Sermão 022 - A JUSTIFICATIVA DE PEDRO
Sermão 022 - A JUSTIFICATIVA DE PEDRO
Sermão 022 - A JUSTIFICATIVA DE PEDRO
Atos 11.1-18
INTRODUÇÃO
i) Vimos em Atos 10 que depois de registrar o poder de Jesus entre os
judeus, Lucas passa a narrar o poder salvador de Jesus entre os gentios. ii)
Vimos também que existia uma barreira culturalmente intransponível entre
judeus e gentios naquela época (incluindo até mesmo os gentios "tementes
a Deus"). O motivo dessa barreira é que Israel, em primeiro lugar, distorceu
a doutrina da eleição e a transformou em uma doutrina de favoritismo,
encheu-se de orgulho e ódio racial, desprezou os gentios, e desenvolveu
tradições que os mantiveram sempre afastados. Um judeu não podia entrar
na casa de um gentio, nem convidá-lo para a sua casa (veja o v. 28). Pelo
contrário, "qualquer relacionamento familiar com os gentios era proibido".
Em segundo lugar, outro motivo desse preconceito judeu foi o
surgimento da seita dos fariseus. Quando a gente estuda a história do período
intertestamentário (o tempo entre Malaquias e João Batista), a gente entende
porque que os judeus tiveram essa posição tão restrita e preconceituosa com
as outras nações. É porque ao longo de sua história, os judeus foram
conquistados por diferentes nações inimigas, e um desses inimigos foi o
Império helênico, sob a liderança de Alexandre o Grande, que tinha como
estratégia helenizar as nações que ele conquistava.
Quando Alexandre o Grande conquistou a nação de Israel ele impôs
um programa de helenização, que significava transformar os judeus em
gregos. Os judeus tinham que adotar nomes gregos, a religião grega, práticas
gregas, e a língua grega. Era um domínio cultural. Ao contrário, por
exemplo, dos babilônicos, que aprisionavam os povos. Os gregos não
tinham a prática de deportar mas de transformar a cultura das nações. Eles
queriam conquistar o corpo, mas também as mentes e os corações dos povos.
E eles tentaram isso com os judeus. Tentaram impedir a guarda do sábado.
Epifânio sacrificou um porco no altar de Jerusalém para profanar o altar,
para o horror de todos os judeus.
O resultado foi o que ficou conhecido como A Guerra dos Macabeus.
Um sacerdote (Macabeu), junto com sua família de sacerdotes liderou um
movimento de revolta e é desse movimento que surgiu o farisaísmo, que
zelava pelas tradições de Israel, pela observação mais estreita da Lei e não
admitiam que os judeus parassem de cumprir as leis e seguir os
mandamentos que Deus havia mandado. Eles resistiam a helenização.
Já existia uma grande barreira entre judeus e gentios, por conta da
distorção da doutrina da eleição. Agora, com esse espírito nacionalista essa
barreira ficou ainda maior.
Os primeiros cristãos eram todos judeus que se converteram a Cristo,
mas, que a princípio, não mudaram sua mentalidade nacionalista
preconceituosa. Este é o motivo de Lucas dar ênfase na conversão de Paulo,
que será o apóstolo para os gentios, assim como a conversão de Cornélio, o
primeiro gentio que foi recebido na Igreja de Cristo. Lucas está nos
mostrando o seguinte: Deus não é apenas dos judeus. Deus é Rei dos reis e
Senhor dos senhores, sobre todas as nações.
a. A unidade da igreja
A ênfase fundamental da história de Cornélio é que, se Deus não faz
distinções em sua nova sociedade, não temos direito de fazê-las. Mas, por
mais trágico que seja, a igreja nunca chegou a aprender totalmente essa
verdade. Até o próprio Pedro, vai cair no pecado da discriminação mais
tarde, em Antioquia, quando se retirou da comunhão com crentes gentios,
precisando ser advertido publicamente por Paulo. Os judaizantes vão
continuar a sua propaganda de discriminação dentro da igreja primitiva. Os
apóstolos terão que lutar contra isso.
Esse pecado da discriminação continua reaparecendo na igreja em
forma de racismo, nacionalismo, esnobismo cultural e social, ou sexismo
(discriminação da mulher). E neste último caso específico, é obvio que não
estou negando o fato de que biblicamente, na comunidade da fé, existem
funções específicas, atribuídas pelo próprio Deus, para homens e mulheres.
O ponto é que: todo tipo de discriminação é imperdoável mesmo em
sociedades não-cristãs; na comunidade cristã, ela é um absurdo (porque
ofende a dignidade do ser humano) e uma blasfêmia (porque ofende a Deus,
que aceita sem discriminação todo o que se arrepende e crê). Como Pedro,
devemos aprender que "Deus não faz acepção de pessoas".
Essa passagem nos lembra, claramente, que Deus quer todos os seus
filhos juntos, em perfeita comunhão e trabalhando para a propagação do
Reino de Jesus Cristo na terra. E eu gostaria que você pensasse um pouco
sobre isso: o Senhor Jesus Cristo não faz apenas mediação entre você e
Deus, mas entre você e seus irmãos. De tal forma que rejeitar a comunhão
com a comunidade da fé é rejeitar comunhão com o próprio Senhor da
Igreja. Cristo morreu para unir pessoas. Para unir os filhos de Deus ao pai e
aos seus irmãos. Não banalizemos o sacrifício do Senhor Jesus.
c. O poder do evangelho
Lucas recontou as conversões de Paulo e Cornélio. As diferenças entre
esses dois homens eram consideráveis. Quanto à raça, Paulo era judeu,
Cornélio era gentio; quanto à cultura, Paulo era um erudito, e Cornélio um
soldado; quanto à religião, Paulo era um fanático, Cornélio um simpatizante.
Mas ambos foram convertidos através da graciosa iniciativa de Deus; ambos
receberam o perdão de pecados e a dádiva do Espírito; e ambos foram
batizados, sendo recebidos na família cristã em igualdade de condições.
Esse fato é um testemunho do poder e da imparcialidade do evangelho de
Cristo, que ainda é o "poder de Deus para salvação de todo o que crê;
primeiro do judeu e também do gentio".
Não existe qualquer barreira para o poder salvador de Jesus Cristo.