Artigo - Busca em Base de Dados
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RESUMO
Introdução: Com o crescimento contínuo das informações disponíveis na área da saúde, é fundamental que o profissional da saúde desenvolva
habilidades e competências para realizar buscas de evidências cientificas. Objetivo: Apresentar as principais bases da área da saúde e os meca-
nismos de busca específicos para cada uma delas. Métodos: Estudo descritivo desenvolvido na Disciplina de Medicina Baseada em Evidências
da Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Resultados: Este estudo apresentou os quatro passos
do processo de busca em uma base de dados científica da área da saúde: (1) identificação da pergunta estruturada por meio dos acrônimos
PICO/PECO, (2) escolha da base de dados (3) escolha e uso dos descritores em saúde apropriados para cada base (DeCS/MeSH/EMTREE) e
(4) escolha e uso dos operadores booleanos (AND/OR/AND NOT). Conclusão: O processo de elaboração de uma estratégia de busca para
bases de dados da área da saúde pode ser estruturado em quatro passos iniciais, que vão da identificação da pergunta estruturada ao uso
dos operadores booleanos. Apropriar-se destes passos é fundamental para conseguir elaborar uma estratégia de busca adequada, capaz de
recuperar os estudos de interesse e que abordem realmente a pergunta proposta.
PALAVRAS-CHAVE: Metodologia, medicina baseada em evidências, medical subject headings, bases de dados bibliográficas, ferramenta de busca
I
Psicóloga. Mestre e aluna do Programa de Pós-graduação em Saúde Baseada em Evidências da Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo.
Bibliotecária. Aluna do Programa de Pós-graduação em Saúde Baseada em Evidências da Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo.
II
Médico. Pesquisador do Centro Universitário São Camilo. Aluno do Programa de Pós-graduação em Saúde Baseada em Evidências da Escola Paulista de
III
Google, as bases de dados eletrônicas de literatura biomé- Para perguntas sobre intervenções, em que se deseja encon-
dica usam uma interface amigável para facilitar o acesso a trar um ensaio clínico ou uma revisão sistemática, utiliza-se
assuntos já relacionados com a pergunta de interesse. Assim, o PICO. Para perguntas sobre fator de risco, em que se deseja
aproximadamente 413.000 resultados no Google Acadêmico encontrar um estudo de coorte ou um caso controle, utiliza-
com o termo “myocardial revascularization” tornam-se 99.540 -se o PECO. Existem vários acrônimos relacionados com ou-
no MEDLINE (via PubMed) para uma busca simples usando tros tipos de perguntas, mas que não serão abordados aqui.
o mesmo termo. Identificar a pergunta com os acrônimos PICO/PECO é
As bases de dados na área da saúde são as mais estrutu- uma forma de traduzir a pergunta da pesquisa para termos
radas e variadas de todas as áreas do conhecimento. Com o de estratégia de busca. Cada elemento deve estar claro e con-
contínuo crescimento das informações disponíveis, é funda- ter informação suficiente para facilitar a escolha do termo
mental que o profissional da saúde desenvolva habilidades e correspondente de cada letra da estrutura.2
competências no uso das interfaces para realizar buscas de De todos os passos, identificar a pergunta é o mais impor-
evidências cientificas para (a) embasar sua prática clínica, e tante. Errar a pergunta significa comprometer todo o resulta-
(b) avaliar criticamente as informações recebidas das mais do da busca. Portanto, atenção! Caracterize bem cada letra
variadas fontes. do seu PICO/PECO.
de avaliações econômicas e revisões sistemáticas desenvolvi- Os descritores têm formatos diferentes conforme a organi-
das por pesquisadores externos. É importante saber que, na zação das bases. Os descritores mais conhecidos são MeSH
Biblioteca Cochrane, não são encontrados outros desenhos de (Medical Subheadings) e DeCS (Descritores em Ciências da
estudos, como coorte, caso-controle, relato de caso etc. Saúde). Cada base utiliza seu conjunto de descritores específi-
Se a pergunta clínica é sobre uma intervenção (tratamen- cos, como apresentado na Tabela 2 e, para a maioria delas, há
to e prevenção) e você conseguiu preencher os itens do acrô- uma organização hierárquica dos termos, no sentido dos ter-
nimo PICO com clareza, é interessante iniciar a busca pela mos mais abrangentes (no topo da estrutura hierárquica) aos
Biblioteca Cochrane. mais específicos. Assim, como exemplo, no MEDLINE, quan-
do usamos o termo “multiple sclerosis [MeSH]”, os seguintes
3) Escolha e uso dos descritores em saúde termos aparecem abaixo da estrutura hierárquica: “multiple
Os descritores em saúde compreendem um conjun- sclerosis, chronic progressive [MeSH]” e “multiple sclerosis, re-
to de termos que formam um vocabulário controlado e lapsing-remitting [MeSH]”. Isso quer dizer que os artigos que
são usados como definidores de assuntos para cada base. contenham tais termos serão recuperados (Figura 1).
Os descritores devem ser escolhidos de acordo com os Entre termos sinônimos, utilizamos o operador OR, com
termos utilizados na estrutura da pergunta PICO/PECO, o objetivo de ampliar o número de referências recuperadas,
por isso ela deve ser clara. São como as palavras-chave dos tornando a busca mais sensível. Para termos que precisam
artigos já conhecidos. Apesar de algumas vezes diferentes, estar presentes ao mesmo tempo em um artigo, utiliza-se o
os descritores são interligados e há traduções disponíveis de operador AND. Quando o objetivo é excluir um termo, por
uma base para outra.4 Vale ressaltar a importância do idio- exemplo, quando não se quer recuperar estudos que incluam
ma nesse passo, pois o inglês é o idioma com uma melhor crianças, utilizamos os operadores NOT ou AND NOT antes
recuperação de resultados, já que grande parte da produção dos termos relacionados à “criança”.
cientifica na saúde é em inglês, ou pelo menos o título e re- Ao buscar estudos para responder uma questão clínica es-
sumo de artigos em outros idiomas foram traduzidos para truturada no acrônimo PICO (intervenção e prevenção), ela-
o inglês. boramos a estratégia de busca com os termos referentes ao
Quando ainda não há um descritor oficial para o termo “P” e os termos “I” conectados pelo operador booleano AND
em uma base de dados, é possível utilizar o termo livre, bem (Figura 3). De modo semelhante, para o acrônimo PECO ( fa-
como sinônimos. Isso ocorre frequentemente com novos me- tor de risco e de prognóstico), utilizamos os termos de “P”, os
dicamentos, que também podem ser identificados por siglas termos “I” e, muitas vezes o termo “O” (quando o desfecho é
ou números de registro empregados pela empresa fabricante. único e previamente estabelecido), também conectados pelo
operador booleano AND.
4) Escolha e uso dos operadores booleanos Para uma busca mais específica (e menos sensível), é possí-
Operadores booleanos são conectores utilizados para ligar vel acrescentar, à estratégia de busca, um filtro considerando
os termos de interesse da pergunta de pesquisa, formando o tipo de estudo que melhor responde à pergunta de pesquisa:
assim a estratégia de busca como um todo. Cada operador de terapêutica, de diagnóstico, de etiologia, de prognóstico
possui uma função, como apresentado na Figura 2. etc. Cada base de dados disponibiliza seus filtros específicos.
Estratégia de busca
C (comparador): anticonvulsivante
C: usado na busca eventualmente,
O (outcomes): redução do número de crises quando o comparador é pré-especificado
redução da duração das crises
qualidade de vida
eventos adversos O: não é utilizado na estratégia de busca
Figura 3. Elaboração de estratégia de busca simples a partir do acrônimo PICO e utilizando os termos MeSH.
REFERÊNCIAS
1. O’Connor D, Green S, Higgins JPT. Chapter 5: Defining the 3. PubMed Help [Internet]. National Center for Biotechnology
review question and developing criteria for including studies. Information (US); 2005. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.
In: Higgins JPT, Green S, editors. Cochrane Handbook of nih.gov/books/NBK3827/. Acessado em 2019 (29 jan).
Systematic Reviews of Intervention Version 5.1.0. Disponível em:
4. Lefebvre C, Manheimer E, Glanville J: Chapter 6: searching
www.handbook.cochrane.org. Acessado em 2019 (29 jan).
for studies. In Higgins JPT, Green S, editors. Cochrane
2. Sampson M, McGowan J, Cogo E, et al. An evidence-based
practice guideline for the peer review of electronic search Handbook for Systematic Reviews of Interventions Version
strategies. J Clin Epidem. 2009;62(9):944-52. PMID: 19230612; 5.1.0. Disponível em: www.handbook.cochrane.org. Acessado
doi: 10.1016/j.jclinepi.2008.10.012. em 2019 (29 jan).