Adsorção e Purificação de Corantes
Adsorção e Purificação de Corantes
Adsorção e Purificação de Corantes
FLORIANÓPOLIS
2005
ADRIANA ELAINE DA COSTA
FLORIANÓPOLIS
2005
Dedicatória
Especialmente aos meus pais, José Nilso da Costa e Vergínia Aparecida Zago da Costa,
por terem sempre me direcionado ao caminho dos estudos, eu dedico este trabalho. A
toda a minha família que, mesmo distante fisicamente, nunca deixou de me apoiar e
animar. A todos os amigos, que tornaram agradáveis tanto as horas de estudo e trabalho
quanto os momentos de descanso. A todos aqueles que de alguma forma contribuíram
para a realização deste trabalho.
iii
AGRADECIMENTOS
iv
SUMÁRIO
v
3.4 ANÁLISES QUANTITATIVAS E MICROGRAFIAS............................................... 35
3.4.1 Avaliação do teor de corantes..................................................................... 35
3.4.2 Medidas de teor de açúcares redutores...................................................... 36
3.4.3 Caracterização dos pellets de poliestireno recobertos com sílica amorfa... 37
3.4.4 Determinação da área superficial e porosidade da sílica amorfa em pó
pelo Método BET......................................................................................... 38
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES................................................................................... 41
4.1 INFLUENCIA DO pH SOBRE A ADSORCAO EM BATELADA DE BETALAÍNAS
E ANTOCIANINAS EM SILICA AMORFA............................................................. 41
4.2 CINÉTICAS DE ADSORÇÃO EM BATELADA DE ANTOCIANINAS E
BETALAÍNAS EM SÍLICA AMORFA...................................................................... 43
4.3 ESTUDOS TERMODINÂMICOS DE SORÇÃO EM BATELADA DOS
CORANTES COMERCIAIS DE ANTOCIANINAS DA UVA E ANTOCIANINAS
DO REPOLHO ROXO E DE BETALAÍNAS EM SÍLICA AMORFA........................ 49
4.3.1 Isotermas de adsorção para concentração inicial fixa de pigmento............ 49
4.3.2 Isotermas de adsorção para massa fixa de adsorvente e cálculo das
entalpias aparentes de adsorção................................................................ 51
4.3.3 Sorção das antocianinas e dos açúcares redutores presentes nos sucos
naturais de uva e repolho roxo sobre sílica amorfa..................................... 55
4.4 ADSORÇÃO DAS ANTOCIANINAS PRESENTES NOS SUCOS NATURAIS
DE UVA E REPOLHO ROXO EM LEITO FIXO..................................................... 59
4.4.1 Acompanhamento da vazão do permeado ao longo dos experimentos
em coluna.................................................................................................... 59
4.4.2 Efeito da concentração inicial de corante presente nos sucos naturais de
uva e repolho roxo e da vazão de injeção sobre o processo de adsorção
e dessorção em dois ciclos......................................................................... 60
4.4.3 Adsorção e dessorção em dois ciclos dos açúcares redutores presentes
nos sucos naturais de uva e repolho roxo................................................... 64
4.4.4 Adsorção e dessorção de glicose em dois ciclos........................................ 68
5 CONCLUSÕES.............................................................................................................. 70
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................. 73
vi
LISTA DE FIGURAS
vii
Figura 4.10: Isotermas de adsorção para corante comercial de antocianinas de
uva.................................................................................................................. 51
Figura 4.11: Isotermas de adsorção para corante comercial de antocianinas de repolho
roxo................................................................................................................. 51
Figura 4.12: Isotermas de adsorção para corante comercial de betalaínas de beterraba.. 52
Figura 4.13: Determinação da entalpia de adsorção dos corantes comerciais de
betalaínas e antocianinas de uva e de repolho roxo sobre sílica................... 54
Figura 4.14: Isotermas de adsorção para as antocianinas presentes nos sucos naturais
e corantes comerciais de uva e de repolho roxo............................................ 55
Figura 4.15: Isotermas de dessorção para as antocianinas presentes nos sucos naturais
de uva e repolho roxo..................................................................................... 56
Figura 4.16: Isotermas de adsorção para os açúcares redutores presentes nos sucos
naturais de uva e repolho roxo....................................................................... 56
Figura 4.17: Isotermas de dessorção para os açúcares redutores presentes nos sucos
naturais de uva e repolho roxo....................................................................... 57
Figura 4.18: Evolução da vazão do permeado com o tempo durante o ensaio de
adsorção e dessorção com suco natural de uva, Co(corante) = 0,5 mg/mL.. 59
Figura 4.19: Evolução da vazão do permeado com o tempo durante o ensaio de
adsorção e dessorção com suco natural de uva, Co(corante) = 1,5 mg/mL.. 59
Figura 4.20: Curvas de ruptura e eluição para suco natural de uva com diferentes
concentrações iniciais e vazão de 1,4 mL/min............................................... 60
Figura 4.21: Curvas de ruptura e eluição para suco natural de repolho roxo com
diferentes concentrações iniciais e vazão de 1,4 mL/min............................... 61
Figura 4.22: Curvas de ruptura e eluição para suco natural de uva com diferentes
concentrações iniciais e vazão de 2,6 mL/min............................................... 62
Figura 4.23: Curvas de ruptura e eluição para suco natural de repolho roxo com
diferentes concentrações iniciais e vazão de 2,6 mL/min............................... 62
Figura 4.24: Curvas de ruptura e eluição para as antocianinas e para os açúcares
presentes no suco natural de uva; Co(açúcar) = 15,75 mg/mL, Co(corante)
= 0,5 mg/mL, vazão = 1,4 mL/min.................................................................. 64
Figura 4.25: Curvas de ruptura e eluição para as antocianinas e para os açúcares
presentes no suco natural de uva; Co(açúcar) = 45,55 mg/mL, Co(corante)
= 1,5 mg/mL, vazão = 1,4 mL/min.................................................................. 65
Figura 4.26: Curvas de ruptura e eluição para as antocianinas e para os açúcares
presentes no suco natural de repolho roxo; Co(açúcar) = 10,61 mg/mL,
Co(corante) = 0,5 mg/mL, vazão = 1,4 mL/min.............................................. 65
Figura 4.27: Curvas de ruptura e eluição para as antocianinas e para os açúcares
presentes no suco natural de repolho roxo; Co(açúcar) = 30,97 mg/mL,
Co(corante) = 1,5 mg/mL, vazão = 1,4 mL/min.............................................. 66
Figura 4.28: Curvas de ruptura e eluição para os açúcares redutores presentes em
soluções de glicose, vazão = 1,4 mL/min....................................................... 68
viii
LISTA DE TABELAS
ix
SIMBOLOGIA
x
RESUMO
xi
ABSTRACT
xii
Introdução 1
1 INTRODUÇÃO
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 ANTOCIANINAS
Transferência de
Tautomerização prótons
Isomerização Azul
Amarelo-pálido Amarelo-pálido
2.1.2.1 pH
2.1.2.2 Temperatura
2.1.2.3 Luz
e variações de pH, sendo que esta degradação é acelerada pela associação da luz com o
oxigênio.
Os estudos realizados por KUSKOSKI (2000) demonstraram, para antocianinas
extraídas de frutos de baguaçu (E. umbelliflora) com diferentes tipos de solvente, que sob
a ação da luz ocorre uma degradação mais acentuada das antocianinas. Os extratos de
baguaçu obtidos com soluções de etanol : ácido clorídrico : água (50:1:49 v/v), etanol
70% e metanol : ácido clorídrico : água (50:1:49 v/v), apresentaram maior perda da cor
original quando expostos à luz, quando comparados com amostras mantidas no escuro.
As antocianinas obtidas da Alcalipha híspida (BAILONI et al, 1998) perderam 50%
da cor original após 2800 horas no escuro e após 721 horas sob exposição à luz, em
solução tampão citrato/fosfato (pH 3) e temperatura de 21ºC.
2.1.2.5 Copigmentação
2.2 BETALAÍNAS
Figura 2.3: Estrutura geral da betalaína: (A) molécula de ácido betalâmico, presente em
todas as moléculas de betalaína; (B) estrutura que representará uma betacianina ou
betaxantina, dependendo dos radicais R1 e R2 (DELGADO-VARGAS et al, 2000).
Tabela 2.2: Algumas betalaínas conhecidas e seus respectivos radicais (STRACK et al,
1993 apud DELGADO-VARGAS et al, 2000).
Betalaína Radicais
Betanina 5-O-β-D-Glucose (46)
Amarantina 5-O-β-D-Glucose-2-O-β-D-Glucose (451)
Indicaxantina Prolina (371)
Portulaxantina Glicina (473)
Vulgaxantina Ácido glutâmico (375)
2.2.2.1 pH
A cor das betalaínas não é afetada em valores de pH entre 3,5 e 7, sendo que o
pH da maioria dos alimentos está compreendido nesta faixa. Soluções de betalaína
nesta faixa de pH são similarmente visíveis tanto para betacianinas quanto para
betaxantinas. O comprimento de onda de máxima absorbância para betacianinas está
entre 537 e 538nm, e para as betaxantinas está entre 475 e 477nm (VON ELBE, 1977).
Fora da faixa de pH compreendida entre 3,5 e 7 a intensidade dos espectros visíveis
decresce (HUANG e VON ELBE, 1987).
A estabilidade de soluções de betanina é dependente do pH. Em seus estudos,
HUANG e VON ELBE (1987) observaram que o pH ótimo para a máxima estabilidade da
betanina na presença de oxigênio está entre 5,5 e 5,8. Soluções de beterraba vermelha
apresentaram máxima estabilidade a pH 5,5 (SINGER e VON ELBE, 1980).
2.2.2.2 Temperatura
tem sido avaliada por diversos autores (ALTAMIRANO et al, 1993; DRDÁK e VALLOVÁ,
1990; HUANG e VON ELBE, 1987; SAGUY et al, 1978; VON ELBE et al, 1974). Foi
demonstrado que a termoestabilidade de soluções de betanina é dependente do pH e
parcialmente reversível. O aquecimento de soluções de betanina produz uma redução
gradual da cor vermelha e o eventual surgimento de coloração marrom. VON ELBE et al.
(1974) observaram uma cinética de reação de primeira ordem para a degradação da
betanina por aquecimento.
2.2.2.3 Luz
Estudos realizados por VON ELBE et al. (1974) demonstraram que a taxa de
degradação da betanina aumenta 15,6% após o pigmento ser exposto à luz do dia a
15ºC. A degradação de betalaínas devido à exposição à luz seguiu uma cinética de
primeira ordem. Também se observou que a degradação devido à exposição à luz foi
maior a pH 3,0 do que a pH 5,0. Para a faixa compreendida entre 2200 e 4400 lux,
ATTOE e VON ELBE (1981) observaram uma relação inversamente proporcional entre a
estabilidade de betalaínas e a intensidade de luz. Isto é explicado pelo fato de que a
absorção de luz excita os elétrons π de pigmentos cromóforos, levando-os a um estado
mais energético (π*), podendo causar uma maior reatividade ou menor energia de
ativação para a molécula.
Os efeitos da radiação UV sobre a estabilidade de betaninas foram investigados
por AURSTAD e DAHLE (1973). Houve total destruição dos pigmentos em tratamento de
120 h sob radiação UV. Entretanto, os mecanismos de fotodegradação de betalaínas
ainda não são conhecidos.
2.2.2.5 Oxigênio
2.3 ADSORÇÃO
Na última década, a maioria das investigações sobre antocianinas tem como foco
o estudo de diversas técnicas de purificação (MANTELL et al, 2002), sendo que uma
dessas técnicas é a adsorção.
Para o Engenheiro Químico, a adsorção é um processo de separação e, assim
como outros tais processos, implica em duas fases entre as quais os constituintes se
distribuem diferentemente (COULSON e RICHARDSON, 1982).
Em trabalhos recentes a adsorção é amplamente empregada para remoção de
corantes de efluentes têxteis (TAKEDA et al, 2003; DOGAN e ALKAN, 2003;
NAMASIVAYAM e KAVITHA, 2002).
No estudo realizado por LOPES (2002), a adsorção de antocianinas de repolho
roxo em argilas mostrou-se uma técnica viável.
Revisão Bibliográfica 13
As moléculas adsorvidas por uma superfície vazia são mantidas por forças que
provêm da superfície do sólido. Segundo COULSON e RICHARDSON (1982), essa
forças podem ser:
• Físicas (fisissorção): conhecidas por forças de Van der Waals. Essas forças são
relativamente fracas, sendo que a adsorção física é geralmente mais fácil de
reverter do que a quimissorção. A adsorção física pode comparar-se à
condensação; o calor liberado, quando ela ocorre, é pouco maior que o calor
latente de condensação (10000-20000 cal/mol). Na adsorção física as moléculas
são atraídas para todos os pontos da superfície do sólido e estão apenas
limitadas pelo número que se pode encaixar em cada camada de moléculas
adsorvidas, podendo haver várias camadas. Se for possível detectar o ponto em
que se completa a primeira camada, o número e tamanho das moléculas
fisicamente adsorvidas podem dar uma indicação da área de superfície
disponível.
• Químicas (quimissorção): conduzem a ligações eletrostáticas ou que envolvem o
compartilhamento de elétrons. O calor da quimissorção é mais comparável ao de
uma reação química, cerca de 40000 cal/mol, e a velocidade de quimissorção
aumenta rapidamente com a temperatura. Em quimissorção, as moléculas não
são atraídas por todos os pontos da superfície do sólido, mas especificamente
para os centros ativos, de maneira que uma superfície completamente adsorvida
por quimissorção pode não estar completamente coberta pelas moléculas
adsorvidas por quimissorção. A quimissorção se dá em uma única camada, mas
após a formação desta, pode haver a formação de outras camadas por
fisissorção.
2.3.2 Equilíbrio
q0 b C e
qe = , (2.1)
1+ b Ce
Ce 1 C
= + e ,
qe q0 b q0
KL=q0 b (2.2)
⎛ ΔH ⎞
K L = A exp⎜ − ⎟ (2.3)
⎝ RT ⎠
1
RL = (2.4)
1 + b C0
Tabela 2.3: Tipo de isoterma de acordo com o valor do fator de separação RL.
RL Tipo de isoterma
RL > 1 Desfavorável
RL = 1 Linear
0 < RL < 1 Favorável
RL = 0 Irreversível
q e = K F C ne (2.5)
• Transporte das moléculas de fluido do interior da fase fluida até a camada limite
que circunda o sólido;
Revisão Bibliográfica 17
Uma ou mais dessas etapas pode ser a etapa limitante do processo de adsorção,
que poder ser modelado de maneira empírica ou fenomenológica.
A seguir são apresentados alguns modelos fenomenológicos e empíricos para
descrição da cinética de adsorção. Neste trabalho, para descrever os dados cinéticos em
batelada, utilizou-se o modelo de transferência de massa no filme e no poro, que será
apresentado na seção 2.3.3.3.
Este modelo é baseado na primeira lei de Fick, ou seja, assume que a taxa de
transferência de massa da substância por difusão e por unidade da área da seção
transversal, Nr, é proporcional ao gradiente de concentração normal à seção:
dC
Nr = −D ef
dr
∂C 1 ⎧ ∂ ∂C 1 ∂ ∂C D ef ∂ 2 C ⎫
= 2 ⎨ D ef r 2 + D ef sen θ + ⎬ (2.6)
∂t r ⎩ ∂r ∂r sen θ ∂θ ∂θ sen 2 θ ∂φ 2 ⎭
∂C 1 ⎧ ∂ 2 ∂C ⎫ ⎛ 2 ∂C ∂ 2 C ⎞
= ⎨ D ef r ⎬ = D ef ⎜⎜ + ⎟⎟ (2.7)
∂t r 2 ⎩ ∂r ∂r ⎭ ⎝ r ∂r ∂r ⎠
C − Ce
θ=
C0 − Ce
∂θ ⎛ 2 ∂θ ∂ 2 θ ⎞
= D ef ⎜⎜ + 2 ⎟⎟ (2.8)
∂t ⎝ r ∂r ∂r ⎠
∂θ
= 0 , para t >0, o que mostra um valor finito em r=0;
∂r r =0
θ R = 1, para t >0.
C − Ce ∞ ⎛ ⎛ n π ⎞2 ⎞
∑
6 1 ⎜− ⎜
= 2 exp ⎟ Def t ⎟ (2.9)
C0 − Ce π n =1 n
2 ⎜ ⎝ r ⎠ ⎟
⎝ ⎠
Revisão Bibliográfica 19
O modelo considerado nesta seção foi proposto por FURUSAWA et al (1976) para
adsorção em batelada com agitação.
A equação da conservação da massa para o adsorbato no seio da fase líquida a
um dado tempo t, C (M L-3), é dada pela Equação (2.10):
dC
= −β L S S (C − C S ) (2.10)
dt
dq
m = β L S S (C − C S ) (2.11)
dt
dq dC S
=k (2.12)
dt dt
onde m (M L-3) é a massa das partículas dividida pela volume das partículas livre de
adsorbato e, K é a constante da isoterma linear (M L-3).
Quando t = 0, C = C0 e q = 0.
⎛C 1 ⎞ ⎛ 1 ⎞ ⎛1+ m K ⎞
ln⎜⎜ t − ⎟⎟ = ln⎜⎜ ⎟⎟ − ⎜⎜ ⎟⎟ β L S S t , (2.13)
⎝ C0 1+ m K ⎠ ⎝ 1+ m K ⎠ ⎝ m K ⎠
onde m pode ser obtida pela Equação (2.14) e, Ss para partículas esféricas, pela
Equação (2.15):
W
m= (2.14)
V
6m
Ss =
dp ρ p (1 − ε p )
(2.15)
onde dp (L) é o diâmetro de uma partícula, W (M) a massa total das partículas de
adsorvente e V (L3) o volume das partículas livre de adsorbato.
⎛ Ct 1 ⎞
Conseqüentemente, plotando ln⎜⎜ − ⎟⎟ vs t, podemos obter βL, o
⎝ C0 1+ m k ⎠
coeficiente de transferência de massa na superfície, pelo coeficiente angular.
Se os dados experimentais se ajustarem bem à Equação (2.13), a suposição de
difusão interna desprezível é válida.
• A fase líquida externa à partícula é uma mistura ideal , de forma a se poder utilizar
uma concentração global representativa da mesma;
• A relação de distribuição do soluto é modelada segundo Freundlich ou Langmuir;
• A concentração do meio varia como função do tempo, sendo o potencial de
transferência de massa na superfície da partícula um valor instantâneo.
A Equação (2.16) representa o balanço diferencial de massa de soluto para uma
partícula de adsorvente, considerada esférica, incluindo a parcela representativa da
adsorção sobre a fase sólida:
∂C i ⎛ ∂ 2C 2 ∂C i ⎞⎟ ∂q
εp = D ef ε p ⎜ 2 i + − ρd i (2.16)
∂t ⎜ r ∂r ⎠ ⎟ ∂t
⎝ ∂r
r = R;
∂C i K conv ∞
∂r
=
D ef
(
C (t) − C i ) para ∀t (2.16c)
K conv R
Bi = (2.17)
D ef
dqt
= k1(qe − qt ) (2.18)
dt
Se ln(qe) for igual ao coeficiente linear da Equação (2.19), temos uma cinética de
primeira ordem verdadeira. Se for diferente, mas descrever bem os resultados, temos
uma cinética de pseudo-primeira ordem.
Também é comum a utilização de uma equação de pseudo-segunda ordem
baseada na capacidade de adsorção no equilíbrio, expressa por:
dq t
= k 2 (q e − q t ) 2 (2.20)
dt
Revisão Bibliográfica 23
t 1 1
= 2
+ t (2.21)
qt k 2 qe qe
q t = k dif t + C (2.22)
De uma maneira geral, um bom adsorvente deve aliar características como baixo
custo, seletividade, alta área superficial interna, resistência mecânica, etc.
A escolha dos adsorventes é imprescindível para o processo de adsorção, sendo
que vários materiais têm sido desenvolvidos para uma ampla faixa de separação.
Materiais comerciais são produzidos usualmente como pellets, grânulos, bolas e,
ocasionalmente, o material é utilizado sob a forma de pó (PERUCH, 2001).
Adsorventes comerciais são divididos em quatro classes principais: zeólitas,
alumina ativada, sílica gel e carvão ativado. A faixa típica de área superficial é de 100 até
3000 m2/g, mas os materiais mais utilizados comercialmente exibem uma área superficial
na faixa de 300 até 1200 m2/g. Dentre estes, o carvão ativado é o mais comumente
utilizado.
Entretanto, muitos materiais de baixo custo têm sido estudados devido às suas
vantagens econômicas. Dentre os adsorventes não-convencionais de baixo custo
estudados para remoção de corantes, podemos citar: madeira, casca de laranja, argilas,
sílica, etc (NAMASIVAYAM e KAVITHA, 2002).
Sob esta perspectiva, pretende-se estudar a viabilidade do emprego da sílica
amorfa como adsorvente, no processo de adsorção de antocianinas e betalaínas. Na
remoção de corantes de efluentes industriais, a utilização de adsorventes alternativos é
facilitada pela possibilidade de descarte do material após a remoção. Já no caso da
adsorção de antocianinas, o estudo torna-se mais delicado, devido à finalidade à qual o
Revisão Bibliográfica 24
2.4.1 A sílica
O silício forma estruturas orientadas tetraedricamente, constituindo um quinto, em
peso, da composição da face terrestre, sendo o segundo elemento mais abundante,
excedido apenas pelo oxigênio. Os minerais cuja composição química contém
unicamente silício como cátion, SiO2 denominam-se genericamente por sílica (BARBA,
1997).
Segundo SANTOS (1989), em todos os silicatos, os átomos de silício estão com
número de coordenação 4 com o oxigênio e, cada um fica no centro de um tetraedro com
os 4 oxigênios nos vértices. As ligações Si-O são covalentes, mas a estrutura dos
silicatos apresenta um caráter antes iônico que covalente. Na forma ácida, as longas
cadeias (SiO3)2- transformam as soluções dos sais de sódio ou hidrogênio em líquidos
viscosos até a formação de géis (sílica-gel).
Atualmente, existem diversos fabricantes de sílica que utilizam denominações
próprias para o produto, bem como diversas formas de comercialização, conforme os
métodos de produção e as necessidades de uso.
A sílica que será testada como adsorvente de antocianinas é uma sílica amorfa
proveniente das Empresas Rio Deserto, filial de Criciúma-SC. O produto é denominado
comercialmente de Bugram Protect, sendo proveniente de rochas fossilizadas de
diatomáceas marinhas, constituído principalmente por sílica ativa.
A atual finalidade de aplicação deste produto é como anti-empastante em
produtos farináceos e grãos destinados à alimentação animal, sendo também utilizado
como defensivo agrícola para controle de pragas na agricultura orgânica. O fabricante
atesta que o produto não oferece prejuízo algum à saúde de animais ou humanos, não
havendo nenhum caso de intoxicação de agricultores, característica que é favorável e
necessária para que se possa utilizar o produto na adsorção de corantes naturais. Além
disso, uma vez que a antocianina é um corante catiônico e a sílica forma estruturas
tetraédricas com ânions nos vértices, a possibilidade de que a sílica amorfa seja um
adsorvente promissor para antocianinas é ainda maior.
Material e Métodos 25
3 MATERIAL E MÉTODOS
350
300
250
Intensidade
200
150
100
50
0
0 20 40 60 80 100 120
2 theta
SiO2 Al2O3 TiO2 Fe2O3 CaO MgO Na2O K2O MnO S P2O6 Perda ao
fogo
94,6 3,38 0,21 0,23 0,42 0,44 0,18 0,11 0,01 - 0,01 0,43
Ca Mg Na K Al Fe total
11,8 2,5
0,48 0,024 1,10 0,12 ND ND 1,76
Devido à ausência dos aditivos para sua proteção, estas resinas não
apresentaram resistência térmica suficiente, degradando-se sem que houvesse a fixação
da sílica na superfície das partículas.
As isotermas foram obtidas a partir de sistemas compostos por uma massa fixa de
3 g de adsorvente em contato com soluções de diversas concentrações de corante,
sendo estas 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5 e 3,0 mg/ml. As isotermas foram realizadas nas
temperaturas ambiente (≈27ºC), 35, 45 e 55ºC.
Conduziram-se os experimentos segundo procedimento apresentado em 3.2.1,
tendo as amostras sido coletas depois que os sistemas atingiram o equilíbrio.
Utilizou-se nesse estudo uma coluna cilíndrica de vidro com uma capacidade
interna de 140 cm3 (1,5 cm de diâmetro interno e 19,8 cm de altura), recheada com
partículas de poliestireno recobertas com sílica. O fundo e o topo da coluna foram
forrados com uma camada de aproxidamente 1,5 mm de Bidin®, de maneira a
proporcionar maior compactação e imobilidade ao leito.
O dispositivo experimental contou ainda com uma bomba peristáltica para
alimentar as soluções à coluna e com um coletor de frações instalado na saída desta
para a coleta das amostras. Foram realizados testes preliminares de vazão, nos quais
ajustou-se a bomba peristáltica para trabalhar nas vazões aproximadas de 1,4 e 2,6
ml/min. O coletor de frações utilizado, o qual pode ser programado para coleta em
volume, número de gotas ou tempo, foi programado para coletar as amostras por tempo
em cada tubo.
Uma fotografia do sistema utilizado é apresentada na Figura 3.1.
Material e Métodos 34
p
(C 0 − C i ) + (C 0 − C i+1 ) (
m adsorvida = ∑ Vi+1 − Vi ) (3.1)
i =1 2
onde:
C0 é a concentração inicial de soluto
(Ci + Ci+1)/2 é a concentração média do tubo i;
Vi+1 – Vi é o volume do tubo i;
p é o número de tubos coletados.
2,5 y = 3,2708x
R2 = 0,9991
C (mg/ml) 2
1,5
y = 0,9258x
1
R2 = 0,9988
0,5 y = 0,3913x
R2 = 0,9986
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Absorbância
Antocianinas de repolho roxo Antocianinas de uva Betalaínas de beterraba
Figura 3.3: Curvas de calibração para antocianinas de uva e de repolho roxo e betalaínas
de beterraba vermelha a pH 3.
3,5
3
Concentração (g/l)
2,5
2 y = 2,09 x
R2 = 0,995
1,5
1
0,5
0
0 0,25 0,5 0,75 1 1,25 1,5
Abs orbância
Em geral, os materiais adsorvem gases devido às fracas forças de Van der Waals.
Para fazer com que o gás seja adsorvido para a medida de uma área superficial, o sólido
deve ser refrigerado, normalmente ao ponto de ebulição do gás. Freqüentemente, o
nitrogênio é o gás (adsorbato) e o sólido é refrigerado com nitrogênio líquido (77,35 K). O
volume do gás adsorvido aumenta com o incremento de pressão, e a área de superfície
pode ser exatamente calculada se o volume de gás suficiente para cobrir a superfície
adsorvente for conhecido, formando uma monocamada.
O procedimento mais usado para a determinação da área de materiais sólidos é o
método de Brunauer-Emmett-Teller (método BET), o qual é baseado no fenômeno de
adsorção de um gás a uma dada pressão relativa P/Po formando uma monocamada de
cobertura na superfície do material adsorvente. Ele permite estabelecer uma relação
entre energia de adsorção na primeira camada adsorvida e a magnitude das interações
adsorvente/adsorbato. Assim, quanto maior a quantidade de gás adsorvido, maior será a
área superficial do adsorvente sob análise. A Equação de BET é dada por:
1 1 C −1 P
= + (3.1)
V [(P / P0 ) − 1] Vm C Vm C P0
onde:
V = volume do gás adsorvido na pressão P;
Vm = volume do gás requerido para formar a monocamada;
C = constante BET, que indica a amplitude das interações adsorvente/adsorbato;
P/Po = pressão relativa do adsorbato.
Pelo método BET, obteve-se para a sílica amorfa utilizada neste trabalho uma
o
área superficial de 12,72 m2/g e um diâmetro médio de poro de 220,9 A .
O gráfico de BET pra a sílica amorfa é apresentado na Figura 3.6, e os
parâmetros obtidos são apresentados na Tabela 3.6.
Material e Métodos 40
100
90
80
1/[V (Po/P)-1]
70
60
50
40
30
20
10
0
0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35
P/Po
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
0,8
0,6
C/Co
0,4
0,2
0
0 20 40 60 80
t (min)
pH 3 pH 5 pH 8
0,8
0,6
C/Co
0,4
0,2
0
0 20 40 60 80
t (min)
pH 3 pH 5 pH 8
0,95
0,9
C/Co
0,85
0,8
0,75
0 20 40 60 80
t (min)
pH 3 pH 5 pH 8
Por intermédio das cinéticas apresentadas nas Figuras 4.1 a 4.3, podemos
observar que o aumento do pH é desfavorável à adsorção de antocianinas e betalaínas
em sílica amorfa. Resultado semelhante foi obtido por LOPES (2002), durante o estudo
da adsorção de antocianinas do repolho roxo em argilas. Segundo MOREIRA et al.
(1998), o aumento da adsorção com o decréscimo do pH deve-se, provavelmente, ao
aumento do nível de ionização do meio, o qual pode favorecer a adsorção.
Para os três corantes estudados, o equilíbrio foi atingido mais rapidamente e
maiores rendimentos foram alcançados mantendo os sistemas de adsorção a pH 3.
Assim, os demais estudos de adsorção em sílica amorfa foram realizados a pH 3, uma
vez que este valor está dentro da faixa recomendada por Chr. Hansen Ltda, indústria
fornecedora dos corantes comerciais, para a manutenção da estabilidade dos pigmentos.
0,5
0,45
0,4
C/Co
0,35
0,3
0,25
0,2
0 20 40 60 80
t (min)
Corante comercial, Co = 1,5 g/L Suco natural, Co = 1,5 g/L
Corante comercial, Co = 3,0 g/L Suco natural, Co = 3,0 g/L
Simulação, corante comercial, Co=1,5 g/L Simulação, suco natural, Co=1,5 g/L
Simulação, corante comercial, Co=3,0 g/L Simulação, suco natural, Co=3,0 g/L
Figura 4.4: Cinética de adsorção para corante comercial e suco natural de antocianinas
de uva, para diferentes concentrações iniciais.
0,6
0,5
C/Co
0,4
0,3
0 20 40 60 80
t (min)
Figura 4.5: Cinética de adsorção para corante comercial e suco natural de antocianinas
do repolho roxo, para diferentes concentrações iniciais.
0,9
C/Co
0,85
0,8
0,75
0 20 40 60 80
t (min)
Corante Comercial, Co = 1,5 g/L Suco natural, Co = 1,5 g/L
Corante Comercial, Co = 3,0 g/L Suco natural, Co = 3,0 g/L
Simulação, corante comercial, Co=1,5 g/L Simulação, suco natural, Co=1,5 g/L
Simulação, corante comercial, Co=3,0 g/L Simulação, suco natural, Co=3,0 g/L
Figura 4.6: Cinética de adsorção para corante comercial e suco natural de betalaínas de
beterraba, para diferentes concentrações iniciais.
100
80
60
40
20
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
t (min)
Figura 4.7: Cinéticas de adsorção para os corantes comerciais de uva, repolho roxo e
beterraba, em termos da massa de corante adsorvido por massa de sílica amorfa.
100
mg de corante adsorvido/g de sílica
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
t (min)
Antocianinas de uva, Co=1,5 g/L Antocianinas de uva, Co=3,0 g/L
Antocianinas de repolho roxo, Co=1,5 g/L Antocianinas de repolho roxo, Co=3,0 g/L
Betalainas, Co=1,5 g/L Betalainas, Co=3,0 g/L
Figura 4.8: Cinéticas de adsorção para os sucos naturais de uva, repolho roxo e
beterraba, em termos da massa de corante adsorvido por massa de sílica amorfa.
Resultados e Discussões 49
Podemos verificar nas Figuras 4.7 e 4.8 que as cinéticas dos corantes comerciais
e sucos naturais de uva e de repolho roxo apresentam comportamento bastante similar,
para as duas concentrações iniciais estudadas, tanto quanto à massa de corante
adsorvida por massa de adsorvente como ao rápido alcance do equilíbrio. Para o corante
comercial e suco natural de beterraba o equilíbrio também é rapidamente estabelecido,
mas, como já mencionado, a massa de betalaínas adsorvida é bastante inferior à de
antocianinas.
Observa-se novamente que a massa de corante comercial adsorvida é
ligeiramente superior à massa de corante in natura adsorvida, para os três tipos de
corantes estudados. Os corantes comerciais apresentam um grau de pureza superior ao
dos sucos naturais, que apresentam outras substâncias como gomas em sua
composição, o que pode ter provocado uma adsorção competitiva entre os pigmentos e
as demais substâncias presentes nos sucos naturais, ocasionando uma adsorção de
pigmentos levemente inferior (LOPES, 2002).
Com o aumento da concentração inicial de 1,5 para 3,0 mg/mL, as massas de
corante adsorvidas aumentaram significativamente. Para os sucos naturais de uva e
repolho roxo, observa-se que ao duplicar-se o valor da concentração inicial, a massa de
corante adsorvida praticamente duplicou. Isto pode ser explicado pelo fato de que o
aumento da concentração inicial de corante aumenta a possibilidade de choque entre as
moléculas de corante e os sítios do adsorvente.
25
15
10
0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5
Ce (mg de corante/ mL de solução sobrenadante)
Figura 4.9: Isotermas de adsorção do corante comercial de uva sobre sílica a temperatura
ambiente (≈27ºC), 35ºC, 45ºC e 55ºC.
4.3.2 Isotermas de adsorção para massa fixa de adsorvente e cálculo das entalpias
aparentes de adsorção
60 T ambiente
Qe (mg de corante/g de sílica)
T = 35 ºC
T = 45 ºC
50 T = 55 ºC
Langmuir
40
Freundlich
30
20
10
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5
Ce (mg de corante/mL de solução sobrenadante)
60
Qe (mg de corante/g de sílica)
T ambiente
T = 35 ºC
50 T = 45 ºC
T = 55 ºC
Langmuir
40 Freundlich
30
20
10
0
0 0,5 1 1,5 2 2,5
Ce (mg de corante/mL de solução sobrenadante)
10
T ambiente
ln(qo b)
3
0
-1,72 -1,68 -1,64 -1,6 -1,56 -1,52
-1/(R T)
4.3.3 Sorção das antocianinas e dos açúcares redutores presentes nos sucos
naturais de uva e repolho roxo sobre sílica amorfa
40
35
30
Qe (mg/g)
25
20
15
10
5
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4
Ce (mg/mL)
Figura 4.14: Isotermas de adsorção para as antocianinas presentes nos sucos naturais e
corantes comerciais de uva e de repolho roxo.
Resultados e Discussões 56
9
8
7
Qe (mg/g)
6
5
4
3
2
1
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Ce (mg/mL)
Figura 4.15: Isotermas de dessorção para as antocianinas presentes nos sucos naturais
de uva e repolho roxo.
110
100
Qe (mg/g)
90
80
70
0 20 40 60 80 100
Ce (mg/mL)
Suco natural de uva Suco natural de repolho roxo
Figura 4.16: Isotermas de adsorção para os açúcares redutores presentes nos sucos
naturais de uva e repolho roxo.
Resultados e Discussões 57
90
85
Qe (mg/g) 80
75
70
65
60
1,15 1,2 1,25 1,3 1,35 1,4
Ce (mg/mL)
Figura 4.17: Isotermas de dessorção para os açúcares redutores presentes nos sucos
naturais de uva e repolho roxo.
Podemos observar que todos os valores obtidos para o parâmetro n são menores
que 1, indicando que as isotermas de adsorção e dessorção são favoráveis, tanto para as
antocianinas quanto para os açúcares redutores presentes nos sucos naturais de uva e
de repolho roxo. Os valores do parâmetro KF atestam maior capacidade adsortiva da
sílica amorfa em relação aos açúcares do que em relação às antocianinas, e maior
capacidade de adsorção do que de dessorção. O fato da maior capacidade adsortiva de
açúcares pode ser devido a estes estarem presentes nos sucos naturais em quantidade
muito superior à de antocianinas, numa proporção de aproximadamente 30 gramas de
açúcar redutor por grama de pigmento.
Um fato importante a ser observado na Figura 4.14 é que a presença de grande
quantidade de açúcar redutor nos sucos naturais e a adsorção dos mesmos pela sílica
praticamente não alterou a adsorção das antocianinas. As isotermas para as antocianinas
dos sucos naturais são muito parecidas, em comportamento e em valores, com as
obtidas para os corantes comerciais, os quais se apresentam praticamente isentos de
açúcar. Isso conduz à especulação de que os açúcares redutores e as antocianinas
estariam sendo adsorvidos em diferentes tipos de sítios ativos da sílica amorfa.
A massa de açúcares redutores adsorvida pela sílica representa apenas 4 a 6% da
massa presente na solução inicial, antes da adsorção. Essa característica é favorável à
purificação parcial das antocianinas. Entretanto, a baixa percentagem de adsorção de
açúcares pode ser devido à massa de adsorvente utilizada não ter sido suficiente para
reter uma quantidade maior de açúcares, visto que estes estão presentes am alta
concentração.
Tanto para o suco natural de uva quanto para o de repolho roxo, em média 71% do
açúcar adsorvido é dessorvido. No entanto, devido à baixa adsorção, a concentração de
açúcares presentes no produto representa aproximadamente 3,2% da inicial, para o suco
natural de uva, e 4,7%, para o suco de repolho roxo. Sendo a concentração de açúcares
inicial nos sucos naturais de uva e repolho roxo em torno de 20 a 30 gramas de açúcar
por grama de pigmento, respectivamente, obtém-se um produto final com 3 a 4 g/g. É
uma redução bastante significativa, que revela que a sílica é um adsorvente promissor
para a purificação parcial de antocianinas.
Resultados e Discussões 59
1,47
Vazao (ml/min)
1,44
1,41
1,38
1,35
0 100 200 300 400 500 600 700 800
t (min)
Adsorcao Dessorcao
Figura 4.18: Evolução da vazão do permeado com o tempo durante o ensaio de adsorção
e dessorção com suco natural de uva, Co(corante) = 0,5 mg/mL.
2,7
2,66
Vazao (ml/min)
2,62
2,58
2,54
2,5
0 100 200 300 400
t (min)
Adsorcao Dessorcao
Figura 4.19: Evolução da vazão do permeado com o tempo durante o ensaio de adsorção
e dessorção com suco natural de uva, Co(corante) = 1,5 mg/mL.
Resultados e Discussões 60
4.4.2 Efeito da concentração inicial de corante presente nos sucos naturais de uva
e repolho roxo e da vazão de injeção sobre o processo de adsorção e
dessorção em dois ciclos
Nas Figuras 4.20 e 4.21 são apresentadas as curvas de ruptura e eluição obtidas
para os sucos naturais de uva e repolho roxo, com concentrações iniciais iguais a 0,5 e
1,5 mg/mL e vazão média de 1,4 mL/min.
2,5
1,5
C (mg/ml)
0,5
0
0 20 40 60 80 100 120
Volume de poro
adsorção 1, Co = 0,5 mg/mL dessorção 1, Co = 0,5 mg/mL adsorção 2, Co = 0,5 mg/mL dessorção 2, Co = 0,5 mg/mL
adsorção 1, Co = 1,5 mg/mL dessorção 1, Co = 1,5 mg/mL adsorção 2, Co=1,5 mg/mL dessorção 2, Co = 1,5 mg/mL
Figura 4.20: Curvas de ruptura e eluição para suco natural de uva com diferentes
concentrações iniciais e vazão de 1,4 mL/min.
Resultados e Discussões 61
2
1,8
1,6
1,4
1,2
C (mg/ml)
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 20 40 60 80 100 120
Volume de poro
adsorcao 1, Co = 0,5 mg/ml dessorcao 1, Co = 0,5 mg/ml adsorcao 2, Co = 0,5 mg/ml dessorcao 2, Co = 0,5 mg/ml
adsorcao 1, Co = 1,5 mg/ml dessorcao 1, Co = 1,5 mg/ml adsorcao 2, Co=1,5 mg/ml dessorcao 2, Co = 1,5 mg/ml
Figura 4.21: Curvas de ruptura e eluição para suco natural de repolho roxo com
diferentes concentrações iniciais e vazão de 1,4 mL/min.
Tabela 4.6: Massa de corante adsorvido e dessorvido em cada ciclo para diferentes
concentrações iniciais, vazão de 1,4 mL/min
Massa Massa Percentual de
Suco natural de uva adsorvida de dessorvida de corante
corante (mg) corante (mg) dessorvido (%)
Co(corante) Massa total de 1º ciclo 2º ciclo 1º ciclo 2º ciclo 1º ciclo 2º ciclo
(mg/mL) corante (mg)*
0,5 397,60 94,05 69,88 75,17 51,25 79,93 73,34
1,5 1050,00 195,97 158,79 150,22 113,94 76,65 71,76
Massa Massa Percentual de
Suco natural de repolho roxo adsorvida de dessorvida de corante
corante (mg) corante (mg) dessorvido (%)
Co(corante) Massa total de 1º ciclo 2º ciclo 1º ciclo 2º ciclo 1º ciclo 2º ciclo
(mg/mL) corante (mg)*
0,5 327,15 91,17 63,51 72,16 49,42 79,14 77,81
1,5 888,3 189,66 151,11 139,21 105,03 73,40 69,51
*Massa total de corante que escoou pela coluna durante todo o ensaio, a qual depende
do tempo de duração de cada ensaio.
Resultados e Discussões 62
Nas Figuras 4.22 e 4.23 são mostradas as curvas de ruptura e eluição para os
sucos naturais de uva e repolho roxo, obtidas para concentrações iniciais de corante
iguais a 0,5 e 1,5mg/mL, com vazão média de 2,6 mL/min.
2,5
2
C (mg/ml)
1,5
0,5
0
0 20 40 60 80 100 120 140
Volume de poro
adsorção 1, Co = 0,5 mg/mL dessorção 1, Co = 0,5 mg/mL adsorção 2, Co = 0,5 mg/mL
dessorção 2, Co = 0,5 mg/mL adsorção 1, Co = 1,5 mg/mL dessorção 1, Co = 1,5 mg/mL
adsorção 2, Co=1,5 mg/mL dessorção 2, Co = 1,5 mg/mL
Figura 4.22: Curvas de ruptura e eluição para suco natural de uva com diferentes
concentrações iniciais e vazão de 2,6 mL/min.
2
1,8
1,6
1,4
1,2
C (mg/ml)
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 20 40 60 80 100 120 140
Volume de poro
adsorcao 1, Co = 0,5 mg/ml dessorcao 1, Co = 0,5 mg/ml adsorcao 2, Co = 0,5 mg/ml dessorcao 2, Co = 0,5 mg/ml
adsorcao 1, Co = 1,5 mg/ml dessorcao 1, Co = 1,5 mg/ml adsorcao 2, Co=1,5 mg/ml dessorcao 2, Co = 1,5 mg/ml
Figura 4.23: Curvas de ruptura e eluição para suco natural de repolho roxo com
diferentes concentrações iniciais e vazão de 2,6 mL/min.
Resultados e Discussões 63
Tabela 4.7: Massa de corante adsorvido e dessorvido em cada ciclo para diferentes
concentrações iniciais, vazão de 2,6 mL/min
Suco natural de uva Massa Massa Percentual de
adsorvida de dessorvida de corante
corante (mg) corante (mg) dessorvido (%)
Co(corante) Massa total de 1º ciclo 2º ciclo 1º ciclo 2º ciclo 1º ciclo 2º ciclo
(mg/mL) corante (mg)*
0,5 452,40 75,55 59,53 58,59 41,06 77,55 68,97
1,5 912,6 170,67 138,72 128,24 91,74 75,14 66,13
Suco natural de repolho roxo Massa Massa Percentual de
adsorvida de dessorvida de corante
corante (mg) corante (mg) dessorvido (%)
Co(corante) Massa total de 1º ciclo 2º ciclo 1º ciclo 2º ciclo 1º ciclo 2º ciclo
(mg/mL) corante (mg)*
0,5 420,90 68,97 50,50 55,26 39,63 80,12 78,48
1,5 889,20 162,16 126,95 119,93 95,21 73,96 75,00
*Massa total de corante que escoou pela coluna durante todo o ensaio, a qual depende
do tempo de duração de cada ensaio.
Tanto para o suco natural de uva como para o de repolho roxo, nas duas vazões
utilizadas, podemos observar que há uma considerável queda nas massas adsorvida e
dessorvida de corante durante o segundo ciclo, quando comparado ao primeiro. A menor
adsorção de corante no segundo ciclo pode ser devido à sílica não dessorver totalmente
o corante adsorvido no primeiro ciclo, de maneira que, para o segundo ciclo, menos sítios
estão disponíveis para a adsorção do corante. A queda na dessorção pode ser explicada
pelo longo tempo de processo, o que pode ocasionar a fixação irreversível de corante na
sílica amorfa, como ocorrido no estudo realizado por LOPES (2002), durante a adsorção
de antocianinas do repolho roxo em argilas.
Comparando os valores apresentados nas Tabelas 4.3 e 4.4, podemos também
verificar que o aumento da vazão de 1,4 para 2,6 mL/min ocasionou um menor
rendimento quanto à restituição dos corantes, provavelmente pela diminuição do tempo
de contato entre as fases.
Observa-se também que o tempo necessário para a saturação da coluna pelo
corante, expresso em volumes de poro, é diretamente influenciado pela concentração.
Para a maior concentração utilizada (1,5 mg/mL), o tempo necessário para a saturação
Resultados e Discussões 64
4.4.3 Adsorção e dessorção em dois ciclos dos açúcares redutores presentes nos
sucos naturais de uva e repolho roxo
Nas Figuras 4.24 a 4.27 são apresentadas as curvas de ruptura e eluição em dois
ciclos para as antocianinas e para os açúcares presentes no suco natural de uva e de
repolho roxo, para diferentes concentrações iniciais e vazão de 1,4 mL/min.
1,75
1,5
1,25
C/Co
0,75
0,5
0,25
0
0 20 40 60 80 100 120 140
Volume de poro
adsorção: antocianinas de uva dessorção: antocianinas de uva adsorção: açúcar dessorção: açúcar
2,5
1,5
C/Co
0,5
0
0 20 40 60 80 100 120
Volume de poro
adsorção: antocianinas de uva dessorção: antocianinas de uva adsorção: açúcar dessorção: açúcar
1,75
1,5
1,25
1
C/Co
0,75
0,5
0,25
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Volume de poro
1,6
1,4
1,2
1
C/Co
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Volume de poro
1,4
1,2
1
C/Co (mg/mL)
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 10 20 30 40 50 60 70
Volume de poro
adsorção, Co = 0,5 mg/mL dessorção, Co = 0,5 mg/mL adsorção, Co = 1,5 mg/mL dessorção, Co = 1,5 mg/mL
5 CONCLUSÕES
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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