Artigo Sais Insoluveis EDTA

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Revista Brasileira de Arqueometria, Restauração e Conservação. Vol.1, No.5, pp.

246 - 251 Copyright © 2007 AERPA Editora

PROCEDIMENTO DE RESTAURO PARA REMOÇÃO DE SAIS INSOLÚVEIS SOBRE


PINTURAS MURAIS NA IGREJA DA PARÓQUIA IMACULADA CONCEIÇÃO (SÃO
PAULO, SP) COM ACOMPANHAMENTO POR EQUIPAMENTO PORTÁTIL DE EDXRF

Márcia Rizzo (*); Carlos Roberto Appoloni (**); Paulo Sérgio Parreria (**)
(*) MRizzo Restaurações - Laboratório de Conservação e Restauração de Bens Culturais Ltda.
(**) Universidade Estadual de Londrina

1. Introdução O prédio da igreja, onde se encontram as referidas


Um projeto de quatro anos, com contrato firmado pinturas murais em algumas paredes e forros, teve
entre a Província dos Capuchinhos de São Paulo e a problemas de infiltração de água do solo, por
empresa MRizzo Restaurações, iniciado em 20 de capilaridade, devido à proximidade do lençol freático
Junho de 2004, prevê a conservação e restauração dos aliado à própria constituição das paredes e, ainda,
bens culturais móveis e imóveis da igreja da Paróquia problemas de infiltração pelo forro. Isto acarretou em
Imaculada Conceição, em São Paulo, SP. O trabalho é descolamento e perda da camada pictórica, além de
bastante abrangente, multi e inter-disciplinar e a eflorescência salina. O presente trabalho apresenta a
empresa conta com diferentes equipes de especialistas. proposição e aplicação de procedimento de restauro de
Os diagnósticos e procedimentos de restauro são remoção de sais insolúveis, depositados sobre a
sempre precedidos de análises estéticas, históricas e superfície de uma pintura mural solúvel em água,
científicas. assim como o estudo físico-químico com fluorescência
Os capuchinhos se estabelecem em São Paulo em de raios-X in situ, que embasou e/ou validou as
1897, provisoriamente na igreja do largo São tomadas de decisões.
Francisco. Em 1901, eles compram o terreno, aonde a
igreja da Paróquia Imaculada Conceição se encontra
atualmente, para a construção de um convento e uma
igreja da ordem. Em 1904 inauguram uma capela
provisória e em 1905 se dá a inauguração oficial do
convento. Em 1909 é feito um planejamento para a
construção de uma igreja maior, anexa ao convento, a
qual começa a ser feita no mesmo ano. Em 1911 é
inaugurado o prédio da atual igreja, construída em
estilo românico, toda branca, com os padrões de Tirol,
na Itália, de onde provinham os frades. Com o passar
do tempo e a influência de diferentes culturas, o estilo
simples e despojado dos franciscanos foi sendo
substituído por outro mais sofisticado. Muitas
modificações foram feitas no interior da igreja, desde a
sua inauguração até hoje, tanto na parte arquitetônica
externa e interna, como na composição e policromia
dos altares e retábulos das capelas laterais, do altar mor
e na imagem da padroeira. As paredes e o forro,
inicialmente brancos, receberam uma pintura mural à
têmpera a qual foi feita pelos irmãos Pietro e Ulderico
Gentili. A primeira pintura foi feita de 1926 à 1929.
Nos anos 60 os mesmos artistas voltaram para
modificar esta pintura adaptando-a às alterações que
haviam ocorrido no interior da igreja, repintando
somente aonde era necessário para sanar um problema
estético.
Segundo a literatura (Lade, K.), o cimento utilizado Fig.1 Detalhe de uma pintura mural que sofreu
para construção naquela época era o cimento portland, infiltração de água e apresenta descolamento e perda de
muito parecido com o que conhecemos hoje, ele foi camada pictórica, assim como eflorescência salina .
cientificamente desenvolvido pelo químico britânico
Joseph Aspdin, de Leeds, que o batizou com este nome, 2. Materiais e Métodos
devido à semelhança de sua cor e de outras Nos locais onde houve infiltração de água havia um
características com a de um tipo de pedra encontrada material branco sobre a camada pictórica que poderia
na Ilha de Portland, na Inglaterra. A “receita original” ser algum tipo de sal aflorado, mas que era insolúvel
era aproximadamente: 62% de cal (CaO), 21% de em água. Este material era extremamente duro e estava
dióxido de silício (SiO2), 7% de oxido de aluminio fortemente aderido à camada pictórica, a qual, por sua
(Al2O3), 3% de oxido de ferro (Fe2O3) e 5% de oxido vez, estava se desprendendo do suporte (parede). A
de magnésio (MgO). argamassa da parede é um aglomerado não coeso de

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partículas e se desfaz facilmente. Paralelamente, a O quelante captura os cátions formando um
camada pictórica é solúvel em água, pois o artista complexo que pode ser solvatado, conforme mostra a
utilizou goma arábica como ligante dos pigmentos. Fig. 2 e, posteriormente, removido.
Para retirada da substância esbranquiçada insolúvel
2.1. Materiais depositada sobre a camada pictórica solúvel em água,
Polímeros: álcool polivinílico Celvol 107 (grau de foi realizado o seguinte tratamento:
hidrólise do lote: 98,5%), álcool polivinílico Celvol 1º) aspersão de solução de Celvol 205 (menor
205 (grau de hidrólise do lote: 87,5%), ambos aderência) ou solução de Celvol 107 (maior aderência)
fabricados por Celanese Ltd, Dallas, E.U.A. e sobre a pintura esbranquiçada para consolidação e
distribuídos pela empresa Dermet Agekem; resina fixação de todo o conjunto – camada pictórica e
acrílica Paraloid B72, fabricada pela Rhom & Haas e elementos estranhos aderidos - sobre o suporte
distribuído pela Brenntag. (parede),
Solventes: etanol, xileno, ambos fabricados pela 2º) aplicação de calor local com espátula térmica para
Luksnova Industria e Comercio S.A. e água deionisada. rebaixamento das escamas em descolamento da
Quelante: EDTA, ácido etileno diaminotetraacético camada pictórica, se necessário,
sal dissódico P.A., (lote: 1.064-RD) fabricado pela 3º) aplicação por aspersão de solução de EDTA, sobre
U.Q.B. (União Química Brasileira). a pintura esbranquiçada e já fixada,
Ácido: ácido acético glacial P.A., fabricado pela 4º) remoção deste complexo – substância branca mais
U.Q.B. (União Química Brasileira). parte do álcool polivinílico depositado sobre a
superfície - com algodão envolto num palito e
2.2. Preparações embebido em água, após um intervalo de ação de 10 à
As soluções de álcool polivinílico foram preparados 15 minutos, sem afetar a camada pictórica,
da seguinte forma: o polímero foi deixado na água na 5º) aplicação de solução de Paraloid B72 em xileno,
proporção de 64g do produto para 250g de água por nas diferentes concentrações, conforme a necessidade,
24hs, depois esta mistura foi aquecida em banho-maria para melhor fixação da pintura sobre o suporte e
até a total dissolução do produto. Após a solução ter consolidação do próprio suporte.
resfriado à temperatura ambiente foram adicionados Para verificação da hipótese, identificação de
300g de etanol. pigmentos e análise da eficácia do tratamento, foram
As soluções de resina acrílica Paraloid B72 foram realizadas medidas não destrutivas in situ nas pinturas
preparadas misturando-se o polímero com xileno murais em bom estado, e nas pinturas com a presença
resultando em diferentes concentrações molares de 2,5; da substância branca antes e depois do tratamento, com
5,0; 10,0; 15,0 e 20,0%. um sistema portátil de fluorescência de raios X por
A solução de EDTA foi preparada no intervalo de dispersão em energia (EDXRF), com tubo de raios X
concentração de 10-1 à 10-2 molar. As soluções de ácido com anodo de Ag e detector de Si-PIN, do Laboratório
acético foram preparadas nas concentrações molares de de Física Nuclear Aplicada (LFNA) da UEL. O tempo
5; 50 e 95%. de medida de cada espectro foi de 500s. Uma análise
qualitativa prévia dos espectros de raios X medidos foi
2.3. Métodos realizada in situ durante as medidas, através do
Baseados na hipótese de que substâncias contendo software do sistema de tomada de dados, já permitindo
elementos como Ca ou Mg poderiam ter sido varridas a identificação e acompanhamento de alguns
da argamassa, aflorado na superfície e posteriormente elementos. Posteriormente os espectros foram
reagido com CO2 resultando em CaCO3 ou MgCO3, os analisados no LFNA para a redução final dos dados.
quais são praticamente insolúveis (0,03 % e 0,002 %,
respectivamente), foram feitos testes com resultados 3. Resultados
satisfatórios com o quelante EDTA que reage com os O material branco depositado sobre a pintura foi
cátions, e com ácido acético que reage com os ânions, removido, revelando-a e preservando-a. Outros
no intuito de remover os sais. O tratamento sistemático elementos estranhos, sais solúveis e sujidades
utilizado para fixação da camada pictórica mural com a adsorvidas também foram removidos com o mesmo
aplicação local de resina acrílica sintética Paraloid procedimento. Foram analisadas por EDXRF seis
B72, não poderia ser usado nesta situação, pois regiões de cores distintas numa pintura mural sem
impermeabilizaria a superfície impedindo o tratamento infiltração, o que permitiu indicar a natureza de alguns
posterior, que necessariamente é à base de água. pigmentos. A comparação entre seis medidas de
EDXRF realizadas antes do tratamento descrito e
outras cinco feitas pós-tratamento, permitiu observar
alguns resultados do mesmo, como, por exemplo, a
ausência ou diminuição dos elementos S, Ca e Fe,
após a limpeza.
Os pontos medidos estão representados na Fig. 3,
marcados numa foto da parede com infiltração. As
pinturas das paredes com e sem infiltração são
simétricas, e os pontos que se referem à parede sem
Fig. 2 Complexação de metais pela molécula de infiltração estão localizados em posições equivalentes
EDTA. marcadas também na Fig. 3.

247
Os seguintes elementos: K, Ca, Ti, Fe e Zn, 20000 Ar-Kα+
apareceram tanto na medida da argamassa nua como Ag-Kα

nas medidas da pintura mural, sendo que na pintura Ca-Kα


Posição PLCA

(com ou sem infiltração), eles apresentaram contagens

(N de fótons de raios X)
15000

maiores.

Contagens
10000
Fe-Kα
Ni-Kα

o
5000

0
0 5 10 15
Energia
(keV)

Fig. 4 Espectro de EDXRF de carbonato de cálcio


sobre placa de madeira.
Fig. 3 Foto da parede (com infiltração), onde estão
marcados os pontos medidos: na parede simétrica sem Linha Área/pico Desv.padrão
infiltração e na parede com infiltração antes e depois Ar-Kα 64609 4248
do tratamento. Ca- Kα 70079 2311
Fe-Kα 7251 594
3.1. Medida da Argamassa (parede descascada, sem Ni- Kα 3023 2047
pintura aparente)
Tabela 2 Medida de EDXRF da placa de madeira
Linha Área/pico Desv.padrão coberta com carbonato de cálcio.
S -Kα nd
Ar-Kα 212657 166994 A linha de Ca está bem determinada, com um
K -Kα 235936 129798 desvio de 3,3%. Aparecem os contaminantes Fe e Ni,
indicando a ordem de grandeza de sua contribuição em
Ca-Kα 191873 121216
outros espectros, e o Ar é devido ao ar.
Ti- Kα 58633 3504
Cr- Kα 12256 2876 3.3. Indicação de pigmentos
Mn-Kα 6775 3931 A seguir discutiremos a indicação de pigmentos, a
Fe- Kα 31940 2593 partir dos elementos majoritários observados no
*Ni-Kα 14084 942 espectro, assim como a comparação entre os elementos
medidos em vários pontos analisados na parede sem
Zn- Kα 108632 1101
infiltração.
*Ag-La 56531 215145
Pb-La nd Ponto
Elementos em ordem
(*) - contaminantes do sistema decrescente de área
(nd) - não detectado A1-Ocre claro Zn, Fe, Ti, Mn, Cr e S
Tabela 1 Medida de EDXRF da argamassa B1-Azul Fe, Zn, Ca, Ti, K, Mn, S e Cr
C1-Bege Ca, Zn, Ti, Fe, K, Mn, Cr e S
Dos elementos esperados, segundo a “receita” de D1-Verde intenso Ca, Zn, Ti, Fe, Mn, Cr, Co e S
argamassa da época: Ca, Si, Al, Fe e Mg, somente o Ca E1-Amarelo claro Zn, Ti, Ca, Mn, Cr, Fe e S
e Fe poderiam ser medidos pelo método usado. F1-Vermelho Fe, Zn, Ca, Ti, Mn, S, Cr
Observa-se, entretanto, que os elementos Tabela 3. Comparação entre os elementos medidos em
predominantes, são, além do Ca e do Fe, o K, Zn, Ti. vários pontos analisados na parede sem infiltração.
3.2. Medida de Placa com Carbonato de Cálcio Dificilmente encontraremos numa pintura desta
época um pigmento puro. Os pontos analisados
Foi medido o espectro de raios-X de uma placa de representam a paleta do artista, onde vários pigmentos
madeira pintada com uma grossa camada de carbonato estão presentes ao mesmo tempo, misturados para
de cálcio (CaCO3), para verificar a capacidade do compor as infinitas nuances de cor. Ao mesmo tempo,
sistema em medir a linha do Ca, assim como verificar numa pintura com as dimensões desta em que estamos
as linhas de contaminantes do sistema, já que a amostra trabalhando, o mais provável é o uso de pigmentos
é conhecida, material orgânico (madeira) e o CaCO3. O baratos, como, por exemplo, os óxidos. Devemos
mesmo não foi feito para o carbonato de magnésio lembrar também que, geralmente o artista faz uso do
(MgCO3), visto que o Mg não é detectável pelo sistema preto e do branco, misturando-os aos outros pigmentos
de EDXRF empregado. para obter os efeitos que deseja. Os pigmentos pretos
O espectro, mostrado na figura a seguir (Fig. 4), são compostos essencialmente por carbono, o qual não
após analisado pelo software AXIL, forneceu as áreas pode ser detectado no tipo de analise utilizada, mas
da Tabela 2. provavelmente está presente nas cores da pintura,

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podendo dificultar a interpretação dos dados obtidos de oxidos de ferro “Amarelo Ocre” (Fe2O3.H2O),
até o presente momento; por exemplo, misturando-se “Verde de Oxido de Cromo” (Cr2O3), “Veridian”
amarelo com preto, obtém-se uma cor esverdeada. A (Cr2O3.2H2O) e/ou terras podem ter sido adicionadas.
análise conclusiva da composição dos pigmentos só Também não se pode excluir a possibilidade da
poderá ser feita com o auxílio de outras técnicas, como presença de “Amarelo de Zinco”, que é um sal
espectroscopia IV, Raman, etc.. A partir dos espectros hidratado composto por cromato de potássio e cromato
elementares obtidos, podemos notar a presença dos de zinco (4ZnO.4CrO3. K2O.3H2O).
mesmos elementos em todos os pontos analisados. O O verde intenso do ponto D1 visualmente parece
que varia em cada caso é a quantidade relativa dos verde esmeralda Cu(CH3COO)2·3Cu(AsO2)2 , mas não
elementos. O (S) enxôfre tem área da mesma ordem de aparece o elemento cobre (Cu) nas medidas. O mesmo
grandeza em todos os pontos da parede, provavelmente efeito, porém, poderia ser obtido misturando-se
está adsorvido na camada pictórica, proveniente de principalmente azul e amarelo, com pequenas
produtos de poluição. Os elementos Zn (zinco) e Ti quantidades de outras cores, como branco, castanho,
(titânio) indicam a presença dos pigmentos brancos vermelho, para acertar o tom. Pelo espectro analisado
“Branco de Zinco”, oxido de zinco (ZnO) e “Branco de poderia também ser “Verde de Cobalto”, oxido de
Titânio”, oxido de titânio (TiO2) respectivamente. O cobalto e zinco, (CoO·nZnO), mas ele só foi usado
Ca pode ter migrado da argamassa para a superfície em entre1780 e 1919, e era bastante caro. Não deve ser
pequena quantidade ou, o que é mais provável, pode ter “VerdeTerra”,[(Al,FeIII),(FeII,Mg)](AlSi3,Si4)O10(OH)2,
sido detectado devido à presença de carbonato de porque aparece Cr no espectro. A indicação, portanto é
cálcio (CaCO3) na tinta, como carga ou também como “Veridian”, hidróxido de cromo hidratado
pigmento branco, apesar de não ter grande poder de (Cr2O3.2H2O) ou “Verde de Oxido de Cromo”, oxido
cobertura. Os pigmentos marrons ou castanhos também de cromo (Cr2O3).
são frequentemente adicionados para obtenção dos O ponto E1, é uma cor branca, mistura dos três
efeitos desejados pelo artista. São eles: “Ocre pigmentos, “Branco de Zinco”, oxido de zinco (ZnO),
Castanho”, oxido de ferro hidratado (Fe2O3.nH2O), “Branco de Titânio”, oxido de titânio (TiO2) e
“Úmbria” ou “Castanho de Van Dyck”, terras carbonato de cálcio (CaCO3), amarelecido devido à
compostas de oxido de ferro, manganês e alumínio. goma arábica usada como ligante e às vezes aplicada
Os resultados encontrados no ponto A1 indicam a sobre a camada pictórica.
presença de “Amarelo Ocre”, oxido de ferro hidratado Devido a maior quantidade de Fe (ferro) em relação
(Fe2O3.nH2O) misturado com os brancos citados acima, aos outros elementos, no ponto F1, a indicação para o
e talvez um pouco de verde, “Verde de Oxido de pigmento vermelho é “Vermelho de Ferro” ou
Cromo” (Cr2O3) ou “Veridian”, oxido de cromo “Vermelho Ocre”, óxido de ferro, (Fe2O3). Na Fig. 5
hidratado (Cr2O3.2H2O) e um pouco de terra para dar o podemos ver o espectro de raios X deste ponto F1.
tom castanho “Castanho de Van Dyck”, “Úmbria”, etc,
as quais contém Mn. Fe-Kα

O ponto B1 é uma área de cor azul. Segundo os 50000


dados históricos e econômicos, poderia ser: “Azul da
Ar-Kα+ Ti-K
Prússia” (Fe4(Fe(CN)6)3) (ferrocianeto férrico) ou uma 40000
K-Kα+
α
Zn-Kα
Posição F1

de suas variações ferrocianeto férrico de potássio, já Ag-Kα


(N de fótons de raios X)

que o K aparece neste local, porém este pigmento é Ca-Kα


Contagens

30000 Fe-Kβ
pouco resistente aos álcalis e o pH da parede é em
torno de 9; além disto não foi encontrado Fe num ponto 20000
Zn-Kβ

simétrico da mesma cor depois da limpeza. Poderia ser S-Kα


o

“Azul de Cobalto”, oxido de cobalto e alumínio 10000


(CoO.Al2O3), mas não apareceu o Co. O mais provável
é que seja “Ultramarino Francês” ou sintético, (Na8- 0
10Al6Si6O24)S2-4, o qual tem baixo custo e é 0 5
Energia
10 15

permanente, porém este pigmento não apresenta (keV)

nenhum elemento detectável pela metodologia de


fluorescência de raio-X empregada, ou “Ftalocianina”, Fig. 5 Espectro de raios X da região F1.
descoberto em 1935, comercializado em 1936,
C32H18N8, resistente, de baixo custo, substituto do 3.4. Comparação entre as mesmas regiões medidas
“Azul da Prússia”. antes e depois do tratamento químico
O ponto C1 é um tom de bege claro, que faz parte
do contorno “degradé” do medalhão. Este ponto indica Foram medidos quatro pontos na parede
a presença de muito branco, sendo que o elemento que esbranquiçada onde houve infiltração, antes e depois
aparece em maior quantidade é o Ca, provavelmente do tratamento. Como as pinturas com e sem infiltração
originário do carbonato de cálcio (CaCO3) adicionado são simétricas, adotamos as mesmas indicações para
aos outros brancos mencionados, de Ti (titânio) e Zn pigmentos feitas na parede em bom estado, para as
(zinco) para dar a sensação translucidez na passagem mesmas cores da mesma composição artística:
de um tom para outro no “degradé”, já que este medalhão e padrão geométrico decorativo. Os
composto não tem poder de cobertura. Da mesma possíveis íons varridos da argamassa e aflorados na
forma que nos pontos anteriores, pequenas quantidades superfície são: K, Ca, Zn, Ti e Fe.

249
Ponto 2 – Faixa ocre Ponto 6 – Ocre claro da estrela

Razão entre as Razão entre as Razão entre as Razão entre as


medidas depois e medidas depois do medidas depois e medidas depois do
antes do tratamento e na antes do tratamento e na
tratamento. argamassa tratamento. argamassa
2AA / 2A 2AA / Arg 6AA / 6A 6AA / Arg
S -Kα 4% ∞ S -Kα 52 % ∞
Ar-Kα 61 % 19 % Ar-Kα ∞ 132 %
K –Kα 927 % 36 % K –Kα 1161 % 37 %
Ca-Kα 494 % 39 % Ca-Kα 0% 0%
Ti-Kα 123 % 178 % Ti-Kα 74 % 361 %
Cr-Kα 294 % 203 % Cr-Kα 68 % 495 %
Mn-Kα 293 % 1200 % Mn-Kα 28 % 329 %
Fe-Kα 49 % 1924 % Fe-Kα 50 % 589 %
*Ni-Kα 122 % 134 % *Ni-Kα 0% 0%
Zn-Kα 64 % 146 % Zn-Kα 89 % 297 %
*Ag-Lα 198 % 448 % *Ag-Lα 0% 0%
Pb-Lα nd nd Pb-Lα 95 % ∞

Ponto 4 – Azul entre aro e folha Nas tabelas anteriores, onde, os resultados em preto
indicam os elementos que aumentaram e os resultados
Razão entre as Razão entre as em vermelho os elementos que diminuíram após o
medidas depois e medidas depois do tratamento, podemos ver os seguintes comportamentos
antes do tratamento e na sistemáticos:
tratamento. argamassa - diminuição do S;
4AA / 4A 4AA / Arg - diminuição do Fe;
S -Kα 81 % ∞ - diminuição do Zn;
Ar-Kα 182 % 262 % - com exceção do ponto 5, nos outros três
K –Kα ∞ 132 % pontos o K aumentou para um valor da ordem
Ca-Kα nd 0% daquele na argamassa;
Ti-Kα 70 % 406 % - o Ca, dentre os três pontos onde apareceu, em
Cr-Kα 0% 0% dois deles diminuiu de 100% (pontos 5 e 6) e
Mn-Kα 11029 % 6179 % em um deles aumentou de uma ordem de
Fe-Kα 0% 0% grandeza (ponto 2);
*Ni-Kα 2404 % 3871 % - Ti ficou igual (ou diminuiu pouco) em relação
a antes do tratamento.
Zn-Kα 0% 0%
Os elementos Mn, Cr e Ni não apresentaram
*Ag-Lα 2% 22 %
comportamento sistemático.
Pb-Lα 0% nd
4. Conclusões
Ponto 5 – Verde da folha
O tratamento utilizado foi eficaz na remoção da
Razão entre as Razão entre as camada esbranquiçada insolúvel aderida à camada
medidas depois e medidas depois do pictórica como mostram as figuras 6, 7 e 8.
antes do tratamento e na
tratamento. argamassa
5AA / 5A 5AA / Arg
S -Kα 73 % ∞
Ar-Kα 6% 77%
K –Kα 8% 111%
Ca-Kα 0% 0%
Ti-Kα 94 % 647%
Cr-Kα 972 % 1303%
Mn-Kα 0% 0%
Fe-Kα 0% 0%
*Ni-Kα ∞ 578%
Zn-Kα 73 % 455%
*Ag-Lα ∞ 270%
Pb-Lα 165 % ∞
Fig. 6 Detalhe de uma pintura mural das Figs 7 e 8,
que sofreu infiltração, parcialmente tratada.

250
ou de magnésio. Pode-se concluir, entretanto, que o
tratamento eliminou os íons de ferro, zinco, cálcio e
titânio, trazidos para a superfície da camada pictórica
pela água infiltrada, assim como o enxofre (S)
adsorvido na superfície devido à poluição. Não foi
possível esclarecer porque o potássio (K) aumentou
nos dois pontos de cor ocre depois do tratamento.
As analises revelaram dados importantes que estão
contribuindo tanto para o aperfeiçoamento do
procedimento de restauro como para o aperfeiçoamento
na utilização do sistema portátil de fluorescência de
raios-X. As dificuldades apresentadas na utilização
cooperativa de dois processos inovadores e
interdisciplinares mostraram de forma prática o que
pode ser melhorado frente à complexidade da
realidade, ou seja, as necessidades que se apresentam
quando um projeto sai do papel e é executado. Por
exemplo, não levamos em conta neste estudo
preliminar a profundidade relativa de medida do feixe
de excitação, nem as diferenças de rendimento de
fluorescência dos vários elementos. No presente caso
onde há duas camadas de pintura sobrepostas e o
suporte argamassa contém alguns elementos em
comum com a camada pictórica, ficou uma dúvida
sobre o que realmente estava sendo medido. Os
seguintes elementos: K, Ca, Ti, Fe e Zn estão presentes
tanto na composição da argamassa como na
Fig. 7 Medalhão abaixo do anjo esquerdo da capela VII composição dos pigmentos da camada pictórica.
antes do tratamento. Cálculos posteriores, com base nas medidas realizadas,
poderão ajudar a esclarecer este fato.
Foi verificada a eficácia e a importância da
aplicabilidade do espectrômetro portátil de
fluorescência de raios X do LFNA/UEL para a
identificação de elementos e estudo de pigmentos, com
método não destrutivo, em pinturas murais e
acompanhamento in situ de processos de conservação.

Referências
(1) Moncriefff, A.; Weaver, G.; Science for
Conservators - Cleaning, 1987, Vol. 2
(2) Lade, K.; Winkler, A.; Yesería y Estuco, 1960,
Editorial Gustavo Gili, S. A., Barcelona
(3) Artists´ Pigments, 1986, Robert Feller Editor,
Vol.1, Cambridge (GB)
(4) Artists´ Pigments, 1993, Ashok Roy Editor, Vol.2,
New York
(5) Mactaggart, P; Mactaggart, A.; A Pigment
Microscopistt´s Notebook, 1998, Published by the
authors, Somerset

E-Mails dos Autores


mrizzo@mrizzo.com.br
appoloni@uel.br
parreira@uel.br

Agradecimentos
Fig. 8 Medalhão abaixo do anjo esquerdo da capela VII Os autores agradecem à doutoranda Maria Sélia
depois do tratamento. Blonski, pela ajuda na tomada de dados, aos membros
da equipe da MRizzo Restaurações pelo apoio logístico
Os resultados das medidas realizadas antes e depois do durante as medidas na igreja, assim como a Profª Drª
tratamento com o sistema portátil de fluorescência de Márcia Rizzutto (IFUSP) por promover o contato entre
raios X, não foram suficientes para corroborar a as duas equipes.
hipótese da substância branca ser carbonato de cálcio

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