2 Check Títulos de Crédito - Isadora

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UMA ANÁLISE ACERCA DOS PRINCÍPIOS DO DIREITO CAMBIÁRIO

ATUAL E SUA APLICAÇÃO NOS TÍTULOS DE CRÉDITO 1


Isadora Guimarães dos Santos2
Leticia do Nascimento Coelho Cunha3
Thaylor Gabriel de Sousa Oliveira4
Bruno Rocio 5

RESUMO

O direito cambial como todo o sistema jurídico tem regras e princípios, a obediência aos
princípios é imprescindível para a correta aplicação do direito, diante disso,
enfrentam-se dificuldades, mas os princípios não podem ser desrespeitados. Isto posto,
quando coloca-se o direito moderno frente a princípios como a cartularidade, é onde
títulos de créditos eletrônicos geram discussões, pois a cartularidade é demonstração
expressa e física de um crédito titular, no entanto, não é possível simplesmente
desconsiderar a possibilidade de documentos eletrônicos no mundo jurídico. Diante
disso, há questionamentos sobre o que se deve fazer para conciliar essas questões, quer
seja a desconsideração do princípio ou do título de crédito eletrônico, ou até mesmo,
estabelecer novos limites e contornos para o direito cambial e sua aplicação com
documentos eletrônicos, esta última sendo fortemente aceita, pois é um meio de
conciliação entre obediência aos princípios e a modernização do título de crédito.

Palavras-chaves: Títulos de crédito; Cartularidade; Princípio;

1
Paper apresentado à disciplina de Teoria Geral do Processo
2
Aluno do segundo período do curso de Direito, da UNDB.
3
Aluno do segundo período do curso de Direito, da UNDB.
4
Aluno do segundo período do curso de Direito, da UNDB.
5
Professor Mestre, orientador.
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 Breve explicação sobre títulos de créditos cartulares e eletrônicos
Existe uma contextualização histórica para o surgimento dos títulos de
crédito, sabe-se atualmente a importância que tem nas relações comerciais, embora
sejam aplicadas basicamente pela sua relevância e necessidade de manejo dos créditos,
no entanto, o fim último ao qual se destinam os títulos, para o qual seu surgimento se
justifica, está justamente na contribuição para as relações econômicas, conforme
explica:
Dentro dessa concepção, a disciplina dos títulos de crédito ganha
importância, na medida em que eles são os principais instrumentos de
circulação de riquezas no mundo moderno. Assim, os títulos de crédito talvez
representem a principal contribuição do direito comercial para a economia
moderna. (TOMAZETTE, 2017, P. 33)

Os direitos creditórios foram estabelecidos para oferecer segurança e


conveniência prova de titularidade e cobrança de obrigações pecuniárias, e no mundo
dos negócios, especialmente bancário, é sem dúvida um sucesso. Após séculos de
propriedade de crédito cartular bem-sucedida, o advento da tecnologia da informação
trouxe uma nova realidade ao limiar do século XXI. Hoje, dois tipos de instrumentos de
crédito coexistem: cartular e escriturais. Não há dúvida de que o passado e o presente
coexistem em harmonia na atual legislação cambial brasileira (TOMAZETTE, 2017).
Portanto, os títulos de crédito contribuem para o exercício do crédito,
juntamente com oferecer uma facilitação para as relações de fornecimento de bens e
serviços:
Os títulos de crédito possuem duas funções fundamentais, a saber: (a)
constituir um meio técnico para o exercício de direitos de crédito; e (b)
facilitar e agilizar a circulação de riquezas. Quem tem um título de crédito
pode rapidamente transformá-lo em dinheiro, endossando, nos contratos de
factoring ou desconto bancário. Igualmente, o credor que possui esse
documento pode ter o reforço de uma garantia pessoal de forma bem simples
e segura (o aval) (TOMAZETTE, 2017, P. 36)

Isso tudo para demonstrar que os títulos de crédito possuem uma função
essencial ao desenvolvimento da economia, e suas características são meios de
contribuição e fazem parte de seu papel, portanto, a cartularidade é um elemento
importantíssimo para a constituição de um título de crédito, o que demonstra ser um
problema quando depara-se com as mudanças do mundo moderno, em que o papel está
sendo ultrapassado e tudo que resta são documentos eletrônicos.
Os títulos de crédito possuem características, dentre elas qual sejam xxxxxx,
e o formalismo, situação em que demonstra a importância que tem em seguir
determinadas regras para que o título possa vir a ter validade, é essencial que tenha
indicação de nome ou beneficiário, por exemplo. é esses formalismos que fazem do
título, detentor de crédito, deixando e ser um mero documento, para se tornar um título
de crédito e ter validade jurídica para tal (TOMAZETTE, 2017).
Nesse ponto, torna-se importante falar dos títulos eletrônicos, um
documento eletrônico, conforme Tomazette explica (2017), no entanto, que assim como
a cártula, tem poder de crédito. Portanto, os títulos de crédito são documentos úteis e
essenciais, possuem uma versatilidade a depender do seu objetivo, no entanto, suas
características devem obedecer ao formalismo, o que levanta discussões sobre a
validade do título eletrônico, pelo não enquadramento aos princípios do direito cambial.
O desenvolvimento tecnológico é, sem dúvida, o principal motivo do
advento da emissão eletrônica de títulos. No entanto, o título de crédito cartular
continua sendo importante para a segurança jurídica. Portanto, não há dúvida de que o
direito empresarial representa uma mudança de conceitos aparentemente imutáveis para
gerar novas relações jurídicas e, claro, inúmeras questões foram levantadas, uma das
quais envolve a necessidade de desenvolver uma reinterpretação dos princípios de
direito cambiário atual e sua aplicação para escritura de crédito.

1.2 Princípio da cartularidade no direito cambial


Atualmente, os princípios diferem das posições observadas no direito
natural e no positivismo jurídico. De acordo com a teoria hermenêutica
contemporânea, os princípios têm um status imperativo na sistemática jurídica. Os
juristas não usam mais “norma” e “regra” como sinônimos sob escrutínio de
conteúdo normativo a crivo de desconsiderar o conteúdo normativo e a força
vinculante dos mesmos (FERNANDES, 2012, P. 32-33).
Berberes citado por Fernandes, observa que:
Assim diante da imperatividade de que são dotados os princípios, é
preciso que se lhes dê um lugar na teoria da norma, diferente do que lhes
atribui o jusnaturalismo e o positivismo jurídico. E para isso, necessário se
faz o abandono da superposição dos conceitos de norma e regra, por
conseguinte, construção de uma nova teoria da norma. Neste passo, a
distinção entre norma e regra se impõe, até porque, em assim não se
procedendo, resta uma dificuldade intransponível de se atribuir
normatividade aos princípios, o que se explica pela seguinte indagação: se
norma e regra são a mesma coisa, e princípio (não positivado) não é regra-
e, portanto, não é norma-, como os princípios podem ser dotados de
normatividade? (BERBERI apud FERNANDES, 2012, P. 33).

Observa-se que o direito se desenvolve sob um sistema aberto de regras e


princípios, se distanciando de um sistema fechado de regras como defendido por
muitos doutrinadores que propõem a tese positivista.
Dessa maneira, a doutrina refere-se à cartularidade, literalidade e
autonomia como princípios que contornam os títulos de crédito visto que os mesmos
emanam certeza e segurança para aqueles se valem deles em seus negócios De acordo
com Jean Carlos Fernandes (2007, P. 127) “Tais princípios, sem dúvida alguma, são
frutos do esforço da doutrina que culminou em uma das melhores demonstrações da
capacidade criadora da ciência jurídica nos últimos séculos”.
Nesse contexto, Cesare Vivante (apud RAFIH e CABRIOLI, 2015), autor
da teoria unitária para os títulos de crédito, que o define como um “documento
necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele mencionado”,
menciona que:
O direito contido no título é um direito literal, porque seu conteúdo e os
seus limites são determinados nos precisos termos do título; é um direito
autônomo, porque todo o possuidor o pode exercer como se fosse um
direito originário, nascido nele pela primeira vez, porque sobre esse direito
não recaem as exceções, que diminuíram o seu valor nas mãos dos
possuidores precedentes (VIVANTE, 2003, p.152, apud RAFIH e
CABRIOLI, 2015).

Passa-se a compreensão do princípio essencial para a constituição do título


de crédito, um deles é o princípio da cartularidade, este expressa-se através do
entendimento de que o título é cartular, ou seja, é documento e a partir deste meio é que
é possível conseguir ser o detentor do crédito (TOMAZETTE, 2017).
Assim, a clara manifestação da doutrina, é que quem detém o documento,
desde que em consonância com as características do título, cumprindo com a
formalidade, este é quem possui o crédito, pois até mesmo para descontar um cheque é
necessário apresentá-lo ao banco:
A apresentação de cópia autenticada não garante que o apresentante seja o
efetivo possuidor do título, ou seja, não garante que o mesmo tenha o direito
de exigir o crédito consubstanciado no mesmo. “A juntada do original do
documento representativo de crédito líquido, certo e exigível,
consubstanciado em título de crédito com força executiva, é a regra, sendo
requisito indispensável não só para a execução propriamente dita, mas
também para todas as demandas nas quais a pretensão esteja amparada na
referida cártula (TOMAZETTE, 2017, P. 54)

Embora seja um princípio carissio e tenha como regra que os títulos sejam
em documento físico, ou seja, constituem-se através da cártula, no entanto, esse
princípio vem sendo discutido e em algumas situações mitigado, pois em certas ocasiões
admite-se a apresentação de cópia pela impossibilidade de apresentação do original, que
seja por inviabilidade ou por segurança do detentor do crédito, mas o que se vê, é um
crescimento doos caso, em que não mais é obrigatória a apresentação de titulo original
para acesso ao crédito (TOMAZETTE, 2017).
Outra situação que pode tornar-se um problema para para cartularidade seria
o título eletrônico, pois não é a clara expressão de um título físico, muito pelo contrário,
o documento eletrônico segue formalidade estritamente do ambiente virtual, sendo um
possível caminho para questionamento sobre os títulos, suas validades e a
cartularidade.

1.3 Aplicação dos princípios do direito cambial ao título eletrônico

Assim sendo, o desenvolvimento tecnológico, especialmente com o


surgimento da Internet, fez com que conceitos imutáveis do Direito fossem revistos.
É neste contexto que o estudo das relações jurídicas se desenvolveu em um novo
meio, o que deu origem a um exame cuidadoso sobre se os sistemas jurídicos podem
se adaptar às novas formas oferecidas pelo mundo digital (LUCCA, 200).
No que diz respeito ao direito cambial, é preciso reler os princípios que o
norteiam, por isso é preciso debater em duas frentes: Uma delas é refletir se o
conceito de instrumentos de crédito criado pelo estudioso italiano Vivante e
reproduzido no artigo 887 do Código Civil de 2002 se adequa à nova realidade dos
instrumentos de crédito, que atualmente podem ser classificados como instrumentos
de crédito cartular e não cartulares ou também conhecidos como livro escriturais. A
segunda questão é se os princípios do direito cambial vinculados à teoria clássica dos
títulos de crédito subsistem diante dos títulos escriturais, como a Lei 12.249/10.
No que tange aos princípios encontra-se um problema a ser enfrentado,
pois a modernização do direito cambial acaba sendo uma maneira que diferencia e
desmaterializa o título de crédito, pois a ideia que se tem quando menciona-se a
cartularidade do crédito é que haja a necessidade de apresentação do papel, ou seja, a
obrigação de apresentação da folha de cheque no banco para que seja pago.
Os títulos eletrônicos são previstos até mesmo no Código Civil (art. 889,
§3º), porém este não é qualquer documento eletrônico, assim, como os títulos físicos,
existem características do formalismo a serem atendidas, como já mencionado.
Portanto, nessas condições, questionam-se o que os títulos eletrônicos representam
para o mundo jurídico, especialmente considerando os princípios, como o da
cartularidade.
Tomazette (2017) afirma que são três as respostas possíveis, ou o
princípio da cartularidade não existe mais, ou os títulos de crédito eletrônicos não são
válidos e por fim, a última opção que parece o meio termo, a cartularidade precisa de
novos contornos para que seja aplicada ainda ao título de crédito, mas que atenda à
modernização do mundo jurídico.
Diante disso, é preciso fazer duas análises, pois é absurdo desconsiderar
ou extinguir os títulos eletrônico, o mundo já vem caminhando para o mundo virtual
há tempos, com a recente pandemia vivida recentemente, esse processo apenas sofreu
uma aceleração, logo, a opção de exclusão dos título eletrônicos termina por ser
rechaçada. Quanto ao princípio da cartularidade, como já mencionado, os princípios
têm suas funções, são importantíssimos para o direito, esse sendo um dos pilares do
título de crédito, também configura absurdo se for excluindo simplesmente para que
seja inserido no ordenamento uma nova modalidade de títulos (TOMAZETTE, 2017).
Por fim, a ideia mais promissora parece uma nova versão da
cartularidade, ou pelo menos uma melhor interpretação do que são os documentos
eletrônicos e como podem constituir títulos. Tomazette (2017) explica que o
documento que distinguir matéria, meio e conteúdo, no caso explicando a que se trata
aquele documento, tendo o meio definido através de qual será a forma apresentada do
conteúdo, pode ser papel, pode ser um pedaço de madeira ou até mesmo um
documento eletrônico, ou seja, o documento tradicional e o eletrônico, se seguindo as
mesmas regras, características e princípios não perdem sua cartularidade e não tem
muita diferença.
Portanto, o que concluí-se é que os títulos são sensíveis e por tratarem de
créditos, que são importantíssimos ao ordenamento, precisam seguir regras e
princípios, os princípios norteiam as regras e seus cumprimentos, diante disso, é
inaceitável que haja violação para a existência de algum instituto jurídico, no entanto,
a modernização pede uma mudança de cenário, e é nesse contexto, que renova-se a
interpretação e os contornos do princípio da cartularidade para que o título de crédito
eletrônico existe e esteja em acordo com a regulamentação jurídica.
REFERÊNCIA

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil brasileiro.

BRASIL. Lei nº 11.419, de 19 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a informatização


do processo judicial; altera a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.

FERNANDES, Jean Carlos (Coord.). Belo Horizonte: Del Rey, 2011. COELHO,
Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa.17. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013. v. 1.

LUCCA, Newton de; FILHO SIMÂO, Adalberto (coord.). Direito e Internet:


aspectos jurídicos relevantes. Bauru, SP: Edipro, 2000.

RAFIH, Rhasmye. CABRIOLI, João Vinicius. Dos institutos garantidores de


pagamento e a origem e evolução dos títulos de crédito - 2015. JUS.COM.
Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/32014/dos-institutos-garantidores-de-pagamento-e-a-orige
m-e-evolucao-dos-titulos-de-credito. Acesso em: 04 de maio de 2022.

TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial. Títulos de crédito. Ed. 8.


Atlas, 2017. v. 2
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... XX
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................... XX
2.1 Breve explicação sobre títulos de créditos cartulares e eletrônicos ....................... XX
2.2 Princípio da cartularidade no direito cambial ……................................................ XX
2.3 Aplicação dos princípios do direito cambial ao título eletrônico........................... XX
3 CONCLUSÃO ......................................................................................................... XX
4 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... XX

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