TCC1
TCC1
TCC1
HUMANAS
MONOGRAFIA
A IMPORTÂNCIA DO ALAMBAMENTO NA
SUBCULTURA HANHA.
OPÇÃO: SOCIOLOGIA
Benguela, 2023
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO, SOCIAIS E
HUMANAS
MONOGRAFIA
A IMPORTÂNCIA DO ALAMBAMENTO NA
SUBCULTURA HANHA.
OPÇÃO: SOCIOLOGIA
Benguela
Junho de 2023
EPÍGRAFE
Carta de pedido!
Meu filho, baseando-se no principio de que todos somos iguais perante a lei, e
respeitando os princípios Plasmados na carta da Nações Unidas, sobre os Direitos
humanos, e nos acordos da convenção de genebra, que consagram o respeito pela
propriedade alheia, e segundo os magnos princípios que integram a minha índole
moral, peço nesta carta de pedido o seguinte:
Caso ela não saiba cozinhar, não evites o esforço de pô-la num curso de culinária.
Quanto aos vossos bens, que seja para o sustento dos vossos filhos.
O dinheiro que geralmente acompanha a carta, nestas circunstâncias fica para o vosso
consumo”!
III
PENSAMENTO
esclarecido.”
(Descartes)
IV
DEDICATÓRIA
Por fim, agradeço aos meus orientadores em particular PhD. José Adriano
Ukwatchali, que me guiaram com sabedoria, conhecimento e orientação ao longo desta
pesquisa. Sem o apoio e orientação deles, este trabalho não seria possível. A todos, meu
sincero agradecimento.
V
AGRADECIMENTOS
Aos meus Pais, pela partilha do Dom Sagrado, o da Vida e por tudo que eu sou
e continuo a ser! Reitero a minha estima, admiração e respeito eterno;
VI
ÍNDICE
VII
ÍNDICE DE FIGURAS
VIII
ÍNDICE DE TABELAS
IX
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
X
RESUMO
O presente tema está relacionado com os valores socioculturais de um povo,
no que se refere aos hábitos e costumes ligados a vida dos mesmos, em que tivemos
como foco principal de estudo: o valor do alambamento e a sua relevância cultural na
povoação do Ngoyo, Comuna do Yambala, no Município do Cubal, província de
Benguela. O objectivo geral do nosso trabalho é compreender a importância do
Alambamento, suas implicações cultural e social no seio das famílias na subcultura
Hanha, na Comuna da Yambala Povoação do Ngovo, Município do Cubal Província de
Benguela.
XI
Palavra-Chave: Alambamento, Família, Cultura e subcultura.
ABSTRACT
The present theme is related to the sociocultural values of a people, with
regard to the habits and customs linked to their lives, in which we had as the main
focus of study: the value of alambamento and its cultural relevance in the village of
Ngoyo, commune of Yambala, in the municipality of Cubal, province of Benguela. The
general objective of our work is to understand the importance of Alambamento, its
cultural and social implications within families in the Hanha subculture, in the
commune of Yambala Povoação do Ngovo, Municipality of Cubal Province of
Benguela.
For the treatment of the problem, we outlined the following scientific research
question: What is the importance of alambamento in the Hanha subculture in the Hanha
subculture and how it contributes to the preservation of the identity of families in the
village of Ngoyo, Commune of Yambala, Municipality of Cubal, Province of
Benguela?
XII
Keywords: Alambamento, Family, Culture and subculture.
XIII
INTRODUÇÃO
Na vasta diversidade cultural de Angola, a subcultura Hanha se destaca por
suas tradições e rituais únicos, e um desses rituais de grande significado é o
alambamento, que representa o casamento tradicional dentro dessa subcultura. Neste
trabalho, nos propusemos explorar a importância do alambamento como um ritual de
casamento na subcultura Hanha, analisando suas origens, práticas contemporâneas e
seu papel na preservação da identidade cultural e das comunidades (DOMINGOS,
2021).
Problema Científico
Qual é importância do alambamento na subcultura Hanha na subcultura Hanha
e como ele contribui para a preservação da identidade e das famílias na povoação do
Ngoyo, Comuna da Yambala, Município do Cubal, Província de Benguela?
Justificativa
Justificamos a presente investigação, pelo facto de se ter suscitado em nós um
grande interesse, sobretudo, quando fomos assistir uma cerimónia (ritual) de
alambamento na província de Luanda, Município do Cazenga, em que constatamos um
certo exagero na carta de pedido no momento em que se fazia a entrega dos bens (dote)
a família da noiva.
14
O facto levantara certos murmúrios e reclamações aquando da entrega dos
dotes, dizendo que tinham exagerado na feitura da carta por parte da família da noiva.
Foi este propósito que nos levou a imperiosa necessidade de aprofundar o estudo sobre
a sua importância nas famílias angolanas, e com isto estudar a subcultura Hanha, caso
particular na Comuna da Yambala no Município do Cubal.
1
Higino Marcelino, Alambamento e problema nos processos matrimoniais, Instituto Superior
Politécnico Jean Piaget, p. 11, licenciatiura em sociologia, Benguela 2015
15
que se repete de geração a geração...”, pois que nos foi deixado pelos nossos
ancestrais...2
Objectivos
Geral:
Compreender a importância do alambamento, suas implicações culturais e
sociais no seio das famílias na subcultura Hanha, na povoação do Ngoyo,
Comuna da Yambala, Município do Cubal.
Específicos:
1- Despertar o interesse cultural e social deste fenómeno nas populações da
Hanha, na povoação do Ngoyo, Comuna da Yambala no Município do Cubal;
2
Mateus Bine Agostinho, Alambamento no seio dos ambundo da província de Luanda”. Disponível
em http:internet/>Faculdades de Ciências de Antropologia, Luanda. Consultado em 06 de Outubro de
2016
16
H1- Quanto mais se conhece a importância do alambamento, maior será a
necessidade obrigatória do seu cumprimento nos povos de origem Bantu (Hanha), isso
porque este constitui um dever obrigatório por parte do noivo, é um ritual / costume
muito importante para a união de um casal sendo que o mesmo faz parte do modo de
vida na comunidade.
17
CAPÍTULO I
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
18
INTRODUÇÃO
1.1. PERSPECTIVA HISTORICADO CONCEITO ALAMBAMENTO
3
Cfr. Raúl R. de Alsua ALTUNA, Cultura Tradicional Bantu, Editora Ânsua, Luanda, 1985, p.328.
4
Cfr. Emílio SUMBELELO, A constituição do dote, e as suas implicações na pastoral familiar, Editora secretariado
diocesano de pastoral do Uíge, 2ª Edição, Uíge, 2010, p.69.
5
Cfr.Francisco VALENTE, A problemática do matrimónio tribal, Lisboa 1985, p.70-71.
6
Cfr. Emílio SUMBELELO, A constituição do dote, e as suas implicações na pastoral familiar, Editora secretariado
diocesano de pastoral do Uíge, 2ª Edição, Uíge, 2010, p.69
19
1.2.1. DEFINIÇÕES DE CONCEITOS
O presente subcapítulo, retracta de definições de conceitos para clarificação de
alguns conceitos fundamentais sobre os aspectos relacionados com a nossa temática, tais
como: Alambamento, família, casamento e cultura
1.2.2. ALAMBAMENTO
Segundo Higino Marcelino, citando Nuno Paulino Barroso e Celestina Francisco da
Cunha, o alambamento‟ é uma actividade cultural que consiste num conjunto de mercadorias
e de presentes que o noivo dá por contracto, sendo visto como símbolo de casamento, prémio
aos familiares da nubente como indemnização pelos gastos feitos com ela desde o seu
nascimento até ao dia do casamento, uma vez que essa é família que a gerou e criou.” 7 Desta
feita, o alambamento passou a considerar-se como garantia do contracto de casamento, ou
como caução impeditiva da sua rescisão. É tido como caução impeditiva porque em caso de
divórcio a família da noiva é obrigada a devolver os bens recebidos.
7
Higino Marcelino, Alambamento e problema nos processos matrimoniais,Instituto Superior Politécnico Jean Piaget,
p.14, licenciatura em sociologia, Benguela 2015.
8
Cfr.: Mário MILHEIRO, Etnografia Angolana, Instituto de Investigação Científica, 2ªEdição, Luanda, 1967, p.59.
9
Cfr.: Raúl R. de Alsua ALTUNA, Cultura Tradicional Bantu, Editora Ânsua, Luanda, 1985, p.327.
Emílio SUMBELELO, Aconstituição do dote,e as suas implicações na pastoral familiar, Editora secretariado diocesano
de pastoral do Uíge, 2ª Edição, Uíge, 2015, p.69.
10
Emílio SUMBELELO, Aconstituição do dote,e as suas implicações na pastoral familiar, Editora secretariado
diocesano de pastoral do Uíge, 2ª Edição, Uíge, 2010, p.69
20
Para Mateus B. Agostinho, “o alambamento é um conjunto de preparativos e entrega
de certa quantia em dinheiro, bebidas e alguns objectos prescritos na carta de pedido que a
família do noivo faz para homenagear a família da noiva”.
1.2.3. FAMÍLIA
Várias podem ser as abordagens sobre o que se pode entender por família. Assim, de
acordo com Fátima Viegas, a família pode ser definida como sendo ‟uma instituição social
que une os indivíduos num grupo que coopera para prossecução de um objectivo comum e
que consiste na criação e educação das crianças nascidas no seu seio.”13
Do ponto de vista moral, a família é formada pelo pai, mãe e filhos, isto é, por
pessoas unidas pelos laços resultantes do casamento; na perspectiva económico-política, a
família é constituída por indivíduos que sob a direcção de um chefe vivem na mesma casa; na
ordem jurídica, a família é formada por aqueles que se ligam por parentesco quer este seja
resultante do casamento, quer da família natural.
Segundo Greene, citado por Alice Pinto Ferreira Rasgado, afirma que a família é ‟o
espaço educativo por excelência. É a primeira esfera social, e certamente o modelo primário
para a criança. O ambiente do lar, e a forma de relacionamento, são elementos que
influenciam o seu desenvolvimento.”16
Para Altuna, uma família é ‟um grupo de pessoas unidas directamente por laços de
parentesco, no qual os adultos assumem a responsabilidade de cuidar das crianças. Os laços
de parentesco são relações entre indivíduos estabelecidos através do casamento ou por meio
de linhas de descendências que ligam familiares consanguíneos (mães, pais, filhos e filhas
entre outros).”17
Outros autores ainda, definem a família como sendo um sistema de apoio emocional
básico. Tanto a criança, como o adulto, encontram na família o apoio diário que lhes serve de
oásis no meio das actividades quotidianas.18 A família é portanto, a unidade fundamental
responsável pela educação dos mais novos, onde se transmitem os valores e onde se ganha o
sentido da vida e de pertença na sociedade.
A família é um lugar distinto onde o ser humano se pode realizar e desenvolver a sua
personalidade, é o instrumento mais importante para a protecção e desenvolvimento da
dignidade da pessoa humana.
Para o presente trabalho assumimos o conceito de Anthony Giddens, por este estar
próximo dos factos reais da nossa pesquisa.
15
Cfr.: Eduardo Marçal GRILO, Se não estudas estás tramado, Edições tinta-da-china Lda, 1ªEdição, Lisboa, Abril de 2010,
p. 39.
16
GREENE apud Alice Pinto Ferreira RASGADO, Caracterização dos níveis de criatividade dos estudantes
Portugueses e Angolanos do 7º e 9º Anos de escolaridade, Dissertação para o grau de Mestrado, em Psicologia da Educação,
Universidade Lusófona de Humanidade e Tecnologias, Lisboa, 2011, p. 43.
17
Cfr.: Raúl R. de Alsua ALTUNA, op. cit. p. 328
18
Cfr.: Raúl POSSE e Julián MELGOSA, A criança a arte de saber educar, Publicadora Servir, S.A, 1ªEdição,
Portugal, Abril de 2006, p.14.
22
As relações familiares são sempre reconhecidas dentro de grupos de parentesco mais
amplo. Vamos destacar quatro tipos de famílias que, praticamente em todas as sociedades,
podemos identificar aquilo que os sociólogos e antropólogos designam como: família
nuclear, família extensa ou alargada, família monoparental e família recomposta ou
reconstituída.19
A família nuclear: é aquela que é ‟constituída por dois adultos juntos num mesmo
agregado com ou sem filhos biológicos ou adoptados, formando uma unidade económica,
cujos membros adultos são responsáveis pela criação e educação das crianças.” Na maioria
das sociedades tradicionais, a família nuclear estava inserida em redes de parentescos mais
amplos.20
A família extensa ou alargada: é ‟um grupo de três ou mais gerações que vivem na
mesma habitação ou muito próximas uma das outras e pode incluir-se neste tipo de família,
avós, irmãos e as suas mulheres, irmãs e os seus maridos, tias, tios, sobrinhos, entre outros.”21
1.2.4. CULTURA
Segundo F. Keesing, citado por Eva Maria Lakatos e Marconi, a cultura ‟ é
comportamento cultivado, ou seja, a totalidade das experiências adquiridas e acumuladas
pelo homem e transmitida socialmente, ou ainda, o comportamento adquirido por
aprendizado social”.24
19
Cfr.: Anthony GIDDENS, op. cit. p. 176.
20
Ibidem.
21
Ibidem.
22
Ibidem.
23
Ibidem.
24
Eva MariaLakatos e Marina de A. MARCONI, Sociologia Geral, Editora Atlas S.A. São Paulo, 2010, p. 30.
23
Para Anthony Giddens, cultura refere - se aos modos de vida dos membros de uma
sociedade ou de grupos pertencentes a essa sociedade; (modo de vestir, formas de casamento
de família, seus padrões de trabalhos, cerimónias religiosas e actividades de lazer). 25
Segundo Martinho Kavaya citado por José Lucamba, afirma que escrever sobre uma
cultura é entender o modelo de ser, viver, pensar e agir de um povo.27
Com tudo que acabamos de ler, nas definições de vários autores queremos assim
entendemos, a cultura como um conjunto complexo que incluí conhecimentos, crenças e
valores, leis, hábitos, costumes e aptidões adquiridas pelo homem como membro integrante
de uma determinada sociedade (comunidade) ou tribo.
1.2.5. SUBCULTURA
Segundo BRAKE, citado por José Lukamba, define a subcultura, “como um sistema
de significados, modos de expressão ou estilo de vida desenvolvido por grupos que se
encontram em posições estruturais subordinados numa determinada sociedade, e que surge
como forma de respostas ao sistema de significados, modos de expressão ou estilos de vida
dominante, reflectindo assim uma tentativa de resolver contradições estruturais que surgem
no contexto mais vasto”.29
25
Cfr.: Anthony GIDDENS, sociologia,fundação colousteGolberkian , 8ª Edição, Lisboa,2010, p. 22.
26
José A.UKWATCHALI, Antropologia da responsabilidade, Edizion vita e persiero, 1ª edição, Milano 2009, p.59.
27
Cfr.: José LUKAMBA, Tese de Licenciatura “Estudo Sociocultural do Otchoto na formação integral do indivíduo na
subcultura Hanha”, Instituto Superior Politecnico Jean Piaget, Benguela, 2014, p.7.
28
Reviere, CLAUDE, Introdução à Antropologia, Edições 70, Lisboa, 1995, p. 43
29
Cfr.: José LUKAMBA, Tese de Licenciatura “Estudo Sociocultural do Otchoto na formação integral do indivíduo na
subcultura Hanha”,Instituto Superior Politecnico Jean Piaget, Benguela, 2014, p.8.
24
Para Guiddens define a Subcultura como qualquer seguimento da população que se
distingue da sociedade envolvente pelas suas normas culturais.30
Para o presente trabalho assumimos o conceito de Anthony Giddens, por este estar
próximo dos factos reais da nossa pesquisa.
30
Cfr.: José LUKAMBA, Tese de Licenciatura “Estudo Sociocultural do Otchoto na formação integral do indivíduo na
subcultura Hanha”,Instituto Superior Politecnico Jean Piaget, Benguela, 2014, p.8.
31
Cfr.: Pedro Gabriel TCHOMBELA, elementos epistemológicos do antropológico na Paidéia “Hanha”, entre os
ovimbundus, edizioniviverein, Roma, 2013, p.53.
32
Cfr: António Oliveira e Cipriano Lyalunga, tese de licenciatura, A Cultura Hanha no Estudo da História dos Povos
Ovimbundo, Instituto Superior de Ciências de Educação, Benguela, 2004, p. 19.
25
Segundo Mário Francisco de Oliveira, citado por José Lukamba na sua tese
intitulada “Otchoto...”, “Este povo existe e ocupa a maior extensão do distrito de Benguela.
Nasce na região de Catengue, onde faz fronteira com os Mukwisis e Mundombes, Município
de Quilengues e Caluquembe, indo terminar no Município da Ganda, onde faz cabeceira com
Ebanga e Tchicuma”.33
Referimo-nos a um povo com uma cultura rica, povo pacifico, humilde, solidário e
hospitaleiro, com seus hábitos e costumes, muito ricos cuja riqueza é, fundamentalmente, a
terra e o gado.
Esse espaço descoberto pelo Hanha, corresponde hoje uma vasta região do território
de Benguela. Neste sentido, a comunidade histórica Hanha, também é conhecida por
“Vakayala”, está localizada a norte e a leste do Município do Cubal, estando cercada do
33
José LUKAMBA, Tese de Licenciatura “Estudo Sociocultural do Otchoto na formação integral do indivíduo na
subcultura Hanha”, Instituto Superior Politécnico Jean Piaget, Benguela, 2014, p.9.
34
Cfr.: António GUEBE, o que aprendi no Otchoto, editorial Kilombelombe, Luanda 2003, p. 25.
26
Norte para o sudoeste pela cordilheira de Tchitunga, sendo a região banhada pelas águas do
rio kupololo e pelos seus principais afluentes.
35
Cfr: Pedro Gabriel TCHOMBELA, Kondjembo, elementos epistemologicos da escaton antropológico na Paideia
“Hanha”, entre os ovimbundus, edizioni viverein, Roma 2013, p.53
36
Cfr.: Paulino LUKAMBA e João NDELE, in Acácias em flor, nº 9 I e II semestre 1992, p. 20.
27
A agricultura, que é uma arte mais desenvolvida, está reservada para as mulheres,
sobretudo, pois são elas que cultivam a terra e os homens só intervêm no derrube das árvores.
“Os va´hanha têm um nível de vida económica equilibrada, são grandes criadores de gado e
em especial o bovino. O boi é a sua riqueza preferida. O seu carinho por ele e a sua dedicação
revelam que o consideram um quase membro de sua família.37
Apesar deste legado todo um dos costumes que nos chamou atenção e o fenómeno
do alambamento, que iremos nos debruçar a diante.
37
Cfr.: Ibidem
38
Cfr.: Emílio SUMBELELO, Aconstituição do dote, e as suas implicações na pastoral familiar, Editora secretariado
diocesano de pastoral do Uíge, 2ª Edição, Uíge, 2010, p.69.
28
premiados: a filha e os seus pais, e isso é o que significa o alambamento nos va’hanhas.
Neste caso, o alambamento, não mais se não um prémio da mão da noiva.39
Maria Júlia Quessongo, anciã de 66 anos de idade, residente nessa Comuna, na sua
entrevista dizia-nos que “ quando a família do rapaz cumpre com o alambamento, as famílias
ficam cada vez mais unidas e vão aumentando cada vez mais o grau de solidariedade entre
elas e dessa forma a relação entre o casal de tornará cada vez mais sólida e indissolúvel tendo
em conta a boa relação que já existe entre as duas famílias”.40
Como se não bastasse, tais práticas e normas, para o cumprimento do mesmo variam
consoante a realidade cultural de cada povo, de família para família em função dos seus
hábitos. O seu valor assenta na coesão social, o respeito entre as partes e de modo especial
para a dignidade da própria mulher, que será pretendida.
O Alambamento, tem um valor cultural para os Va Hanha, uma vez que cada povo
tem a sua cultura, suas tradições. Sublinhamos que a maioria da subcultura Hanha, considera
a “Mulher”, como uma figura principal e fundamental no casamento. Porque é ela que
trabalha a terra para o sustento das famílias, gera filhos sendo que estes darão a continuidade
39
Cfr.: Ibidem.
40
Cfr.: Qessongo Julia Maria , anciã de 66 anos de idade. Entrevista concedida aos 12.06. 2019
41
Cfr.: Ibidem.
29
e poder da família. Por isso é que a saída da filha de casa de seus pais, constitui para as
famílias a perda de um precioso elemento de trabalho e como tal, eles merecem ser
compensados por essa perca, em forma de alegrar e consolar. Sai um membro da família, os
que ficam cantam, dançam, bebem, comem, etc.
Estamos perante um processo pelo qual o ser humano começa a aprender o modo de
vida em comunidade, com o objectivo de constituir sua própria família. Segundo António
Kaconda, ancião pertencente a subtribo dos Va Hanha, para ele, o alambamento, apesar desse
ter sofrido várias alterações e adaptações ao longo da história, de acordo com alguns aspectos
socioculturais que envolvem a cultura angolana, para os va`hanhas de modo particular,
procuram cumprir com rigor os hábitos e costumes, pois, estes nos identificam como
va`hanhas. Devemos preservar o grande património que nos foi deixado como herança pelos
nossos antepassados.”42 Assim, ele identifica quatro fases fundamentais:
Alambamento
42
Cfr.: Kaconda João ANTÓNIO, Professor Reformado, Entrevista concebida no dia 09.06.2019.
30
da moça, o moço manda a tia dele para a família da moça com o objectivo de dar a conhecer
os objectivos do moço. É o momento de conhecimento mútuo das famílias.
A quando da sua existência, Alsúa Altuna, na sua obra intitulada Cultura Tradicional
Bantu, dizia que o alambamento acontece “quando um membro do seu grupo recebe uma
mulher de outro grupo, que irá enriquecer esse grupo com os filhos e trabalho agrícola a outra
família”. Na mesma linha de pensamento de Altuna, Kaconda acrescenta dizendo, que “o
43
Cfr.: Raúl R. de Alsua ALTUNA, op. cit. p. 327
31
mesmo também acontece na subcultura Hanha, em que quando um jovem deseja casar-se ou
unir-se com uma rapariga/ mulher, os seus familiar (do jovem) devem preparar uma certa
quantidade de bens diversos para entregar a família da moça antes de a retirarem do seu seio
familiar”,44 e para reforçar a quando da sua existência Higino Marcelino, na sua obre
intitulada Alambamento e Problemas nos Processos Tradicionais, para ele o “alambamento
existe no sentido de se criar determinadas condições e imposições sociais de forma a manter
a ordem social dentro de parâmetros bem delineados” 45. Assim sendo, falar da importância do
mesmo (alambamento), antes, de forma breve, importa-nos referir o porquê da sua entrega à
família da moça, para em seguida falarmos da sua importância como tal.
Segundo Altuna, “ o dote, é normalmente, uma compensação dada pelo Clã a fim de
restabelecer o equilíbrio as diferentes unidades colectivas que compõem o Clã…”, na visão
de Kaconda, conhecedor e pertencente a cultura dos Va Hanha, na sua entrevista, dizia-nos
que o alambamento na subcultura Hanha, “é tido como um costume tradicional muito forte,
pois que nos foi deixado como herança cultural e tradicional pelos nossos antepassados,
sendo assim, todos aqueles que se unirem ou casarem-se com uma mulher, devem
obrigatoriamente cumprir com a entrega do mesmo a família da moça” 46. Ainda no tocante na
sua obrigatoriedade e no seu cumprimento, segundo, Fátima Kamuenho, citando Adrino
Ukwatchali dizia que “ na cultura Umbundu dificilmente se contestará essas tradições porque
( Evi vyasiwa l´ Akulu) foi deixado com herança pelos antepassados, e assim é considerado
como um património cultural ou um repertório de significados para a vida da etnia”47.
44
Cfr.: Raúl R. de Alsua ALTUNA, op. cit. p. 327
45
Cfr.: Raúl R. de Alsua ALTUNA, op. cit. p. 335.
46
fr.KACONDA, João António, professor reformado. Entrevista concedida no dia 09.06.2019.
47
Cfr: KAMUENHO Maria De Fátima Katchele, O casamento tradicional na cultura Umbundu, Tese de licenciatura
em Sociologia, ISP Jean Piaget, Benguela, 2015.
32
esta Comuna, anciã, dizia que, “ primeiro para os Muhanhas, “o alambamento simboliza o
respeito, a consideração da família do rapaz para com a família da moça; por outro lado,
responsabilidade, o respeito pelos hábitos/costumes, valorização da cultura… ” 48 Contudo,
para terminar o pensamento de Júlia, na visão de Kaconda, a sua importância na subtribo dos
Va´hanhas, “não está apenas no facto da sua realização por parte da família do jovem e no
cumprimento do costume, mas sim, pelo facto deste não envolver apenas os pais dos jovens;
este encontro acaba reunindo e envolvendo as quatros famílias, sendo (duas da parte do
jovem, igualmente da parte da noiva)”49; continuando, o mesmo dizia, que, “ ele, acaba sendo
importante porque ainda neste encontro, começam-se, por se estabelecer-se novos laços de
união familiar, aliança entre os dois grupos, estabelecendo-se assim grau de parentesco,
etc…”50. Assim sendo, Higino Marcelino, vai um pouco mais além dizendo, que, “ o
alambamento se traduz num estímulo às virtudes no seio das famílias angolanas, estando em
jogo a formação de uma nova família, mas acima de tudo o estabelecimento de uma aliança
pública entre as duas famílias ”.
48
Maria Júlia Quessongo, entrevista concedida no dia 12.06.2019
49
Cfr.KACONDA, João António, professor reformado. Entrevista concedida no dia 09.06.2019
50
Cfr.: Higino Marcelino, Alambamento e Problemas Nos Processos Matrimoniais, Tese de Licenciatura em Sociologia,
ISP Jean Piaget, Benguela, 2015, p.24
51
Cfr.: Raúl R. de Alsua ALTUNA, op. cit. p. 335
33
Assim sendo, podemos concluir que a importância do alambamento, tem como fim
último a aceitação, legalização e formalização do compromisso perante as duas famílias,
união e o respeito pelas, organização na perspectiva familiar, e não só, que a princípio com a
realização do mesmo garante-se maior estabilidade familiar, harmonia social e familiar
fortificando e unindo cada vez mais os laços entre os dois grupos podendo ser nas aldeias,
comunidades, tribos dentro de uma cultura e povos e só, falar da importância do mesmo com
base nesta subcultura (Hanha), exigiu-nos fazer uma reflexão do mesmo de como tem sido a
importância nos dias de hoje para algumas famílias.
34
CAPITULO II
METODOLOGIA DE ESTUDO
35
2.1- METODOLOGIA DE ESTUDO
36
2.2. BREVE CARACTERIZAÇÃO DA COMUNA DA YAMBALA
38
CAPÍTULO III
DISCUSSÃO E ANÁLISES DE RESULTADOS
39
3.1. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
54
Cfr.:Domingos PARA Filho e João Almeida SANTOS, Metodologia de Investigação Cientifíca, 5ª reimpressão,
São Paulo – Futura; 2003, p167
55
Cfr.: Ibidem, p.167
3.2. RESULTADOS DESCRITIVOS
"Gráfico é uma representação geométrica de um conjunto de dados usada para
facilitar a compreensão das informações apresentadas nesse conjunto. Gráficos ajudam
a identificar padrões, verificar resultados e comparar medidas de forma ágil. Além
disso, eles podem ser usados de diversas formas e em diferentes áreas do
conhecimento."56 Abaixo apresentamos os gráficos das entrevistas por inquérito,
realizado no nosso local de estudo.
IDADE 36-47
32%
IDADE 47-70
60%
56
Cfr: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/matematica/o-que-e-grafico.htm
41
Gráfico 2- Distribuição dos entrevistados por sexo
FEMININO
40%
MASCULINO
60%
REGEDOR
4%
SOBAS
8%
CAMPONESES
44%
COMERCIANTES
20%
42
NÃO
8%
SIM
92%
OVILOMBO
8% PASTORICIA
CULTIVO DE CEREAIS 20%
12%
OKUFEKALA
4%
OTCHITITA ALAMBAMENTO
4% 12%
OTCHILOMBONDE
4%
OLUNDONGO
4% ONDJANGO
BATUQUE 8%
8% OKUPALEKA
EKUENJE 8%
8%
43
correspondentes a 8% responderam ondjando como hábitos e costumes dos va’hanhas,
2 indivíduos que correspondem a 8% disseram okupaleka, enquanto que 2 que
correspondem a 8% responderam ekwednje, 2 que correspondem a 8% disseram
ovilombo, 2 indivíduos que correspondem a 8% alegaram o batuque, 1 indivíduo que
equivale a 4% a disse olundongo, ao passo que 1 indivíduo equivalente a 4% alegou
otchilombonde como sendo o hábito e costume mais frequente nesta região, enquanto
que 1 inquirido correspondente a 4% respondeu otchitita e 1 pessoa que corresponde a
4% disse okufekala.
Por outra, se todo homem tem a sua identidade, a conservação da mesma, deve
ser feita a todos os níveis, aquilo que cada povo tem como meta. Sem o conhecimento
dos hábitos e costumes, o negro teria perdido a sua originalidade e identidade. O negro
44
estaria privado da contribuição precisa da cultura bantu. Para os Va hanha, os hábitos e
costumes vivificam a sua própria cultura, e quando forem bem compreendidos
preenchem a alma do muhanha.
SIM
100%
SIM NÃO
45
Gráfico 8- Que factores explicam a importância do alambamento na povoação do
Ngoyo?
PROVA DO CASAMENTO
28%
RITUAL SAGRADDO
CERMÓNIA IMPORTANTE E 1º
CASAMENTO
40%
46
Gráfico 9- Quais são as etapas que antecedem o alambamento?
ELIMOLEHELO
40%
OKULILEKISA
60%
47
alambamento, pois que o não cumprimento deste ritual, pode trazer complicações na
vivência do casal.
Várias podem ser as abordagens sobre o que se pode entender por família.
Assim, de acordo com Fátima Viegas, a família pode ser definida como sendo ‟uma
instituição social que une os indivíduos num grupo que coopera para prossecução de
um objectivo comum e que consiste na criação e educação das crianças nascidas no seu
seio.”
Segundo F. Keesing, citado por Eva Maria Lakatos e Marconi, a cultura é‟o
comportamento cultivado, ou seja, a totalidade das experiência adquirida e acumulada
pelo homem e transmitida socialmente, ou ainda, o comportamento adquirido por
aprendizado social”.
48
Para Giddens, cultura refere - se aos modos de vidas dos membros de uma
sociedade ou de grupos pertencentes a essa sociedade; (modo de vestir, formas de
casamento de família, seus padrões de trabalhos, cerimónias religiosas e actividades de
lazares).
Com tudo que acabamos de ler, nas definições de vários autores queremos
assim definir a cultura como conjunto complexo que incluí conhecimentos, crenças e
valores (morais e culturais), leis, hábitos, costumes e aptidões adquiridas pelo homem
como membro integrante de uma determinada sociedade (comunidade) ou tribo.
49
um costume tradicional muito importante; é o primeiro casamento, sendo que este
permite o conhecimento entre as famílias. Pois que este ritual, valoriza a mulher como
sendo a única, geradora da vida.
50
CONCLUSÕES
As considerações com que terminamos o presente trabalho de investigação,
visam fundamentalmente recapitular as conclusões mais destacadas do estudo, por nós
desenvolvido no que diz respeito a importância do alambamento na Subcultura Hanha,
povoação do Ngoyo, na Comuna da Yambala, Município do Cubal e que por via de
inquérito por entrevista, conseguimos constituir a população alvo à nossa pesquisa.
54
APÊNDICE 1
Guião de entrevista dirigido aos moradores da povoação do Ngoyo, na Comuna
da Yambala.
55
ANEXOS
A
Nossa ida a Comuna da Yambala
Encontro marcado com a Vice Administradora Comunal da Yambala
57
Administração Comunal da Yambala
58
Julieta Sardinha no encontro com o Director da escola do I Ciclo (o Sr. Mateus
Cambilo), na Sede Comunal –Yambala
59
Regedoria Comunal da Yambala
Barragem do Ndungo
60
Encontro com Administrador Comunal cessante, o Sr. João Ngumbe
61
A
62
63