São Tomé e Príncipe
São Tomé e Príncipe
São Tomé e Príncipe
CONCEIÇÃO DE LIMA
Maria da Conceição de Deus Lima (Santana, 8 de dezembro de 1961), mais conhecida por Conceição Lima, é uma poeta
são-tomense.
Natural de Santana da ilha de São Tomé, São Tomé e Príncipe. Estudou jornalismo em Portugal e trabalhou na rádio,
televisão e na imprensa escrita em São Tomé e Príncipe. Em 1993 fundou o semanário independente O País Hoje. Na
altura exerceu a função de diretora do mesmo até a data da sua extinção. É licenciada em Estudos Afro-Portugueses
e Brasileiros pelo King's College de Londres. Reside e trabalha como jornalista e produtora dos serviços de Língua
Portuguesa da BBC.
Descoberta
Emergiremos do canto
como do chão emerge o milho jovem
e nus, inteiros recuperaremos
a transparência do tempo inicial
Puros reabitaremos o poema e a claridade
para que a palavra amanheça e o sonho não se perca.
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Metamorfose
TOMÁS MEDEIROS
Em Tomaz Medeiros: (São Tomé, 5 de novembro de 1931) vamos encontrar uma Poesia vinculada à sedimentação de
uma consciência anticolonialista, que, mais do que a fala de cada poeta, ela se consubstancia na voz coletiva do homem
são-tomense.
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O Novo Canto da Mãe Os meninos negros à margem da vida,
Que desperdiçaram o destino do teu ventre,
Mãe: Que endireitaram os instantes
Nós somos os teus filhos Que marcaram socalcos na terra firme,
Que sem vergonha Na profundidade das trevas da tua vida.
Quebraram as fronteiras do silêncio. Nós somos, Mãezinha, os teus filhos,
Os filhos sem manhãs Sexos que germinaram vida,
Que rasgaram as noites que cobriam
As carnes das tuas carnes. Forças que desfloraram a virgindade dos dogmas,
Fecundaram minérios de esperança,
Nós somos, Mãezinha, Olhos, dinamites de amor,
os teus filhos, Mãos que esfacelaram a espessura dos obós,
Os pés descalços, E em cujo silêncio verde
Esfomeados, Germina a Certeza:
Os meninos das roças,
Do cais, Mãezinha:
Os capitães d’areia, Nós somos os teus filhos.
ALDA ESPÍRITO SANTO
Alda Espírito Santo, poeta, professora e jornalista, também conhecida por Alda Graça, nasceu em 30 de abril de 1926,
na cidade de São Tomé, capital do Arquipélago de São Tomé e Príncipe.
Em meados de 1940, muda-se com a família para o norte de Portugal, anos depois a família muda-se para Lisboa onde
Alda inicia seus estudos universitários. Morando em Lisboa com a família, ela faz contato com alguns dos importantes
escritores e intelectuais que viriam a ser os futuros dirigentes dos movimentos de independência das colônias
portuguesas de África.
A casa de sua família, no número 37 da Rua Actor Vale, funciona como local de encontros do CEA (Centro de Estudos
Africanos). Os encontros regulares na casa de Alda promoviam palestras sobre temas diversos como Linguística,
História e também sobre a consciência cultural e política acerca do colonialismo, do assimilacionismo e da defesa do
colonizado. Na mesma época, Alda Espírito Santo frequenta a CEI (Casa dos Estudantes do Império). Algum tempo
depois, abandona o curso universitário por razões políticas e também financeiras.
Em janeiro de 1953, regressa a São Tomé e Príncipe, onde atua como professora e jornalista. Nesse mesmo ano,
escreve o poema “Trindade” que denuncia o massacre ocorrido em 5 de fevereiro em Trindade (São Tomé e Príncipe).
Após a independência de São Tomé e Príncipe, ocorrida em 12 de junho de 1975, Alda Espírito Santo ocupa vários
cargos sucessivos no governo da jovem nação, entre os quais os de Ministra da Educação e Cultura, Ministra da
Informação e Cultura, Presidente da Assembleia Nacional e Secretária Geral da União Nacional de Escritores e Artistas
de São Tomé e Príncipe. Nesse ano, em novembro, compõe a letra do Hino Nacional de São Tomé e Príncipe, intitulado
“Independência Total”.
Em 9 de março de 2010, falece a poeta, em Luanda (Angola), por complicações na saúde.
MANUELA MARGARIDO
Maria Manuela Conceição Carvalho Margarido foi uma poetisa são-tomense, que cedo abraçou a causa do combate
anticolonialista, com o mesmo clamor da revolta refletindo e denunciando a repressão colonialista portuguesa, assim
como a vida pobre dos seus conterrâneos nas roças do café e do cacau.
Na sua poesia a cólera e a revolta são duas constantes que, associadas ao movimento dialético da vida que tudo destrói
e reconstrói, trazem a esperança: «Na beira do mar, nas águas,/estão acesas a esperança/o movimento/a revolta/do
homem social, do homem integral».
Em 1953, levanta a voz contra o massacre de Batepá, perpetrado pela repressão colonial portuguesa. Em 1962 foi
presa pela PIDE e levada para Caxias. O espartilho da censura e da opressão política empurrou-a para o exílio. Foi viver
para Paris, onde ficou trinta anos e fez a sua formação académica.
Depois da Revolução de Abril, iniciou com grande entusiasmo uma nova fase da sua vida, entregando-se à participação
na construção da sua pátria recém-nascida, como Embaixadora de São Tomé e Príncipe.
Faleceu no dia 10 de março de 2007.
A ilha te fala
de rosas bravias
com pétalas
de abandono e medo.
No fundo da sombra
bebendo por conchas
de vermelha espuma
que mundos de gentes
por entre cortinas
espessas de dor.
Socopé
XVI
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ROÇA
A noite sangra
no mato,
ferida por uma aguda lança
de cólera.
A madrugada sangra
de outro modo:
é o sino da alvorada
que desperta o terreiro.
E o feito que começa
a destinar as tarefas
para mais um dia de trabalho.
capinas o mato
com um machim de raiva;
abres o coco
com um machim de esperança;
cortas o cacho de andim
corn um machim de certeza.
E à tarde regressas
a senzala;
a noite esculpe
os seus lábios frios
na tua pele
E sonhas na distância
uma vida mais livre,
que o teu gesto
há-de realizar.