Aspectos Da Representação Social Da Velhice E Do Envelhecimento Pela Perspectiva Dos Jovens
Aspectos Da Representação Social Da Velhice E Do Envelhecimento Pela Perspectiva Dos Jovens
Aspectos Da Representação Social Da Velhice E Do Envelhecimento Pela Perspectiva Dos Jovens
Brasília–DF
NOVEMBRO/2005
DEA MONTEIRO BONATES
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Dedico este trabalho
À Giorgia, minha filha, por sua sabedoria.
À Sandra, minha filha, pelo seu exemplo.
Ao Felipe, meu filho, pela falta que lhe fiz.
Ao Paulinho, meu marido, pelo tanto que me ajudou.
À Inez, minha irmã, por seu apoio em todos os sentidos.
Às companheiras do Tapioca com Goiabada, por sua escuta.
Ao velho Monteiro, por ser meu pai.
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AGRADECIMENTOS
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“Não tenho temor à morte. O que dói é a dor de perder a
vida, misturada com saudade dos gozos que ela me
deu... me vejo jovem, descobrindo, aprendendo o que é o
saber, encantado com o que ele podia oferecer...”
DARCY RIBEIRO,
Confissões, escrito aos 75 anos.
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SUMÁRIO
Introdução .............................................................................................................07
4. Resultados e Discussão...................................................................................38
Apêndices..............................................................................................................65
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RESUMO
O envelhecimento é uma realidade do mundo moderno. A expectativa de vida
aumentou mais de 100% em 100 anos. A psicologia clássica do desenvolvimento pouco
se preocupou com esse assunto, estudando o desenvolvimento mais cuidadosamente
até a adolescência. Mais recentemente o progressivo aumento da expectativa de vida
tem estimulado o desenvolvimento de diversos estudos a respeito deste tema. Podem
ser citados entre os clássicos Eric Erikson, Jung e entre o mais modernos Baltes,
Bandura e, no Brasil, Anita Liberalesso Néri é uma referência nesta área do
conhecimento. No Brasil existem poucos estudos a respeito deste assunto e surgirão
problemas sociais se não forem desenvolvidos conhecimentos nesta área. Diante
deste quadro este trabalho investiga a representação social da velhice e do
envelhecimento pela perspectiva dos jovens e tem como objetivos identificar como os
jovens representam o ser velho e o próprio envelhecimento. A opção pela abordagem
qualitativa preconizada por Rey decorre da análise do trabalho utilizar-se dos preceitos
da Psicologia Social e dos aspectos teóricos das representações sociais e estes se
basearem na importância dada à subjetividade para a análise. Portanto, para obtenção
dos dados foi realizado um grupo focal , com participantes jovens de 20 a 27 anos,
quando foram coletados os dados analisados. Identificaram-se as categorias o que é
ser velho, início da velhice, velho: palavra que incomoda, desejabilidade, próprio
envelhecimento, relacionamentos, perdas e ganhos e morte que foram interpretadas
através da análise de conteúdo. Os resultados obtidos indicam que há ênfase nas
características negativas de ser velho e positividade para a projeção da velhice para
esse grupo estudado. Surgiram algumas indicações nos discursos que denotam
aspectos de positividade nestas representações ainda que através de idealizações de
como devam ser os velhos.
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INTRODUÇÃO
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assustador. A mídia parece justificar tal afirmação, ao privilegiar imagens de saúde,
beleza e juventude como sendo o modelo de bem-viver. Reforçando a imagem negativa
e estereotipada de que velhice é sinônimo de doença, solidão e mal estar, portanto
estudar a velhice pelo enfoque dos mais jovens possibilitará a compreensão do modo
como representam este período da vida por aqueles que possivelmente serão os
construtores das políticas públicas e ações que promoverão assistência à velhice.
Como ser velho numa sociedade que privilegia a rapidez, a agilidade, o vigor
físico, a lucratividade, a competitividade e a eficiência em todos os sentidos? O
capitalismo se desenvolveu suplantando o modo de produção artesanal, que valorizava
o saber, permitia o controle de todas as etapas do processo produtivo. O capitalismo
tem um modo típico de produção – a produção em série, a maquinização, a rapidez, o
“tempo é dinheiro” e, sobretudo subverte a dimensão ecológica do tempo no dizer de
Néri (1991), logo sendo contrário ao que se compreende do que é a velhice. Essa
modernização trazida pelo capitalismo criou o estereótipo de competência voltado para
a juventude e a rapidez, a força e a competitividade. Reproduzindo as relações do seu
meio, o capitalismo organiza idéias, valores, princípios e doutrinas, que se refletem nas
representações da velhice de acordo com as orientações básicas do modo de produção
(Haddad, 1986). Que são, portanto, relações de desigualdade e assimetria, com alguns
ditando o que muitos deverão pensar, fazer ou dizer ou, ainda, como ser.
A Gerontologia propõe duas teorias antagônicas para explicar o envelhecimento
saudável: a da atividade e a do desengajamento. Na teoria da atividade proposta por
R.S. Cavan, em 1962 (citado em Mascaro, 2004), o idoso mantém seus papéis sociais
produtivos e caso os venha a perder deverá substituí-los por outros de modo a manter
sua produtividade e, portanto, sua auto-estima positiva e satisfação com seu
envelhecimento. Tal teoria serve de base para formulação de programas da terceira
idade. Na teoria do desengajamento, proposta por E. Cuming e W.E. Henry, em 1961,
(citado em Mascaro, 2004), o envelhecer é um processo de afastamento inevitável do
mundo social, liberando o espaço para que os membros mais jovens da sociedade
possam ocupar seu lugar, o que seria de ajuda na sua preparação para a aceitação da
morte.
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A questão posta se configura, portanto, um grande desafio aos profissionais
atuais e profissionais do futuro que tenham interesse no estudo do envelhecimento. A
população economicamente ativa será progressiva e proporcionalmente menor que a
massa de aposentados, os dirigentes terão que prover o país de políticas voltadas para
a previdência e saúde, levando em conta que o país é cheio de contrastes, com
distribuição de renda heterogênea, enfim com situações de desigualdade social
acentuadas, logo a elaboração de políticas públicas deverá considerar tais diferenças
no atendimento a essas demandas , segundo Mascaro (2004).
Ainda que o velho possa mobilizar vários recursos de modo a manter seu
desempenho equiparado aos mais jovens, mesmo assim é visto como alguém em
declínio de suas forças e em decadência física. É necessário ter clareza de que as
imagens que a mídia divulga a respeito de velhice, envelhecimento, beleza são
importantes para a formação das representações da velhice nos próprios velhos, nos
jovens e crianças, traduzindo o que significa envelhecer em nossa sociedade.
Entretanto, não se pode dizer que a mídia só cria preconceitos negativos. Algumas
vezes os meios de comunicação de massa nos ajudam a desconstruir preconceitos,
porém a maior quantidade de imagens que transmitem traduz situações de doença,
decadência, assexualidade. Por outro lado, é preciso cuidado para não criar o
estereótipo do “velhinho bonzinho”, velhos são pessoas e como tal podem ser alegres e
felizes, ou introspectivos e tristes, sem que isso traduza algum defeito ou desvio de
conduta. O cuidado se justifica, pois imagens estereotipadas de que o velho adaptado é
aquele que está sempre jovial e feliz, o que segundo Mascaro (2004) podem levar a um
sentimento de inadequação naqueles que, porventura, não se identificarem com este
modelo.
Como a pesquisa sistemática no Brasil é muito escassa o que se tem são
opiniões e um grande embaralhamento entre os conceitos de velho, velhice e
envelhecer. Por vezes, em alguns textos consultados, são utilizados até como
sinônimos. Uma outra questão importante a se pensar: de que velho, velhice ou jovem
estamos falando? Pois qualquer resposta a estes questionamentos terá que atentar
para as condições sócio-culturais envolvidas entre os respondentes e objeto de
pesquisa, segundo Néri (1991). A não-contextualização da questão poderá levar a uma
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generalização das respostas obtidas, que poderão não refletir com clareza o panorama
do momento e grupo humano investigado.
Quando nos perguntamos o que é a velhice, o velho ou o envelhecer a resposta
mais honesta a se dar é “não sabemos”. Pois, qualquer resposta depende de como e
quem pergunta e também de quem responde. Qual o contexto cultural, social,
econômico, político e a idade que tem o respondente no momento do questionamento.
Não existe uma única resposta, pois o próprio fenômeno do envelhecer tem várias
facetas. A desigualdade social em que nosso país está mergulhado torna a experiência
da velhice, que por si só já é individualizada, em algo mais compartimentado, sofrida e
com maus prognósticos.
A Psicologia do Desenvolvimento em sua vertente mais clássica só estudou o
desenvolvimento até a adolescência. Vivemos um momento histórico, em que uma
primeira geração de velhos chega em grande número a idade tão avançada, sem que
tenhamos compreendido o que é envelhecer, sem que tenhamos completo
conhecimento das implicações sociais e políticas de cuidar de um grande contingente
de velhos.
Por outro lado a Psicologia Social nos traz contribuições interessantes para
compreender as relações entre os indivíduos e a sociedade. Saber como estão
representados e se constroem seus valores, costumes, crenças, instituições poderá nos
auxiliar a compreender como o homem se insere nesse processo de mudança e de
permanente reconstrução de sua história e de transformação da sociedade em que
vive. Segundo Siqueira (2002) há escassez de estudos criteriosos no Brasil quanto às
questões do envelhecimento. Apesar da grande produção estrangeira, essas produções
não têm seus dados criticados e são postas à disposição do estudante acadêmico sem
validação para o contexto sócio-cultural-econômico brasileiro. Entretanto, é preciso que
se diga que a partir de 1990 tem-se verificado um crescimento da produção científica
sobre o envelhecimento no Brasil, porém poucas abraçam o tema através da visão da
Psicologia. Ainda que se ressalte uma maior participação das instituições de ensino na
questão do envelhecimento, raros são os cursos de graduação que enfocam as
disciplinas a esse respeito seus currículos mínimos.
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Dadas às desigualdades na distribuição de serviços, bens e renda no Brasil, são
preocupantes os problemas psicológicos e sociais advindos do envelhecimento dessa
população que vive em meio a essa severa desigualdade social. A falta de políticas
governamentais de assistência e atenção ao velho e ao envelhecimento, deixa, portanto
a sociedade brasileira despreparada para dar os cuidados necessários ao seu cidadão
idoso. Bem como, são poucas as pesquisas sobre o que o jovem brasileiro pensa a
respeito do seu pai, tio, parente ou da própria população que envelhece em diferentes
contextos sócio-econômicos e qual a contribuição que pode dar na melhoria dessas
condições.
E como entendemos que o envelhecimento no Brasil é uma realidade
demográfica, cultural, social, política, é urgente refletirmos sobre a contribuição da
Psicologia para que, juntamente com outras áreas do conhecimento, possamos
assegurar que o processo do envelhecimento seja enfrentado e compreendido. E que,
principalmente, seja entendido como um processo, como parte do ciclo natural da vida.
Diante do que expusemos até agora no texto, acreditamos ser necessário
desenvolver estudos sobre o envelhecimento no Distrito Federal. É necessário que
sejam promovidos estudos que permitam a reflexão da Gerontologia, diante dos
preconceitos que ela mesma preconiza e avaliza, segundo o que comenta Mascaro
(2004).
A Teoria das Representações Sociais nos auxiliará a compreender como se
constroem os saberes do povo e disso se valerá nosso trabalho nessa investigação.
A geração que hoje envelhece terá como cuidadores pessoas que hoje são
jovens e talvez não se preocupem com a velhice ou o envelhecimento. Portanto,
entender como os jovens encaram a velhice e o próprio envelhecimento, dentro da
perspectiva do momento histórico e político que vivemos e promover seu acesso a
essas informações permitirá sua inserção na busca de soluções para os problemas
relacionados ao envelhecimento progressivo do mundo, sob uma perspectiva de
igualdade e fraternidade, pois o jovem, como adulto, será o responsável pela
elaboração de políticas e ações voltadas para o enfrentamento destas questões.
O objetivo desse trabalho é investigar qual a tradução de ser velho pra o jovem
de uma determinada população do Distrito Federal e, ainda, como o jovem encara a
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velhice e seu próprio envelhecer. Diante do exposto, algumas questões nos parecem
pertinentes investigar:
a. Identificar como os jovens representam socialmente o “ser velho”;
b. Identificar como os jovens representam seu próprio envelhecimento.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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por diferentes mecanismos mentais dependendo da etapa da vida em que se encontra.
Sua maior atenção se voltou para a compreensão científica de quais processos o
indivíduo usa para conhecer a realidade, preocupando sobremaneira com a gênese do
conhecimento. Estudou os processos mentais para a aquisição do conhecimento da
infância a adolescência, quando se encerra, para Piaget, o desenvolvimento de
aquisições de ferramentas cognitivas. Ainda que as aquisições deste último período
sirvam de base para aquisições posteriores, mas nenhuma ferramenta a mais seria
adquirida.
Já Freud, em seus estudos, discorre sobre fases do desenvolvimento da
personalidade, dando ênfase aos processos inconscientes indo da fase oral quando o
indivíduo ainda é bebê, passando pelas fases anal e fálica e pela latência, sendo este o
período em que o sujeito não sofreria nenhum processo de desenvolvimento a espera
do período final de seu desenvolvimento: a fase genital, no início da adolescência.
Ainda em Rappaport (1881) temos uma breve explanação sobre os oito estágios
do desenvolvimento propostos por Eric Erikson. Segundo Linhares (2003) Eric Erikson é
um dos estudiosos que contribui para a compreensão do envelhecimento como parte do
desenvolvimento percorrendo todo o ciclo da vida.
A teoria de Erikson aborda as crises psicossociais do processo de organização
de identidade do ser humano, indo da primeira infância até a maturidade. Erikson
relaciona cada uma das quatro fases, propostas por Freud, a uma das crises propostas
em seus estudos acerca do desenvolvimento, incluindo o período de latência. A
exceção da fase genital, que é subdividida em quatro fases, que vão da adolescência
até a idade madura. O desenvolvimento como resultado da elaboração das crises
psicossociais propostas por Erikson aproveita-se dos estudos das fases do
desenvolvimento enunciadas por Freud, indo da fase oral, passando pela anal e fálica,
abrangendo a latência e fase genital com que em Freud caracteriza o desenvolvimento
até a adolescência. Erikson amplia-lhes o alcance até a vida adulta e maturidade.
Descrevendo após o período da adolescência mais três crises que caracterizam a vida
adulta.
As crises são descritas por opostos que ao se organizam como conflitos, que ao
serem elaborados e resolvidos, permitem ao indivíduo seguir seu desenvolvimento com
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o aprendizado da crise anterior, entrando numa nova fase do desenvolvimento e,
portanto, em uma nova crise.
Ainda na adolescência, o jovem se depara com sua crise de passagem para a
vida adulta. Esta crise tem sua resolução no início da vida adulta – é descrita como
identidade x confusão de papéis e coincide com a fase genital proposta por Freud.
Neste momento da vida são definidos os papéis sexuais, a estruturação definitiva do
ego, a identidade profissional, bem como a definição ideológica que possibilitará ao
adolescente que se desenvolve posicionar-se perante o mundo. Tais aquisições
permitem ao jovem que amadurece estabelecer as afiliações características das etapas
seguintes, pois definido o que será e o que fará poderá projetar-se como um realizador.
Para Erikson a não resolução do conflito característico dessa fase imobilizará o jovem,
prejudicando sua entrada nas fases posteriores.
Os três estágios seguintes marcam a idade adulta propriamente dita, sendo
propostas como três conflitos subseqüentes: o primeiro dos três refere-se a intimidade,
outro à capacidade generativa e o último refere-se ao enfrentamento da morte.
O primeiro estágio que compreende a vida de adulto é caracterizado pela
capacidade de enfrentar um relacionamento íntimo, estável e produtivo: é designado
intimidade X isolamento. O segundo refere-se à capacidade de procriar, criar
produtivamente no trabalho e na cultura. Este conflito é marcado pela oposição entre a
capacidade generativa e a estagnação, ou não capacidade de produzir. A não
resolução desse conflito reconduz o indivíduo ao estágio anterior, levando-o de volta ao
isolamento ou pseudo-intimidade onde os vínculos são permeados pela sensação de
incapacidade de produzir e infecundidade procriativa.
A etapa final da idade madura é definida por Erikson como a etapa da sabedoria.
Só será atingida pelas pessoas que aproveitaram as experiências de etapas anteriores
para acumular conhecimento e sabedoria, que criou e produziu em sua vida. É o ponto
culminante de uma vida de sucessos, fracassos, avanços e recuos elaborados passo a
passo por todas as fases. Resolvido esse conflito o individuo terá um sentimento de
plenitude e integridade, de contribuição para a humanidade, sendo definido por Erikson
como integridade do Ego.
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Rappaport (1981) conclui a respeito da boa elaboração dessa fase como sendo o
sentimento de perpetuidade frente à morte inevitável, pois o sujeito terá contribuído
para com o patrimônio cultural do grupo social a que pertence e poderá enfrentar a
morte com o sentimento de “dever cumprido”. O oposto dessa perspectiva é o
desespero – quando o velho se vê sem tempo para realizar o que gostaria de ter
realizado e que não há sentido naquilo que foi feito, se algo foi feito. Sendo o temor da
morte a concretização da desesperança. Para Skinner (1985), a morte é o sentimento
que mais torna a velhice assustadora, pois a morte anula a possibilidade de se fazer o
que não foi feito.
Jung (2000), diz que discorrer sobre as etapas da vida do homem é tarefa árdua,
pois se terá que abarcar do nascimento até o túmulo. Completando que tal tarefa só
pode ser levada a cabo em linhas gerais ou, ainda, tratando apenas de “certos
problemas”, quais sejam: aqueles que são difíceis ou questionáveis ou, ainda,
ambíguos. Porém, nos ensina que “o homem que envelhece deveria saber que sua
vida não está em ascensão nem em expansão, mas em um processo interior inexorável
que produz contração e vida. Entretanto, “para o jovem constitui quase um pecado ou,
pelo menos, um perigo ocupar-se demasiado consigo próprio, mas para o homem que
envelhece é um dever e uma necessidade dedicar atenção séria ao seu próprio si -
mesmo ” (Jung, 2000 : 348), dizendo-nos que essas mudanças são mais acentuadas do
ponto de vista psíquico do que do físico, levando-os a fazer coisas que culturalmente
são contrárias aos papéis estabelecidos para homem e mulher, como por exemplo o
homem da meia–idade pode abandonar os negócios e as mulheres constituírem um
empreendimento.
Outra questão que Jung (2000) trata é que na entrada da vida madura o homem
deveria tornar-se mais introspectivo e não permitir que a segunda metade da vida fosse
governada pelos princípios da primeira. Sugerindo idades certas para as coisas certas,
uma visão um tanto contrária a de Baltes (citado em Olds e Papalia, 2000), que ao
tratar da plasticidade com uma possibilidade de aprendizagem de novas habilidades na
idade madura, desconstrói o conceito de velhice dividida em fases, onde há definição
de idades certas para certas coisas.
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Outra contribuição interessante que Jung faz ao estudo do envelhecimento é a
respeito de como conduzir a vida para uma velhice saudável, dizendo-nos que é
necessário definir objetivos e metas em idade jovem para que a vida de velho seja
aprazível, bem como acompanhar o seu tempo de envelhecimento, preparando-se para
a morte, que é inevitável: “o velho que for incapaz de se separar da vida é tão fraco e
tão doentio quanto o jovem que não é capaz de construí-la” (Jung, 2000: 351)
Segundo Olds e Papalia (2000) durante algum tempo os estudiosos do
desenvolvimento entenderam que o desenvolvimento ocorria até a adolescência e daí
em diante aconteceria um período destituído de acontecimentos até a velhice. Ainda
em Olds e Papalia (idem) o desenvolvimento humano é tratado como algo que abrange
toda a vida do indivíduo, quando enumeram as crenças e pressupostos que orientam o
seu trabalho.
Olds e Papalia (ibidem) discorrem sobre mudanças fundamentais que ocorrem
na vida do recém-nascido até a experiência de morrer como última tentativa de
reconciliar-se com a vida. Chamam a atenção sobre a capacidade das pessoas sempre
poderem se recuperar de danos sofridos e experiências dolorosas, ao que chamam de
resiliência humana. Bem como da capacidade de se moldar seu próprio
desenvolvimento, numa inter-relação sujeito-ambiente, onde o momento atual é afetado
pelo que ocorreu antes e influenciará o que vai acontecer depois, entretanto cada
período não é mais importante que seu predecessor ou sucessor.
Na busca da compreensão do desenvolvimento como atravessando toda a vida,
encontramos Paul Baltes, apud Olds e Papalia (2000) como o líder na formulação
dessas idéias. As características centrais de sua abordagem são que o
desenvolvimento é multidirecional, ou seja, as direções do desenvolvimento dependem
da fase da vida em que o sujeito se encontra; plasticidade, que é a capacidade de se
manter em permanente aprendizado, através do treino e da prática, dependendo da
história ou contexto em que o indivíduo se desenvolveu, desenvolve ou vive.
Entretanto, esse desenvolvimento ocorre em níveis variados entre diferentes indivíduos
e as escolhas feitas no início da vida adulta têm como conseqüência estes diferentes
equilíbrios em idades mais avançadas. Assim como é também Baltes que descreve o
desenvolvimento e processo de envelhecimento como um período que se caracteriza
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por perdas, mas que estas são acompanhadas de ganhos que podem inclusive
compensar as primeira.
A respeito do desenvolvimento humano, Bandura (citado em Olds e Papalia,
2000), do ponto de vista sociocognitivo, propõe que o desenvolvimento se dá através
da aprendizagem social. A proposta de Bandura, apesar de se originar do
behaviorismo, sustenta que a aprendizagem se dá pela observação e imitação de
modelos. A teoria de Bandura apesar de ser fruto do behaviorismo, diverge deste em
muitos pontos. Primeiro, considerando o sujeito como aprendiz ativo no processo de
aprendizagem, atuando sobre o ambiente e modificando-o também, ao contrário do
behaviorismo que compreende o ambiente controlando e modelando os
comportamentos dos indivíduos. Outro ponto de divergência é que os cognitivistas não
aceitam que as conclusões tiradas de experimentações possam explicar todos os
comportamentos humanos. Tanto o modelo de desenvolvimento de Bandura, como o
de Baltes, podem nos ajudar a compreender a possibilidade de desenvolvimento
percorrendo todo o ciclo da vida, tornando a velhice um momento onde há a
possibilidade de novas experiências, desenvolvimento e aprendizagem.
Para Skinner (1985) a juventude é a melhor época para se começar a pensar na
velhice, pois nessa fase da vida o indivíduo ainda poderá fazer modificações em seu
comportamento, aprender coisas e preparar-se com a antecedência suficiente para que
sua velhice possa ser vivida da melhor maneira possível. Entretanto, será que os
jovens vêem a velhice como um tempo sombrio, como um quadro de sofrimento,
doença e pobreza? Para Skinner a velhice não é tão má assim e, segundo ele, se pode
vivê-la muito bem se se souber planejá-la e preparar-se para ela. Em seu livro Viva bem
a velhice, ensina-nos a partir de sua experiência pessoal de envelhecimento,
estratégias comportamentais que podem ajudar a enfrentar o envelhecimento, ainda
que este traga limitações funcionais ou mesmo doenças.
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características principais deste momento da vida? A questão da definição dos limites
cronológicos da velhice é uma preocupação antiga, já que se tem notícia de vários
investigadores deste tema. Segundo Néri (2004) o tema foi objeto de estudo de
Tuckman e Lorge, 1953; Blau, 1956; Zola, 1962; Shanas, 1962; Peters, 1975; Harris e
col., 1975 e Kogan, 1979.
Do ponto de vista legal, o Estatuto do Idoso é instituído com a finalidade de
“regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a (60)
sessenta anos”. O Código Civil Brasileiro não trata a matéria diretamente, pois em seu
artigo 1.641, trata de maneira indireta o envelhecimento quando prescreve que “é
obrigatório o regime da separação de bens no casamento (...) da pessoa maior de
sessenta anos”.
A legislação brasileira na Lei 10.173 de janeiro de 2001, define no seu artigo
1211-A que “os procedimentos judiciais em que figure como parte ou interveniente
pessoa com idade igual ou superior a sessenta e cinco anos terão prioridade na
tramitação de todos os atos e diligências em qualquer instância."
O Estatuto do Idoso do Distrito Federal, Lei 1.547, institui no seu artigo 3º que
“considera-se idoso (...) a pessoa maior de sessenta anos”.
Os estudos de Jung (2000) apontam para estatísticas que informam que a
velhice, de maneira até inconsciente, se insinua como indícios indiretos a partir dos 35
anos para a mulher e 40 anos para os homens. A partir deste momento começam a
ocorrer mudanças de caráter e depressões mentais que culminam com mudanças mais
radicais por volta dos 50 anos, como se a própria existência em seus princípios
estivesse ameaçada. Sugerindo que aquele que não foi capaz de libertar-se da infância
não se mostra preparado para renunciar à juventude, por temer a velhice.
Mascaro (2004) comenta que a determinação da idade em que começa a velhice
é cultural, histórica e depende de diferentes situações sociais, pois há sociedades em
que a velhice começa aos 70, porém em algumas outras a pessoa pode ser velha aos
40 anos. Citando exemplos de pessoas que aos 80 anos estão perfeitamente
integradas à sociedade, satisfeitos e alegres. Bem como nos fala de pessoas que aos
50 ou 60 aos estão doentes, tristes e desajustadas. Assim como Simone de Beauvoir,
em Mascaro (idem), fala-nos da não-percepção da chegada da velhice, quando diz que
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o envelhecimento chega com maior clareza aos olhos dos outros do que aos olhos do
próprio velho.
A definição da idade em que começa a velhice é controvertida, sendo resultado
de construções contextuais, dependendo do meio cultural, social e histórico em que o
individuo elabora suas convicções.
Guimarães (citado em Linhares, 2003) aponta que fatores hormonais, em torno
dos 30 anos, dão início ao processo do envelhecimento, afirmando ser um engano
pensar que o envelhecimento se inicia ao nascimento.
Há investigações associando a velhice a um “estado de espírito”, segundo Néri e
Wagner, citados em Néri (1991), fazendo-nos inferir que a chegada da velhice traz
modificações de outra natureza, diferentes das modificações físicas trazidas pelo
envelhecimento. Néri (1991) nos dá pistas de que a categorização etária quando são
feitas a partir da comparação entre jovens e velhos parece ser desvantajosa em relação
ao velho, bem como os julgamentos negativos são mais severos neste contexto, do que
se perguntado isoladamente aos jovens.
As investigações de Néri (1991) indicam do ponto de vista quantitativo 10,31%
dos sujeitos de uma pesquisa que realizou, consideravam o alguém velho a partir dos
60 anos. Para 27,8% a velhice só começa a partir dos 70 anos. Porém para a maioria
dos entrevistados (30,3%) a velhice é um “estado de espírito”, resposta com maior
freqüência encontrada entre os mais jovens, de idades entre 13 e 24 anos. A velhice
como um estado de espírito também foi relacionada aos níveis de escolaridade mais
altos. Néri (idem) nos informa que pesquisadores brasileiros revelaram ambigüidade
quanto ao início da velhice, pois os respondentes às suas investigações condicionam o
envelhecimento a fatores como saúde, gênero, aposentadoria e nível econômico.
Apesar da velhice não ser bem definida em termos de cronologia ou idade de
vida, Mascaro (2004) nos fala de “marcos de idade”. Remontado à Idade Média quando
alguns autores referiam-se às fases da vida, falando da infância e puerilidade,
juventude e adolescência, velhice e senilidade, como se uma fase da vida estivesse
obrigatoriamente vinculada à característica que a seguia.
Já Olds e Papalia (2000) trazem as diferentes fases da vida estabelecidas por
mudanças quantitativas, as que nos falam de mudanças de altura ou peso, por
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exemplo, e as mudanças qualitativas, estas abordam as aquisições de conhecimento, a
aprendizagem. Ainda para Olds e Papalia (idem) o desenvolvimento está sujeito a
muitas influências, dentre estas relacionam as influências normativas como
caracterizadoras de determinadas etapas da vida, ou seja um acontecimento é
normativo quando acontece de maneira semelhante para um grande número de
pessoas em determinado grupo. As influências normativas etárias são semelhantes
para uma determinada faixa de idade e incluem eventos biológicos, como a puberdade
e a menopausa e culturais, como o ingresso na educação formal e aposentadoria.
O envelhecimento pode ter várias dimensões: cronológica, social, biológica,
psicológica. Segundo Mascaro (2004) o envelhecimento cronológico tem como
referência a idade do indivíduo e é definido por sua data de nascimento. O
envelhecimento biológico refere-se às mudanças fisiológicas, anatômicas, hormonais e
bioquímicas, perda de capacidades e habilidades, referindo-se ao corpo como uma
máquina que se desgasta e perde função. A idade biológica é determinada pela
genética e pelo ambiente. Entretanto, este nem sempre coincide com o envelhecimento
cronológico. Ainda que segundo Néri (2004) o envelhecimento do ponto de vista
cronológico seja um indicador de velhice extremamente grosseiro, visto ter definido
envelhecimento com algo multidimensional, é o principal critério usado para a
determinação das categorias etárias.
O envelhecimento social, ainda segundo Mascaro (2004), relaciona-se às
normas, crenças estereótipos e eventos sociais que são definidos diferentemente de
acordo com a idade cronológica, em consonância com o que dizem Olds e Papalia
(2000) a respeito de mudanças qualitativas e influências normativas do tipo etária. Tais
normatizações definem o tempo certo para fazer determinadas coisas, como por
exemplo, ir para a escola, casar, aposentar-se, usar um determinado tipo de roupa e
não outro, entre diversas outras normas estabelecidas cultural e socialmente: é o que
Néri (2004) denomina de “relógios sociais”. O que não quer dizer que não existam os
diferentes, os que ousam ir contra as normas e resolvam “fazer coisas que não são
para a sua idade”: são os pioneiros de mudanças. Tais pioneirismos refletem-se em
custo, carreando consigo a possibilidade de inadaptação e desajustamentos, não
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encontramos pesquisas confirmando esta assertiva, portanto sugerimos que este seja
um tema para outras investigações.
A despeito das considerações acima, segundo Mascaro (2004), a sociedade
considera idosa a pessoa que está se afastando do trabalho, mas a saúde física e
mental são indicadores de que a pessoa está entrando na velhice.
Para Haddad (1986) são os padrões culturais que dimensionam as idades e
fornece critérios para a sociedade legalizar as faixas etárias e, portanto, a velhice.
Tendo estudado o envelhecimento de acordo com duas ordens de discurso: a da
ciência e a do Estado. A primeira expressando a velhice por aspectos biológicos,
psicológicos, sociais e econômicos. A segunda se expressa por decretos, leis e
portarias e se preocupa com o idoso principalmente pela questão da previdência social.
22
Na tentativa de analisar a questão do envelhecimento de modo isento Olds e
Papalia apresentam as teorias do desencargo e da atividade, ancoradas em pesquisas
sobre o envelhecer bem. Segundo a teoria do desencargo o envelhecer bem traz um
gradual redução do nível de atividade, maior preocupação consigo mesmo e menor
envolvimento social. Já a teoria da atividade prega que quanto mais ativa for a pessoa
melhor será seu envelhecimento. A teoria do desencargo encontra eco na teoria do
desengajamento proposta pela gerontologia, quando espaço de trabalho e de papéis
sociais deve ser desocupado para dar espaço aos jovens. A teoria da atividade tem
sido muito mais influente, pois a manutenção dos papéis sociais conquistados e a
conquista de outros é fonte de satisfação por toda a vida. Esta teoria dá sustentação a
muitos dos programas governamentais ou ainda de entidades não-governamentais de
atenção ao idoso.
O envelhecimento normal em oposição ao envelhecimento patológico tem sua
explicação na compreensão da diferença entre senescência e senilidade. O
envelhecimento traz modificações de ordem fisiológica, psíquicas e sociais. Tais
modificações começam a se mostrar a partir dos 40 anos, como já nos sugeriu Jung.
Segundo Mascaro (2004) há um declínio do funcionamento dos órgãos sem, entretanto,
comprometer as atividades rotineiras do indivíduo: a este processo natural do
envelhecimento denomina-se senescência. Já ao surgimento de doenças, tanto de
ordem física como psicológica, como resultado do declínio natural das funções
fisiológicas ou psíquicas a literatura classifica de envelhecimento patológico. Porém
mais do que o surgimento de doenças reais nos velhos, o preconceito construído
socialmente, através dos meios de comunicação, escolas, valores familiares e sociais
de que o envelhecimento é sinônimo de doença e incapacidades é o que mais afasta o
sujeito que envelhece do bom envelhecimento, pois doenças em qualquer idade podem
ser prevenidas e tratadas.
23
compreender como se elaboram as crenças, saberes e costumes do grupo social que
escolhemos como alvo de nossa pesquisa. Motivados por um experiência vivida com
idosos de 60 a 79 anos, que relataram sua experiências, expectativas e desejos a
respeito da fase em que viviam. Utilizaremos alguns dados obtidos a partir desta
experiência na parte final da discussão dos resultados.
Segundo Lane (1981) a Psicologia Social estuda o comportamento humano
naquilo em que ele sofre a influência social, pois para a pesquisadora é muito difícil
encontrar comportamentos humanos que não envolvam componentes sociais. A
Psicologia Social estuda, pois, a relação entre o indivíduo e o grupo social no qual está
inserto, com todas as nuances culturais, ideológicas e históricas envolvidas nestas
relações sociais. São de interesse da Psicologia Social como os grupos se auto-
influenciam, como os indivíduos são levados a agir de acordo com o que os outros
esperam dele e julgam adequado.
Para a Psicologia Social o homem tanto constrói a história como é constituído
por ela, sendo suas concepções e conceitos resultados dessa interação. Outra
preocupação da Psicologia Social é compreender como o homem pode ser o agente de
transformação da sociedade em que vive.
Para Guareschi (1995) as relações sociais são de dois tipos: as relações de
dominação e as relações comunitárias. Para que sejam compreendidas as relações
comunitárias, antes é preciso que falemos sobre o que é uma comunidade.
Comunidade é uma associação em que as relações são prenhes de sentimentos e
respeito mútuo, onde cada membro participa profundamente com que lhe é individual e
singular, com o que é e não com o que tem. São relações que pressupõem igualdade,
onde o indivíduo participa, dando sua contribuição na medida do que tem para
contribuir. Já as relações de dominação pressupõem assimetria, desigualdade e
injustiça, que também criam significados e sentidos para os indivíduos, onde as
relações pressupõem poder de alguns sobre os demais. Entretanto, ambas são palco
para a elaboração dos saberes populares, das crenças e dos costumes de um grupo
social.
Aos saberes populares, crenças, senso-comum elaborados e partilhados
coletivamente, organizados com a finalidade de compreender o real e torná-lo familiar
24
as Ciências Sociais chamam de representações sociais. Por terem uma perspectiva
dialética e histórica e, portanto, transformadora essas representações sociais,segundo
Oliveira e Werba (2002), são dinâmicas e modificam o meio em que vivem e são
modificados por elas.
Para Jodelet em Oliveira e Werba (idem) as representações sociais “são uma
forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e
concorrendo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Já
para Semin (citado em Profice e Cruz, disponível na internet:
www.uesc.br/viverbrincando), que se valem de uma definição de Moscovici, “as
representações sociais são entidades quase tangíveis. Elas circulam, entrecruzam-se e
cristalizam-se sem cessar por meio de uma fala, um gesto, um encontro, em nosso
universo cotidiano. A maioria das relações sociais estabelecidas, dos objetos
produzidos ou consumidos, das comunicações trocadas estão impregnadas delas.
Como sabemos, elas correspondem, por um lado, à substância simbólica que entra na
elaboração e, por outro, à prática que produz a dita substância, assim como a ciência
ou os mitos correspondem a uma prática científica e mítica” .
Segundo Minayo, em Guareschi (1995), representações sociais “é um termo
filosófico que significa a reprodução de uma percepção retida na lembrança ou no
conteúdo do pensamento”, explicando-as, justificando-as ou, mesmo, as questionando.
Fazendo um pequeno circuito histórico em Guareschi (idem), apontaremos as
algumas das contribuições de Durkheim, Max Weber e Schutz.
Durkheim é o primeiro pesquisador a utilizar a expressão representações sociais,
usando-a com o sentido de representações coletivas. Para Durkheim representações
coletivas são as categorias de pensamento pelas quais as sociedades se expressam e
se constroem. Estas construções não existem aprioristicamente, também não são
universais na consciência, mas surgem a partir de eventos sociais, que em são si
mesmos fatos sociais. Tais fatos sociais podem ser observados e interpretados.
Entretanto, para Durkheim é a sociedade que, organismo vivo, pensa. Não sendo os
indivíduos conscientes destas produções do seu grupo social. É como se as sociedades
tivessem vida autônoma, independentemente dos sujeitos que a compõem , sendo
25
causa e conseqüência de seus próprios fatos sociais. As idéias de Durkheim são
criticadas pela extrema objetividade e pelos pressupostos positivistas que englobam.
Para Max Weber as representações sociais são concebidas pela perspectiva da
conduta cotidiana de seus indivíduos, sendo, porém, impregnada de significações
culturais. Concebendo-as muito mais pelos juízos de valores dos sujeitos envolvidos.
Entretanto, Weber não descarta a idéia de que interesses econômicos possam
governar a formação das idéias, tanto ou mais que a cultura. Considerando, no
entanto, a ação humana sempre significativa e merecedora de investigação.
Tanto Weber, quanto Durkheim reconhecem a importância da compreensão da
idéias para a configuração da sociedade, embora entendessem que as conjunturas
sócio-econômicas fossem bastante relevantes para a construção de seus saberes,
costumes e práticas.
Já Schutz considera as representações sociais como o senso comum , sendo
estes resultado das elaborações cotidianas de grupos sociais em determinados
contextos sociais.
Para Durkheim a sociedade é viva, para Weber podem ser determinantes das
representações sociais, para Schutz a compreensão de um grupo social perpassa pelo
entendimento de sua cotidianeidade e dos indivíduos inseridos neste dia-a-dia.
Essa breve explanação sobre alguns teóricos das representações sociais nos
remete a algumas conclusões:
• Representações sociais constroem o real, dando-lhes significado e
tornando-o familiar;
• Representações são transformadas e transformadoras da sociedade, em
um circuito que se retro-alimenta;
• Como são históricas, revelam o significado do período de que faz parte;
• Não são necessariamente conscientes ao indivíduo que a elabora,
perpassam um grupo social, como se sempre tivessem estado lá e não
como produto de uma determinada área.
26
nos esclarece Guareschi (1995) que é no domínio das operações simbólicas que se
dão as construções humanas sobre o real, onde a realidade pode ser expandida,
redefinida, desconstruída e transformada. Construindo o sujeito em sua relação com o
mundo um universo de significados e construindo e descontruindo este mundo de que
faz parte como sujeito transformador e sujeito transformado.
Quando afirmamos que representações sociais são constitutivas da sociedade e
constituídas por esta, incluímo-nos como parte dessa sociedade, sendo nós próprios
sujeitos e objetos dessa investigação. Sendo, portanto necessário adentrarmos no tema
da neutralidade como pressuposto de cientificidade e do paradoxo que isso se nos
afigura, pois se nosso objeto de estudo é o sujeito, que sendo sujeito deixa de ser
objeto? Para sairmos desse impasse nos afastaremos dos pressupostos positivistas de
cientificidade e procuraremos compreender a produção científica sem o reducionismo
da objetividade material, para instaurarmos uma prática reflexiva que levará em conta
tanto a subjetividade do sujeito pesquisado, quanto do pesquisador.
27
• As atitudes negativas refletem sentimentos negativos em relação ao baixo status
socioeconômico, a problemas de saúde e à solidão, frequentemente associados
à velhice.
• A falta de oportunidade e de status que afetam o idoso e a incompetência
comportamental que lhe é atribuída refletem a supervalorização da
produtividade, da realização e da independência, pois os idosos na qualidade de
aposentados perdem poder político e econômico. A situação se agrava quando o
velho está doente e é pobre.
• A importância dada à estratificação por idades seria responsável pelos
estereótipos e pela desinformação das pessoas mais jovens em relação ao
idoso.
• O significado da desvalorização do idoso não está nas diferenças etárias,
correspondentes a comportamentos e expectativas de comportamento, mas sim
no fato de que jovens e velhos pertencem a diferentes gerações, o que traz
diferenças quanto à educação, a experiência de vida e a valores entre eles.
• Os resultados das pesquisas indicando percepções negativas sobre o idoso
teriam base na atitude negativa e preconceituosa dos próprios pesquisadores,
em sua maioria não-idosos, trabalhando numa perspectiva clínica e remediativa,
ou então das perspectivas de crise ou perdas associadas à velhice. Tal situação
se refletiria na sua escolha do instrumento, de definir a amostra, propor os
problemas e discutir seus dados de pesquisa.
• Outra explicação, esta muito difundida na literatura, vincula as atitudes negativas
ao “ageism”, que significa discriminação com base na idade, especialmente em
relação a pessoas de meia-idade e idosos.
28
• Práticas e políticas institucionais que, mesmo sem intenção, perpetuam
crenças estereotipadas sobre o idoso, reduzindo suas oportunidades de ter
uma vida satisfatória e prejudicando sua dignidade.
29
A velhice é localizada temporalmente a partir dos 65 anos. Essa associação
entre temporalidade e desenvolvimento é construída a partir das experiências pessoais
do entrevistado, por símbolos, enfim diversos eventos do contexto sócio-cultural do
sujeito. Ou seja, o significado de velho e velhice é construído socialmente. Por último,
lidar com atitudes e significados ao se investigar velho e velhice é uma questão
educacional. O que nos indica que o encaminhamento de solução para a questão do
envelhecimento tem natureza educacional muito mais do que individual. Não que se vá
ensinar como envelhecer as pessoas, mas como se poderão construir outras realidades
individuais e sociais frente ao envelhecimento.
Outra contribuição no campo de estudos da representação social sobre
envelhecimento nos é trazida por Veloz (1999) que realizou sua pesquisa entre 54
idosos de três categorias diferentes: professores aposentados de uma universidade,
freqüentadores de uma universidade aberta da terceira idade e residentes em uma
casa de longa permanência, todos moradores do Estado de Santa Catarina.
A investigação de Veloz partiu de três fenômenos característicos do
envelhecimento: o idoso como protagonista do envelhecimento; a velhice como última
fase da vida e o próprio envelhecimento como sendo um processo que perpassa todo o
ciclo da vida. Seus resultados indicam três diferentes representações sociais, que
foram classificados pela autora a primeira como sendo de caráter doméstico e feminino,
relacionado a perda de laços familiares e da beleza, com conseqüências sobre a
identidade física, indicando a relevância dos papéis a serem exercidos por mulheres e
construídos ideologicamente. Este primeiro tipo de representação social traz a
problemática da solidão e a idéia do abandono.
A segunda de cunho masculino, relacionado à questão da manutenção da
atividade produtiva e perda da capacidade de trabalho e questões relacionadas ao
afastamento do trabalho. Traz a questão da idade em que uma pessoa fica velha
associada ao seu afastamento do trabalho ou redução de seu ritmo de trabalho.
Principalmente se comparados às pessoas mais jovens. Esta representação social
como não-trabalho reflete a crença da aposentadoria como começo do desengajamento
social, sendo o trabalho visto como um patrimônio da juventude e a sua perda como
perda de reconhecimento social.
30
O terceiro tipo de representação social do envelhecimento, partilhado entre
homens e mulheres de forma eqüitativa, parte da visão utilitarista do corpo humano,
comparado-o a uma máquina que se desgasta com o tempo e perde funcionalidade.
Ainda que frequentemente associada a percepção da velhice como uma fase do ciclo
da vida. Uma característica desta representação é a impessoalidade com que os
participantes falam da velhice, referindo-se a mesma de forma geral e a partir de juízos
de valor. Sendo uma visão idealizada do envelhecimento pelo próprio velho.
Essas contribuições auxiliarão a compreensão dos dados obtidos na conversa
focal e servirão de parâmetro à análise de seus resultados.
31
3. METODOLOGIA
32
chama de significação da singularidade como nível legítimo de produção do
conhecimento.
Decidimo-nos pela pesquisa qualitativa, pois o nosso foco de interesse é a
construção do conceito de humano, dentro de uma concepção dialética do homem
como ser histórico. Segundo Minayo (1998) as representações sociais são estruturadas
em interação com outras pessoas, numa relação inseparável entre o mundo natural e o
mundo social, em um processo histórico, considerando todos os conflitos e contradições
que surjam, bem como todos os processos de harmonização e consenso. Ainda que a
própria Minayo (1998) nos advirta que decidido o caminho epistemológico, o
instrumento deverá ser escolhido por conveniência com vistas ao objetivo que se
pretende alcançar. Entretanto, a mesma considera que qualquer pesquisa social que
queira se aprofundar na realidade não pode se restringir ao referencial quantitativo, pois
a pesquisa social que se prende a indicadores estatísticos como resultados, pode
engendrar falseamentos da realidade, podendo ocultar ou desconsiderar fenômenos
que poderiam permitir uma melhor compreensão da realidade.
Toda entrevista é resultado de interação social, mas na conversa focal a
interação e troca de idéias e de significados se dá em vários níveis, envolvendo
diversas realidades e percepções, indicando-nos a possibilidade de várias e diferentes
realidades, com a emergência de polarizações de opiniões e consensos. Portanto, a
escolha da conversa focal como instrumento se orienta pelo que nos diz Rey (2002)
que a pergunta não termina em seus limites, mas se desenrola durante os diálogos que
se sucedem ao longo do processo de discussão.
O local para a reunião, como preconizam Bauer e Gaskell (2002), deverá ser
silencioso e confortável, os participantes deverão acomodar-se de maneira que todos
possam ser vistos uns pelos outros.
3.2 Técnica
33
3.3 Amostra
3.4 Procedimentos
A coleta de dados foi efetuada a partir de uma única reunião do grupo composto
pelos jovens, se realizou em uma sala do Labocien do Uniceub, no dia 10 de novembro
de 2005, da 17h10min às 21h00min. Foi conduzido pela pesquisadora, que
desempenhou o papel de moderadora, acompanhada por uma auxiliar. Foi utilizado um
tópico guia incluindo algumas as categorias que orientam os objetivos desta
investigação: o que é ser velho, início da velhice, desejabilidade, próprio
envelhecimento, relacionamentos e perdas e ganhos.
A moderadora apresentou a si e a sua auxiliar ao grupo, bem como o assunto e a
idéia do que se pretendia abordar. Em seguida os participantes se apresentaram. O
papel do moderador foi mais do que o de um facilitador da discussão, buscando
aprofundar cada afirmação factual ou incompleta. Ou ainda passível de interpretação
34
dúbia. O debate foi registrado por escrito e por gravação em áudio, após a anuência
expressa dos participantes.
Os dados coletados na conversa focal com os jovens foram analisados através
da análise de conteúdo e para tal foram definidas as categorias abaixo:
• O que é ser velho – modo como o jovem encara o ser velho, que sentidos
e significados que dá a esse período da vida;
• Início da velhice – como é identificado ou definido o início da velhice;
• Velho: palavra que incomoda (*) – quais os sentidos e significados dados
à palavra “velho”;
• Desejabilidade, categoria já utilizada por Néri (1991) – quais as
características que tornam o velho desejável ou querido;
• Próprio envelhecimento – como é projetado o próprio envelhecimento do
jovem;
• Relacionamentos – como são percebidos os relacionamentos entre as
pessoas idosas
• Perdas e ganhos – que balanço é feito a respeito desta fase da vida;
• Morte (*) – quais significados e sentidos são dados a morte, como evento
que transcende a vida.
(*) essas duas categorias foram definidas após a análise do conteúdo do debate.
35
próprias falas dos participantes do grupo, ao que Guareschi (1995) chama de “leitura
flutuante”. Bem como foram consideradas as variações ou versões contraditórias do
discurso, que nos permitiram compreender como o grupo se orienta para ação. Os
detalhes sutis, lapsos e silêncios foram respeitados e considerados para a análise, pois
puderam dar pistas quanto ao investimento afetivo de quem falava. Esteve-se atento
também às relações artificiais criadas pelo tópico guia, ou ainda pelas intervenções do
moderador, de modo a perceber se estes temas aflorariam no processo do grupo ou se
eram temas meramente incluídos no processo de discussão motivados pela intervenção
da pesquisadora e que não surgiriam na discussão.
Ainda Guareschi (1995) nos alerta para a ocorrência de que os discursos
complexos, mesmo quando se investiga um tema único. Na análise foi necessário
atentar para a possibilidade de haver outras representações entrelaçadas,
considerando os aspectos múltiplos que compõem uma representação social.
Poderíamos encontrar a representação da velhice entrelaçada a representação de
saúde ou doença, segundo o que comentam Silva (2000), de juventude e outras que
viéssemos a identificar no processo.
Para Minayo (1998), mais que um procedimento técnico, a análise de conteúdo é
parte de uma busca histórica, teórica e prática do campo das investigações sociais. Na
história da análise de conteúdo clássica tem-se oscilado entre “o rigor da suposta
objetividade dos números e a fecundidade da subjetividade” (Minayo, 1998). Foi
necessário, portanto, cuidar para que a idéia da quantificação não suplantasse a
interpretação do conteúdo em si, pois o discurso com que um sujeito contribui podia
não se repetir na fala dos demais participantes e ainda assim ser de fundamental
importância para a investigação.
Na análise do material coletado, como assinala Minayo (1998), estivemos cientes
e atentos para três obstáculos, esperamos tê-los superado:
• O perigo da compreensão instantânea, como se o real se mostrasse claramente;
• Sucumbir aos métodos e técnicas, relegando a plano secundário as significações
e nuances do discurso;
• A dificuldade de traduzir as teorias e conceitos abstratos a partir dos dados
obtidos.
36
A análise se dividiu em três momentos: a “escuta flutuante” como sugere Guareschi
(1995); a separação desses dados, como verbalizações em frases, sentenças ou
trechos, em categorias, introduzindo-os nas categorias já estabelecidas. Não foi
necessária a criação de novas categorias e o último momento foi o de interpretação,
buscando capturar os significados e sentidos expressos pelo participante do grupo que,
em última análise, compõem a representação social do ser velho ou do envelhecimento
investigada.
37
4. ANÁLISE E DISCUSSAO DOS RESULTADOS
38
As perdas traduzidas como representações sociais negativas da velhice,
identificadas em diversos trabalhos anteriores, sendo inclusive uma representação já
esperada, considerando o nível cultural dos participantes do grupo, pois segundo Silva
(2000) o nível mais alto de escolaridade contribui para uma visão mais negativa da
velhice, sugerindo que maior tempo de freqüência à escola pode reforçar os
estereótipos sociais da velhice. Bem como Néri (1991) assinala que revisões de
literatura em diversos trabalhos com jovens e adolescentes indicam forte predominância
de atitudes negativas em relação ao idoso.
Baltes (citado em Fontaine, 1999) destaca que na velhice as perdas tendem a
ultrapassar os ganhos, o que pode justificar a forte representação da velhice, neste
grupo, tender para um balanço negativo entre perdas e ganhos.
Há forte tendência a associar a velhice a perdas, não comparecendo assertivas
que contemplem a representação da velhice pela perspectiva dos ganhos. Em relação
às perdas, os participantes expressaram o que pensam a respeito de ser velho da
seguinte maneira:
Uma afirmação que poderia remeter à idéia de ganhos, mas que nos fala do
resultado do balanço como sendo aleatório:
39
A. “O resultado, seja lá qual for, vai me ajudar a
amadurecer mais com certeza, porque sempre a gente vai
buscando experiências pra aumentar o seu conhecimento”
40
S. “Ser velho pra mim é a pessoa que tem mais
experiência de vida que sabe dar conselho, ensinar mais,
porque já passou por coisas muito iguais”
41
Carneiro, 2004) as pessoas de um modo geral temem tarefas acima de sua capacidade
de realizá-las, ou seja, resistem a se submeter a atividades que não conhecem ou
supõem ser superior à sua capacidade. No velho essa resistência à mudança pode ser
tradução da expectativa da sociedade de que o idoso não terá capacidade para se
haver com novas atividades e, portanto, não lhe permite aventurar-se a mudanças
ainda que quisesse, esta última assertiva é uma hipótese que necessita de investigação
sistemática.
42
As duas primeiras subcategorias, idade e padronização de comportamentos,
identificadas guardam forte relação com o fator cronológico: a idade como um definidor
do início da velhice e os comportamentos esperados e padronizados para determinada
idade. Ainda que tenham surgido falas que não fizeram menção à idade, muito pelo
contrário, deixaram clara a “não existência de idade para nada” o peso da definição do
início da velhice recaiu sobre o fator cronológico.
Quanto à idade, surgiu a indicação do começo da velhice a partir dos 40 anos.
Havendo citação de 50, 60, 70, 90, 100, 120 e 200 anos. Buscando compreender
porque houve forte tendência do grupo considerar o início da velhice a partir dos 60
anos, recorremos a Mascaro (2004) que destaca é a partir desta idade que as
mudanças físicas tornam-se mais evidentes, ocorre o desengajamento social e a saída
dos filhos de casa é um fato quase sempre consumado, acentuando a perda de papéis
da vida adulta. Em Néri (1991) há achados do início da velhice a partir dos 30 anos,
porém estatisticamente os números ficam assim: 31,70% localizaram o início da velhice
aos 60 anos, 27,80% acima dos 70 anos e 30,30% localizaram o começo da velhice
como um estado de espírito, que surgiu em nossa investigação.
As falas abaixo nos ajudarão a compreender o significado dado à questão da
idade como início da velhice:
S. “Acho que quando eu estiver depois dos 50, dos 60, não
sei”
43
representação social, explicando-a pela existência de influências normativas etárias que
determinam o que se deverá fazer, usar ou dizer em determinada época da vida. A
definição destes comportamentos é contextual, dependendo do momento histórico e
cultural em que o indivíduo está inserido.
Podemos compreender melhor o sentido que os componentes do grupo dão aos
comportamentos de cada idade observando as sentenças emitidas pelos participantes
do grupo de discussão:
44
ocorrência do envelhecimento, já que o espírito pode ser mantido indefinidamente
jovem. Essa hipótese se apóia na possibilidade da velhice ser aversiva, já que
socialmente indica dependência, afastamento e improdutividade, segundo Néri (idem).
As falas a seguir auxiliarão o entendimento da hipótese proposta para explicar a
representação estado de espírito:
45
vida com bastante flexibilidade de modo a torna-los compatíveis com cada etapa da
vida sem sofrimento.
Vejamos as falas abaixo:
46
A. “Mas pra baixo ali do centro, tem essas meninas que
fazer programa, mas tem senhoras também. Cara, eu
fiquei admirado!”
Veloz (1999) atribui essa preocupação com a beleza física a uma sensação de
perda da identidade: destaca que a pessoa velha não mais se reconhece, ressaltando
também ser essa representação de cunho feminino, sugerindo que a preocupação com
a beleza possa ser uma questão de gênero. Procurando entender essa sugestão,
pudemos levantar algumas hipóteses: a perda do papel social da mulher como apta a
procriar está intimamente ligada a sua capacidade de atrair o macho ou ainda à
influência da mídia ao preconizar uma aparência que privilegia a beleza da juventude e
por último a decadência trazida pela perda do viço, do próprio vigor que prenunciam a
finitude do indivíduo, a morte. Portanto, afastando o envelhecimento aparente
afastaríamos a morte.
47
Segundo Mascaro (2004) usar a expressão “velho” para nomear alguém é
percebido como sinal de demérito ou desrespeito, pois o que envelhece é considerado
gasto, usado, sem valor, obsoleto. Essa assertiva de Mascaro encontra eco no
discurso de alguns participantes do grupo focal, vejamos o exemplo abaixo:
Idoso, ancião, vivido, bem-vivido, experiente, coroa, coroa enxuto, vovô, maduro:
muitas são as palavras usadas pela sociedade com a finalidade de diminuir a força da
negatividade que a palavra velho encerra. Néri (2004) diz que estes subterfúgios
lingüísticos utilizados em uma comunidade verbal refletem a interatividade que permeia
os vários níveis de discurso, traduzindo as construções verbais de fundo psicológico
determinadas pelos contextos sociais e políticos de um determinado grupo social.
48
4.2.4 Categoria – Desejabilidade
49
Vejamos as verbalizações positivas que , entretanto, podem esconder uma
representação social de velhice que discrimina aqueles que não podem contribuir com
seu acúmulo de saber:
50
A desejabilidade, portanto, está associada à idéia de contribuição e a
manutenção de características de juventude, ainda que não seja esperado um papel
efetivo de criador. A indesejabilidade está marcada pelas características negativas
associadas comumente à velhice.
Vejamos alguns exemplos de verbalizações:
51
e autoconfiança. Afirma-nos, pois, que o melhor fator de predição de uma velhice ótima
é o nível de escolaridade. Se extrapolarmos essa assertiva para os achados de nossa
pesquisa podemos supor que o caráter positivo que os jovens que compuseram o grupo
focal dão à própria velhice projetada deve-se ao seu nível de escolaridade. Quanto à
eficácia pessoal, ou seja, sua própria responsabilidade sobre seu bom envelhecimento,
Bandura (citado em Fontaine, 1999) traz a contribuição que nos auxiliará a interpretar o
dado: Bandura fala-nos de crenças que as pessoas têm em suas próprias capacidades
para resolver situações cotidianas e que o jovem projeta essa capacidade para a sua
velhice. Ainda que Néri citada em Carneiro (2004) destaque que a boa velhice não é
um atributo nem uma responsabilidade individual, mas sim um produto da interação
entre as pessoas em permanente mudança e um mundo também em permanente
mudança, os jovens trazem muito presente a representação de que um bom
envelhecimento é conseqüência de suas próprias atitudes e comportamentos.
Entretanto, tanto Skinner (1985) quanto Mascaro (2004) atribuem aos comportamentos
na juventude, pelo menos, uma parte da responsabilidade pelo seu próprio
envelhecimento.
Segundo Néri (1991) há indicadores de que há independência entre a
representação social da velhice e a projeção da própria velhice. Os achados de nossa
pesquisa, entretanto, nos dão pistas de que a representação social negativa que os
jovens têm da velhice os impele a projetar algo positivo para suas próprias velhices,
como um modo de esquivar-se de situações que lhes possam parecer aversivas. O que
nos leva a crer que neste grupo investigado surgiu a dependência entre os dados
culturais e sociais utilizados para a construção da representação social da velhice
negativa no seu presente e a projeção de suas velhices positivas no futuro.
Relatos que expressam a expectativa de um bom envelhecer:
52
vou envelhecer, é a falta de cuidar da cabeça,
principalmente em relação à informação, a leitura”.
53
R. “Se eu me preocupar com meus filhos amanha eles vão
me dar esse amparo que um dia eu dei pra eles”
54
guia. Tentou-se levar adiante a discussão através deste tema, mas o grupo não se
expressou além de revelar estranheza e ressaltar que aquele não era um
comportamento esperado para aquela faixa etária. Conseguimos perceber as duas
subcategorias abaixo:
a) Comportar-se como jovem
b) Não-aceitação
55
E. “Não importa a idade, você tem o direito de amar, de
gostar, de sentir-se feliz...”
56
realidade, é necessário que o jovem aceite a velhice como uma possibilidade de
ganhos além das perdas já conhecidas quase exaustivamente.
Rey (2002) destaca que não é necessário que o discurso se repita entre os
demais participantes de um grupo para ter relevância na análise qualitativa, portanto
incluímos a referência à morte, apesar de ter havido poucas referências.
A categoria que trata da morte se divide em duas subcategorias:
a) Morte biológica
b) Morte social
Fontaine (1999) nos fala da morte como algo que fascina e angustia talvez por
isso o grupo, apesar do tema remeter à discussão da morte, pouco tenha se
aprofundado no assunto.
A aposentadoria é citada na discussão como imediatamente subseqüente à
morte: podemos entendê-la de forma metafórica ou concreta. Em Haddad (1986), a
partir do que diz o geriatra Ralph Berg a aposentadoria é apontada como causa de
inatividade, o médico chega a dizer que os que se aposentam passam a ser ”mortos-
57
vivos” por aí, sem atividade, em praças, sem papel social que lhes confira importância.
Haddad (idem) afirma-nos que essa visão da aposentadoria é elitista, tendenciosa e
embuída da ideologia do trabalho.
Aposentadoria como morte social é o tema de Fontaine (1999) e destaca que o
indivíduo não se considera velho enquanto conserva seu papel produtivo. Se pela
aposentadoria o indivíduo fecha-se em seu ser biológico, mostra-se limitado em relação
à adaptação a outros papéis, indicando a impossibilidade de uma velhice bem
sucedida, podendo passar mesmo a patológica, com verdadeiro risco para a saúde.
Por outro lado, Mascaro (2004) indica que os indivíduos podem e devem engajar-
se em outras atividades que lhes dêem satisfação e que os façam recuperar o sentido
de suas vidas produtivas.
Nas expressões a seguir podemos ver exemplos da morte social nas frases dos
participantes do grupo focal:
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anos, enquanto fazia uma caminhada rápida e vigorosa de manhã cedo: “vai tomar
muito o meu tempo?”. O que nos remeteu à idéia da importância da atividade e do uso
do tempo preconizado pela sociedade em que vivemos que privilegia pessoas ágeis,
rápidas e com grande número de atividades a desempenhar.
Um outro convidado, 68 anos, funcionário público com alto salário, fala da própria
aposentadoria como algo muito desejado, a princípio aceitou o convite, entretanto
depois sugeriu que fizéssemos o convite a outras pessoas, freqüentadoras de um
centro de convivência para idosos, alegando não ter experiência como idoso. E, ainda,
que precisava dar assistência a um filho que estava em vias de separar-se da esposa.
A pista que esta situação nos sugere é a da importância da manutenção dos papéis
sociais e da velhice como um processo atingindo outras pessoas, como destacam
Simone de Beauvoir em seu livro A Velhice, bem como Skinner, em Viva Bem a Velhice
e Milan Kundera em seu livro A Imortalidade.
Um outro senhor, ciclista amador, aposentado, quando lhe falamos do tema
envelhecimento, disse-nos “eu não estou ficando velho! Se você quiser falar de outra
coisa, estou à disposição...” Essas três experiências relatadas dão-nos pistas de que o
envelhecimento além de começar em diferentes idades para diferentes pessoas, parece
ser encarado principalmente por pessoas do sexo masculino como algo acontecendo
com o outro. Corroborando esta interpretação das experiências relatadas, Fontaine
(1999) sugere que não se deveria falar de velhice e sim de velhices, pela
heterogeneidade e diferentes percepções de envelhecer.
Uma dificuldade de outra ordem enfrentada no convite aos homens aponta-nos
para outro estilo de envelhecer: são pessoas que até aceitariam responder a um
questionário ou participar de uma entrevista, mas não aceitam se expor aos outros
velhos, indicando-nos para uma possível vergonha de seu envelhecimento e como se
não quisessem ou não pudessem ser vistos, afirmando-nos que responderiam de bom
grado a uma entrevista, mas não teriam interesse em participar de uma conversa focal.
Só começamos a ter sucesso no convite a pessoas do sexo masculino, quando
de alguma forma o tema foi mascarado, falando-lhes da vida adulta e não de
envelhecimento.
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Os convites feitos às mulheres foram todos prontamente aceitos, a pista sugerida
vem ao encontro do resultado da pesquisa realizada analisando prontuários de 303
pacientes do Ambulatório de Geriatria do HUB – Hospital Universitário de Brasília, por
Linhares (2003), onde se destaca que quase 70% dos usuários deste serviço são
mulheres e têm mais de 60 anos. Portanto, mais mulheres participam do serviço de
saúde na área de geriatria e estão preocupadas com as questões do envelhecimento.
Quanto aos jovens, a maior dificuldade encontrada referiu-se a não
disponibilidade de tempo, principalmente por se tratar da discussão de um tema que
parecia não lhes dizer respeito e principalmente estar muito longe de sua realidade
presente. Segundo Skinner (1985) o melhor tempo para começar a pensar na velhice é
a juventude, parece-nos, entretanto, que esta é uma avaliação que se faz já na velhice,
haja vista a produção deste livro de Skinner ter sido motivada pela vontade de
compartilhar suas estratégias de bom envelhecimento, mas já ter sido produzido na
velhice.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos resultados obtidos através do estudo foram identificadas oito categorias, por
sua vez divididas em algumas subcategorias. As representações sociais mais
marcantes desta investigação dizem respeito à negatividade com que os jovens
concebem a velhice do outro e à positividade com que projetam seu próprio
envelhecimento. Ainda que sejam apresentados alguns aspectos positivos da velhice.
Investigações, já citadas na fundamentação teórica, ressaltam aspectos de
perdas trazidos pela velhice e destacam vários resultados de trabalhos a respeito da
velhice pelo prisma da negatividade. Tais achados confirmam os dados obtidos neste
trabalho em relação a uma velhice representada socialmente pelo aspecto da
negatividade. Entretanto, diante de resultados que apontam para algumas
contradições, considerando um mesmo tema, sugerimos que sejam investigadas as
possíveis variáveis que resultaram nessa aparente contradição, tais como classe
social, diferentes faixas etárias, escolaridade, região onde residem e até região de
origem podem ter influência em uma percepção diferenciada da velhice. E até
propriamente a forma como a investigação está sendo conduzida, pois a subjetividade
do investigador e suas próprias representações sociais podem ser interessantes
variáveis a serem observadas.
Em nosso trabalho observamos que ao mesmo tempo em que o jovem vê a
velhice de forma negativa, idealiza um velho com o qual gostaria de conviver. A
negatividade pode ser resultado de conceitos mantidos e reforçados por
representações sociais que se apóiam em elementos da ciência gerontológica que são
distorcidos nos processos de comunicação interpessoais e na mídia e que se referem à
velhice como “problema”, “questão social” ou “doença”. Ou, ainda, pode ser atribuída às
condições sociais da maioria da população que vive próximo a linha da pobreza. Outro
ainda ao sistema de produção de bens e serviços predominante nas sociedades
capitalistas modernas que privilegiam o vigor, a rapidez e a produtividade. Essas
construções sociais seriam, portanto, reflexo dos contextos culturais, sociais e políticos
em que se formam.
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A idealização de uma velhice positiva ou da existência de um velho sábio, puro,
sem malícia, quase mítico pode ser uma forma de afastarmos a perspectiva sombria de
envelhecer em um país pobre, sem políticas públicas definidas de socorro aos
desvalidos, aos sem renda, aos sem esperança. Envelhecer em um país que não cuida
sequer dos seus jovens é assustador, por isso ao projetarmos nosso envelhecimento
dizemos “será maravilhoso!”.
O velho desejável é o velho que parece jovem, o que nos leva a refletir se o que
é desejável não é de fato a juventude, daí a indústria investir bilhões de dólares para
garantir a promessa que faz: possibilitar a eterna juventude. Como o “El Dorado” dos
tempos modernos, não mais queremos riquezas em ouro, queremos agora parecer
indefinidamente jovens como uma possibilidade de afastarmos a morte.
O amor é uma prerrogativa da juventude, fruto talvez de uma sociedade que a
privilegia, que privilegia a produtividade e que, apesar de fazer o discurso de esperar
que o velho seja sábio, não o ouve, ignora-lhe os conselhos, não aceita sua experiência
dizendo-lhe estar ultrapassado ou sequer lhe dá ouvidos.
Vivemos um momento no qual talvez seja necessário repensar nossos valores e
quais valores queremos que nossos filhos aprendam. Repensar nosso sistema
educacional. Não queremos ensinar as pessoas a envelhecerem, o que queremos é
que as escolas ensinem nossos filhos e que eles nos ensinem a viver sem
preconceitos, a aceitar o feio, o diferente, o antigo, o velho em um contexto de
igualdade e respeito e, mais que isso, queremos que as pessoas aprendam a
desenvolver suas próprias habilidades para construírem uma realidade social que as
possibilite enfrentar esta fase da vida com plenitude e que possam ser felizes.
Queremos que o jovem, o homem público ou mulher pública de amanhã, que
tomarão em suas mãos os destinos dos povos, que vejam o velho e a velhice com
respeito e os tratem com a dignidade que ora nos falta.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JUNG, Carl Gustav. A natureza da Psique. Trad. Pe. Dom Mateus Ramalho Rocha. 5
ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
LANE, Silvia T. Maurer. O que é Psicologia Social / Silvia T. Maurer Lane – 1 ed. – São
Paulo: Brasiliense, 1981 – (Coleção primeiros passos; 39)
BRASIL. Lei 10.173, de 9 de janeiro de 2001. Código de Processo Civil, para dar
prioridade de tramitação aos procedimentos judiciais em que figure como parte pessoa
com idade igual ou superior a sessenta e cinco anos. Publicada no Diário Oficial da
União, em 10 de janeiro de 2001.
BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil Brasileiro. Publicado no
Diário Oficial da União em 11 de janeiro de 2001.
BRASIL. Lei 10.741, de 1º de outubro de 2003. Estatuto do idoso. . Publicado no Diário
Oficial da União em 30 de outubro de 2003.
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APÊNDICE
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TÓPICO GUIA (JOVENS)
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QUADRO DE CATEGORIAS
PRÓPRIO ENVELHECIMENTO Resultado de atitudes e comportamentos O próprio envelhecimento é dado pela “Tudo é uma conseqüência, se eu fizer as coisas certas, se eu me
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da juventude – positiva ou negativa forma como os jovens projetam sua interessar a me auto-conhecer”
velhice e o que atitudes deverão ter “Eu acho que a minha velhice vai ser maravilhosa””
Amparo da família
para que sua velhice seja bem “Talvez você não consiga perceber que você está amadurecendo”
Não-percepção sucedida “Depende muito da família”
“Se eu me preocupar com meus filhos amanhã eles vão me dar
esse amparo que um dia eu dei pra eles”
“Ela tem 50 anos, mas ela ta vivendo um romance como se fosse
Comportar-se como jovem uma adolescente de 13, 14 anos”
Representação de como o velho “Dois velhinhos juntos lá beijando, sabe? Passando a mão no
RELACIONAMENTOS Não-aceitação
deveria fazer suas trocas afetivas outro, se acariciando, uma coisa... é estranho pra sociedade”
“É estranho pela faixa etária deles”
“É uma perda assim tão grande que eu acho que tem alguma
coisa errada, não é a velhice”
É a contabilização entre o que se “O resultado, seja lá qual for, vai me ajudar a amadurecer mais
PERDAS E GANHOS perde e o que pode ser ganho com o com certeza, porque sempre a gente vai buscando
envelhecimento experiências pra aumentar o seu conhecimento”
“Eu acho que devo fazer esse balanço só depois que morrer”
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