Bioecnomia Da Amazõnia 2022
Bioecnomia Da Amazõnia 2022
Bioecnomia Da Amazõnia 2022
Bibliografia.
ISBN: 978-65-88512-32-6(E-book)
Os onze autores dos capítulos desta obra são jovens cientistas, alunos e alunas do mestrado
em Recursos Naturais da Amazônia (PPGRNA-UFOPA), com as mais diversas formações
profissionais afins à área de meio ambiente, os quais a partir de sua expertises, vivências e
compreensão do conteúdo da disciplina, nos brindam aqui com suas reflexões e proposições
de modelos teóricos acerca do tema sugerido, Bioeconomia Amazônica. Esta obra, não é
apenas o produto do ensino de pós-graduação na área de Ciências Ambientais na Amazônia
sensível ao contexto local e regional, mas é sobretudo, a praxis do pensamento científico de
uma jovem geração de cientistas comprometida com uma ciência solidária-empreendedora.
CAPÍTULO II- Açaí (Euterpe Oleracea Mart): Ambiente & Bioeconomia Na Amazônia –
Isadora Elaine Silva Da Cruz .................................................................................................. 21
CAPÍTULO XI- Criação de traíra em tanques redes: uma espécie com potencial à
bioeconomia local – Melquiades de Oliveira Costa .............................................................. 154
5
INTRODUÇÃO
1
Bióloga pela Universidade Federal do Oeste do Pará (2019); Mestranda do Programa de Pós-Graduação em
Recursos Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (2021). / E-mail:
clau.stm_viana@hotmail.com.
2
Doutora em Ciências Agrárias com área de concentração em Sistemas Agroflorestais pela Universidade Federal
Rural da Amazônia (2005), Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da
Amazônia/UFOPA.
6
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.1 Tucumanzeiro
1.1.1 Características da planta e uso
O tucumanzeiro é uma palmeira típica da região amazônica pertencente ao gênero
Astrocaryum, família Arecaceae, espécie Astrocaryum aculeatum com numerosas variedades
de espécies distribuídas por toda a bacia Amazônica (GUEDES, 2006). Entre as espécies, as
mais populares devido ao potencial econômico promissor e importância significativa no
comércio são: A. aculeatum, Mart. e A. vulgare Mart.
A espécie A. aculeatum ou popularmente conhecida como Tucumã do Amazonas é uma
palmeira nativa das terras firmes da Amazônia, está inserida no
subgênero Pleiogynanthus (Kahn & Millán, 1992) é uma espécie solitária, monóica,
crescimento monopodial, estipe ereto, alcançando até 25 m de altura (GENTIL E FERREIRA,
2005). Seus frutos são grandes e bastante nutritivos, são maiores e têm menos fibra que os do
Tucumã-do-Pará e são muito apreciados por pessoas e animais (SHANLEY; MEDINA, 2005).
Para Campelo et al (2020) essa espécie está associada a ambientes degradados e de vegetação
secundária, isso porque sua boa resistência ao fogo e abundante produção de sementes
7
significância no âmbito regional. A polpa é algo que está no cotidiano da maioria dos povos
amazônicos e isto por ação de extrativistas que vive desta prática em prol de sua subsistência.
(2005) e Morais (2012), o óleo da polpa do tucumã contém 25,6% de ácidos graxos saturados
e 74,4% de insaturados, compostos pelos ácidos graxos palmítico, esteárico, oléico e linoléico.
2. METODOLOGIA
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, V. F. et al. Plantas da Amazônia para produçao cosmética: uma abordagem química
- 60 espécies do extrativismo florestal não-madeireiro da Amazônia. Organização Internacional
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(Astrocaryum vulgare Mart). Alimento e Nutrição, Araraquara, v.19, n.4, p. 427 - 433, 2008.
12
APÊNDICE 1
15
16
17
18
19
20
21
CAPÍTULO II- Açaí (Euterpe oleracea Mart): ambiente & bioeconomia na Amazônia
Isadora Elaine Silva da Cruz1
Patricia Chaves de Oliveira2
RESUMO
O açaí (Euterpe oleracea) é uma palmeira amplamente difundida e cultivada na Amazônia brasileira.
O açaizeiro se destaca, dentre os diversos recursos vegetais, pela sua abundância e por produzir
importante alimento para as populações locais, além de ser a principal fonte de matéria-prima no
Brasil. A partir disso, o objetivo desta pesquisa visa realizar um levantamento bibliográfico acerca da
utilização do Açaí (Euterpe oleracea Mart) e de suas potencialidades como fomento na bioeconomia
da região Amazônica. Diante disso, a metodologia para a composição da pesquisa é uma revisão de
literatura em bases de dados como: SciELO, Science Direct e Portal da Capes. Dentre as produções
científicas nas bases de dados, 72 estão direcionadas as potencialidades de Euterpe oleracea, onde
observou-se maior ênfase de trabalhos no Periódico da Capes, com 34 publicações. As produções
vinculadas à química e dieta/nutrição, se encontram em maior quantidade nas produções científicas
abordadas. Considerando as características encontradas no decorrer desta investigação, este estudo
possibilitou apresentar uma visão geral das potencialidades econômica da espécie Euterpe oleracea.
O estudo revela de forma significativa o potencial da espécie para atender as necessidades humanas
na área de alimentação e saúde, e estas podem ser exploradas de forma ainda mais significativa pela
indústria, com perspectiva para geração de novas tecnologias.
1. INTRODUÇÃO
O açaizeiro (Euterpe oleraceae Mart.) é uma palmeira que alcança 15 a 20m de altura, nativa
da região amazônica, encontrada na região Norte do Brasil, nos estados do Pará, Amazonas,
Maranhão e Amapá. A espécie desenvolve-se mais facilmente em terrenos úmidos, alagados, margens
dos rios e constitui fonte de matéria-prima para as populações locais, uma vez que dela são extraídos
o palmito e o fruto para consumo alimentar (STONER, 2009.)
1
Bióloga pela Universidade Federal do Oeste do Pará (2020); Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Recursos
Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (2021). / E-mail: isa_elainy@hotmail.com.
2
Doutora em Ciências Agrárias com área de concentração em Sistemas Agroflorestais pela Universidade Federal Rural
da Amazônia (2005), Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia/UFOPA.
22
O fruto do açaí possui formato arredondado e pesa cerca de duas gramas. Somente 17% do
fruto é comestível (polpa e casca), sendo necessários cerca de 2 quilos de frutos para produzir um
litro de suco. A cor do fruto maduro é púrpura a quase preta, o restante representa o caroço, contendo
a semente oleaginosa. (SANTOS et al.,2008).
São várias as pesquisas que buscam valorizar este fruto amazônico por meio do conhecimento
e de suas funcionalidades como ação antioxidante (NASCIMENTO et al., 2016), anti-inflamatória
(KANG et al., 2011), autobiofilme e antimicrobiana (DIAS-SOUZA et al., 2018). O conjunto de
valores a esse fruto amazônico ocasiona a expansão em seu consumo, que conduz a indústria de
polpas de frutas a buscar caminhos que atendam as necessidades dos consumidores nacionais e
estrangeiros (NOGUEIRA; SANTANA, 2016).
É importante ressaltar que, do açaizeiro, tudo se aproveita: frutos, folhas, sementes, raízes,
palmito e tronco “[...] o açaí e seus subprodutos são altamente valorizados no mercado,
principalmente pela indústria alimentícia, farmacêutica, bioquímica e de cosméticos” (LIMA et al.,
2013, p.11).
Apesar do reconhecido potencial bioeconômico, importância social, ambiental e até mesmo
cultural, seja em nível regional, nacional e internacional, de Euterpe oleracea Mart, as informações
sobre seus múltiplos usos ainda são dispersas na literatura, destacando-se a importância de estudos
que busquem reunir informações sobre esta espécie no bioma Amazônia. Em razão desse potencial
bioeconômico e da necessidade de informações tecnológicas e cientificas atuais relacionadas à
Euterpe oleracea, o objetivo geral desta pesquisa é realizar um levantamento bibliográfico acerca da
utilização do Açaí (Euterpe oleracea Mart) e de suas potencialidades como fomento na bioeconomia
da região Amazônica. Dentre os objetivos específicos busca-se:
- Apontar a quantidade de produções científicas sobre Euterpe oleracea presente nas plataformas de
pesquisa;
- Apontar as potencialidades bioeconômicas encontrada nos artigos;
- Elaborar um folheto sobre a espécie Euterpe oleracea que sirva como modelo teórico para
divulgação;
- Criar um mapa conceitual sobre Euterpe oleracea.
verdadeiro. Segundo Oliveira et al. (2000), a palavra “açaí” tem origem tupi (yá-çaí) e significa “fruto
que chora”.
A espécie foi publicada em História Naturalis Palmarum, em 1824 e descrita por Carl
Friedrich Philipp von Martius. O nome Euterpe tem origem de uma ninfa grega das águas,
considerada também deusa da música e Martius associou este nome ao descrever esta espécie que
tem preferência por solo inundável (Lorenzi et al., 2010) e significa elegância da floresta, enquanto
oleracea significa que parece e exala odor similar ao do vinho, em referência a cor e ao aroma da
polpa (OLIVEIRA et al., 2000).
A exploração do açaí é desde a época pré-colombiana, onde nas festas importantes das aldeias
realizadas no período da safra os frutos eram utilizados pelos índios no preparo do vinho de “açaí,”.
A população amazônica faz uso diário de açaí nos tradicionais postos de venda, e mesmo passado
muitos anos, esse hábito só aumenta (OLIVEIRA et al., 2017).
1.1.2. Ambiente
O açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) é uma espécie que tem ocorrência no Norte da América
do Sul, Panamá, Equador e Trinidade, ocupando florestas de terras baixas e montanhas úmidas, na
Guiana Francesa, Suriname, Venezuela e Colômbia (HENDERSON, 2000). É de distribuição ampla,
entre as latitudes 10° Norte e 20° Sul e as longitudes 40° Leste e 70° Oeste (Lleras et al., 1983). No
Brasil, tem domínio fitogeográfico no lado Oriental da Amazônia, principalmente, na região do
estuário amazônico (Pará, Amapá e Maranhão), onde abrange ainda as regiões Norte (Tocantins e
Mato Grosso) e Nordeste (CYMERYS; SHANLEY, 2005).
Por se tratar de uma palmácea típica da região amazônica, a espécie está adaptada a um clima
quente, tropical, alta nebulosidade e alta umidade relativa do ar (EMBRAPA, 2005; CAVALCANTE,
1991; MOURÃO, 2010). O açaizeiro se desenvolve em tipos climáticos Afi, Ami e Awi, que
correspondem ao clima quente e úmido, com pequenas amplitudes térmicas e umidade relativa do ar
variante entre 71% e 91% (EMBRAPA, 2002).
Segundo Oliveira et al. (2000), o açaizeiro desenvolveu adaptações morfológicas e
fisiológicas próprias ao longo de seu processo evolutivo que garantem a sua sobrevivência nos
períodos do ano em que há inundação e os solos apresentam caráter anóxico (falta de O2), a espécie
é encontrada desenvolvendo-se espontaneamente tanto em solos de várzea quanto em terra firme,
sendo mais frequente nos solos de várzea.
A espécie é característica de floresta tropical, apresenta crescimento lento, carece de muita
umidade (> 2000 mm anuais) (OLIVEIRA, 2000). De acordo com Calzavara (1972), a mesma possui
estratégias fisiológicas que permite manter sementes viáveis e plântulas vivas, mesmo em condição
de anorexia total, por períodos de até 20 dias para sementes e 16 dias para plântulas, isto explica sua
24
A colheita é efetuada pelo método tradicional usado no extrativismo e deve ser realizada no
início da manhã por homens que escalam o estipe com auxílio de equipamento regional (peçonha,
feito da folha da palmeira ou de saco de aniagem) e de faca bem afiada, que ao chegarem ao cacho
fazem cortes laterais na inserção do estipe, trazendo-os até o solo (OLIVEIRA et al., 2002). Menezes
et al. (2008) aponta que por serem bastante perecíveis recomenda-se que os frutos sejam processados
no prazo máximo de 24 horas após a colheita.
confecção de biojóias, adubo orgânico, fitoterápico, dentre muitos outros usos. Muito embora, sua
importância econômica, esteja centrada na extração do fruto e de palmito (OLIVEIRA et al., 2010;
BARRETO et al., 2012).
O açaí, conquistando novos mercados consumidores, atendendo não apenas o comércio local,
mas também outras regiões do país, foi responsável pela produção de 1,1 milhões de toneladas no
ano de 2016, sendo 98,3% proveniente do estado do Pará (IBGE, 2016). A partir do crescimento da
demanda de açaí para além do mercado regional, iniciou-se o plantio e domesticação de espécies de
açaizais, na finalidade de atender o mercado (HOMMA, 2012).
A produção de frutos e derivados deixa de ser uma atividade exclusiva do extrativismo, pois
o cultivo oferece a ampliação de obtenção do fruto e, por conseguinte aumento de renda (HOMMA,
2017; SILVA et al., 2006). Ademais, a rentabilidade do sistema de produção plantado/intensivo é
apontada pela literatura como superior aos açaizais nativos, enquanto as palmáceas nativas possuem
uma receita líquida média de R$400/hectare as cultivadas geram cerca de R$700,00/hectare
(SANTOS et al., 2012; TAVARES, HOMMA, 2015; XAVIER et al., s.d.).
2. METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada por meio de um levantamento bibliográfico de produções
científicas indexadas em bases de dados como: SciELO, Science Direct e Portal da CAPES. Para a
realização da busca utilizou-se os descritores “Euterpe oleraceae”, “Amazônia”. Todas as pesquisas
foram efetuadas nas modalidades avançadas em cada uma das bases consultadas.
Inicialmente para a triagem dos artigos, foram lidos os títulos e identificadas às relações
existentes com o tema adotado. Em seguida, foram analisados os resumos e objetivos dos mesmos,
para seleção dos periódicos, adotados com base nos critérios de inclusão e por finalização, os pré-
selecionados foram lidos na íntegra a fim de identificar as informações necessárias.
Considerou-se o período dos últimos 10 anos (2011-2021) para a realização da pesquisa de
produções científicas. Essa faixa de tempo foi escolhida por causa do interesse em desenvolvimentos
tecnológicos recentes.
Após coletar as informações resultantes das pesquisas, foram realizadas análises e sínteses
para resumir o conteúdo dos dados levantados. Posteriormente, as informações foram organizadas em
forma de representação visual, como gráficos, com o auxílio do software Microsoft Office Excel ®.
Para complemento deste trabalho, utilizou-se o programa Microsoft Word, para a elaboração
do folheto contendo informações sobre a espécie Euterpe oleraceae. Dentre as informações presentes
no folheto encontra-se: nome da espécie, classificação botânica, descrição botânica, importância
econômica, curiosidade, fluxograma e imagens da espécie.
27
Assim como, para a elaboração do mapa conceitual foi utilizado o programa CmapTools
(http://cmaptools.softonic.com.br/), usado para comunicar conceitos e suas relações tornando as
informações mais acessíveis e de fácil compreensão.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Resultado da quantidade de produções científicas sobre Euterpe oleracea e de suas
potencialidades bioeconômicas
É observado um progresso no número de publicações relacionadas à espécie Euterpe oleracea
durante os últimos anos, totalizando 72 artigos científicos compilados nas bases de dados: SciELO,
Science Direct e Periódico da Capes. Nestas, há destaque para o Periódico da Capes, com 34
publicações, seguido da base de dados SciELO (20) e Science Direct com 18 artigos publicados.
O Resultado da quantidade de produções científicas sobre Euterpe oleracea contida nas
plataformas de pesquisa estão descritos na figura 1. Essa tendência está relacionada à versatilidade
de aplicações dessa espécie em diferentes áreas de pesquisas, tais como, investigações
farmacológicas, tecnologia de alimentos, química, dentre outras áreas de interesse.
De modo a melhorar as atividades de informação, documentação e comunicação, com a
finalidade de tornar público os mecanismos da investigação científica enquanto atividade social e
econômica, essa análise da produção científica está ligada à mensuração do tamanho, do crescimento
e da distribuição da bibliografia (PEREIRA et al., 2013).
Figura 1- Publicações de artigos científicos sobre a espécie Euterpe oleracea presente nas plataformas de pesquisa.
Euterpe oleracea
40
34
35
Quantidade de artigos
30
25
20
20 18
15
10
5
0
SciELO Science Direct Periódico da Capes
Figura 2- Potencialidades bioeconômicas da espécie Euterpe oleracea mais abordadas nos artigos.
Potencial bioeconômico
40 38
35
Quantidade de artigos
30 27
25
20
15
10
5
5 2
0
Química Engenharia Agricultura Dieta e nutrição
Outra questão, segundo Menezes et al. (2008) é que o açaí é um alimento altamente calórico,
cerca de 489,39 kcal/100g em polpa liofilizada. Esse valor energético elevado se dá principalmente
pela alta concentração de lipídeos que na polpa liofilizada chega a ser de até 40,75%. Nesse sentido
o açaí pode ser incontestavelmente adicionado a dietas de pessoas com baixo peso, principalmente
em crianças, além de ser um excelente acréscimo em dietas de pessoas que estão acostumadas com
os hábitos alimentares pobres em micronutrientes e minerais.
Uma potencialidade pouco abordada nos artigos é a dos cosméticos, apesar de Balogh (2011)
argumentar que nesta área são utilizados extratos de óleo do açaí para xampus, condicionadores,
cremes para pentear, hidratantes corporais, já que, o alto teor de antocioninas pode ser útil na
prevenção e tratamento de desordens cutâneas.
Apesar do reconhecido potencial bioeconômico de Euterpe oleracea, as análises da produção
científica acerca das suas diversas potencialidades ainda são poucas. Desse modo, são necessárias
pesquisas que possibilitem as gerações de conhecimentos, produtos e processos que viabilizam os
conceitos e técnicas, principalmente a respeito de suas características funcionais e do seu potencial
biológico, de modo que possam tornar possível o uso desta palmeira em diferentes ramos
(MIRANDA, 2014).
29
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os achados nesta pesquisa sinalizam as potencialidades tecnológicas e científicas da espécie
Euterpe oleracea, e revelam de forma significativa o seu potencial para atender as necessidades
humanas na área de alimento e saúde. Essa espécie pode ser explorada pelas indústrias alimentícia,
cosmética e farmacêutica, com perspectiva para geração de novas e mais sustentáveis tecnologias.
Quanto às potencialidades bioeconômicas da espécie Euterpe oleracea, é notável a
predominância de produções relacionadas à química e dieta/nutrição, que se encontram em maior
quantidade nas produções científicas abordadas. Esse fato pode ser explicado, principalmente por ser
fonte de recursos biológicos que apresentam maior contribuição do ponto de vista da valoração
econômica e ambiental da biodiversidade amazônica. Apesar de serem potencialidades relevantes,
outros campos da espécie como engenharia e agricultura são igualmente importantes e poucos
estudados. Assim, ampliar a diversidade de trabalhos em outros campos da espécie é primordial.
Portanto, faz-se necessário incentivar novos avanços em pesquisa, desenvolvimento e
inovação dessa espécie de palmeira para o entendimento do comportamento biológico e interação
ecológica dessa planta. É imprescindível a implementação e consolidação de pesquisas básicas e
aplicadas, esse conhecimento gera o aumento de produções tecnológicas e científicas sobre um olhar
estratégico da Bioeconomia Amazônica e a agregação de valor às cadeias produtivas voltadas para a
inovação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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acessos de açaizeiro utilizando marcadores microssatélites. Ciência e Agrotecnologia, v. 34, n.5, p.
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de um modelo matemático. Monografia. Universidade de São Paulo. São Carlos-SP. p. 66, 2010.
PEREIRA, S. A. et al. Prospecção sobre o conhecimento de espécies amazônicas - Inajá (Maximiliana
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Tecnologias, São Cristóvan, v. 3, n. 2, p. 110-122, 2013. DOI:
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QUEIROZ, J.A.L; MOCHIUTTI, S. Cultivo de açaizeiros e manejo de açaizais para produção de
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STONER, G.D. Foodstuffs for preventing cancer: the preclinical and clinical development of
berries. Cancer Prevention Research: 187-194, 2009.
36
1. INTRODUÇÃO
A mineração está presente na vida do homem desde a pré-história quando rochas e minerais
eram destinados para o desenvolvimento de utensílios, armas, pinturas e rituais (SIMINERAIS,
2021). A mineração é definida pelo processo de extrair minerais de rochas ou solo e configura-se
como uma atividade de natureza fundamentalmente econômica que gera impactos mais pontuais por
não se estender por extensas áreas e configura-se como a segunda atividade que mais gera impactos
ambientais, perdendo apenas para as atividades agropecuárias (SILVA et al., 2021; AMARAL;
FILHO, 2021). No entanto, os impactos acarretados pelas atividades de extração mineral não são
espacialmente limitados, não são temporalmente restritos, mostram-se complexos e em muitos casos
irreversíveis (MILANEZ, 2017).
Dentre os problemas ocasionados pela mineração, Ferreira et al. (2016) cita a quantidade cada
vez maior de rejeitos gerados durante a etapa de exploração/extração de minério e que se configura
1
Geólogo pela Universidade Federal do Oeste do Pará (2020t); Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Recursos
Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (2021). / E-mail: danilo.pinheirogeo@gmail.com.
2
Doutora em Ciências Agrárias com área de concentração em Sistemas Agroflorestais pela Universidade Federal Rural
da Amazônia (2005), Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia/UFOPA.
37
como um problema ambiental para às mineradoras, por conta das grandes áreas requeridas para a
disposição deste material, assim como, a constante necessidade de gerenciamento desses locais.
Os resíduos sólidos gerados pelo processo de beneficiamento de minério são denominados de
rejeito e devem ser dispostos de forma segura e com menor impacto ao meio ambiente. Com o avanço
da tecnologia, houve o aumento da produção destes resíduos por conta do crescimento da exploração
mineral, demandando, assim de grande área física para a sua disposição. De acordo com Ávila (2011
apud GUEDES, 2018, p. 09), atualmente, são geradas aproximadamente 670.000 toneladas de rejeito
por dia e este número pode chegar a um milhão de toneladas em 2030. Assim, os espaços para a
construção de barragens tornaram-se cada vez mais escassos e resultando na necessidade de
alternativas de disposição de rejeitos em áreas reduzidas.
O aumento da produção dos rejeitos de mineração implica ainda em uma maior quantidade de
barragens para destinação final destes. Barbosa (2017) afirma que no Brasil existem 790 barragens
de contenção de rejeitos de mineração e que baseado no registro de acidentes nos últimos 59 anos,
existe uma possiblidade de 1 em cada 10.000 barragens falhar por ano, com chances de a
probabilidade de falha aumentar com o passar do tempo.
Em janeiro de 2019, ocorreu o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração no
município de Brumadinho – MG, que causou além dos danos ambientais e prejuízos financeiros, a
morte de 270 pessoas e 11 desaparecidos como vítimas do desastre (GONZALES; ROSSI, 2019;
GONTIJO, 2021). Freitas et al. (2019) afirma que além dos danos ambientais e humanos, desastres
como estes alteram completamente a vida das comunidades, dos municípios e da região afetada
gerando uma sobrecarga para as instituições, sistemas de saúde locais e criando ainda novos cenários
de riscos, danos, doenças e outros efeitos indiretos a longo prazo que são complexos, de difícil
identificação e que serão sentidos pela população ao longo de anos.
Tendo em vista a quantidade cada vez maior de rejeitos gerados pela atividade de extração
mineral, o aumento da necessidade de instalação de barragens de rejeito, os riscos de falha destas
barragens e o histórico de acidentes relacionadas a barragens no Brasil, questiona-se: quais as
alternativas para o reaproveitamento do rejeito de mineração? Para responder essa problemática, esta
pesquisa tem como objetivo geral realizar uma revisão da literatura referente a reutilização de rejeitos
da mineração e propor um modelo teórico para uso do rejeito na agricultura familiar.
Quanto aos objetivos específicos, esta pretende:
• Buscar nas plataformas de pesquisa científica dados acerca da reutilização do rejeito
de mineração no Brasil;
• Identificar quais os tipos de rejeitos que podem ser utilizados na agricultura;
• Buscar modelos de utilização dos rejeitos de mineração na agricultura;
38
redução dos resíduos e emissões, redução dos custos de gerenciamento dos resíduos, minimização
dos passivos ambientais, incremento na saúde e segurança no trabalho e contribui para a imagem da
empresa (marketing ambiental) (RODRIGUES FILHO, 2018).
3. METODOLOGIA
3.1 Pesquisa bibliográfica
A pesquisa bibliográfica consiste na revisão da literatura das principais teorias que norteiam
o trabalho científico e que pode ser realizada em livros, periódicos, artigos de jornais, sites da internet,
entre outras fontes (PIZZANI et al., 2012). Para o levantamento bibliográfico foram realizadas buscas
através das palavras-chave “rejeito mineral”, “reutilização de rejeito mineral”, “aproveitamento de
rejeitos” e “recuperação de rejeitos” nas plataformas Google Acadêmico, Scielo e Plataforma
Sucupira. Ressalta-se que o espaço temporal das publicações das produções compreende um período
de 11 anos (de 2010 a 2021).
Os títulos e resumos de todos os estudos pré-selecionados foram analisados e a partir da
seleção final, foram realizadas as seguintes investigações: autores, tipo de publicação, palavras-chave
utilizadas, ano de publicação, instituições vinculadas e proposta do estudo. A partir da seleção das
pesquisas selecionadas, foi possível confeccionar a tabela síntese no software Microsoft Excel 2016
®. Na tabela, foram elencadas informações referentes ao ano da publicação, autoria do trabalho
científico, tipo de publicação, plataforma onde as publicações foram encontradas, tipo de
reaproveitamento do rejeito mineral e o qualis da publicação. Os gráficos presentes neste trabalho
também foram desenvolvidos no software Microsoft Excel 2016 ®.
temática do reaproveitamento de rejeito de mineração que podem ser utilizados para uso e estímulo
na bioeconomia.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 Revisão da literatura
De acordo com os resultados obtidos durante a aplicação da metodologia para levantamento
bibliográfico, foi possível confeccionar a tabela síntese (Tabela 1) contendo 30 publicações que
abordam o reaproveitamento de rejeito mineral. A tabela síntese apresenta ainda informações de ano
de publicação, autores, tipo de trabalho publicado, plataforma de pesquisa das publicações e uso do
rejeito.
Tabela 1- Tabela síntese com as informações levantadas durante a etapa de levantamento bibliográfico.
Trabalho de Conclusão
2016 Pereira (2016) Google Acadêmico Construção Civil
do Curso
Silva,Mendes e
2016 Artigo Sucupira Construção Civil
Silva (2016)
Araújo e Fonsêca
2017 Artigo Google Acadêmico Bijuteria
(2017)
Da Silva et al.
2017 Artigo Google Acadêmico Mistura Asfáltica
(2017)
Rodrigues,
2017 Silveira, Vahl Artigo Google Acadêmico Agrícola
(2017)
De Azevedo e Vital
2018 Artigo Sucupira Construção Civil
(2018)
2018 Kato (2018) Artigo Sucupira Mistura Asfáltica
2018 Da Silva (2018) Tese doutorado Google Acadêmico Adsorvedor de corantes
Rodrigues Filho Trabalho de Conclusão
2018 Google Acadêmico Construção Civil
(2018) do Curso
42
2018 Dos Santos (2018) Dissertação de Mestrado Google Acadêmico Construção Civil
2019 Sousa et al. (2019) Dissertação de Mestrado Google Acadêmico Construção Civil
Vasques et al.
2019 Artigo Sucupira Agrícola
(2019)
Amaral, Prat e Reis
2020 Artigo Scielo Construção Civil
(2020)
2020 Gurgel et al. (2020) Artigo Scielo Construção Civil
2020 Lage et al. (2020) Artigo Google Acadêmico Construção civil
2021 Arruda et al. (2021) Artigo Sucupira Agrícola
De Sousa et al.
2021 Artigo Google Acadêmico Cosméticos
(2021)
Trabalho de Conclusão
2021 Ferreira (2021) Google Acadêmico Construção Civil
do Curso
2021 Silva et al. (2021) Artigo Scielo Agrícola
4.5
3.5
2.5
1.5
0.5
0
2010 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Quanto as publicações por plataforma, foi possível observar que no ano de 2016 ocorreram as
maiores publicações nas plataformas Sucupira e Google Acadêmico (3 publicações) (Fig. 2). Nos
43
anos de 2016 e 2018 (com 3 publicações), a plataforma com maior quantidade de publicações acerca
do tema de interesse foi a plataforma Google Acadêmico.
3.5
2.5
1.5
0.5
Quanto ao uso do rejeito após caracterização (Fig. 3), foi possível observar que as publicações
são em sua maioria voltas para uso do rejeito na construção civil, seguido do uso na agricultura. Os
anos de 2016, 2018 e 2020 apresentam a maior quantidade de publicações (3 publicações) que
abordam o tema pesquisado com uso na construção civil, já para a agricultura, a maior parte das
publicações ocorreu no ano de 2015 (2 publicações) e 2021 (2 publicações).
3.5
2.5
1.5
0.5
0
2010 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Com a necessidade cada vez maior da produção de bens minerais, bem como a riqueza do
Brasil no que tange estes bens, gera um aumento da produção de rejeitos. O aumento da produção de
rejeitos consequentemente gera o aumento pela necessidade de áreas para deposição desses resíduos
provenientes da fase de beneficiamento da extração mineral. O aumento da necessidade de instalação
dessas novas áreas de deposição, acarreta o aumento de riscos ambientais e sociais do rompimento
de barragens ou demais acidentes envolvendo estas áreas de rejeito.
A produção de rejeito pela atividade de extração mineral cada vez maior acarreta na
necessidade de pesquisas que visem o reaproveitamento deste material principalmente para diminuir
as áreas para deposição de rejeito e por consequente, diminuir a instalação de barragens de rejeito.
Neste sentido, conforme o levantamento bibliográfico realizado no presente artigo, foi possível
observar que existem estudos referentes a alternativas para esses resíduos e que podem ser
reaproveitados na construção civil, na agricultura, na fabricação de cosméticos, na geração de energia,
como mistura asfáltica, etc. Este reaproveitamento torna ainda a mineração sustentável e trazendo
benefícios para as empresas mineradoras, dentre eles, a possibilidade do marketing ambiental.
4. CONCLUSÃO
Diante do observado nos tópicos anteriores, é possível concluir que:
• Há o predomínio de publicações na forma de artigos que abordam a temática do
reaproveitamento de rejeitos provenientes da extração mineral, tendo o maior número
de publicações destes artigos encontrados no ano de 2016 (4 artigos). O aumento das
publicações que abordam esta temática a partir do referido ano, pode ser explicado
pela necessidade de mais estudos acerca da deposição adequada e/ou diminuição
desses resíduos haja vista que no final do ano anterior, ocorreu a tragédia de Mariana
e assim, aumentando a preocupação com os acidentes em barragens de rejeito.
• As maiores quantidades de publicações são em formato de artigos científicos que
foram publicados anualmente durante os últimos 10 anos, tornando-se um contraste
com as demais formas de publicações (teses, dissertações e monografias) que em
alguns anos mostraram-se ausentes.
• Há o predomínio de publicações que visam o reaproveitamento de resíduos de
mineração para uso na construção civil e na agricultura.
46
• Conforme modelo proposto no tópico 3.2, é possível observar que é possível realizar
o reaproveitamento do rejeito de mineração para uso na agricultura. Neste sentido,
escolheu-se aplica o modelo que reutiliza resíduo de calcário para correção de pH do
solo nas regiões da borda sul da bacia do amazonas onde há grande quantidade de
processos de licenciamento para extração mineral na referida área. É importante
ressaltar que é necessário que os órgãos públicos ambientais cobrem das empresas o
reaproveitamento como forma de compensação ambiental.
• Ressalta-se ainda que este resíduo será aproveitado para plantações de alface de
pequenos agricultores que estão presentes na área de influência do projeto de extração
mineração.
• Quanto ao mapa conceitual proposto no presente artigo, pode-se frizar que foi possível
ter uma melhor visualização dos conceitos propostos quanto a mineração tradicional e
a sustentável. É importante frizar, que a mineração sustentável é viável.
• A partir dos dados coletados, pode-se ainda criar um site para noticiar as publicações
científicas que abordem a temática do reaproveitamento de rejeito de mineração que
pode servir de consulta para mineradoras interessadas em mineração sustentável, bem
como, para os órgãos ambientais terem como base para suas propostas/condicionantes
de licenças ambientais emitidas à empreendimentos minerários.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e Editora, 2017. 455 p. Editado por Adilson Luis Banberg, Carlos Augusto Posser Silveira, Éder de
Souza Martins, Magda Bergmann, Rosane Martinazzo e Suzi Huff Theodoro., 2017.
RODRIGUES FILHO, José Elinesio Rocha. Reutilização de rejeitos da industria de cerâmica
vermelha. 2018.
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mineração visando à liberação de nutrientes no solo. Engenharia Sanitaria e Ambiental, v. 26, p.
309-316, 2021.
SIMINERAL. História da Mineração. Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará.
Belém, 2021. Disponível em: https://simineral.org.br/mineracao/historia. Acesso em: 28 jul 2021.
TAVARES, Romero. Construindo mapas conceituais. Ciências & cognição, v. 12, 2007.
49
RESUMO
A floresta Amazônica é rica em diversidade de espécies vegetais e animais, suas propriedades
biomedicinais em sua totalidade ainda são pouco conhecidas, mas com a tendência mundial pela
busca de produtos com origem natural que são alternativos que substituam os sintéticos, o interesse
por esses recursos naturais tem aumentado. No entanto, ocorre uma busca pela valorização do saber
popular, como o caso das experiências de mulheres erveiras que dão enfoque ao manejo equilibrado
da biodiversidade e possibilitando um desenvolvimento sustentável para a região. Com isso, o
objetivo nesta pesquisa visa levantar análises previamente realizadas para discutir e para difundir
informações sobre o uso de Sucuuba (Himatanthus sucuuba ) por mulheres erveiras. Para isso foi
realizado um levantamento na plataforma google acadêmico, afim de levantar os artigos referentes a
essa temática, os descritores utilizados foram: Himatanthus sucuuba, fitoterápicas, biodiversidade,
mulheres erveiras.
1. INTRODUÇÃO
A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e possui uma vasta biodiversidade, ainda
pouco conhecida em sua totalidade, onde já foi possível classificar mais de 55.000 espécies de plantas
(KELLER et al., 2004; ISA, 2001). Entretanto, é provável que exista inúmeras espécies de plantas
com propriedades medicinais que são alternativos e soluções no tratamento de doenças ainda por
serem descobertos (OLIVEIRA, et al., 2007).
Os recursos naturais da Amazônia que são alternativos por serem de origem natural e que
possam substituir os produtos sintéticos sempre foi alvo de grande interesse econômico, social e
ambiental (BASTOS, 2021). O manejo equilibrado e a exploração sustentável desses produtos é o
desafio dos pesquisadores, por isso a tendência é a busca pelo saber popular das comunidades locais
que produzem remédios caseiros ou artesanais e fazem uso de plantas medicinais como produto de
subsistência (BARBOSA; SILVA e SOLER, 2009). É fundamental o registro de saberes sobre plantas
medicinais para contribuição da importância da proteção do patrimônio genético e da espécie para o
1
Bióloga pela Universidade Federal do Oeste do Pará (2020); Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Recursos
Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (2021). / E-mail: julianass844@gmail.com
2
Doutora em Ciências Agrárias com área de concentração em Sistemas Agroflorestais pela Universidade Federal Rural
da Amazônia (2005), Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da
Amazônia/UFOPA.
50
ambiente amazônico, sendo a biodiversidade essencial para o equilíbrio dos ecossistemas e para
manutenção da vida (BENSUSAN, 2008).
Um dos costumes mais antigos da civilização humana é a utilização de espécies vegetais no
tratamento de enfermidades. As mulheres eram responsáveis pela extração de princípios ativos das
plantas para a cura de doenças nas tribos primitivas. Sendo assim, as comunidades adquiriram
habilidades de suprir suas necessidades para sobreviver, estabelecendo dessa forma funções
específicas para cada indivíduo do grupo. O surgimento do “curandeiro”, deve-se a este fato, sendo
atribuído a ele a responsabilidade da cura de enfermidades a partir de substâncias secretas das quais
eram reveladas somente a pessoas específicas que estavam bem-preparadas (FRANÇA et al., 2008).
É considerado um dos principais elementos culturais da população Brasileira e da Amazonia
Paraense a cura de doenças por meio de plantas medicinais com remédios artesanais ou caseiro o que
tem gerado muitas discussões (BRASIL, 2006a;2018). As mulheres erveiras são exemplos de uma
parte da população que sobrevivem à custa da exploração e produção de produtos naturais. Todavia,
a exploração econômica e o manejo desses recursos na maioria das vezes ocorrem sem o
envolvimento da coletividade, por apenas alguns grupos de pessoas, onde a localidade é somente sede
desse desenvolvimento (VASCONCELOS, 2013). Além disso, a comercialização dos produtos
também ocorre sem o envolvimento de comprovações científicas, podendo causar possíveis efeitos
colaterais na população que consome esses produtos.
Himatanthus sucuuba (Spruce ex Müll. Arg.) Woodson , popularmente conhecida como
sucuuba ou janaguba é uma espécie amplamente utilizada na região amazônica por apresentar
benefícios anti-inflamatório e analgésico, antitumoral, antifúngica, vermífuga, efeito cicatrizante e
atividade antibacteriana, sendo assim é comercializada no mercado da região devido a sua produção
de látex e suas folhas ricas em propriedades fitoterápicas, pois possui um grande potencial
bioeconômico (NASCIMENTO et al., 2017; LARROSA, 2005; SILVA et al., 1998).
É nesse contexto, que o objetivo desta pesquisa é levantar análises previamente realizadas
para discutir e para difundir informações sobre o uso de Sucuuba (Himatanthus sucuuba) por
mulheres erveiras, além de analisar a bioeconomia dos produtos derivados da espécie; elaborar um
mapa conceitual sobre as propriedades medicinais da espécie Himatanthus sucuuba e um folder para
possíveis implementações sobre o manejo adequado da espécie e difusão do conhecimento para a
população.
2. REVISÃO TEÓRICA
2.1 Amazônia
A maior floresta tropical do mundo é a Amazônia, sendo ela essencial para o planeta devido
aos seus ciclos biogeoquímicos, especialmente no sequestro de carbono e na ciclagem de água
(SAATCHI et al., 2007). Dados do Ministério do Meio Ambiente (2021) indicam que dentro da região
51
Neotropical, o Brasil é um dos países entre 17, considerado mega diverso (ou de maior
biodiversidade), pois abriga cerca de 20% das espécies de plantas e animais do mundo. A variedade
de biomas reflete a enorme riqueza da flora e da fauna brasileiras. Muitas das espécies brasileiras são
endêmicas, algumas espécies de plantas como: o amendoim, o abacaxi, a castanha do Pará, o caju, a
carnaúba e a mandioca são plantas de importância econômica mundial e nativas do Brasil.
2.2 Fitoterapia, saber popular e etnofarmácia
Uma das formas mais simples e econômicas de combater as doenças é pelo uso de plantas,
essa importância dos sistemas fitoterápicos tradicionais vem desde a antiguidade, mas no Brasil,
principalmente na zona rural é comum ocorrer devido a situação socioeconômica (CARVALHO,
2004).
Para Oliveira (2010) e Albuquerque (2002) “Há necessidade de integração dos conhecimentos
científico e tradicional para consolidação de práticas de conservação das plantas, além de
investimento em estudos etnobiológicos que reconheçam a importância dos saberes tradicionais que
se perpetuam nas diferentes comunidades e culturas, e podem contribuir com a manutenção da
biodiversidade.”
2.3 Mulheres Erveiras
Um dos grupos mais antigos que fazem uso de práticas de estrutura teórica sistemática, de
natureza filosófica é a Medicina Tradicional Chinesa (MTC). No Egito e na Babilônia, que são muito
mais antigos, no entanto não conseguiram resistir e nem permaneceu por quase cinco mil anos,
adaptando-se ao mundo moderno e evoluindo. (GUILHERME, 2015).
Monteiro et al., (2012) descreve:
A medicina tradicional africana, tanto quanto a indiana, recebeu maior influência religiosa,
de caráter místico e associada a rituais foi de grande influência no Brasil, uma relação que
pode ter sido originada pela proximidade dos continentes, similaridade do clima e, em
especial, pela imigração dos africanos para o Brasil durante o período colonial, quando por
meio do sincretismo exerciam curas por meio de rituais. O uso de plantas medicinais no Brasil
foi uma prática de cura corrente entre os indígenas e a chamada Fitoterapia Tradicional
Brasileira aplicada no processo saúde-doença relacionava-se à natureza e é caracterizada pelo
simbólico e misticismo com efeitos terapêuticos.
Morales (2005) destaca que “As espécies da família Apocynaceae são árvores de grande e/ou
médio porte, podendo ser encontradas também em formas de arvoretas, lianas e arbustos. Uma das
características mais marcantes da família é a presença de látex de cor branca e/ou vermelho sangue
em algumas espécies.”
Umas das maiores e importantes famílias das angiospermas é a família Apocynaceae. Dentro
dessa família têm vários membros que apresentam propriedades medicinais e fazem parte do
tratamento de várias doenças. Os povos tribais já consumiam a maioria deles e também utilizavam as
plantas como fonte de Poção, pois os membros da família Apocynaceae são ricos em alcalóides,
terpenóides, esteróides, flavonóides, glicosídeos, fenóis simples, lactonas e hidrocarbonetos. Outros
compostos, como esteróis, lignanos, açúcares, lignanas e lactonas foram isolados e sistematicamente
estudados. Poucos estudos têm relataram atividades antioxidantes, anti-inflamatórias,
antimicrobianas e citotóxicas de extratos brutos bem como composto (s) único (s) isolado (s) de vários
membros da família Apocynaceae (BHADANE, 2018).
como sucuuba e sucuuba verdadeira.” A espécie está presente nos estados do Acre, Amapá,
Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins (LORENZI, 2002).
Lorenzi (1998) destaca:
Uma das características mais marcante da espécie é a produção de látex na cor branco leitoso.
A árvore pode chegar a 8 a 16 m de altura. Seu tronco é do tipo ereto cilíndrico com casca
rugosa de 30-40 cm de diâmetro. As folhas são simples, alternadas espiraladas, glabras, e os
frutos são curvados com chifre, glabro e angulados, com 20-26 cm de comprimento, e com
várias sementes aladas. A sua floração ocorre nos meses de agosto a outubro e o
amadurecimento do fruto ocorre entre março a maio.
3. METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado mediante uma revisão de literatura sobre o uso de Sucuuba
(Himatanthus sucuuba) por mulheres erveiras na plataforma google acadêmico. Nesse levantamento
foram encontrados todos os artigos mediante as palavras-chaves como: Himatanthus sucuuba,
fitoterápicas, biodiversidade, mulheres erveiras. Inicialmente foi lido o título do trabalho, quando no
título não estava explicito a proposta, foi efetuada a leitura do resumo.
Considerou-se o período dos últimos 20 anos para a realização da pesquisa de produções
científicas. Essa faixa de tempo foi escolhida por causa do interesse em desenvolvimentos
tecnológicos recentes.
Após a seleção dos trabalhos, foi elaborada uma tabela no programa Microsoft Office Excel
com a finalidade de sistematizar os dados encontrados referentes aos artigos.
54
Para complemento deste trabalho foi utilizado o Programa Canva para a confecção do folder
referente a espécie Himatanthus sucuuba, com as seguintes informações: classificação botânica,
descrição botânica, importância bioeconômica e suas propriedades fitoterápicas. Assim como para a
elaboração do mapa conceitual foi utilizado o programa Cmaptools com a finalidade de sistematizar
as informações e facilitar a compressão do leitor.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Folder sucuúba (Figura 1 e 2)
Figura 1 – Folder sobre a espécie Himatanthus sucuuba, parte interna.
55
REFERÊNCIAS
BASTOS, Marcia Sueli Castelo Branco; BARBOSA, Wagner Luiz Ramos. MULHERES
ERVEIRAS DA AMAZÔNIA E O TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NA PERSPECTIVA
DO DESENVOLVIMENTO LOCAL. Colóquio Organizações, Desenvolvimento e
Sustentabilidade, v. 11, n. 1, 2021.
BARBOSA, Wagner; SILVA, Wellington e SOLER, Orenzio. Etnofarmácia: uma abordagem de
plantas medicinais pela perspectiva das Ciências Farmacêuticas. In: BARBOSA, Wagner et al. (org.).
Etnofarmácia: fitoterapia popular e ciência farmacêutica. Curitiba: EDITORA CRV, 2011.
BHADANE, Bhushan S. et al. Ethnopharmacology, phytochemistry and biotechnological advances
in the Apocynaceae family: A review. Research in herbal medicine , v. 32, no. 7, p. 1181-1210,
2018.
BENSUSAN, N. Seria melhor mandar ladrilhar? Biodiversidade: como, para que e por quê. 2.
ed. São Paulo: Peirópolis, 2008.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
Estudo Socioambiental referente à proposta de criação de Reserva Extrativista Marinha no
Município de Marapanim. Estado do Pará. Brasília, DF, 2014.
CARVALHO, J. C. T. Fitoterápicos antiinflamatórios: aspectos químicos, farmacológicos e
aplicações terapêuticas. Ed. Tecmed, São Paulo (2004), p.480.
DA SILVA, A. J. B.; MIRANDA, I. P. de A. Potencial bioeconômico das palmeiras e seus insumos
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Sustentabilidade e Tecnologia–Volume 3, 2020
DI STASI, L.C.; HIRUMA-LIMA, A.C. Plantas medicinais na Amazônia e na Mata Atlântica, 2.
ed. UNESP, São Paulo, 2002, p. 375-92.
ELIAS, M. E. de A.; FERREIRA, S. A. do N.; GENTIL, D. F. de O. Emergência de plântulas de
tucumã (Astrocaryum aculeatum) em função da posição de semeadura. Acta Amazonica, v. 36, p.
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ENDRESS, M.E.; BRUYNS, P.V. A revised classification of the Apocynceae s.l. The Botanical
Review, v. 66, n. 1, p. 1-56, 2000.
FRANÇA, I. S. X. et al. Medicina popular: benefícios e malefícios das plantas medicinais. Revista
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NASCIMENTO, Aryana Pinheiro do et al. Potencial biotecnológico de bactérias endofíticas de
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LARROSA, Carina Rau Rivas; DO RDUARTE, M. Morfoanatomia de folhas de Himatanthus
sucuuba (Spruce) Woodson, Apocynaceae. Acta Farmacéutica Bonaerense, v. 24, n. 2, p. 165,
2005.
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Biodiversidade na Amazônia Brasileira: avaliação de
ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios. São Paulo: Estação
Liberdade, 2001.
LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas do
Brasil. SP: Nova Odessa, 2002.
LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas
do Brasil. 2. ed. Nova Odessa, SP: Editora Plantarum, 1998.
57
RESUMO
A presente pesquisa objetivou discutir o uso de lepidópteros (Rhopalocera) como aliados na
bioeconomia de produtos advindos da agricultura orgânica. A metodologia trata-se de revisão
bibliográfica, em que foram selecionadas 30 literaturas de base e 8 específicas sobre a temática. Foi
possível verificar como as borboletas indicam a qualidade do solo e como a forma de cultivo orgânico
possui maior biodiversidade, riqueza e abundância comparado a cultivos convencionais que fazem
uso de agrotóxicos, fertilizantes e pesticidas. Como produto da pesquisa, ainda foi possível construir
um modelo teórico para incentivar a conservação de borboletas em agriculturas orgânicas de
pequenos e médios produtores locais, bem como um mapa conceitual sobre a relação entre as
borboletas e a agricultura.
Palavras-Chave: Borboletas. Agriculturas Orgânicas e Convencionais. Conservação. Bioeconomia.
1. INTRODUÇÃO
A crescente intensificação de práticas agrícolas convencionais no Brasil, leva a reflexão de
como técnicas intensivas de cultivo podem reduzir a complexidade e biodiversidade de um
ecossistema, visto que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) aponta o ano
de 2020 como sendo o detentor de maior número de agrotóxicos já registrados, 493 registros,
distribuídos nas classificações, (i) alto perigo, (ii) muito perigo, (iii) perigo e (iv) pouco perigo para
o meio ambiente. Além disso, 2021 já se configura como o segundo ano com maior número de
registros, totalizando até o momento 224 agrotóxicos e afins aprovados, distribuídos nos níveis (ii),
(iii) e (iv) (BRASIL, 2021).
Por outro lado, as práticas agrícolas orgânicas também têm ganhado espaço no mercado
(SILVA; SILVA, 2016; SOUZA; OVEIRA; BADEJO, 2019), sendo desempenhadas principalmente
por pequenos produtores rurais e ribeirinhos com técnicas de cultivo com menor, e as vezes nula,
quantidade de agrotóxicos ou fertilizantes em suas produções, mas que ainda sofrem com baixa
visibilidade.
1
Licenciada em Ciências Naturais com habilitação em Biologia pela Universidade Federal do Pará (2021); Mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (2021). / E-
mail: eacademiconatalia@gmail.com.
2
Doutora em Ciências Agrárias com área de concentração em Sistemas Agroflorestais pela Universidade Federal Rural
da Amazônia (2005), Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia/UFOPA.
60
Já a classe Insecta é composta por várias ordens, dentre elas a lepidóptera que segundo Teston
et al. (2006) é uma das principais entre os insetos, destacando-se quanto à riqueza de espécies,
importância econômica e distribuição em quase todos os ambientes do planeta, constituindo a segunda
maior dos hexápodes, apresentando cerca de 120.000 espécies reconhecidas no mundo (PRADO;
ZUKOVSKI, 2012). Esta ordem é conhecida por abrigar borboletas e mariposas, sendo registrado no
Brasil uma diversidade de 26.016 espécies, onde 13 % são de borboletas e 87 % de mariposas, com
estimativas para a existência de muito mais espécies distribuídas atualmente em 71 famílias (PRADO;
ZUKOVSKI, 2012; CAMARGO et al., 2015).
Esta ordem tem como característica o ciclo de vida holometábolo ovíparo, possuindo a
presença de metamorfose completa com quatro estágios de desenvolvimento, onde a primeira se dá a
partir dos ovos que originam as larvas, denominadas lagartas, que após transformações alcançam a
primeira metamorfose, e ao decorrer do tempo, a partir da segunda metamorfose dão origem a
borboletas e mariposas (FREITAS; MARINI-FILHO, 2011). Camargo et al. (2015) acrescentam que
os representantes da ordem lepidóptera são insetos com asas membranosas, possuindo corpo e
apêndices cobertos por escamas, os adultos são sugadores e se alimentam de néctar, pólen, líquidos
de frutos fermentados, excretas, resinas vegetais e alguns são hematófagos.
Dentro dessa ordem, o grupo Rhopalocera é representado por borboletas, em que a taxonomia
atual aponta uma classificação em 6 famílias, a Hesperiidae, Lycaenidae, Nymphalidae, Pieridae,
Riodinidae e Papilionidae (ISERHARD et al., 2017), que excutam papel essencial no
desenvolvimento da ciência sendo fundamental para estudos em áreas como biologia evolutiva,
comportamento animal, teoria ecológica e conservacionista, bioquímica, farmacologia e outros que
servem para a realização de práticas científicas e sociais (FREITAS; MARINI-FILHO, 2011).
3. TRAJETO METODOLÓGICO
63
O método de pesquisa adotado neste estudo foi o de revisão bibliográfica sobre a temática
abordada, sendo utilizados artigos na língua inglesa, portuguesa e espanhola. Para realização do
estudo bibliográfico e compilação de dados fora utilizados os seguintes descritores: “lepidópteros e
agrotóxicos”, “borboletas e cultivos agrícolas”, “borboletas e agricultura orgânica”, “borboletas e
paisagem”, “efeitos da paisagem para borboletas”, “borboletas e bioeconomia”, “agricultura orgânica
e bioeconomia”.
Foram selecionados artigos presentes nas bases de dados: Google acadêmico, CAPES, Scielo,
Biota Amazônia e outros.
Durante a seleção de literatura foram estabelecidos parâmetros como estudos que abordavam
como tema central a influência de culturas orgânicas bioeconimicas na conservação e biodiversidade
de borboletas, seguindo parâmetros de triagem: (i) aderência ao assunto (ii) serem artigos científicos
completos (iii) serem dissertações de mestrado ou doutorado (iii) serem capítulos de livro (ALVES
et al., 2021). Também foram confeccionados um modelo teórico a partir de fluxogramas feitos na
plataforma PowerPoint e um mapa mental construído no aplicativo CmapTools, ambos escolhidos
por suas facilidades de manuseio.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a análise das literaturas, 20 artigos, 5 dissertações de mestrado e 5 livros foram utilizados
como conhecimento base para a escrita da pesquisa, mas somente oito se destacaram por tratar sobre
a temática do estudo, organizados em um quadro abaixo contendo: ano, tipo, periódico, título e
idioma.
Quadro 1. Descrição dos estudos incluídos na revisão bibliográfica, ano de publicação, tipo de texto, periódico,
título e idioma.
Comparação da biodiversidade de
Journal of Threatened insetos entre plantações orgânicas e
2014 Artigo Inglês
Taxa convencionais em Kodagu,
Karnataka, Índia
Com base na literatura analisada pode-se filtrar as questões e discussões propostas nos
objetivos da pesquisa, de maneira que foram organizados em subtópicos para melhor organização a
respeito da temática e suas individualidades.
no meio, principalmente quando são abertos, podendo aumentar o índice de predação, desorientação
do inseto no ambiente e outros (SCHMIDT, 2017).
Assim, o efeito paisagístico de um ecossistema ao ser mudado ou fragmentado, interfere
significativamente no habitat de muitos espécimes, uma vez que a perda deste junto ao aumento da
homogeneidade influenciam diretamente na perda da biodiversidade e complexidade de um
ecossistema (FEBER et al., 2007; MELO et al., 2019).
Os lepidópteros, segundo Oliveira et al. (2014) são influenciados pela paisagem,
principalmente no que tange a dinâmica populacional das plantas, decorrente a busca por nutrientes
e a ovoposição, para as borboletas. Pereira (2016) acrescenta que a heterogeneidade da paisagem
influencia fortemente os padrões de diversidade, sendo considerado um dos indicadores mais
importantes para explicar o aumento e a riqueza de borboletas.
Estudos como o de Campera et al. (2021) aplicados na Indonésia mostraram que a riqueza de
árvores de sombra influenciou positivamente na abundancia e diversidade de borboletas. Já na Suécia
as pesquisas de Jonason et al. (2011) revelaram que o aumento da complexidade da paisagem teve
um efeito positivo na riqueza de espécies de borboletas, mas não na abundancia. Nas pesquisas de
Schmidt (2017) foi possível verificar que a paisagem influencia diretamente o comportamento de
ovoposição de uma espécie de borboleta.
Esses fenômenos se explicam decorrente a diferentes paisagens possibilitarem diferentes
condições e recursos que podem ser fator limitante para algumas espécies, logo a conservação da
paisagem heterogênea é requisito necessário para a conservação da biodiversidade, riqueza e
abundancia de lepidópteros, sobretudo de borboletas (RUNDLOF et al., 2008; SCHMIDT, 2017).
para estimular e intensificar a produção de modo a normalizar o uso desses, no entanto segundo
muitos estudos o impacto gerado pela ação desses produtos químicos no solo e nos próprios produtos
ameaçam a biodiversidade de muitas espécies em todos os níveis taxonômicos (MONE et al., 2014;
VILELA et al., 2019).
Nos modelos de cultivos atuais, principalmente quando relacionados ao Brasil, onde a
aprovação de agrotóxicos de classes de muito perigo a pouco perigo é anual conforme o Ministério
da Agricultura, é indispensável analisar os efeitos dessas práticas sobre comunidades que fazem parte
da biodiversidade e são bioindicadoras de ecossistemas degradados como as borboletas.
Conforme as pesquisas de Feber et al. (2007) que verificou durante três anos a abundância de
borboletas em cultivos orgânicos e convencionais, as fazendas orgânicas atraiam significativamente
mais borboletas que as convencionais. Rundlof et al. (2008) estudou os efeitos locais e paisagísticos
da agricultura orgânica na riqueza e abundância de borboletas na Europa e obteve como resultado os
parâmetros estabelecidos em maior quantidade em agriculturas orgânicas, contudo descobriu que em
culturas isoladas nem sempre produzem biodiversidade, uma vez que a insuficiência de recursos vira
um fator limitante.
Jonason et al. (2011) avaliou o efeito do tempo desde a transição para culturas orgânicas em
plantas e borboletas em duas regiões da Suécia e teve como resultado uma riqueza de espécies de
plantas e borboletas 20% mais altas e abundância de 60% em fazendas orgânicas, descrevendo que o
tempo de transição influenciou somente a abundância ao longo de 25 anos em torno de 100%, mas a
riqueza foi a mesma de imediatamente após a transição para agricultura orgânica.
Mone et al. (2014) comparou a biodiversidade de insetos e borboletas frugívoras em
plantações orgânicas e convencionais de café em Kodagu, Karnataka, Índia e seus resultados
mostraram um claro efeito negativo sobre a diversidade de insetos e borboletas em plantações tratadas
com pesticidas em comparação com as orgânicas, explicando que a agricultura moderna a partir da
mecanização, do mono cultivo, dos híbridos e modificados geneticamente, agregados a utilização de
agrotóxico, pesticidas, fertilizantes e herbicidas sucedem a perda da biodiversidade em áreas agrícolas
e proximidades.
Campera et al. (2021) ao analisar se arvores de sombra e o uso de agroquímicos afetam
assembleias de borboletas em Jardins caseiros de café na Indonésia, verificou que o uso de produtos
químicos influenciou negativamente a abundância e a riqueza de borboletas. Logo, é possível
visualizar como práticas agrícolas orgânicas favorecem a biodiversidade de lepidópteros, bem como
pode-se comprovar a eficácia desses insetos como indicadores biológicos de degradação do solo, da
paisagem de da qualidade de recursos.
No Brasil, trabalhos comparativos sobre a fauna de borboletas em cultivos orgânicos e
convencionais ainda são escassos e fundamentais para a compreensão de como a biodiversidade está
67
reagindo aos métodos de produção no país a partir dos efeitos já visualizados em outros lugares, uma
vez que a perda de habitat corrobora para o desaparecimento e extinção de espécies que tem papel
essencial no meio, como as borboletas.
Desse modo, com base na revisão de literatura, pode-se perceber como os tipos de cultivos
influenciam na biodiversidade de borboletas, ficando explicito nestes a agricultura orgânica como a
que menos impacta o meio, agregando a esta fatores como o não uso de insumos químicos como
agrotóxicos, fertilizantes e pesticidas, (FEBER et al., 2007; RUNDLOF et al., 2008; JONASON et
al., 2011; MONE et al., 2014; CAMPERA et al., 2021) bem como decorrente a esta não alterar
bruscamente a paisagem do meio (RUNDLOF et al., 2008; SCHMIDT, 2017), fator que segundo a
literatura também contribui para a dispersão das espécimes de borboletas.
cultivo que pode gerar renda o ano todo se bem administrado e consequentemente fortalecer o
comércio local, mas que ainda sofre muitos desafios como assistência técnica sobre estudos
colaborativos na área, facilitação de certificação e principalmente o incentivo à produção (SILVA;
SILVA, 2016).
Em reflexo a isso e a grandes discussões geradas através dos impactos sobre os recursos
naturais, a bioeconomia surge como um modelo que busca propor soluções para problemas
complexos e de grande dimensão, como os impactos ambientais, com foco no desenvolvimento
sustentável, e quando relacionados ao agronegócio apontam métodos de produção mais limpos e
alicerçados no desenvolvimento sustentável, econômico e ambiental, representados por produções
orgânicas, haja vista que o cuidado ambiental está alinhado as práticas bioeconomicas (SOUZA;
OLIVEIRA; BADEJO; 2019).
Desta maneira, desenvolver políticas de incentivo a culturas orgânicas significa incentivar o
desenvolvimento bioeconômico local, principalmente de pequenos agricultores que tem como fonte
de renda esse meio de produção, logo, estimular uma prática agrícola que impacte menos na
biodiversidade é o que se propõem nesse estudo, tendo em vista que conforme estudos verificados
(FEBER et al., 2007; RUNDLOF et al., 2008; JONASON et al., 2011; MONE et al., 2014;
CAMPERA et al., 2021) foi possível compreender como o meio produtor interfere na riqueza e
abundancia de borboletas e como pesquisas nesta área são importantes para o monitoramento e
manejo dos diferentes ecossistemas.
Figura 1 - Modelo teórico para incentivar a conservação de borboletas em agriculturas orgânicas de pequenos e médios
produtores locais
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa pode-se discutir a partir da bibliografia o uso de lepidópteros (Rhopalocera)
como aliados na bioeconomia de produtos advindos da agricultura orgânica, apontando a partir da
literatura as aplicações de borboletas para indicar e comparar entropias na paisagem e no solo em
cultivos convencionais e orgânicos, mostrando com base nos estudos, como a forma de cultivo
agrícola orgânico aumenta a abundancia e riqueza de borboletas gerando consequentemente uma
melhor preservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável ecológico e econômico.
Além disso, foi possível verificar a funcionalidade das borboletas como agentes
bioindicadores de agriculturas limpas, uma vez que quanto mais limpa a forma de cultivo, maior foi
a abundancia e a riqueza de borboletas nos estudo comparativos sobre as espécies, demonstrando um
menor impacto na biodiversidade.
Durante o estudo também foi possível perceber que grande parte dos estudos comparativos
entre os tipos de cultivos são em outros países, com pouca produção no Brasil, um país que possui
71
uma grande produção agricultora, mas que ainda aprova muitos agrotóxicos a cada ano, contribuindo
negativamente para a manutenção da biodiversidade.
Conforme as pesquisas, foi possível também entender como efetivar políticas de incentivo que
alinhem o modelo bioeconomico a produtores agrícolas de pequeno e médio porte é necessário, uma
vez que ao disseminar esse conhecimento para além da comunidade científica é essencial para
promoção da conservação de borboletas e da biodiversidade.
Logo, criou-se aqui, a partir de toda síntese, um modelo teórico que tem como finalidade
incentivar a conservação de borboletas no meio agricultor a partir de ações de disseminação científica
e incentivo político local, bem como foi produzido um mapa conceitual resumindo a relação de
lepidópteros (borboletas) com a agricultura para melhor explicitar essa relação e suas funcionalidades.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SILVA, A. T. da; SILVA, S. T. da. Panorama da agricultura orgânica no Brasil. Revista Segurança
Alimentar e Nutricional, Campinas, v.23, n.esp., p.1031-1040, dez. 2016. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/san/article/view/8635629. Acesso em: 26 jul. 2021.
TESTON, J. A.; SPECH, A.; DI MARE, R. A.; CORSEUIL, E. Arctiinae (Lepidoptera, Arctiidae)
coletados em unidades de conservação estaduais do rio grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de
Entomologia, v. 50, n. 2, p. 280-286, 2006. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0085-56262006000200010. Acesso em:
22 jul. 2021.
WARDHAUGH, C. W. The spatial and temporal distributions of arthrods in forest canopies: uniting
disparate patterns with hypotheses for specialisation. Biological Reviews, v. 8 9, n. 4, p. 1021-1041,
2014. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24581118/. Acesso em: 24 jul. 2021.
75
O Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo, contudo, a população pouco usufrui da
diversidade de sabores e aromas. A dieta da população segue um regime monótono baseado nas
mesmas espécies. Os condimentos seguem a mesma lógica, sendo que os mais consumidos no país
são espécies exóticas, muitas vezes cultivadas em outros países e importadas. A Amazônia é grande
fonte de Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNM) que possuem alto valor econômico e
socioambiental. Muitos desses produtos estão presentes na indústria de alimentos e bebidas. O puxuri
Licaria puchury-major (Mart.) Kosterm, por exemplo, é um PFNM que recentemente vem ganhando
notoriedade devido ao seu grande potencial na composição de bioprodutos em circunstância à
presença de safrol no seu óleo essencial. Em vista disso, o presente estudo tem como objetivo realizar
uma revisão bibliográfica sobre o uso do puxuri como ingrediente aromático na gastronomia, bem
como conhecer os usos desta semente na Amazônia e avaliar seus benefícios para a bioeconomia
local. O puxuri pode ser um produto de alto valor econômico ao ser direcionado para uso nas
indústrias alimentícias, uma vez que sua semente possui aroma extremamente agradável e baixa
toxicidade
1. INTRODUÇÃO
O Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo, contudo, a população pouco usufrui
da diversidade de sabores e aromas. A dieta da população segue um regime monótono baseado nas
mesmas espécies. Os condimentos seguem a mesma lógica, sendo que os mais consumidos no país
são espécies exóticas, muitas vezes cultivadas em outros países e importadas. A exploração
sustentável dos recursos vegetais, inclusive espécies condimentares, representam a valorização e
resgate cultural, preservação do meio ambiente com a exploração de recursos florestais não
madeireiros, geração de renda para toda a cadeia produtiva, desenvolvimento de novos produtos, além
da possibilidade de obter benefícios na saúde coletiva com a diversificação da alimentação e uso de
substâncias bioativas (Tomchinsky, 2017).
1
Nutricionista, pela Universidade da Amazônia em Belém-PA (2012). Especializada em Padrões Gastronômicos pela
Universidade Anhembi Morumbi em São Paulo - SP Especializada em Gestão da Qualidade Higiênico Sanitária dos
Alimentos pela Universidade São Castelo em São Paulo-SP. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Recursos
Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (2021). / E-mail: carol.vilanova@gmail.com
2
Doutora em Ciências Agrárias com área de concentração em Sistemas Agroflorestais pela Universidade Federal Rural
da Amazônia (2005), Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia/UFOPA.
76
Uma forma de se obter recursos sustentáveis da floresta é através do uso de Produtos Florestais
Não Madeireiros (PFNM), os quais tem sua forma de exploração baseado no extrativismo da reserva
florestal existente e estão diretamente ligados a segurança alimentar, na geração de renda e ocupação
de mão-de-obra. Esses produtos são recursos florestais utilizados como ferramenta para a conservação
da natureza e das comunidades rurais (Medrado & Vilcahuaman, 2017). A Amazônia é uma dessas
florestas com grande fonte de PFNM que possuem alto valor econômico e socioambiental. Muitos
desses produtos estão presentes na indústria de alimentos e bebidas, cosméticos, no tratamento de
doenças, em práticas culturais e tradicionais. O puxuri Licaria puchury-major (Mart.) Kosterm, por
exemplo, é um PFNM que recentemente vem ganhando notoriedade.
O puxuri é uma espécie florestal da Amazônia com grande potencial para a indústria de
bioprodutos (fármacos, cosméticos, alimentos e praguicida natural) devido à presença de safrol no
seu óleo essencial (Mafra, 2014). É uma planta nativa da Amazônia pertencente à família Lauraceae
e que apresenta odor característico na casca, na madeira, nas folhas e nos frutos (Graça, 2003).
Conhecida também como pixiri, puchury ou pixuri (Carlini, 1983), essa planta é de grande porte (25m
a 30m de altura) e comumente encontrada nos municípios de Borba-AM e Tomé-Açu-PA, onde é
cultivado por produtores nipo-paraenses (Graça, 2003; Homma, 2012). Suas sementes aromáticas são
usadas na medicina popular como carminativas e estomáquicas no tratamento de insônia e
irritabilidade de adultos e crianças (Mors & Rizzini, 1966; Pio Corrêa, 1931). A população costuma
preparar o chá da planta utilizando uma semente e obtendo o remédio conhecido como “abafado”
(Maia et al., 1985).
Além disso, existe um crescente interesse na gastronomia pelo uso de ingredientes locais,
tradicionais e ecológicos. Atualmente, os profissionais da cozinha se preocupam pelos seus meios de
produção, comercialização, consumo e as implicações desses alimentos perante o sistema alimentar
agroindustrial em relação ao meio ambiente (Zaneti, 2017). Assim, o puxuri é um desses novos
ingredientes que é possível observar que tem invadido as cozinhas domésticas e profissionais, uma
vez que é bastante aromática, sendo considerada uma nova especiaria amazônica.
Em vista disso, o presente estudo tem como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre
o uso do puxuri como ingrediente aromático na gastronomia, bem como conhecer os usos desta
semente na Amazônia e avaliar seus benefícios para a bioeconomia local.
1.1 Especiarias
1.1.2 Definição
A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 276 da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Brasil, 2005), define especiarias como produtos constituídos de partes de uma ou mais
espécies vegetais (raízes, rizomas, bulbos, cascas, folhas, flores, frutos e sementes); tradicionalmente
utilizados para agregar sabor ou aroma aos alimentos e bebidas.
77
1.3 Puxuri
1.3.1 Definição
O puxuri é uma planta da família Lauraceae que possui um aroma bastante característico. Esse
aroma está presente na casca, na madeira, nas folhas, nos frutos e nas sementes (Graça, 2003). A
semente de puxuri é normalmente usada na medicina popular para o tratamento de doenças
estomacais e intestinais, bem como para tratar insônia e irritabilidade (Maia, et al., 1985). Segundo
78
Matta (1913) e Rosas (1978), o cozimento das folhas verdes é usado contra o reumatismo. O chá da
casca do caule é resolutivo e usado também contra problemas intestinais. O chá feito a partir das
raspas da semente de puxuri é bastante comum em comunidades tradicionais, e conhecido como
“abafado” (Maia et al., 1985).
1.3.2 Localização
O puxuri é comumente encontrado no município de Borba-AM localizado na Região do
Madeira (Graça, 2003) e no município de Tomé-Açu no Estado do Pará, onde é cultivado por
produtores nipo-paraenses (Homma, 2012).
1.3.4 Semente
A semente é constituída por dois cotilédones espessos e aromáticos, revestidos por dois
tegumentos: a testa (tegumento externo) e o tegma (tegumento interno), os quais se separam somente
após serem “moqueados”. O “moqueamento” é um processo no qual as sementes cruas do puxuri são
levadas ao forno de barro aquecido somente pelas brasas. Nesse processo as sementes ainda com o
tegumento e são colocadas em um grande tacho, onde são mexidas com um remo para não queimarem.
As sementes mais aquecidas ficam mais escuras e, portanto, não podem ficar sem serem mexidas, a
fim de não queimarem e serem descartadas. O processo de aquecimento é feito somente para soltar o
tegumento. Após serem “moqueadas”, as sementes do puxuri ficam esbranquiçadas e em seguida são
levadas ao sol durante 8 a 10 dias para secarem e ganharem cor escura. Somente após todo esse
processo, as sementes ficam apropriadas para serem comercializadas, uma vez que as sementes cruas
não têm o mesmo valor comercial (Graça, 2003).
De acordo com Mafra (2014), a semente de puxuri apresenta as seguintes características
físicas e centésimas (Tabelas 1 e 2):
Tabela 1. Caracterização física das sementes de puxuri (Mafra, 2014).
79
2. METODOLOGIA
Para a revisão bibliográfica, foram realizadas buscas no sistema de base de dados do Google
acadêmico. Para a busca dos artigos, foram escolhidas as palavras-chave semente de puxuri, Licaria
puchury-major (Mart.) óleo essencial do puxuri e especiaria brasileira.
Foi desenvolvido um mapa síntese sobres os estudos utilizados para a abordagem na
discussão, acima como a criação de um mapa conceitual sobre o uso do puxuri na gastronomia.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O presente estudo contou com a quantidade de 8 estudos, dos quais três são artigos científicos,
uma monografia, uma dissertação, duas teses e um capítulo de livro (Tabela 3). Com base nos
trabalhos avaliados, a presente revisão foi estruturada em aspectos gerais de especiarias brasileiras e
das propriedades do puxuri (Esquema 1).
De acordo com os trabalhos examinados, nota-se que a Licaria puchury-major (Mart.)
Kosterm é uma planta que apresenta grande interesse econômico, uma vez que ela possui óleos
essenciais em grande parte de sua estrutura, como nos cotilédones, nas folhas e galhos finos (Laux,
1974).
De acordo com a literatura consultada, os primeiros trabalhos químicos com o puxuri datam
dos séculos XVIII e XIX, os quais são sumarizados por Gildemeister e Hoffmann (1916). Além disso,
a empresa francesa Roure-Bertrand (1920) descreveu algumas propriedades do óleo essencial e
indicou a presença de safrol, eucaliptol e isoeugenol nas sementes do puxuri (Graça, 2010).
Maia et al. (1985) verificaram em seu estudo que a semente de puxuri era composta por alguns
componentes voláteis, principalmente pelo safrol, eugenol, metileugenol e ácido dodecanóico, além
de outros doze componentes. Mafra (2014) observou em seu estudo experimental a presença
marjoriamente de β-Pineno, 1,8-Cineol, ⍺-Terpineol, Safrol e Eugenol nas sementes tanto inteiras
quanto moídas. Os maiores teores de safrol (em torno de 70,4%) foram encontrados nas sementes
inteiras secadas submetidas à extração por arraste com vapor. O safrol é um componente químico
aromático utilizado pela indústria química de cosméticos, fragrâncias, inseticidas, produtos
veterinários e farmacêuticos (Negreiros, 2010). Portanto, como destacado anteriormente, a presença
desse componente nas sementes de puxuri afirma seu potencial aromático para outras diversas
utilizações, inclusive para uso culinário.
Graça (2003) verificou que no município de Borba são utilizadas todas as partes da árvore,
contudo, a semente é a parte mais utilizada pelas comunidades locais. Para ser consumida, ela
habitualmente é ralada na língua do pirarucu, um instrumento popular usado para moer alimentos,
que resulta em um pó fino com o qual é feito o chá utilizado para fins terapêuticos. A utilização da
semente de puxuri para essa finalidade é baseada no conhecimento popular local. Além disso, Graça
(2010) também estudou a presença de antioxidantes, citotóxicos e antimicrobianos no chá preparado
conforme a tradição dessas comunidades de Borba-AM e verificou notável atividade de antioxidantes
quantitativos, além de observar e ausência de citotoxicidade ao teste de A. salina.
Do mesmo modo, Mafra (2014) constatou que os óleos extraídos das sementes de puxuri
apresentaram baixa toxicidade frente ao teste de hemólise, medida pelo teste qualitativo que mostrou
uma baixa difusão da hemoglobina no meio difusor. Assim, seus resultados corroboram aqueles
encontrados por Graça (2010), indicando que a semente de puxuri é um ingrediente em potencial para
usos na alimentação. Xavier et al. (2020), por exemplo, afirmam que os óleos essenciais apresentam
alto potencial econômico não somente para as áreas farmacêuticas e cosméticas, mas também para
indústrias alimentícias, que podem explorar esse ingrediente em diferentes formas no âmbito da
gastronomia nacional.
82
No entanto, não há nada na literatura mostrando a relação do uso da semente de puxuri como
ingrediente na gastronomia amazônica, embora os estudos apontem o potencial aromático da planta,
não apenas associado à semente, mas também à outras partes. Isso mostra o grande potencial e a
possibilidade do puxuri ser ingressado como uma especiaria amazônica nas cozinhas.
Mafra (2014) destacou que a comercialização do puxuri não gera impactos negativos, uma
vez que para a extração dos aromas não é necessário a destruição da planta. Já Barata (2012), destaca
que o cultivo de plantas aromáticas em áreas já degradadas da Amazônia, além da recomposição com
espécies nativas, pode gerar trabalho justo e renda familiar para as comunidades locais envolvidas.
Além disso, de acordo com Graça (2010), as produções sustentáveis de óleo essencial de plantas
aromáticas na Amazônia pelo cultivo racional, poda e extração das folhas, levarão a novos produtos
de exportação na região, além de ter outras vantagens atribuídas à espécie como a adaptação ao
plantio.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em vista disso, fica evidente como o puxuri pode ser um produto de alto valor econômico ao
ser direcionado para uso nas indústrias alimentícias, uma vez que sua semente possui aroma
extremamente agradável e baixa toxicidade. Além disso, o uso dessas sementes estão totalmente
83
alinhadas com as práticas atuais de sustentabilidade, já que sua extração não gera impactos de
degradação a planta e ao ambiente, além de ser uma alternativa de emprego e renda para as
comunidades locais mais vulneráveis.
O mundo está cada vez mais voltado para a sustentabilidade, onde as pessoas visam um
consumo mais consciente e buscam alimentos cultivados de forma responsável. Portanto, incluir o
puxuri na culinária brasileira como uma especiaria amazônica é uma forma de levar novos sabores e
aromas para as cozinhas sem gerar impactos negativos para a Amazônia e todas as comunidades
locais envolvidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPÍTULO VII- Argilas da região amazônica: tecnologias sociais para a produção de filtros
para populações ribeirinhas no estado do Pará
Viviane Mota Silva1
Patricia Chaves de Oliveira2
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
1
Geóloga pela Universidade Federal do Pará (2019); Especialista em direito ambiental. Mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Recursos Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (2021). / E-mail:
vivanemota07@live.com
2
Doutora em Ciências Agrárias com área de concentração em Sistemas Agroflorestais pela Universidade Federal Rural
da Amazônia (2005), Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia/UFOPA.
86
de aproximadamente 4 bilhões de casos de diarreias anuais, causando 2,5 milhões de mortes (KOSEK
et al., 2003).
As fontes de água potável para consumo podem ter a possibilidade de serem contaminadas.
As águas provenientes de poços e nascentes podem ser contaminadas tanto no ponto de captação,
quanto no lençol freático, sendo que a principal fonte de contaminação são fossas e também por
vazamento de contaminantes terrestres. As águas tratadas também podem ser contaminadas na
captação, adução, tratamento e instalações sanitárias prediais.
No Brasil, até o final do século XIX, não existia uma preocupação com a qualidade da água
que era consumida nas residências. Nas capitais a obtenção de água para consumo e outras atividades
eram provindas de riachos e rios próximos e de algumas cisternas, poços e chafarizes dentro das
cidades. No início do século XX, com o aumento da população e consequentemente o crescimento
das cidades houve a proliferação de doenças decorrentes do consumo de água poluída. A partir da
necessidade de obter água limpa, surgiram diversos equipamentos e utensílios domésticos que
filtravam a água, como os populosos filtros de metal Berkfeld e Pasteur, e até mesmo filtros feitos de
pedra porosa. Porém estes aparelhos eram importados e usados por apenas uma parte pequena da
população (BELLINGIERI, 2006).
Algumas empresas brasileiras de cerâmica fundadas por imigrantes portugueses e italianos,
construíram nesta mesma época, talhas que produziam os elementos filtrantes, conhecido como velas,
contribuindo para o surgimento da produção de filtros de água no Brasil. A década de 1930 pode ser
considerada como início da generalização do consumo do filtro a vela (BELLINGIERI, 2004).
Os filtros cerâmicos têm sido identificados como uma das mais promissoras e acessíveis
tecnologias para o tratamento de água em domicílios, disponibilizando água limpa para consumo
humano. No Brasil, filtros cerâmicos domésticos ou domiciliares são utilizados em habitações
isoladas, em pequenas comunidades que não possuem abastecimento de água, e mesmo em áreas
urbanas desenvolvidas quando não há garantia da qualidade da água fornecida por seus sistemas de
abastecimento de água ou ate mesmo em populações de extrema pobreza.
Atualmente, apesar do nosso país possuir desenvolvimento tecnológico em alguns lugares,
muitos outros ainda sofrem pela ausência de uma infraestrutura básica para a sobrevivência e
qualidade de vida. Em lugares menos acessíveis, como no caso da Amazônia, nas populações
ribeirinhas e de várzeas, a qualidade de vida é precária, pois não possuem um sistema de
abastecimento de água e nem energia elétrica disponível.
A falta de sistemas de abastecimento de água potável em comunidades ribeirinhas da
Amazônia é um problema antigo e que influencia diretamente a saúde e a qualidade de vida destas
populações. A abundância de água nas áreas de várzea, proveniente tanto dos rios quanto das
87
frequentes chuvas, contrasta com o fato de que a maior parte das populações que habitam estes locais
não tem acesso à água de qualidade e sofre constantemente com doenças de origem hídrica.
Neste sentido, Oliveira et al. (2008) afirma que muitas comunidades ribeirinhas não
apresentam um sistema organizado de abastecimento de água por canalização, além de receberem
pouco ou quase nenhum acompanhamento no que se refere às doenças transmitidas pela água. Tal
situação vem se agravando nas últimas décadas, na medida em que o aumento populacional destas
comunidades têm ocasionado uma degradação na qualidade da água dos corpos hídricos que
costumam abastecê-las. Um dos principais fatores responsáveis por esta poluição é a ausência de
saneamento básico, já que o esgoto produzido pelas residências é lançado diretamente no rio ou em
suas margens.
Levando em consideração a necessidade de mitigar os problemas de saneamento e de saúde
existentes, o presente estudo tem como finalidade buscar alternativas de consumo de água limpa para
comunidades com acesso escasso a água de qualidade para consumo.
1.1. Objetivos
1.1.1. Geral
Caracterizar o estado atual da indústria brasileira de filtros de água feitos com argila, e
encontrar alternativas de construção e uso de baixo custo para a população regional e local.
1.1.2. Específicos
- Realizar o levantamento histórico dos filtros de água de barro e utensílios na Amazônia;
- Realizar o levantamento sobre informações de construção, de uso e sua importância
socioeconômica;
- Proposição de modelo, a partir dos estudos de pesquisa, para aplicação nas construções dos filtros
de água e utensílios;
- Apresentar alternativas de consumo de água limpa para comunidades de difícil acesso.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1. Solos presentes na Amazônia
A região Amazônica está situada na parte norte da América do Sul com cerca de 6 milhões de
km², com uma população de 23.596.953 habitantes e ocupando todos os Estados da Região Norte,
mais o estado de Mato Grosso, o oeste do Maranhão e cinco municípios de Goiás. Na Amazônia, a
diversidade dos solos é o resultado da junção dos fatores de formação, como relevo, geologia, clima,
bióticos e feições da paisagem. O solo é um componente ambiental complexo, suas variações, no que
se refere as propriedades físicas, químicas e biológicas são definidoras de padrões ecológicos e do
próprio uso da terra, cujo potencial a humanidade busca o aproveitamento, porém nem sempre de
forma sustentável (JÚNIO et al., 2011).
88
fração argila dos Gleissolos e Neossolos Flúvicos. É possível, também, a ocorrência de óxidos de
Ferro (SCHAEFER et al., 2017).
As argilas apresentam uma enorme gama de aplicações, tanto na área da cerâmica como em
outras áreas tecnológicas. De acordo com a Associação Brasileira de Cerâmica (ABCERAM), em
quase todos os segmentos de cerâmica tradicional a argila constitui total ou parcialmente a
composição das massas. De modo geral, as argilas são mais adequadas à fabricação dos produtos de
cerâmica vermelha, apresentando em sua constituição os argilominerais ilita, de camadas mistas ilita-
montmorilonita e clorita-montmorilonita, além da caulinita, pequenos teores de montmorilonita e
compostos de ferro. As argilas para materiais refratários são essencialmente cauliníticas, devendo
apresentar baixos teores de compostos alcalinos, alcalinos-terrosos e de ferro, podendo conter ainda
em alguns tipos a gibbsita (Al2O3. 3H2O). As argilas para cerâmica branca são semelhantes às
empregadas na indústria de refratários, sendo que para algumas aplicações a maior restrição é a
presença de ferro e para outros, dependendo do tipo de massa, além do ferro a gibbsita. No caso de
materiais de revestimento são empregadas argilas semelhantes àquelas utilizadas para a produção de
cerâmica vermelha ou empregadas para cerâmica branca e materiais refratários.
A indústria de cerâmica vermelha, por ser um setor diretamente ligado a construção civil, se
encontra espalhada por todo o território nacional, tanto na forma de pequenas empresas de
organização simples até pequenas olarias. São, geralmente, encontradas próximas as suas jazidas de
matéria prima e aos mercados consumidores, devido ao seu produto de baixo valor agregado, o que
inviabiliza seu transporte a longas distâncias (JUNIOR et al. 2012).
quando então montou, nos fundos de sua casa, uma empresa para fabricar esse produto (FILIPPINI,
2003).
A Antônio Nogueira & Cia foi fundada em 1935, na capital, pelo imigrante português Antônio
Nogueira, com o objetivo de produzir filtros de água. Com ele, vieram outros ceramistas, que
produziam peças de cerâmica artesanalmente. Essa empresa trouxe uma importante inovação na
filtragem doméstica da água, lançando o primeiro filtro esterilizante do mercado. Desenvolveu um
novo processo de purificação, que consistia em revestir de prata coloidal as partes internas de
recipientes cerâmicos, o que eliminaria as bactérias presentes na água. Assim, além de eliminar as
partículas de água por meio da vela, o filtro também esterilizava a água.
3. METODOLOGIA
3.1. Pesquisa bibliográfica
Os procedimentos de pesquisa empregados neste estudo se caracteriza como pesquisa
bibliográfica. É realizada com o intuito de levantar o conhecimento disponível sobre teorias, a fim de
analisar, produzir ou explicar o objeto que está sendo investigado. A pesquisa bibliográfica visa
analisar as principais teorias de um tema, e pode ser realizada para diferentes fins (CHIARA et al.
2008). De acordo com Gil (2010), a pesquisa bibliográfica é elaborada com base em materiais já
publicados, revistas, artigos científicos, teses, dissertações, livros e anais de eventos científicos.
Para a localização destes tipos de materiais, foram utilizadas plataformas científicas como
Sucupira, plataforma Scielo e Google acadêmico, realizando buscas através de palavras-chave como:
“História industrial do filtro de barro”, “Filtros domésticos no Brasil”, “Filtros domésticos na
Amazônia”, “Cerâmica na Amazônia”, “Argilas presentes na Amazônia”, dentre outros com o mesmo
tema.
Todo o material coletado passou por análise e a partir da seleção final foram realizadas
averiguações. Para isto, houve a criação da Tabela Síntese com os estudos selecionados, desenvolvida
no software Microsoft Excel 2019, onde foram inseridas informações sobre o ano da publicação,
autoria, tipo de publicação, título e proposta do trabalho.
presente neste estudo foi confeccionado no software Cmap Tools e traz os conceitos adquiridos
através do levantamento bibliográfico, relacionando as informações e buscando demostrar a
relevância do assunto para a sociedade.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Tabela síntese
Foram analisados artigos com assuntos desde os solos e argilas presentes na região Amazônica
até a criação do filtro doméstico de barro e seu setor econômico. O acervo bibliográfico, apesar de
escasso, passou por leituras e avaliações e somente os mais relevantes serão citados na tabela síntese
(Tabela 1), no qual contribuíram grandemente para a formação deste estudo.
4.2. Proposição do modelo de construção de filtros de barros afim de beneficiar à indústria local
e a população
Define-se a cerâmica como qualquer material inorgânico, não-metálico, obtido geralmente
após tratamento térmico em temperaturas altas. São várias as matérias primas das quais se podem
produzir utensílios e equipamentos cerâmicos, sendo que a principal delas é a argila, definida como
um material natural, terroso e fino que, ao ser misturado com água, adquire certa plasticidade,
facilitando a sua moldagem. Depois de moldado, o objeto é seco e, em seguida, cozido em
temperaturas elevadas, resultando no produto final (ANUÁRIO BRASILEIRO DE CERÂMICA,
2002).
O filtro de água como um conjunto de dois recipientes de cerâmica, equipado com uma ou
mais velas filtrantes e uma torneira no recipiente inferior. A vela é uma peça oca e cilíndrica, feita de
material poroso, cuja finalidade é reter partículas e bactérias presentes na água. O elemento
responsável por filtrar a água apesar de ser apenas a vela, é comum designar o filtro como todo o
conjunto equipados pelos recipientes cerâmicos, as velas, a torneira e a tampa. Assim, chama-se de
vela o elemento filtrante, e de filtro de água, os recipientes de cerâmica equipados com velas (Figura
1). O filtro de barro é um filtro de gravidade, onde a água a ser filtrada passa através da vela e goteja
95
do recipiente superior (primeira etapa) para o inferior onde fica armazenada (segunda etapa). A parte
inferior, conhecida como talha, é um recipiente feito de argila, cuja finalidade é armazenar a água
para beber, mantendo-a em uma temperatura fresca (Figura 1) (GUSMÃO, 2008).
Figura 4: Etapas do processo de filtração em filtros de barro
Primeira Etapa
Segunda Etapa
Há diversos modelos de filtros domésticos, que variam de acordo com o material e o tamanho,
com diferentes marcas e modelos, como consta na imagem a seguir:
De acordo com a Associação Nacional da Indústria Cerâmica no Anuário Brasileiro de
Cerâmica – ABC (2006), o setor de cerâmica vermelha contém aproximadamente 5.000 mil fábricas,
com distribuição em todo o território, principalmente no Sul e Sudeste. Em muitos lugares na forma
de pequenas empresas ou olarias, geralmente são encontradas próximas aos lugares de extração
mineral e aos seus mercados consumidores.
No estado do Pará, há dois Arranjos Produtivos Locais (APLs), que consiste em aglomerados
produtivos cerâmicos. Um presente na cidade de Santarém, no oeste do Estado e outro em São Miguel
do Guamá no Nordeste do Estado. Em outros lugares, apesar de menos frequentes, há a produção
cerâmica, como na cidade de Marabá e também no Sul do Estado (CARMO et al., 2019).
A produção de utensílios cerâmicos, como o filtro doméstico, feito de barro, pode ser uma
possibilidade de produções locais e regionais, devido principalmente ao seu baixo custo, tanto na
produção, quanto na comercialização, beneficiando a população sobretudo as mais carentes, como
ribeirinhos e moradores de várzea e até mesmo em centros populacionais para os mais carentes,
gerando uma alternativa de fonte para consumo de água limpa para estas populações.
97
produto entre a população, que todavia é necessário para assim engrandecer o cenário comercial e a
venda dos filtros.
A existência dos filtros pode ser proporcional à renda familiar, pois na região, muitas famílias
que possuem baixa renda não possuem e talvez nunca tiveram acesso ao um purificador de água ou
até mesmo água mineral, sendo, portanto, um dos públicos que se beneficiariam dos filtros
domésticos, aumentando assim, o potencial de venda.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
diversos estudos, fica evidente que o filtro de barro tradicional tem um bom desempenho para
processar uma água de melhor qualidade, uma vez que seu sistema de filtração consegue reter
impurezas, quebrar a acidez e restaurar a potabilidade da água. Com a divulgação e disseminação dos
beneficiamos da utilização do filtro doméstico, é possível que o utensílio ascenda no comércio local
e regional, entrando em maior produção e assim chegando a locais afastados, para pessoas que não
possuem acesso a água de qualidade para consumo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
RESUMO
O presente estudo consiste em uma abordagem em contexto bibliográfico sobre a temática da
etnobotânica como importante ferramenta para o desenvolvimento bioeconômico da região
amazônica. Ao se considerar a alta diversidade biológica da região amazônica, sendo muitas vezes a
principal fonte de subsistência os povos tradicionais que ocupam esse bioma, como povos indígenas,
ribeirinhos, quilombolas, observa-se a riqueza do conhecimento destes povos no manejo dos recursos
naturais, ressaltando-se o potencial de uso múltiplo de espécies vegetais sem que seja necessária sua
derrubada, aspecto importante na agenda do desenvolvimento bioeconômico, que busca aliar aspectos
econômicos com a sustentabilidade. Neste estudo foram utilizados 29 publicações científicas que
enquadradas dentro da temática da etnobotânica e bioeconomia na região amazônica, distribuídas
entre artigos científicos, artigos de revisão bibliográfica, tese de doutorado, dissertações de mestrado
e capítulos de livro. Ressalta-se ao fim do estudo a importância da etnobotânica para o
desenvolvimento bioeconômico da região amazônica, porém, destaca-se também a importância
sociocultural e histórica do conhecimento tradicional dos povos da Amazônia.
1. INTRODUÇÃO
A etnobotânica, enquanto ciência, busca o conhecimento e registro das interações entre as
comunidades humanas e a flora de modo contextualizado, sendo uma característica humana a reunião
e preservação de informações concernentes à sua interação com o ambiente ao redor, de onde muitas
vezes retira o necessário para sua subsistência (DA SILVA, et al., 2015).
A região amazônica é caracterizada pela heterogeneidade de seus ecossistemas e consequente
diversidade biológica, que na maioria das vezes representa a principal fonte para a subsistências das
comunidades tradicionais ali presentes, como povos indígenas, caboclos, quilombolas e ribeirinhos,
que embasam sua sobrevivência na exploração dos recursos da floresta através do sistema extrativista
vegetal e animal, e a produção agrícola de pequena escala, caracterizada pela produção para consumo
próprio e venda do excedente (SOUZA, 2010).
Para Da Silva (2015), a diversidade de ecossistemas, como encontrado no bioma Amazônia,
deve ser estudada e conservada, mas também utilizada visando a melhoria de qualidade de vida da
1
Engenheira Florestal pela Universidade Federal do Oeste do Pará (2018); Mestranda do Programa de Pós-Graduação
em Recursos Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (2021). / E-mail: andressa-
viana8@hotmail.com.
2
Doutora em Ciências Agrárias com área de concentração em Sistemas Agroflorestais pela Universidade Federal Rural
da Amazônia (2005), Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia/UFOPA.
102
sociedade, evidenciando ações que busquem o uso econômico dos recursos naturais atrelado ao
desenvolvimento sustentável, ou seja, sem danos irreversíveis ao meio ambiente e sem comprometer
a qualidade de vida das gerações futuras.
Nesse contexto o conceito da bioeconomia vem ganhando visibilidade, sendo, de acordo com
Da Silva, Sevalho e Miranda (2021), a responsável por trazer o bem-estar humano e equidade social
conciliando o uso sustentável dos recursos ambientais ao passo em que também reduz de forma
significativa a degradação ambiental através de exploração racional, aliada a agregação de valor aos
produtos oriundos da floresta e de caráter não madeireiro.
sob uma ótica que englobe o saber das comunidades tradicionais quanto a exploração dos recursos
oriundos da floresta, visando um desenvolvimento econômico que busca conciliar-se com a
conservação ambiental, procurando afastar a região amazônica da imagem concebida de “simples
região de fronteira, produto do capitalismo predatório, que vê a natureza como um bem infinito”
(SILVA et al., 2016, p. 560).
valorizar a compreensão e vivência cultural que os povos regionais e tradicionais possuem com esses
recursos florestais, uma vez que as espécies amplamente discutidas em artigos como possuidoras de
alto potencial econômico só passam a apresentar esse status quando contextualizadas nos processos
sociais que ocupam na região amazônica.
Com base no exposto acima, objetiva-se com o presente estudo a realização de uma revisão
bibliográfica sobre a temática etnobotânica, correlacionando-a ao desenvolvimento bioeconômico da
região amazônica. Os objetivos específicos são:
• Produção de uma tabela-síntese das produções científicas encontradas sobre o tema;
• Criação de um mapa conceitual acerca da temática revisada;
• Sugestão de produtos para divulgação científica a serem criados partir desta revisão
bibliográfica;
2. MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa é caracterizada como exploratória, que, de acordo com Gil (2002), são pesquisas
que visam a construção de uma maior familiaridade com a temática ou problema proposto, buscando
torná-lo mais explícito. Ainda de acordo com o autor supracitado, pesquisas exploratórias objetivam
principalmente o aprimoramento de ideias, sendo portanto na maioria das vezes estudos de caso ou
pesquisas bibliográficas, categoria em que se enquadra o presente estudo.
2.1.1. Tabela-síntese
105
A construção da tabela síntese se deu através do aplicativo Microsoft Excel®, onde foram
elencadas as produções científicas relevantes para a temática do presente estudo, sendo organizadas
com as seguintes informações: área de concentração, título, categoria de publicação científica (artigo
científico, dissertação, tese, livro, capítulo de livro) e ano de publicação. As informações foram
organizadas de forma progressiva na série histórica pré-definida, começando por aquelas com
publicação no ano de 2010, concluindo com aquelas com publicação no ano de 2021.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Revisão de Literatura e Tabela Síntese
No levantamento realizado entre o período de 2010 a 2021, nas bases de dados referidas
anteriormente, foram encontradas 29 produções científicas, que abordavam a temática da
“Etnobotânica e Bioeconomia na Amazônia”, distribuídas entre artigos científicos, artigos de revisão
bibliográfica, tese de doutorado, dissertações de mestrado e capítulos de livro, conforme exposto na
Tabela 1, a seguir:
106
Nicoli,
Aproveitamento da biodiversidade Capítulo
Bioeconomia Homma & 2014
amazônica: o caso da priprioca de Livro
Menezes
Etnobotânica, Etnobotânica de plantas medicinais em Vásquez,
Artigo
Plantas comunidades ribeirinhas do Município de Mendonça & 2014
Científico
medicinais Manacapuru, Amazonas, Brasil Noda
Do conhecimento tradicional amazônico à
inovação: um estudo com micro e pequenas Artigo
Etnobotânica Botelho et al. 2015
empresas do arranjo Científico
produtivo local de fitos de Manaus
Biodiversidade e desenvolvimento: uma
Bioeconomia análise dos investimentos do CNPq de 2003 Da Silva Dissertação 2015
a 2012.
continua...
107
Categoria de Publicação
3%
Artigos
14%
Capítulo de
Livro
52% Dissertação
14%
Artigo de
Revisão
Tese
17%
Os sistemas agroflorestais – SAFs, de acordo com Oliveira Junior e Cabreira (2012), são
naturalmente sustentáveis quando seguem princípios agroecológicos e quando baseados nos
conhecimentos da população local onde serão inseridos. Com base nessa ideia os autores realizaram
estudo visando avaliar o potencial econômico da diversidade vegetal no país, baseada no
conhecimento dos povos tradicionais, através de uma revisão de literatura. Como resultados os
autores identificaram 8 categorias de uso: alimentício, construção, energia, manufatura (artesanato e
ferramentas), medicinal, ornamental, ritualística e outros, com destaque para a categoria medicinal
com o maior número de espécies (171).
Para o bioma Amazônia, as famílias que obtiveram destaque foram Caelsapiniaceae,
Mimosaceae, Lecythidaceae, Chrysobalanaceae e Sapotaceae, sendo a espécie Euterpe oleracea a
mais utilizada na categoria alimentícia, porém, por se tratar de uma espécie de uso múltiplo, tem
também potencial para uso farmacológico e medicinal por suas ações anticarcinogênica,
antiinflamatória e antimicrobiana. Outras espécies citadas pelo seu caráter etnobotânico no Bioma
Amazônia foram a Lecythis pisonis Cambess., Licania heteromorfa Benth., Copaifera reticulata
Ducke e Hymenaea parvifolia Huber (OLIVEIRA JUNIOR; CABREIRA, 2012).
Os autores ainda ressaltam a importância do conhecimento etnobotânico para o
desenvolvimento econômico nos biomas do país, destacando o caráter sustentável da relação dos
povos tradicionais com a biodiversidade vegetal e ainda, a importância dos debates acerca da
repartição de benefícios quanto a propriedade material, intelectual e recursos genéticos aos povos
indígenas e comunidades tradicionais, na exploração dos recursos em seus territórios e uso de seu
conhecimento.
Em estudo realizado por De Almeida et al. (2013) com agricultores familiares da Comunidade
Santo Antônio, no Assentamento Moju I e II, entorno da BR-163, município de Santarém, estado do
Pará, objetivando caracterizar a percepção dos comunitários daquela região quanto ao aspecto
econômico das espécies, utilizadas por eles inicialmente na exploração madeireira em comparação
com o potencial não madeireiro dessas espécies.
Os autores observaram que naquele momento já havia certa mudança de paradigma por parte
dos comunitários quanto a exploração madeireira em seu território, sendo justificada a mudança
principalmente pela escassez do recurso madeireiro com o aumento da área explorada, e pela busca
por parte dos comunitário pelo fortalecimento da exploração não madeireira, destacando a espécie
piquiá (Caryocar villosum – (Aubl.) Pers.), que de acordo com um dos entrevistados “[...] a gente não
pensa mais em cortar porque além de eu ter o fruto para alimentação, eu tenho óleo para tirar [...] eu
vou ganhar muito mais e é bem melhor para a floresta” (De ALMEIDA et al., 2013, p. 439).
110
De Brito (2014) destaca em seu estudo que busca o resgate do conhecimento popular no uso
de plantas medicinais por comunidades tradicionais em Laranjal do Jari, estado do Amapá, o uso
medicinal de plantas tanto para saúde humana quanto para a saúde animal. O autor aponta o potencial
de produção de remédios fitoterápicos existentes na região, porém, ressalta a insuficiência de matéria-
prima, destacando a possibilidade de abertura de um nicho de mercado aos produtores e extrativistas
da região, possibilitando a manutenção do conhecimento tradicional de forma massificada e ainda a
possibilidade de atrelar este saber ao conhecimento científico.
Tendo também como pressuposto a importância do conhecimento dos povos tradicionais
sobre a flora brasileira, Homma, Carvalho e de Menezes (2014), alertam quanto o uso deturpado desse
conhecimento, uma vez que produtos de origem amazônica em associação com o lado místico de
lendas e crendices, que muitas das vezes são baseados em falsas lendas ou crendices, vêm sendo
usados como atrativos mercadológicos. Em contrapartida, o saber tradicional de povos indígenas, que
têm sua disseminação baseada na oralidade, vem caminhando para o desaparecimentoo, ressaltando
a importância da documentação desses dados.
Homma, Carvalho e de Menezes (2014), ao fazerem uma análise sobre o extrativismo de
cupuaçuzeiros no Sudeste do Pará salientam a importância dessa espécie para conservação de
remanescentes, principalmente na conservação de florestas remanescentes em áreas de ocorrência
comum com castanheira, no entanto, reforçam que o apesar do potencial socioeconômico e ambiental
dessa espécie, os plantios são de baixo nível tecnológico, refletindo a falta de assistência técnica,
acesso a informações de pesquisa e também de conhecimento tradicional de produtores mais
experientes.
Uma espécie amazônica com alto potencial bieconômico, tanto no mercado nacional quanto
no mundial, e que tem seu uso baseado em povos tradicionais é o jambu – Acmella oleracea (L.) R.K.
Jansen, uma herbácea que vem se popularizando nos últimos anos, mas que também passou por
intensos processos de biopirataria. Nesse contexto, Homma et al. (2014) aponta que o principal
caminho para refrear a biopirataria de recursos naturais amazônicos é através da transformação dos
recursos desta biodiversidade em atividades econômicas que gerem renda e emprego, sendo
importante que as instituições de pesquisa estabeleçam metas de identificar pelo menos 5 novas
espécies de plantas por quinquênio, tendo como base o conhecimento tradicional, indígena e de
screenings sobre recursos potenciais, sempre buscando respeitar os direitos de propriedade
intelectual, além de um mercado baseado em “fairtrade”, ou seja, repartição justa de benefícios
advindos da exploração dos recursos naturais.
Os autores também pontuam que as patentes já existentes sobre o jambu apontam o potencial
dessa herbácea em atrair interesse da indústria farmacêutica e cosmética mundial.
111
Para Lira e Chaves (2015), o modelo sociocultural de ocupação do espaço das comunidades
ribeirinhas da Amazônia e o uso de recursos naturais é voltado principalmente para sua própria
subsistência, tendo fraca correlação com o mercado, e caracterizado por uso de mão de obra familiar,
tecnologia de baixo impacto, provenientes do conhecimento tradicional e de base sustentável.
De acordo com as autoras nessa base sustentável de exploração prevalece a relação de respeito
entre homem e a natureza, não havendo uma dissociação entre esses dois atores, propiciando o manejo
dos recursos naturais sustentável que parte do etnoconhecimento dessas comunidades. Ao
concluírem, Lira e Chaves (2015, p. 76) reforçam a importância de estudos o conhecimento acerca
do modo de vida das comunidades tradicionais da Amazônia:
Silva et al. (2015) também concluem em seu levantamento bibliográfico sobre a temática da
etnobotânica na categoria de plantas medicinais sobre a importância da preservação e conservação
dos conhecimentos tradicionais e da medicina popular, podendo ser aplicados tais saberes no uso e
manejo sustentável de recursos vegetais, além dos elementos culturais, sociais a quais estão atrelados.
Em estudo de plantas medicinais no baixo Rio Negro, Amazônia Central, Veiga e Scudelller
(2015), realizaram um levantamento mais focalizado, observando apenas as plantas tradicionalmente
usadas pelas comunidades ribeirinhas daquela área no tratamento de malária, tendo como resultado
62 espécies utilizadas para o uso exclusivo no tratamento de malária e males associados, distribuídas
em 53 gêneros e 34 famílias botânica, sendo as mais ricas em termos de espécies: Fabaceae (7),
Asteraceae e Lamiaceae (4 sp. cada), Solanaceae e Rutaceae (3 sp. cada), Arecaceae, Annonaceae,
Apocynaceae, Euphorbiaceae, Myrtaceae, Poaceae e Zingiberaceae (2 sp. cada).
Assim como os autores supracitados, Lima et al. (2016) realizara pesquisa mais específica
sobre a etnobotânica de plantas medicinais utilizadas na Amazônia, porém, nesta pesquisa
bibliográfica, os autores definiram uma única espécie a ser estudada, a Stryphnodendron adstringes
(Mart.), conhecida popularmente por barbatimão, da família botânica Fabaceae.
Com base em um levantamento etnobotânico, fitoquímico e farmacológico sobre S.
adstringes na literatura, os autores apontam o uso apropriado desta espécie na medicina popular, já
sendo comprovado cientificamente suas propriedades farmacológicas, entretanto, também chamam
atenção sobre a necessidade de maiores estudos e testes que comprovem o uso dessa espécie como
antimicrobriano, anti-inflamatório e antiulcerígino, principais usos etnobotânicos dessa planta, além
de avaliação mais criteriosa de sua comercialização para a população, uma vez que pode apresentar
efeitos tóxicos.
113
Silva et al. (2016) observam em estudo que o extrativismo vegetal no contexto amazônico ora
é visto como possibilidade de conservação dos recursos naturais e do modo de vidas das populações
amazônicas, ora como potencial para o desenvolvimento econômico da região, dependendo do tipo
de projeto que se pretende desenvolver, o que pode acarretar conflitos entre as demandas sociais
locais e demandas globais.
De modo a evitar esses conflitos, os autores corroboram a ideia amplamente debatida até aqui
da importância do envolvimento de pesquisadores, governantes e principalmente a população local
no processo de desenvolvimento da região observando a importância de uma política de crescimento
econômico que resulte em geração de renda para as populações locais e que seja menos agressiva ao
meio ambiente, sendo imperativo a esse processo de envolvimento a criação de políticas públicas que
subsidiem pesquisas na região, visando a grandeza da biodiversidade amazônica, e ainda, que incluam
os povos e comunidades tradicionais “que ali se constituem como um ecossistema vivo, necessário
para sua conservação e para os rumos de um desenvolvimento sustentável.” (SILVA, et al., 2016, p.
575).
A necessidade de políticas de incentivos seja em âmbito nacional ou regional, também foi
relatada na pesquisa de Sousa et al. (2016) sobre a bieconomia dos segmentos de fitoterápicos e
fitocosméticos na Amazônia.
Cavalcante, Cavalcante e Bieski (2017) realizaram revisão bibliográfica sobre o conhecimento
etnofarmacológico da espécie copaíba (Copaifera langsdorffii Desf.), onde observaram o uso
medicinal tradicional da espécie para tratar infecções, edemas, com propriedades analgésicas, anti-
inflamatórias, bactericidas e cicatrizantes. Os autores apontam o potencial econômico, social e
ecológico da espécie, reforçando a importância de pesquisas voltadas para o aprofundamento do
conhecimento sobre as propriedades medicinais dessa espécie, buscando contribuir com a
implantação de políticas públicas de fitoterápicos no Brasil, e ainda, com o desenvolvimento dessa
espécie como importante fitoterápico da Amazônia.
De Andrade (2017) aponta a riqueza da biodiversidade da flora amazônica e sua variedade de
produtos que podem ser massivamente utilizadas para fins fitoterápicos e na indústria de
fitocosméticos, além dos setores de biotecnologia, psicultura, fruticultura, como as principais
possibilidades para o desenvolvimento regional e podendo propiciar a distribuição de maneira mais
justa e equitativa da geração de riqueza na região.
Outro estudo etnobotânico sob a ótica do uso medicinal de plantas na região amazônica foi
realizado por Pereira e Coelho-Ferreira (2017) na comunidade Tauerá-Açú, inserida no Território
Quilombola Ilhas de Abaetetuba, onde as autoras registraram 93 etnoespécies, sendo 76 dessas
identificadas e classificadas em 68 gêneros e 34 famílias, tendo destaque as famílias Lamiaceae,
114
Fabaceae e Asteraceae, e as espécies hortelã (Mentha pulegium), arruda (Ruta graveolens) e boldo
(Gymnanthemum amygdalinum).
A pesquisa realizada por Santos, Coelho-Ferreira e Lima (2018) em mercados públicos da
região metropolitana de Belém, no Pará, também teve destaque para as famílias Fabaceae, Asteraceae
e Lamiaceae como aquelas com maior número de etnoespécies. Dentre as espécies de uso medicinal
apontadas pelos entrevistados, tiveram destaque a verônica – Dalbergia monetária L.f, barbatimão –
Stryphnodendron sp. e aroeira – Myracrodruon urundeuva Allemão, predominando o mercado de
folhas e cascas, e os hábitos árvores e ervas os mais expressivos.
O estudo de Da Silva e Miranda (2019), traz uma família botânica, que apesar de muito
presente na economia e na cultura da região amazônica, foi pouco abordada nos estudos elencados
até aqui, a família Arecaceae. Nesta pesquisa os autores buscaram sistematizar informações sobre o
potencial bioeconômico das palmeiras e seus subprodutos na região amazônica.
Como resultado da revisão narrativa da literatura os autores ressaltam que as palmeiras são o
grupo mais importante de plantas nas florestas da Amazônia, desempenhando papel importante no
equilíbrio ecológico desses ecossistemas, além de seu aspecto socioeconômico e uso múltiplo, sendo
fonte de recurso alimentício, na construção de casas, fabricação de utensílios domésticos, e ainda
como recurso medicinal, destacando que essa importância das palmeiras para a população amazônica
é fruto do conhecimento tradicional construído e transmitido por gerações através do contato contínuo
com os recursos da floresta.
Em muitos dos estudos abordados nesta revisão, observou-se a preocupação por parte dos
autores em preservar o conhecimento etnobotânico, a fim de que não se perca, uma vez que sua
transmissão entre gerações se dá, geralmente, de forma oral. Nesse sentido, o estudo de Oliveira-
Melo et al (2019) aborda a importância da criação de coleções etnobotânicas como ferramenta tanto
para a conservação cultural, como também vegetal, uma vez que tais coleções são fonte de dados que
podem ser utilizados por pesquisadores e estudantes nos mais diversos âmbitos, ao passo que também
estreitam a comunicação entre os conhecimentos científicos e os saberes de povos indígenas e demais
populações tradicionais.
O estudo de Berto, Ferraz e Rebellato (2020) objetivou, através da revisão sistemática da
literatura, realizar a conceituação e diferenciação dos termos “bioeconomia” e “economia circular”,
tendo como conclusão que estes conceitos tendem a se aproximar, em alguns aspectos, e se diferenciar
em outros, como, por exemplo, são similares quanto a objetivar o desenvolvimento econômico
sustentável, porém, se diferenciam no caminho que seguem para atingir esse desenvolvimento. De
acordo com os autores, a bioeconomia é mais preocupada com o uso de recursos biológicos e
biotecnológicos, enquanto a economia circular parte do pressuposto de sustentabilidade por meio de
115
reciclagem, por exemplo. Os autores ainda ressaltam a escassez de dados de ambas as abordagens
econômicas.
Também discutindo a temática da bioeconomia, Silva (2020) pontua que esse modelo de
desenvolvimento é baseado na conversão da matriz produtiva desde que o processo atenda a critérios
de sustentabilidade. A autora ressalta a importância de estudos que busquem aprofundar a temática
do desenvolvimento bioeconômico da Amazônia, ressaltando a importância do papel social que
empresas que busquem integrar esse modelo de desenvolvimento devem ter junto as comunidades e
povos tradicionais da Amazônia.
Willerding et al. (2020) aponta que não há uma maneira simples para o desenvolvimento
regional amazônico, e que o desafio é aliar este crescimento econômico com a preservação da floresta,
buscando caminhos que possam gerar renda e qualidade de vida para a população local, destacando
a importância de maior articulação de estruturas regionais e necessidade de intercâmbio cultural,
científico e tecnológico.
Pires et al. (2020), por sua vez, realizou em estudo um levantamento etnobotânico do uso de
plantas medicinais por parte dos moradores do município de Oriximiná, estado do Pará, e como
resultado obteve-se 112 espécies pertencentes a 50 famílias, sendo o maior destaque dado a família
Fabaceae e nativas da Amazônia (56%). Estas espécies nativas foram comparadas com aquelas
presentes em 14 documentos do Sistema Único de Saúde – SUS, constatando-se que 7 das 34 espécies
nativas da Amazônia não estão listadas em nenhum dos 14 documentos analisados do SUS, dentre
elas cita-se a Bertholletia excelsa (Kunth.) (castanheira), Genipa americana L. (jenipapo) e Quassia
amara L. (quina).
O estudo de Sousa et al. (2021) teve como foco o levantamento etnobotânico de plantas
medicinais cujo uso é empregado no tratamento de ferimentos na pele, em duas comunidades rurais
do nordeste do estado do Pará, Rio Juarembu, no município de Igarapé-Miri e Nossa Senhora do
Livramento, no município de Acará, onde não há saneamento básico de qualidade, posto de saúde
com atendimento regular, e cuja principal fonte de renda é a coleta e comercialização de açaí, em
ambas as comunidades. Como resultado as espécies andibora (Carapa guianensis Abgl.), copaíba de
planta (Escobedia sp.) e malvarisco (Piper umbellatum L.) foram as mais citadas entre os
participantes como recomendadas para o tratamento de ferimentos cutâneos.
Os autores ressaltam neste estudo a importância de levantamentos etnobotânicos como fonte
de dados importantes na escolha de espécies provenientes da medicina natural para testes
laboratoriais, reduzindo custos e até mesmo tempo de pesquisa.
Lucas et al. (2021) em estudo onde busca refletir sobre o que mais pode ser feito nas pesquisas
etnobotânicas na Amazônia, aponta algumas estratégias a serem usadas para uma efetiva manutenção
116
e preservação desses conhecimentos tradicionais. Dentre essas estratégias os autores citam ações
como construção de hortas comunitárias, instrução sobre potencial fitoterápico de produtos da
biodiversidade, dentre outros, de modo a contribuir, segundo os autores, na construção de populações
mais autônomas, com maior senso crítico, além de participação efetiva da conservação da
biodiversidade e auxílio na manutenção do modo de vida de comunidades tradicionais.
Através desta revisão de literatura foi possível observar a diversidade de espécies da flora
amazônica utilizadas pela população tradicional que ali habita, e ainda, a possibilidade de usos
múltiplos que tais espécies apresentam, pois, como visto anteriormente, algumas espécies são
utilizadas na alimentação, porém, podendo também ser utilizadas como plantas medicinais, por
exemplo.
117
Desse modo, e buscando refletir sobre: 1º sobre a importância do registro e conservação desses
saberes tradicionais amazônicos, para que não se percam com o passar dos anos; 2º sobre a
importância da divulgação científica desse conhecimento tradicional objetivando o desenvolvimento
do potencial bioeconômico da região Amazônica, pautada principalmente no uso sustentável dos
recursos e repartição justa dos benefícios gerados por esse manejo, propõe-se a criação de uma
cartilha, que reúna, de forma didática e simplificada, as principais espécies de plantas citadas nos
estudos aqui levantados.
Nesta cartilha deve constar breve informação sobre a morfologia das espécies, sua origem,
classificação quanto ao risco de extinção de acordo com a lista vermelha do CNC – Flora,
nomenclatura popular e científica, além das categorias de uso a qual são enquadradas a descrição do
modo como são usadas, além de informações sobre as comunidades da região amazônica onde é
observado esse uso.
Outra forma de divulgação bastante efetiva atualmente, e que pode abranger uma parcela
maior da população, devido a facilidade de acesso, é a criação de um site nos moldes da cartilha,
contendo as informações já referidas, que, no entanto, seja atualizado a cada novo estudo publicado
sobre espécies de uso etnobotânico na Amazônia.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através desta revisão de literatura observa-se a grande diversidade biológica da região
amazônica, e consequentemente o grande potencial de desenvolvimento bioeconômico desta região,
pensando em um uso sustentável dos recursos da floresta, como o extrativismo de produtos florestais
não-madeireiros.
Nesse quesito, o conhecimento etnobotânico dos povos tradicionais da Amazônia sobre os
recursos florestais é uma importante ferramenta, uma vez que essas populações têm uma relação
direta, constante e histórica com a floresta, tendo conhecimento aprofundado sobre os usos múltiplos
dos recursos naturais, o que possibilita que usufruam destes sem levá-los a exaustão.
É importante ressaltar que o uso do conhecimento tradicional no desenvolvimento
bioeconômico da região amazônica deve ser pautado em uma relação de troca justa, onde esses povos
detentores do conhecimento usufruam de forma direta e justa dos benefícios advindos de seus saberes,
participando de forma ativa dos processos de uso e comercialização de produtos.
Por fim, a etnobotânica na Amazônia não deve ser considerada apenas sob a perspectiva
econômica, mas sua importância perpassa também pelo âmbito cultural e histórico, retratando a
relação homem-planta do maior bioma do país.
118
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RESUMO
O crescimento populacional tem causado desordem nas áreas urbanas e influenciado principalmente
a concentração econômica e demográfica, acarretando na escassez de recursos naturais, redução da
qualidade de vida e degradação ambiental. Neste sentido, a agricultura urbana surge como uma
alternativa capaz de desempenhar relações sustentáveis nas dimensões econômica, social e ambiental
nas cidades. A partir disto, o capítulo objetivou apresentar uma revisão bibliográfica acerca do tema
agricultura urbana e o seu potencial para o desenvolvimento de cidades mais verdes e sustentáveis, e
através dos resultados encontrados, produzir um mapa conceitual a partir do que foi abstraído e por
fim, propor um modelo teórico capaz de auxiliar no alcance da promoção de cidades mais sustentáveis
na Amazônia. Para tal, realizou-se o levantamento bibliográfico em diferentes plataformas digitais e
com o auxílio dos softwares IRAMUTEQ realizou-se uma análise de coocorrência nos resumos dos
artigos escolhidos, e o mapa conceitual elaborado a partir do CmapTools. A revisão bibliográfica
permitiu inferir que a agricultura urbana tem potencial para ser desenvolvida nos espaços urbanos
amazônicos, fundamentado na segurança alimentar e nutricional, bem como na geração de renda e
melhoria da qualidade ambiental nas cidades.
Palavras-chave: agricultura urbana; sustentabilidade; modelo teórico; Amazônia
Abstract
Population growth has caused disorder in urban areas and has mainly influenced economic and
demographic concentration, resulting in the scarcity of natural resources, reduced quality of life and
environmental degradation. In this sense, urban agriculture emerges as an alternative capable of
performing sustainable relations in the economic, social and environmental dimensions in cities.
From this, the chapter aimed to present a literature review on the theme of urban agriculture and its
potential for the development of greener and more sustainable cities, and through the results found,
produce a conceptual map from what was abstracted and finally, to propose a theoretical model
capable of helping to achieve the promotion of more sustainable cities in the Amazon. To this end, a
bibliographic survey was carried out on different digital platforms and with the aid of IRAMUTEQ
software, an analysis of co-occurrence was carried out in the abstracts of the chosen articles, and the
conceptual map was drawn up using CmapTools. The literature review allowed us to infer that urban
agriculture has the potential to be developed in Amazonian urban spaces, based on food and nutrition
security, as well as on income generation and improvement of environmental quality in cities.
1
Engenheira Sanitarista e Ambiental pela Universidade Federal do Oeste do Pará (2021); Mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Recursos Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (2021). / E-mail:
lucianne.a@gmail.com
2
Doutora em Ciências Agrárias com área de concentração em Sistemas Agroflorestais pela Universidade Federal Rural
da Amazônia (2005), Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia/UFOPA.
122
1. INTRODUÇÃO
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO,
2010) o processo de urbanização acelerado e não planejado em todo o mundo tem prejudicado o
desenvolvimento dos países, agravando-se com a recessão econômica, aumento nos preços dos
produtos, assim como, pelos impactos resultantes das mudanças climáticas, que quando combinados
afetam a possibilidade de alcance de um desenvolvimento sustentável e equitativo (FAO/MDS,
2010).
A desordem das áreas urbanas tem tido influência, principalmente, da concentração
demográfica e econômica que acarreta na escassez de recursos naturais, redução da qualidade de vida
pela exclusão social, degradação ambiental, violência, desemprego e miséria (JACOBI, 2000;
BATITUCCI et al., 2019). Ademais, estes elementos tem reflexos na segurança alimentar e
nutricional que influenciam a saúde das populações (RIBEIRO; BÓGUS; WATANABE, 2015).
Diante disto, a agricultura urbana surge como uma alternativa capaz de desempenhar relações
sustentáveis nas dimensões econômica, social e ambiental nas cidades, ao passo que fornece
alimentos frescos, gera emprego, recicla resíduos urbanos, cria cintos verdes e fortalece a resistência
das cidades diante das mudanças climáticas (FAO, 2018; BATITUCCI et al., 2019).
Neste sentido, a agricultura urbana tem fundamental importância e aplicabilidade para o
desenvolvimento de cidades mais sustentáveis, pois, de acordo com Braga et al. (2004), a cidade para
ser considerada mais ou menos sustentável deve ser capaz de evitar a degradação ambiental,
minimizar os impactos antrópicos, reduzir as desigualdades sociais e prover qualidade de vida aos
seus habitantes, além disso, deve desenvolver ações políticas e de cidadania que viabilizem a busca
por soluções para desafios presentes e futuros (BRAGA, 2004). Ao combinar as diferentes vertentes
da sustentabilidade, torna-se um processo dinâmico cada vez mais importante na formulação de
políticas e incentivos que integrem efetivamente as preocupações sobre proteção ambiental, equidade
econômica e bem-estar social nos planos de desenvolvimento urbano (SHEN et al., 2011).
Na região Amazônica, particularmente, mais de 70% da população vive em centros urbanos,
segundo dados do censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010),
o que representa também um grande desafio no contexto da produção de alimentos e segurança
alimentar e nutricional para estas populações, pois, dados da FAO (2012) dão conta que as famílias
pobres, nas áreas urbanas, gastam 80% da renda familiar mensal com a compra de alimentos,
tornando-as, portanto, expostas a situações de extrema vulnerabilidade (FRÓES JÚNIOR, 2020).
Assim, a agricultura urbana a partir de circuitos curtos de produção e consumo, assume um papel
relevante ao prover alimentos de qualidade e baixos custos aos consumidores, ao mesmo tempo que
123
colabora para o desenvolvimento local, para o melhoramento das condições ambientais e destinação
social das terras urbanas (FRÓES JÚNIOR, 2020).
Partindo do exposto, este capítulo tem por objetivo apresentar uma revisão bibliográfica
acerca do tema agricultura urbana como potencial para o desenvolvimento de cidades mais verdes e
sustentáveis, a partir do qual produziu-se um mapa conceitual fundamentado no conteúdo abstraído
e propôs-se um modelo teórico capaz de auxiliar no alcance da promoção de cidades mais
sustentáveis, pautado na segurança alimentar e nutricional, bem como na geração de renda e melhoria
da qualidade ambiental nas cidades da Amazônia.
2. Revisão de literatura
2.1 Agricultura urbana: conceitos fundamentais
A abordagem acerca da temática “agricultura urbana”, ou “agricultura urbana e periurbana”,
ou ainda “agricultura intra e periurbana” é mais recente, embora a prática remonte a antiguidade. No
cenário internacional, o conceito passou a ser difundido a partir da década de 1980 com o Programa
das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (Unhabitat) (GOMES, 2016).
Os principais elementos de definição da agricultura urbana são pautados nos tipos de
atividades econômicas desenvolvidas, nas categorias e subcategorias dos produtos, nas características
locacionais e nas modalidades em que é praticada (BATITUCCI et al., 2019). Deste modo, uma
definição bem disseminada do termo é referida pelos autores Madaleno (2002) e Santandreu e Lovo
(2007), como sendo um conjunto de práticas e atividades para a geração de produtos agrícolas, sejam
de origem animal ou vegetal para fins alimentares, além de outras espécies com utilidade e interesse
para o ser humano, destinados ao autoconsumo, as trocas, doações e a comercialização, a partir dos
quais tem-se ainda a possibilidade de utilização de recursos e insumos locais de forma eficiente e
sustentável, como os resíduos sólidos e as águas residuais, resultantes das atividades executadas no
cotidiano das populações dos centros urbanos e áreas periféricas adjacentes (FRÓES JÚNIOR, 2020).
Wandscheer e Medeiros (2017), criaram um quadro síntese no qual apresentam as principais
terminologias utilizadas para determinar a agricultura urbana de acordo com as territorialidades,
importantes para melhor compreensão das dimensões (Quadro 1).
Quadro 1. Denominações atribuídas à terminologia agricultura urbana.
FORMAS DE
TERMINOLOGIA
DENOMINAÇÃO
Conceito que abarca a produção agrícola nos limites do espaço urbano, de caráter e dinâmica
multidimensional, podendo envolver produção, transformação. Distingue-se das atividades
Agricultura
urbanas comuns, mas abarca diversidades de uma série de outras atuações citadinas, vincula
urbana
potenciais de comercialização e articulação entre locais e localidades próximas. Porém,
conserva consigo (transformando, adaptando e (re) criando o processo produtivo) a
124
centralidade no alimento, este mais comum ao campo, porém não ausente no urbano, ainda
que com maiores dificuldades no tocante à área. Pode ser desenvolvida em caráter individual,
familiar ou comunitário e não costuma empregar mão de obra remunerada, de forma que,
quando o faz, se dá em pequenas quantidades. Além disso, costuma utilizar pouco maquinário
e tecnologia em sua produção, sendo a mesma voltada a demandas do mercado ou
autoconsumo, neste último caso, sendo empregada comumente em comunidades pobres.
Costuma estar relacionada a temáticas como segurança alimentar, sustentabilidade e
planejamento, estando articulada com questões da gestão e planejamento do espaço urbano.
Termo empregado com a mesma finalidade do anterior, porém incorpora o termo “Periurbana”
ao final. Assim como o termo anterior, contempla a produção agrícola nas limitações urbanas,
Agricultura porém, distingue áreas dentro do espaço urbano, e, sobretudo em cidades maiores, induzindo
urbana e a conclusões que perfazem destinos mais periféricos aos locais com proeminência de maiores
Periurbana produções. Para aqueles que incorporam análises com pequenas hortas parece haver maior
significância tal substantivação, do contrário muito pouco altera o sentido da denominação
anterior. É o termo mais empregado em projetos e ações de políticas públicas.
Este termo costuma estar intimamente ligado a discussões acerca das relações campo-cidade,
Urbanidades no
bem como às inserções do urbano no rural e vice-versa. Em torno de tal definição, a atividade
Rural ou
agrícola na(s) cidade(s), seus impactos e implicações acabam tornando-se fatores no entorno
Ruralidades no
da problemática central, mesmo quando tratada com relevância, não costuma definir-se como
Urbano
abordagem fundamental do(s) autor(es).
A atividade costuma dirigir-se a produtores de baixa renda, atuando de forma a buscar em
espaços limitados, melhorias alimentares que se materializam praticamente em alimentos,
salvo algumas exceções. Tal iniciativa possibilita maior possibilidade de sucesso, uma vez
que agrupados, os produtores passam a ter mais (e melhor) acesso a insumos, créditos e outros
serviços de assessoramento e capacitação que podem auxiliá-los. Contudo, costumeiramente
Hortas acabam por organizarem-se em grupos de forma a articular necessidades e objetivos em
Comunitárias comum, e não puramente a articulação em prol de benefícios conjuntos, relação advinda de
sua(s) articulação(ões). Mesmo diante de tal realidade, a utilização do termo “horta” acaba
por fazer-se diante de cenários nos quais a produção apresenta limitações, sobretudo de área,
permanecendo muito mais por quesitos voltados a deficiências locais do que pela ênfase em
potenciais futuros, portanto, um tanto quanto disperso de abordagens que tenham em foco
questões que norteiam a questão econômica.
Hortas Denomina o fenômeno idêntico ao anterior, porém sem o caráter coletivo.
Utilizado para toda e qualquer produção agrícola, costumando compreender a produção e sua
Urbano Agrícola
implicação na esfera em que se encontra situada. Portanto, aparece de forma mais sucinta em
ou Agropecuário
termos de abrangência da totalidade.
Abordagem envolvendo características socioeconômicas, ambientais e por vezes culturais,
Rural Agrícola no
onde permanecem práticas anteriores, porém, atualmente situadas em espaços urbanos, logo,
Urbano
tratando-se de práticas de Agricultura urbana.
Fonte: Wandscheer e Medeiros (2017).
Deste modo, observa-se a multidimensionalidade do tema.
125
venda de sua produção (ALVES; MOURA; SCHULTZ, 2019). Ainda, no contexto de alterações
emergenciais como conflitos, epidemias ou mudanças drásticas, a agricultura urbana vem sendo
apontada como uma via possível de evitar o desabastecimento das cidades, como no caso da pandemia
global pelo vírus Sars-Cov-2, no que os aspectos de acesso aos alimentos, principalmente os
considerados saudáveis como frutas e verduras frescas, foram associados como condição para
manutenção ou mesmo aumento saúde, logo, da imunidade (LIMA, 2020).
Para a economia, a agricultura urbana tem extremo potencial para a geração de renda para as
famílias e o melhoramento da economia a nível local, especialmente dos municípios. Pois, além de
ser fonte de alimento mais saudável, colabora para minimizar os impactos negativos dos salários
variáveis ou dos preços dos alimentos de acordo com a sazonalidade, fortalecendo a base econômica,
a partir do fomento de empreendimentos e do trabalho para populações mais carentes (FERNANDES,
2014; POULSEN et al., 2015). Ademais, embora haja uma grande diversidade de pessoas que
praticam a agricultura nas cidades brasileiras, nota-se participação mais efetiva de camponeses que
migraram para as cidades e continuaram suas atividades agrícolas, assim como, de famílias de
agricultores em que os espaços em que viviam foram englobados pela urbanização e, portanto,
permaneceram desenvolvendo suas atividades agrícolas (MATOS et al., 2015; ALVES; MOURA;
SCHULTZ, 2019).
A agricultura urbana tem demonstrado ainda seu potencial como meio de inclusão social, visto
que, as iniciativas dos indivíduos e os saberes locais passam a ser valorizados, bem como, elemento
de empoderamento feminino ao conceder benefícios distintos às mulheres, que muitas vezes
enfrentam restrições de emprego maiores que os homens em áreas urbanas de países de baixa renda
(COUTINHO; COSTA, 2011; POULSEN et al., 2015; ALVES; MOURA; SCHULTZ, 2019).
urbana com fins a combater a pobreza, melhorar a segurança alimentar e nutricional, conservar o
meio ambiente, além de contribuir para o aumento da renda (MELO, 2016).
3. METODOLOGIA
O procedimento metodológico adotado para o alcance dos objetivos desta pesquisa privilegiou
a revisão de literatura, que segundo Prodanov e Freitas (2013), caracteriza-se por aquela em que as
buscas se baseiam em materiais já publicados, a exemplo de revistas, livros, artigos científicos,
internet, jornais, boletins, monografias, entre outros, que objetivam deixar o pesquisador em contato
direto com o material já existente sobre o assunto da pesquisa (PRODANOV; FREITAS, 2013).
Após o levantamento bibliográfico, sistematizou-se graficamente os principais resultados
encontrados acerca do tema “agricultura urbana”, priorizando publicações mais recentes e
consolidadas, através da análise dos resumos de cada artigo e com o auxílio do software IRAMUTEQ.
Este software permite fazer análises textuais sobre corpus textuais e sobre tabelas
indivíduos/palavras, a partir de tratamentos estatísticos onde o grau de coocorrência entre as palavras
é representado como distâncias no espaço (IRAMUTEQ, 2016; CORRÊA et al., 2020).
129
Modelo teórico
Sistematização gráfica com o
software IRAMUTEQ
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Análise geral dos resumos
A partir da análise de coocorrência, é possível perceber que o conteúdo dos resumos foi
separado em 12 agrupamentos distintos que giram em torno dos termos “urbano” (amarelo) e
“agricultura” (verde), sendo 10 relacionados ao primeiro e dois ao segundo termo. O tamanho dos
vértices coloridos é proporcional à frequência das palavras e as arestas indicam a força da
coocorrência entre as palavras (IRAMUTEQ, 2016). Nota-se então, que no agrupamento amarelo as
palavras que mais se destacam com o “urbano” são segurança alimentar, ecossistema, social, cidade,
público, renda, político e inclusão, já com “agricultura” tem-se sustentabilidade, orgânico, alimento
e estudo (Figura 2).
130
Figura 2. Principais palavras presentes nos resumos dos artigos relacionados a temática agricultura urbana, agrupados
por meio da análise de coocorrência.
Fonte: Elaboração própria.
dióxido de carbono (CO2), pela diminuição das distâncias entre o produtor e o consumidor. Lucena e
Massuia (2021) analisaram o papel da moderna agricultura urbana de Singapura para a redução das
emissões de CO2, referindo que a redução da importação de alimentos pelo país, que deve ser reduzida
a 5% até 2050, reduzirá significativamente as emissões CO2 na logística da cadeia de suprimentos,
com base em estimativas passadas, e tornará o país referência em sustentabilidade com um modelo
de soberania e segurança alimentar mais eficientes (LUCENA; MASSUIA, 2021).
Já no subagrupamento alimentar, percebe-se o relacionamento da produção sustentável com a
segurança alimentar e nutricional, principalmente. Curan e Marques (2021) destacam que a produção
de alimentos descentralizados pode resultar em uma dieta rica em nutrientes com base nos mercados
locais e que a agricultura urbana tem grande potencial para garantir segurança alimentar e nutricional
das populações urbanas, especialmente se forem praticadas nas periferias (CURAN; MARQUES,
2021).
Outro importante subagrupamento referente ao “urbano” está relacionado a geração de renda
impulsionada pela agricultura urbana, pois, esta atividade pode ser considerada como a segunda ou a
terceira maior fonte de renda para populações urbanas mais vulneráveis economicamente, ao passo
que, a redução de gastos com alimentação ocorre a medida que produzem para o autoconsumo, além
da geração de renda pela comercialização do excedente produzido, bem como, há a geração de
empregos ao longo de toda a cadeia produtiva para a população local (MOUGEOT, 2005; CURAN;
MARQUES, 2021). Vale ressaltar ainda, que grupos em situação de vulnerabilidade social também
são beneficiados com a possibilidade de obtenção de renda, como contido no informativo da FAO
(2012), a partir de dados que dão conta de que jovens que antes cometiam delitos, como roubos,
passaram a ganhar a vida de maneira decente cultivando e vendendo hortaliças nas comunidades em
que estão inseridos nos mais variados países em que a prática é adotada (FAO, 2012).
Para o agrupamento “agricultura”, destaca-se o subagrupamento alimento em que estão
inseridos os termos restaurante e produção, isso aponta para o potencial da agricultura urbana para
que os estabelecimentos comerciais ou empresas alimentícias possam se tornar mais competitivas no
mercado ao cultivar seus próprios alimentos, constituindo uma ferramenta de construção da imagem
do estabelecimento, assim como, funciona como estratégia de diferenciação já que esta prática foge
ao modo tradicional da cadeia de suprimentos (SPECHT; SIEBERT, 2014; VAN DER SCHANS et
al., 2016; FUZINATTO; SANTOS JÚNIOR, 2019).
Para a “agricultura”, além dos termos bastante referenciados como a sustentabilidade na
promoção de cidades mais verdes e sustentáveis, manutenção do clima e demais serviços
ecossistêmicos, ressalta-se o termo “saber” associado a agricultura. Ranieri e Zanirato (2018) relatam
que o cultivo de quintais urbanos, a exemplo, são importantes elementos para a conservação de
132
saberes e práticas culturais, pois, a agricultura urbana envolve trocas e manutenção de conhecimentos
botânicos tradicionais e não tradicionais, e é disseminado no ambiente urbano de forma oral e também
através dos meios de comunicação (HURELL, 2014; RANIERI; ZANIRATO, 2021).
No contexto da região amazônica, a conservação dos saberes tradicionais e consequente
manutenção da biodiversidade são ainda mais importantes, visto que, na Amazônia há uma série de
espécies que ainda não foram identificadas ou registrados seus usos tradicionais (OLIVEIRA et al.,
2007). As populações tradicionais, com base nos conhecimentos repassados pelos seus antepassados
ao longo de décadas, são as principais responsáveis por cultivar e utilizar, principalmente, as plantas
medicinais para uso terapêutico, pois, na maioria das vezes é o único recurso disponível para o
tratamento de doenças devido as longas distâncias dos pontos de atendimento de saúde e por questões
econômicas também (SANTOS et al., 2019).
partir da exposição de técnicas de produção agrícola e noções de legislação ambiental, que deverão
ser cumpridas e respeitadas ao longo de todo o processo produtivo.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O levantamento bibliográfico demonstrou que a agricultura urbana pode ser praticada em
qualquer ambiente disponível para cultivo, como é o caso dos quintais urbanos, topo de prédios e
residências. As práticas são as mais diversas ao redor do mundo e pelo país, desde o cultivo de plantas
alimentares, medicinais, ornamentais, aromáticas, até a criação de pequenos animais, seja para
autoconsumo ou mesmo para comercialização, possibilitando geração de renda, segurança alimentar
e nutricional e melhoramento da qualidade ambiental.
Quanto a sustentabilidade das cidades, a agricultura urbana cumpre o seu papel nas dimensões
social, pois possibilita inserir em suas práticas grupos em situação de vulnerabilidade, além do
potencial demonstrado para inclusão social e empoderamento feminino. Na dimensão econômica,
proporciona a geração de empregos e renda para as famílias especialmente as que residem nas
periferias dos centros urbanos. Enquanto na dimensão ambiental, os benefícios podem ser alcançados
pela redução de gases do efeito estufa para a atmosfera, aumento dos cinturões verdes,
reaproveitamento de resíduos orgânicos além de outras vantagens ecossistêmicas.
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138
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
O consumo regula de frutas na dieta torna-se uma estratégia saudável, seu consumo regular
pode ajudar a proteger a má nutrição em todas as suas formas, bem como doenças crônicas não
transmissíveis entre elas diabetes, doenças cardiovasculares, AVC e câncer. De acordo com a World
Health Organization é recomendado a ingestão de 400g de frutas e vegetais por dia para evitar a
ocorrência de doenças crônicas e a deficiência de micronutrientes (WHO, 2021).
Frutas sazonais não estão disponíveis durante o ano inteiro tanto para consumo como para
armazenamento a longo prazo, dificultado pelo seu teor de água e a dificuldade de instalações
frigoríficas em países subdesenvolvidos. Acarretando perda de produção frutíferas e subnutrição de
populações pobres. Uma estratégia de conservação, seria a secagem de frutas através da liofilização
que permitiria o consumo a longo prazo, facilidade de armazenamento e transporte (BHATA et al.,
2020).
1
Licenciatura em Biologia e Química pela Universidade Federal do Oeste do Pará (2018); Mestranda do Programa de
Pós-Graduação em Recursos Naturais da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (2021). / E-mail:
mary.elanne@gmail.com
2
Doutora em Ciências Agrárias com área de concentração em Sistemas Agroflorestais pela Universidade Federal Rural
da Amazônia (2005), Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da
Amazônia/UFOPA.
141
Este trabalho, buscar estabelecer caminhos na valorização das frutas Amazônicas, através da
ampliação de informações disponíveis, sobre espécies nativas e da promoção do uso sustentável desse
recurso, agregando valor através do processo de liofilização, pautando no desenvolvimento
econômico das comunidades extrativistas.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Ambiente
A extensão territorial, o solo e o clima predominante nos domínios biogeográficos brasileiros
contribuem para uma ampla diversificação da flora, da fauna e dos microrganismos. O Brasil é
detentor da maior diversidade de plantas angiospermas do mundo, podendo ultrapassar 55.000
espécies. Segundo World Wide Fund for Nature (WWF) o Brasil é um dos cinco países considerados
“país mega diverso” do mundo, reconhecido pela sua diversidade faunística e florística. As
angiospermas da Amazônia brasileira podem chegar à 12.848 espécies listadas segundo Forzza et al.
(2010). Além disso, o país engloba os biomas mais ricos do planeta em espécies vegetais, Mata
Atlântica, Cerrado e Amazônia (Mittermeier, 1988).
Na última década a busca pela diversificação de sabores tem explorado o cultivo de frutas que
são desconhecidas pelo grande público. Para Carvalho (2012) a Amazônia é um grande centro de
diversificação de frutas nela encontram-se muitas espécies de frutas que na época do Brasil colônia
eram importantes e que hoje são categorizadas como “novas frutas”, ‘’frutas raras”. “frutas potenciais
ou “frutas do futuro.
A Amazônia é rica em espécies frutíferas comestíveis, essas frutas nativas tem grande
aceitação in natura ou através de produtos processados. Algumas espécies de frutas dessa região
possuem mercado sólido como é o caso do açaí (Euterpe oleracea), fruta nativa de maior consumo
143
na Amazônia. A polpa do açaí tem consistência pastosa e coloração violácea, chamada comumente
de vinho de açaí ou simplesmente açaí. O maior produtor de açaí é o estado do Pará, que responde
por cerca de 95% da produção nacional, está fruta possui mercado consolidado no Brasil. O açaí está
entre as 10 frutas mais consumidas no Brasil, ficando em sétima colocação, podendo ser considerado
uma fruta do futuro, pois produtos oriundos do açaí estão presentes nos cinco continentes, através de
polpas, sucos, sorvetes, geleias e licor (CARVALHO, 2012).
Entre outras espécies de frutas nativas da Amazônia com potencial produtivo e interesse
econômico, consideradas de futuro promissor são:
2.2.1 Bacuri
O bacurizeiro é uma árvore frondosa com tronco alto e grosso, podendo chegar a 40 metros
de altura por 2 metros de diâmetro. Essa planta também é utilizada como medicinal, pois de suas
sementes são retirados óleos utilizados como anti-inflamatório e cicatrizante. No passado, essa
espécie foi explorada por ter uma madeira resistente para a construção de casas e embarcações, ela
não era vista como uma espécie frutífera (JACOMMINO et al., 2018; NASCIMENTO et al., 2017)
O fruto tem em média 10 cm apresenta coloração amarela e formato redondo e casca grossa
dura, a casca compõem a maior parte da fruta. A polpa dessa fruta é branca com sabor cítrico e aroma
forte. A parte comestível do bacuri é usada in natura, bem como, em sucos, sorvetes, geleias, doces,
licores. O bacuri é rico em compostos bioativos, como ácido cítrico, ácido p-cumárico e terpenos.
Além de disso, possui açúcares como a glicose, frutose e sacarose, vitaminas C e D e metais (Na, K,
Ca, Mg, P, Fe, Zn e Cu). Essas características tornam o bacuri um fruto de potencial importância
econômica (MENDES et al., 2021).
Myrciaria dubia conhecida comumente como camu camu, caçari, araça d’água, guayavo,
guayabito é um arbusto de baixo crescimento, alcançando de 1 a 3 metros de comprimento, cresce
em áreas de planícies inundadas amazônicas e vegetação ribeirinha. Sua distribuição está desde
planícies amazônica do Brasil, Colômbia, Bolívia, Equador e Peru. O fruto camu camu mede de 1 a
3,2 cm de diâmetro, possui formato globular, com coloração marrom ou roxo escuro, casca fina e
brilhante com polpa rosa suculenta e extremamente ácida, com uma a quatro sementes. (MORAIS;
PINHEIRO, 2018; JACOMMINO et al., 2018).
O fruto é consumido in natura pelos povos indígenas e ribeirinhos, devido seu gosto ácido
elevado, é geralmente mais aceitado através de sucos, sorvetes e doces. O camu camu é
extraordinariamente rico em vitamina C, esta propriedade tem sido investigada para possíveis
mercados internacionais. É composta também por compostos fenólicos, como o flavonol, ácidos
galáticos e elágios, taninos hidrolisados, flavonoides entre outros (LANGLEY et al., 2015). Segundo
Azevedo et al., 2014 suco de camu camu tem efeito antigenotóxico em tratamentos subagudos e
crônicos em células sanguíneas de mamíferos. Atividades in vitro realizadas por Fujito et al. (2013),
relatam que a polpa desse fruto tem efeitos de proteção contra o diabetes tipo II, além de possuir
atividades anti-hipertensiva, antimicrobiana e rejuvenescimento celular.
2.2.3 Cupuaçu
O cupuaçuzeiro, espécie nativa da Amazônia é considerada uma fruta tropical promissora.
Possui origem pré-colombiana que teve sua domesticação iniciada pelos índios, os quais espalharam
as sementes por todos os estados do norte do Brasil, porém sua produtividade sobressai no estado do
Pará com 12.996 hectares e do Amazonas com 5.775 ha de áreas plantadas. É uma planta perene que
em condições naturais pode chegar até 25 metros, em áreas cultivadas a altura varia entre 6 e 10
metros. O cupuaçuzeiro é predominante em solos de terra firme e várzea alta. Quando cultivado
desenvolve-se em clima semelhante ao da floresta tropical da Amazônia, como Bahia e Espírito
Santo, estados produtores de cacau (Theobroma cacao) (ROGEZ et al., 2004).
O fruto é uma baga drupácea, com a casca rígida lenhosa, recoberta com um indumento de
coloração ferrugínea, quando maduro desprende-se da árvore deixando seu pedúnculo, possui cheiro
agradável e característico da espécie. O fruto apresenta formato variado, podendo ser oblonga ou
elipsóidea tendo as extremidades redondas ou obtusas, seu tamanho varia de 12 a 25 cm de
comprimento por 10 a 12 cm de diâmetro, pesando entre 200 a 4000 g. Apenas a casca deste fruto
possui o peso em média de 1200 g (epicarpo e mesocarpo). A polpa tem coloração branca, as sementes
ficam aderidas firmemente a polpa por fibras, são de 15 a 50 sementes. A polpa possui sabor ácido
adocicado, porém agradável e cheiro intenso característico (Embrapa, 1999).
145
O fruto é apreciado pela população nortista, onde é consumida através de polpa congelada,
sorvetes, doces caseiros, bolos, mousse, creme, geléia, licores. Seus principais componentes químicos
que contribuem para o sabor floral do cupuaçu são, lilanol, a- terpinol, 2- feniletanol, mirceno e
limoneno, dios, metoxi-2,5-dimetil-3 (OLIVEIRA; GENOVESE, 2013). Segundo Carvalho (2012)
são mais de 20.000 hectares plantados na Amazônia brasileira, com produção em torno de 55.000
toneladas do fruto, o que compreende 17.000 toneladas da polpa. A polpa é exportada em pequena
escala para o Japão e Estados Unidos, onde é consumida através de mix de frutas da Amazônia como
açaí e guaraná.
2.2.4 Pupunha
A pupunheira é uma espécie de palmeira com prováveis áreas de origem em florestas do Peru,
Equador, Bolívia. Sua maior ocorrência é na Amazônia, principalmente na parte ocidental, próximo
aos rios da região. Essa Aracaceae se caracteriza pelo alto porte, podendo chegar de 12 a 20 metros
de altura, o caule possui de 15 a 20 cm, apresenta entre nós curtos e algumas variedades apresentam
estirpe recoberto por espinhos de 5 a 20 cm. O fruto cresce em grandes cachos, cada cacho produz de
50 a 1000 unidades, os frutos são drupas de formatos que variam entre globoso, ovoide ou elipsoide,
quando maduros possuem o epicarpo de colorações que variam entre amarela, laranja, vermelha e
verde, pesam entre 10 a 250g. O mesocarpo varia de amiláceo a oleoso, o endocarpo envolve um
endosperma fibroso e oleoso (TRACZ, 2004; CARVALHO et al., 2013).
Tradicionalmente, a forma de utilização para consumo dos frutos da B. gasipaes são cozidos
com água e sal por 30 a 50 minutos, quando cozido, este possui sabor suave, textura macia com fibras.
Tipicamente esse fruto é consumido com café, aperitivo ou acompanhamento de prato principal. Além
do fruto e palmito como alimentos, aproveitam-se as folhas e estirpe para a confecção de artesanatos
e telhados e da semente retira-se o óleo (CLEMENT, 2000). Conforme analisado por Santos et al.
(2015) a pupunha possui carotenoides, antocianinas, polifenóis, flavonoides amarelos, capacidade
antioxidante, além de ser rica em carboidratos, proteínas e fibras.
Para a liofilização de alimentos é necessário que haja previamente seu congelamento, a fim
de transformar as soluções aquosas em uma mistura de suas fases, sendo uma constituída de cristais
de gelo e a outra pela solução concentrada dos solutos. Nesse processo, primeiramente a água é
removida por sublimação que ocorre sob vácuo e congelamento decrescente, posteriormente ocorre a
desidratação por dessorção. A secagem de frutas evita o desperdício e perdas após colheita, com o
crescimento do mercado de frutas nacional e internacional, a facilidade de adquirir produtos prontos
para consumo com valor nutricional alto e ampliar a disponibilidade de frutas sazonais através de
frutas liofilizadas são soluções capazes de suprir a demanda durante o ano todo, não só na safra, sendo
possível pelas técnicas de conservação de alimentos (BHATTA et al., 2020).
A Bioeconomia tem enfoque principal em ser uma ferramenta para responder a grandes
desafios, como desacelerar as mudanças climáticas, garantir alimentação saudável e justa para
população em crescimento, reduzir o uso de combustíveis fósseis, reduzir o tempo de decomposição
dos resíduos sólidos.
ofereçam saúde e bem-estar do consumidor. Todavia, muitos fatores podem atrasar a inserção de um
produto bioeconomico no mercado, condições legislativas, propriedades intelectuais, recursos
humanos, aceitação social, estrutura de mercado e modelos de negócios (HERNÁNDEZ;
CÉSPEDES, 2020).
compreendem uma área de 24.925.910 hectares, representando 4,8 % da Amazônia legal, 19% das
Unidades de Conservação 8% das florestas da região, abrigando 1.500.000 pessoas.
3. OBJETIVOS
3.1 Geral:
Realizar revisão da literatura sobre o processo de liofilização como uma técnica de
conservação de frutas nativas da Amazônia.
3.2 Específicos:
• Averiguar os aspectos de liofilização da polpa de açaí (E. oleracea);
• Pesquisar acerca da liofilização do fruto bacuri (P. insignis);
• Verificar a viabilidade da liofilização do fruto camu-camu (M. dubia);
• Investigar o potencial de liofilização do cupuaçu (T. grandiflorum);
• Produzir uma cartilha sobre liofilização de frutas, para populações extrativistas.
• Construir um mapa mental acerca da liofilização de frutas nativas da Amazônia.
4. METODOLOGIA
4.1 Modelo Teórico
O folheto te foi confeccionada no Word com imagens ilustrativas do processo de liofilização
de frutas, nela contém as principais fases do processo com linguagem simples. O público-alvo do
modelo teórico são populações que residem em comunidades amazônicas e que cultivam frutas
nativas da Amazônia, através da agricultura familiar. O folheto é simples e ilustrativo, o que permitirá
expandir também essa pesquisa para a sociedade de forma geral.
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A liofilização é uma técnica conhecida para a produção de alimentos em pó e sólidos, no qual
mantém a qualidade do conteúdo nutricional. É um dos métodos mais escolhidos para secar alimentos
termicamente sensíveis e sujeitos à oxidação, pois opera em baixas temperaturas e sob vácuo
149
(PROSAFIO; QUEIROGA, 2020). A utilização da liofilização para secar frutas como açaí, bacuri,
camu-camu, cupuaçu, pupunha não forma relatadas na literatura. Entretanto, existem diversas
pesquisas que confirmam o potencial dessas frutas (LEITE et al., 2018; CEDRIM et al., 2018;
CARVALHO et al., 2003; HIANE et al., 2003; SOUSA et al., 2011; RIBEIRO et al., 2016; NEVES
et al., 2012; SANTOS et al., 2017).
Para divulgar este trabalho foi construído um folheto (figura 1) em formato digital, como
objetivo de mediar conhecimentos através de linguagem simples e ilustrativa. O folheto pode ser
utilizado para explicar de forma rápida a principal ideia do processo de liofilização. O modelo teórico
construído serve também para estimular o extrativismo sustentável de frutas nativas da região
amazônica.
Frutas tropicais são ricas em compostos bioativos e fontes naturais de antioxidantes. Controlar
os agentes oxidantes das frutas como ácido ascórbico, Beta carotenos e fenólicos, reduz a oxidação.
Oxidantes naturais desempenham funções terapêuticas e preventivos contra o câncer
inflamações, envelhecimento. Alimentar-se diariamente com frutas tropicais auxilia a manter uma
boa saúde (ALENCAR, 2020; PERINI et al., 2018).
150
A composição nutricional pode ser afetada pelos processos de pós-colheita como secagem,
corte, armazenamento, embalagem, fermentação e cozimento. A qualidade dos alimentos pode ser
dividida em três aspectos: física, química e nutricional, as principais qualidade que podem ser
afetadas durante o processo de secagem são: cor, odor e textura, propriedades de reidratação, retenção
de nutrientes e compostos voláteis (SHOFIAN et al., 2011).
Diante disso, a liofilização por retardar a oxidação de lipídeos, manter os componentes
nutricionais dos alimentos, prolongar a validade do prazo dos alimentos para fins de comercialização
em supermercados e evitar crescimento microbiano é considerado o método mais adequado em
termos de secagem padrão ou para referencias dos estudos em pesquisa. Apesar do longo tempo de
secagem e do processo ser caro, a liofilização de frutas é a melhor escolha a fim de se manter os
biocompostos (LÓPEZ-LLUCH et al., 2020). A tabela síntese está representada pelas principais
referências usadas nesta pesquisa sobre frutas nativas da Amazônia.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho pode vir a ser de interesse para a indústria de alimentos ou para o Ministério do
Meio Ambiente que pode incluir essas espécies de frutos na próxima inciativa de “Plantas para o
futuro” - região Amazônica, como uma alternativa para assistir as comunidades amazônicas que
cultivam diversas espécies frutíferas com potencial econômico.
A liofilização apesar ser um processo caro e necessitar de tempo para a secagem das frutas, é
amplamente usado para desidratar diversos tipos de comidas, pois garante qualidade nutricional e
validade prolongada, seria uma alternativa para aproveitar os frutos de espécies sazonais, como
cupuaçu, camu camu, bacuri e pupunha.
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156
CAPÍTULO XI- Criação de traíra em tanques redes: uma espécie com potencial à
bioeconomia local.
Melquiades de Oliveira Costa1
Patricia Chaves de Oliveira2
RESUMO
Diversos corpos d’água compões a bacia amazônica, sendo assim, devido a sua geologia e
propriedades físicas, químicas e biológicas, é considerada o maior sistema fluvial no mundo. A
diversidade desses sistemas favorece a especiação da mais diversa ictiofauna no mundo, representada
por 2.257 espécies, sendo 1.248 endêmicas, representando 15% dos peixes de água doce conhecidos.
A pesca, uma das atividades humanas mais importantes na Amazônia. Sua prática está relacionada
tradicionalmente, às populações ribeirinhas como um complemento à outras atividades econômicas e
de subsistência. Hoplias malabaricus é uma espécie de peixe de água doce conhecida popularmente
como traíra, tem uma notável distribuição sendo encontrada em toda parte continental brasileira sendo
que em algumas regiões este tipo de peixe é bastante apreciado para o consumo, principalmente no
Sul do Brasil. Entre as várias tecnologias disponíveis para o cultivo de peixes, a criação em tanques-
rede dispensa altos investimentos iniciais, podendo ser implantada em diversos corpos de água. Este
trabalho tem por objetivo geral realizar uma revisão bibliográfica sobre a pesca, os tipos de criação
de peixes na região amazônica e suas influências econômicas e ambientais nas comunidades, bem
como propor a criação com modelos já existente para uma espécie diferente das convencionais para
a região. Considerando o aumento populacional e a diminuição dos estoques alimentares naturais, a
criação de peixes é uma excelente alternativa para garantir fornecimento de alimento saudável com
pouco custo de produção, quando comparado com a criação de gado. A utilização de um peixe nativo,
num modelo de criação como tanque-rede, pode garantir bons resultados, com baixo impactos
ambientais e podendo dar competitividade do produto em um mercado fora da região que aprecia este
produto, impactando diretamente na bioeconomia local.
1 INTRODUÇÃO
1.1 Diversidade ictiológica na Amazônia
1
Biólogo pela Universidade Federal do Pará (2013); Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais
da Amazônia da Universidade Federal do Oeste do Pará (2021). / E-mail: melquiades.costa@ufopa.edu.br
2
Doutora em Ciências Agrárias com área de concentração em Sistemas Agroflorestais pela Universidade Federal Rural
da Amazônia (2005), Professora Associada ao Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da
Amazônia/UFOPA.
157
Diversos corpos d’água compões a bacia amazônica, sendo assim, devido a sua geologia e
propriedades físicas, químicas e biológicas, é considerada o maior sistema fluvial no mundo. A
decomposição da matéria orgânica é resultado da associação dos fatores físico-químicos e a
microbiota presente nesses mananciais, o que influencia na classificação destas águas em branca,
clara e preta. Tal complexidade e diversidade desses sistemas favoreceram a especiação da mais
diversa ictiofauna no mundo, representada por 2.257 espécies, sendo 1.248 endêmicas, representando
15% dos peixes de água doce conhecidos (GERRY, 1984; SIOLI, 1984; SINGER, 1984;
MENEZES,1996; BARTHEM; FABRE, 2004; BUCKUP et al., 2007; REIS et al., 2016; TEDESCO
et al., 2017; ARANTES et al., 2019).
Dentre estes peixes, o grupo dos Ostariophysi é um dos mais diversos, formado por espécies
que possuem uma estrutura que liga a bexiga natatória ao sistema auditivo, amplificando a captação
das ondas sonoras subaquáticas: o “aparato Weberiano”. Os Ostariophysi se dividem em cinco ordens,
das quais três ocorrem em nosso país: Characiformes (lambaris, pacus, traíras, entre outros),
Gymnotiformes (ituí-cavalo, poraquê, sarapó e tuvira) e siluriformes (bagres e peixes-de-couro)
(PENTEADO, 2009).
Neste contexto destaca-se a pesca, uma das atividades humanas mais importantes na
Amazônia. Sua prática está relacionada tradicionalmente, às populações ribeirinhas como um
complemento à outras atividades econômicas e de subsistência, tais como caça, agricultura e
extrativismo. Para muitos ribeirinhos, pescar é uma ocupação permanente (BARTHEM; FABRÉ,
2004; SANTOS; SANTOS, 2005; COSTA et al., 2009; YOUN et al., 2014).
1.2 Caracterização da traíra
Hoplias malabaricus é uma espécie de peixe de água doce conhecida popularmente como
traíra, tem uma notável distribuição sendo encontrada em toda parte continental brasileira sendo que
em algumas regiões este tipo de peixe é bastante apreciado para o consumo, principalmente no Sul
do Brasil (TORRES et al., 2012). Possui grande valor biológico e alta digestibilidade, sendo umas
das principais fontes de proteína na alimentação humana. Mesmo assim, no Brasil, o consumo per
capita está abaixo do esperado em comparação aos dados mundiais. Isto acontece devido a uma série
de fatores, tais como motivos culturais, socioeconômicos, a falta de estabelecimentos especializados
na venda de pescado e, principalmente, pela má qualidade do produto encontrado em feiras livres e
entrepostos (FOGAÇA, 2009).
É um peixe bem adaptado a ambientes lênticos, todavia é encontrada em ambientes lóticos
como rios de pequeno e grande porte. É também uma espécie com baixa necessidade de oxigênio
para respiração, o que lhe permite sobreviver em ambientes com baixos níveis de oxigênio, sendo
158
este, dentre outros, um dos fatores que explicam sua grande capacidade de distribuição no Brasil.
(PENTEADO, 2009)
1.3 Importância econômica e nutricional
Segundo TORRES et al. 2012Os estoques de traíra encontrados na região sul são considerados
semimagros e de alto valor nutricional com elevados níveis de proteína, ácido palmítico e ácidos
graxos poliinsaturados, sendo reconhecidos pelos benefícios à saúde humana.
Essas características resultam em uma ótima aceitação da espécie pelo mercado consumidor,
o que acaba gerando uma grande demanda para a pesca artesanal e ainda, um interesse no domínio
das técnicas de produção, como a reprodução em cativeiro (QUEROL et al. 2003; SANTOS et al.
2001).
Um estudo realizado por PIEVE et al. (2009), aponta que pescadores artesanais da Lagoa
Mirim relataram que a traíra é considerada como um “cheque de ouro” referindo-se ao elevado valor
de comercialização e a grande procura pela espécie pelo mercado consumidor. Nessa lagoa, a traíra é
considerada unanimidade pelos pescadores sendo a espécie com maior importância comercial (PIEVE
et al. 2009) e também a mais utilizada no consumo das famílias de pescadores de diversas localidades
do estado (GARCEZ; SÁNCHEZ-BOTERO, 2005).
No Rio Grande do Sul, esse peixe é comercializado principalmente em forma de filé. Outras
formas de comercialização são: inteira, eviscerada, em forma de bolinhos de traíra ou ainda com a
retirada das bochechas. Nesse caso as bochechas são comercializadas separadamente, aumentando os
lucros sobre o produto (BENTO; BENVENUTI, 2008); (PIEVE et al., 2009); (TORRES et al., 2012).
de alimento e água de boa qualidade. Além disso, o sistema também oferece facilidades no que se
refere ao manejo diário e a despesca.
A criação de peixes em tanques-rede é considerada do tipo intensivo, considerando o grau de
tecnologia empregado, a elevada densidade de espécimes utilizada e o manejo alimentar, que precisa
ser feito necessariamente com ração balanceada para que assim seja atendido às necessidades
nutricionais da espécie a ser cultivadas (EMBRAPA, 2009).
Neste contexto, este trabalho tem por objetivo geral realizar uma revisão bibliográfica sobre
a pesca, os tipos de criação de peixes na região amazônica e suas influências econômicas e ambientais
nas comunidades, bem como propor a criação com modelos já existente para uma espécie diferente
das convencionais para a região, visando um mercado consumidor externo a região. Os objetivos
específicos são: fazer um levantamento bibliográfico sobre a pesca na região; fazer um levantamento
bibliográfico sobre modelos de criação, propor a criação de traíras em tanques rede para fins
comerciais.
2. METODOLOGIA
Para o levantamento bibliográfico sobre a temática será utilizada a metodologia de revisão
narrativa, onde os artigos e capítulos de livro serão analisados de acordo com a relevância do assunto
em questão, bem como para a proposta da inovação bioeconômica para a região.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A pesca artesanal tem um papel fundamento no sustento, na economia e na segurança
alimentar de muitas famílias em várias comunidades de pescadores em muitos lugares do mundo
(DIEGUES et al., 2000; SILVANO e BEGOSSI, 2005; CINNER et al., 2009; BEGOSSI et al., 2014),
além de ser a fonte de renda mais importante dos pescadores que trabalham nesta atividade
(DIEGUES, 1988; BEGOSSI et al., 2012).
Mesmo ocorrendo em uma pequena escala, a pesca artesanal pode ocasionar uma redução
significativa do estoque de peixes explorados (PINNEGAR e ENGELHARD, 2008; SILVANO,
2014). Há estudos que evidenciam a redução da abundância e da diversidade de peixes ocasionado
pela pesca em lagos de água doce no sudeste da Ásia (LORENZEN et al., 1998) e na Amazônia
peruana (GERSTNER et al., 2006). Todavia, ainda são escassos estudos sobre os impactos da pesca
artesanal em ambientes fluviais (SILVANO et al., 2009; SILVANO, 2014).
No Brasil, a atividade pesqueira artesanal enfrenta diversos problemas que afetam os
pescadores e os estoques pesqueiros (SILVANO, 2014). Estudos realizados em rios e lagos, tanto na
Amazônia como na região Sudeste, mostraram que os principais problemas da pesca artesanal em
ambientes fluviais são os impactos ambientais acarretados pelos represamentos de rios, os quais
160
afetam não só o sucesso reprodutivo de peixes migradores, como também alteram a composição da
ictiofauna destes ambientes (DE MÉRONA et al., 2001; AGOSTINHO et al., 2004).
Costa et al. (2009) caracteriza a pesca na Amazônia como atividade extrativista, condicionada
pela sazonalidade, consequentemente, de acordo com o nível da água dos rios, com uma produção
alta durante a seca e uma redução dela durante a cheia, tendo uma significativa influencia na
economia, cultura e sobrevivência das populações humanas. Dentre as 90 espécies de peixes
amazônicos que são importantes para o comércio e alimentação, 78% não são avaliadas pela Lista
Vermelha da IUCN (International Union for Conservation of Nature), ou seja, suas informações
biológicas são desconhecidas (BEGOSSI et al., 2017).
Ela se destaca no papel socioeconômico, quer como produtora de alimento, quer como
geradora de trabalho, renda e lazer para milhares de pessoas, tanto na zona rural quanto urbana. É por
meio dela que se explora o pescado para consumo e para o comércio de peixes ornamentais. (Santos,
2009)
Outrossim, o declínio dos recursos pesqueiros causados pela poluição, destruição de habitat,
sobrepesca e barragens aumentam a insegurança alimentar e econômica de comunidades ribeirinhas
dependentes da atividade pesqueira (BEGOSSI et al., 2017). Por conta disso, há um crescente
interesse pelo cultivo de organismos aquáticos, ocasionado pela dessa redução dos estoques naturais,
somada à isso, a necessidade de desenvolver atividades de baixo impacto ao meio ambiente e que
gerem renda ao produtor. (EMBRAPA, 2009)
Desta forma, a aquicultura trata da criação/cultivo de organismos com ciclo de vida
desenvolvido total ou parcialmente em meio aquático e é praticada há milhares de anos pelos chineses
e egípcios. A notável hidrografia somada a alta diversidade ictiológica faz do Brasil um dos poucos
países que tem condições de atender à expressiva demanda mundial por produtos de origem pesqueira,
principalmente por meio da aquicultura e, segundo a FAO, poderá se tornar um dos maiores
produtores do mundo até 2030, ano em que a produção pesqueira nacional teria condições de atingir
20 milhões de toneladas, segundo o extinto Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA (CODEVASF,
2019).
Entre as várias tecnologias disponíveis para o cultivo de peixes, temos a criação em tanques-
rede, que dispensa altos investimentos iniciais, podendo ser implantada em áreas alagadas formadas
por reservatórios de hidrelétricas, rios, áreas de garimpo, açudes e outras pequenas represas de uso
diverso (MEDEIROS; CHAGAS, 2002).
A traíra (Hoplias malabaricus), pertene à família Erythrinidae que inclui pelo menos 10
espécies distribuídas em três gêneros. É um peixe neotropical de água doce que pode ser encontrado
em toda parte continental brasileira, é amplamente distribuído em rios, barragens e lagos no RS, sendo
161
encontrado também em quase todas as bacias hidrográficas da América do Sul, com exceção dos
Andes e Patagônia. É uma espécie que possui alta adaptabilidade podendo ocupar de pequenos a
grandes rios, apesar de preferir ambientes lênticos, de águas rasas e próximos a vegetação submersa
(BIALETZKI et al. 2008; TORRES et al., 2012). Independentemente do seu curto do período de
desova, compreendendo em média de dois meses (entre setembro a outubro), esta espécie tem uma
vasta dispersão por conta da sua capacidade de adaptação, que pode ser explicada pela eficiência em
sobreviver em ecossistemas pouco oxigenados (BARBIERI, 1989).
É uma espécie de peixe ósseo que quando alevino, ou em estágio recém-saído do ovo,
alimenta-se basicamente de plâncton, posterior a essa fase ele passa a comer insetos e outros peixes
atingindo um nível de regime carnívoro (LOUREIRO; HAHN, 1996). Portanto, a Hoplias
malabaricus é ictiofágica, carnívora, se encontra no topo da cadeia alimentar e apresenta
comportamento agressivo. Possui características como boca ampla, dotada de dentes caniniformes
desiguais e fortes, seu corpo além de ser fusiforme pode atingir até 4 kg de peso e 60 cm de
comprimento, sendo que para a sua captura o tamanho mínimo é de 30 cm. Sua coloração varia de
parda escura à preta no dorso e nas laterais com o ventre branco (CHAVES et al., 2009).
De acordo com Santos e colaboradores (2009) na Amazônia a traíra tem uma importância
econômica insignificante, mas tem uma grande importância na pesca de subsistência, pois, além da
sua ampla distribuição, é facilmente capturada com anzol e linhada. No entanto, é a espécie de água
doce de maior interesse econômico para a pesca artesanal na região sul do Rio Grande do Sul,
servindo como subsistência para famílias da colônia Z3, Lagoa Mirim, Canal São Gonçalo e Santa
Izabel, como mostram estudos de BENTO; BENVENUTI (2008); MORATO-FERNADEZ et al.
(2009); PIEVE et al. (2009) e TORRES et al. (2012)
A determinação da composição química do pescado é importante porque é capaz de classificá-
lo de acordo com seus teores de água, lipídios, proteínas e minerais. Todas estas informações são
úteis para padronizar os produtos alimentares com base em sua composição centesimal, selecionar os
equipamentos corretos para sua aplicação tecnológica, é útil para acompanhar as mudanças na sua
composição química, seja para processos industriais como para fins de pesquisa e, principalmente,
fornecer as informações nutricionais para o aumento da aceitação deste alimento, assim é possível
divulgá-lo como uma fonte proteica alternativa as outras tão largamente consumidas, como as carnes
de gado, porco e ave (GONÇALVES, 2011).
As características químicas do pescado dependem diretamente de diversos aspectos como
ambiente, temperatura, salinidade, época e região de captura. Além disso, os fatores intrínsecos do
pescado também influenciam sua composição, entre estes se destacam, espécie, idade e estado
fisiológico do peixe (ORDÓÑEZ, 2005). Em geral, os principais componentes do pescado são água
162
(50-85%), proteína (12-24%) e lipídios (0,1-22%), os 2% restantes são constituídos por minerais (0,8-
2%), glicídios (0,1-3%) e vitaminas (OGAWA; MAIA, 1999). Como a composição é dependente da
espécie, Santos et al. (2000/2001) em um estudo determinaram a composição química do filé de traíra,
para este foram achados valores de 20,7% de proteína bruta, 0,84% de extrato etéreo, 1,39% de cinzas
e 77,71% de umidade.
A carne do pescado, que é sua porção comestível mais importante, é uma fonte de proteína
animal essencial consumido em diversas partes do mundo, constitui-se principalmente de tecido
muscular, tecido conectivo e gordura (ORDÓÑEZ, 2005). Segundo Santos e colaboradores
(2000/2001) a traíra é considerada um peixe magro, com teores altos de proteínas (> 20 %) e apesar
de conter muitas espinhas é um peixe muito requisitado pelo sabor de sua carne, o que garante a alta
aceitabilidade pelos consumidores, sendo vendido na forma de filé ou peixe inteiro.
Segundo EINHARDT (2013) por meio de levantamentos realizados em estudos, fica evidente
a importância comercial da traíra em todo o estado do Rio Grande do Sul, resultando no aumento da
pressão de pesca sobre os estoques desta espécie.
4. INOVAÇÃO
De acordo com o Manual de Criação de Peixes em tanques-rede, ambientes lênticos, como
reservatórios, representam lugares potencialmente aptos para se instalar o empreendimento,
especialmente quando possuem boa taxa de circulação/renovação de água. Além da constante
renovação de água, recomenda-se que o local tenha uma boa profundidade, de pelo menos uma vez a
altura do tanque-rede entre a parte inferior (fundo do tanque-rede) até o fundo do reservatório, ou
seja, tanques-rede de 2 metros de altura, o local deve ter pelo menos 4 metros de profundidade na sua
cota mínima (CODEVASF, 2019). Qualidade da água – A alta produtividade depende diretamente da
qualidade da água, que é determinada por variáveis físicas, químicas e biológicas: turbidez, pH,
florescimento de algas e salinidade. É importante considerar que os ecossistemas apresentam
diferenças no que diz respeito a essas variáveis, sendo os índices de produtividade regidos pela
interação entre elas. Aspectos geoclimáticos – São características do local de implantação, tais com
temperatura ambiente, regime de ventos, área total, correntes, fotoperíodo, substrato, profundidade e
intempéries ambientais (tempestades, etc.). Condições de ordem legal – São as normas vigentes para
implantação de piscicultura em tanques-rede, inerentes ao local pretendido. Dizem respeito à
possibilidade de se implantar os módulos de cultivo segundo a legislação local ou regional. Condições
estruturais – Estão associadas ao êxito comercial do empreendimento. Nesse sentido, deve ser
avaliado o acesso por terra aos tanques-rede, estrutura de apoio em terra (eletricidade, comunicação,
etc.), segurança, mercado para o produto, custos de implantação e financiamentos. (EMBRAPA,
2009).
163
Nesse contexto, é possível utilizar um igarapé ou um lago em nossa região por estes possuírem
estas características de forma natural. Ainda segundo o manual, ambientes lênticos, é comum a
ocorrência da estratificação térmica e química, ou seja, temperatura, oxigênio, gases e compostos
orgânicos e inorgânicos presentes na água podem apresentar distribuição heterogênea na coluna
d’água
A busca por espécies adequadas é um dos aspectos que mais incitam pesquisadores e
produtores, visto que a correta seleção de um peixe ou linhagem é o fator chave no sucesso de um
empreendimento. Para definir as espécies para cultivo, devem ser considerados: (a) fatores biológicos
(relacionados à espécie), (b) tecnologia de cultivo e (c) fatores econômicos (diretamente relacionados
à viabilidade financeira do empreendimento) (EMBRAPA, 2009). Partindo dessa premissa, a espécie
indicada neste trabalho é a Traíra (Hoplias malabaricus), visto que é uma espécie nativa, o que
significa que em caso de fuga do tanque-rede não traria impacto a fauna local, possui alta resistência
a adversidades ambientais. Embora não seja um peixe com boa aceitação comercial na região
amazônica, sendo utilizada basicamente na subsistência dos ribeirinhos, é uma espécie que tem boa
aceitação no mercado da região sul do Brasil, podendo esta agregar valor na cadeia produtiva com
licenciamento, utilização de ração de boa qualidade, construção de tanques sustentáveis com baixo
custo de produção, aproveitando produtos recicláveis e reutilizáveis, diminuindo assim a disparidade
monetária entre o pescado produzindo na comunidade e o produto final que chegará a mesa do
consumidor e estabelecendo assim um mercado justo (Fair Trade)
Para que se tenha uma boa renovação de água nos tanques-rede, é necessário que a corrente
de água passe de maneira perpendicular às instalações. Sendo assim, a posição dos tanques-rede nos
reservatórios vai depender do movimento das correntes de água. É importante que a água de um
tanque-rede não passe para um próximo, devido à consequente redução de sua qualidade, pelo
carreamento dos detritos e queda do oxigênio dissolvido. Geralmente os tanques-rede são
posicionados em linhas, podendo ser em uma única linha ou mais de uma. Quando for posicionar
mais de uma linha, sugere-se manter uma distância de 10 a 20 metros entre linhas. A distância
recomendada entre os tanques-rede é de uma a duas vezes o seu comprimento. Ou seja, se o tanque-
rede medir 2 metros de comprimento, a distância será de 2 a 4 metros entre os demais. (CODEVASF,
2019)
No que diz respeito a alimentação, considerando que a alimentação representa cerca de 70 %
dos custos de produção, é fundamental que a espécie escolhida tenha um bom índice de conversão
alimentar. Para isso, é recomendável o uso de rações balanceadas, adequadas às exigências
nutricionais da espécie cultivada, assim como a adoção de boas práticas de manejo alimentar
(EMBRAPA, 2009). A traíra, na fase larval, alimenta-se de plâncton (planctófaga) e quando adulta é
164
essencialmente uma predadora de peixes (ictiófaga), com baixa voracidade e grande resistência a
períodos de jejum (PENTEADO, 2009). Sendo assim, pode se iniciar alimentando as traíras em fase
inicial com ração para peixes onívoros, e na fase adulta ração para peixes carnívoros, conforme as
tabelas abaixo:
Fonte: https://www.snatural.com.br/aquicultura/producao-peixe-alimentacao-racao-peixe/
Fonte: https://www.snatural.com.br/aquicultura/producao-peixe-alimentacao-racao-peixe/
O alimento será dado aos peixes na gaiola e permanecerá flutuando na superfície da água até
ser comido pelos animais. Para evitar que seja arrastado e se perca em uma barragem, canal ou rio, o
tanque precisa ser equipado com uma estrutura chamada de alimentador.
165
Indicamos a ração extrusada, visto dois aspectos importantes, 1 – reduz a perda de ração pois
o ela não afunda, garantindo a disponibilidade do alimento por um tempo maior para o peixe e 2 – o
processo de extrusão garante um melhor aproveitamento da qualidade do alimento, garantindo assim
uma conversão alimentar mais eficiente
Desta forma, recomendamos tanques com formatos retangulares ou quadrados, com tamanho
de 2mx2m de área superficial e com profundidade que pode ser 1,20; 1,50; 1,70; e 2,00. Esta
profundidade deve ser adequada ao local onde o tanque será colocado. Estas medidas são indicadas
por sites especializados para espécies com despescas de até 1,5 kg, visto que devida a estas
características a despesca e o manuseio se torna mais fácil. Outra vantagem deste tamanho de tanque
é o fato dele poder ser transportado montado mais facilmente.
5. CONCLUSÃO
166
A utilização de um peixe nativo, num modelo de criação como tanque-rede, pode garantir
bons resultados, com baixo impactos ambientais e podendo dar competitividade do produto em um
mercado fora da região que aprecia este produto, agregando valor tornando o produto rentável ao
produtor com preço justo.
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