Produção de Concreto de Cimento Geopolimérico Com Substituição Parcial Do Metacaulim Por Escória de Alto Forno

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PRODUÇÃO DE CONCRETO DE CIMENTO GEOPOLIMÉRICO COM

SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DO METACAULIM POR ESCÓRIA DE


ALTO FORNO*
Ana Beatriz Rodrigues Porto1
Andrey Victor Lima Fanjas2
Marco Antonio Barbosa de Oliveira3
Sérgio Neves Monteiro4
Alisson Clay Rios da Silva5
Resumo
Os Geopolímeros são polímeros inorgânicos de uma nova classe de materiais que
apresentam características particulares, sendo reações de geopolimerização de vários
constituintes, como matérias-primas naturais de origem geológica contendo
aluminossilicatos. Neste trabalho, por meio de dosagem adaptada dos componentes, foi
desenvolvido o concreto de cimento geopolimérico (CCG), o qual foi comparado com o
concreto de cimento Portland (CCP), através da fixação da relação água/aglomerante. Para
a obtenção do metacaulim, houve a necessidade de calcinar o caulim em uma temperatura
de 850ºC por 2 horas e o resíduo utilizado foi Escória de Alto Forno como principal fonte de
Cálcio. Foram realizados estudos preliminares de argamassas geopoliméricas com 7 dias de
cura. O melhor percentual encontrado foi de 69% de areia em Argamassa. Este resultado
então foi aplicado para o estudo do Concreto de Cimento Geopolimérico, posteriormente
submetidos a ensaios de compressão na idade de 7 dias. Os resultados mostraram que o
CCG atingiu resistência à compressão média de 42 Mpa, se enquadrando na normativa de
Concreto de Alta resistência inicial e mostrando resultados similares ao do Concreto de
Cimento Portland. As superfícies de fratura foram analisadas por microscopia eletrônica de
varredura (MEV), a partir dos fragmentos retirados dos corpos-de-prova rompidos no ensaio
mecânico. As análises apresentaram a melhor aderência matriz/agregado no CCG em
comparação ao CCP.
Palavras-chave: Concreto; Geopolimero; Portland; Escória.

PRODUCTION OF CONCRETE OF GEOPOLYMERIC CEMENT WITH PARTIAL


REPLACEMENT OF METACAULIM OF THE NORTH REGION BY BLAST FURNACE
SLAG.
Abstract
Geopolymers are inorganic polymers of a new class of materials that have particular
characteristics, being geopolymerization reactions of several constituents, as natural raw
materials of geological origin containing aluminosilicates. In this work, by means of adapted
dosage of the components, the geopolymer cement concrete (CCG) was developed, which
was compared with the Portland cement concrete (CCP), by fixing the water / binder ratio. To
obtain the metacaulim, it was necessary to calcine the kaolin at a temperature of 850ºC for 2
hours and the residue used was blast furnace slag as the main source of calcium.
Preliminary studies of geopolymeric mortars with 7 days of cure were carried out. The best
percentage found was 69% sand in mortar. This result was then applied to the study of the
Geopolymeric Concrete Cement, later submitted to compression tests at the age of 7 days.
The results showed that the GCC reached an average compressive strength of 42 Mpa, in
compliance with the initial high strength concrete standard and showing results similar to that
of Portland cement concrete. The fracture surfaces were analyzed by scanning electron
microscopy (SEM), from the fragments removed from the specimens ruptured in the
mechanical assay. The analyzes presented the best adhesion matrix / aggregate in the CCG
in comparison to the CCP.
Keywords: Concrete; Geopolymer; Portland; Slag.
1
Engenheira de Materiais, Ananindeua, Pará, Brasil.
2
Graduando em Engenharia de Materiais, Faculdade de Engenharia de Materiais, Universidade Federal do
Pará (UFPA), Ananindeua-PA, Brasil.

* Contribuição técnica ao 74º Congresso Anual da ABM – Internacional, parte integrante da ABM
Week 2019, realizada de 01 a 03 de outubro de 2019, São Paulo, SP, Brasil.
3
Engenheiro Civil, Mestre em Engenharia Civil, Professor, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Estado do Pará, IFPA/Belém, Brasil.
4
Engenheiro de Materiais, PhD em Engenharia e Ciência dos Materiais, Professor, Programa de Pós-
graduação em Engenharia de Materiais/Departamento de Engenharia mecânica e Materiais, Instituto Militar
de Engenharia (IME), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
5
Químico industrial, Doutor em Ciência dos Materiais, Professor Adjunto I, Faculdade de Engenharia de
Materiais, Universidade Federal do Pará (UFPA), Ananindeua-PA, Brasil.

* Contribuição técnica ao 74º Congresso Anual da ABM – Internacional, parte integrante da ABM
Week 2019, realizada de 01 a 03 de outubro de 2019, São Paulo, SP, Brasil.
1 INTRODUÇÃO

Um dos materiais mais conhecidos é o concreto de Cimento Portland. A


maioria das obras antigamente empregavam materiais formados de rochas e
ligantes que por sua vez são constituídos a partir de argilas, cinzas vulcânicas,
calcário e resinas de animais e vegetais em construções [1].
Com o passar dos anos o concreto vem sendo melhorado, é um dos materiais
mais usados devido a sua versatilidade de confecção, moldagem e baixo custo. A
principal composição de um concreto é feita a partir de um material homogêneo
composto por agregados (brita, areia, material pulverizado) e por aglomerante
(cimento Portland), com função de uni-los, dando-lhe resistência mecânica com o
passar do tempo [1].
Para o concreto geopolimérico [2], a pasta geopolimérica é utilizado como
aglomerante ao invés do cimento Portland. Os geopolímeros, também chamados
polissialatos, são polímeros inorgânicos de uma classe de materiais que apresentam
características físicas e químicas singulares. Na produção de geopolímeros,
aluminossilicatos são dissolvidos parcialmente com soluções alcalinas contendo
NaOH ou KOH [2]. A razão Silício/Alumínio (Si/Al) é a principal variável no processo
de geopolimerização. São obtidos por um processo semelhante àquele empregado
na síntese de zeólitas cristalinas, processo consiste na polimerização hidrotérmica
em ambiente altamente alcalino [3]. Para a designação química de geopolímeros
baseados em sílico-aluminatos, o pesquisador Davidovits [4] chamou-os de poli
(Sialato). A rede Sialato consiste em tetraedros SiO4 e AlO4 ligados alternadamente,
compartilhando todos os oxigênios, de acordo com a Figura 1.

Figura 1. Representação esquemática dos polissialatos [5].

As diferentes formas de síntese dos geopolímeros são baseadas nas


composições molares entre os compostos reagentes, que influenciam diretamente
nas propriedades do produto obtido. As principais matérias-primas utilizadas são o
metacaulim, como fonte de silício e alumínio e as escórias como fonte de cálcio,
além de uma fonte de álcalis (KOH) ou (NaOH) [6].
A matéria-prima para a produção do metacaulim é o caulim, que é uma argila
formada pela alteração de uma variedade de rochas amorfas e cristalinas, sendo
que a caulinita é o principal argilomineral constituinte do caulim [7]. A caulinita sendo
um filossilicato, é formada por uma combinação de folhas tetraédricas de sílica e
folhas octaédricas de gibbsita (íon coordenado alumínio), situando-se nos planos
dos octaedros, com O e OH dessa folha, quando passada por tratamento
térmico(calcinação), está se encontra amorfa [8].
A solução alcalina é a parte considerada importante na preparação do
geopolímero. Os ativadores alcalinos como hidróxido de sódio (NaOH), hidróxido de

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potássio (KOH), silicato de sódio (Na2SiO3) e silicato de potássio (K2SiO3), são
usados para ativar materiais de aluminossilicatos [9]. As Escórias de Alto Forno
(EAF) é um resíduo que se formam pela fusão das impurezas do minério de ferro,
juntamente com a adição de fundentes (calcário e dolomita) e as cinzas do coque. A
escória fundida é uma massa que, por sua insolubilidade e menor densidade,
sobrenada no ferro gusa e é conduzida por canais, até o lugar de resfriamento de
acordo com a empresa Arcellor Mittal [10]. Em que é granulada durante o processo
de resfriamento brusco e posteriormente moída. As propriedades físico-químicas da
escória granulada de alto-forno a tornam um material de grande utilização tanto para
o cimento Portland quanto para o geopolímero.
Neste trabalho, foram realizados ensaios de Resistencia à compressão tanto
para o Concreto de Cimento Geopolimérico (CCG) quanto para o Concreto de
Cimento Portland (CCP). O procedimento para caracterização dos materiais, mistura
e moldagem, bem como as rupturas dos corpos-de-prova, foram realizados de
acordo com as prescrições normativas e procedimentos usuais utilizados para o
Concreto à base de cimento Portland. A microscopia eletrônica de varredura foi
realizada nas superfícies de fratura dos concretos. Este trabalho teve como objetivo
principal promover o estudo de Concreto de Cimento Geopolimérico, usando as
matérias-primas, o Metacaulim como principal fonte de aluminossilicato, com
substituição de resíduos de Escória de Alto forno como fonte principal de Cálcio,
bem como sua comparação com o Concreto de Cimento Portland.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para a preparação do Concreto de Cimento Geopolimérico (CCG) foi utilizado


metacaulim como fonte de alumínio e silício, obtido pela calcinação do caulim e
como fonte de cálcio foi utilizado Escória de Alto Forno. A solução ativadora utilizada
foi composta por Hidróxido de potássio e silicato de sódio (alcalino) e agregado
miúdo areia passante na peneira de 4,8 mm e agregado graúdo brita 0. Para o
Concreto de Cimento Portland foi utilizado cimento Portland CP V – ARI com os
mesmos agregados. Para melhor comparação por ser um cimento de alta resistência
inicial.
A Figura 2, apresenta as matérias-primas, a solução alcalina e os agregados
utilizados para a produção do Concreto de Cimento Geopolimérico

(a) (b) (c)

(d) (e)
Figura 2. Materiais para o CCG: (a) MKL, (b) EAF(c) solução de KOH e SS, (d) areia, (e) brita 0.

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2.1 Metodologia

A calcinação do caulim, para a produção do metacaulim, foi realizada em um


forno mufla da marca ZEZIMARQ, com capacidade de aquecimento de até 1200 ºC,
a uma temperatura de 850ºC por um período de 2h. O tempo e a temperatura
empregados foram estabelecidos com base nos estudos preliminares de [11], antes
da produção deste trabalho seguiu-se recomendações dos estudos de [12]. A
secagem da escória de alto forno foi realizada em estufa, marca QUIMIS por 24
horas à 100 ± 5º C, esta foi moída em um moinho de bolas de marca MATOLI –
070M016, por 3 hrs. Os materiais mencionados acima foram utilizados os passantes
na peneira de #200mesh.

2.2 Métodos de obtenção da argamassa geopolimérica

Para o estudo de argamassa geopolimérica foi utilizado os métodos de [13]


para Portland e de [12] para determinações dos percentuais de areia para a
argamassa. Estes estudos utilizaram percentuais ideais com 60% de areia em
argamassa de Portland e argamassa geopolimérica, baseado nesses estudos houve
a necessidade da procura do percentual ideal de areia para a argamassa
geopolimérica com os seguintes percentuais 21%, 59%, 69% e 81%, Figura 4.
Para a determinação de resistência a compressão da argamassa
geopolimérica utilizou-se a norma ABNT NBR 7215 (1996) como referência. Foram
então moldados cinco (5) CP’s em moldes metálicos de (Ø5X10) cm e tempo de
cura de 7 dias em temperatura ambiente de acordo com Silva (2011).

2.3 Dosagem do Concreto de Cimento Geopolimérico (CCG)

Para o traço final, dispondo dos estudos preliminares de pasta [11] e


argamassa, que determinaram o consumo de aglomerantes e o cálculo final para o
conteúdo de agregados. Os estudos para o CCG foram feitos a partir da composição
da Tabela 1, que apresenta o percentual mássico do Concreto de Cimento
Geopolimérico (CCG). Para a determinação de consistência do concreto fresco
utilizou-se o método de abatimento de tronco de cone, tanto para o CCG e CCP,
possuindo descrição na NBR NM 67 (1998).

Tabela 1. Características do CCG


Características do concreto Consumo
MKL & EAF (Kg/m3) 459
Areia (Kg/m3) 855
Brita 0 (Kg/m3) 808
Relação a/c (água/cimento) 0,42
Abatimento (mm) 110

2.4 Dosagem do concreto de cimento Portland (CCP)

A dosagem de Concreto de Cimento Portland (CCP) foi realizada segundo os


procedimentos de [13], foi utilizado o mesmo consumo de aglomerante, e a mesma
relação de a/c de 0,42. Suas características são apresentadas na Tabela 2.

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Tabela 2. Características do CCP
Características do concreto Consumo
Cimento (kg/m3) 459
Areia (kg/m3) 897
Brita (kg/m3) 831
Relação a/c 0,42
Abatimento (mm) 80
2.5 Confecção dos corpos de prova cilíndricos

Foram moldados 4(quatro) corpos-de-prova (CP’s) cilíndricos de (Ø10X20)


cm, para a determinação da resistência à compressão na idade de 7, tanto para
CCP quanto para o CCG. A moldagem foi feita segundo a Norma 5738 (2015),
cobertos por filme plástico para não houve perda de água de hidratação do CCG,
conforme é apresentada na Figura 3.

(a) (b) (c)


Figura 3. Confecção dos corpos de prova (Ø10X20) cm: (a) CP’s moldados de CCP, (b) CP’s de
CCG com cobertura com plástico e (c) desmoldagem dos CP’s após 24 Horas.

2.6 Ensaios de resistência à compressão e análises Microestruturais através


de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)

Os ensaios de resistência à compressão axial, foram realizados conforme


NBR 5739 (2018), utilizando-se uma prensa hidráulica da marca EMIC, com
capacidade para 200 toneladas, no Laboratório de Construção civil do IFPA. As
amostras para a análise em MEV foram extraídas das superfícies de fratura dos
corpos-de-prova após o rompimento nos ensaios mecânicos, estes foram realizadas
no Laboratório de Caracterização do IFPA, utilizando um Microscópio Eletrônico de
Varredura MEV equipamento de modelo VEGA 3 SBU da TESCAN com voltagem de
20 kV acoplado com sistema de micro análise EDS, modelo AZTec Energy X-Act
resolução 129 eV, marca Oxford e metalizador de amostras, marca QUORUM,
modelo Q150R ES.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Estudos preliminares da argamassa Geopoliméricas

Para o estudo do CCG, houve a necessidade de realizar estudos para os


percentuais de areia, através dos resultados preliminares de argamassa. A areia tem
função estrutural na argamassa, ganhando coesão pela ligação dos seus grãos
ligantes, tais propriedades da areia como a dureza, a forma dos grãos, a
granulometria e a porosidade alteram as características da argamassa. Além disso,

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a origem e o estado de limpeza da areia influenciam nas principais características da
argamassa [14].
No Gráfico da Figura 4 apresenta a resistência à compressão por percentual
aplicado de areia.
40

Compressão (MPa)
35
Resistência à
30
25
20
15
10
5
0
29% 59% 69% 81%
7 dias 26,084 26,49 35,662 21,246
Percentual de Areia (%)

Figura 4. Resistência à compressão da argamassa geopolimérica com 45% de EAF variando os


percentuais de Areia

De acordo com a Figura 4 é possível observar que o percentual de 69% de


areia obteve 35,6Mpa, apresentado resistência superior as demais. Esta argamassa
apresentou consistência, plasticidade e aderência que resultou maior ganho de
resistência em relação a argamassa do cimento Portland. Para os estudos de
argamassa geopolimérica, o resultado ideal encontrado foi de 60% em areia [12],
para [13,15] os percentuais ideais variam dependendo de sua aplicação, entre 30%
a 75% em massa de areia. Assim o resultado encontrado através do estudo da
argamassa geopolimérica deste trabalho se encontram nos limites descritos por
estes autores, com finalidade de aplicação em concreto.
A Figura 5 apresenta a análise microestrutural da superfície da argamassa
geopolimérica com 69% de areia, obtidas por MEV. Foram feitas análises da
superfície externa do geopolímero por estar em contato com ambiente e foram feitas
ainda imagens da superfície interna da argamassa com intuito de observar sua
homogeneidade.

MKL
Areia
Areia
Matriz Microfissuras

RII Poros
Vazios
Areia

(a) (b)
Figura 5. Análise de micrografia da Argamassa 69% de areia (MEV): (a) micrografia da superfície
externa CP (1000x); (b) micrografia da superfície interna do CP (1000X).

De acordo com imagens obtidas das superfícies do geopolímero após


rompimento, a Figura 5a e 5b apresentam uma microestrutura típica do geopolímero

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(compacta e amorfa), sem formação de fases distintas, comparando com o Portland
que apresenta mais de uma fase [11]. Na figura 5a apresenta a superfície externa do
corpo de prova, por possuir um processo de cura mais intenso, evidenciando assim
uma matriz homogênea e compacta, sem formação de outras fases, apresentando
uma Região Interfacial (RI) da matriz e agregado com boa adesão sem nenhuma
fissura nesta região. A Figura 5b, apresenta a superfície interna da argamassa,
contendo pequenos vazios e poros, apresentando também partículas de metacaulim
(MKL) não reagido podendo ser explicado pelo processo de mistura, não sendo
suficiente para solubilizar todas partículas sólidas, também apresenta microfissuras
que já eram esperadas devido ao ensaio de compressão. As argamassas
geopoliméricas à base de escória granulada de alto-forno apresentam menor
porosidade que a argamassa de cimento Portland [16].
Diante dos estudos preliminares, onde a avaliação foi realizada com ensaios
de compressão e microscopia, foi possível observar que o percentual de escória de
Alto forno com 45% [11] e o percentual encontrado nesse estudo foi de 69% de
areia, como mostrada na Figura 4 para resistência, foram os percentuais ideais
usados para a matéria-prima, para a dosagem do Concreto de Cimento
Geopolimérico prescritos na Tabela 1.

3.2 RESULTADOS DOS ENSAIOS DE COMPRESSÃO PARA O CCG E CCP

Para o estudo da resistência à compressão, de acordo com requisitos


mínimos normativos da ABNT NBR 6118 (2014), foram realizados ensaios de
compressão de 7 dias no CCG e os resultados foram comparados com os resultados
do CCP, conforme a Tabela 3 e o Gráfico da Figura 6.

Tabela 3. Resultados do ensaio de compressão do CCG e CCP com 7 dias.

Concreto CCP fc (Mpa) CCG fc (Mpa)


1 43,25 42,89
2 45,68 41,76
3 44,97 42,27
4 43,44 42
Média 44,33 42,23
Desvio (Sd) ± 0,99 ± 0,35
45
Resistência a compresssão

40
35
30
25
(MPa)

20
15
10
5
0
CCP CCG
7 dias 44,33 (± 0,99) 42,23 (± 0,35)

Idade (dia)
Figura 6. Relação entre a resistência compressão com idade de 7 dias

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Verifica-se que o resultado médio obtido na Tabela 3 e no Gráfico da Figura 6
para a referida mistura de CCG foi de 42,23 MPa, indicando que este atendeu às
especificações normativas, para concreto de alta resistência inicial. Os resultados de
resistência a compressão, mostram que na idade de 7 dias o Concreto de Cimento
Geopolimérico apresenta desempenho mecânico similar ao desempenho do
Concreto de Cimento Portland.
Fazendo relação com a água de amassamento (abatimento de tronco de
cone) (Tabela 1), no concreto a água é um ingrediente necessário para as reações
de hidratação do cimento, agindo como o agente que dá a plasticidade aos
componentes da mistura do concreto [17]. Pode-se dizer, que está diretamente
ligada com o resultado de resistência à compressão do CCG com 110 ±10 mm, por
se apresentar consistente e não tão fluida, havendo boa coesão entre os elementos,
permitindo o controle da trabalhabilidade do concreto geopolimérico, sendo está
superior ao do CCP que se apresentou com menor fluidez, com 80 ±10mm.
Quando há grande dissolução do metacaulim com a escória de alto forno,
favorece a geopolimerização. A grande quantidade de sílica e óxido de cálcio, se
apresentou superior ou igual à de óxido de alumínio presente na formulação. Os
cátions Ca+2 estabilizam a cadeia, e neutralizam as cargas negativas de dois
alumínios de uma só vez, densificando as estruturas geopoliméricas. Fazendo o
cálcio desempenhar um notável aumento da resistência mecânica [5].

3.2 Análise microestrutural dos CCG e CCP (MEV)

Foram realizadas análises microestruturais do CCG presentes na Figura 7,


visando observar a morfologia e as características da Região Interfacial (RI) dos
agregados com a matriz geopolimérica. Para efeito comparativo também foram
realizadas análises microestruturais para CCP (figura 8).

Vazios
Agregado

Microfissura

Agregados

Pasta RI

(a) (b)
Vazios
MKL

Pasta
Microfissura

(c) (d)

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Figura 7. Micrografias das superfícies do concreto CCG com 7 dias. (a) Aumento de 100X (b)
Aumento de 1000X (c) Aumento de 5000x (d) EDS.

As micrografias na Figura 7, apresentam as morfologias características do


CCG. No entanto, nas micrografias de ambos os concretos, verifica-se a ocorrência
da superfície de ruptura irregular, o que é uma particularidade dos concretos [18].
Observa-se que a matriz de cimento geopolimérico é constituída de uma única fase,
não apresentando morfologia definida.
Na micrografia da Figura 7b apresenta o aspecto microestrutural de uma
região da interface pasta-agregado da amostra do concreto. Ressaltando-se a
Região interfacial (RI), a interface do agregado miúdo com a matriz geopolimérica
apresenta uma zona de transição de boa aderência, não contendo formação de
hidróxido de cálcio (Portlandita) nas interfaces. Com objetivo de entender a
composição da superfície do CCG, foi realizada uma análise espectral da superfície
da amostra por EDs, indicando os principais elementos constituintes, apresentada
na Figura 7d. De acordo com a análise de EDS, foi possível determinar que os
maiores percentuais encontrados foram os elementos de Silício com 48,96%,
Alumínio com 5,85% e Calcio com 1,52%, sugerindo que estes compostos são
provenientes do MKL e EAF [11].
Como característica geral do CCG, este apresenta microestrutura menos
porosa e mais maciça que a microestrutura do Concreto de Cimento Portland,
apresentadas nas micrografias da Figura 8.

Areia

Porosidade
Vazios

Pasta

(a) (b)
Vazios

C-S-H

Etringita

(c) (d)
Figura 8. Micrografias das superfícies do concreto CCP com 7 dias. (a) Aumento de 100X (b)
Aumento de 1000X (c) Aumento de 10.000x e (d) EDS

As figuras 8a e 8b revelam quantidades significativas de poros e vazios na


estrutura do CCP maiores que no CCG, possivelmente atribuído a moldagem do
Concreto. Areação química de hidratação do cimento Portland ocorre com redução

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de volume, dando origem a poros, cujo volume é da ordem de 28% do volume total
do gel. A estrutura interna do concreto se apresenta bastante heterogênea,
adquirindo formas de retículos espaciais de gel endurecido (cristais), de grãos de
agregados graúdos e miúdos de várias dimensões, envoltos por grandes
quantidades de poros e capilares, que são portadores de água e por ar aprisionado
no concreto [18].
Verifica-se na Figura 8c a formação de outras duas fases, possivelmente
Etringitas que são produtos da hidratação de aluminatos que se formam nas
primeiras horas de hidratação, estes são cristais que fragilizam o concreto, os quais
são porosos e com baixas resistências. Há formação também de cristais de C-S-H
que são estruturas fibrilares, indicada na micrografia, que tem a composição C=CaO,
S=SiO2 e H=H2O, estes apresentam excelentes resistências mecânicas e químicas
dentro do CCP, a morfologia dos seus cristais dependem das condições de cura
[19,20].
A Figura 8d (EDS), expõe os picos principais dos elementos presentes na
superfície do CCP, sendo evidenciados o Silício com 49,18%, Calcio com 20,23%. A
presença maior do cálcio, comparado ao CCG, pode justificar a sua instabilidade e
fragilidade, por ter mais fases contendo cálcio.

4 CONCLUSÃO

• Os resultados obtidos através de ensaio de resistência à compressão e


análise microestrutural mostrou que, a melhor composição encontrada para o
teor de areia na argamassa geopolimérica, foi de 69% com resultados de 35
MPa.
• Os resultados obtidos de resistência à compressão do Concreto de Cimento
Geopoliméricos foi de aproximadamente 42 MPa, resultado similar quando
comparado ao de Concreto de Cimento Portland, que se enquadram na
norma NBR 5733, que trata de cimento de alta resistência inicial.
• Os resultados de caracterização microestrutural revelaram que o Concreto de
Cimento Geopolimérico apresentou uma única fase de aluminossilicato
contendo potássio e cálcio. Além disso, apresentaram boa aderência da
interface matriz e agregados, não apresentando formação de outras fases
como os cristais de C-S-H e Etringita presentes no CCP.
Os resultados apresentam boas propriedades mecânicas e microestruturais do
CCG para aplicação em obras civis que demandam materiais que alcancem altas
resistências nas idades iniciais, podendo ser aplicados nas indústrias de pré-
moldados e pavimentação.

REFERÊNCIAS

1 CASCAES, M.E.L. Desenvolvimento de geopolimeros a partir do uso de metacaulim e cinza de


casca de arroz. Trabalho de conclusão de curso em curso em Engenharia de Infraestrutura,
Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Joinville, 2016.
2 CANDIDO, V. S., SILVA, R A., SIMANASSIB, T. N. Mechanical and microstructural
characterization of Geopolymeric concrete subjected to fatigue. 566-570p. Revista Journal of
Materials Research and Technology. 2018.
3 DAVIDOVITS, J. Geopolymer chemestry and properties. Proceedings of 88 Geopolymer
Conference. 1988.
4 DAVIDOVITS, J. Geopolymers: Inorganic Polymeric New Materials, J.Thermal Analysis, 1991.
5 MOURA, J. Desenvolvimento de geopolímero a partir de cinza de olaria, refratário dolomítico
post-mortem e metacaulim. 57p. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia de Materiais.,

* Contribuição técnica ao 74º Congresso Anual da ABM – Internacional, parte integrante da ABM
Week 2019, realizada de 01 a 03 de outubro de 2019, São Paulo, SP, Brasil.
Instituto de Geociências e Engenharias, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará,
Marabá, 2014.
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* Contribuição técnica ao 74º Congresso Anual da ABM – Internacional, parte integrante da ABM
Week 2019, realizada de 01 a 03 de outubro de 2019, São Paulo, SP, Brasil.

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