem e
imaginação não se separam.
Machado (2016, p. 49) parte do pressuposto de que o avanço da discussão
sobre a literatura na alfabetização deve considerar que a busca pela compreensão
só é possível perante o modo desses sujeitos. É na infância que se constrói a
linguagem falada de mundo e de si, o que significa pensar em implicações
apresentadas para a literatura no modo de construção em suas relações com o
processo de alfabetização da criança.
Machado (2013, p. 53) acrescenta que o processo de alfabetização pode-se
começar bem depois do processo de letramento literário. A autora cita José Paulo
Paes com um dos poucos autores que reconheceram a origem na descoberta das
possibilidades de uso das palavras dos jogos na linguagem infantil. Essa perspectiva
apontada pelo autor está presente em suas obras, entre elas destacamos:
7
No que se refere ao livro de literatura infantil, não podemos esquecer-nos de
falar também das imagens. Essas possuem papel importante nesse gênero, são
elementos que ampliam a obra. No livro de literatura infantil, texto e ilustração
participam com o mesmo peso no processo de criação de sentido. Ilustração
também é texto, acrescentando a pertinência da expressão “diálogo” em que a
criança que lê e vê o livro amplia as suas possibilidades de escrever/desenhar pelos
olhos da infância. Hoje, a infância, mais que nunca, disputa uma importante fatia do
mercado editorial brasileiro com o crescimento da produção cultural, nos levando a
pensar nesses dois pólos, o do adulto e o da criança, mantendo vivo o interesse da
criança pela literatura. O que é chamado de qualidade literária deve abarcar o modo
como a criança percebe o mundo com seu próprio olhar, que nossas lentes adultas,
muitas vezes, não nos permitem ver.
Goulart (2009, p. 57) destaca que a discussão que cerca a alfabetização via
contato com o livro de literatura infantil é situada principalmente desde o final do
século XIX. Já no início do século XXI, essa discussão passa a incluir novos
conhecimentos desenvolvidos especialmente na década de oitenta do século
passado em diferentes novas áreas de conhecimento. Esses conhecimentos têm
possibilitado uma discussão muito mais qualificada do tema, levando-nos à
compreensão e explicação de muitos aspectos, fatos e fenômenos tradicionalmente
recorrentes de alfabetização, além de nos terem revelado aspectos desconhecidos e
redimensionado facetas até então pouco destacadas, entre esses conhecimentos
estão o trabalho da psicogênese da língua escrita de Emília Ferreiro e os estudos de
Magda Soares sobre letramento, estes que vão colocar em cheque as práticas de
alfabetização centradas na silabação e no método fônico que tinham os livros de
literatura infantil como aliados.
Como pudemos ver ao longo do capítulo, o debate que cerca o livro de
literatura infantil esbarra por um lado na concepção de infância e por outro na
concepção da função desse gênero dentro do ambiente escolar. A seguir, vamos
tratar de um autor que vem se dedicando à literatura como arte, imaginação e
trazendo o protagonismo dos leitores para o centro de suas histórias, esse autor é o
Pedro Bandeira.
8
1
2 BIOGRAFIA DE PEDRO BANDEIRA
Pedro Bandeira de Luna Filho nasceu em Santos, litoral de São Paulo, no dia
9 de março de 1942. Ele não chegou a conhecer seu pai, pois o mesmo faleceu seis
meses antes de seu nascimento. O autor frequentou, o que hoje denominamos de
Ensino Fundamental e Ensino Médio, o Grupo Escolar Visconde de São Leopoldo e
o Instituto de Educação Canadá. No primeiro, o curso primário e, no segundo,
ginasial e o científico.
Em 1958, começou a participar do teatro amador como forma de dar vida aos
personagens, dos livros ao palco, sempre seus companheiros. Além disso, também
trabalharia em teatro profissional, já em São Paulo, como ator, diretor e cenógrafo,
inclusive em teatro de bonecos. Passeou também pelo jornalismo, onde expressou
sua arte e foi possível ter alguma segurança financeira. Foi ainda redator, editor e
ator de comerciais de televisão.
A mudança para São Paulo aconteceu em 1961, quando Pedro Bandeira
ingressou no curso de Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas na Universidade de São Paulo (USP). Em 1962, consciente de que
apenas o teatro não lhe daria sustento, apostou também no jornalismo e começou a
escrever para o jornal Última Hora e mais tarde para a Editora Abril, onde teve
participação assídua em diversas revistas. Em 1965, formou-se em ciências sociais.
1
Esta biografia foi construída a partir dos sites a seguir:
<https://veja.abril.com.br/entretenimento/pedro-bandeira-o-paulo-coelho-dos-juvenis/>.
<https://biografiaresumida.com.br/biografia-pedro-bandeira/>.
<https://www.ebiografia.com/pedro_bandeira/>.
https://www.opovo.com.br/noticias/fortaleza/2016/11/integra-da-entrevista-com-pedro-bandeira-para-o
-paginas-azuis.html>
<https://blog.saraiva.com.br/pedro-bandeira-retoma-serie-dos-karas-e-diz-que-grupo-ficou-coroa-mas-
nao-careta-2/>.
9
Pedro Bandeira pode ser considerado um dos maiores escritores brasileiros
de literatura infantojuvenil, em 1996 ganhou o Prêmio Melhor Livro Juvenil – APCA,
com A Marca de uma Lágrima, e do Prêmio Jabuti na Categoria Melhor Livro Infantil,
com O Fantástico Mistério de Feiurinha.
2.1 A LITERATURA
A carreira de escritor começou timidamente em 1972, quando suas histórias
voltadas para crianças eram publicadas em revistas das editoras Abril, Saraiva e Rio
Gráfica. A partir daí, abrem-se as portas para suas obras, direcionadas não só para
os pequenos, mas também para jovens e adultos, reunindo contos, poemas e
narrativas nos mais diversos gêneros.
A literatura ganhou exclusividade em sua vida profissional em 1983, com o
lançamento de seu primeiro livro, O Dinossauro que Fazia Au-Au, e com o apoio e
influência de uma de suas professoras da USP, Marisa Lajolo, que reconheceu seu
talento.
10
Mais quatro livros seriam escritos compondo as aventuras do grupo: Pântano
de Sangue (1987), Anjo da Morte (1988), A Droga do Amor (1994) e A Droga
Americana (1999). As histórias são vividas por cinco personagens – Crânio, Miguel,
Chumbinho, Magri e Calu – admirados por jovens leitores, fãs das aventuras
envolvendo investigação e suspense.
Mesmo afirmando que A Droga Americana encerrava a série, em 2014,
passados 15 anos da publicação do último livro, Pedro Bandeira publicou um sexto
outro livro como epílogo, onde conta o que aconteceu com o grupo de amigos, agora
adulto. Explicando ao seu público o significado de A Droga da Amizade, disse o
escritor: “Meus leitores verão que ‘Os Karas’ podem ter ficado coroas, mas jamais se
tornaram caretas”.
11
● A marca de uma lágrima (1985)
● O fantástico mistério de Feiurinha (1986)
● Pântano de sangue (1987)
● Anjo da morte (1988)
● Agora estou sozinha (1988)
● A droga do amor (1994)
● O mistério da fábrica de livros (1994) (e Osnei Rocha)
● O grande desafio (1996)
● Prova de fogo (1996)
● Brincadeira mortal (1996)
● Gente de estimação (1996)
● O pequeno fantasma (1998)
● Droga de americana! (1999)
● Por enquanto eu sou pequeno (2002)
● Alice no país da mentira (2005)
● Histórias apaixonadas (2006)
● Pânico na escola (2013)
● A flecha traiçoeira (2017)
● As cores de Laurinha (2019)
12
Outro trabalho de destaque voltado para o público infantil é O Mistério de
Feiurinha que, em 2009, foi adaptado para as telas do cinema.
Esta obra mexe com a imaginação do leitor, pois conta a história de uma princesa
chamada Feiurinha, que desaparece e acaba promovendo o reencontro das
principais princesas dos contos de fadas em que todas estão prestes a completar 25
anos e, com exceção da chapeuzinho vermelho, todas estão grávidas.
Mais um livro que merece destaque é Mais Respeito Eu Sou Criança, que
incentiva um processo de criação artística, propiciando debates sobre temas
significativos para todos como preconceito, questão de identidade, expectativa com
o futuro etc.
13
São mais de 30 milhões de livros vendidos em 36 anos de carreira. Pedro
chegou a vender mais de um milhão de livros em um único ano (1996) e já foi
conhecido como “Paulo Coelho dos livros infanto-juvenis”.
14
responsabilidade dos autores se torna ainda maior. Pedro Bandeira, em diversas
entrevistas, declarou que depois do sucesso começou a se preparar melhor,
estudando o universo de seus leitores. Essa busca por informação o levou, inclusive,
a palestrar Brasil afora, tratando das fases do desenvolvimento do ser humano.
Muito mais que entretenimento, livros podem fazer surgir novos e
apaixonados leitores, mas, principalmente, todos os tipos de profissionais que,
encantados com as aventuras descritas nas narrativas dos mais variados gêneros
literários, começam a traçar seus caminhos.
Com Bandeira não foi diferente. Enquanto menino e leitor, o autor se viu
cercado por personagens dos livros, dos filmes (muitos legendados) e autores
capazes de criar um mundo paralelo onde o pequeno Pedro escapava da solidão de
sua infância – onde suas principais companhias eram Pedrinho, Narizinho, Peri,
Dom Quixote, piratas e muitos outros – e, assim, moldava seu gosto pelas palavras.
15
As pequenas histórias vividas por Pedro, principalmente dos 2 aos 10 anos de
idade, trazem temas marcantes e atuais. Preconceito, bullying, empatia, compaixão,
família e desinformação foram registrados e, de acordo com Bandeira, fizeram e
fazem parte das experiências que viveu e vive, dos erros que cometeu e dos sustos
que a vida dá e que formaram sua maneira de pensar e sentir.
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possível identificar o traço de sua trajetória de autor premiado pelo e para o público
infanto-juvenil. O gosto pelos heróis, pelos mistérios e pela fantasia não ficaram só
nas páginas folheadas com avidez na infância. São traços de sua bibliografia.
17
Todo mundo já cansou de ver filmes norte-americanos de julgamento em
que as testemunhas juram “dizer a verdade, toda a verdade, só a verdade e
nada além da verdade”, não é? Pois eu juro que, nas crônicas deste livro,
eu digo a verdade. Mas não sei se digo toooda a verdade, e garanto que
não digo sóóó a verdade e nada além dela, pois escritor é feito as
quituteiras que, depois de tirar o bolo do forno, fofinho, cheiroso e pronto
para consumo, ainda capricham cobrindo-o com glacê, confeitos coloridos e
morangos espetados na cobertura. (BANDEIRA, Pedro. O Beijo Negado.
Ed. Moderna. 2014.)
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3 ANÁLISE DOS LIVROS
Nesse terceiro e último capítulo, iremos fazer uma breve análise de dois livros
ligados a literatura infantil do autor Pedro Bandeira e como ele aborda a literatura
como arte, expressão e poesia. Os livros analisados são: O Fantástico Mistério de
Feiurinha e Mais Respeito, Eu Sou Criança.
Iniciaremos com o livro Mais Respeito, Eu Sou Criança. Nele, percebi que o
autor Pedro Bandeira relata de forma divertida e simples as fases da infância e as
percepções que as crianças têm de mundo. É um livro de poesias dividido em três
partes, com fala em primeira pessoa, como se o autor fosse a própria criança, e por
fases ao qual todos passamos. Suas poesias/poemas incentivam um processo de
criação artística propiciando debates sobre temas como: amizade, natureza,
compreensão etc, que são significativos a todos os leitores.
A capa do livro Mais Respeito, Eu Sou Criança é ilustrada com um garoto
zangado, fazendo careta e gestos de quem está impondo algo, se sentindo superior,
além disso, ele está em cima de uma escada, no degrau mais alto dela, como se
fosse um ditador, impondo respeito. Com suas cores claras e suaves, não chama
muito atenção.
O livro foi dividido em 31 poesias que são faladas em primeira pessoa, como
se o autor fosse a própria criança. Para melhor facilitar a divisão dos assuntos, as
poesias foram divididas em 3 categorias, que receberam os seguintes títulos: “eu
comigo mesmo”, que são as poesias que falam sobre os pensamentos das crianças,
a concepção que elas têm de mundo, suas indagações sobre o futuro, suas certezas
e seus olhares diferenciados e inocentes sobre as coisas.
Já a segunda categoria, “eu e os outros”, aborda o comportamento das
crianças, como elas se dão com os outros, com a família e os amigos, onde
encontramos o pai ainda como um herói e a mãe superprotetora, focando a
cumplicidade, a amizade e principalmente o respeito aos outros.
Na 3º e última categoria “eu o que eu penso”, fala sobre a curiosidade das
crianças, como elas veem o mundo de forma divertida, uma exploração ao
desconhecido, os medos, como tudo pode ser tão simples.
Unindo essas categorias, podemos perceber que o autor fez um jogo divertido
entre as fases que passamos na infância, que são quando a criança começa a se
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conhecer, a se situar no mundo, fazendo em si diversas análises, posteriormente ela
começa a perceber os outros, começa a dividir seu mundo com as pessoas ao seu
redor e terminando com a fase em que a criança começa a explorar o mundo, o
desconhecido, com suas ideias únicas e de forma tão simples. É interessante
perceber como Pedro Bandeira, consegue falar de coisas tão sérias e reais de
maneira divertida, com ideias únicas e de forma tão simples.
No livro O Fantástico Mistério de Feiurinha, a história se dá após o
desaparecimento da suposta princesa Feiurinha, abordando não apenas a ideia de
beleza e bondade, mas trazendo reflexões sobre humildade, tradição oral e sobre o
próprio ofício de escritor. Além disso, pensa sobre a escrita das personagens
fantásticas, que precisam ser criadas para que a haja um enredo. O fantástico
mistério de Feiurinha apresenta como enredo dois mundos em paralelo: o humano e
o mundo dos contos de fadas. A história se inicia no mundo real, onde um escritor
sem inspiração não consegue encontrar nem mesmo o tema do livro que quer
escrever. As personagens do mundo encantado são as princesas dos contos de
fadas, que em muitas passagens mostram uma face egocêntrica. O escritor mostra o
que poderia ter acontecido depois dos “felizes para sempre”, em que as princesas
gordas e cheias de filhos vivem de rememorar suas próprias histórias.
Os príncipes aparecem caricaturados de maridos ociosos, sempre com
desculpas para ficarem longes da grande prole. Além dos papéis de gênero, o
enredo traz a importância das histórias infantis contadas pelas avós, que hoje
precisam ser imortalizadas pela escrita para que seus protagonistas não deixem de
existir. Este é o caso de Feiurinha, cuja história ninguém escreveu e, portanto,
estaria fadada a cair no esquecimento. Ao representar as personagens dos contos
de fadas como matronas gordas, com suas pencas de filhos, os príncipes como
senhor feudais, cuja única aventura seria caçar nos bosques, o autor aponta para
uma continuação dos clássicos a que o leitor não tem acesso, mas que com certeza
já deve ter se questionado. O escritor parece trazer a monotonia em que os
casamentos podem vir a se tornar, pois não há mais aventuras a serem vividas,
bruxas a perseguir princesas, dragões a serem mortos.
Entretanto, a questão chave do livro é o alerta do escritor para a questão da
memória dos contos de fadas, eles não são eternos e correm o risco de se perderem
20
na oralidade, uma vez que não os preservamos, assim, as histórias precisam ser
imortalizadas pela escrita. As tradições orais passadas pelas avós estão sendo
esquecidas e essas mulheres, que guardam esses relatos, não estão sendo
lembradas. Segundo Pedro Bandeira, as antigas contadoras de história foram
mulheres que não deixaram seus nomes para a História, mas que, provavelmente
analfabetas e pobres, usaram a imaginação para aquecer os corações das crianças
nas noites geladas, quando o vento e os lobos uivavam lá fora e quando a fome
causada pela pobreza e pelo rigor do inverno impedia que o sono viesse
(BANDEIRA, 2009, p.64).
Em O Fantástico Mistério de Feiurinha, o escritor representa essas mulheres na
personagem de sua idosa governanta, buscando demonstrar que as memórias dos
idosos são portadoras de riquezas, armazéns de experiência e sabedoria. Na
narrativa, o autor sem inspiração, recorreu a todos os especialistas e eruditos do
mundo, sem sucesso, em busca da história da princesa Feiurinha e acabou por
encontrá-la próxima a si, no elemento que está sendo desprezado pela sociedade
hodierna: seus anciãos.
Neste viés, pudemos observar que a “a literatura pode ser entendida como uma
expressão artística, a arte das palavras; como uma manifestação de sentimentos,
sensações, impressões e como a expressão lírica de um artista da palavra”
(PARREIRAS, 2009, p.47).
É importante salientar que a literatura infantil constitui uma imagem do mundo,
cercada de alegorias, de cores e fantasias, é uma representação do mundo
criada para ser vista.
Os contos infantis possibilitam o despertar de diferentes emoções e a
ampliação de visões de mundo do leitor infantil. E nesse encontro com a
fantasia, a criança entra em contato com seu mundo interior, dialoga com seus
sentimentos mais secretos, confronta seus medos e desejos escondidos, supera
seus conflitos e alcança o equilíbrio necessário para seu crescimento (PAIVA &
OLIVEIRA, 2010, p. 26). Nesse sentido, Paiva & Oliveira acreditam que é “por
meio do imaginário que a criança reconhece suas próprias dificuldades e aprende a
lidar com elas, podendo assim, se reconhecer melhor e se conhecer como parte
integrante do mundo que a cerca” (PAIVA & OLIVEIRA, 2010, p. 27).
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Percebe-se que a literatura, nesse sentido, pode trazer importantes debates
revestidos de formas simbólicas, como por exemplo, as diferentes maneiras de
aceitar uma diferença.
Traz-nos também a reflexão de como são importantes todas essas
manifestações para o desenvolvimento plural das crianças, uma vez que elas
aprendem na brincadeira, no movimento, nas leituras, nas relações e, neste caso, na
imaginação e criatividade. As histórias trazem uma perspectiva de uma prática
libertadora quando possibilita, por exemplo, sugerir outras formas de resolver o
conflito de achar a princesa Feiurinha.
Podemos corroborar tal análise na fala (NIGRE, 2012, P.17):
22
CONCLUSÃO
Concluo que, ao analisar os dois livros citados no capítulo anterior, pude
perceber que o autor Pedro Bandeira tenta sempre dialogar com quem está lendo
seus livros, trazendo para o leitor a capacidade de reflexão, imaginação, dentre
outras habilidades. Desta forma, ele traz em seus escritos uma contribuição
importante: a curiosidade de querer saber sobre aquilo que foi lido, instigando o
querer saber mais sobre o assunto. Neste viés, acreditamos que seja uma leitura
que desenvolve a formação do cidadão global. Segundo Nigre:
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clássicos antigos, os conflitos do nosso tempo levam o leitor a repensar suas
escolhas e atitudes
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24
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<https://blog.saraiva.com.br/pedro-bandeira-retoma-serie-dos-karas-e-diz-que-grupo-ficou-coroa-mas-
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