Parecer Abat 170 Relativizacao Transito
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170-A DO CTN
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artigos 543-B (julgamentos com "repercussão geral" no STF) e 543-C (julgamentos
no regime de "repetitivo" no STJ).
1
Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.
2
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devedor uma da outra, as duas obrigações extinguem-se até onde se
compensarem", considerando que "as dívidas sejam líquidas, vencidas e de coisas
fungíveis" (artigo 369 do Código Civil).
Vale lembrar que o Código Civil, da forma como foi editado, previa em seu
artigo 374 que a compensação civil, automática, seria também aplicada às dívidas
fiscais: "A matéria da compensação, no que concerne às dívidas fiscais e parafiscais,
é regida pelo disposto neste capítulo". Contudo, esse dispositivo não resistiu muito
tempo. Logo foi revogado pela Lei 10.677/2003, editada só com esse objetivo.
Nem poderia ser diferente: o artigo 146, inciso III, da Constituição Federal
prevê expressamente que somente a lei complementar poderá estabelecer regras
gerais sobre obrigações tributárias, no que se incluem as regras para extinção da
obrigação tributária.
Dentro do nosso sistema jurídico, essa lei complementar é o CTN, que foi
editado como lei ordinária (Lei nº 5.172/1966), mas recepcionado pela Constituição
Federal como lei complementar.
O artigo 156, inciso II, do CTN prevê que a compensação é uma das formas
de extinção do crédito tributário. Por sua vez, o artigo 170 do CTN contém a seguinte
previsão:
Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou
cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa,
autorizar a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e
certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda
pública.
(...)"
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Portanto, sem dúvida, a compensação tributária possui contornos diferentes
da compensação civil, pois depende da edição de uma lei autorizando-a. Sobre o
tema, confira-se a lição de Luís Eduardo Schoueri:
"(...)
Nota-se que diversamente do direito privado, a compensação tributária
pode cobrir créditos vincendos, não apenas os vencidos.
Mais tarde, foi editada a Lei nº 9.430/96, que em seu artigo 74 estabeleceu
um regime diferente daquele previsto na Lei nº 8.383/91: nesse novo regime, o
contribuinte poderia requerer a restituição/compensação de quaisquer tributos então
administrados pela Secretaria da Receita Federal (portanto, excluindo as
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contribuições previdenciárias, então administradas pelo INSS2) pagos indevidamente,
contra quaisquer tributos também administrados pela Secretaria da Receita Federal.
2
Instituto Nacional do Seguro Social
3
Lei nº 9.430, artigo 74, parágrafo 12, inciso II, alínea "e".
4
Lei nº 9.430, artigo 74, parágrafo 2º.
5
Lei nº 9.430, artigo 74, parágrafo 5º.
6
Lei nº 9.430, artigo 74, parágrafo 7º.
7
Lei nº 9.430, artigo 74, parágrafo 12.
5
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exigibilidade do débito que as autoridades fiscais não concordaram em extinguir pela
compensação8.
8
Lei nº 9.430, artigo 74, parágrafos 9º a 11º.
9
Por exemplo, em 1990 foram autuados 9 processos tributários no STF, em 1991 cerca de 1,4mil processos
tributários e em 2000 cerca de 5 mil processos tributários. Vide:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=estatistica&pagina=pesquisaRamoDireitoAnosAnteriore
s
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Foi nesse momento histórico que ocorreu a edição do artigo 170-A do CTN,
para evitar os transtornos para o Erário decorrentes das compensações de tributos
com base em provimentos jurisdicionais provisórios, que posteriormente eram
reformados.
Com base nesse dispositivo do CTN, foi introduzida na Lei nº 9.430/96 uma
hipótese expressa de proibição legal de compensação quando os créditos estiverem
sendo discutidos na esfera judicial, antes do trânsito em julgado - trata-se do art.
74, § 12, "f", 3, da Lei nº 9.430/96. Essa proibição legal foi introduzida pela Lei nº
11.051/2004.
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sendo "não declarada". Como vimos, isso impediria ao contribuinte questionar essa
decisão na esfera administrativa.
Sobre esse tema, o Ministro Gilmar Mendes foi preciso quando do julgamento
do Habeas Corpus nº 102.923/AL:
10
A Emenda Constitucional 45 é de 30 de dezembro de 2004.
8
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princípio da razoável duração do processo ou da celeridade, nos
seguintes termos:
(...)
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"A EC nº 45/04, porém, trouxe poucos mecanismos processuais que
possibilitem maior celeridade na tramitação dos processos e redução na
morosidade da Justiça brasileira. O sistema processual judiciário
necessita de alterações infraconstitucionais, que privilegiem a
solução de conflitos, a distribuição de Justiça e a maior segurança
jurídica, afastando-se tecnicismos exagerados.
10
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Tratando primeiro da repercussão geral, vale lembrar que a Emenda
Constitucional introduziu o § 3º do artigo 102 da Constituição Federal, trazendo um
novo requisito de admissibilidade do recurso extraordinário: a demonstração da
repercussão geral, em que se exige a comprovação da existência de relevância
jurídica, econômica, social ou política na matéria objeto da lide.
O que o texto prescreve é que passa a ser necessária, para que possa
vir a ser admitido e julgado um recurso extraordinário que a repercussão
da matéria discutida seja geral, i.e., que diga respeito a um grande
espectro de pessoas ou a um largo segmento social, uma decisão sobre
assunto constitucional impactante, sobre tema constitucional muito
controvertido, em relação à decisão que contrarie orientação do STF:
que diga respeito à vida, à liberdade, à federação, à invocação do
princípio da proporcionalidade.
11
ALVIM, Arruda. A EC n. 45 e o instituto da repercussão geral. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. et.al.
Reforma do Judiciário: Primeiros ensaios críticos sobre a EC n. 45/2004. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2005, p. 63
11
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O constitucionalista André Ramos Tavares identifica de forma muito clara as
consequências da decisão do STF sobre o mérito dos recursos extraordinários
admitidos com repercussão geral:
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especial e remessa ao Superior Tribunal de Justiça para processamento. Portanto, as
decisões do repetitivo também transcendem os interesses das partes.
Portanto, a partir do momento que decisões são proferidas pelo STJ em sede
de repetitivo, ou pelo STF em sede de repercussão geral, a matéria em discussão
deixa de ser controvertida. Fica pacificado o mérito da discussão - mesmo que as
instâncias inferiores eventualmente profiram decisões divergentes daquelas
proferidas pelo STJ e/ou STF, em última análise deverá prevalecer o entendimento
do STJ e/ou STF.
13
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celeridade, segurança e isonomia às ações julgadas pelos Tribunais Superiores,
valorizando o precedente consolidado nesta sistemática com o intuito de orientar e
uniformizar o entendimento dos demais Tribunais acerca da matéria analisada.
O artigo 170-A do CTN e o art. 74, § 12, "f", 3, da Lei nº 9.430/96 devem ser
interpretados conforme a Constituição Federal para que não alcancem as situações
em que o crédito do contribuinte tiver sido reconhecido por decisão judicial não
transitada em julgado, proferida com base em precedente do STF proferido em sede
de repercussão geral, ou do STJ proferido em sede de recursos repetitivos.
12
E também a consequente proibição de compensação do artigo 74 da Lei nº 9.430/96 antes do trânsito em
julgado da decisão que reconhece o crédito.
13
Vide exposição de motivos da Lei Complementar nº 104, citada acima.
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Alexandre Moraes é didático sobre o conceito da interpretação conforme a
Constituição Federal que aqui se defende:
Nessa mesma passagem, o festejado autor cita decisão em que o STF deixou
muito claro que a redução de alcance é plenamente possível: "A interpretação
conforme plenamente aceita e utilizada pelo STF, no sentido de dar ao texto do
ato normativo impugnado compatibilidade com a Constituição Federal,
mesmo que necessário for a redução do seu alcance." (STF - ADI nº 1.510-
9/SC. Relator Ministro Carlos Velloso. Decisão publicada em 25/02/1997 - não
destacado no original).
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procedente a ação para, com eficácia erga omnes e efeito vinculante,
conferir interpretação conforme, no sentido de que o art. 74 da
MP nº 2.158-35/2001 não se aplica às empresas “coligadas”
localizadas em países sem tributação favorecida (não “paraísos
fiscais”), e que o referido dispositivo se aplica às empresas
“controladas” localizadas em países de tributação favorecida ou
desprovidos de controles societários e fiscais adequados (“paraísos
fiscais”, assim definidos em lei). O Tribunal deliberou pela não
aplicabilidade retroativa do parágrafo único do art. 74 da MP nº 2.158-
35/2001."
É possível notar que o art. 74 acima transcrito não discrimina hipóteses: ele é
genérico; diz que os lucros auferidos por coligadas serão considerados
disponibilizados para a coligada no Brasil. O STF simplesmente reduziu o alcance
dessa norma, evitando uma interpretação que seria inconstitucional - afastou essa
norma no caso de coligadas localizadas em países que não são paraísos fiscais.
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jurídicas devem ser interpretadas de forma que sejam harmônicas entre si. Nesse
sentido, Norberto Bobbio expõe:
"(...)
Chama-se 'interpretação sistemática' aquela forma de interpretação que
extrai seus argumentos do pressuposto de que as normas de um
ordenamento, ou, mais precisamente, de uma parte dele (como o direito
privado, o direito penal), constituem uma totalidade ordenada (ainda
que depois fique um pouco vago o que se deve entender com essa
expressão), e, portanto, é lícito aclarar uma norma obscura ou até
integrar uma norma deficiente recorrendo ao chamado 'espírito do
sistema', mesmo indo de encontro àquilo que resultaria de uma
interpretação meramente literal.
(...)"
(Bobbio, Norberto. in "Teoria geral do direito". 1ed. São Paulo, Martins
Fontes, 2007. Páginas 223 e 224).
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Mas não é só isso. Não admitir essa interpretação também feriria o princípio
da inafastabilidade de lesões de direito da apreciação do Judiciário. Explica-se:
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Lei nº 9.430, artigo 74, parágrafo 17.
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repercussão geral e/ou do STJ em sede de repetitivo. Trata-se do artigo 19 da Lei nº
10.522/02, com a alteração conferida pela Lei nº 12.844/13.
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Nesse sentido, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional editou o Parecer
PGFN/CDA/CRJ nº 396/2013, concluindo que, em prol dos princípios da isonomia, da
vedação ao comportamento contraditório da Administração Pública e da eficiência, a
cobrança de crédito em contraposição ao entendimento consolidado pelos
Tribunais Superiores seria procedimento ineficaz, tendo em vista que o ato do
lançamento tributário não se mostraria apto a alcançar seu fim último, qual seja, a
satisfação do crédito tributário. Confira:
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adequação dos atos e decisões normativos, a teor do disposto no art.
100 e 146 do CTN, e acarreta:
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ordem na hierarquia interna do Ministério da Fazenda, e determina que procuradores
não cobrem e auditores não atuem contra as determinações do STF e/ou do STJ
nesse caso específico.
Assim como ocorre nos casos do capítulo anterior, em que não existe
"parecer" da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, não admitir a compensação
antes do trânsito em julgado violaria os seguintes princípios constitucionais:
(i) artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal, que assegura a garantia
fundamental à "razoável duração do processo" e "celeridade de sua tramitação"; e
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específico também viola o artigo 37 da Constituição Federal, que prevê os princípios
da moralidade e da eficiência administrativas.
Ademais, não permitir a compensação nesse caso criaria uma situação em que
o contribuinte que optou por não levar a discussão ao Judiciário será beneficiado pela
aplicação das decisões do STF e/ou STJ ao seu caso imediatamente.
15
Lei nº 9.430, artigo 74, parágrafo 17.
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crédito no processo específico do contribuinte, aplicam-se as limitações à
compensação previstas no 170-A do CTN e no art. 74, § 12, "f", 3, da Lei nº
9.430/96?
Não. Assim como ocorre nos casos do quesito anterior, em que não existe
"parecer" da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, não admitir a compensação
antes do trânsito em julgado violaria os seguintes princípios constitucionais:
(i) artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal, que assegura a garantia
fundamental à "razoável duração do processo" e "celeridade de sua tramitação"; e
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Folha de assinatura do PARECER: COMPENSAÇÃO TRIBUTAÇÃO E ART. 170-A DO CTN.
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Folha de assinatura do PARECER: COMPENSAÇÃO TRIBUTAÇÃO E ART. 170-A DO CTN.
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