3umidade, PH e Cinzas
3umidade, PH e Cinzas
3umidade, PH e Cinzas
PROPÓSITO
Reconhecer o teor de umidade e pH e a sua influência sobre a vida de prateleira, assim
como o
teor de cinzas para a classificação dos produtos. Análises importantes para
avaliar as
características da matriz alimentar e a tomada de decisões para a escolha dos
métodos de
controle dos alimentos são importantes para o conhecimento do aluno de
graduação em
nutrição.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
O pH está relacionado ao teor de ácidos ou álcalis, esse equilíbrio será responsável pela
manutenção da qualidade do alimento. Desse modo, podemos considerar essas determinações
como essenciais para avaliação química dos alimentos.
MÓDULO 1
Determinar o teor de umidade em um alimento é uma das análises mais importantes para
identificação e avaliação da sua estabilidade. O teor de umidade pode interferir na vida
de
prateleira do produto, sendo um fator relevante na determinação do melhor método de
embalagem e estocagem. Entende-se que alimentos com alto teor de umidade serão
deteriorados mais rapidamente do que aqueles com menor teor, como os grãos, por exemplo.
O queijo tem o teor
aproximado de umidade de 40 a 75%. Fonte: NEPA, 2011.
Leite em pó 4%
Queijos 40 a 75%
Manteiga 15%
Frutas 65 a 95%
Açúcar menor de 1%
Ovos 74%
FORMAS DA ÁGUA NO
ALIMENTO
A água apresenta dois modos diferentes de interação com a matriz alimentar, os quais
podem
ser classificados como: água livre e água “presa”, ou ligada. Analisando a maneira
como a
molécula de água interage com a matriz do alimento, a água “presa” está
quimicamente ligada
por diferentes tipos de ligações químicas, podendo então ser
classificada como água absorvida
ou água de hidratação. Desse modo, pode-se considerar
que a água é classificada como:
ÁGUA LIVRE
Presente nos espaços intramoleculares e entre os poros do material. Nesse
nível, a água
mantém sua propriedade física e atua como agente dispersante
para substâncias coloidais e
como solvente. A água livre se apresenta
fracamente ligada aos demais componentes dos
alimentos. Pode servir de meio
de cultivo para microrganismos (provocando alterações nos
alimentos
indesejáveis, levando a alterações na sua qualidade) e como meio para
reações
químicas e bioquímicas (também provocando alterações nos alimentos).
ÁGUA ABSORVIDA
Presente na superfície de macromoléculas, tais como amido, pectina, celulose
e proteínas
ligadas por forças de Van der Waals e pontes de hidrogênio.
DETERMINAÇÃO DE UMIDADE NO
ALIMENTO
Para que haja adequada utilização dos resultados, os dados obtidos nas análises químicas
para determinação da umidade devem ser precisos e exatos. Porém, devido às diferentes
interações entre a água, a matriz do alimento e de algumas limitações das técnicas, essa
necessidade não é de todo atendida.
SAIBA MAIS
Amostras pequenas têm pouca uniformidade, enquanto as maiores podem ter superestimação
devido à decomposição de compostos orgânicos, como os açúcares. A homogeneização das
amostras é importante para aumentar a superfície de contato e permitir que a análise
seja
representativa do alimento.
A fragmentação da amostra realizada com pistilo é necessária em produtos com baixa
umidade
e alta proporção de água ligada, como sementes e plantas secas, para que haja
interação
dessa porção de água com o processo de secagem. Outra particularidade é
observada no caso
de amostras de carnes: mesmo apresentando alta umidade e uma melhora
da permeabilidade
do vapor devido à falta de parede celular, a presença de gordura
diminui a propriedade
dielétrica da amostra, reduzindo a absorção da energia do
micro-ondas, por exemplo.
SECAGEM EM ESTUFA
Metodologia padrão para determinação da umidade no alimento. Descrita pelo Instituto
Adolfo
Lutz (2008), consiste na determinação da umidade do alimento baseada na perda por
dessecação em estufa a 105°C. Essa é a primeira análise que deve ser realizada dentro da
investigação rotineira de uma amostra de alimento. A metodologia é baseada na remoção da
água por aquecimento, sendo o ar quente absorvido por uma camada muito fina do alimento
e
conduzido para o interior.
SAIBA MAIS
Onde:
EXEMPLO
Triplicata
54 57,8 57,7 57,6 57,6
1
Triplicata
55 64 63,8 63,7 63,7
2
Triplicata
53 58,2 58,1 58 58
3
Tabela: Informações
obtidas da análise de umidade de uma amostra de alimento. | Fonte:
Carolina Beres.
Após a terceira pesagem, observa-se que não houve alteração no peso. Isso se caracteriza
como o atingimento do peso constante, ou seja, toda água foi evaporada da amostra.
Portanto,
chegamos ao final do processo de secagem.
Triplicata 2 9g 8,7g
Triplicata 3 5,2g 5g
Em seguida, os valores são aplicados na fórmula, e se obtém o teor de umidade para cada
triplicata da amostra analisada.
Atenção!
Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal
Ao fim da obtenção dos valores da triplicata, deve-se fazer a média aritmética para
determinar
o resultado final da análise. No exemplo citado, os valores devem ser somados
e divididos por
3. O resultado para teor de umidade, portanto, será de
4,1%.
COMENTÁRIO
SAIBA MAIS
SECAGEM EM MICRO-ONDAS
Embora seja novo e rápido, não é incluído como um método padrão. A energia do micro-ondas
é uma radiação eletromagnética com frequência de até 30.000MHz. Dentro do micro-ondas,
moléculas com cargas elétricas dipolares giram na tentativa de alinhar seus polos. Com a
rápida mudança do campo elétrico, a fricção resultante cria um calor que é transferido
para a
molécula vizinha. O micro-ondas pode aquecer o material mais rapidamente, de
preferência
áreas com maior umidade atingindo o ponto de ebulição da água. Consiste em
um método
simples e rápido.
SAIBA MAIS
ETAPA 1
ETAPA 2
ETAPA 3
ATENÇÃO
Método químico comumente utilizado para alimentos que usa o reagente Karl Fischer,
composto por iodo, dióxido de enxofre, piridina e um solvente, que pode ser metanol. Na
análise, a amostra e o reagente devem ser protegidos contra a umidade atmosférica em
todos
os procedimentos, para que não haja interferência.
Quando se trata de amostras coloridas, como sucos de frutas, por exemplo, é melhor optar
pela leitura eletrométrica, na qual são utilizados eletrodos de platina durante a
titulação.
Enquanto existe umidade, o ânodo é despolarizado e o catodo polarizado. Ao
longo da
titulação, a água vai diminuindo, enquanto o iodo aumenta, o que despolariza o
catodo e
resulta no aparecimento de corrente elétrica detectada.
EXEMPLO
MÉTODOS FÍSICOS
Além dos métodos químicos, a determinação de umidade pode ser realizada com métodos
físicos. Os principais métodos seguem brevemente descritos.
ABSORÇÃO DE RADIAÇÃO INFRAVERMELHA
Medida da absorção da radiação em comprimento de onda na região do
infravermelho de 3 a
600µm (micrometros). A técnica é sensível o suficiente
para obter quantidade de água na
ordem de ppm (partes por milhão).
CROMATOGRAFIA GASOSA
Técnica rápida aplicada em alimentos com alto ou baixo teor de umidade, já
que atua de
maneira específica e permite a detecção em larga escala. Pode
ser utilizada em amostras de
cereais, frutas, assim como em derivados desses
alimentos. Porém, é necessário correlacioná-
la ao método padrão de secagem,
já que não se encaixa nos métodos estipulados como
padrão.
ÍNDICE DE REFRAÇÃO
Método simples, rápido e realizado em refratômetro. O método é baseado na
medida do ângulo
de refração da amostra que indica uma relação entre
substâncias sólidas e água. É
considerado um método de pouca precisão.
DENSIDADE
Método rápido, barato, simples, mas pouco preciso. Pode ser utilizado para
amostras com alto
teor de açúcar. A densidade pode ser medida utilizando
densímetro ou vidrarias, como um
picnômetro de precisão.
CONDUTIVIDADE ELÉTRICA
Método baseado no princípio de que a quantidade de corrente elétrica que
passa por um
alimento será proporcional à quantidade de água no alimento. É
considerado um método
rápido, porém pouco preciso. A constante dielétrica de
alimentos, como amido e proteína, é em
torno de 10, enquanto a água tem uma
constante dielétrica de 80. Portanto, uma pequena
mudança na quantidade de
água produz uma grande mudança na constante dielétrica da
amostra. A técnica
é muito utilizada em farinhas, porém pouco precisa.
DETERMINAÇÃO DA ATIVIDADE DE ÁGUA
DOS ALIMENTOS
Diferentemente da umidade, a determinação da atividade de água está relacionada apenas à
água que se encontra livre no alimento. A determinação da atividade de água (aw)
representa a
intensidade de ligação da água com os demais componentes do alimento, ou
seja, o teor de
água livre. Esse parâmetro indica a suscetibilidade de o alimento sofrer
alterações,
principalmente no que se refere àquelas causadas por microrganismos ou por
reações
químicas. Matematicamente, a atividade de água pode ser expressa de acordo com a
equação
abaixo.
P
aw =
PO
Onde:
A partir dessa equação, pode-se afirmar que a maior atividade de água possível é de 1,0
que
corresponde ao valor da água pura, pois não possui solutos em sua composição. Assim
a aw
dos alimentos será sempre inferior à da água pura, pois todos possuem solutos em
sua
composição.
Queijo 37 0,97
Salame 30 0,83
Mel 20 0,70
Macarrão 12 0,50
Quanto maior for a atividade da água, maior será a perecibilidade do alimento. Isso
porque
haverá maior quantidade de água livre para o desenvolvimento dos microrganismos,
promovendo o meio ideal para reações químicas. Os microrganismos que causam os maiores
problemas na área de alimentos crescem e se multiplicam melhor em atividades de água
superiores a 0,85.
EXEMPLO
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Macroelementos
Microelementos
Quanto à origem, os minerais presentes nos alimentos podem ser de ocorrência natural,
provenientes de contaminação durante o cultivo, incorporados involuntariamente durante o
processamento/armazenamento ou intencionalmente adicionados.
SAIBA MAIS
O teor e a composição das cinzas ou resíduo mineral fixo variam de acordo com a origem do
alimento, como indicado nas tabelas a seguir.
Tabela: Principais
fontes de alguns minerais com relevância na alimentação. | Adaptado de
Cozzolino et
al., 2006.
Leguminosas 2,2 a 4%
CINZA TOTAL
Geralmente, utiliza-se uma massa de aproximadamente 5g da amostra que deve ser pesada
em
um cadinho de platina ou porcelana, previamente incinerado e esfriado. O conjunto
cadinho
e amostra deve ser destinado para incineração em mufla, iniciando com
temperaturas mais
baixas e alcançando 500°C.
SAIBA MAIS
INCINERADA EM 500ᵒC
Manteiga.
INCINERADOS EM 525ᵒC
Frutas e derivados, carnes e produtos cárneos, açúcares e produtos
açucarados.
3
INCINERADOS EM 550ᵒC
INCINERADOS EM 600ᵒC
Grãos.
4
EXEMPLO
Triplicata 1 57 66 9 0,4
Triplicata 2 59 65 6 0,3
Triplicata 3 55 64 9 0,5
Tabela: Exemplo de
resultado da análise de cinzas em uma amostra de alimento. | Fonte:
Carolina Beres.
N
cinzas % (m/m) = X 100
P
Onde:
P = peso da amostra.
Nessa técnica, é utilizado um agente oxidante, como, por exemplo, ácido sulfúrico, que
auxilia
na completa decomposição da matriz alimentar. O sal sulfato de potássio também
pode ser
usado para aumentar o ponto de ebulição do ácido, acelerando o processo. Outro
agente
oxidante que pode ser utilizado é o ácido nítrico. Porém, esse agente pode ser
evaporado
antes de a oxidação terminar e pode causar a formação de óxidos insolúveis. A
melhor
indicação, portanto, é o uso de uma mistura de mais de um ácido cujas quantidades
irão variar
com o tipo de amostra.
COMENTÁRIO
ATENÇÃO
A cinza obtida pelo método úmido pode ser utilizada para análise individual de cada
elemento
mineral nela contido. Os métodos utilizados na análise individualizada são
principalmente
absorção atômica, emissão de chama, colorimetria, turbidimetria e
titulometria.
Justamente pelo fato de ser uma análise muito sensível, é necessário que todo material
utilizado seja o mais puro e inerte possível, como quartzo, platina e, em menor grau,
polipropileno. A etapa de limpeza de equipamentos e cadinhos por banho de vapor é
importante para diminuir a interferência e absorção dos elementos.
O PH EM AMOSTRAS DE ALIMENTOS
Por definição, pH é o potencial hidrogeniônico de uma solução. O
pH consiste na
determinação da concentração de íons de hidrogênio (H+) e serve para
medir o grau de acidez,
POTENCIAL HIDROGENIÔNICO
O grau de acidez, neutralidade e alcalinidade de uma solução também pode ser medido de
acordo com o pOH, que é o potencial hidroxiliônico, indicando
concentrações de hidroxilas
(OH+) na solução. O potencial hidroxiliônico, contudo, é o
menos utilizado.
em meio aquoso, liberar como único cátion o H+. Quanto maior a quantidade
desses íons no
meio, maior será a acidez da solução.
EXEMPLO
DETERMINAÇÃO DO PH
As principais metodologias empregadas nas medições de pH utilizam indicadores ou
medidores de pH (eletrônicos ou manuais). Os indicadores são, em geral, ácidos fracos
que
são coloridos ou que mudam de cor quando sofrem uma reação ácido-base, ganhando ou
perdendo íons (H+). Em geral, são reversíveis. Veja na tabela abaixo os principais
indicadores
de pH.
Tabela: Principais
indicadores de pH relacionados com a faixa de pH que sofrem alteração
de cor e as
variações observadas. | Fonte: Carolina Beres.
SAIBA MAIS
HO+. Informa valores precisos de pH, em geral com duas casas decimais, no
entanto precisa
ser calibrado regularmente com soluções-tampão de pH conhecido. Para
efeitos práticos, a
determinação do pH com até duas casas decimais é suficiente para a
precisão desejada nas
análises de alimentos.
A medida do pH com pHmetro se baseia na determinação da atividade dos íons hidrogênio por
meio da medida potenciométrica, usando um eletrodo. A força eletromotriz medida com
eletrodo varia linearmente com o pH.
Para uma adequada aferição do pH, é importante que haja um termômetro para acompanhar a
temperatura, uma vez que pode influenciar no pH da solução. Também é utilizado um
agitador
magnético com barra magnética para adequada homogeneização da solução. Para
calibração,
são utilizadas soluções-tampões com pH 4, 7 e 10. A solução de pH 4 é feita
com biftalato
ácido de potássio; a solução com pH 7 é uma mistura de fosfato diácido de
potássio e de
fosfato ácido dissódico; e a solução de pH 10 contém borato de sódio
decahidratado. Todas
são concentrações conhecidas com os sais químicos diluídos em água
deionizada para não
interferir no pH desejado.
ATENÇÃO
Amostra pH
Vinagre 3,0
Urina 4,8-7,5
Água potável 5,5
Saliva 6,4-6,9
Leite 6,5
Sangue 7,3-7,5
Tabela: Exemplos de
soluções e seus respectivos valores de pH. | Fonte: Carolina Beres.
Onde:
V = volume em mL da solução de hidróxido de sódio
0,1 ou 0,01M gasto na titulação;
DETERMINAÇÃO DO pH EM ALIMENTOS
Cinza total
O pH em amostras de alimentos
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste conteúdo, vimos que a determinação química de alimentos é aplicada em
diferentes áreas. No controle de qualidade, essa determinação é importante para estimar
a vida
de prateleira e a suscetibilidade à contaminação microbiana. Vimos que, na
determinação do
valor nutricional, é relevante conhecer a composição do alimento para
calcular o valor
nutricional e adequar os alimentos às recomendações nutricionais a fim
de atender a uma
alimentação equilibrada. Desse modo, conhecer as técnicas para
determinar a composição do
alimento é importante para a formação do profissional que
atuará nessa área. A determinação
de umidade e cinzas compreende as análises primárias
para o conhecimento da matriz
alimentar.
Aprendemos também que o pH consiste em uma análise que irá contribuir para o
conhecimento
da estabilidade e a segurança do alimento. Juntas, as análises determinarão se
o
alimento está adequado para uso.
PODCAST
Agora, a especialista Carolina Beres finaliza falando sobre a
importância da determinação
das cinzas dos alimentos para indústria de
alimentos.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, AMERICAN WATER WORKSAS-
SOCIATION
WATER, ENVIRONMENT FEDERATION. Standard methods for the
examination of water
and wastewater. Washington, DC: American Public Health
Association, 1995.
EXPLORE+
Diversos trabalhos científicos são publicados com ênfase na caracterização físico-química
de
diferentes produtos, já que essa determinação pode influenciar na qualidade
nutricional e na
vida de prateleira do produto analisado. Leia os artigos a seguir e
observe a relevância
científica das análises de umidade, cinzas e pH para frutas, folhas
e mel.
CONTEUDISTA
Carolina Beres