Tráfico Pessoas e Trabalho Escravo
Tráfico Pessoas e Trabalho Escravo
Tráfico Pessoas e Trabalho Escravo
RESUMO:
A absorção do Protocolo de Palermo pelo ordenamento jurídico brasileiro
trouxe ao Estado instrumentos mais modernos de proteção dos direitos humanos.
Na trajetória do enfrentamento e combate ao trabalho escravo, esse efeito tem
reflexos diretos no trato de todos os trabalhadores submetidos a essa condição,
especialmente dos mais vulneráveis, como, por exemplo, mulheres indígenas
indocumentadas. Assim, queremos discutir neste artigo a necessidade de enfrentar
o trabalho escravo de maneira conjunta, e não concorrente, com o enfrentamento ao
tráfico de pessoas, sem que se tenha que optar por um ou por outro. Partindo do
pressuposto de que o Protocolo de Palermo é um instrumento de direitos humanos e
de que a mobilidade não é a única condição a ser considerada quando é
interpretado, o conceito jurídico de trabalho escravo contido no ordenamento
nacional engloba e acolhe a definição de tráfico de pessoas para fins econômicos,
segundo o estabelecido no referido Protocolo.
1
Mestre em Direito Constitucional pela UFC, Pós-graduada em Teorias Críticas do Direito e Democracia na
Iberoamerica (Multiculturalismo e Direitos Humanos) pela Universidad Internacional de Andalucía, Procuradora
do Trabalho, Titular da CONAETE na PRT da 2ª Região.
2
Bacharel em Direito pela PUC-SP, Mestranda em História pela USP, Assessora Especial para a Promoção ao
Trabalho Decente da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.
3
Mestre em Direito do Trabalho pela USP e Doutorando em Direito do Trabalho pela Universidad Complutense
de Madrid, Auditor-Fiscal do Trabalho, Coordenador do Programa de Erradicação do Trabalho Escravo da
Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em São Paulo.
4
Mestre em Economia do Desenvolvimento pela Faculdade de Direito e Ciências Econômicas da Universidade
de Paris, Diplomado em Administração pelo Institut de Sciences Politiques de Paris, Assessor educacional junto
à Comissão Pastoral da Terra (CPT), Coordenador da Campanha nacional da CPT contra o trabalho escravo.
SUMÁRIO: Introdução. 1 – Contexto histórico e jurídico do combate ao trabalho
escravo e ao tráfico de pessoas no Brasil. 2 – O tráfico de pessoas no âmbito das
modernas formas de escravidão. 3 – Trabalho escravo e tráfico de pessoas: além da
interposição de conceitos. Conclusões. Bibliografia.
INTRODUÇÃO
5
Um agravante notório foi que, em virtude da Lei de Terras aprovada em 1850, o Brasil fechou o livre acesso às
terras, de forma que quando o trabalhador tornou-se “livre”, a terra já havia se tornado “cativa”. Cf José de Souza
Martins, O cativeiro da terra, p. 32: “Num regime de terras livres, o trabalho tinha de ser cativo; num regime de
trabalho livre, a terra tinha de ser cativa.”
centro oeste, e ainda os que trabalham no agronegócio, no desmatamento, em
casas de prostituição e em oficinas de costura. Em comum a desigualdade social, a
falta de oportunidades e a condição de vulnerabilidade que caracteriza a escravidão
moderna, o que Armand Pereira disse ser o “resultado do trabalho degradante que
envolve cerceamento da liberdade.” 6
6
SAKAMOTO, Leonardo (Coord.). Trabalho escravo no Brasil do século XXI. [Brasília]: Organização
Internacional do Trabalho, 2007 p. XIII.
7
http://www.prelaziasaofelixdoaraguaia.org.br/trabalho%20escravo.htm
8
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5889.htm
9
http://www.oit.org.br/sites/all/forced_labour/oit/convencoes/conv_29.pdf
10
http://www.oit.org.br/sites/all/forced_labour/oit/convencoes/conv_105.pdfInternacional do Trabalho, 2007 p.
XIII.
10
http://www.prelaziasaofelixdoaraguaia.org.br/trabalho%20escravo.htm
10
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5889.htm
10
http://www.oit.org.br/sites/all/forced_labour/oit/convencoes/conv_29.pdf
10
http://www.oit.org.br/sites/all/forced_labour/oit/convencoes/conv_105.pdf
toda forma de trabalho forçado ou obrigatório como meio de coerção ou de
educação política; castigo por expressão de opiniões políticas ou ideológicas;
medida disciplinar no trabalho, punição por participação em greves; como medida de
discriminação.
11
http://www.prelaziasaofelixdoaraguaia.org.br/trabalho%20escravo.htm
12
www.cptnacional.org.br
13
http://tinyurl.com/o7n5xhs
órgãos estatais, através de termo de cooperação entre o Ministério do Trabalho e
Emprego, o Ministério P blico ederal, o Ministério P blico do Trabalho e a Polícia
Federal, a sociedade civil (através da CPT e da Confederação dos Trabalhadores na
Agricultura - CONTAG), e que culminou em 1995 com o reconhecimento público
pelo Governo Brasileiro da existência de trabalho escravo.
14
Dossiê: Gênero no Tráfico de Pessoas. Apresentação. In Caderno Pagu, no. 31, Unicamp: Campinas, 2008.
- Convenção para a Repressão do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio,
1949 (Decreto 46.981/1959).
b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista qualquer tipo de exploração descrito
na alínea a) do presente Artigo será considerado irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios
referidos na alínea a);
d) O termo "criança" significa qualquer pessoa com idade inferior a dezoito anos.
quanto com a exploração na indústria do sexo, mantêm-se, em grande parte, em
torno destes dois pontos.
2.1. MIGRANTES
Usar trabalhadores trazidos de fora tem sido a regra na história da
escravidão. Nas condições do Brasil contemporâneo, o avanço da fronteira agrícola
sobre as terras da floresta amazônica, do Cerrado central e do Pantanal, constitui-se
um apelo forte para a migração temporária ou definitiva de trabalhadores
empobrecidos do nordeste e do norte do país, devidamente aliciados por
mirabolantes promessas. Rotas e empreendimentos foram se diversificando: hoje os
auditores-fiscais libertam escravos no Paraná, aliciados em Minas e Bahia para
plantar pinus ou extrair erva-mate; em São Paulo, Rio, Mato Grosso e Goiás, os
migrantes da cana vêm do Piauí, Maranhão ou Alagoas e são encontrados em
situações degradantes que o Art. CP assimila à “condição análoga à de
escravo”, culminando em ocorr ncias de morte por exaustão.
Fora da agricultura, novas rotas se estabeleceram, envolvendo países
vizinhos: rumo às grandes obras do Programa de Aceleração do Crescimento, à
construção civil e às confecções têxteis de São Paulo.
2.2. INTERMEDIÁRIOS
Pivô deste moderno tráfico tem sido a figura dos intermediários 17 (gato ou
coiote), um agenciador de mão-de-obra que, empreitando o serviço, intermedeia a
relação trabalhista no intuito de exonerar o empregador real de qualquer
responsabilidade, especialmente em serviços sazonais ou temporários. Entre peão
bem sucedido e empreiteiro sem real idoneidade empresarial, mas com eficientes
contatos no mundo dos trabalhadores, o intermediário, eventualmente auxiliado por
sub-intermediários, recebe o pagamento do tomador de serviço e se encarrega de
reunir, contratar, levar para o local de trabalho e, conforme o caso, coordenar a
prestação do trabalho da(s) turma(s) de trabalhadores exigidos para realizar as
tarefas contratadas. Adiantamentos de dinheiro, promessas bonitas e histórias
exitosas tornam irresistível sua enganosa proposta. Com o avanço da repressão a
essa terceirização de fachada, novas e modernizadas formas de intermediação
foram surgindo, criando aparências de contratação legalizadas para melhor driblar a
fiscalização, que costuma desconsiderar a ficção da intermediação e procurar
responsabilizar o empregador real. A terceirização de atividades-fim pelas indústrias
siderúrgicas ou pelas grandes redes de confecção não foge deste modelo de
responsabilização do tomador de serviços na cadeia produtiva que domina.
2.3. AGRONEGÓCIO
17
Também conhecidos como gatos ou coiotes, são espécie de um gênero maior representado pelos diversos
tipos de intermediários que costumam existir no trabalho escravo/tráfico de pessoas. Parte da engrenagem,
servem ao propósito maior de mercantilização da força de trabalho humana.
Associado à constante evolução das fronteiras agrícolas do país, o
trabalho escravo seguiu nos últimos 30 anos no rastro do agronegócio, o qual virou a
menina dos olhos das políticas públicas: na fumaça das carvoarias que sacrificam
homens e matas para produzir aço; nas pegadas do gado que avança sobre a
Amazônia Legal com desmatamento em grande escala; na onda da lavoura de soja
que conquista os cerrados centrais; no boom do etanol que pipocou de norte a sul e
ressuscitou o velho canavial. O trabalho escravo contemporâneo está presente nas
principais cadeias produtivas do agronegócio brasileiro, com destaque para a carne
e a madeira (metade das denúncias), a cana e demais lavouras (metade dos
libertados), além do carvão vegetal para uso na siderurgia. Operadores
internacionais demandam produtos sempre mais baratos sem se preocupar com o
que isso implica na ponta. Há clara ligação entre a expansão desenfreada do
agronegócio, no contexto da economia globalizada, e a precarização das relações
trabalhistas: em nome da conquista de novas fatias de mercado sem redução das
margens de lucro, há uma pressão contínua para flexibilizar os direitos do
trabalhador. Aonde o Ministério do Trabalho e Emprego leva a fiscalização, flagra
situações degradantes e identifica trabalho escravo.
Porém há uma sutil contradição: o mesmo Estado que apóia a expansão
acelerada das monoculturas de exportação, corre atrás dos prejuízos brutais que a
mesma provoca.
Outro trabalhador, não identificado, foi levado até Tucumã pelo gato José
Feitosa Oliveira e ali foi sepultado: havia sofrido acidente na fazenda Pista 1, do
Aldemir ima Nunes, vulgo “ ranquinho”.
O corpo de Carlos Dias, 20 anos, casado, pai de uma filha, vaqueiro na
fazenda do “ ranquinho” por meses, foi devolvido à sua família de Ananás pelo
avião da fazenda. A morte resultou de um tiro à queima roupa na cabeça, “acidente”
ocorrido na fazenda em torno das 8h da manhã do dia 23 de julho. Outro cadáver, o
do trabalhador Raimundo Rodrigues da Silva, 41 anos, 4 filhos, chegou a Araguaína,
de ambulância fretada, vindo de uma fazenda da região de Pacajá, onde foi
gravemente ferido em acidente do trabalho.
Jorge Bispo da Silva, 47 anos, pai de 8 filhos, chegou já morto, da
fazenda do “ ranquinho”, no avião do fazendeiro; fora trabalhar com os gatos Chico
Babaçu e Zé Gato, e o corpo foi devolvido à sua família de Angico. A morte seria
conseqüência da queda de uma árvore durante o serviço de motosserra.
Quase não se conseguem declarações de trabalhadores de Ananás sobre
a situação naquelas fazendas, especialmente a do “ ranquinho”: o clima é de
extremo medo em face de um homem descrito como chefão de quadrilha, criminoso
inescrupuloso, manda-chuva que goza de apoios nos mais altos escalões.
18
Sobre o tema, merece leitura a nota técnica da CONATRAE, que pode ser consultada no seguinte endereço
eletrônico: http://www.sdh.gov.br/noticias/2013/abril/nota-tecnica-aprovada-pela-comissao-nacional-para-a-
erradicacao-do-trabalho-escravo-conatrae.
19
Nome fictício para proteger a identidade da vítima. Com base na reportagem de Bianca Pyl (Repórter Brasil):
http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=2092
trabalho e boas condições de moradia, o trabalhador viu-se com duas opções logo
ao chegar: pagar pela viagem ou trabalhar durante um ano para o coiote sem
receber nada e com a condição de não procurar emprego em outro local. Sem
nenhum dinheiro, acabou se submetendo às restrições impostas. As condições
flagradas pela fiscalização não são muito diferentes das que Ronaldo, com 18 anos
completados há pouco, viveu em diferentes oficinas de costura durante os últimos 18
meses que tem passado no Brasil.
Ronaldo foi de ônibus de La Paz para Cochabamba, de lá seguiu para
Santa Cruz de La Sierra, passou por Puerto Quijaro, de onde seguiu para Corumbá,
no Mato Grosso, e finalmente para São Paulo. Quando estava na fila da fronteira
entre Brasil e Bolívia, o coiote entregou para Ronaldo um documento, sem dizer
nada. "Eu não entendi, não sabia como ia conseguir passar, só mostrei para polícia
e passei". Assim que cruzou a fronteira, o documento foi tirado de Ronaldo. Trata-se
da identidade de outra pessoa. A condição de imigrante sem documento é um
elemento determinante nesta relação entre patrão e empregado - relação de
dependência e coerção. O trabalhador torna-se vulnerável à exploração. O medo de
ser deportado ou até mesmo preso pelas autoridades brasileiras é constante e
usado pelo empregador como forma de coerção.
Ronaldo contou em detalhes seus primeiros dias aqui no Brasil, sempre
gesticulando muito e repetindo: "agora eu vou contar tudo, eu sei que vai ser
melhor". O coiote que o trouxe para o Brasil tinha uma oficina na Vila Guilherme,
Zona Norte de São Paulo. No local, ele aprendeu a costurar, ensinado pelo próprio
dono da oficina. Ronaldo costurava retalhos o dia todo, das 7 às 23 horas, e não
saía da oficina para nada. Os dias foram passando e o dono da oficina começou a
ficar mais exigente e a cobrar mais velocidade. "Ele ficou mais rígido", resumiu.
Duas semanas depois de chegar a São Paulo, Ronaldo teve uma dor de
dente e conseguiu emprestado com uma costureira R$ 3 para comprar remédio. Ele
saiu em busca de uma farmácia, mas acabou se perdendo. "Fiquei das 7 da manhã
até às 2 da tarde rodando, rodando e não achei o caminho. Não sabia pedir ajuda".
Ronaldo pediu ajuda para o primeiro boliviano que encontrou na rua. Por sorte, o
compatriota também estava procurando trabalho. "Ele não estava recebendo nada
pelo trabalho e decidiu ir embora. Foi a minha sorte. Saímos em busca de uma
oficina para costurar".
Os dois encontraram trabalho em uma oficina em Guarulhos, mas a
situação era pior. A dona da oficina exigia muito e ele trabalhava até de madrugada
cortando tecidos para fazer edredom. "Eu ficava doente por causa do pó do tecido",
relatou. O local era mais úmido e ele sentia muitas dores nas costas, conta exibindo
a nuca e a lombar. "A comida também era muito ruim". O pagamento pelo trabalho
não era por produção, ele ganhava de R$ 250 a R$ 450 por mês, mesmo tendo
trabalhado até de madrugada todos os dias. Ronaldo permaneceu trabalhando na
oficina do final de janeiro até maio, quando não agüentou mais a situação e saiu. Ele
conseguiu outro trabalho, desta vez, próximo ao metrô Armênia, linha 1 - azul do
metrô de São Paulo. Mas a situação era mais grave: os trabalhadores recebiam
ameaças o tempo todo no local. "O dono ameaçava de bater na gente e não
pagava". Depois de trabalhar um mês na oficina, decidiu cobrar pelo trabalho e foi
ameaçado de morte.
Mais uma vez Ronaldo se viu sem saída. "Eu decidi ir à Feira da Kantuta,
conseguir outro trabalho", disse. Mas em vez de emprego, Ronaldo acabou
reencontrando o coiote que o trouxe para o Brasil e que cobrou a dívida de R$ 450
da viagem. "Eu não tinha dinheiro, então consegui outro emprego e pedi para meu
novo patrão pagar esta dívida para mim". Assim, mais uma vez, o jovem se viu preso
a uma dívida que o obrigaria a trabalhar sem receber nada. Em outra oficina
permaneceu por um mês e recebeu R$ 100 pelo serviço. Foi então que acabou na
oficina onde foi libertado de condições análogas às de escravo.
22
MÉDA, Dominique. O trabalho. Um valor em vias de extinção. Lisboa: Fim de Século Edições Ltda., 1999.
Págs. 36-62
23
A Constituição Federal de 1988 determina:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
25
ORGANIZACIÓN INTERNACIONAL DEL TRABAJO. El costo de la coacción. Informe global con arreglo al
seguimiento de la Declaración de la OIT relativa a los principios y derechos fundamentales en el trabajo.
Conferencia Internacional del Trabajo. 98ª Reunión. Informe I (B). Ginebra: Oficina Internacional del Trabajo,
2009. Pág. 9.
Por meio do Decreto nº 5.948, de 26 de outubro de 2006, recentemente
reformulado pelo Decreto nº 7.901, de 04 de fevereiro de 2013, o Estado brasileiro
aprovou a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, que trouxe
algumas definições também fundamentais. Nesse sentido, o referido documento
determina que a expressão “escravatura ou práticas similares à escravatura” deve
ser entendida como a conduta definida no art. 149 do Decreto-Lei no 2.848, de 1940,
referente à redução à condição análoga à de escravo26. Da mesma forma, ao tratar
do aliciamento de mão de obra, normalmente relacionado com os ilícitos
relacionados ao trabalho em condição análoga à de escravo, a Política afirma que “a
intermediação, promoção ou facilitação do recrutamento, do transporte, da
transferência, do alojamento ou do acolhimento de pessoas para fins de exploração
também configura tráfico de pessoas” 27.
Art. 2°. § 5° O tráfico interno de pessoas é aquele realizado dentro de um mesmo Estado-membro da
Federação, ou de um Estado-membro para outro, dentro do território nacional.
Art. 2° § 7o O consentimento dado pela vítima é irrelevante para a configuração do tráfico de pessoas.
sexual comercial, seja para a exploração econômica, ou para ambas as
finalidades”30. Trata-se de diferentes dimensões do mesmo fenômeno. No tráfico de
pessoas observa-se a questão sob o ponto de vista mercadológico, em que existe
uma transação baseada na exploração do ser humano e na conseqüente vulneração
de direitos humanos. No trabalho escravo, o tema é analisado sob uma perspectiva
do modelo produtivo, centrado na primazia do trabalho, no qual ocorre um desvio de
finalidade redundando em uma mercantilização da força do trabalho humano.
30
FAUZINA, Ana Luiza; VASCONCELOS, Márcia; FARIA, Thaís Dumêt. Manual de capacitação sobre tráfico
de pessoas. Brasília: Organização Internacional do Trabalho, 2009. Págs. 10/11.
alojamento e o acolhimento desses trabalhadores, elementos substanciais do tráfico
de pessoas para o trabalho escravo. O lucro ou benefício será conseguido por meio
de uma situação de desequilíbrio entre a vítima e seus exploradores, em favor
necessariamente dos últimos.
Por certo que a ONU não imprimiu essa amplitude terminológica sem
motivos. Buscava-se enfrentar um tema absolutamente contemporâneo e um
problema crescente na humanidade: a comercialização do homem pelo homem e os
riscos à paz mundial que esse cruel fato comporta. Importante ressaltar que, tanto
no âmbito da OIT quanto da ONU, esse debate é conceitual e de menor importância,
já que o objetivo maior é garantir os mesmos níveis de prevenção, proteção e
punição para qualquer modalidade das formas contemporâneas de escravidão 31.
Existem diferenças procedimentais entre ONU e OIT que também complicam esse
processo. A ONU não possui como missão precípua tratar de matéria trabalhista,
cuja competência e vocação originárias estão diretamente relacionadas com os
temas tratados pela OIT, mas o faz para temas de direitos humanos, daí os tratados
sobre escravidão e tráfico de pessoas. Ao tratarem assim de temas tão correlatos,
ambas as instituições acabam se sobrepassando e podem confundir aqueles que
deverão aplicar esses instrumentos. Em suma, há muitas diferenças nas abordagens
de ambas as instituições. No entanto, os enfoques devem ser compreendidos como
complementares, nunca excludentes.
31
BIGNAMI, Renato. A construção de um novo instrumento internacional contra a escravidão e o tráfico de
pessoas. isponível em: ˂http: reporterbrasil.org.br 2 3 2 a-construcao-de-um-novo-instrumento-
internacional-contra-escravidao-e-o-trafico-de-pessoas ˃, acesso em 7 2 3.
CONCLUSÕES
SACO, José Antonio. Historia de la esclavitud. Buenos Aires: Editorial Andina S.R.L.,
1965. Pág. 7.
www.cptnacional.org.br
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5889.htm
http://www.prelaziasaofelixdoaraguaia.org.br/trabalho%20escravo.htm
http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A350AC882013543FDF74540AB/retrospe
c_trab_escravo.pdf
http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812B21345B012B2ABF15B50089/7337.pdf
http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A39E4F614013AD5A314335F16/novoplan
onacional.pdf
http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812D5CA2D3012D60D125BF0640/Resoluç
ão%20Normativa%20nº%2093,%20de%2021_12_2010.pdf
http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=2092
http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1836
http://www.sdh.gov.br/noticias/2013/abril/nota-tecnica-aprovada-pela-comissao-
nacional-para-a-erradicacao-do-trabalho-escravo-conatrae
http://www.oit.org.br/sites/all/forced_labour/oit/convencoes/conv_29.pdf
http://www.oit.org.br/sites/all/forced_labour/oit/convencoes/conv_105.pdf
http://tinyurl.com/o7n5xhs
http://www.unodc.org/brazil/pt/programasglobais_tsh_inicial.html, acesso em
30/04/2013