Rbma 02
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02
N úm e r o
REVISTA BRASILEIRA DE
Jul-Dez/2011
monitoramento
ARTIGOS
O efeito da condicionalidade
educação do Bolsa Família em Murilo Cássio Xavier Fahel
Minas Gerais: uma avaliação Bruno Cabral França
por meio da PAD/MG Thais Moraes
Avaliação continuada do
Programa de Formação
Interdisciplinar Superior Ana Maria Carneiro
Levantamento do Tribunal
de Contas da União sobre os
sistemas de monitoramento
e avaliação da administração Selma Maria Hayakawa
direta do poder executivo Cunha Serpa
ARTIGOS
1. O Efeito da condicionalidade educação
do Bolsa Família em Minas Gerais: uma
avaliação por meio da PAD/MG
Murilo Cássio Xavier Fahel
Bruno Cabral França
Thais Moraes 04
2. Avaliação continuada do Programa de
Formação Interdisciplinar Superior da
Unicamp: proposta metodológica
Ana Maria Carneiro
Cibele Yahn de Andrade
Stella Maria Barberá da Silva Telles 26
3. Levantamento do Tribunal de
Contas da União sobre os sistemas
de monitoramento e avaliação da
administração direta do poder executivo
Selma Maria Hayakawa Cunha Serpa 46
4. Monitorar a prática para aprimorar
o que se aprende: examinando
sistemas internacionais de M&A como
benchmarking para a experiência
brasileira
Gustavo Guberman
Glauco Knopp 76
ENTREVISTA
Michael Bamberger
Por Márcia Paterno Joppert 100
RELATOS DE PESQUISA
1. Indicadores de resultados definindo a
distribuição do ICMS - a experiência do
Ceará
Marcos C. Holanda 106
2. Contribuições da avaliação do
Programa de Formação Continuada
Multicurso para o aprimoramento do
projeto educacional e para a sociedade
Isa Cristina da Rocha Lopes 116
3. Participação e implementação
de políticas públicas diferenciadas:
experiências de avaliação sobre
comunidades quilombolas
Marina Pereira Novo
Júlio César Borges
Rovane Battaglin Schwengber Ritzi
Júnia Valéria Quiroga da Cunha
Cristiane dos Santos Pereira
Alexandro Rodrigues Pinto 138
RESUMOS E RESENHAS 152
*Para as duas primeiras edições da Revista Brasileira de Monitoramento e Avaliação foi ins-
tituído um Conselho Editorial provisório para a indicação dos artigos aqui apresentados.
Nas próximas edições da Revista os artigos serão selecionados por um Conselho Editorial
definido pela Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação.
CDU 304(81)
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
3
O efeito da
condicionalidade
educação do
Bolsa Família em
Minas Gerais: uma
avaliação por meio
da PAD/MG
Murilo Cássio Xavier Fahel1
Bruno Cabral França2
Thais Moraes3
4
ses aqui apresentadas.
Resumo
O presente artigo discute os impactos do Programa Bolsa
Família (PBF) sobre a matrícula escolar dos beneficiários
entre 6 e 17 anos no estado de Minas Gerais. O método uti-
lizado na investigação foi o “Propensity Score Matching”,
que consiste na seleção e comparação de um grupo de
controle e um grupo de tratamento que se diferenciam em
relação às variáveis observáveis apenas no fato de rece-
berem ou não o benefício. A pes-
quisa observou que o PBF de fato
aumenta a matrícula escolar dos
beneficiários, principalmente dos Abstract
adolescentes entre 15 e 17 anos, This article discusses the impacts of Bolsa
dos negros, dos moradores da Família Program (PBF) on school enroll-
área rural e das crianças e jovens ment of beneficiaries between 6 and 17
do sexo masculino - grupos tradi- years old in the state of Minas Gerais.
cionalmente com maiores taxas de The method used in the investigation was
reprovação e abandono. Propensity Score Matching that consists
of selecting and comparing a control
group and a treatment group that differ
with respect to observable variables only
in the fact of receiving the benefit or not.
The survey noted that the PBF actually
increases the enrollment of beneficia-
ries, especially of adolescents between 15
and 17 years, blacks, residents of rural
areas, boys and young men - groups with
traditionally higher rates of repetition
and dropout.
Palavras-chave:
Programa Bolsa Família; Matrícula Escolar; Propensity Score Matching; Minas Gerais
6
2. A educação no Brasil
e em Minas Gerais
O sistema educacional brasileiro possui uma Na educação básica prevalecem as matrículas
forte contraposição entre quantidade e qua- na rede pública, por volta de 90% do alunado
lidade. O ensino fundamental (EF) caminha (INEP, 2009). Entretanto, a nota média das esco-
em direção à universalização do acesso, já las públicas no Sistema de Avaliação da Educa-
que a taxa líquida de matrícula atualmente 8
ção Básica (SAEB) é bem inferior à das privadas,
é de 91,1% (IBGE, 2010), e o ensino médio “os alunos que terminam o ensino médio na
(EM) encontra-se em grande expansão, com escola pública demonstram, no seu conjunto,
evolução da taxa líquida de 32,7% em 1999 uma proficiência esperada para alunos da oi-
para 50,9% em 2009 (IBGE, 2010). Entretan- tava série” (SOARES, 2004, p.155). Esta falta de
to, quando esses dados são analisados à luz qualidade do ensino contribui para uma expres-
do rendimento mensal familiar dos alunos, siva evasão no sistema público – por volta de
observa-se uma grande desigualdade edu- 4% no ensino fundamental e 12% no ensino
cacional. A taxa líquida de matrícula de jo- médio, em contraposição a 0,1% e 6,2%, res-
vens entre 15 e 17 anos que se encontram pectivamente, nas escolas privadas – e repetên-
no 1º quintil de renda é de apenas 32%, a cia – 12% no ensino fundamental e no ensino
taxa daqueles que se encontram no 5º quin- médio, em contraposição a 3,4% e 6,2% no
til, por sua vez, é de 77,9% (IBGE, 2010). sistema privado (INEP, 2009).
4 O CadÚnico é um instrumento de coleta de dados que tem como objetivo identificar as famílias de baixa renda existentes
no país. Os dados coletados podem ser utilizados pelos governos municipais, estaduais e federal.
5 O valor do benefício varia de acordo com a renda familiar per capita e com a composição do domicílio. Atualmente, famílias
com renda mensal per capita entre R$ 0,00 e R$ 70,00, consideradas em extrema pobreza, recebem uma transferência equivalen-
te a R$ 70,00, independentemente de sua composição. Famílias com renda mensal per capita entre R$70,01 e R$ 140,00 apenas
são elegíveis se tiverem crianças entre 0 e 17 anos e/ou gestante. Para cada criança entre 0 e 15 anos, o benefício é de R$ 32,00,
até o máximo de 3 crianças, e de R$ 38,00 para jovens entre 16 e 17 anos, atendendo no máximo 2 jovens. Os jovens entre 16
e 17 anos começaram a ser beneficiados pelo programa apenas em 2008. Dessa forma, o benefício máximo de uma família é de
R$ 242,00.
6 Com a integração do PETI ao PBF, as famílias beneficiárias do Bolsa Família que tenham crianças em situação de trabalho
infantil passam a ter que cumprir as atividades complementares socioeducativas e de convivência.
8 “Taxa que expressa o número de crianças matriculadas em um nível de ensino, que pertencem ao grupo etário correspon-
dente ao nível de ensino em questão, dividido pela população total do mesmo grupo etário”. Cf. Estatísticas educacionais. Fontes
em educação: guia para jornalistas. Brasília: Fórum Mídia & Educação, 2001. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/pesquisa/
thesaurus/thesaurus.asp?te1=31674&te2=147177&te3=1212 53&te4=121331&te5=121332&te6=121080&te7=96654&te
8=102622&te9=149884>. Acesso em: 26 nov. 2009.
2º ano 11.3 10.1 10.6 8.9 ficação dos professores, redução na taxa de
3º ano 7.4 8.4 8.4 6.8 analfabetismo e aumento na taxa líquida de
4º ano 3.4 2.0 6.0 8.6
matrícula12.
8 Não seriada 9.2 7.0 13.6 14.2
Fonte: Sinopse Estatística INEP/MEC – 2009.
3. As condicionalidades Os beneficiários são crianças de famílias
muito pobres, que se evadiriam do siste-
do Programa Bolsa ma escolar sem a bolsa mensal, mantendo
Família a mesma baixa escolaridade dos pais e,
consequentemente, no futuro ingressan-
O PBF foi criado com o objetivo de comba-
do no mercado de trabalho, na melhor
ter a pobreza no Brasil. A transferência di-
das hipóteses, nas mesmas condições da
reta de renda visa, em curto prazo, aliviar
maioria de suas famílias. A lógica é elevar
o estado de pobreza das famílias em situ-
o grau de escolaridade das crianças para
ação de vulnerabilidade social, garantindo aumentar e mesmo equilibrar as oportu-
o acesso a uma condição mínima de segu- nidades (AGUIAR & ARAÚJO, 2002, p. 35).
rança alimentar. Por outro lado, nos moldes
do Programa Bolsa Escola, as condicionali- Assim, ao garantir a permanência dessas
dades em relação à escolarização das crian- crianças na escola, o programa supõe que
ças foram pensadas como uma maneira, em elas desenvolveriam habilidades/competên-
longo prazo, de romper o ciclo intergeracio- cias essenciais para a obtenção de trabalhos
nal de pobreza. De que forma ocorreria essa qualificados e mais bem remunerados no
ruptura via educação? O benefício auxilia- mercado de trabalho e, com isso, romperiam
ria na entrada e na permanência na escola o ciclo intergeracional da pobreza. Entretanto,
de crianças em situação de vulnerabilidade alguns pesquisadores chamam atenção para
social, que, sem esse auxílio, tenderiam a questões relativas à concepção e implemen-
evadir da escola e a ocupar, futuramente, tação das condicionalidades do programa.
postos pouco qualificados e mal remunera- Este artigo foca apenas os comentários rela-
dos no mercado de trabalho. tivos às condicionalidades ligadas à educação
9 O IDEB é um indicador da qualidade da educação desenvolvido pelo MEC. Seus valores variam de 1 a 10. Esse índice sinte-
tiza duas dimensões igualmente importantes para a qualidade da educação: aprovação e média de desempenho dos estudantes
em língua portuguesa e matemática. O indicador é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Esco-
lar, e médias de desempenho nas avaliações do INEP: o SAEB e a Prova Brasil. O objetivo do MEC é que o Brasil alcance a nota 6,
no ensino fundamental, até 2022.
10 O PISA avalia o desempenho de alunos dos países participantes da OCDE na faixa dos 15 anos – idade do término da esco-
laridade básica obrigatória na maioria deles.
11 Informação extraída do site do INEP. Disponível em: <http://portalideb.inep.gov.br/>. Acesso em: 26 abr. 2011.
12 INEP/MEC. Sistema de Estatísticas Educacionais. Disponível em: <http://www.edudatabrasil.inep.gov.br>. Acesso em: 24 abr.
2011.
frequência. Todavia, quando se analisam es- rios do Programa Bolsa Família. Entretanto,
há que se ter cautela nesta interpretação,
ses dados de acordo com o sexo, observa-se
pois o simples fato de que estas crianças
que essa diferença na frequência escolar só
beneficiárias do programa estão evadindo
é estatisticamente significante a um nível de
menos, ou seja, permanecendo no sistema
confiança de 95% para as crianças do sexo
escolar de um ano para o outro, pode es-
feminino. Em relação à evasão, apenas 1,05%
tar levando a uma diminuição da aprova-
dos beneficiários abandonou a escola, em ção e ao aumento da reprovação em um
contraposição a 2,12% dos não beneficiários. primeiro momento. O acompanhamento
Quando se desagregam esses dados pelo e a avaliação em pontos subsequentes no
sexo, nota-se que a diferença só é estatisti- tempo podem mostrar evidências diferen-
camente significante para as crianças do sexo tes (BRASIL, 2007, p.14).
masculino. Por sua vez, a proporção de bene-
ficiários aprovados é de 82,81% em contra- Na segunda rodada da Pesquisa AIBF de 2010
posição a 87,33% dos não beneficiários, uma (MDS, 2010), observou-se que o programa
10 diferença de 4,52 pontos percentuais a favor continuou a impactar positivamente a fre-
quência escolar de crianças e jovens entre 6 percentuais superior a dos não beneficiários
e 17 anos (os jovens entre 16 e 17 anos só (72,6%).
foram incluídos no programa em 2008, por
isso não participaram da 1ª rodada da AIBF). Oliveira e Duarte (2005) e Reimers et al. (2006)
A diferença na frequência escolar entre bene- questionam o fato de o Programa Bolsa Família
ficiários e não beneficiários é de 4,4 pontos (assim como quase todos os PTCR na América
percentuais. Na região Nordeste, essa dife- Latina) assumir que a participação dos alunos
rença chega a 11,7 pontos percentuais. Nota- na escola é uma condição suficiente para a
-se um efeito positivo também na aprovação aprendizagem, sem considerar o que realmen-
escolar, os beneficiários têm uma aprovação te acontece no interior da escola, principal-
de 6 pontos percentuais acima dos não bene- mente ao se observar a baixa proficiência dos
ficiários. Entre as meninas de 15 e 17 anos, a estudantes das escolas públicas brasileiras.
diferença se torna ainda maior. Entre as de 15
anos, a diferença é de 19 pontos percentuais Apesar de esses programas, no Brasil, es-
a favor das beneficiárias. Entre as meninas de tarem diretamente associados à educa-
17 anos, essa diferença chega a 28 pontos ção, este aspecto tem sido traduzido so-
percentuais. mente na cobrança da frequência às aulas,
o que pode ser eficaz no sentido de retirar
as crianças das ruas, pelo menos por um
Outra pesquisa, realizada pelo MDS (Secreta-
período do dia, mas não altera o quadro
ria Nacional de Renda de Cidadania, 2010),
de pobreza das futuras gerações, via edu-
utilizando o Educacenso13 e o Sistema de
cação, como foi apontado (OLIVEIRA &
Presença do próprio MEC, observou resulta-
DUARTE, 2005, p. 294).
dos diferentes para crianças de 6 a 14 anos e
para jovens entre 15 e 17 anos. O MEC (2010) Partindo desta mesma constatação, Simon
encontrou uma diferença de 1,8 ponto per- Schwartzman (2009) defende que programas
centual em favor da aprovação dos não be- como o Bolsa Família não deveriam possuir
neficiários entre as crianças de 6 a 14 anos: condicionalidades, deveriam apenas garan-
enquanto 82,3% dos não beneficiários foram tir a transferência de renda àqueles que se
aprovados no ano anterior; entre os benefi- encontram em situação de pobreza, uma
ciários, esse percentual foi de 80,5%. Por vez que estas condicionalidades não estão
outro lado, a aprovação dos beneficiários conjugadas com uma política educacional de
(81,1%) entre 15 e 17 anos foi 8,5 pontos melhoria da qualidade de ensino.
13 O “Educacenso” é uma radiografia detalhada do sistema educacional brasileiro. A ferramenta permite obter dados indi-
vidualizados de cada estudante, professor, turma e escola do país, tanto das redes públicas (federal, estaduais e municipais)
quanto da rede privada. Todo o levantamento é feito pela internet. A partir dos dados do Educacenso, é calculado o Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e planejada a distribuição de recursos para alimentação, transporte escolar
e livros didáticos, entre outros. Fonte: MEC, disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?catid=114:sistemas-do-
-mec&id=135:educacenso&option=com_content&view=article>, acessado em dez de 2011.
100,0%
89,6%
90,0% 84,7% 84,8%
78,4% 79,5%
80,0%
70,0% 62,8%
60,0%
50,0%
40,0%
30,0%
20,0%
10,0%
0,0%
Nov. de 2006 Nov. de 2007 Nov. de 2008 Nov. de 2009
6 e 15 anos 16 e 17 anos
Fonte: Secretaria Nacional de Renda de Cidadania, 2010. Disponível em: <http://www4.planalto.gov.br/consea/documentos/ transferencia-de-renda/
programa-bolsa-familia-apresentacao-mds>. Acesso em: 12 mar. 2011.
quência escolar dos beneficiários. Essas in- sofrida. Se o motivo for desconhecido ou não
formações são repassadas posteriormente ao justificável, providências são tomadas. De
MEC e ao MDS. Esse processo é realizado bi- acordo com Curralero et al. (2010, p. 151),
mestralmente, com exceção do período de fé-
rias escolares. Junto à frequência escolar vem Do total de 14,3 milhões de crianças e ado-
o motivo da falta, caso ela tenha ocorrido. Se lescentes acompanhados bimestralmente
o motivo for justificável (doença do aluno, pela área de educação, menos de 3%, em
óbito na família, inexistência de oferta do média, apresentam frequência escolar in-
serviço educacional, impedimento de acesso ferior ao estipulado pelo PBF, e deste total,
à escola e inexistência de atendimento para cerca de 70% (atualmente em torno de 300
pessoa com deficiência), nenhuma sanção é mil registros) têm implicação direta em des-
15 “Em 2006, o MEC construiu e disponibilizou aos estados e municípios o novo sistema de acompanhamento da frequência
escolar do PBF, o Sistema Presença. O novo sistema caracteriza-se pela fácil operacionalização e dispensa o uso de aplicativos,
uma vez que foi construído em plataforma web. Entre as inovações apresentadas, destaque para o acatamento dos registros em
tempo real (on-line) e pela possibilidade que se abriu em descentralizar o registro das informações até a unidade escolar, com
a criação do perfil ‘operador diretor de escola’. O Sistema Presença possui mais de 22 mil usuários cadastrados em todo o país”
(CURRALERO et al., 2010, p.163).
16 A amostra da PAD/MG é composta por 18 mil domicílios, em 308 municípios de Minas Gerais. A amostra é representativa
para os seguintes extratos: zona urbana/rural; região metropolitana/não metropolitana; regiões de planejamento; Belo Hori-
zonte/demais municípios de Minas Gerais e mesorregiões de Minas Gerais. Os dados foram coletados entre junho e novembro
de 2009. As informações da PAD foram agrupadas em oito seções: características do domicílio, características dos moradores,
educação, saúde, trabalho, rendimentos, gastos e juventude.
17 A análise do desempenho escolar dos beneficiários em relação aos não beneficiários está em andamento. Para essa análi-
se, utiliza-se o banco de dados do Sistema Mineiro de Avaliação da Educação Pública (SIMAVE). O SIMAVE é composto por três
avaliações: PROALFA, PROEB e PAAE. O Programa de Avaliação da Alfabetização (PROALFA) verifica os níveis de alfabetização dos
alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. O Programa de Avaliação da Rede Pública de Educação Básica (PROEB) avalia as
habilidades e competências dos alunos que se encontram no 5º ano e 9º ano do ensino fundamental e 3º ano do ensino médio
em Língua Portuguesa e Matemática. Por último, o Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar (PAAE) testa os conhecimen-
tos dos alunos do 1º ano do ensino médio da rede estadual em Língua Portuguesa, Matemática, Biologia, Química, Física, História,
Geografia, Inglês e Arte.
18 ATT é uma expressão em inglês (Average Treatment effect for the Treated) que significa o ATT em português como o efeito
médio do tratamento sobre a subpopulação tratada.
Vizinho M.P.(1) * 0.021 0.012 1.692 2138 814 e 4,3% a favor dos beneficiários foi estatisti-
Não branco 0.037 - 0.040 0.010 - 0.016 2.428 - 4.004 1565 549 - 897
Raça/etnia
Branco 0.002 - 0.014 0.014 - 0.019 0.138 - 0.737 568 257 - 563
Rural 0.052 - 0.063 0.019 - 0.032 1.640 - 3.117 579 191 - 278
Situação censitária
Urbano 0.013 - 0.031 0.009 - 0.014 1.291 - 2.240 1554 602 - 1170
Entre 6 e 14 anos 0.018 - 0.027 0.007 - 0.010 2.238 - 2.571 1711 649 - 2080
Idade
Entre 15 e 17 anos 0.058 - 0.084 0.031 - 0.041 1.656 - 2.119 424 175 - 377
Feminino (-0.021) – (-0.009) 0.011 - 0.015 (-1.424) - (-0.828) 1004 385 - 659
Sexo
Masculino (-0.009) – 0,001 0.009 - 0.014 (-0.676) – 0,065 971 362 - 643
Não branco (-0.011) - (-0.007) 0.009 - 0.012 (-1.084) - (-0.577) 1450 464 - 782
Raça/etnia
Branco (-0.010) – 0.000 0.011 - 0.017 (-0.546) – (-0.012) 525 244 - 522
Rural (-0.006) - 0.004 0.011 - 0.022 (-0.499) - 0.166 535 159 - 235
Situação
censitária Urbano (-0.017) – (-0.007) 0.009 - 0.012 (-1.436) – (-0.760) 1440 563 - 1052
Entre 6 e 14 anos (-0.007) - 0.009 0.006 - 0.010 (-1.143) - 0.843 1617 591 - 998
Idade
Entre 15 e 17 anos (-0.003) – (-0,019) 0.024 - 0.047 (-0.303) – (-0.116) 355 129 - 292
22
6. Conclusão
Esta pesquisa observou que o PBF de fato Mesmo que as condicionalidades garantam
aumenta a matrícula escolar dos benefi- aos beneficiários um direito constitucional
ciários em Minas Gerais, principalmen- que nem sempre é efetivado – a educação –, a
te dos adolescentes entre 15 e 17 anos, sua cobrança pode e tem levado algumas fa-
dos negros, dos moradores da área rural e mílias, em maior situação de vulnerabilidade,
das crianças e jovens do sexo masculino a perder o benefício, que tem como função
– grupos tradicionalmente com maiores combater a pobreza. Apesar de 99.000 famí-
taxas de reprovação e abandono. Entre- lias desligadas não serem representativas em
tanto, a assiduidade às aulas não sofreu relação a outras 11 milhões que recebem o
alteração significativa. O que este estudo benefício (0,9%), este contingente pode re-
e outros têm mostrado é que o benefício presentar, em média, 300.000 a 400.000 pes-
do Bolsa Família e suas condicionalidades soas que podem ter retornado a uma situação
têm efeito significativo na permanência de insegurança alimentar.
dos beneficiários na escola. Entretanto,
frequentar a escola não garante que o Não é que não existe necessidade de con-
aluno aprenderá os conteúdos ensinados trapartidas, mas deve-se entender que
19 O percentual de beneficiários que não frequentou os 85% – entre 6 e 15 anos – ou os 75% – entre 16 e 17 anos – das aulas
foi de apenas 5,7%. Desses, mais de 50% alegaram que estavam doentes (PAD/MG, 2009).
24
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simon/bolsa09.pdf>. Acesso em: 7 de set. de 2010. de 2010.
1 Esta apresentação conta com o apoio da Agência para Formação Profissional da Unicamp (AFPU).
2 núcleo de Estudo de Políticas Públicas (nEPP), unicamp.
3 núcleo de Estudo de Políticas Públicas (nEPP), unicamp.
26
4 núcleo de Estudo de Políticas Públicas (nEPP), unicamp.
Resumo
O objetivo do artigo é apresentar a avaliação continuada do Programa de Formação
Interdisciplinar Superior (ProFIS) da Unicamp e discutir seus desafios metodológicos
e operacionais. O Programa busca oferecer um curso de educação geral, com duração
de dois anos, com conhecimentos que vão além daqueles normalmente oferecidos em
formações mais específicas e profissionalizantes, como os cursos regulares de gra-
duação profissional. Além disso, a forma de ingresso dos alunos representa uma no-
vidade para instituição, a partir da seleção dos melhores alunos das escolas públicas.
Desta forma, busca-se atrair para
Unicamp jovens que, em geral, se au- Abstract
toexcluem de seu processo seletivo,
promovendo a inclusão social. This paper sets out to describe the continuous evaluation of Unicamp’s
Interdisciplinary Higher Education Program (ProFIS) and discuss
its methodological and operational challenges. The purpose of the
A proposta é inovadora no campo
ProFIS Program is to provide a two-year general education course
da avaliação da educação superior.
offering knowledge that extends beyond the content of typical
Trata-se da avaliação de um pro-
vocational education programs or other specific programs such
grama específico, abrangendo seu as regular undergraduate courses. In addition, the university has
processo de implementação, seus adopted an innovative intake procedure consisting of the selection of
resultados e impactos, o que colo- the best students from public secondary schools. The idea is to attract
ca desafios de obter e relacionar to Unicamp young people who usually exclude themselves from the
dados obtidos em questionários university entrance procedure, thereby promoting social inclusion
e registros acadêmicos durante and equity in tertiary education.
um prazo longo. É uma avaliação
multidimensional que busca ser The proposed evaluation is innovative in the field of higher educa-
participativa e planejada para ser tion evaluation. It is an evaluation exercise for a specific program
continuada. Como se trata de uma covering its implementation process, results and impacts, thus posing
metodologia de monitoramento e operational challenges with regard to the use of data obtained from
avaliação na etapa de implementa- questionnaires and academic records over a long period (at least
ção do Programa, busca-se, neste six years). It is a multidimensional evaluation exercise, planned to
momento, mais apresentar os desa- be participatory and continuous. Because this is a methodology for
fios metodológicos e operacionais monitoring and evaluating the implementation stage, the current
enfrentados do que já apresentar emphasis is on the methodological and operational challenges to be
resultados. addressed rather than on presenting results.
Palavras-chave:
Avaliação de impactos; Ensino superior; Educação geral
5 Tanto a oferta de disciplinas da grade curricular do ProFIS quanto de vagas nos cursos de graduação regular foram negocia-
das com as unidades de ensino da Unicamp durante o processo de constituição do Programa, em um processo democrático.
Ÿ Engajamento cívico
Ÿ Desenvolvimento de competências
acadêmicas e cognitivas
Ÿ Disciplinas
processo Ÿ Infraestrutura
Ÿ Bolsas
Ÿ Experiência universitária
Graduação
Ensino profissional Mundo do
Médio trabalho
Unicamp
ProFIS
Unicamp
32 Família
A figura 2 ilustra as possíveis trajetórias dos é o ingresso em cursos de graduação pro-
alunos que se inscreveram no ProFIS e ajuda fissionais ao final dos dois anos e o pos-
a entender os mecanismos de atribuição da terior ingresso no mercado de trabalho. A
causalidade dos impactos. avaliação pressupõe, então, que o Progra-
ma inclui os dois primeiros anos de forma-
ção geral e o curso de graduação na Uni-
A primeira seleção do ProFIS teve 731 alu-
camp. Isto pode ocorrer eventualmente em
nos inscritos, advindos de 76 escolas pú-
outra IES também. Desta forma, a avaliação
blicas de ensino médio de Campinas/SP,
envolve o acompanhamento da implemen-
que representam 86% destas escolas no
tação do Programa e o acompanhamento
município. Dentre estes alunos, 120 matri-
de seus beneficiários por um período de,
cularam-se no ProFIS, uma parte que não
no mínimo, seis anos (dois anos de ProFIS
conhecia o Programa ingressou diretamen-
+ quatro anos de curso regular de gradua-
te em cursos de graduação profissional (27
ção) para verificar resultados quanto à per-
em cursos da Unicamp), outra pode ter ido
manência e conclusão do ensino superior.
para o mundo do trabalho, ou ter continua-
E para acompanhar os primeiros impactos
do nele, e outra ainda continua estudando
econômicos e na carreira é necessário, no
para entrar no ensino superior ou não trabalha
mínimo, dez anos.
nem estuda.
Transformação dos
termos em temas de
avaliação
Linha de base (questionário inscrição + matrícula)
Avaliação de impactos
—— produção da linha de base dos alunos que atribui pontuação adicional a candidatos
e dos grupos de comparação a partir do do concurso vestibular oriundos de escolas
momento da inscrição no Programa; da rede pública e/ou que se autodeclarem
membros de minorias raciais6.
—— realização da avaliação de meio-termo
ao fim do primeiro ano do Programa;
A metodologia de avaliação do ProFIS inspira-
—— realização da avaliação de viabilidade -se na experiência de avaliação de programas
ao fim do segundo ano do Programa; de Ciência, Tecnologia e Inovação do Grupo
34
de Estudos sobre Organização da Pesquisa e de trabalho que formulou a proposta do Pro-
da Inovação (GEOPI), situado no Departamen- grama, à coordenação, à comissão de gradua-
to de Política Científica e Tecnológica (DPCT) ção e aos professores do curso, ao comitê de
do Instituto de Geociências da Unicamp (FUR- orientação da avaliação e a colaboradores de
TADO, 2003; ZACKIEWIZ, 2005; SALLES-FILHO algumas áreas da Unicamp, como a Pró-Reito-
et al., 2010 e 2011; FURTADO et al., 2009). ria de Graduação, o Serviço de Apoio ao Estu-
Alia-se também à larga experiência de con- dante e a Comissão de Vestibular (COMVEST),
dução de pesquisas de avaliação e monitora- além da equipe de pesquisa.
mento do Núcleo de Estudos de Políticas Pú-
blicas (NEPP) da Unicamp (ANDRADE e TELLES, Aos participantes foi solicitado que anali-
2008; COELHO et al., 2008; DRAIBE e RUS PEREZ, sassem a pertinência dos temas seleciona-
1999; RUS PEREZ e STOCO, 2008). dos e seus indicadores, bem como a neces-
sidade de adicionar ou excluir temas. Novos
painéis de especialistas são previstos para
Metodologia participativa a apresentação dos resultados de cada
A metodologia de avaliação do ProFIS, ora exercício de avaliação.
em construção, busca ser participativa, en-
volvendo os principais atores no processo de Os métodos participativos buscam construir
definição do que deve ser avaliado e na cole- um processo baseado na participação ativa na
ta e análise de informações. Isto é operacio- tomada de decisões a todos os que tenham
nalizado pela constituição de um comitê de um interesse em um determinado programa e
orientação da avaliação, que interage com a dão origem a um sentimento de controle so-
equipe de pesquisa numa base regular e tam- bre os resultados e recomendações do moni-
bém pela realização de painéis de validação toramento e avaliação (WORLD BANK, 2004).
da metodologia e de seus resultados. Segundo Zackiewicz (2005), a participação
não significa apenas o envolvimento de di-
São previstos painéis ex-ante e ex-post. O versas pessoas, mas principalmente a nego-
primeiro painel aconteceu em 9 de junho de ciação de diferentes perspectivas, valores e
2011, quando o primeiro conjunto de temas interesses muitas vezes conflitantes, o que
e indicadores foi submetido a especialistas resulta no envolvimento de diferentes atores
em avaliação e em ensino superior, ao grupo e de diferentes interpretações sobre a reali-
6 O PAAIS, instituído em 2004, prevê que estudantes que tenham cursado todo o ensino médio na rede pública brasileira
receberão automaticamente 30 pontos a mais na nota final da segunda fase do vestibular. Candidatos autodeclarados pretos,
pardos e indígenas que tenham cursado o ensino médio em escolas públicas também terão, além dos 30 pontos adicionais,
mais dez pontos acrescidos à nota final. A participação no PAAIS é opcional e deve ser indicada no formulário de inscrição. Mais
informações em: <http://www.comvest.unicamp.br/vest2006/paais.html>.
Até o momento, pré-painel de validação, fo- Desta forma, as dimensões de avaliação abar-
ram definidas quatro dimensões da avaliação, cam as duas abordagens da avaliação edu-
além das variáveis condicionais ligadas ao cativa, apontadas por Dias Sobrinho (2008),
perfil socioeconômico e cultural dos alunos e vistas como coessenciais e interdependentes.
suas famílias .
7
Por um lado, apoia-se nas abordagens do cog-
nitivismo e do interacionismo, que tendem a
1. Desenvolvimento de habilidades privilegiar o conhecimento dos processos de
acadêmicas e cognitivas: refere-se à aprendizagem, centrando-se nos processos
caracterização do desenvolvimento educativos e escolares internos à instituição.
das competências cognitivas e acadê- Esta perspectiva refere-se aos processos de
micas gerais, às vivências e integração construção do pensamento do sujeito que
na universidade, à autoeficácia na for- aprende. Por outro lado, leva-se em conta
mação e ao desempenho acadêmico;
também os contextos socioprofissionais, que
2. Acesso, permanência e equidade: refe- buscam os impactos da educação na socieda-
re-se à caracterização do acesso ao en- de em termos socioeconômicos, mesmo que
sino superior, bem como permanência e de forma limitada aos beneficiários, em um
persistência, e à promoção da equidade; primeiro momento.
38
Grande parte dos indicadores refere-se a —— Encuesta Nacional de la Adolescencia y la
impactos intangíveis, como a formação de Juventud do Instituto Nacional de Esta-
competências, satisfação com curso, satisfa- dística (INE) do Uruguai10;
ção com a profissão escolhida, entre outros.
—— Questionário do Exame Nacional de De-
Felizmente há uma literatura extensa que tem sempenho de Estudantes (ENADE) 2008;
ajudado na construção deste tipo de indicado-
res (MERCURI e POLYDORO, 2004; BENEITONE —— Questionário de matrícula da Unicamp
et al., 2007; PASCARELLA e TERENZINI, 2005; 2010;
GUERREIRO, 2007; SCHLEICH, 2006; FIOR, —— European Social Survey (2010).
2008; PELISSONI, 2007; BOWEN, 1977; ALMEIDA
et al., 2004). Também há vários questionários A princípio, não serão investigados os impac-
já validados que podem apoiar a construção tos de segunda e terceira ordem, na socieda-
dos instrumentos de coleta. Dentre eles po- de e na economia do país, na linha dos es-
dem ser citados: tudos de Bluestone ( 1993), Caffrey e Isaacs
(1971) ou Williams e Swail (2005). Mas à
—— Questionário do Students Experience in medida que a metodologia evoluir, poderão ser
the Research University (SERU) Interna-
acrescentadas novas ordens de impactos. O
tional Consortium – Brazil8;
desafio é balancear a quantidade de dimen-
—— Questionário de avaliação dos progra- sões e indicadores para analisar os principais
mas de bolsa da Fapesp (GEOPI/DPCT)9; impactos, mas factível de ser realizada.
7 Grande parte dos dados das variáveis condicionais já foi levantada no momento da inscrição no ProFIS e da matrícula na Unicamp.
9 Avaliação de Programas da Fapesp: desenvolvimento e aplicação de métodos para avaliar impactos de programas da Fapesp
e para a criação de avaliação continuada – auxílio pesquisa regular da Fapesp (segunda fase de projeto que se desenvolveu entre
os anos de 2006-2008). Na fase atual (n. do Processo: 08/58628-7), estão sendo avaliados os programas: bolsas (IC, mestrado e
doutorado), Biota e Equipamentos Multiusuários; na fase anterior (n. do processo: 2006/50332-6): PIPE, PITE, Políticas Públicas e
Jovem Pesquisador.
40
superior. Estas características próprias e es- evitar a tendência de tentar medir uma gran-
pecíficas de cada um são classificadas como de diversidade de fatores, o que dá origem
aspectos condicionais, que se relacionam ao risco de criar uma perversa lista de indi-
direta e indiretamente com o impacto da cadores sem significado (BACH, 2010).
educação superior, podendo direcioná-lo
ou limitá-lo. Isto implica que os estudantes Entende-se que mais dados não significam
apresentem diferentes níveis de desenvol- mais accountability. Segundo State Higher
vimento ou de mudança, ainda que experi- Education Executive Officers (2005), a incor-
mentem as mesmas vivências acadêmicas. poração de uma quantidade grande de infor-
As variáveis condicionais apontadas pela mação limita sua utilidade, especialmente
literatura são gênero, idade, etnia, nível edu- quando se perde o foco dos objetivos de
cacional dos pais, capital cultural dos estu- avaliação, diluindo-se o esforço e impedin-
dantes, nível socioeconômico, dentre outras. do o progresso.
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46
exercido, ainda, as funções de diretora técnica e assessora.
Resumo
A moderna administração pública não pode mais ser concebida sem a existência de siste-
mas de monitoramento e avaliação, que se constituem nos instrumentos utilizados para
assegurar, com base em evidências, que informações qualificadas para retroalimentar o
processo decisório sejam disponibilizadas
tempestivamente aos tomadores de deci-
são, no intuito de possibilitar não apenas a
Abstract
melhoria da eficiência do Estado no provi- The structure of modern public administration is
mento de bens e serviços à sociedade, mas intrinsically associated with the use of monitoring and
também a transparência e accountability evaluation systems by the Government. By definition, mo-
das ações governamentais. nitoring and evaluation systems are constituted of ins-
truments which, based on evidence, ensure that qualified
Objetivando conhecer como ocorre o
information used to give support to the decision-making
processo de implementação das ativi-
process are timely made available to decision makers. The
dades de avaliação e monitoramento e
adoption of such systems is essential not only in respect
buscando identificar em que medida essas
to the principle of efficiency of the State (when creating
práticas estão institucionalizadas e se
assets and delivering services to the society), but also
constituem em sistemas de monitoramen-
to the principles of transparency and accountability of
to e avaliação, o Tribunal de Contas da
governmental actions.
União (TCU), por meio da Secretaria de
Fiscalização e Avaliação de Programas de With the purpose to assess the processes for implementa-
Governo (Seprog), elaborou o “Levanta- tion, institutionalization and constitution of monitoring
mento dos Sistemas de Monitoramento e and evaluation systems in Brazil, the Court of Audit
Avaliação dos Órgãos da Administração (TCU), through the Secretary of Audit and Evaluation
Direta do Poder Executivo”, junto a 25 of Governmental Programs (SEPROG), has developed
órgãos responsáveis pelos programas “The Assessment Report of Monitoring and Evaluation
finalísticos do poder executivo federal. Systems Applied to Organs of Direct Administration in
Tal levantamento foi apreciado na sessão the Executive” in cooperation with 25 agencies in charge
do plenário de 19.10.2011, Acórdão nº of programs of the Federal Executive Power. The report
2.871/2011, sob a relatoria do ministro was voted in the plenary session on October 19th in 2011,
Valmir Campelo. Este artigo apresenta um in Case No. 2.871/2011, under the rapporteur of Minister
excerto do trabalho realizado pelo TCU Valmir Campelo. The purpose of this article is to discuss
e tem por objetivo destacar seus princi- the work of the Court of Audit based on an excerpt of
pais resultados e conclusões2. the Report with focus on its results and conclusions.
Palavras-chave:
Administração pública; Tribunal de Contas da União; Avaliação; Monitoramento; Órgãos
Públicos; Poder Executivo
R evista B rasileira de M onitoramento e A valiação | N úmero 2 | J ulho -D ezembro de 2011
Levantamento do Tribunal de Contas da União sobre os sistemas de monitoramento e avaliação da administração direta do poder executivo 47
1.Referencial conceitual
Para o desenvolvimento deste trabalho, to- processo contínuo e participativo de
maram-se por base as definições de monito- aperfeiçoamento da administração
ramento e avaliação, bem como de sistemas pública federal, sob a perspectiva dos
de monitoramento e avaliação (M&A), com resultados para o cidadão. É uma eta-
pa do ciclo de gestão governamental e
vistas a caracterizar o objeto do estudo e
visa melhorar o desempenho dos pro-
orientar a análise decorrente do levantamen-
gramas, promover o aprendizado das
to dos dados.
equipes gerenciais, além de prestar
contas ao Congresso Nacional e à so-
A avaliação, de acordo com Weiss (1998), é ciedade (BRASIL, 2010b, p. 10).
um termo bastante abrangente que acomoda
muitas definições. No entanto, o que todas Por sua vez, o monitoramento, segundo Patton
elas têm em comum é a noção de julgamento (2008), tem por objetivo o acompanhamento
de mérito, baseado em critérios, segundo um da implementação de programas, ações e/ou
método específico. Para Weiss, a avaliação é atividades a fim de identificar tempestiva-
“a análise sistemática do processo e/ou dos mente os problemas que possam comprome-
resultados de um programa ou política, em ter os resultados esperados.
comparação com um conjunto explícito ou
implícito de padrões, com o objetivo de con- Embora as atividades de monitoramento e
tribuir para o seu aperfeiçoamento” (WEISS, avaliação sejam tratadas de forma integrada
1998, p. 4, tradução nossa). no âmbito dos sistemas de M&A, são conside-
radas abordagens avaliativas distintas. Para
Essa definição pode ser decomposta em cinco Kusek e Rist (2004), esses dois instrumentos,
elementos: o primeiro diz respeito à análise avaliação e monitoramento, têm objetivos
sistemática, em que se enfatiza a natureza complementares. O monitoramento visa tor-
metodológica do trabalho; o segundo e o ter- nar mensuráveis os objetivos dos programas
ceiro referem-se ao foco da investigação, ou por meio de indicadores de desempenho,
seja, ao processo de execução ou aos resulta- relacionando as ações e os recursos necessá-
dos do programa e/ou política; o quarto trata rios para o seu atingimento, bem como com-
dos critérios, que são os padrões de compa- parando, por meio da coleta sistemática de
ração; o quinto relaciona-se ao propósito da dados, os resultados obtidos com as metas
avaliação: contribuir para a melhoria do pro- propostas, de forma que assegure ao gestor
grama e/ou política, por meio da utilização as informações sobre os progressos obtidos
dos resultados (WEISS, 1998). e os problemas encontrados. A avaliação, por
outro lado, examina o porquê dos resultados,
identificando as causas que contribuíram ou
Para o Ministério do Planejamento, Orçamen-
dificultaram o alcance dos objetivos do pro-
to e Gestão (MPOG), a avaliação de programas
grama e emitindo um julgamento de valor ou
é entendida como:
48
mérito sobre o processo de implementação. de institucionalização, que dificultam identi-
Além disso, explora os resultados não inten- ficar as características necessárias para que
cionais, favorecendo o aprendizado dos ges- se possa configurar um sistema de monitora-
tores e oferecendo recomendações para o mento e avaliação.
aperfeiçoamento dos programas.
Desta forma, para que a prática avaliativa seja
Essa afinidade de propósitos tem propiciado considerada um sistema de avaliação, são
a institucionalização de sistemas de M&A no utilizados os critérios definidos por Leeuw
âmbito da administração pública, os quais e Furubo (2008), conforme apresentado por
buscam desenvolver mecanismos sistemá- Ferrari (2010), que ajudam a caracterizá-los.
ticos que viabilizem o acompanhamento do O primeiro critério diz respeito à existência
desempenho das ações governamentais, com de uma perspectiva epistemológica que de-
vistas em assegurar que os resultados es- fina tanto os objetivos quanto os propósitos
perados possam ser alcançados, bem como da avaliação. O segundo estabelece que essa
aperfeiçoados, contribuindo para a melhoria atividade seja formalmente instituída dentro
da gestão e favorecendo a accountability dos da organização. O terceiro e o quarto critérios
gastos públicos. tratam do foco (o que avaliar) e das intenções
de uso dos resultados das avaliações.
Segundo Grau e Bozzi (2008), a crescente utili-
zação na América Latina de sistemas de moni- Esses critérios são compatíveis com aqueles
toramento e avaliação dos resultados no setor utilizados por Grau e Bozzi (2008) no traba-
público é um meio para avançar na busca por lho por elas coordenado sobre os sistemas
maior transparência e efetividade das ações de M&A nos países da América Latina. Para
governamentais e, desta forma, ampliar a ca- caracterizar tais sistemas, as autoras, ante a
pacidade para o exercício do controle coletivo, falta de delimitação conceitual e de consenso
com o aumento da legitimidade do Estado, o sobre o que se denomina, genericamente, de
combate à corrupção, o melhor uso do dinhei- sistema nacional de monitoramento e ava-
ro público e a criação de políticas e serviços liação nos países estudados, estabeleceram
que promovam o bem-estar social, reduzindo os seguintes critérios como necessários para
a pobreza e combatendo a desigualdade. definir a unidade de análise da pesquisa, ou
seja, os sistemas denominados de Monito-
No entanto, os sistemas de M&A existentes ramento e Avaliação ou o conjunto de ferra-
apresentam diversidade de funções, modelos mentas com potencial para converter-se em
e instrumentos, assim como diferentes graus sistema. São eles:
50
2. Sistema de Posteriormente, com o PPA 2008-2011, apro-
vado pela Lei nº 11.653/2008, foi criado o
Monitoramento e Sistema de Monitoramento e Avaliação do
Avaliação do Plano Plano Plurianual, também integrado ao mode-
Plurianual lo de gestão do novo Plano, regulamentado
A avaliação dos resultados dos programas go- pelo Decreto nº 6.601/2008, revogando, em
vernamentais, entendidos como aqueles de- decorrência, o Decreto nº 5.233/2004.
finidos para a elaboração do Plano Plurianual
(PPA) e dos orçamentos da União, é realizada de O modelo de gestão do PPA para o quadriênio
forma sistemática pelo poder executivo, desde 2008-2011, como também o foi o PPA ante-
a implementação do PPA 2000-2003, confor- rior, é orientado para resultados, segundo os
me estabelecido no Decreto nº 2.829/1998 e princípios da eficiência, eficácia e efetivida-
determinado nas respectivas leis que dispuse- de, sendo estruturado em dois níveis: o estra-
ram sobre os Planos Plurianuais. tégico, que compreende os objetivos do go-
verno e setoriais, e o tático-operacional, que
Coube ao Ministério do Planejamento Orça- trata dos programas e suas ações.
mento e Gestão (MPOG), por intermédio da
Secretaria de Planejamento e Investimentos Cabe ressaltar que o PPA para o quadriênio
Estratégicos (SPI), apoiada pelo Sistema de 2012-2015 introduziu “alterações significa-
Informações Gerenciais e de Planejamento tivas na estrutura adotada pelos últimos três
(SIGPlan), coordenar os processos de moni- planos plurianuais do Governo Federal. O
toramento e de avaliação dos programas do sentido geral das mudanças é o da busca por
PPA, bem como normatizar e disponibilizar um caráter mais estratégico do Plano, criando
metodologia, orientação e apoio técnico para condições efetivas para a formulação, a ges-
a sua execução. tão e a implementação das políticas públicas”
(BRASIL, 2011, p. 9).
Com a edição do PPA 2004-2007 (Lei nº
10.933/2004 e alterações) e com vistas As alterações fundamentais foram no binô-
na elaboração do relatório de avaliação do mio “programa-ação”, base de estruturação
Plano, anualmente encaminhado ao Con- tanto do plano quanto dos orçamentos nos
gresso Nacional pelo poder executivo, foi últimos três PPAs, que deu lugar aos progra-
instituído o Sistema de Avaliação do PPA mas temáticos, objetivos e iniciativas, sendo
integrado ao modelo de gestão do mencio- a ação orçamentária uma categoria exclusiva
nado Plano, o qual foi regulamentado pelo do orçamento anual. Além dessas categorias,
Decreto nº 5.233/2004. o conjunto de ações destinadas ao apoio, à
N Secretarias
Í Executivas
V
E Sistema de
L Comitê de
Monitoramento e
Gestão do PPA
E Avaliação PPA
S
T
R Unidades de
A Comissão de Monitoramento e
Monitoramento
T Avaliação (CMA)
É e Avaliação (UMAs)
G
I
C
CTMA CTPGV
O
N
SPI
Í
V Gerentes de
E
L Programa
Gerentes
T Executivos
Á Sistema Próprio de
T Monitoramento e
I Avaliação
C
O
Sistemas de Informações
O Gerenciais e de Planejamento Coordenação de
P Ação
E (SIGPlan)
R Coordenadores
A Executivos
C
I
O
N
A
L
Embora não tenham sido realizadas reuniões Naquela oportunidade, ainda, foi enfatizado
da CMA no exercício de 2008, constatou-se que além do PAC e dos PGVs, que já possuíam
que, na primeira reunião de 2009, foi desta- uma organicidade para a sua implementação,
cada a importância do papel da CMA para a os demais itens da agenda prioritária desta-
organização, de fato, do SMA, sendo a Comis- cados para impulsionar a estratégia de de-
são um importante elemento para assegurar senvolvimento do governo, ou seja, a Agen-
a qualidade da ação governamental, ao via- da Social (AS) e o Plano de Desenvolvimento
bilizar um olhar conjunto dos órgãos centrais da Educação (PDE), demandavam da CMA a
de governo. Destacou-se, ainda, que o go- sistematização metodológica, no intuito de
verno realiza inúmeras avaliações de forma proporcionar informações para apoiar os pro-
fragmentada e, na maioria das vezes, não se cessos decisórios dos gestores e dirigentes
apropria dos seus resultados, cabendo à CMA responsáveis pelo conjunto dos programas
definir orientações gerais e induzir avaliações finalísticos do PPA 2008-2011 que integram
de interesse do governo. essa agenda prioritária.
Acompanhamento Medidas
PPA Diretrizes M&A
Iniciativas M&A Aperfeiçoadoras
2004-2007 (39 Reuniões) 7 1 1
2008-2011* (7 Reuniões) 5 2 1
Total 12 3 2
de 2008 (Ano Base 2007), em que foram forme consta do Relatório do Banco Mundial
Nos órgãos que possuem Subsecretarias de portante meio de comunicação entre os ges-
das UMAs são desempenhadas, em geral, física e financeira dos programas e suas ações.
250
200
150
100 2006
50 2007
0
(Branco) a) Reuniões de b) Visitas c) Sistemas d) SIGPlan e) Relatórios f) Infrasig g) Outros
trabalho in loco informatizados de gestão (especifique)
72
cutar esse tipo de atividade e quais os critérios (MEC, MS, MAPA, MTur e MCT) e os sistemas
a serem utilizados para examinar e controlar a de monitoramento Painel de Controle (MEC),
adequação das atividades desenvolvidas. Sala de Situação em Saúde e Mais Saúde (MS).
O MDS é o único órgão na administração federal Em suma, pode-se concluir que os sistemas de
direta que dispõe de uma política de monitora- monitoramento e avaliação de programas no
mento e avaliação formalizada e de uma secre- âmbito da administração direta do poder execu-
taria instrumentalizada para realização dessas tivo federal ainda não estão plenamente instituí-
atividades, muito embora a principal estratégia dos, estruturados e implementados. Esta consta-
adotada pelo órgão para execução das avalia- tação não pode ser generalizada, considerando
ções seja a contratação desses serviços. que em alguns órgãos, como MDS, MEC e MS, em
diferentes níveis e formatos, foram organizados
Trata-se de um modelo inovador na adminis- os respectivos sistemas, com vistas no monito-
tração pública, que merece um estudo espe- ramento e/ou avaliação das ações governamen-
cífico para a identificação dos fatores neces- tais, além do modelo único estabelecido pelo
sários e determinantes para a sua instituição, MPOG para todos os órgãos públicos.
bem como da sustentabilidade dos processos
constituídos de monitoramento e avaliação, Desta forma e considerando o processo em
custos e utilização com vistas em identificar curso de reestruturação do modelo de pla-
os benefícios gerados e a adequação desse nejamento e gestão governamental a ser
modelo para disseminação em outros órgãos. implementado com o novo PPA, é oportuno
que este Tribunal desenvolva mecanismos
Por outro lado, merecem destaque outras no intuito de acompanhar a evolução da im-
iniciativas implementadas em alguns órgãos plementação dos instrumentos de monitora-
da administração direta, em especial quanto mento e avaliação, dada a sua relevância para
à implementação de sistemas de monitora- o controle do desempenho e dos resultados
mento organizados no âmbito dos modelos das ações governamentais, com vistas na ade-
de planejamento e gestão dos respectivos quada governança, melhoria da gestão e pro-
ministérios, como, por exemplo, os InfraSigs moção da accountability dos gastos públicos.
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1 Doutor em Administração pela Fundação Getulio vargas e mestre em Gestão Empresarial pela
mesma escola. é graduado em Economia pela universidade de taubaté, onde também realizou um
MBA, e intendência pela Academia Militar das Agulhas negras. Atualmente é Analista do Banco
Central do Brasil.
2 Mestre em Administração Pública pela EBAPE/FGv e bacharel em Administração de Empresas
pela ESPM. é consultor sênior em Gestão para Resultados na Administração Pública pelo instituto
76
Publix.
Resumo
Este artigo tem por objetivo apresentar diversas práticas internacionais
de Monitoramento & Avaliação (M&A), particularmente dos Estados Uni-
dos, Chile, Colômbia, Austrália e México, bem como algumas experiências
nacionais, como as adotadas em alguns programas públicos e a adotada
no estado de Minas Gerais. Das experiências internacionais, o foco prin-
cipal deu-se sobre quatro categorias de análise: (1) os usos que são feitos
das informações levantadas, (2) os clientes dos sistemas, (3) os incentivos
gerados pelos sistemas e (4) os tipos de avaliação integrantes. Destacam-
-se a independência da organização
responsável pelo M&A, a dependência Abstract
de algumas atividades governamen- The paper aims to present various international Monito-
tais do uso dos resultados, o emprego ring & Evaluation (M & E) practices, particularly of the
simultâneo de vários tipos de avalia- United States, Chile, Colombia, Australia and Mexico, as
ção, entre outros fatores, como sendo well as some national experiences, like those used in some
essenciais para o sucesso da prática. public programs and adopted in the state of Minas Gerais.
Diante do exposto nas análises das Of international experiences, the main focus was given on
four categories of analysis: (1) the uses that are made of
práticas, foi possível fornecer reco-
the information collected, (2) customers of the systems,
mendações quanto à prática de M&A
(3) the incentives generated by the systems and (4) types of
para o contexto brasileiro, conside- evaluation adopted. Emphasize the independence of the
rando suas peculiaridades, como as organization responsible for M & E, dependence of some
barreiras técnicas e institucionais government activities to use the results, the simultaneous
existentes, a estrutura de incentivos use of multiple types of assessment, among other factors,
e o papel da média gerência. O que as as essential to the success of the practice. Given the above
experiências apresentadas ensinam é analysis in practice, it was possible to provide recommen-
que a atenção a peculiaridades locais, dations regarding the practice of M & E in the Brazilian
context, considering its peculiarities, such as technical
a atuação de forma consistente, pla-
and institutional barriers exist, the incentive structure
nejada e observando todos os ele-
and the role of middle managers. What the experience
mentos pertinentes, são fundamentais teaches is that attention to local peculiarities, the acting
para se lograr êxito e para a obtenção consistently planned and observing all relevant factors
de elementos importantíssimos para o are essential to achieve success and to obtain information
aprimoramento da gestão pública. critical to improvement of public administration.
Palavras-chave:
Monitoramento; Avaliação; Políticas públicas; Benchmarking; Accountability; Aprendizagem
organizacional
78
Experiências
internacionais de M&A
Nesta seção, será apresentado o contexto in- —— estão integrados ao ciclo de planeja-
ternacional de M&A de políticas públicas. As mento e orçamento governamental
informações aqui disponibilizadas tiveram (integração transversal) e possuem
como fonte de consulta alguns estudos e pu- alto grau de diversificação instrumen-
blicações do Banco Mundial (BRICEÑO, 2010; tal e funcional, dispondo de ferramen-
CASTRO, 2009; MACKAY, 2006; 2007; 2010). tas que atendem às necessidades de
informação de diversos estágios do
ciclo de política pública e do ciclo de
Diversos países, desenvolvidos ou em desen-
vida dos programas;
volvimento, já possuem, em maior ou menor
grau de maturidade e complexidade, sistemas —— possuem bom grau de coerência inter-
de monitoramento e avaliação de suas polí- na (integração e coordenação interna
ticas, programas e projetos governamentais. dos subsistemas integrantes do siste-
Países como Colômbia, México, EUA, Austrália, ma de M&A);
Inglaterra, Canadá, dentre outros, possuem —— as informações geradas são disponibiliza-
sistemas de M&A de políticas e programas, das para o órgão central responsável pela
com as seguintes características: coordenação do sistema de M&A e arma-
zenadas em sistemas de informações;
—— iniciam a partir de um diagnóstico de
—— possuem incentivos (cenoura, porrete
capacidades e necessidades;
e sermão) para garantir a utilização das
—— a existência de uma forte demanda do informações por eles geradas;
Poder Executivo ou do Poder Legisla-
—— as informações são utilizadas, em maior
tivo por informações é crítica para seu
ou menor grau, nos processos centrais
sucesso e institucionalização;
de governo, para fins de redesenho ou
—— estão inseridos em estruturas organiza- melhorias na gestão e processos dos
cionais fortes no âmbito do Poder Exe- programas, alocação orçamentária e/ou
cutivo, responsáveis por sua operacio- transparência (interna e/ou externa).
nalização, coordenação e controle;
Como principais benefícios da boa adoção
—— possuem um patrocinador poderoso de um sistema de M&A, destacam-se: o for-
(Presidente da República, Ministro); talecimento das relações de prestação de
contas para dentro e para fora do governo; o
—— possuem mecanismos que garantem
incremento da transparência na gestão públi-
a credibilidade das informações por
eles geradas; ca; uma tomada de decisão mais eficiente; o
80
■■ Tabela 1: Experiências internacionais de M&A de projetos e
programas governamentais
CHILE COLÔMBIA MÉXICO EUA AUSTRÁLIA
- Controle orçamentário - Controle e decisões - Controle e decisões - Planos de melho- - Decisões orça-
- Melhoria da perfor- orçamentárias orçamentárias ria entregues com a mentárias
mance dos objetivos e - Melhoria da perfor- - Melhoria dos proces- avaliação finalizada - Melhoria na
metas das políticas e mance dos objetivos e sos, gestão e desenho (implementação eficiência opera-
programas metas das políticas e dos programas pelos é monitorada cional dos órgãos
programas órgãos e empresas pelo OMB)
Usos da infor-
públicas - Requisição de
mação
orçamento deve ser
justificada usando os
resultados do PART
- Uso pelo Con-
gresso Nacional
Programas
eliminados ou
completamente
recolocados ou Realocação
absorvidos institucional
7% 6%
Menores ajustes
23% Modificações no
desenho e gestão dos
processos internos
37%
Redesenho
substantivo dos
programas
27%
CLIENTES USOS
Transparência:
84
■■ Figura 2: Ferramentas de M&A e ciclo de política pública
Ÿ Análise de viabilidade
socioeconômica
Ÿ Diagnóstico da situação
Ÿ Marco lógico
Planejamento Orçamento
Avaliação Monitoramento
Ÿ Avaliação Executiva
Ÿ Avaliação de Indicadores Ÿ Acompanhamento do
Ÿ Avaliação de Processo Marco Lógico
Ÿ Avaliação de Impacto
86
ção da Política Social (Coneval) como uma Inicialmente, o Coneval desenhou um portfólio
instituição tecnicamente autônoma e relati- de avaliações dirigido a satisfazer as necessi-
vamente independente – o que lhe conferiu dades específicas de informação de resulta-
credibilidade interna e externa ao governo. dos de diferentes usuários dentro e fora do
Apesar de fazer parte do Poder Executivo e governo. O portfólio inclui uma combinação
de seu diretor ser designado pelo Governo de técnicas de avaliação desenhadas ou
Federal, o Coneval é dirigido por um colegia- adaptadas para cobrir os distintos níveis da
do independente, composto por acadêmicos cadeia de implementação dos programas
eleitos democraticamente, com papel de to- do governo, a saber: avaliação de desenho;
mar as principais decisões do órgão, desde as avaliação de processos; avaliação executiva
definições de metodologias de avaliação e a (Consistencia y Resultados); avaliação de indi-
revisão dos seus resultados até decisões admi- cadores e avaliação de impacto.
nistrativas. As principais atribuições do Coneval
são: estabelecer as orientações gerais e crité- As informações geradas pelas avaliações são
rios e medir os resultados nacionais em matéria dirigidas a diversos públicos, interno (ministé-
de redução de pobreza; normalizar, estabelecer rios, programas, Congresso) e externo (socieda-
metodologias, conduzir e/ou coordenar a ava- de civil organizada e cidadãos) ao governo, e
liação dos programas sociais no Governo Fede- estão sendo publicadas de maneira agregada
ral; oferecer assistência técnica e capacitação (por Ministério) no sítio eletrônico do Coneval.
aos ministérios; preparar e consolidar informes Os diversos tipos de avaliações conduzidas/co-
de avaliação e difusão de seus dados ao Con- ordenadas pelo Coneval, de acordo com o ciclo
gresso, entes federados e sociedade civil. de política, estão dispostos na figura 3, a seguir:
Avaliação de processos
Avaliação de
indicadores
Fonte: Adaptado de Castro et al., 2009.
Um fator que contribui é a característica brasi- O fato das práticas só ocorrerem na forma,
leira do legalismo superar o resultado na ação não no conteúdo, alerta para o perigo da
do ente estatal, em boa parte decorrente de importação acrítica de modelos de gestão
uma situação de pouco expressiva governan- (GUBERMAN; KNOPP, 2009b), o que, por
ça social, a qual converge e reforça o fato de não ser foco do texto, deixa-se de elaborar
que, no Brasil, a sociedade e o estado têm re- mais. Contudo, provavelmente é aplicável
lação baseada no clientelismo (além da ope- ao efeito da adoção de outras metodologias
ração patrimonialista, personalista e formalis- ou práticas no país.
3 Este caso refere-se a um projeto de modernização da gestão pública, de abrangência nacional, financiado por Banco Multi-
lateral de Desenvolvimento mediante empréstimo.
4 Este caso refere-se a um projeto de grande magnitude de melhoria urbana, com enfoque principal em habitação, financiado
por Banco Multilateral de Desenvolvimento mediante empréstimo.
5 O Programa Estado para Resultados, vinculado à Seplag/MG, é uma estrutura temporária criada pela Lei Delegada nº 112,
de 25 de janeiro de 2007, sendo o responsável pelo fomento à gestão estratégica no governo e por efetivar uma gestão para
resultados no estado, alinhando-se com as premissas da segunda geração de reforma do aparelho do estado sob o mesmo nome.
O Programa foi criado com prazo de extinção, a saber, 31 de janeiro de 2011.
6 A Fundação João Pinheiro é o órgão oficial de estatística de Minas Gerais, sendo uma instituição pública vinculada à Secre-
taria de Estado de Planejamento e Gestão. Atua nas áreas de ensino e pesquisa em administração pública, avaliação de políticas
públicas e na produção de indicadores estatísticos, econômicos, demográficos e sociais.
tre outras coisas, pelo acompanhamento e Para tanto, é mister atentar para o fato de que a
implementação do PMDI; acompanhamento pura e simples emulação das práticas descritas,
e gestão da carteira de programas estrutura- sejam as internacionais ou mesmo a de Minas
dores do governo; gestão das metodologias Gerais, podem resultar em mais malefícios que
de gerenciamento de projetos e Acordo de ganhos, conforme alertado na seção anterior.
Resultados; apoio à implementação e padro-
nização de escritórios setoriais nas unidades. Qual o caminho, então, a se tomar?
Também estão sendo criados, nas Secreta- Ele deve iniciar-se pelo claro reconhecimento
rias de Estado, escritórios setoriais de pro- de que existem barreiras tanto técnicas quan-
jetos, responsáveis pelo no monitoramento to institucionais para a adoção de um siste-
e apoio à execução dos programas setoriais ma de M&A e que não se pode simplesmente
dessas Secretarias. investir em soluções técnicas, sem a devida
atenção às institucionais.
O sistema de M&A do governo de Minas Ge-
rais tem, a partir de 2011, o Escritório de Neste ponto, é necessário também reconhe-
Prioridades Estratégicas como instituição cer que nem sempre será possível derrubar
com papel de coordenação e o governador a barreira, o que demanda a formulação de
do estado como principal patrocinador e estratégias para contorná-las, o que pode, ao
um dos principais usuários das informações fim, gerar os resultados almejados (GUBER-
geradas. Os gerentes de programas e secre- MAN et al., 2010).
tários de estado também serão importantes
usuários do sistema. Reuniões periódicas, No caso concreto de M&A, se a tendência na-
entre os integrantes do sistema de M&A, tural é adoção por questão de requisito legal,
o governador e secretários de estado, nas o que se deve buscar é verificar com os envol-
quais o desempenho dos programas e polí- vidos quais informações são relevantes para
94 ticas e seus principais entraves serão apre- o trabalho deles, chegando mesmo a tratar o
conteúdo daquilo que for de requisito legal condição importante para uma boa atuação.
como algo à parte. Isto porque, normalmente, questões rela-
cionadas ao atendimento a requisitos legais
De início, se houver possibilidade, é interes- geram informações que alimentam órgãos de
sante a adoção de práticas distintas para tra- controle e auditoria, o que pode gerar o in-
tar aquilo do sistema que se referir ao cum- centivo de influência por parte dos dirigentes
primento de obrigações normativas e legais e sobre aquilo que é divulgado (vide, e.g., GU-
aquilo que visar atender às necessidades de BERMAN, 2010).
informação levantadas com os envolvidos.
Sem esta vinculação, porém, os dirigentes
A inicial perda de eficiência gerada será com- serão menos constrangidos a intervirem, sen-
pensada no futuro, quando as práticas volta- tindo, até mesmo, maior tranquilidade na uti-
rem a se fundir, no momento em que a matu- lização dos resultados das avaliações no rea-
ridade organizacional assim possibilitar. prumar da atuação organizacional.
7 Com a criação da Subsecretaria, as atribuições e atividades do Geraes foram incorporadas às suas unidades, a saber, a As-
sessoria Estratégica de Metodologias e o Núcleo Central de Gestão Estratégica de Projetos e do Desempenho Institucional.
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de Fazenda. Lei Delegada n. 179, de 1 de janei-
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der Executivo do Estado. Belo Horizonte, 2011. RES, v. 109, n. 459. p. F577-F597, 1999.
MINAS GERAIS (Estado). Secretaria de Estado de WESTNEY, D. E. Institutional Theory and the
Fazenda. Lei Delegada n. 181, de 20 de janeiro Multinational Corporation. In: GHOSHAL, S.;
de 2011. Altera as Leis Delegadas nº 179, de 1º WESTNEY, D. E. (Eds.). Organization theory
de janeiro de 2011; nº 180, de 20 de janeiro de and the Multinational Corporation. 2. ed.
2011; nº 181, de 20 de Janeiro de 2011 e nº Houndmills: Palgrave, 2005. 345 p.
100
100
grande recurso econômico: mão volvimento social. Tanto o setor
de obra e potencial para desen- público como as ONGs têm pro-
volvimento de pequenas e micro- movido muitas avaliações para
empresas. Logo os empresários entender a situação da pobre-
brasileiros começaram a apro- za e os resultados dos recursos
fundar este conceito por meio empregados. O governo também
de pesquisas. O trabalho tinha sofreu, nos últimos anos, muita
por objeto as favelas, mas tam- influência das organizações inter-
bém testava diferentes modelos nacionais, como o Banco Mundial
de desenvolvimento econômico e o BID, que sempre exerceram
em outras áreas e regiões, como pressões para incorporar compo-
o microcrédito no Nordeste. Esta nentes de avaliação no desenho
foi a minha primeira experiência de programas financiados com
de avaliação no Brasil. seus recursos. O enfoque era
mais quantitativo, ligado aos mo-
Depois, quando ingressei no Ban- delos econométricos e lógicos.
co Mundial, em 1978, trabalhei na Em especial, no setor urbano e na
avaliação dos programas urbanís- habitação, havia dentro do Banco
ticos de pequenas habitações e Mundial e do BID muitas pessoas
desenvolvimento das áreas mar- com experiência em investiga-
ginais, organizei vários programas ções econômicas, principalmen-
de formação em técnicas de ava- te da “escola” da Universidade
liação para o então Ministério do de Chicago – havia mais impulso
Interior (MINTER). Essas experiên- para avaliações mais rigorosas de
cias de avaliação eram bastante programas de desenvolvimento
inovadoras, pois, nessa época, só urbano, com a filosofia de elimi-
havia basicamente monitoramen- nar todas as barreiras ao desen-
to no Brasil. volvimento econômico. Segundo
o modelo da Escola de Chicago,
Você acha que hoje esse campo uma vez dados os meios para
está mais desenvolvido no isso, as pessoas sabem aproveitar
Brasil? as oportunidades para realizar in-
Sim, hoje, o campo de monitora- vestimentos, como, por exemplo,
mento e avaliação está mais de- de suas próprias habitações ou
senvolvido no Brasil por várias pequenas empresas.
razões: mudanças no sistema
democrático e, principalmente, Em outros países onde eu traba-
maior preocupação com o desen- lhei, El Salvador, por exemplo,
101
onde eu era encarregado da uni- desafios organizacionais e técni-
dade de avaliação de um projeto cos que os métodos mistos pode-
de habitação para os setores mar- riam implicar1.
ginalizados, houve uma diferença
de enfoque entre a ONG nacio- Mas essas questões também são
nal executora do projeto, que se objeto de discussões no Brasil,
preocupava mais com direitos você não acha?
sociais e humanos, e a equipe Sim. Trabalhar no Brasil com in-
do Banco Mundial, que queria vestigações sociais era muito
uma avaliação mais econômica, delicado nessa época porque
estimando a taxa de retorno, etc. sociologia não era uma profissão
Acabou-se chegando a um acor- regulamentada e eu ingressei
do de preparar duas versões de no país como economista (assim
todos os relatórios de avaliação: constava em meu visto de traba-
uma para a ONG executora, mais lho), apesar de ser sociólogo. Era
voltada para a questão social, e muito difícil achar profissionais
outra para o Banco Mundial, que de sociologia para pesquisas.
achava que o importante era
construir habitações. Ou seja, por Quais, na sua opinião, seriam os
conta das pressões das organiza- caminhos que o Brasil deveria
ções nacionais (ONGs inclusive), trilhar para desenvolver essa
esse enfoque teve que ser in- área de forma sustentável?
corporado às investigações. Esse Em primeiro lugar, quanto ao
tipo de diferença de perspectiva enfoque, acho interessante for-
ainda não acontecia no Brasil talecer e desenvolver avaliações
nessa época (anos 1970), que com métodos mistos porque, na
privilegiava totalmente o enfo- grande escala em que opera o
que técnico, quantitativo e eco- Brasil, é importante incorporar a
nômico das avaliações. dimensão quantitativa, saber se
um projeto piloto pode ser repli-
Os esforços em El Salvador para cado. No entanto, apesar de pro-
integrar os enfoques econômicos gresso impressionante, nas últi-
e quantitativos com um aspecto mas décadas, na redução da taxa
qualitativo e social foram bons da pobreza no Brasil, ainda existe
exemplos dos benefícios poten- um grande contingente em situ-
ciais de usar uma metodologia ação de miséria. Então é preciso
mista. Também demostraram os ter avaliação dos programas pú-
102
blicos e privados para entender o titativas e apoiam, por exemplo,
impacto na redução da pobreza e departamentos de universidades
em outros cortes, como equidade, formados por economistas, com
situação da mulher, jovens, que enfoques quantitativos, e os ou-
estão fora do sistema. Seria então tros podem ficar um pouco mar-
recomendável usar métodos com ginalizados.
enfoques mistos, que são mais
sofisticados. Nesse tipo de en- Para mim, é uma pena que não se
foque, é necessário ter um time possa aproveitar todos os recur-
formado por pessoas de diferen- sos intelectuais para entender a
tes disciplinas que muitas vezes dinâmica da problemática econô-
não trabalham muito bem juntas mico-social e cultural. Acho que
– os economistas acham que in- o Brasil tem a possibilidade, pela
vestigações que usam técnicas grande capacidade intelectual,
qualitativas não são sérias e os de ser um dos líderes na América
investigadores sociais acham que Latina em realmente integrar to-
economistas “não têm coração”. das as dimensões da avaliação, o
Assim, acho que um processo de que não está muito desenvolvido
desenvolvimento da avaliação no em nenhum país dessa região. A
Brasil deve contemplar o uso de Colômbia é um exemplo onde o
métodos mistos desde os dese- governo, por meio do Ministério
nhos, pois senão vão-se desen- do Planejamento, tem se esfor-
volvendo dois tipos de avaliação çado em contratar avaliações.
paralelos e depois é mais difícil Porém, privilegiando enfoques
de ligar. É uma oportunidade para quantitativos. Os consultores
o governo e outras entidades en- sabem que deveriam fortalecer
volvidas em avaliação. Este é um o enfoque qualitativo, mas não
aspecto que tem muitas implica- sabem ainda muito bem como
ções em como se organizam as fazê-lo e, por isso, contratam de
avaliações, porque, o que aconte- forma um pouco esporádica e
ce em muitos países cujas fontes não muito bem planejada estu-
de financiamento de projetos de dos de caso sem conexão lógica
desenvolvimento são organiza- com a avaliação principal e de-
ções internacionais, embora isso pois não se sabe como enqua-
ocorra menos no Brasil agora, é drar esses estudos de caso com
que essas organizações têm mais uma grande amostragem quan-
interesse nas avaliações quan- titativa. Então, passei um tempo
103
na Colômbia trabalhando pelo uma maneira de incentivar esta
Banco Mundial no Ministério do aplicação seria priorizar empre-
Planejamento sobre como forta- sas consultoras que propusessem
lecer mecanismos de avaliação. o uso de métodos mistos nas suas
Temos pensado um pouco nisso. propostas técnicas. Também, uma
Mas, é bem difícil, dentro de uma das situações que muitos econo-
avaliação específica, decidir que mistas vivenciam é a de que as
vamos convidar diversos tipos de revistas econômicas conceitua-
profissionais para participar – é das não aceitam artigos que não
um processo de desenvolvimen- tenham muitas tabelas de regres-
to de capacidades, de formação e sões – eu conheço vários econo-
de criar uma cultura de trabalho mistas que dizem entender bem
conjunto porque existe uma des- a importância das avaliações mis-
confiança entre os profissionais. tas, mas o fato de nunca pode-
rem publicar trabalhos que não
É difícil também planejar uma tenham enfoques quantitativos
avaliação mista. É preciso inves- nas revistas de referência é um
tir mais tempo na formação de fator de desestímulo para eles.
equipe e ter várias reuniões para Algumas revistas dão muita im-
entender o pensamento de to- portância para o número de tabe-
dos e construir mais confiança. las e para os métodos estatísticos
Geralmente, em uma avaliação utilizados. Então, é preciso mudar
com métodos mistos, existe uma a mentalidade das revistas, dos
orientação profissional dominan- departamentos das universida-
te (quantitativa ou qualitativa) e des, das organizações contratan-
os outros entram para seguir o tes do governo, das organizações
plano desse grupo. Então, para financiadoras, passo a passo. Se a
conseguir este equilíbrio, é ne- intenção for utilizar efetivamente
cessário um plano de desenvolvi- métodos mistos em pesquisas
mento de vários anos que, pouco avaliativas, o Brasil terá que for-
a pouco, é experimentado e dá mular uma estratégia. A utiliza-
apoio financeiro e organizacional ção de métodos mistos poderá
para avaliações por meio de me- fornecer muitos benefícios para
todologias mistas. Por exemplo, o país. Organizações promotoras
104
de avaliação (como a Agência de caso, enfim, era fabuloso, mas
Brasileira de Avaliação e a Rede era muito complicado2. Há tam-
Brasileira de Monitoramento e bém muitos problemas logísticos
Avaliação) poderiam incentivar em ter uma equipe aplicando
debates abertos sobre isso, não técnicas quantitativas ao mesmo
defendendo a ideia de que so- tempo em que outro time está
mente avaliações mistas devem fazendo pesquisa de campo. Em
ser realizadas, mas procurando diversas comunidades, especial-
mostrar o valor e talvez promover mente nas áreas rurais onde é
pesquisas que mostrem o custo- necessário organizar transporte e
-benefício deste enfoque, que pernoite, em países que têm pro-
custa mais tempo e dinheiro. blemas de segurança, é preciso
ter permissão oficial para circular
Em 2000, o Banco Mundial pro- em certos lugares e dias. E como
moveu pesquisa sobre uma série todos que contratam avaliação
de estudos de caso de avaliações esperam resultados rápidos, mui-
mistas em vários países e, em um tas vezes os tempos reais não são
deles, um economista que tinha compatíveis com as expectativas
adotado métodos mistos em e necessidades. Então, o planeja-
avaliações de programas educa- mento passa a ser fundamental.
cionais no Paquistão afirmou que Isso é um pouco mais complica-
utilizar métodos mistos foi muito do, apesar de ser até mais fácil
valoroso para o desenho do pro- em algumas áreas, como, por
jeto e promoveu uma compre- exemplo, na saúde, porque muita
ensão mais profunda, mas que gente faz avaliações quantitati-
não poderia fazer isso outra vez vas e também qualitativas – tal-
porque era muito custoso e mui- vez fosse mais fácil, nesse setor,
to complicado de contratar. De- formar equipes mistas do que
morou muito mais tempo porque em outros como transporte, por
tiveram que contratar um diag- exemplo, onde a maioria das ava-
nóstico qualitativo e esperar os liações são quantitativas. Então,
resultados deste antes de come- esta é uma área da avaliação que
çar o desenho do questionário, tem implicações organizacionais
para depois voltar a fazer estudo e estratégicas.
105
relatos de pesquisa
Indicadores de resultados
definindo a distribuição
do ICMS - a experiência do
Ceará
106
dos em educação, saúde e meio eles avançam e ficam mais pró-
ambiente como definidores dos ximos em um nível mais alto de
106 coeficientes de distribuição dos desempenho.
Introdução
Em um governo que pratica gestão para re- Assim como no resto do Brasil, no Ceará,
sultados, o monitoramento e a avaliação de 25% da arrecadação do ICMS deve ser
políticas podem ter duas funções comple- transferida aos municípios. Desse mon-
mentares. Em primeiro lugar, eles produ- tante, 75% devem ser distribuídos de
zem informações para ciclos de orçamento acordo com a atividade econômica de
mais efetivos onde os resultados induzem cada município. Os 25% restantes devem
uma melhor alocação de recursos. As infor- ser divididos de acordo com lei estadual.
mações, no entanto, podem ser usadas em Antes da nova lei do ICMS, a distribuição
políticas baseadas em regras nas quais os destes 25% era feita de acordo com a se-
indicadores definem e não apenas indu- guinte regra: 5% proporcional ao número
zem a alocação de dinheiro. de habitantes, 12,5% de acordo com a
proporção do orçamento gasto em educa-
A escolha entre políticas discricionárias e ção e 7,5% igualmente distribuída.
baseadas em regras, muito presente em
economia monetária, também acontece A nova lei do ICMS mudou essa regra. O
nas políticas de orçamento público. novo critério de distribuição foi definido
da seguinte maneira: 18% com base em
No estado do Ceará, uma nova lei foi apro- resultados educacionais (12% para o
vada em 2007 mudando a maneira como as desempenho dos alunos em exames de
transferências do estado aos municípios são alfabetização e 6% para o desempenho
definidas . A lei utiliza indicadores de resul-
1 dos alunos em exames de matemática e
tados em educação, saúde e meio ambiente português na 5º série), 5% com base em
para determinar o montante da transferên- resultados de saúde (redução da taxa de
cia que cada município receberá. Na lei an- mortalidade infantil) e 2% com base em
tiga, os critérios principais eram gastos com resultados ambientais (sistemas de coleta
educação e população, agora são o desem- de resíduos sólidos). No cálculo dos índi-
penho dos alunos nas escolas, a redução da ces de educação e saúde são considera-
mortalidade infantil e a existência de siste- dos o nível (estoque) e o avanço (fluxo)
mas de coleta de resíduos sólidos. dos indicadores selecionados.
muito pouco de um ano para outro, a lei de cada município é definido pela soma
ção muito semelhantes todos os anos. educação (IQE), índice para a saúde (IQS) e
Não havia incentivos para a boa gestão índice para o meio ambiente (IQM)2.
2 Para uma descrição detalhada da metodologia de cálculo, ver: HOLANDA, Marcos Costa; BARBOSA, Marcelo Ponte; COSTA,
Leandro Oliveira. Metodologia de Cálculo da Nova Lei do ICMS Municipal. Disponível em: <http://www.ipece.CE.gov.br/publi-
cacoes/notas_tecnicas/NT_33.PDF>.
100,00%
Avanço na Participação
50,00%
0,00%
0,00000 0,05000 0,10000 0,15000 0,20000 0,25000 0,30000 0,35000 0,40000
-50,00%
-100,00%
-150,00%
Participação Inicial
20000
15000
PIB 2007
10000
5000
0
-100,00% -50,00% 0,00% 50,00% 100,00% 150,00%
Avanço na Participação
A nova lei cria um jogo dinâmico, em que pios que percebem o potencial de ganho
todos os anos há ganhadores e perdedo- da nova lei implicam perdas para aqueles
res. Esses resultados poderiam indicar um que não tomam iniciativas. Esse movimen-
processo de aprendizagem onde alguns to é preocupante e indica a necessidade
municípios estrategicamente procuram ti- de uma maior divulgação e conscientiza-
rar proveito da nova lei. Como temos um ção para os municípios que estão ficando
110 jogo de soma zero, os avanços de municí- para trás.
■■ Gráfico
Gráfico3: 3: Ganhos
Ganhos e Perdas
e Perdas para para os municípios
os municípios Cearenses
Cearenses em
em consequência da aplicação da nova lei do ICMS
consequência da aplicação da nova lei do ICMS
120,00%
100,00%
80,00%
60,00%
Ganhos e Perdas
40,00% G&P>08-09
20,00% G&P>09-10
0,00% G&P>10-11
10
19
28
37
46
55
64
73
82
91
1
100
109
118
127
136
145
154
163
172
181
-20,00%
-40,00%
-60,00%
-80,00%
■■ alfabetização
Gráfico 4: daEvolução
2a série nosdas
municípios
notascearenses
médias eentre os anos
desvio 2007 e em
padrão
exames de alfabetização da 22010 ª série nos municípios cearenses
entre os anos 2007 e 2010
160,0
140,0
120,0
100,0
80,0 Media
Média
Desvio
Desvio
60,0
40,0
20,0
0,0
2007 2008 2009 2010
80
60
40
20
0
150,00 160,00 170,00 180,00 190,00 200,00 210,00 220,00 230,00
-20
Nota Matemática em 2007
80
70
Avanço % Português 07-10
60
50
40
30
20
10
0
-10130,00 140,00 150,00 160,00 170,00 180,00 190,00 200,00 210,00
-20
Nota português em 2007
112
Quando se olha o comportamento dos Esse aumento dos desvios indica que a
desvios das notas médias, verifica-se uma possibilidade de risco moral mencionada
convergência negativa no sentido de que anteriormente acontece efetivamente e
os municípios com menores desvios ini- corrobora a importância de ajustar as notas
ciais tendem a apresentar maiores aumen- médias pelos desvios padrões como ma-
tos no período de 2007 a 2010. neira de mitigar o referido comportamento.
60
40
07-10
20
0
25,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 55,00 60,00 65,00
-20
-40
DP Matemática Inicial 07
60
50
40
30
20
10
0
-1025,00 30,00 35,00 40,00 45,00 50,00 55,00
-20
-30
-40
DP Português Inicial 2007
4500,0
4000,0
3500,0
Gasto / Aluno 2009
3000,0
2500,0
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0
-20,00 -15,00 -10,00 -5,00 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00
Avanço Nota Matemática 2008-2009
4500,0
4000,0
3500,0
Gasto / Aluno 2009
3000,0
2500,0
2000,0 2,73; 2128,6
1500,0
1000,0
500,0
0,0
-10,00 -5,00 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00 40,00
114 Avanço Nota Português 2008-2009
Além disso, é importante ressaltar que, participação da receita de ICMS na arre-
principalmente para os municípios me- cadação total dos municípios em 2010.
nores, esse ganho de orçamento pode Em vários casos, essa participação supe-
ser substancial. O gráfico 11 mostra a ra os 15%.
25,00%
20,00%
15,00%
ICMS/REC ORC
10,00%
5,00%
0,00%
0 50 100 150 200
Consideraçoes finais
O artigo apresenta uma lei inovadora no houve melhorias nos desempenhos dos
estado do Ceará em que indicadores de alunos, mas a um custo de maior desi-
resultados são usados para determinar gualdade medida pelo desvio padrão.
dotações orçamentárias. A principal mo- Os resultados mostraram também que
tivação da lei foi criar incentivos para a alguns municípios comportaram-se es-
procura por melhores resultados na edu- trategicamente e aproveitaram a nova
cação, saúde e meio ambiente pelos mu- lei para obter ganhos significativos em
nicípios do estado. seus orçamentos.
Após os quatro anos iniciais, há sinais Mais importante, parece que o princi-
positivos sobre o desempenho dos mu- pal objetivo da lei está sendo alcançado.
nicípios. A distribuição dos recursos Como os municípios competem para obter
ficou mais homogênea e a lei criou es- melhores resultados, eles avançam e fi-
paço para os municípios menores au- cam mais próximos em um nível mais alto
mentarem suas receitas. Na educação, de desempenho.
Introdução
Isa Cristina da O relato de pesquisa apresenta a professores, de novas práticas no
Rocha Lopes* avaliação do Programa de Forma- ensino da matemática. Esta ava-
ção Continuada Multicurso Mate- liação contou com as seguintes
* Este relato de pesquisa foi
produzido pela autora na mática, que prevê em seu escopo etapas: diagnóstico inicial, avalia-
Fundação Roberto Marinho,
como parte das atividades a formação de professores e gesto- ção de processo e avaliação dos
do projeto, com objetivo de resultados em dois momentos
res de escolas públicas de ensino
apresentação da experiên-
cia no Seminário da Rede médio, visando à melhoria do en- (fase I e fase II). Para a aferição
Brasileira de Monitoramento
em Brasília, 2011. sino-aprendizagem na disciplina. dos resultados do Multicurso,
tanto em relação ao desempenho
O Programa foi implementado em cognitivo quanto à adoção de no-
2008, em parceria com a Secretaria vas práticas de ensino, foram uti-
de Estado de Educação do Espírito lizadas metodologias qualitativas
Santo (Sedu-ES) e com a Fundação e quantitativas.
Roberto Marinho (FRM). Funda-
menta-se em uma rede de apren- A avaliação do desempenho cog-
dizagem colaborativa, combinando nitivo foi feita com a utilização da
recursos presenciais e a distância. métrica nacional do Sistema Na-
cional de Avaliação da Educação
A avaliação do Multicurso Mate- Básica (Saeb), permitindo a com-
mática teve como objetivos co- paração das informações com as
nhecer e indicar a contribuição avaliações estaduais e nacionais.
do Programa para a melhoria do
116
desempenho cognitivo dos alu- As medidas foram realizadas em
nos da rede estadual do ensino três momentos, 2008, 2009 e 2010,
116 médio e a adoção, por parte dos percorrendo desenho longitudinal.
A avaliação da adoção de novas práticas dos professores sobre a dinâmica de pla-
no ensino de matemática foi feita por nejamento, didática das aulas e novas
meio de duas estratégias: a primeira delas estratégias de ensino. Na quarta e última
centrou-se na percepção dos alunos so- parte, estão as considerações finais sobre
bre a prática pedagógica dos professores as contribuições do Multicurso e de seu
e foi verificada por meio de grupos focais processo de avaliação para a melhoria da
com tutores, coordenadores de grupos qualidade da educação em nosso país.
de estudo e alunos; entrevistas individu-
ais e coletivas com gerentes, assessores
e técnicos da Secretaria de Educação; e
Objetivos
questionário contextual com professores, O Programa Multicurso Matemática é uma
gestores, pedagogos e alunos. A segunda proposta formativa semipresencial desti-
procurou avaliar diretamente os professo- nada a professores, coordenadores peda-
res e, para tal, contou com oficinas de ava- gógicos e diretores de escolas das redes
liação de práticas pedagógicas e análise públicas de ensino médio, para promover
do Programa feita por especialistas, além a melhoria do ensino-aprendizagem da
dos meios utilizados na verificação da per- matemática. Assim, em 2008, a Sedu-ES
cepção dos alunos. firmou parceria com a Fundação Roberto
Marinho para desenvolver um programa
O relato apresenta contribuições do Pro- de formação continuada em matemática,
grama para o avanço do campo da inves- junto aos educadores que atuam no ensi-
tigação em educação, no contexto brasi- no médio em toda a rede estadual, com os
leiro, por meio da pesquisa longitudinal seguintes objetivos estratégicos: 1 – pro-
na avaliação do desempenho cognitivo mover a melhoria da aprendizagem em
dos estudantes e da adoção, em todas as matemática dos alunos do ensino médio
etapas do processo avaliativo, de métodos da rede estadual do Espírito Santo e 2 –
qualitativos e quantitativos como ferra- promover a apropriação dos princípios e
mentas complementares de pesquisa. recursos do Multicurso pelos professores
da rede estadual.
O documento está estruturado em 4 par-
tes: na primeira, apresentam-se os objeti- Fundamentalmente, a avaliação identi-
vos da avaliação; na segunda, descreve-se ficou se o Multicurso Matemática 2008
a metodologia; na terceira, os principais atingiu os objetivos previstos, por meio da
resultados da pesquisa, relacionados à investigação de seus resultados, no perío-
proficiência dos alunos e à percepção do compreendido entre 2008 e 2010.
pesquisa de avaliação
a) verificação da proficiência dos alunos
A experiência de avaliação nas áreas so- em matemática – aplicação de prova de
ciais (GIL, 1999; MINAYO, 2003; BOAVEN- matemática e questionário sociodemográ-
TURA, 2009), como é o caso da educação, fico, desenvolvido especificamente para
Fonte: MEC, 2005, 2007 e 2009: Avaliação Externa do Multicurso Ensino Médio - Matemática 2008, 2009 e 2010
Fonte: Avaliação Externa do Multicurso Ensino Médio - Matemática 2008, 2009 e 2010.
duas primeiras avaliações, os mais jovens heterogeneidade, foi criada uma medida
alcançaram melhores desempenhos, o de nível socioeconômico (NSE). Esta medi-
que não ocorreu em 2010. Além desses da foi estimada para o conjunto de alunos
grupos de alunos, em 2009 e em 2010, avaliados e a escala foi construída a partir
a proficiência também é maior entre os da utilização de análise de componentes
religiosos. principais, considerando indicadores de
posse de bens econômicos (bens durá-
Uma das evidências estabelecidas de veis), nível de escolaridade dos pais e ren-
forma mais estável no campo da sociolo- da familiar.
gia da educação diz respeito às relações
entre desigualdades sociais e condições Os alunos das SRE de Carapina, Vila Ve-
de oferta educacional. Inúmeras pesqui- lha e os das escolas que ofereciam cur-
sas atestam que o contexto geográfico sos profissionalizantes continuam sendo
onde se insere a escola desempenha os que possuíam melhores condições
papel relevante na distribuição social socioeconômicas. Em 2010, a SRE de
da educação (FRANCO, MANDARINO e Cariacica passou também a integrar este
ORTIGÃO, 2001; ALBERNAZ, FERREIRA e grupo. Estas escolas reúnem, principal-
FRANCO, 2002). mente, os alunos provenientes da Gran-
de Vitória e dos municípios do entorno.
Em termos sociais e econômicos, as popu- As escolas localizadas na zona rural e nas
lações dos municípios capixabas são bem superintendências de Colatina e Guaçuí
diferentes entre si. Com a finalidade de recebem uma clientela com condições
realizar uma análise capaz de captar esta socioeconômicas menos favorecidas.
126
■■ Gráfico 3: Média do desempenho segundo o NSE
269,1
255,4
248,1
245,4
239,8
Fonte: Avaliação do Programa de Formação Continuada - Multicurso Matemática Ensino Médio - ES,
2008/2009/2010.
130
Percepções dos nos, configurando o que se convencio-
professores: aspectos nou denominar de eficácia escolar. Por
contextuais, motivação esse motivo, a avaliação do Multicurso
e práticas pedagógicas Matemática conferiu centralidade à in-
adotadas vestigação desses aspectos em todas as
fases da pesquisa.
A pesquisa sobre fatores associados ao
aumento do desempenho dos alunos,
bem consolidada nos cenários interna- Verificou-se que, segundo os professo-
cional e brasileiro (BROOKE & SOARES, res1, na comparação entre 2008 e 2010,
2008), tem enfatizado a relação do re- o problema da falta de recursos finan-
sultado educacional com indicadores ceiros se ampliou em 5 SRE: Barra de
contextuais e as contribuições expres- São Francisco, Cariacica, Nova Venécia,
sivas dos diferentes agentes escolares São Mateus e Vila Velha. Ainda de acor-
(professores, coordenadores e direto- do com os docentes, esse problema, em
res) na constituição de uma cultura da 2010, é menor nas SRE de Afonso Cláu-
unidade escolar que favorece a apren- dio, Cachoeiro de Itapemirim, Carapina,
dizagem e o bom desempenho dos alu- Colatina, Guaçuí e Linhares.
1 As escolas apresentadas nos gráficos 5, 6 e 7 foram construidas a partir das respostas dos 366 professores que
participaram dos surveys de 2008 e 2010.
SRE, quadro compatível com a realidade apenas nas SRE de Afonso Cláudio, Carapi-
do professorado da rede pública de outros na, Guaçuí e Nova Venécia. Por sua vez, os
estados, analisada em vários estudos dos resultados foram menos favoráveis nessa
últimos anos (UNESCO, 2003; 2004; OLI- comparação nas SRE de Barra de São Fran-
VEIRA et al., 2004). cisco, Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica,
Colatina, Linhares São Mateus e Vila Velha.
Um dos aspectos relevantes do processo A tendência, portanto, é de piora.
de ensino-aprendizagem é a avaliação do
aluno. A utilização de diversas formas de O gráfico 7 apresenta situações distintas
avaliação pode oferecer diferentes visões em relação ao uso de recursos pedagó-
sobre como os alunos estão aprendendo gicos pelos professores de matemática
os conteúdos ensinados, favorecendo diag- nas SRE, na comparação entre 2008 e
nósticos mais acurados da aprendizagem. 2010. Enquanto cerca da metade das
Na comparação entre 2008 e 2010, houve SRE – Afonso Cláudio, Barra de São Fran-
maior diversificação nas práticas avaliativas cisco, Cariacica, Colatina e Guaçuí – evi-
134
■■ Tabela 3: proporção de professores que atribuíram
total ou média concordância segundo alguns aspectos
proporcionados pelo multicurso - 2010
Professores (%)
Aspectos proporcionais Nível de concordância
Total (5) Média (4)
Sinto-me mais seguro (a) em relação aos conteúdos que ensino 49,6 34,5
Sinto-me motivado para buscar materiais pedagógicos mais criativos 52,3 36,6
Percebo que houve melhoria na motivação dos alunos para estudar
32,7 38,3
matemática
Aumentou a chance de compartilhar problemas e práticas
45,4 37,2
pedagógicas com os colegas
Fonte: Avaliação do Programa de Formação Continuada - Multicurso Matemática Ensino Médio - ES, 2010.
Considerações finais
Uma vez expostos os principais resultados O Multicurso Matemática configura-se
observados na avaliação externa do Mul- como proposta de intervenção no en-
ticurso Matemática, apresentamos nesta sino médio, última etapa da educação
seção algumas considerações sobre estes básica, destinada à consolidação e ao
resultados, suas relações com os objetivos aprofundamento dos conhecimentos
do Programa e suas contribuições para a adquiridos no ensino fundamental, à
melhoria da qualidade dos processos de preparação básica para o trabalho e a ci-
ensino-aprendizagem em nosso país. dadania, ao aprimoramento do educan-
136
ênfase conferida às práticas pedagógicas Nesse sentido, recomenda-se que, em ou-
contextualizadas. Além disso, as dificul- tras análises, seja enfatizada a pesquisa
dades conceituais dos professores estão de natureza qualitativa, em todas as fases,
sendo identificadas e enfrentadas, com que contribua para a compreensão dessas
sucesso, segundo os próprios. diferentes situações. Propõe-se, também,
em especial, um estudo de caso junto a
Considerando a avaliação amplamente professores, diretores, coordenadores e
positiva do Multicurso como programa de alunos da SRE de Afonso Cláudio com o
formação continuada, pelos professores, é objetivo de identificar que aspectos con-
possível sugerir que os resultados do Pro- tribuíram de forma constante para o de-
grama, em relação aos professores, sejam, sempenho positivo dos alunos.
neste momento, mais visíveis no âmbito
das ações do próprio Multicurso, sem que Por fim, espera-se que o presente artigo,
os efeitos tenham se irradiado com a mes- com a análise do ciclo 2008-2009-2010
ma intensidade e qualidade nas escolas, do Programa Multicurso, além das con-
lembrando que outros atores envolvidos, tribuições verificadas no que concerne à
tais como gestores escolares não partici- melhoria da qualidade dos processos edu-
param do mesmo processo. cacionais, forneça subsídios para a tomada
de decisões, aprimoramento das práticas
De toda forma, cabe assinalar uma grande de ensino-aprendizagem e que a discussão
diversidade de situações entre as SRE no dos seus resultados inspire todos os ato-
que diz respeito ao professor, à sua mo- res envolvidos a buscar alternativas para
tivação, às suas práticas e possibilidades, a educação pública de qualidade para to-
sugerindo que, em outras oportunidades, dos, não apenas em relação aos conteúdos
a pesquisa possa inserir análises contex- de matemática e não apenas no estado do
tualizadas localmente a fim de traçar uma Espírito Santo, mas em relação às demais
evolução precisa dos resultados. disciplinas e em todo o território nacional.
Introdução
As comunidades negras rurais, sileiro passou a corrigir a histórica
Marina Pereira Novo* também conhecidas como qui- exclusão das “comunidades rema-
Júlio César Borges*
lombos, são grupos que possuem nescentes de quilombos”2. Além
Rovane Battaglin Schwengber Ritzi*
Júnia Valéria Quiroga da Cunha* identidade étnica diferenciada e de reconhecer a contribuição des-
Cristiane dos Santos Pereira* dependem da terra para sua re- ses grupos para a formação do pa-
Alexandro Rodrigues Pinto*
produção física, social, econômica trimônio cultural brasileiro, a Carta
* Ministério do Desenvolvimento e cultural. A definição legal, con- Magna lançou as bases legais para
Social e Combate à Fome
tida no Decreto nº 4.887/2003, a afirmação da cidadania desse
assinala que estas comunidades segmento da população brasileira
são: grupos étnico-raciais, segun- ao determinar a emissão de títulos
do critérios de autoatribuição, com de propriedade definitiva das ter-
trajetória histórica própria, dotados ras ocupadas pelos “remanescen-
de relações territoriais específicas, tes das comunidades dos quilom-
com presunção de ancestralidade
bos”. Avançando nessa direção, o
negra relacionada com a resistên-
Decreto nº 4.887, de 20 de no-
cia à opressão histórica sofrida1.
vembro de 2003, regulamentou os
Todavia, estas comunidades pas- procedimentos para identificação,
saram a ser reconhecidas como delimitação, demarcação e titula-
grupos específicos apenas com ção das terras ocupadas pelas co-
a promulgação da Constituição munidades quilombolas. Ainda em
Federal de 1988: por meio dos 2003, foi instituída a Secretaria de
artigos 215 e 216 e do artigo 68 Políticas de Promoção da Igualda-
do Ato das Disposições Constitu- de Racial (SEPPIR). Com status de
138
cionais Transitórias, o Estado bra- ministério, a SEPPIR é responsável
138
pela coordenação e avaliação das políti- federais, entre eles o Ministério do De-
cas públicas afirmativas de promoção da senvolvimento Social e Combate à Fome
igualdade racial e de combate à discrimi- (MDS), e têm como principais objetivos a
nação racial e étnica . 3 garantia do acesso à terra; ações de saú-
de e educação; construção de moradias,
Baseando-se nos preceitos legais assinala- eletrificação; recuperação ambiental; in-
dos, foi criado, em março de 2004, o Pro- centivo ao desenvolvimento local; pleno
grama Brasil Quilombola (PBQ), que reúne atendimento das famílias quilombolas
ações do Governo Federal para as comu- por programas de transferência de ren-
nidades quilombolas e cuja coordenação da, como o Bolsa Família, e medidas de
está a cargo da SEPPIR. As metas e recursos preservação e promoção das manifesta-
do PBQ envolvem 23 ministérios e órgãos ções culturais quilombolas.
2 O termo “comunidade remanescente de quilombo” consta no artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias. A Associação Brasileira de Antropologia (ABA), por meio do Grupo de Trabalho sobre Terra de Quilombo,
emitiu uma nota, em 1994, na qual adverte quanto aos riscos que ele traz ao supor que tais grupos seriam isolados ou
compostos por população homogênea. Segundo a ABA, “o termo quilombo não se refere a resíduos ou resquícios ar-
queológicos de ocupação temporal ou de comprovação biológica. (...) Consistem em grupos que desenvolveram práticas
cotidianas de resistência na manutenção e reprodução de seus modos de vida característicos e na consolidação de um
território próprio” (ABA apud O’Dwyer, 2002: 18).
Período de Instituição
Pesquisa Descrição
realização executora
Mapeamento das comunidades quilombo-
Pesquisa de Avaliação
las contempladas com as ações estruturan-
das Ações Estruturan- Julho a
tes e avaliação dos processos de imple-
1 tes das Comunidades novembro FEC / DATAUFF
mentação dessas ações estabelecidas pelo
Quilombolas – primei- de 2006
Convênio n° 006/2003, firmado entre o
ra avaliação
MDS e a Fundação Cultural Palmares.
142
afirmaram que a quantidade de alimentos
Chamada Nutricional
consumidos no mês era suficiente.
de Crianças
No que diz respeito à avaliação específi-
Quilombolas Menores
ca das ações implementadas, houve ca- de Cinco Anos de Idade
sos em que a ação estruturante recebida
foi inadequada diante das características
Apresentação
socioeconômicas e ambientais das comu- Em 2006, foi realizada a “Chamada Nutri-
nidades. Em outros casos, embora a ação, cional de Crianças Quilombolas Menores
em sentido amplo, fosse adequada, o tipo de Cinco Anos de Idade”. Este estudo teve
de equipamento recebido não se prestava um caráter pioneiro, visto que não existia
à utilização, por conta de especificidades no Brasil um diagnóstico nacional da situa-
socioeconômicas e ambientais. Houve ção socioeconômica destas comunidades
também problemas de inadequação de ou da situação nutricional das crianças
infraestrutura. quilombolas menores de 5 anos. O obje-
tivo da Chamada Nutricional foi avaliar a
Em síntese, poucos equipamentos encon- situação nutricional das crianças quilom-
travam-se em utilização, tendo gerado, até bolas na referida faixa etária, vacinadas
o momento, baixo resultado no que tange em 20 de agosto de 2006 (Dia Nacional
ao aumento da renda da família, aumento de Vacinação – 2ª etapa), visando conhe-
da área e/ou produção da família, quan- cer a situação em que se encontravam
tidade de alimentos consumidos pela fa- para possibilitar estabelecer/reestruturar
mília e introdução de novos alimentos na políticas públicas e ações focalizadas para
dieta familiar. Após esta avaliação e tam- essa população. A opção de desenvolver o
bém após a realização de outras avalia- estudo associado à campanha nacional de
ções internas à Secretaria Nacional de Se- vacinação pautou-se na necessidade de
gurança Alimentar e Nutricional (SESAN), otimizar os recursos requeridos para uma
o MDS optou pelo cancelamento do Pro- investigação desta envergadura, possibi-
grama, priorizando outras ações também litando que fossem utilizadas tanto a es-
estruturantes, como é o caso do Programa trutura como a mobilização da campanha,
de Aquisição de Alimentos (PAA). reconhecidamente exitosa.
6 ANJOS, R. S. A. Territórios das comunidades remanescentes de antigos quilombos no Brasil: primeira configuração
espacial. Brasília, DF: Mapas Editora & Consultoria,1999.
Avaliação
Metodologia
Diagnóstica: acesso
das comunidades Diante dos objetivos da pesquisa, optou-
-se pela utilização de técnicas qualitativas
quilombolas aos para a coleta de dados – entrevistas em
programas do MDS profundidade e grupos focais. A pesqui-
sa de campo foi levada a cabo em 60 co-
Apresentação munidades quilombolas8. No total, foram
A pesquisa “Avaliação Diagnóstica: acesso conduzidos 82 grupos focais com benefi-
das comunidades quilombolas aos progra- ciários e não beneficiários de programas
mas do MDS” teve como objetivo principal sociais geridos pelo MDS e 275 entrevis-
avaliar, mapear e georreferenciar os equi- tas em profundidade com os gestores fe-
pamentos de assistência social básica e derais, estaduais e municipais de políticas
os serviços assistenciais ofertados pelos de assistência, com os beneficiários e não
diferentes níveis de governo, bem como o beneficiários de programas e com lideran-
acesso das comunidades quilombolas aos ças comunitárias. Este trabalho de coleta
programas do Ministério. de dados foi realizado no período de abril
a outubro de 2008.
Neste sentido, buscou-se levantar as se-
guintes informações: a) características As entrevistas em profundidade foram
socioeconômicas das famílias; b) per- distribuídas da seguinte forma: uma com
cepções a respeito dos critérios de se- o representante do MDS, 64 com benefi-
leção para os programas do MDS; c) per- ciários de programas do MDS, 48 com não
7 O Consórcio de Informações Sociais (CIS) é um sistema de intercâmbio de informações científicas mantido pela
Universidade de São Paulo (USP) e pela Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS).
Disponível em: <http://www.nadd.prp.usp.br/cis/index.aspx>.
8 À exceção de cinco comunidades, que foram substituídas, esta pesquisa foi realizada nas mesmas comunidades
pesquisadas na Chamada Nutricional, realizada anteriormente.
Principais resultados
Pesquisa de Avaliação
No que tange às condições de vida das
comunidades quilombolas, o estudo de-
da Situação de
monstrou que elas passam por diferentes Segurança Alimentar
e, às vezes, combinadas formas de priva- e Nutricional em
ção, que geram um baixo padrão de bem- Comunidades
-estar assim como possivelmente contri-
Quilombolas Tituladas
buem para a reprodução geracional da
pobreza, miséria e exclusão. Apresentação
Trata-se de estudo transversal de base
Os dados coletados tornam evidente que
populacional com metodologia quanti-
os quilombolas enfrentam problemas em
tativa, realizado em comunidades qui-
diferentes intensidades e de diferentes
lombolas que obtiveram título de posse
tipos, notadamente nos campos do aces-
coletiva da terra emitido pelo Instituto
so ao emprego e renda, da educação e
Nacional de Colonização e Reforma Agrá-
da saúde. Em função desses problemas,
ria (INCRA) ou por órgãos oficiais esta-
os programas sociais dirigidos a eles são
duais. O objetivo da pesquisa é avaliar o
percebidos como importantes, mas, ao
perfil nutricional de crianças quilombolas
mesmo tempo, como insuficientes e limi-
menores de cinco anos de idade, a situa-
tados. Além disso, eles enfrentam distin-
ção de segurança alimentar e nutricional
tos problemas de acesso aos programas
e o acesso das famílias a serviços, bene-
em geral.
fícios e programas governamentais, bem
como descrever o perfil socioeconômico
Até mesmo em relação aos programas de das 177 comunidades quilombolas titu-
mais fácil acesso e de maior universalização, ladas entre 1995 e 2009, distribuídas em
como o Programa Bolsa Família e a distribui- 55 municípios e 14 estados.
ção de Cestas de Alimentos, há problemas
de acessibilidade. Essas dificuldades são di-
versas e parecem exercer algum impacto na Metodologia
demanda sobre os programas. A fim de cumprir com os objetivos propos-
tos, foi feito um censo de todas as famí-
Análogo ao processo de disseminação dos lias, com coleta de dados antropométricos
resultados das pesquisas anteriores, a de todas as crianças com menos de cinco
SAGI promoveu reunião técnica de apre- anos de idade. Além disso, em cada co-
148
munidade, todos os domicílios visitados e Com intuito de fomentar o protagonis-
equipamentos públicos disponíveis foram mo social das comunidades quilombolas
georreferenciados e codificados com o uso na implementação de políticas públicas
de aparelhos eletrônicos que operem no voltadas para este segmento, a SAGI, em
Sistema de Posicionamento Global (GPS). parceria com a SEPPIR, organizou oficinas
Em cada comunidade, é aplicado um ques- técnicas regionais de apresentação da
tionário junto à liderança local, contem- pesquisa (metodologia, abordagem, obje-
plando questões sobre a produção coletiva tivos), com vistas à mobilização dos ato-
e distribuição de alimentos; equipamentos res. Trata-se de oficinas com participação
públicos existentes; organizações sociais das lideranças das comunidades visitadas,
presentes, dentre outros temas. bem como de parceiros fundamentais
para a qualidade da pesquisa e apropria-
A Pesquisa de Avaliação da Situação de ção dos resultados (como, por exemplo,
Segurança Alimentar e Nutricional em Co- os governos locais, universidades e repre-
munidades Quilombolas Tituladas insere- sentantes de outros ministérios).
-se num amplo esforço – que tem mobili-
zado instituições bastante diversas como Estes encontros são ações estratégicas
a SEPPIR, o Ministério da Saúde (MS), o para a consecução da pesquisa, na medi-
INCRA, além de organizações não gover- da em que marcam o compromisso – tan-
namentais – destinado ao levantamento to das unidades executoras quanto das
sistemático de dados sobre as situações comunidades participantes – com a sua
em que as comunidades quilombolas vi- realização satisfatória. São a oportunida-
vem e seu nível de acesso aos serviços e de para prestar os devidos esclarecimen-
programas sociais. tos técnicos e metodológicos e, com isso,
colaboram com o protagonismo social das
Sabendo que o estado nutricional é um comunidades quilombolas no processo de
legítimo indicador das condições de vida implementação de políticas públicas vol-
das populações, dispensa-se atenção es- tadas para este segmento.
pecial ao levantamento do quadro descri-
tivo da situação de segurança alimentar e A primeira oficina aconteceu em Brasília-DF,
nutricional das comunidades quilombolas em novembro de 2010, e contou com a
tituladas. Espera-se que os dados cole- participação de cerca de 30 lideranças
tados contribuam com a configuração do das comunidades das regiões Centro-
perfil socioeconômico das comunidades -Oeste e Sudeste. A segunda oficina
e, mais além, sirvam de subsídios para a aconteceu em fevereiro de 2011, em
formulação de políticas públicas que pro- Belém-PA, com a participação de cerca de
movam o bem-estar social dessas pessoas. 150 pessoas, entre lideranças quilombo-
150
rias e de segurança alimentar muito pre- aproximação do poder público com as
cárias, especialmente se comparadas aos especificidades territoriais, ambientais,
índices nacionais. Ao revelar esse quadro sociais e culturais das comunidades qui-
de exclusão com dados oficiais, estes lombolas e empodera os movimentos so-
levantamentos vêm contribuindo com a ciais envolvidos.
sensibilização dos gestores públicos para
a difícil realidade vivenciada pelos qui- Com esse intuito, foram concebidas e re-
lombolas, ajudando na sua visibilidade alizadas oficinas regionais – com ampla
perante o Estado. participação de lideranças quilombo-
las – como forma de preparação política
Várias foram as lições aprendidas duran- da Pesquisa de Avaliação da Situação de
te o percurso de cinco anos que separa o Segurança Alimentar e Nutricional das
primeiro estudo feito pelo MDS da atual Comunidades Quilombolas Tituladas. Por
pesquisa em andamento sobre segurança outro lado, o Programa Brasil Quilombola,
alimentar e nutricional das comunidades ante o PPA 2012-2015, impõe como desa-
quilombolas tituladas. Talvez a principal fio a concepção de um sistema unificado
delas seja a necessidade de aperfeiçoar de informações sobre as comunidades e
os mecanismos de participação social famílias quilombolas, acessível e manejá-
dos quilombolas na concepção, execução vel pelas diferentes instituições integran-
da coleta de dados e análise dos resulta- tes do programa. Assim, com informações
dos das pesquisas, tendo em vista o uso qualificadas e sistematizadas, participa-
das informações produzidas no desenho ção social e comunicação interinstitucio-
e implantação de políticas públicas dife- nal, será possível aprimorar o desenho e
renciadas. Tal participação, além de dar a implementação de estratégias de erra-
maior legitimidade ao processo de cons- dicação extrema pobreza entre os quilom-
trução do conhecimento, potencializa a bolas do Brasil.
Orientador: Prof. Dr. instituição. Também foram realiza- vidades implementadas e não con-
Alcides Fernando das pesquisa documental e entre- siderou o deficit financeiro existen-
Gussi (UFC) vistas com os gestores, professores te nas universidades. Os resultados
e alunos da UFT, com o objetivo de da avaliação apontam que o Reuni,
reconstruir a trajetória do progra- no limitado período analisado, ain-
Palavras-chave: ma na instituição. A pesquisa de da que se coadune ao atual contex-
Avaliação de políti- campo envolveu, ainda, o levanta- to político de expansão no ensino
cas públicas; Políticas mento do perfil socioeconômico superior na UFT, não apresenta, até
educacionais; Demo- dos alunos dos cursos criados a o presente momento, uma tendên-
cratização; Reuni-UFT. partir do Reuni. Do universo de 62 cia democratizante no sentido de
alunos que responderam aos ques- inclusão social e de distribuição
tionários, os dados revelaram que de qualidade acadêmica indepen-
entrevistados, na sua maioria, são dente de condicionantes sociais e
jovens, solteiros, não moram com a regionais.
152
resumos e resenhas
Resumo de dissertação
Avaliação da Implementação
da Política de Educação Escolar
Índigena no Território Tapeba (CE)
153
resumos e resenhas
Resumo de dissertação
Enfrentando a violência com a
participação juvenil: avaliação do
Pronasci em Fortaleza
Palavras-chave:
Políticas públicas;
Educação indígena;
Identidade; Cidadania;
Inclusão social.
154
resumos e resenhas
ReseNHa CRÍtiCa do ReLatÓRio do uNiCeF
Situação da Adolescência Brasileira 2011:
O direito de ser adolescente: oportunidade
para reduzir vulnerabilidades e superar
desigualdades
A publicação do Relatório da Situa-
ção da Adolescência Brasileira 2011
pelo Fundo das nações unidas para
a Infância (UNICEF) no final do ano
passado trouxe para a agenda de dis-
cussão pública a importância de polí-
ticas e ações públicas integradas que
tenham os adolescentes como públi-
co-alvo específico. Na tese advogada
pelo relatório, os adolescentes deve-
riam ser reconhecidos não como um
grupo populacional em transição en-
tre a infância e a vida adulta ou como
Situação da Adolescência Brasileira 2011:
Resenha Crítica do Relatório do UNICEF
um contingente rebelde, instável, Marina Pereira Novo
O direito de ser adolescente: oPortunidade propenso a situações de conflito, mas
Para reduzir vulnerabilidades e suPerar
Júnia Quiroga
como sujeitos de direitos a políticas
desigualdades / Fundo das Nações Unidas
e programas específicos. Capacidade Paulo Jannuzzi
Para a Infância. Brasília, DF: UNICEF, 2011.
182PP. de interagir, de lidar com informações
pouco estruturadas e analógicas, de
se comunicar, de participar de ativida-
des coletivas, impulsividade, desejo
de mudanças, de extrapolar limites,
intransigência, curiosidade pelo novo,
são características inerentes aos ado-
lescentes e não “problemas” da ado-
lescência; são atributos que deveriam
ser considerados na formulação de
políticas a eles dedicadas.
158
sos pesquisadores brasileiros na década salário mínimo per capita diminuiu de
passada. Vasta produção acadêmica tem 16,1% para 9,6% entre 2004 e 2009.
demonstrado a importância da políti- Evidências adicionais e definitivas da
ca de aumento real do salário mínimo e queda expressiva da pobreza e extrema
da expansão do Programa Bolsa Família pobreza no país e no segmento de ado-
na redução da pobreza no país ao longo lescentes em particular são trazidas pela
dos últimos anos. Afinal, o aumento real comparação dos dois últimos Censos
do salário mínimo foi superior a 50% en- Demográficos: em 2000, cerca de 4,7 mi-
tre 2004 e 2011 e, no mesmo período, o lhões de adolescentes viviam com renda
Bolsa Família passou de 3,6 milhões para domiciliar per capita de até 70 reais; em
13,2 milhões de famílias beneficiárias po- 2010, a cifra equivalente era de 2,5 mi-
bres, compostas, em sua larga maioria, de lhões, contingente 45% menor.
crianças e adolescentes. Como negar que
esforços tão expressivos em política so- Assim, corroborando tantos outros estu-
cial não tenham impactado na redução de dos, os dados aqui apresentados revelam
pobreza entre os adolescentes? que, ao contrário do registrado no rela-
tório sobre a Situação da Adolescência
Não bastassem essas evidências, repro- Brasileira, o número de adolescentes em
duzindo o estudo do UNICEF com a linha situação de pobreza efetivamente dimi-
de pobreza adotada no relatório, com a nuiu nos últimos dez anos. Ainda assim,
mesma fonte de dados – PNAD –, mas, com todo o esforço governamental men-
diferentemente do estudo, aplicando cionado, há um contingente significativo
o procedimento metodológico básico, de adolescentes na extrema pobreza, em
usual e necessário para comparar va- situações de atraso e desestímulo escolar,
lores monetários ao longo de períodos de trabalho e gravidez precoce ou sub-
diferentes – deflacionamento com base metidos à violência, exploração sexual e
em um índice de custo de vida, no caso tráfico de drogas, público-alvo de várias
o Índice Nacional de Preços ao Consu- iniciativas e ações governamentais no
midor (INPC) –, a parcela de adolescen- presente, seja no governo federal, esta-
tes que viviam com até um quarto de dos ou municípios.
160
censo suas 2010 alimento: direito sagrado
cras, creas, Gestão municipal, Gestão pesquisa socioeconômica e
estadual, conselhos municipais, cultural de povos e comunidades
conselhos estaduais e rede privada tradicionais de terreiros
Ministério do Desenvolvimento Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome Social e Combate à Fome
A publicação Censo SuAS 2010 apresenta os re- O livro Alimento: Direito Sagrado é fruto
sultados do levantamento anual de informações da Pesquisa Socioeconômica e Cultural de
sobre os serviços, programas, projetos e unidades Povos e Comunidades tradicionais de ter-
da assistência social. Em 2010, foram coletadas reiros e apresenta os resultados do estudo
informações sobre os CRAS, os CREAS, a gestão realizado nas regiões metropolitanas de Be-
municipal, a gestão estadual, os conselhos mu- lém, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife.
nicipais e estaduais de assistência social e sobre Ao total, 4.045 comunidades de terreiros
a rede privada de prestação de serviços. Além participaram da pesquisa. Elas representam
de produzir dados oficiais e confiáveis sobre a territórios de preservação e de culto das
implementação da política de assistência social religiões de matriz africana, afro-brasileira
no Brasil, o Censo tem por objetivo aperfeiçoar a e afro-indígena e oferecem acolhimento e
gestão do SuAS e a qualidade dos serviços socio- prestação de serviços sociais, em especial
assistenciais prestados à população. Os gestores ações de segurança alimentar e nutricional.
e conselheiros de assistência social nos três ní- Além dos resultados, a publicação traz um
veis federativos terão acesso a um conjunto de artigo do antropólogo José Jorge Carvalho,
informações que permitirá a identificação dos depoimentos das lideranças do povo de san-
desafios e problemas a serem enfrentados para to que participaram da coleta de dados em
consolidação do Sistema Único de Assistência cada região metropolitana e um texto sobre
Social. A iniciativa é finalista do 16º Concurso de os desafios metodológicos enfrentados.
inovação da Gestão Pública Federal.
Editora: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Editora: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
ISBN: 978-85-60700-50-9 ISBN: 978-85-60700-55-4
161
International Conference
notas em M&A
on National Evaluation
Capacity 2011
Joanesburgo, 12 a 14 de setembro de 2011
1. Introdução
O escritório de avaliação da Quiroga (Secretaria de Avalia-
ONU (UN Evaluation Office) es- ção e Gestão da Informação do
tabeleceu como tarefa promo- Ministério do Desenvolvimento
Márcia Paterno Joppert
ver uma Conferência Internacio- Social e Combate à Fome), Már-
Júnia Valéria Quiroga nal em Capacidades Nacionais cia Joppert (Rede Brasileira de
Armando José Vieira Filho em Avaliação com frequência Monitoramento e Avaliação),
bianual. A primeira Conferência Selma Serpa (Tribunal de Con-
Selma Maria Hayakawa
Cunha Serpa foi realizada em Marrocos, em tas da União) e Armando José
2009. A segunda foi realizada Vieira Filho (Secretaria de As-
em Joanesburgo, África do Sul, suntos Estratégicos da Presi-
em setembro de 2011, e contou dência da República).
com a presença de represen-
tantes tanto do setor governa- A Conferência, com duração de
mental como de organizações três dias, teve como tema nortea-
da sociedade civil dedicadas a dor “O Uso da Avaliação” e contou
desenvolver o tema avaliação com uma discussão conceitual, 2
nos diversos países. O Brasil sessões plenárias, seguidas por 2
foi representado por uma dele- painéis paralelos cada uma, com
gação de quatro pessoas: Júnia apresentações de 24 países.
162 162
2. Resumo das
apresentações
Expõe-se abaixo um resumo das apresen- —— o campo da avaliação em um país
tações e conclusões. necessita de um líder, um padrinho
forte. A Colômbia mostrou bem a
importância disso – conclusões e
Sessão Plenária 1: Utilização recomendações do seu sistema de
da Avaliação pelas Políticas avaliação permitiram alcançar pro-
Públicas e Programas gresso e melhorar o desempenho do
– Desafios, Fatores e governo;
164
últimos 25 anos e as lições aprendidas: O Brasil apresentou os desafios da imple-
usuários primários da avaliação devem mentação da prática avaliativa no MDS: a
entender os seus propósitos; o uso e a dis- cultura, a interdisciplinaridade e a rotativi-
seminação devem ser pensados desde o dade da equipe, o convencimento dos par-
plano de trabalho; um fator de sucesso foi ceiros sobre a importância das avaliações,
o envolvimento do Ministério da Fazenda. a definição da agenda, os ritmos diferen-
Foram apontados como assuntos penden- tes entre os resultados e a necessidade da
tes a intensidade do uso dos resultados, o gestão, além da falta de experiência em
equilíbrio entre as funções dos usuários e processos de contratação desse tipo.
a independência das avaliações, bem como
a possibilidade de descoberta pelos usuá-
rios do potencial valor das avaliações.
Painel 3: Monitoramento
como Fator de Facilitação do
O Marrocos apresentou a experiência do
Uso da Avaliação
Observatório Nacional de Desenvolvi- Neste painel, as apresentações do Malawi,
mento Humano, que tem por missão ana- Nigéria, Tajiquistão e Tanzânia tiveram foco
lisar e avaliar o impacto dos programas de nos desafios enfrentados pelos países em
desenvolvimento humano e propor medi- seus trabalhos de monitoramento, identi-
das e ações para o seu aprimoramento. É ficados a seguir:
baseado em um sistema de informações
centralizado, que coloca à disposição do —— dificuldades na disponibilização de
público informações estruturadas e docu- dados estatísticos, especialmente re-
mentadas, construídas a partir de dados lativos às metas de desenvolvimento
existentes, relativas ao desenvolvimento do milênio. Não há uma metodologia
humano, para auxiliá-los em suas ativida- comum para coleta dos dados;
des de compreensão, análise a avaliação —— limitação de monitoramento partici-
de tais políticas. pativo. Foram desenvolvidos comi-
tês que permitem aos cidadãos par-
O México mostrou o modelo institucional ticiparem nos processos de coleta
criado para conduzir um conjunto de ava- de informações e sistematização de
liações dos projetos sociais e o modelo experiências, o que promoveu um
de Avaliação de Desempenho Específico maior senso de pertencimento;
166
—— sincronização da avaliação com o Duas conclusões: o uso da avaliação
ciclo de planejamento e orçamento depende de 3 fatores: ambiente pro-
– poderia ser emulada pelos países pício (pode existir ou não a cultura de
que a praticam; boa governança de políticas públicas,
168
sociedade civil e de estreitamen- lizados, propôs-se a enfrentar o
to das relações com o Instituto desafio de abordar todo o sistema,
168 de Pesquisa Econômica Aplicada realizando propostas para abarcar
todos os Direitos Humanos. Para tal, a SDH/ Constituição Federal do Brasil de 1988,
PR tem firmado parcerias e trabalhado em o que está colocado no Plano Plurianual
rede, contando com a participação ativa de 2012-2015, os acordos postos no Plano
parceiros nacionais e internacionais. Nacional de Direitos Humanos em sua
terceira edição (PNDH-3), além das legis-
O primeiro movimento foi mobilizar as par- lações específicas de cada temática. Isto
cerias internas, como IBGE, IPEA, Ministérios, dá ao país flexibilidade de atender a estas
Governos subnacionais e sociedade civil. peças jurídicas presentes, mas também
Outro passo importante foi olhar para fora, de responder prontamente a quaisquer
e chamar para colaboração os Organismos mudanças que os cidadãos e cidadãs do
Internacionais. Também foram identificados Brasil considerarem pertinentes em um
especialistas nas temáticas, nacionais e inter- ou mais desses instrumentos. Portanto,
nacionais, que pudessem enriquecer tecnica- trata-se de proposta de sistema de indi-
mente as discussões. Foram realizadas várias cadores de Direitos Humanos com caráter
reuniões, além de encontros e seminários, de ferramental de Estado, e não apenas
culminando em um grande seminário inter- de um governo, não respondendo apenas
nacional no ano de 2007, onde participaram a demanda conjuntural. Isto imprime um
representantes nacionais e internacionais caráter mais sustentável ao sistema, assim
da sociedade civil, do governo, de institui- como contribui melhor para empodera-
ções de pesquisa e de órgãos de estatística. mento no tocante a promoção, proteção e
Neste seminário foram ouvidas experiências defesa dos Direitos Humanos, reduzindo
nacionais e internacionais, além de propos- a permeabilidade do sistema a oscilações
tas sobre indicadores para o Brasil. A partir conjunturais e a mudanças de disposição
desta profícua atividade, foram realizadas de agentes unilateralmente. O sistema
conversas com as instituições parceiras e fir- proposto, portanto, não é de governo, mas
mado um acordo com dois organismos inter- da sociedade brasileira como um todo.
nacionais, para apoio à produção do sistema
nacional, a saber: UNFPA e PNUD. Também Para atender ao que se espera dele, o sis-
foram realizados contatos com o Alto Comis- tema se apropria do que está posto na
sariado para Direitos Humanos das Nações legislação nacional e internacional, pois
Unidas, o qual tem participado do desenvol- conforme a Constituição Federal do Bra-
vimento das atividades brasileiras por meio sil, no seu artigo 5º, § 3º, incluído pela
de seu escritório regional, no Chile. Emenda Constitucional nº 45/2004: “os
tratados e convenções internacionais so-
A metodologia adotada trás como vanta- bre direitos humanos que forem aprova-
gem, além de um acúmulo internacional dos, em cada Casa do Congresso Nacional,
na área, a possibilidade de se atender em dois turnos, por três quintos dos vo-
adequadamente ao que está posto na tos dos respectivos membros, serão equi-
174
e aplicação de transferências de recursos contribuir para aprimorar a qualidade do
para municípios mais eficientes, por meio gasto público.
de prêmios para melhores desempenhos,
por exemplo. A pesquisa sobre a saúde Auditoria operacional: a quem interessa?
feita pela palestrante usou como método – a palestra de Dagomar Henriques Lima,
a estimação de fronteiras de produção, do Tribunal de Contas da União, apresen-
na qual se estima a eficiência da prática tou o status atual dessa natureza de audi-
efetiva em função de um nível ideal. Seu toria. Ele ressalta que ela é regrada pela
trabalho concluiu que os municípios pe- Constituição brasileira e que tem passado
quenos foram os menos eficientes, devi- por mudanças devido à experiência in-
do principalmente aos fatores de escala ternacional e novos termos. O caráter de
e demanda reduzida. Além disso, ela res- atribuição de responsabilidades do con-
saltou que os bens e serviços públicos trole externo é importante, mas sua prin-
devem ser ofertados pelo nível de go- cipal função seria o aperfeiçoamento da
verno mais próximo da população, pois gestão pública, além de estimular melho-
está mais apto a responder aos incen- rias de desempenho e desestimular não
tivos de pressão da sociedade e avaliar conformidades. Entre os métodos de res-
suas necessidades. ponsabilizar os agentes do setor público
estão modelos contratuais que premiem
Análise econômico-fiscal de projetos bons desempenhos ou modelos adminis-
de investimento público – Hailton Ma- trativos, por meio de planos de metas a
dureira de Almeida, da Secretaria do Te- serem atingidas. Para ele, auditoria repre-
souro Nacional (STN), ressaltou em sua senta passos em direção a maior transpa-
palestra o papel da STN na avaliação de rência, e não a punição, que só ocorre em
investimentos públicos federais, toman- casos onde a lei é atingida. Para atingir os
do como referência o Programa de Ace- objetivos da auditoria operacional, é im-
leração do Crescimento (PAC) do Gover- portante que os trabalhos executados se-
no Federal. Comentou que as diretrizes jam de qualidade e que se identifiquem
estratégicas da STN são criar condições os interessados, suas necessidades, valo-
para o equilíbrio do resultado nominal e res e expectativas.
1.3 A remessa ou publicação dos trabalhos 1.6 Somente serão aceitos os trabalhos que
não implicará remuneração a seus autores ou preencherem as condições citadas.
outro encargo atribuído a quaisquer das organi-
1.7 Os artigos devem ser enviados em arqui-
zações promotoras ou parceiras da edição.
vos no formato .doc, .docx ou .rtf (Word e Rich
1.4 Os artigos publicados pela Revista Text Format) para o endereço rbma.editorial@
Brasileira de Monitoramento e Avaliação po- gmail.com.
4.1 As informações devem ser completas: 4.4 Materiais retirados da internet devem
autor, título, local, editora, data de publicação. conter o respectivo link e data do acesso.
4.2 A norma adotada é a da ABNT: NBR 4.5 Leis, decretos, etc. devem conter o nú-
6023:2002. mero e a data.
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Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI)
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)
Esplanada dos Ministérios - Bloco A - 30 andar, Sala 307
CEP 70.054-906 - Brasília/DF
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