Apontamentos
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ABC + DE na Terapia
A: Acontecimentos ativadores, situações em que a pessoa se sente impedida de alcançar os seus objetivos e
necessidades
B: Cognições, pensamentos, ideias que a pessoa tem sobre os A (do inglês “belief”)
C: Consequências/reações emocionais e comportamentais aos A
D: Disputa dos pensamentos e crenças irracionais do/a cliente
E: Efeitos da disputa dos pensamentos e crenças irracionais do/a cliente
o Notas aulas: Modelo ABC da personalidade: A: ativadoras do problema; B: pensa perante uma situação/aquilo
que eu penso; C: aquilo que sinto/faço pelo que me acontece. A terapia trabalha essencialmente no B; D: o que o
terapeuta pergunta para mudar o B/ Promove o nosso pensamento; E: passa a ser C mas funcional e positivo
devido à terapia (D)
Exemplo
C: “Não valho nada porque não sou rico/a.”
(B: “O valor de uma pessoa mede-se pela quantidade de dinheiro que tem.”)
C: “É horrível sentir-se infeliz.”
(B: “Uma das piores coisas que pode acontecer a uma pessoa é estar num estado emocional desagradável.”)
Outros exemplos:
Exercício 1
1. Identifique o A e o C de cada situação e elabore/suponha um pensamento (B), de modo a interligar cada A com os
respetivos C.
a) O patrão do António criticou-o por este ter chegado atrasado ao trabalho. O António
ficou deprimido.
b) A Maria foi a duas sessões de psicoterapia e desistiu.
c) O Pedro foi multado por excesso de velocidade e ficou furioso.
o Exemplo a: A: ser criticado; B: o que o patrão pensa dele; C: ficar deprimido
o Exemplo b: A: ir à sessão; B: a terapia não resulta; C: desistência
o Exemplo c: A: multa; B: sou uma porcaria e imprudente; C: ficar furioso
Relação terapêutica
A relação entre terapeuta e cliente não é suficiente para a mudança, porém necessário
Deve, contudo, assentar numa colaboração próxima e numa aceitação incondicional
É preciso que os/as clientes tenham 3 insights fundamentais:
O comportamento disfuncional (C) resulta da interação entre os acontecimentos (A) e os pensamentos acerca
desses acontecimentos (B)
As pessoas permanecem emocionalmente perturbadas por apresentarem crenças irracionais que se repetem
continuamente
Só com grande esforço e dedicação é que os/as clientes podem corrigir as suas crenças irracionais
Papel do Terapeuta
Papel ativo
Contradizer as crenças irracionais dos/as clientes com base em evidências das vidas dos/as próprios/as e das
pessoas em geral
Cliente também tem um papel ativo
Papel diretivo do terapeuta: qual a lógica para esse pensamento
Fases do processo
Fase cognitiva: “Que problemas o/a preocupam?”
Fase emotiva: Os/as clientes aprendem que podem controlar as suas próprias emoções ao tornarem-se conscientes
dos seus pensamentos e ao serem capazes de formular pensamentos alternativos; aprendem que podem controlar
as próprias emoções, percebem que tem um poder das suas emoções
Fase comportamental: ação
Técnicas Terapêuticas
Discussão didática: ensinar o modelo
Biblioterapia
Role-playing: simulação de situações
Treino de assertividade: ajudar as pessoas a defender os sues direitos
Condicionamento operante: estímulo-resposta
Prescrição de trabalhos de casa orientados para tarefas: do ponto de vista da ação, tarefas escritas de registro
“Mudar a linguagem” (Changingone´slanguage)
Pressuposto de que a linguagem imprecisa contribui para o pensamento distorcido
Os/as clientes aprendem a transformar os “Tenho de” em preferências
E.g., “É horrível que ele/ame trate desta forma.” Versus “Seria preferível que ele/a não me tratasse desta
forma.
Uso do humor para a ajudar o/a cliente a lidar com as suas crenças irracionais
Os problemas emocionais surgem do facto de a pessoa se levar demasiado a sério
O Instituto da TREC gravou uma série de músicas humorísticas
E.g., “Estou zangado/a por estar preocupado/a e fico preocupado/a por estar zangado/a.”
Exercícios de ataque à vergonha
E.g., cantar bem alto enquanto se está à espera do autocarro para deixar de se preocupar com os
julgamentos dos/as outros/as e promover a autoaceitação e o desenvolvimento de referências internas para
apreciar o seu próprio comportamento
Embora cada abordagem teórica cognitiva tenha a sua própria história de desenvolvimento existem
semelhanças entre elas.
As abordagens cognitivas têm 3 proposições básicas comuns: há sempre um processamento cognitivo e
avaliação de eventos internos e externos; a atividade cognitiva pode ser monitorada, avaliada e medida;
mudança de comportamento pode ser um sinal indireto de mudança
Característica de definidora da terapia cognitiva: o princípio de que os sintomas e o comportamento
disfuncional são mediados cognitivamente, e, portanto, um terapeuta ajuda a cliente a melhorar, ajudando-a a
modificar pensamentos e crenças disfuncionais.
Terapias mais longas de 1 a 2 anos para perturbações de personalidade e outras doenças crónicas
Ellis considerou na sua terapia que os seus clientes podiam desaprender comportamentos mal-adaptativos
Ellis considerou a psicanálise ineficaz
Ellis desenvolveu 11 princípios irracionais baseados no conceito de Horncy sobre a tirania dos "deveria".
Adler também teve uma profunda influência na teoria REBT de Ellis. HC afirmou que nosso estilo de vida e
objetivos na vida são determinados por nossos princípios básicos sobre nossas crenças e sobre a vida.
Ellis: sofremos com o que fizemos com nosso trauma e escolhemos concluir apenas o que se adequa aos
nossos propósitos
O REBT sustenta que as pessoas são perturbadas porque mantêm crenças irracionais e fazem deduções ou
conclusões ilógicas com base nas suas crenças defeituosas
O REBT é baseado no princípio de que as pessoas nascem com um potencial para o pensamento irracional ou
racional.
Ellis sustentava que os seres humanos têm predisposição para autopreservação, felicidade e atualização do
crescimento
Ellis: Somos perfeitamente capazes de mudar nossas condutas
Ellis: Temos uma tendência inata para querer, "não aceitar" e condenar a nós mesmos, aos outros e ao mundo
que não sabemos o que pensamos. Destruímos nossa consciência por meio de nossas formas inatas e
adquiridas de autossabotagem
A: representa um conflito ou crise ativadora, como problemas familiares ou traumas na infância, que
desencadeiam estresse ou preocupação.
B significa "sistema básico" - o componente cognitivo em nossa interação com os contextos. Especialmente
importantes são as crenças irracionais e autodestrutivas que formam a fonte de nossa infelicidade.
C: consequências (os sintomas neuróticos e emoções negativas, como depressão, raiva e raiva) que vêm de
nossas crenças Crenças irracionais produzem consequências negativas para as pessoas. Uma pessoa que está
continuamente dizendo a si mesma "Não aguento isso" pode convencê-la a perder o valor. Ellis classificou
esse tipo de pensamento repetitivo negativo como ruminação
Ellis adicionou D e E à fórmula ABC.
O terapeuta ajuda o cliente a disputar (D) as crenças irracionais para que o cliente desfrute dos efeitos
psicológicos positivos (E) de se livrar das crenças irracionais. Se uma pessoa está em processo de separação
após uma ruptura conjugal ou de união, provavelmente é causada pelo que a pessoa está dizendo a si mesma
ou sobre a separação
Existem três elementos do processo de disputa: detetar, debater e discriminar
Terapeutas ajudam a detetar crenças irracionais absolutistas
No processo E as pessoas são ensinados a distinguir as crenças irracionais das racionais
Ellis descobriu que quando ele encorajou os clientes a desistir de suas ideias irracionais básicas, eles
frequentemente resistiram.
Devemos desenvolver uma vida de pensamento positivo, focar na nossa auto-estima, ao invés de crenças
irracionais e aprovação de outras pessoas.
Planear a vida com experiências que melhoram o crescimento
Ellis afirmou que o distúrbio emocional ocorre quando as pessoas se preocupam demais com o que os outros
vão pensar acerca de nós
Processo Terapêutico
Relação terapêutica
Papel do Terapeuta
Os terapeutas REBT devem entender os sistemas básicos e como distinguir crenças racionais e irracionais
O papel principal do terapeuta é focar nas principais ideias irracionais que estão por trás dos clientes
frustrados que os clientes têm expressado na terapia, especialmente porque é importante a maneira como as
pessoas os tratam.
O terapeuta é ativo e contradiz as ideias irracionais dos clientes, usando evidências da própria vida dos
clientes e do conhecimento que o terapeuta tem das pessoas em geral
3 fases: cognitiva (anotação dos pensamentos problemáticos); emotiva (os clientes são instruídos de que
podem controlar as suas emoções); comportamental (ensinados a mudar o seu comportamento)
Função do cliente
O REBT usa uma variedade de técnicas terapêuticas, incluindo discussão didática, biblioterapia,
dramatização, treinamento de assertividade, condicionamento operante e tarefas de casa orientadas para
atividades. Uma técnica usada é chamada de mudança de linguagem.
O REBT sustenta que a linguagem imprecisa contribui para o pensamento distorcido. Os clientes aprendem
como mudar suas "obrigações" para "preferências". Em vez de dizer: "É horrível que ela me trate dessa
maneira", os clientes aprendem a dizer: "Seria preferível que ela não me tratasse dessa maneira".
Mais usada;
origem na infância
Pensamentos automáticos
Distorções cognitivas
depressão causado pelo pensamento negativo. Perceção do futuro pessimista, situações nunca mudam.
As pessoas percebem que uma situação exige uma resposta, eles podem colocar em movimento um conjunto de
habilidades cognitivas, emocionais, esquemas motivacionais e comportamentais.
Personalidade como moldada pela interação entre a disposição inata das pessoas e o ambiente.
Personalidade é flexível;
tende a maximizar as chances de dano enquanto minimiza- A terapia cognitiva tem três suposições subjacentes:
(1) A comunicação interna das pessoas está disponível para ter apontado que a introspeção significativa do
esquema cognitivo, (2) as crenças dos clientes contêm altamente; 3) os clientes podem descobrir o lance médio.
As pessoas com esse esquema cognitivo têm uma história de suas comunicações internas de estar alerta para seus
arredores ambientais.
Os terapeutas podem ajudar as pessoas compreendendo o que têm pensamentos automáticos que sugerem certas
situações que eles estão dizendo a si mesmos sobre um evento perturbador (estradas chuvosas ou olhares no rosto
dos outros) são ameaças
Indivíduos com pensamentos obsessivos (pensamentos que causam preocupação contínua) buscam a certeza do
perigo ou dos problemas em situações que a maioria das pessoas acredita serem relativamente seguras. Por
exemplo, uma pessoa que volta continuamente para verificar se a porta de sua casa está trancada é bem diferente
daquela que volta apenas uma vez porque não consegue se lembrar se a trancou ou não. (E se eu esquecer de
embalar alguma coisa? É melhor eu fazer isso de novo para ter certeza de que acertei; eu tenho que fazer isso
sozinho ou não será feito corretamente)
A terapia cognitiva enfatiza o presente e geralmente dura de 10 a 16 sessões. O tratamento é focado nas questões
atuais dos clientes e não em seu passado. A terapia tenta fornecer alguma forma de alívio dos sintomas para os
problemas mais prementes dos clientes. Os clientes podem aprender estratégias específicas para lidar com seu
desconforto ou problemas.
A terapia cognitiva enfatiza a história de aprendizado dos indivíduos, a influência de eventos importantes da vida
e o papel que eles podem ter desempenhado no desenvolvimento de um distúrbio psicológico. O sofrimento
psicológico é o resultado de uma série de forças em interação. Por exemplo, a depressão pode ser causada por
fatores hereditários predisponentes, doenças que causam anormalidades neuroquímicas persistentes, traumas de
desenvolvimento que tornam a pessoa suscetível a vulnerabilidades cognitivas específicas e habilidades de
enfrentamento inadequadas.
Pessoas que sofrem de obsessões sentem culpa quando não fazem o que acham que deveriam fazer. Eles sentem
ansiedade mesmo quando estão seguros de que está tudo bem. O treinamento de habituação é uma técnica
específica usada para tratar obsessões. O treino de habituação elicia pensamentos obsessivos dos clientes
repetidamente.
O terapeuta faz uma avaliação detalhada dos pensamentos obsessivos do cliente; então ele ou ela desenvolve
maneiras de acostumar o cliente a pensamentos obsessivos sem sentir que algo precisa ser feito.
O processo terapêutico da TCC é altamente estruturado. A TCC exige uma análise detalhada do comportamento,
cognição e emoções de um cliente e uma determinação precisa dos objetivos de tratamento para um cliente. Ela
sustenta que a atividade cognitiva pode ser observada, ocultada e alterada. Além disso, a TCC afirma que os
processos cognitivos de um cliente contribuem para seu comportamento disfuncional e compreensão emocional
por meio de foco, perceção cognitiva, memória e distorção cognitiva.
Relação terapêutica
Em contraste com o REBT, a terapia cognitiva de Beck enfatiza a importância da relação cognitiva. Por que Ellis
sustentou que não era necessário para o terapeuta estabelecer um relacionamento caloroso com os clientes
De acordo com Rogers, as condições para a terapia são necessárias e suficientes para uma mudança positiva no
comportamento do cliente.
Habilidades de escuta para identificar os clientes;
Técnica socrática: Qual é a evidência para a crença? Como você pode interpretar a situação? Se for verdade, quais
são as implicações?
A descoberta guiada é o terceiro princípio principal em orientar clientes a fim de produzir descobertas para
determinar mudanças no pensamento do comportamento do cliente.
Na terapia cognitiva de Beck, o processo é governado por três princípios: (1) empirismo colaborativo (2) diálogo
socrático e (3) descoberta guiada.
O terapeuta e o cliente definem conjuntamente os objetivos
Gradualmente, o terapeuta ajuda a superar o viés do cliente
O objetivo fundamental da terapia cognitiva é remover ou para climatizar vieses no pensamento dos clientes que
funcionem de forma adaptada.
sobre a maneira como os clientes processam informações, especialmente porque esse processamento é usado para
manter comportamentos e comportamentos mal-adaptativos.
Na terapia cognitiva, o estabelecimento de metas geralmente é um empreendimento conjunto.
Os terapeutas ajudam os clientes a se tornarem específicos ao delinear seus objetivos, bem como ao priorizá-los.
Quando os objetivos dos clientes são específicos e concretos, o terapeuta está em melhor posição para escolher
técnicas que irão ajudá-los a mudar seus sistemas de clichês, comportamentos.
Papel do terapeuta
Para garantir a colaboração terapêutica, os terapeutas pedem retorno do cliente no final de cada sessão. O
cliente é questionado sobre o que ele achou útil ou não. Em muitos casos, os terapeutas resumem a decisão ou
podem pedir ao cliente que o faça. Em um esforço para desmistificar o processo terapêutico, o terapeuta
fornece ao cliente uma justificativa para cada procedimento usado.
O papel do terapeuta é ouvir, ensinar e encorajar durante o tratamento. O papel do meu cliente é expressar
preocupações, aprender, moderar
Fases da Terapia
Bcck e Wcishaar (2005) delinearam três estágios conceções defeituosas e auto-sinais da terapia cognitiva: (1)
sessões iniciais e (3) rescisão.
Durante a fase intermediária da terapia cognitiva, o foco é ajudar o cliente a pensar e desafiar pensamentos
automáticos.
A reflexão é uma técnica usada para tratar clientes ansiosos que erroneamente acreditam que são o foco da atenção
do cliente. Beck e Wcishaar (2005) citaram o exemplo de um aluno que tinha medo de falar em sala de aula
porque temia que seus colegas percebessem sua ansiedade. Tratá-lo envolvia aprender a me concentrar em outras
coisas além de sua ansiedade ou de suas aulas.
Fazer trabalho doméstico é outra técnica cognitivo- comportamental. No início da terapia, o terapeuta pode pedir
aos clientes que façam um diário de quaisquer incidentes que provoquem sentimentos de ansiedade ou depressão,
para que possam examinar seus pensamentos sobre o assunto. Atribuições específicas são dadas ao cliente para
coletar dados sobre pensamentos e comportamento.
Outra intervenção cognitiva útil é o registro de mudança de pensamento. Na fase inicial da terapia, os clientes são
apresentados ao pensamento, pedindo-lhes que façam uma anotação dos pensamentos automáticos que ocorrem
em situações estressantes e para identificar as emoções associadas a esses pensamentos. À medida que o cliente
começa a se adaptar mais à TCC, pode ser usado um registro de mudança de pensamento de três colunas no qual o
cliente (1) identifica erros cognitivos em pensamentos automáticos, (2) alternativas racionais, e (3) traça o
resultado fazendo as mudanças.
Aula 2
Terapia Cognitiva de Beck
Algumas Considerações de Base
o É uma das abordagens terapêuticas mais frequentemente utilizados
o Os/as terapeutas cognitivas/as afirmam que as crenças têm origem na infância e continuam a desenvolver-se ao
longo da vida
o Tem como foco o impacto do pensamento na personalidade e no comportamento
o A crença tem origem na infância e continuam a desenvolver-se ao longo da vida
o Recolher história desenvolvimento ou do problema (indo às origens da pessoa); não são aplicadas técnicas para
mudar na terapia coisas do passado, apenas para perceber o passado e o problema
o Foco no pensamento
o Autodiálogo: é possível ir aos nossos pensamentos
Pressupostos
o A comunicação interna das pessoas é passível de ser explorada por meio da introspeção
o As crenças dos/as clientes refletem significados pessoais
o Os/as clientes podem descobrir o significado da sua comunicação interna
o A terapia cognitiva foca-se no presente, é altamente estruturada e tem uma duração média de 10 a 16 sessões
o Acredita que a atividade cognitiva pode ser observada, medida e alterada
Pensamentos Automáticos
o Surgem sem esforço, espontaneamente
o No caso das pessoas com perturbação mental, são frequentemente distorcidos, extremos ou inadequados
o Pensamentos automáticos: nós estamos sempre a pensar; pensamentos automáticos negativos tendem a ser
distorcidos, extremos, fora da realidade Nas pessoas com perturbações mentais; pensamentos é um fluxo mais
imediato
Esquemas cognitivos
o Desenvolvem.se na infância e são elaborados ao longo da vida
o Se ativados, produzem pensamentos automáticos, emoções/sentimentos fortes e tendências comportamentais
o A maioria das pessoas (mesmo as que não têm qualquer problema psicológico) tem problemas em um ou mais
esquemas cognitivos
o Esquemas cognitivos (Ellis chamava crenças): pensamento parece que tem dois níveis; através dos pais aprendem
leis da forma como eu sou; podem ser alterados ao longo da vida; esquemas e pensamentos andam de mãos dadas;
esquemas tendem a ser mais estáveis; pessimismo é um esquema cognitivo
Vantagens:
Consistem em conceitos ou estruturas mentais que ajudam a organizar e a interpretar a informação
Pré-conceito em relação ao mundo segundo isso organizador
Desvantagens:
Promovem a exclusão da informação relevante em detrimento de informação que confirma as crenças ou
ideias preexistentes
Se eu sou pessimista, então eu vou dar mais atenção acontecimentos congruentes com o pessimismo e vou
ignorar pensamentos incongruentes com estes acontecimentos
Distorções Cognitivas
o O mesmo que “erros lógicos”, “erros cognitivos” ou “erros de pensamento”
o Ocorrem quando o processamento cognitivo é inadequado
o Se frequentes, podem conduzir a problemas psicológicos (e.g., depressão, ansiedade)
o O comportamento mal adaptativo é resultado de formas de pensar falaciosas, de inferências realizadas
incorretamente com base em informação inadequada e da dificuldade em distinguir fantasia de realidade
o Distorções cognitivas = Erros de pensamentos/cognitivos/lógico
Relação Terapêutico
o É vista como crítica na prática da terapia cognitiva
o Deve ser baseada na empatia e na aceitação positiva dos/as clientes
o Faz uso de competências de escuta ativa na identificação dos sentimentos dos/as clientes
o É essencial para a eficácia do sucesso da terapia
o Preocupação maior com a qualidade da relação que permita ao cliente desenvolver
o Importância do cliente da perceção da sua realidade
Processo Terapêutico
o Deve ser orientado por três princípios:
1. Empiricismo colaborativo – ambos/as, terapeuta e cliente, determinam os objetivos do tratamento; são cos
investigadores/as das evidências que ajudem a reforçar ou a modificar as crenças do/a cliente
2. Diálogo socrático – método de questionamento
3. Descoberta guiada – como resultado, o/a cliente aprende como mudar as crenças mal-adaptativas
o Notas aula
Apesar de ser diretiva, há um esforço para colaborar ativamente com o cliente para objetivos terapêuticos
Maior preocupação pela colaboração ativa com os clientes
Descoberta guiada: o terapeuta tem lugar de expert, mas o cliente descobre com a ajuda do terapeuta novas
conclusões (no Ellis não era assim)
Beck: como deves pensar sobre isso
Diálogo Socrático
o Clarificar e identificar o problema do/a cliente
o Ajudar a identificar os pensamentos e crenças do/a cliente
o Avaliar o significado que o/a cliente atribui aos acontecimentos
o Medir as consequências da manutenção de pensamentos e comportamentos mal adaptativos na vida do/a cliente
o Diálogo socrático: (Ellis refere-se à disputa);
Objetivos da Terapia
o Eliminar viés nos pensamentos dos/as clientes que os impeçam de funcionar de forma bem-adaptada
o O papel do/a terapeuta é o de investigar as distorções cognitivas presentes na perspetiva do/a cliente acerca da sua
vida e ajudá-lo/a a modificar a sua forma de pensar
Ouvir, pensar, encorajar
o Ajudar a pensar de forma mais ajustada
Avaliação
o Questões orientadoras:
Que experiências contribuíram para o desenvolvimento das crenças nucleares do/a cliente?
Quais são as crenças nucleares do/a cliente?
Qual é a crença mais central do/a cliente acerca dele/a próprio/a?
Que crenças positivas ajudam o/a cliente a lidar com as suas crenças nucleares?
Que estratégias compensatórias o/a cliente desenvolveu para lidar com as suas crenças nucleares?
Que pensamentos automáticos tem o/a cliente?
Como é que esses pensamentos se relacionam com os sentimentos e comportamentos do/a cliente?
o Beck Depression Inventory
o Beck Anxiety Inventory
Fases da Terapia
1. Fase inicial
Terapeuta muito ativo/a, focado/a na construção da aliança terapêutica com o/a cliente, em fornecer o
racional do modelo cognitivo e da relação entre pensamentos e sentimentos, na avaliação dos problemas
do/a cliente, nos estabelecimentos dos objetivos para o tratamento, na atribuição de trabalhos de casa e na
explicação de outras tarefas terapêuticas
2. Sessões intermédias e finais
Foco no desafio dos pensamentos automáticos do/a cliente
3. Finalização (manutenção de ganhos e prevenção de recaída: que estratégias foram úteis na terapia e podem
continuar a ser quando esta acabar)
Técnicas Terapêuticas
Descatastrofização
Reatribuição
Descentração
Autorregisto de pensamentos
Descatastrofização
o Técnica do “e se?”
o Ajuda os/as clientes a preparem-se para as consequências temidas
o É utilizada para diminuir o evitamento dos/as clientes face a condições ou situações que lhes provoquem
ansiedade
o Pensam no pior cenário possível
o Desfazer o cenário catastrófico
o Colocar o problema na escala certa
Reatribuição
o Testa os pensamentos automáticos dos/as clientes, introduzindo causas alternativas para os acontecimentos
E.g., Por vezes os/as clientes atribuem a responsabilidade de um dado acontecimento a si próprios/as
quando, na realidade, essa responsabilidade é mínima ou mesmo nula
o Ajuda os/as clientes a, de forma justa, distribuírem a responsabilidade por si, pelos/as outros/as ou até por
circunstâncias externas e pelo acaso
▪ E.g., “Se eu lhe tivesse telefonado, talvez ela não se tivesse suicidado.” (Existe um número elevado de
razões para alguém cometer o suicídio – e.g., depressão, ter sido vítima de violência doméstica – que não
apenas a ausência desse telefonema.)
Ajudar a redistribuir a responsabilidade de uma forma ajustada;
Descentração
o Utilizada no tratamento de clientes ansiosos/as, que, de forma errada, acreditam ser o foco de atenção de toda a
gente
E.g., estudante que teme participar nas aulas porque pensa que os/as seus/suas colegas de turma irão notar a
sua ansiedade. – O tratamento envolverá que o/a estudante aprenda a focar a sua atenção noutras coisas, que
não a sua ansiedade e os/as seus/suas colegas
Tipo de questões: Se toda a gente olhar, qual é o problema?
Autorregisto de pensamentos
o Depois de o/a cliente ter adquirido a capacidade de identificar os pensamentos automáticos, incluir nova coluna
para o/a ajudar a tomar consciência das distorções cognitivas presentes nos mesmos
o Ajudar a pessoas a assinalar as suas próprias distorções cognitivas com o pensamento
o Depois de o/a cliente ter adquirido a capacidade de identificar os pensamentos automáticos e as distorções
cognitivas subjacentes aos mesmos, incluir três novas colunas:
Uma para gerar pensamentos alternativos mais funcionais
Uma para gerar ações correspondentes aos pensamentos alternativos
Uma para identificar o resultado desses pensamentos e ações alternativos
Desafios:
Estas técnicas de lápis-papel nem sempre podem ser eficaz porque nem sempre escrevem e preenchem a tabela, sendo
que, os psicólogos devem-se adaptar ao paciente e àquilo que ele faz. Ou seja, adaptação das técnicas aos pacientes
Aula 3
Psicoterapia Cognitiva Pós-Racionalista
A psicoterapia cognitiva pós-racionalista começa como reação à terapia racional emotiva comportamental de
Ellis (1962) e à terapia cognitivo-comportamental de Beck (1979)
Resultou de modificações sucessivas aos métodos de análise funcional da terapia comportamental e de
reestruturação cognitiva da terapia cognitiva e procurou integrar as questões relacionais
Tem como antecedentes os trabalhos de Kelly (1955), a terapia construtivista de Mahoney e a terapia
cognitivo-narrativa de Gonçalves (década de 80), entre outros
Modelos construtivistas: realidade é construída através da relação subjetiva da pessoa com o seu país
Tradição cognitiva + pós pensamento, para além do pensamento
Certa modificação dos modelos cognitivos
Enquadramento
Guidano e Liotti (1983) – Publicação do livro “Cognitive processes and emotional disorders”
Principais influências
Teoria do desenvolvimento cognitivo de Piaget
Teoria da vinculação de Bowlby (1988)
Visão evolucionista do conhecimento
Premissas epistemológicas de Popper (estudou a construção do eu, através de pressuposto
filosóficos/epistemológicos)
Epistemologia evolutiva de Campbell e Lorenz
Teoria motora da mente desenvolvida de Weimer
Guidano prossegue com o seu interesse em temas epistemológicos e na teoria da identidade
Liotti prossegue com o seu interesse nos inputs da teoria da vinculação para a relação terapêutica e no
tratamento de transtornos dissociativos
Pressupostos teóricos
Guidano (1994)
A realidade tem uma base emocional e intersubjetiva
Mentalização: Capacidade de discriminar os próprios estados emocionais e cognitivos, bem como
os dos/as outros/as
O vínculo é um facilitador determinante no desenvolvimento de um sentido estável e contínuo de si mesmo/a
Desenvolvimento psicoafectivo – A qualidade afetiva dos vínculos na infância contribui para o
desenvolvimento da identidade pessoal
O conhecimento é construído ativamente pela pessoa e é, por isso, autorreferenciado
Desenvolve-se num continuum entre normalidade, neurose e psicose
Notas aulas:
Guidano:
Práticas de vinculação precoce leva a padrões de relacionamentos interpessoais; autorreferenciado: minha
interação com o meio
Foco: identidade pessoal (eu: experiência imediata, concreta)
Mim: significado atribuído à experiência (experiência mais reflexiva; mais pensada); é o processamento
mais abstrato, subjetiva, de interpretação, contruída
Narrativa: como eu faço entre o mim e o eu; história de mim
Aquilo que eu penso sobre mim é uma interpretação dos meus significados e conforme a minha
experiência
Conhecimento é subjetivo
Dar primazia ao pensamento, mas mais foco nas emoções para construir a minha realidade; não há
pressuposto de causalidade entre os pensamentos e os comportamentos; lógica da flexibilização dos
pensamentos (coexistem todos, mas há um contínuo de pensamentos negativos e pensamentos mais
funcionais e ajudar a pessoa a desenvolver-se neste contínuo)
Organização de Significado Pessoal: tipos de identidades pessoais (pessoa tem depressão= vai comportar-
se de determinada maneira)
Pressupostos terapêuticos
OSP Depressiva
Na infância, padrão de vinculação evitante
Figuras cuidadoras rejeitantes e/ou desatentas
Carateriza-se por autoimagem negativa, expetativas de rejeição e/ou perda e por um sentido global de
insuficiência afetiva
Associada a sentimentos de tristeza e/ou raiva
OSP Fóbica
Na infância, padrão de vinculação ambivalente
Figuras cuidadoras atentas e amáveis; no entanto, limitadoras do comportamento exploratório (e.g.,
sobreproteção)
Carateriza-se por uma autoimagem positiva e por um sentido global de valor pessoal; no entanto, o mundo é
percebido como perigoso e a pessoa antecipa que precisa do cuidado/proteção de outrem para garantir a sua
segurança
Dilema entre a necessidade de explorar o mundo e o medo de um mundo que é percecionado como
perigoso
Associada a sensações fisiológicas de grande ativação e desconforto
OSP Obsessiva
Na infância, padrão de vinculação misto (evitante e coercivo)
Figuras cuidadoras inconsistentes, que ora valorizam ora desvalorizam/repreendem
Carateriza-se por um funcionamento ambivalente e dicotómico em termos predominantemente cognitivos e de
regras de pensamento lógico-racional
Associada à dúvida
Fases da terapia
Avaliação, diagnóstico, estabelecimento do setting terapêutico e reformulação do repertório atual do/a cliente
Reconstrução do estilo afetivo do/a cliente
Reconstrução da história evolutiva do/a cliente (opcional)
Introdução à técnica
Moviola = técnica de edição cinematográfica (e.g., seleção de cenas, câmara lenta, zoom in e zoom out)
A reprodução e edição em vídeo aumentou significativamente na década de 80
A televisão e os jogos de futebol
Os primeiros estudos com filmagens de interações mãe-bebé (e.g., Stern, 1985)
Passos da “Moviola”
Vista panorâmica
O/a cliente é treinado/a a aprender a dividir uma experiência específica numa sequência de cenas, obtendo
assim um tipo de visão panorâmica
2. Redução
O/a terapeuta ajuda o/a cliente a enriquecer cada cena com detalhes e com vários aspetos sensoriais e
emocionais
3. Amplificação
O/a cliente deve reinserir a(s) cena(s), já enriquecida(s), na sequência da sua história de vida
Dessa forma, quando o/a cliente se vê, tanto do ponto de vista subjetivo como objetivo, ele/a pode
começar a construir novas abstrações e ideias alternativas sobre ele/a e a sua experiência de vida
Método Subjacente
Auto-observação
Não é um processo introspetivo; é um processo no qual se espera que o/a cliente seja capaz de alternar
entre o papel de ator/atriz e de espetador/a da própria experiência (entre autoconsciência pré-reflexiva e
autoconsciência reflexiva)
O trabalho terapêutico foca-se na reconstrução de episódios narrativos problemáticos da vida do/a cliente,
visando o incremento da sua consciência relativamente ao modo como funciona emocional e
cognitivamente e uma articulação mais equilibrada entre os seus modelos internos e a realidade que
experiência
Relação Terapêutica
Constitui-se como uma relação ao serviço da exploração pessoal do/a cliente e das suas próprias regras de
funcionamento
Papel do Terapeuta
“Perturbador/a emocional estrategicamente orientado/a” (Ruiz, 2007)
▪Num primeiro momento, a prioridade do/a terapeuta deverá ser assegurar uma relação terapêutica com
o/a cliente
Depois de estabelecida essa relação, o/a terapeuta deve convidar o/a cliente a focar-se em episódios da sua
narrativa emocionalmente perturbadora e a reconstruí-los por recurso à técnica “la moviola”
É fundamental que o/a terapeuta respeite o ritmo interno do/a cliente e permita que os significados
emerjam a partir de dentro do/a cliente, dado que só assim serão vividos por ele/a como algo próprio com
valor de evidência
Recomendações
Para se conseguir “editar cinematograficamente” a experiência problemática de um/a cliente é necessário que se
tenha uma compreensão precisa da fenomenologia e da ecologia da experiência vivida por ele/a
O/a terapeuta deve ajudar o/a cliente a focalizar a sua atenção nas suas sensações corporais, na sua experiência
emocional, assim como nos seus pensamentos, tal como surgem na sessão, ao reanalisar a situação vivida
Contraindicações
Não é recomendada em casos de elevada gravidade e/ou que cujas situações revisitadas impliquem grande
ativação emocional, a não ser que o/a cliente tenha recursos suficientes para se regular adequadamente
E.g., Casos de stresse pós-traumático
Face à partilha da Maria, a terapeuta decide focar a conversa na relação da Maria com o seu noivo: “Como o
casamento vai pressupor uma mudança de vida importante para ti, parece-te bem conversarmos sobre como te
sentes em relação ao teu noivo e ao casamento?” Maria consente. Na segunda sessão, a terapeuta e a Maria
conversam sobre a relação dela com o noivo, que era um rapaz do povo, que no passado tinha ajudado o seu pai no
campo e que era conhecido e aceite pela sua família. Quando a terapeuta pergunta a Maria sobre como ficaram
noivos, Maria pouco diz; no entanto, fica claro que nunca tiveram relações sexuais e que nunca fizeram nada que
não fosse aprovado pelos pais da Maria. Pouco a pouco, sem que a terapeuta a force demasiado, Maria vai ficando
mais confortável na relação terapêutica e abre-se sobre a relação com o seu noivo
Na sessão seguinte, a terapeuta decide explorar a experiência da Maria por recurso à técnica “moviola”. A cliente
tinha referido uma situação acontecida no sábado à tarde, em que ela e o seu noivo estavam no andar de cima da
casa dos seus pais, que era ligado ao andar de baixo por escadas interiores que permitiam a comunicação entre
ambos os andares.
A visão panorâmica inicial daquela tarde que Maria oferece é a seguinte: ela e o noivo passaram a tarde a ver
televisão no sofá e jantaram juntos num espaço contíguo à sala de estar.
Então, a terapeuta propôs à cliente que explorasse esse episódio com maior profundidade: “Às vezes, para
sabermos bem o que se passa, precisamos de parar e refletir sobre como vivemos uma dada situação. Quando
refletimos, o que fazemos é, de certo modo, parecido ao que fazem na televisão quando está a dar um jogo de
futebol e repetem, em câmara lenta, uma situação que deu origem a um penalti. É como se as cenas fossem postas
numa película de cinema. Parece-te bem que eu te ajude a rever o que aconteceu nessa tarde de sábado para
vermos o que podemos aprender?”
Depois de Maria dar o seu consentimento para prosseguirem, a terapeuta começou a guiá-la para que relatasse a
situação como se esta tivesse sido filmada e a pudessem ver juntas no ecrã de uma televisão
Continuação: Caso
Seguindo a revisão daquela tarde com a cliente, depois, a terapeuta explorou como é que a Maria tinha ido ao piso
inferior buscar o jantar que a mãe tinha preparado.
No tabuleiro, havia um prato com alface para a Maria e uma malga de sopa e um prato de frango com batatas
fritas para o noivo.
A Maria subiu as escadas com o tabuleiro com todo o cuidado para não entornar a sopa do noivo e ambos se
sentaram a jantar
Ao ver a cena a partir do exterior, apareciam vários níveis em paralelo.
Por exemplo, podia focar-se no conteúdo da conversa entre a Maria e o noivo em que esta o colocava à prova: “Se
eu não ficar bem e continuar com este problema, continuarás a querer-me?”
À medida que terminava a sopa, ele assegurava que sim, que a continuaria a querer.
Nesse momento, ela já tinha terminado o seu prato de alface.
Na sessão, a exploração exterior da cena continuava.
Então, a terapeuta pediu à Maria que lhe dissesse o que é que ela via que estava a fazer ao ver-se de fora. E, sem
duvidar um segundo, ela afirmou: “Estava a olhar para as batatas fritas do prato dele.”
A partir daqui, quando se viu no ecrã imaginário da sua memória e reconheceu que estava a olhar para as batatas
fritas no prato do noivo, Maria reconheceu também a sua enorme vontade de comer essas batatas e de como, na
situação, se havia inibido a fazê-lo com muito esforço, dado que, depois de terminar a sua alface, tinha continuado
com fome – segundo o que se apercebeu na sessão
Considerações sobre o emprego da Técnica
Levar a cabo este processo de revisão da cena pode ser árduo e, em grande medida, entediante
Muitas vezes, o/a cliente não está habituado/a a rever uma situação vivida com este nível de detalhe
E ao/à terapeuta cabe estar sempre atento/a e capaz de reconduzir a atenção do/a cliente para a situação que
está a ser reconstruída, tentando respeitar o seu ritmo
Continuação: Caso
Este trabalho de minuciosa reconstrução da experiência da Maria ao nível da autoconsciência pré-reflexiva
poderia ter passado despercebido, não fosse, na sessão seguinte, a Maria ter apresentado uma total remissão da sua
sintomatologia.
Chegou à sessão a dizer que aquela iria ser a última sessão porque se tinha apercebido de que o que estava a fazer
era uma maluquice.
Disse, também, que tinha tomado a decisão de deixar de comer no dia em que viu o camião a chegar com os
materiais para ser iniciada a construção da sua casa, ao lado da dos seus pais – casa na qual passaria a viver com o
seu noivo depois de se casar.
Como ela mesma disse, ver aquele camião fê-la dar-se conta de que a situação de compromisso com o noivo não
tinha retorno e isso assustou-a.
Porém, agora, tinha-se dado conta do que se passava, já não tinha medo e queria avançar com o casamento
Com a ajuda da “moviola” e guiada pela sua terapeuta, Maria pôde ir reconhecendo níveis das suas experiências
que antes inibia ou ignorava por medo e que, depois da terapia, já conseguia reconhecer e aceitar.
Artigo:
“Processo e resultado em psicoterapia e à "utilidade clínica" para os profissionais, para lidar e ajudar pessoas que
sofrem e, por último, mas não menos importante, com 'ser transparente' e imediatamente acessível tanto aos
profissionais como aos jovens estagiários
1) filosófico-epistemológico; 2) clínico-conceitual; 3) metodológica, referindo-se às categorias de debates mais
frequentes entre alguns especialistas muito conhecidos no campo da psicoterapia pós-racionalista
1), Mas se a teoria pós-racionalista de Guidano não se coloca além do racionalismo, mas é ela mesma racionalista,
isso significa que diferentes formas de racionalismo, mesmo diferenciando entre métodos, têm um fundamento
comum: a busca da verdade orientada pela correspondência da aprendizagem teórico-saber (idéia, julgamento,
teoria, mecanismo etc.) e o objeto (Adaptar as coisas ao intelecto).
Mas então de que psicologia pós-racionalista estamos falando quando tratamos do pós-racionalismo de Guidano?
Utilizou plenamente a visão narrativa (alguns falam do estilo das organizações, outros de narrativas emocionais,
outros de narrativas pessoais, outros de significado narrativo, outros ainda de abstração narrativa!?).
O inconsciente passa a ser o lugar daquelas representações cognitivas que, mesmo não entrando na consciência,
operam como metaconsciência afetiva ou como cognição inconsciente. É muito árduo ser mais racionalista do que
isto
Tanto o pós-racionalismo de Guidano quanto a epistemologia experimental de Maturana compartilham a mesma
perspetiva ontológica que anima o pensamento moderno, caracterizada pela determinação antecipada do ser como
se fosse uma coisa; como se fosse um produto – o sistema auto-organizado – que permanece processualmente
inalterado ao longo do tempo e imutavelmente subjacente (subordinado) a todas as qualidades mutáveis”
2) O domínio clínico-conceitual é aquele que apresenta as afirmações mais díspares e implausíveis, mas a boa
disposição que dele deriva, debilita imediatamente a reflexão sobre como estas poderiam ser iatrogênicas para os
nossos doentes e enganosas para os nossos estagiários. razão pela qual nos sentimos forçados a discuti-los e
refutá-los.
Enquanto o sujeito enfrenta as repercussões das discrepâncias afetivas emergentes, o seu sentido de si e do seu
valor ainda é vago e indefinido; – a referida sensibilidade ao julgamento (ndA) – não pode ser considerada como
constituindo o funcionamento normal da identidade adulta. De facto, um adulto saudável com um estilo de apego
seguro e uma capacidade de mentalização adequada não apresenta uma sensibilidade de julgamento marcada (que
é fisiológica para uma criança), tendo atingido uma autonomia afetiva e cognitiva mais equilibrada
3) Um processo unitário de ordenação em que a continuidade e a coerência interna são buscadas na especificidade
das propriedades formais e estruturais de seu processamento de conhecimento (ou seja, flexibilidade,
generatividade e abstração nível)
Visão Contemporânea
Uma abordagem sistema-processo complexa como a pós racionalista, que apresenta um modo de pensar pós-
moderno que está em sintonia com a literatura contemporânea, com as noções de autorreferencialidade e auto-
organização, com as noções de relação como um processo e o da irreversibilidade temporal, e ainda com a
centralidade dos processos de apego e desapego para a autorregulação afetiva e biológica do equilíbrio
termodinâmico humano, tudo remetendo às modernas teorias da complexidade, parece ser capaz de abarcar o
desafio vindo das neurociências afetivas para a psicoterapia e a psicopatologia
Terapias cognitivas conseguem regular os afetos e melhorar a fusão da perspetiva cognitiva com os afetos
positivos, que ocorre durante um relacionamento interpessoal, como em um relacionamento terapêutico: a
pesquisa e a terapia modernas poderão descrever e construir a relação mais adequada, adaptada às necessidades do
paciente e às doenças afetivas, com um método confiável e válido
Conclusões
O programa de pesquisa pós-racionalista utiliza uma metodologia com características científicas e artísticas. É
especificamente focado em "como" realizar o processo psicoterapêutico e alcançar resultados para os
pacientes
O objetivo dessa forma de pensar e praticar é compreender os processos de conhecimento, de forma a
estabilizá-los e melhorar o sofrimento psíquico por meio de uma terapia relacionamento terapêutico, que é
orientado para a estratégia, a fim de alcançar um equilíbrio psicológico
Além disso, a academia pós-racionalista em psicoterapia deve contribuir para a compreensão da complexidade
do sofrimento psicológico humano e para o desenvolvimento de uma psicologia cultural
OSP Depressivo
As pessoas com uma autoimagem consciente negativa, que constantemente se antecipa à perda (de vínculos e
relações interpessoais) e por organizar sua experiência em torno de um senso de autossuficiência afetiva.
Durante o seu desenvolvimento, estas pessoas apresentam temporariamente um estilo de vinculação de tipo
evitante, no qual se estabelece frente à perda de um dos progenitores ou cuidadores primários durante a
infância ou a atividade de rejeição e desatenção. As emoções características: desesperança e raiva.
OSP fóbico
Representam uma autoimagem positiva, que se desenvolveu dentro do cuidado infantil na frente daqueles que
ou menos percebem que é valioso. Entretanto, o estilo parental dos cuidadores é caracterizado por uma
restrição indireta da conduta exploratória natural de educação, pois o indivíduo se desenvolve com uma
perceção de mundo tão perigoso, precisando do cuidado de outras pessoas para a sua proteção.
A sua experiência imediata foi construída a partir de uma tensão entre a necessidade de proteção.
Diante de um mundo perigoso e da necessidade antitética de autonomia e liberdade; também é compreensível
como uma tensão entre curiosidade exploratória em meio ao perigo. Esses indivíduos apresentam um padrão
de apego de tipo ambivalente.
E pela primazia que as pessoas com este tipo de vinculação dão informação emocional e sua menor
capacidade de codificação da sua forma cognitiva, suas emoções são predominantemente vividas a nível
fisiológico, por isso são pessoas que organizam a sua identidade em torno de um senso de autocontrole
emocional.
OSP Obsessivo
Indivíduos cujo domínio emocional descansa sobre um sentido ambivalente e dicotómico e de si mesmo. Este
sentido se desenvolve a partir de polaridades opostas de significado "todo o nada" na experiência em curso,
eles recorrem a sistemas de regras externas para estruturar sua experiência em termos predominantemente
cognitivos; que organiza sua realidade a partir de suas próprias regras de pensamento lógico-racional.
Filhos de indivíduos que se apresentam em uma busca constante de certezas, e que evitam sempre a dúvida.
O desenvolvimento destes assuntos se caracteriza por um estilo de criança, considerado de um estilo de
vinculação misto (evitante e coercitivo), no que o menino frente à conduta de seu cuidador pode fazer uma
valorização de si mesmo tanto positiva como negativa, posto que são cuidadores em que predominam as
interações verbais sobre o contato afetivo e a adesão a sistemas de regras externas (morais, religiosas)
A criança, por sua vez, recorre ao contexto externo para decodificar a sua própria experiência de acordo com
os preceitos, regras, critérios sobre o que é correto ou incorreto, bom ou mau, útil ou inútil.
Principal característica dos sujeitos com organização da perturbação alimentar é um sentido de si mesmos
como hesitante e ambíguo, o que depende de ser definido a partir de outros, particularmente de significados
das figuras, aderindo a valores sociais convencionais de forma perfeccionista, que permite corresponder às
expectativas dos outros e obter a sua aprovação.
A experiência de criação desses indivíduos é caracterizada por cuidados e interações que para a criança são
geralmente ambíguos e contraditórios; São ambientes familiares que priorizam as aparências dos outros em
detrimento dos outros.
Cuidado afetivo do bebé, sabendo que a educação percorre informações do contexto externo, ou que permite
decodificar a sua experiência interna no decorrer dos termos de aprovação/ desaprovação, acordo/discordância
sobre sucessos/fracassos.
Deve-se ter em mente que a teoria OSP não foi desenvolvida com o objetivo de simplesmente explicar a
conduta psicopatológica das pessoas. Estas constituem chaves explicativas de utilidades exclusivas para que o
terapeuta possa dar conta da forma como ela é organizada e reorganizar a experiência e a maneira como ela
em que o assunto é o significado.
Portanto, esta teoria permite explicar o desenvolvimento normal e patológico.
Guidano (1991) baseou-se na teoria do desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget, que ele usa de forma mais
concreta para o surgimento do pensamento abstrato, para explicar o continuum do processamento do normal
ao patológico
O OSP (surgimento do pensamento abstrato) pode processar seu significado pessoal de forma abstrata e
flexível, estado que caracteriza a saúde; ou de forma específica e estereotipada, típica dos estados
psicopatológicos da neurose e da psicose.
Guidano situa o OSP dentro de um continuum que vai da normalidade, em seu extremo mais flexível e
abstrato, passando pela neurose conforme o pensamento se torna mais concreto e finalmente levando à
psicose, ou estado de maior concretização do OPS
Dependência/independência do campo para diferenciar o cognitivo
O primeiro (dependente do campo), com características de maior interpenetração, concentra sua atenção na
busca de proximidade emocional e física com os outros;
O segundo (independente do campo), com uma orientação mais urgente, procura outros dois a uma distância
física e emocional
O foco para dentro para fora: para dentro aqueles indivíduos que constroem a sua identidade centrando-se na
sua própria interioridade, de forma a manter um sentido de sim continuidade; pretendem modificar
constantemente o ambiente externo para que corresponda às suas atividades internas; tendem a se concentrar
mais em emoções básicas (medo, raiva, surpresa, alegria)
Os indivíduos externos são quem constrói sua identidade em sintonia com uma referência externa, ou muda as
condições de sua interioridade para corresponder ao contexto externo; será mais caracterizada por vivenciar
emoções mediadas pela cognição, também chamadas de emoções secundárias (vergonha, orgulho, compaixão
A organização depressiva é localizada entre as polaridades interno e independente do campo, a organização
fóbica nas polaridades interno e dependente de campo, a organização das imagens nas polaridades externo
dependente de campo a organização obsessiva das polaridades externo e independente do campo
A fenomenologia é a ciência da subjetividade que permite refletir sobre a estrutura da experiência e sua
multiformidade para cessar o significado da experiência individual de cada sujeito
A objetivação da experiência pessoal por meio da narrativa linguística reconhece dois aspectos: 1) o ato de
significar, refere-se à ação e ao sentimento da primeira pessoa e 2) o sentido desvinculado da referência à
experiência que é objetivada e avaliada a partir da perspetiva da terceira pessoa
Assim como o modelo de si mesmo de Guidano é baseado no conhecimento científico da psicologia sobre o
desenvolvimento cognitivo e afetivo e a intersubjetividade, assumir esse conhecimento implica desenvolver
um modelo de terapia não que esses elementos desempenham um papel fundamental, essencialmente no caso
da relação terapêutica para terapia
Toda a fundamentação epistemológica e teórica sobre a qual se fundou o pós-racionalismo, foi formulada com
o objetivo de desenvolver uma modalidade de intervenção coerente com esta fundamentação e diferenciada
das suas antecessoras.
A terapia cognitiva clássica, baseada numa epistemologia racionalista, tem como objetivo terapêutico a
reestruturação de dois pensamentos distorcidos, que o terapeuta pode racionalizar graças às suas técnicas
As abordagens clássicas da terapia cognitiva consideram as emoções dependentes ao pensamento
Para o pós-racionalismo, as emoções constituem uma forma primitiva e análoga de organizar a realidade, que
coloca a ordem emocional em complementaridade com a cognitiva, impossibilitando assim a alteração das
emoções negativas pela alteração dos pensamentos distorcidos; dito de outra forma, para o pós-racionalismo
apenas as emoções podem mudar para simpatia, mas quando não o são, são um subproduto da cognição
A terapia cognitiva pós-racionalista tem como principal objetivo a reestruturação do OSP, em contraste com a
reestruturação de dois pensamentos disfuncionais para a terapia cognitiva.
Ao reestruturar o OSP, ele não muda, mas se torna mais flexível;
Flexibiliza a autoimagem do indivíduo, permite uma explicação diferente da sua experiência e também
flexibiliza tonalidades emocionais problemáticas, que se tornam menos fortes e incontroláveis.
Este processo psicoterapêutico constitui novas interpretações da experiência; experiência que no sujeito se
estrutura em termos de uma narrativa, uma história que o paciente conta conscientemente nas sessões
terapêuticas
Durante o processo psicoterapêutico, o paciente traz consigo um problema formulado em termos narrativos;
na estrutura narrativa da experiência humana eles produzem duas experiências simultâneas de si mesmos: um
eu que conta a si mesmo, o narrador, e um eu que sente, ambos podem ser discrepantes; essa discrepância leva
o indivíduo a constantemente reorganize sua experiência para integrar aspectos de si mesmo
Para atingir esse objetivo (o acima), a metodologia da terapia pós-racionalista é a auto-observação
O terapeuta, desde o início do tratamento, treina o paciente a recriar os episódios narrativos de sua experiência
problemática nas sessões, a recriar seu senso subjetivo de si durante esses episódios. Essa atividade de auto-
observação visa fazer com que o paciente amplie a consciência de que possui sua própria função emocional e
cognitiva, e consiga articular mais modelos de si mesmo e da realidade que apresenta
Ser perturbador emocional estrategicamente orientado implica que este modelo terapêutico é de ativação
emocional altamente perturbadora para o paciente, uma ativação que o terapeuta -como base segura para seu
paciente- deve ser capaz de manejar e conter
1ªfase: faz parte da avaliação, psicodiagnóstico e estabelecimento de configurações terapêutico e da
reformulação do repertório atual; trabalha-se o motivo da consulta do paciente, que por meio da auto-
observação é reformulado
À medida que o trabalho psicoterapêutico se desenvolve, eventualmente torna-se natural o desconforto
psicológico afetivo. Quando o paciente chega com o terapeuta para reformular seus problemas em termos
afetivos, inicia-se a segunda fase da terapia
Reconstrução do estilo afetivo do paciente, desde sua estreia afetiva na adolescência até seu estado atual
Começou a reconstrução da história evolutiva: inicia-se com a mesma metodologia, partindo do resgate mais
antigo do paciente até a atualização.
Vale ressaltar que esta última fase é opcional, cabendo ao paciente optar por realizá-la ou encerrar o
tratamento
Aula 5
Teoria dos Construtos Pessoais
Os seres humanos, no seu próprio modo, procuram predizer e controlar o curso dos acontecimentos em que se
envolvem ao longo da vida
Nesse processo de aproximação progressiva à compreensão da realidade, colocam hipóteses – i.e., constructos
pessoais – que procuram validar e que elaboram no confronto com uma realidade em constante mudança
A teoria kelliana é, pois, uma teoria sobre teorias pessoais em que, tal como o/a cientista, nós somos entendidos/as
como agentes proactivos/as e construtores/as de significado
Seres humanos cientistas da sua própria experiência: constante a testar predições; as pessoas fazem previsões
prévias sobre experiências, testando e verificando
Kelly: a mudança faz-se através das alternativas construtivas; há sempre a possibilidade da sua teoria pessoal ser
revista
Reflexão
Cada signo verbal pode pertencer a diferentes agrupamentos, dependendo da dimensão que utilizamos para lhe
atribuir sentido
Um constructo pessoal emerge de um processo de comparação entre elementos, resultando numa diferenciação ▪
Bipolar (e.g., psicólogos/as versus não psicólogos/as)
Num espectro ou continuum entre dois polos (e.g., pessoa totalmente, bastante ou um pouco egoísta versus
pessoa algo ou muito altruísta)
Exemplo
Uma pessoa que desenvolveu, ao longo da sua história, um sentido de competência pessoal numa determinada
área, terá tendência para se antecipar como competente em novas situações nessa área, empenhando-se de modo a
confrontar os desafios associados – procurando, dessa forma, validar a hipótese pessoal “eu sou competente”
Neste processo de antecipação como uma pessoa competente na área x, diferencia-se de outras pessoas que
percebe como incompetentes nessa área – diferenciação interpessoal (comparação com outros)
Ou mesmo de si própria em outras áreas da sua vida – diferenciação intrapessoal (Pessoa que é competente e
depois não se sai bem; comparação consigo própria)
Esta mesma pessoa ficará surpreendida ou mesmo ansiosa caso venha a viver uma experiência de fracasso ou de
heteroavaliação negativa face ao seu desempenho na área de vida em que se antecipou como competente
Contudo, se experienciar insucesso numa área que avalia como de menor competência não sentirá tanta ansiedade
ou mal-estar, dado que, à partida, já seria previsível uma menor qualidade do seu desempenho
Estas experiências de surpresa ou ansiedade são reflexo da dificuldade em dar sentido a essa nova experiência ou,
nos termos do construtivismo pessoal, de construir significado da experiência em causa face à invalidação da
hipótese pessoal
Pessoas tem teorias pessoais e no confronto com a realidade predizem o que vai acontecer; quando a hipótese
(construtos pessoais) desconfirmar a predição inicial deve mudar a predição pessoal
O significado mostra o que resultado pode variar
Reflexão
É provável que tenha sido traído/a pelo carácter imediato da realidade percetiva ou mesmo discursiva do
enunciado
“O maior repto e a maior tarefa do ser humano é transcender o óbvio” (Kelly, 1969, p. 47)
O processo de resolução deste exercício é uma boa metáfora do que, por vezes, nos paralisa na vida e do que
constrange a construção de significado sobre novas experiências
A escolha entre as alternativas disponíveis é feita de modo a manter o equilíbrio do sistema, preservando a
compatibilidade entre a mudança e a sua manutenção – corolário da escolha
Qualquer possibilidade de mudança que ameace a estabilidade do sistema de significação tende a não ser
escolhida
Se, por um lado, temos a liberdade de não escolher a mudança; por outro, a estabilidade pode ser a expressão da
prisão do nosso próprio sistema de significação
Ao impasse na construção de significação pessoal está subjacente o conceito de dilema
Dilema implicativo: impossibilidade de a pessoa fazer uma mudança desejada num construto, quando há um outro
construto que pode impossibilitar esse movimento
Esta impossibilidade deriva da forte relação entre dois construtos pessoais e da relevância que ambos têm
para a identidade da pessoa
Relativamente a um dos construtos, a pessoa posiciona-se atualmente no polo preferido – construto
congruente
Relativamente ao outro construto, a pessoa posiciona-se no polo indesejado, estando implícito um
desejo de mudança – construto discrepante
Devido à forte associação entre estes construtos, a mudança desejada num construto levará inevitavelmente
a uma mudança indesejada no outro – pelo que a pessoa pode evitar a mudança
Reflexão
No discurso que as pessoas constroem sobre si próprias e sobre os/as outros/as, podemos identificar as dimensões
de significado pessoal que, estando relacionadas, nos permitem compreender os impasses nas mudanças desejadas
No entanto, ao contrário do que geralmente se pensa, as dificuldades ou problemas que as pessoas referem não são
sinal da sua incompetência ou de algum défice oculto na sua personalidade ou mente
Quer o explicitem ou não, os impasses na construção pessoal refletem, antes de mais, a capacidade de escolha
entre duas alternativas e a opção pela que apresenta, no momento, mais garantias de preservação do sistema de
significação pessoal
O dilema implicativo é um elemento transversal a diferentes perturbações clínicas
Trata-se de uma dimensão de estrutura e não de conteúdo – ou seja, clientes com diferentes diagnósticos podem
apresentar estruturas dilemáticas, envolvendo diferentes construtos
Modelo centrado nos dilemas: valida a necessidade de congruência; valida no cliente a manutenção da sua
aparência pessoal; terapia/relação mais horizontal
Discrepante: o que ela deseja ser; o que quer mudar
Congruente: o que ela é e quer ser/gosta de ser
Dilema: percebe que a mudança no incongruente possa levar à mudança daquele q é congruente e isso o cliente
não quer
Em vez de lutar contra o que outros modelos chamam “resistência”, valida o sentido de autoproteção do/a
cliente e procura formas viáveis de mudança
Assenta num trabalho colaborativo, de uma forma que seja aceitável para o/a cliente
Entende-se que os sinais ou sintomas de mal-estar do/a cliente têm uma função no seu processo de
significação, pelo que a tarefa do/a terapeuta deverá ser procurar perceber que hipóteses ou antecipações o/a
cliente está a procurar testar com os seus comportamentos percebidos como problemáticos
Assume que o/a cliente colabora ativamente na significação da própria experiência – o/a cliente é quem mais
sabe de si
O/a terapeuta deve assumir uma atitude crédula
“Se não sabes o que se passa com o/a cliente, pergunta-lhe; pode ser que ele/a te diga.” (Kelly, 1955, p.
241)
Terapeuta e cliente exploram as realidades pessoais orientados por um novo tempo verbal, o das
possibilidades, e no modo “como se”
Ambos/as colaboram na coinvestigação de novas hipóteses emergentes da experiência, as põem à prova e as
aceitam como provisórias
Terapia que desafia para a diferenciação
A mudança ocorre numa zona de equilíbrio entre a validação e a invalidação das significações pessoais
As mudanças implementadas pelo/a cliente dependem da sua disponibilidade para experimentar novas alternativas
– i.e., para transcender o óbvio
O que se relaciona intimamente com a viabilidade/sucesso da terapia
Entender o pedido de ajuda supõe rejeitar uma perspetiva de défice ou incompetência do/a cliente
Os próprios sintomas e queixas do/a cliente podem ser entendidos como hipóteses de construção que ele/a
usa na tentativa de dar sentido à experiência
A tarefa do/a terapeuta será a de procurar compreender a crise – rutura no ciclo da experiência – do/a cliente no
processo de construção de significado que ele/a provavelmente enfrenta
“Que teoria pessoal está o/a cliente a pôr à prova com o seu comportamento recorrentemente invalidante?”
“Em que fase do ciclo da experiência o/a cliente ficou paralisado/a ou preso/a, de tal modo que a revisão
construtiva do sistema se tornou impossível?”
O/a terapeuta deverá questionar-se sobre que inconsistências ou incompatibilidades estão inerentes ao pedido do/a
cliente e de que modo são responsáveis pelo evitamento ou desistência de algumas das suas hipóteses de
reconstrução pessoal mais desejadas
Promover novas experiências que ajudem a construir a teoria pessoal; ajudar a testar hipóteses; identificar
a teoria pessoal do cliente; explorar hipóteses em cenários imaginados
A relação entre terapeuta e cliente deve ser criativa, permitindo a identificação de alternativas de construção e,
assim, recolocar o/a cliente na atividade de experimentação
O/a bom/boa terapeuta deve intervir com intenção, competência e respeito relativamente à diversidade dos/as
seus/suas clientes
Multiculturalismo
Trauma histórico versus Privilégio
Valores e retidão política
Competência cultural
O/a terapeuta deve conhecer bem as suas assunções de partida, os seus valores e viés
Aula 6 (Prática)
Modelo construtivista centrado nos dilemas
Fases e Estratégias Terapêuticas
1. Identificação dos dilemas
Permite a confirmação da presença dos dilemas mais evidentes e a identificação daqueles menos óbvios no
discurso do/a cliente
Grelha de repertório
Consiste numa entrevista estruturada acerca dos construtos do/a cliente e da forma como este/a lhes dá
sentido
É possível analisar a grelha através de um programa informático para observar as correlações entre os
diferentes construtos do/a cliente, identificando um dilema implicativo sempre que houver uma associação
(correlação de Pearson, r > 0.35) entre um construto discrepante – que o/a cliente deseja mudar – e um
congruente – em que o/a cliente deseja manter-se no polo atual
É composta por três componentes:
Os construtos, que definem os polos dilemáticos
Os elementos, que podem ser pessoas, objetos, acontecimentos, etc.
Um sistema de pontuação, que pode ser dicotómico, ordinal ou intervalar
A exploração dos construtos deve ser orientada pelo método triádico
“Em que é que A e B são semelhantes entre si, e ambos/as diferentes de C?”
Autocaraterização
Consiste em compreender o mundo do/a cliente a partir da sua própria perspetiva
o Pede-se ao/à cliente para escrever uma caraterização de si próprio/a como se ele/a fosse a
personagem principal de uma peça
o Pede-se que a escreva como se fosse um/a amigo/a que o/a conheça muito bem, melhor do que
qualquer outra pessoa
o Dá-se a indicação de que se deve escrever na terceira pessoa, sugerindo que comece, por exemplo,
da seguinte forma: “O João é…”
Pode ser utilizada na fase da avaliação, em momentos de impasse terapêutico ou especificamente como
suporte de outras estratégias terapêuticas
Exemplo
Análise
o O/a terapeuta pode focar-se em diversos aspetos
E.g., conteúdo, organização temática, construtos emergentes, referências a outros
significativos que validem ou invalidem o/a cliente
o O que sobressai no exemplo da Ana?
O tema dominante parece ser interpessoal (insegurança, impulsividade e preocupação com a
imagem de si que comunica aos/às outros/as)
Começou por se caraterizar como orgulhosa e teimosa, o que sugere que para ela serão as
suas características mais distintivas
Identifica algumas dificuldades, que deveriam ser consideradas na formulação do seu
problema (e.g., medo de ficar sozinha e desiludir as pessoas, ser insegura, reagir
impulsivamente à mágoa interpessoal e apresentar dependência quando toma decisões)
Os dilemas encontrados são apresentados ao/à cliente como parte da informação retirada da avaliação
inicial do processo terapêutico
A reformulação do pedido de ajuda do/a cliente em termos de dilemas implicativos deverá ajudá-lo/a a
compreender a sua função ao nível da manutenção da coerência interna do seu sistema de significação
o Por vezes, devolver esta formulação ao/à cliente é o suficiente para desbloquear o sistema e
promover alguma mudança
3. Elaboração do dilema
Significa trabalhar no sentido de tornar o sistema de significados do/a cliente mais coerente, mas também
mais flexível
Assumindo que os dilemas cumprem uma função de proteção do sistema pessoal, a proposta terapêutica da
sua elaboração pretende, por um lado, validar a consistência interna que o/a cliente procura manter a todo
o custo, mas, por outro lado, desafiá-la, convidando-o/a a arriscar construir significado em “zonas de
significação proximais”
Para além de se colocar a ênfase nas alternativas que o dilema potencia, mais do que na sua dimensão
problemática, o redireccionamento da atenção terapêutica favorece que a alternativa ao problema deixe de
ser simplista, ou seja, que se procure mudar no sentido oposto ao problema para se passar a equacionar
alternativas mais diferenciadas e compreensivas
o i.e., De “deixar de ser x para passar a ser não x” para “deixar de ser x para passar a ser y ou z”
É possível que esta mudança ocorra em sentidos inicialmente inesperados, incluindo a possibilidade de
manter construções pessoais anteriormente associadas ao suposto problema
Escalamento ascendente
Considerando os construtos envolvidos no dilema implicativo e apoiando-se num esquema gráfico, onde
poderá ir escrevendo as respostas do/a cliente…
1. O/a terapeuta começa por tomar o construto discrepante e perguntar ao/à cliente porque prefere o polo
desejável ao polo atual desse construto
2. A resposta a esta pergunta constitui o patamar seguinte, sendo necessário pedir ao/à cliente o polo
oposto (ou seja, o contraste dessa vantagem)
3. Tendo presentes os dois polos do novo construto, pergunta-se ao/à cliente qual deles prefere
4. Uma vez mais, o/a terapeuta tem de perguntar ao/à cliente o porquê da sua preferência e, para si, qual o
oposto dessa vantagem – assim se prossegue para um nível superior da organização do sistema de
construtos
Exemplo
Escalamento descendente
Tipicamente, ao longo da vida, o/a cliente construiu para o polo com que se identifica um significado mais
rico e mais interligado com as restantes dimensões do self
O facto de não saber muito bem o que esperar da posição desejada gera ansiedade, dificultando a
aproximação a este lado que, embora seja visto de forma positiva, não deixa de ser desconhecido
Esta ansiedade poderá ser mais facilmente ultrapassada através da elaboração deste polo desejado,
tornando-o algo de mais concreto e previsível
Partindo de um construto mais ou menos abstrato, pede-se ao/à cliente que elabore acerca de cada um dos
polos, não ao nível do seu valor ou importância, como acontece no escalamento ascendente, mas ao nível da
sua forma de manifestação
o Assim, a pergunta que conduz o exercício deverá ser: “como é alguém x?”, “como se nota que
alguém é x?” ou “que aspetos nos fazem atribuir a alguém a caraterística x?”
A exploração resulta numa operacionalização dos construtos em foco, tornado mais claro para o/a cliente
em que consistiria, na prática, assumir o polo desejado
o O polo desejado é, com frequência, menos elaborado no sistema de construção do/a cliente do que
aquele em que ele/a se encontra
Como se faz?
1. O/a terapeuta apoia-se num esquema gráfico onde vai registando as respostas do/a cliente
2. Considerando os construtos envolvidos no dilema implicativo, o/a terapeuta começa a percorrer o ciclo da
experiência com o/a cliente a propósito de um episódio diário em que pareça ter estado presente a experiência
dilemática
o Pede ao/à cliente que descreva o episódio em detalhe, demarcando o seu início e o seu fim
o Nesta descrição, pode ajudar o/a cliente a contextualizar o episódio, a descrever o desenvolvimento da
ação e a registar o final do episódio
o Em cada uma das fases, pode perguntar ao/à cliente o que pensou, como agiu e o que sentiu
3. A partir do relato da experiência episódica do/a cliente, ajuda-o/a a identificar os momentos de emergência
da experiência pessoal e convida-o/a a relacioná-los com os seus significados pessoais
o Em particular, com os construtos envolvidos no dilema implicativo que está a ser trabalhado
o Seguindo o esquema do ciclo da experiência, o/a terapeuta vai questionando o/a cliente no sentido de
o/a ajudar a identificar que hipóteses pessoais procurou testar no episódio em questão, o que
antecipou, como se envolveu no confronto com os acontecimentos antecipados, que sentido de
coerência lhe devolveu a vivência do episódio ou, pelo contrário, com que impasse o confrontou
Quando o resultado da exploração da sequência episódica é um impasse, procura ajudar o/a cliente
a elaborar alternativas ao dilema do episódio em questão: “Que outras coisas poderia ter
antecipado?”, “De que outro modo poderia ter agido?”, “O que teria concluído sobre a experiência e
sobre si próprio/a?”
5. Resolução do dilema
Antecipar a possibilidade de o dilema implicativo poder ser resolvido significa que a pessoa é capaz de
modificar a estrutura de significação pessoal implicada no dilema, sem se sentir ameaçada na sua coerência
pessoal
o Esta mudança pode acontecer por influência da flexibilização estrutural ou do enriquecimento das
relações semânticas dos construtos envolvidos no dilema
Pressuposto subjacente: A mudança pessoal ocorre de modo progressivo, aliada quer à coerência da pessoa
quer à sua diferenciação e possibilidade de evolução
Exercício
1. Imagine que lhe era dada a possibilidade de usar uma máscara durante alguns dias
o Que máscara escolheria?
o Quais seriam as primeiras pessoas a quem se apresentaria com essa máscara?
o A quem seria fácil apresentar-se com esse máscara? E difícil?
2. Imagine que amanhã teria de fazer o seu dia normal usando essa máscara
O exercício propõe que se explorem alternativas de significação pessoal associadas ao ensaio de uma
personagem fictícia
É possível que, ao escolher uma determinada máscara, tome consciência de significados pessoais que
implicam experiências de descontinuidade, mas também de continuidade pessoal e interpessoal
Discussão
1. O que é que, na proposta de papel fixo apresentada pela terapeuta da Ana, mantém a continuidade com o
sentido próprio da cliente?
2. E o que é que, por outro lado, desafia a Ana a considerar novas alternativas?
Alternativas aos Construtos Habituais da Ana a Negrito
Como se faz?
1. Uma vez elaborado o guião da personagem, o/a terapeuta apresenta-o ao/à cliente, colocando duas
questões:
o Esta personagem parece-lhe real?
o Parece-lhe alguém que gostaria de conhecer?
2. Caso alguma destas questões não obtenha uma resposta positiva, os ajustes necessários deverão ser
feitos em conjunto com o/a cliente, até que a personagem seja interessante e credível para ele/a
Instrução do Ensaio do Papel Fixo
O/a cliente deve desempenhar o papel na sua vida sempre que possível
O/a terapeuta ensaia na sessão com o/a cliente as diferentes situações em que a personagem deverá ser
implementada e monitoriza os avanços e dificuldades
o Este treino envolve os diferentes contextos de vida em ordem ascendente de dificuldade prevista ▪
Após toda a sequência de ensaios, a “verdadeira” identidade do/a cliente regressa para fazer uma avaliação
da experiência do papel fixo
o O/a terapeuta deve dar espaço ao/à cliente para decidir o que fazer com a personagem (se despedir-
se dela ou mantê-la por perto, mesmo que parcialmente)
6. Finalização
Inclui a despedida da personagem ensaiada durante o papel fixo e a revisão das mudanças que emergiram
ao longo do processo em termos da construção pessoal
o Esta despedida tem como objetivo convidar o/a cliente a caraterizar o seu novo self, que foi
emergindo na convivência criativa com a personagem fictícia
o É entendida como um processo de transição entre uma atividade construtiva simulada e uma
atividade construtiva espontânea, segundo o qual o/a cliente faz uma revisão da experiência e se
compromete com as novas possibilidades de significação pessoa
Propõe-se que o/a cliente escreva uma carta de despedida à personagem de papel fixo, contando-lhe como
foi viver com ela, quais as suas preferências e o que gostaria de guardar para si, de modo a comprometer-se
com as construções alternativas que escolhe manter e que foram catalisadoras da sua reconstrução pessoal
o O sucesso no ensaio do papel fixo é geralmente revelador da efetiva reconstrução do self por parte
do/a cliente
Importa sublinhar que, na perspetiva do construtivismo pessoal, a finalização do processo terapêutico, quer
seja ou não desencadeada pela estratégia do papel fixo, não é entendida como um estado terminal do
processo de mudança, mas antes como uma fase de transição para a emergência de um novo self
Devido à sua natureza, este aplica-se apenas a clientes que apresentam impasse no seu processo de
mudança com estrutura dilemática
O/a cliente precisa de estar aberto/a a um trabalho centrado na exploração de significados, mais do que na
aquisição de competências concretas
O/a terapeuta deve estar familiarizado/a e partilhar uma postura epistemológica construtivista, de modo a
ser coerente com os princípios orientadores do modelo
amo-te <3
Aula 7 (teórica)
Terapia Centrada nas Soluções
Enquadramento
Enfatiza, mais do que qualquer outro modelo, a natureza breve do processo terapêutico, sugerindo que
sessões únicas permitem frequentemente mudanças duradouras e consistentes
Preconiza que os problemas existem no modo como as significações se tornam problemáticas, não havendo
nada de mais substancial por detrás da linguagem que faz os problemas
o Propõe que o/a terapeuta aprenda com o/a cliente a colocar a construção de soluções no lugar do
problema e da sua resolução
Dissolução dos problemas versus Resolução dos problemas
Enquanto na resolução é necessário fazer algo ao problema para que ele mude; na dissolução, a mudança é
algo de tangencial ao problema que produz uma modificação significativa do mesmo
Na dissolução, o problema que traz a pessoa à psicoterapia não é enfatizado nem amplamente discutido e
analisado
o Deste ponto de vista, a linguagem tem um papel constitutivo, ou seja, o modo como se fala cria um
mundo específico com potencialidades e limitações
Não há forma de mudar sem falar diferentemente –“falar diferente” permite constituir outras formas de sentir,
pensar e agir
Pressupostos Centrais
Assenta no efeito dominó, que supõe que depois de a mudança estar em curso, novas modificações espontâneas
irão ocorrer sem a necessidade de ação de um/a terapeuta a intervenção começa no primeiro contacto com o/a
cliente e o/a terapeuta respeita a autonomia do/a cliente, evitando cair em utopias ou paternalismos.
Recusa o modelo médico da psicoterapia, não fazendo sentido falar em patologias ou diagnósticos, mas sim em
dificuldades ou problemas (em soluções).
Recusa que os problemas tenham uma existência autónoma das palavras (mais precisamente, dos sistemas de
significação do/a cliente) que são utilizadas para os contruir.
Ilustração Clínica 1
O que faria se fosse um/a terapeuta centrado/a nas soluções e estivesse a atender a Joana?
Do ponto de vista da Terapia Centrada nas Soluções, analisar a autoestima da Joana como um problema real
do seu self só reforçaria a ideia de que ela tem, de facto, um problema de autoestima
Seria interessante que o/a terapeuta organizasse a sua curiosidade em torno dos significados associados à
baixa autoestima da Joana, para além dos óbvios (e.g., a cliente tem uma visão desfavorecida de si)
o Será que a Joana espera que o/a terapeuta aumente a sua autoestima para que ela sinta coragem
para realizar as atividades que deseja, laborais ou outras?
o Ou será que o pedido da Joana contém implicitamente a ideia de que ela se sente incapaz de arriscar
e precisa de apoio (nomeadamente, de mais autoestima) para o fazer?
Enquanto terapeuta centrado/a nas soluções e terapeuta da Joana o que faria a seguir?
O modo como o terapeuta concebe o progresso terapêutico corresponde a uma inversão da forma como a
cliente apresenta o problema
A cliente sugere que precisa de aumentar a sua autoestima para poder fazer determinadas coisas, mas
curiosamente define o aumento da autoestima como resultado da execução dessas mesmas tarefas - o que
cria um inevitável ciclo vicioso imobilizador
A partir daqui o terapeuta deixa de falar de autoestima e centra a conversação no modo como a capacidade
de desempenhar atividades relevantes para a cliente poderá ser transformadora
o Ou seja, o terapeuta não procura resolver o problema de autoestima, mas construir com a cliente
soluções que lhe permitam fazer o que ela deseja
o Se isso for possível, a sua autoestima irá certamente aumentar
Repare-se que a definição de que a Joana parte é patologizadora e reificadora
o É patologizadora porque a cliente se concebe como alguém que tem dificuldades qualitativamente
diferentes do resto das pessoas e é reificadora porque assume que estas são de natureza interna e
refletem o seu funcionamento psíquico
É fácil a um/a terapeuta seguir esta linha de raciocínio porque ela reflete o modo habitual das terapias
pensarem as dificuldades “psicopatológicas”
o Contudo, um/a terapeuta centrado nas soluções, ao verificar que o aumento da autoestima é
simultaneamente causa e resultado de um ação concreta (trabalhar autonomamente), procura
ignorar a natureza “interna” do problema ( para além de ser reificadora, não é operacionalizável e
centrar-se nas ações
A questão deixa de ser “Como aumentar a autoestima?” para se tornar “Como trabalhar autonomamente?”
o Assim, evita-se a armadilha presente na definição inicial: “Se eu tivesse mais autoestima, trabalhava
autonomamente; não trabalho autonomamente porque tenho baixa autoestima; e, como não o
faço, a minha autoestima permanece baixa”.
Ao contrário das terapias tradicionais, que se orientam por um pensamento analítico e estrutural dos
problemas com foco na identificação e modificação das causas e na resolução de problemas, a Terapia
Centrada nas Soluções propõe um deslocamento da causalidade eficiente para a causalidade final
A construção de soluções não deve corresponder a uma mera ausência de problemas, mas a uma presença
alternativa
o Assim, na terapia, sempre que o/a cliente discute o desaparecimento de algo (e.g., do seu humor
depressivo), o/a terapeuta deve centrar a conversação terapêutica no que ocuparia o lugar do
problema desaparecido (ou seja, no que faria o/a cliente se não estivesse deprimido/a)
Outra questão: a ausência não pode ser demonstrada
o “Como posso ter a certeza de que os sintomas não vão voltar?” - a ausência de um problema e a
presença de algo novo no seu lugar consiste numa prova mais sólida de que a mudança aconteceu
As soluções, tal como os problemas, são significações ou atividades de construção de significado
Soluções ≠ Objetivos
o E.g., Se alguém tem medo de X e deseja uma vida sem medo de X, a questão interessante não é o
que pode a pessoa fazer para deixar de ter medo de X, mas de que modo deixar de ter medo de X
será transformador da sua vida
o Quando as pessoas constroem problemas, têm implicitamente presentes a solução (concebida
frequentemente como a cessação do problema) - contudo, esta solução continua a situar o/a cliente
num sistema de significados que mantém o problema presente (e.g., depressão - felicidade, medo -
coragem, timidez - assertividade, baixa autoestima - elevada autoestima)
Exercício 1
1. Pense em problemas do passado que o/a tenham incomodado, mas que hoje já não lhe gerem sofrimento
2. Depois de enumerar esses problemas para si próprio/a, deve procurar recordar o que lhe foi possível fazer
depois desses problemas terem sido “dissolvidos”
3. Da sua lista de problemas, identifique aqueles cujo “desaparecimento” não envolveu uma resolução, mas
antes uma mudança de posição
1. De que modo é que a centração na resolução dos problemas os pode tornar mais poderosos e mais
presentes?
2. Que diferenças e/ou semelhanças existem entre os problemas que se relacionam com as soluções e aqueles
em que esta articulação não existe necessariamente?
3. Que implicações podem ser retiradas deste exercício para a Terapia Centrada nas Soluções?
Este exercício facilita a flexibilização do pensamento estrutural e analítico que a psicoterapia costuma
suscitar nos/as terapeutas e também no senso comum
Pretende ilustrar uma ideia básica da Terapia Centrada nas Soluções: o problema pode não ter nada a ver
com a solução
o A implicação mais clara desta ideia é a de que não é preciso resolver os problemas para encontrar
soluções de vida
o Através da recordação de um conjunto de problemas que já não tem esse estatuto na vida da
pessoa, é possível recordar o que a pessoa teve de fazer ao problema para que ele perdesse o seu
poder
A pessoa dá se muitas vezes conta de que muitos dos problemas do passado mudaram
porque fizeram algo ou ocorreram eventos que “dissolveram” o problema, sem
necessariamente o resolverem
Tipologia de Clientes
Mas se a Terapia Centrada nas Soluções se procura descentrar dos problemas, que sentido faz definir os/as
clientes a partir da sua posição acerca dos problemas?
Em alternativa, seria mais correto dizer que os/as não-clientes (i.e., os/as visitantes) não permitem
direcionar a terapia para um foco de trabalho
Não clientes ≠ Clientes resistentes
o Se a terapia não progride é porque o sistema terapeuta-cliente está a resistir, não o/a cliente
o A atribuição da resistência ao/à cliente é uma falácia resultante de o/a cliente fazer algo
inesperado à luz da opinião ou grelha teórica do/a terapeuta - ou seja, é um erro de atribuição
que ocorre quando o/a cliente se comporta fora da lógica compreensiva do/a terapeuta
Não há razão para admitir que, face a um conflito de interpretações, o/a terapeuta esteja certo/a e o/a cliente
errado/a!
1. Não procurar resolver o problema, por muito óbvia que seja a sua resolução
2. Ser simpático/a e estar sempre do lado de quem está a ser entrevistado/a
3. Procurar identificar o que funciona
4. Não prescrever tarefas, porque há grande probabilidade de não serem cumpridas
5. Identificar formas de mudar a posição de visitante para a de cliente ou de queixoso/a
Nota. As mesmas estratégias poderão ser utilizadas na gestão de clientes queixosos/as, à exceção da não prescrição
de tarefas, ainda que o/a terapeuta deva optar por tarefas de observação (e.g.,“Esteja atento/a a momentos em que
se sente X ou em que acontece Y”) em vez de tarefas que envolvam execuções comportamentais.
Objetivos Terapêuticos
O propósito da terapia é atingir objetivos intermédios (e.g., conseguir fazer algo) e não objetivos finais (e.g.,
deixar de estar deprimido/a ou ser feliz) - cuidado em preservar o efeito dominó!
Os objetivos finais muitas vezes alimentam utopias que perpetuam os problemas
o E.g.,
o Uma pessoa com depressão não quer só deixar de estar deprimida como quer ser feliz para sempre,
mas alimentar a ideia de ser feliz para sempre só serve para trivializar as alegrias do quotidiano e
manter a depressão
o Uma pessoa hipocondríaca não quer somente deixar de o ser, mas quer ter a certeza de que nunca
vai adoecer a sério e isso alimenta a ruminação hipocondríaca
o Qualquer pessoa ansiosa deixaria facilmente de o ser se alguém lhe garantisse segurança absoluta
contra o perigo (e se obviamente acreditasse nessa garantia)
Devem ser:
1. Pequenos – quando relatados em excesso pelo/a cliente, o/a terapeuta deve ajudá-lo/a a decompô-
los
2. Específicos, claros para o/a cliente, descritos de modo concreto e focados no aqui e agora (e.g.,
“Quando deixar de estar deprimido/a qual será o primeiro sinal de que isso está a acontecer?”)
3. Positivos e descritos como o começo de algo novo, possibilitando a emergência de novos
comportamentos e não somente o fim de comportamentos antigos (e.g., “Quando deixar de estar
deprimido/a o que fará de diferente?”) – Descritos em termos do que é desejado, mais do que não é
desejado
4. Suscetíveis de ser atingidos/Realistas – foco na presença e não na ausência de um dado estado
5. Percebidos pelo/a cliente como envolvendo esforço – caso contrário, estaremos perante uma utopia
ou um/a cliente que espera que o/a terapeuta resolva as suas dificuldades
Os objetivos que começam com uma formulação negativa são, na maioria dos casos, desencorajadores
porque se focam no que o/a cliente não quer
o E.g., “Quero parar de discutir/ser negativa com o meu marido.” (focado no negativo) versus “Vou
fazer, pelo menos, três elogios por dia ao meu marido.” (focado no positivo)
Questões que ajudam a desenvolver objetivos pela positiva: “Como o vai fazer?” (em vez de “Porque o vai
fazer?”)
o “Quando isso acontece como é que…?” (em vez de “Se isso acontecer como é que…?”)
o “O que é que estará a fazer?”(em vez de “O que é que eventualmente fará?”)
o “O que é que irá acontecer?”(em vez de “O que é que não irá acontecer?”)
Questões que ajudam a pessoa a delinear o seu futuro “preferível”:
o “Em que é que irá reparar quando o problema estiver melhor?”
o “Como é que as coisas ficarão diferentes quando o problema estiver melhor?”
o “O que é que estará a fazer de diferente quando as coisas estiverem melhor?”
o “O que é que estará a fazer em vez do habitual?”
o “Como é que outros (e.g., amigos, família) saberão quando as coisas estão melhor?”
o “Como é que os outros saberão quando o problema estiver melhor?”
“Fale-me um bocadinho mais.”
“E que mais?”
A maior parte da atividade do/a terapeuta centrado/a nas soluções traduz-se em movimentos de
concretização, clarificação de objetivos, transformação de objetivos maiores em mais pequenos, verificação
da viabilidade dos objetivos, etc
Metáfora: O/A terapeuta como um “espelho terapêutico” (reflexão estratégica)
o Se o/a cliente se centra excessivamente no problema, o espelho torna-se convexo e o/a terapeuta
evita centrar-se no problema - ignorando ou recentrando o discurso nas soluções (e.g., através da
ênfase na presença mais do que na ausência do problema)
Se o/a cliente se centra, ainda que acidentalmente, numa competência ou exceção, o espelho torna-se
côncavo, amplificando de múltiplas formas tal resultado e procurando, a partir dele, contruir mudança
Ilustração Clínica 2
O que o terapeuta procura fazer é elaborar sobre uma aparente exceção
o O facto de a conversação se centrar neste tema permite a construção de um cenário
progressivamente mais rico e claro - o “espelho terapêutico” está a tornar se côncavo e o cliente
está a aderir gradualmente a essa elaboração
Estratégias Terapêuticas
o Reduzem-se a três jogos de linguagem:
Produzir exceções
Matéria prima a partir da qual se constrói a mudança
Imaginar ou descrever “novas vidas”(e.g., o/a cliente pode ser convidado/a a descrever
como será a sua vida no futuro sem a presença do problema)
Quanto mais detalhe e “espessura” narrativa essa descrição tiver, mais facilmente se
tornará numa espécie de âncora a partir da qual a mudança se estrutura
Confirmar que a mudança está em curso
Forma de o/a terapeuta enfatizar, na conversação terapêutica, a ideia de que está a
decorrer um movimento progressivo
As competências do/a cliente são dimensões que, de algum modo, se situam nos antípodas do problema
O/a terapeuta pode recorrer a competências passadas (e.g., “Quando era aluno/a na Escola Secundária e se
sentia bem, que competências o/a faziam sentir se assim?”) ou a competências presentes que existam
noutros contextos (e.g., “Como seria sentir-se competente no domínio X - problemático -, tal como se sente
no domínio Y - não problemático?”)
Não basta descrever as competências com o/a cliente
o É preciso perceber como é que o/a cliente as ativa e se dispõe a usá-las, bem como se faz sentido a
transferência das competências e como esta pode ser realizada
Ilustração Clínica 3
Neste excerto, o terapeuta procura, a partir da competência identificada, mobilizar o cliente a imaginar o
que seria diferente
Imaginação de “novas vidas”
Esta estratégia centra-se, de diferentes modos, na questão: “O que é que acontece quando o problema não
está presente?”
o De todas as vezes que o/a terapeuta procura descentrar a conversação da presença dos sintomas ou
dos problemas
Dificuldade: Muitas vezes, quando o/a terapeuta procura detalhar exceções que aconteceram entre sessões,
esbarra contra um “nada de novo”
o É necessário o/a terapeuta ser persistente e paciente - as exceções têm de estar presentes, mesmo que
sejam muito incipientes ou completamente desvalorizadas pelo/a cliente e pelos seus outros
significativas
o No entanto, o/a terapeuta deve ser prudente e não argumentativo/a (e.g., “Está a ver como há alturas
em que o problema não está a acontecer?”) nesta identificação para não suscitar no/a cliente uma
posição de oposição e negligência face às exceções
Como lidar com a dificuldade?
o Por vezes, pode ser necessário detalhar o dia-a-dia para encontrar exceções que escapam ao/à cliente à
primeira vista
o A melhor forma de prosseguir é conseguindo suscitar a curiosidade do/a cliente através da própria
curiosidade do/a terapeuta, mediante questões do tipo: “Como é que foi possível este acontecimento
em que problema não esteve presente?” ou “Como é que foi possível este acontecimento em que o
problema esteve menos intenso?”
Escalonamento
O uso de escalas permite tornar os objetivos mais graduais, especificar que implicações as melhorias trariam
e documentar que o/a cliente está a mudar
Ilustração Clínica 4
A partir daqui, o propósito seria ajudar o/a cliente a elaborar sobre o significado da mudança
De modo progressivo, o terapeuta continua a ajudar o cliente a elaborar sobre o significado da mudança
Repare-se como, à medida que o terapeuta prossegue na centração das mudanças que o cliente deseja, a
redução da depressão define cada vez menos o objetivo terapêutico
o Essa mudança indica que o cliente está a ser capaz de fazer uma transição do problema para as
soluções; i.e., está a começar a pensar na presença (mudanças) mais do que na ausência do problema
(depressão)
Escalonamento
Habitualmente, na sessão seguinte, o/a terapeuta volta a questionar em que número o/a cliente se encontra
e, de novo, volta a perguntar sobre o que significaria estar num número acima
o De sessão para sessão, se o/a cliente for tendo ganhos, o/a terapeuta continua a usar esta estratégia; se
o/a cliente tiver recuos, o questionamento deverá centrar-se em torno do que é preciso fazer ou
acontecer para reconquistar um número já obtido anteriormente
Um dos cuidados mais centrais no uso desta estratégia é o/a terapeuta assegurar-se de que, na definição do
“número seguinte” (e.g., a transição de um 4 para um 5), o/a cliente não se torna vítima de uma utopia
o Por vezes, quando o/a terapeuta questiona sobre o que aconteceria no número seguinte (objetivo
intermédio), o/a cliente define um objetivo final (e.g., “Deixava de ter este problema). Se assim for, é
necessário perguntar qual é a diferença do número identificado para um 10
O propósito mais claro desta estratégia é definir os objetivos de um modo gradual e suscetíveis de ser
atingidos - É difícil ao/à cliente manter-se numa posição utópica, e ainda bem!
Há inúmeras variações possíveis do escalonamento; e.g.:
o Pode ser utilizado no trabalho com famílias ou casais (e.g., “O que é para o pai passar de um 4 para
um 5?”)
o Pode ser utilizado para avaliar o grau de envolvimento na terapia e a expetativa de mudança que a
pessoa tem (e.g., “Imagine uma escala de 0 a 10, em que 0 significa não ter confiança de que vai ser
capaz de produzir a mudança e 10 é ter toda a confiança de que a mudança vai acontecer algures no
futuro. Em que número está agora? O que é que teria de acontecer para passar para o número
acima?”)
Pergunta-Milagre
Consiste numa forma hábil de permitir utilizar a imaginação do futuro ao serviço da identificação de soluções e
da concretização gradual dos objetivos
Formulação típica: “Imagine que hoje, quando chegar a casa, depois de se deitar, algo de estranho acontece (ou
um milagre, se preferir) e os problemas que o/a trouxeram aqui desapareceram misteriosamente. Como está a
dormir não faz a mais pequena ideia de que isto aconteceu. Quando acorda de manhã, prepara-se para um dia
normal, sem saber que algo de estranho (ou o milagre) aconteceu durante a noite. Gostaria que me dissesse como
daria conta, ao longo do dia, de que tal aconteceu. Quando se aperceberia pela primeira vez que os problemas
tinham desaparecido?”
Pressupõe que o/a terapeuta questione como é que o/a cliente imagina o dia a seguir ao milagre, de modo
detalhado
As questões devem detalhar ações concretas, mas também sentimentos, pensamentos, valores ou ideais
Quanto mais detalhado for o dia seguinte, mais claramente o/a cliente é conduzido a imaginar uma vida sem
problema
Nota. A elaboração desta questão pode demorar uma sessão a ser finalizada. Se for concluída ao fim de 5 minutos
é porque o/a terapeuta não facilitou suficientemente a sua elaboração e é pouco provável que permita a abertura
do/a cliente às soluções!
Se o/a cliente disser o que não vai acontecer (e.g., “Não teria medo.”), centrar no que vai acontecer (e.g., “E se
não tivesse medo, o que faria que o levaria a concluir que estava sem medo? Como daria conta de que estava
sem medo?”)
Se o/a cliente se centrar nos outros (e.g., “A minha mulher não me diria X e dir-me-ia Y.”), o/a terapeuta deve
centrar as questões no/a cliente (e.g., “Amanhã de manhã, antes de a sua mulher lhe dizer Y, ela poderia dar
conta de alguma diferença em si que a faria comportar-se de modo diferente?”)
Apesar de se centrar no/a cliente, o/a terapeuta deve questionar acerca da validação e testemunho de outrem
(e.g., “Se mudasse X no seu comportamento, como reagiria a sua mulher? E se ela fizesse isso, como se
sentiria?) – quanto mais o/a terapeuta detalhar os efeitos do “milagre” nas diversas relações significativas do/a
cliente, mais eficaz será a pergunta-milagre
O trabalho posterior em torno desta questão envolve que o/a cliente esteja atento/a aos momentos em que se
aproxima do milagre, podendo, por exemplo, ser usado o escalonamento como forma de detalhar essas
aproximações (e.g., “Na situação X, em que se sentiu a aproximar-se do milagre, em que grau, numa escala de 0
a 10, pensa que ocorreu essa aproximação?”)
Estes momentos concretos de aproximação ao milagre são obviamente momentos de exceção, que
podem ser usados para facilitar a mudança
No contexto do trabalho com famílias ou casais são múltiplas as variações possíveis
Pode pedir-se a um elemento da família para predizer (na presença do/a outro/a) como acha que ele/a
responderia ao milagre e, depois, passar para o elemento que esteve a ouvir
Pode pedir-se a determinados elementos de uma família para fingirem que estão “no milagre” uma ou
duas vezes por semana e pedir aos restantes elementos para procurarem identificar quando cada um/a
está a fingir
Nota. Não se deve utilizar esta estratégia, pelo menos no formato tradicional, sempre que as dificuldades não
possam ser ultrapassadas (e.g., doenças crónicas ou graves, morte ou luto), dado que pode ser sentida como pouco
empática.
Recomendações para a utilização de tarefas
O/A cliente é convidado/a a usar a sua criatividade e a fazer algo dramaticamente diferente nos momentos em que
começam os ciclos problemáticos
É importante analisar o que fez o/a cliente para que se possa perceber se a diferença é mesmo diferença ou se é,
afinal, mais do mesmo
O objetivo é criar uma disrupção no modo como o problema se costuma desenvolver
E.g., Imagine um casal em que existe um padrão repetitivo em que a mulher explica ao marido o que ele
deveria fazer e porque está insatisfeita com ele. Um/a terapeuta pode pedir que continuem a fazer
exatamente o mesmo, mas com uma pequena diferença: quem explica, quando o faz, tem que se colocar
em cima de uma cadeira e o outro fica “em baixo” a ouvir
Ilustração Clínica I
A Filipa sofria de ruminações hipocondríacas que lhe traziam um sofrimento considerável. Os sintomas tornavam-
se particularmente intoleráveis quando ocorria alguma queixa física. Nessas alturas, fantasiava os piores cenários
e a única pessoa com quem falava era a mãe. Os seus medos eram cuidadosamente escondidos dos outros.
No fim do processo terapêutico, ao discutir com o terapeuta o que tinha sido central na mudança, a Filipa referiu
que o que a tinha ajudado a tornar-se mais “racional” tinha sido a partilha dos seus medos com outras pessoas.
Tinha sido isto que a tinha obrigado a ver os seus receios do ponto de vista dos outros.
No final, a Filipa confessou a sua surpresa como um importante ingrediente da mudança: tinha, afinal, sido uma
coisa tão simples!
E.g., O cliente da primeira ilustração clínica da última aula referia que estar com o filho correspondia a momentos
libertos do problema. Então, o terapeuta pode questionar sobre se é possível aumentar a duração ou frequência
com que esses momentos acontecem.
Trata-se de uma estratégia inspirada no modelo estratégico, que envolve normalmente uma permissão paradoxal
para não mudar
É sobretudo útil em situações em que a pressão para mudar está a funcionar contra a própria mudança
Fazer o contrário
O pressuposto é o de que a pessoa tem o poder de fazer o contrário do problema, não sendo este “contrário”
necessariamente parar o problema, mas fazê-lo de modo diferente
Ilustração Clínica II
O António era um estudante universitário que se queixava de uma obsessão que o obrigava a reformular, vezes
sem conta, os trabalhos das disciplinas. Suspeitava até que, muitas vezes, a primeira versão do trabalho era de
melhor qualidade do que as subsequentes; mas tinha o estranho hábito de não guardar as versões anteriores.
Quanto mais reformulava, mais tenso ficava com a aproximação da data de entrega; e quanto mais tenso ficava,
mais se obrigava a reformular.
O terapeuta discutiu com o António acerca de como ele concebia o fim deste problema; nomeadamente, se ele se
imaginava a ser capaz de deixar de o fazer, sem um grande esforço e sofrimento. O António não imaginava como
o fazer.
O terapeuta propôs, então, o ensaio de uma tarefa em que o António não lutava contra a reformulação, mas
propunha-se a entregar o primeiro trabalho elaborado como forma de perceber se a sua teoria estava correta (de
que à medida que reformulava o trabalho ia reduzindo a sua qualidade).
Tarefas de Predição
Rituais Terapêuticos
O/a terapeuta deve estar atento/a à capacidade ou disponibilidade do/a cliente para se centrar nas soluções
1. Se o/a cliente estiver excessivamente centrado no problema, os esforços do/a terapeuta para operar a viragem
para as soluções podem fracassar
Neste caso, o/a terapeuta deve organizar a sua conduta a partir da aceitação (por oposição à mudança) e colocar
questões que permitam analisar o problema, podendo eventualmente utilizar perguntas de coping (e.g., “Como é
que, apesar de todas as dificuldades, continua a ser capaz de ir trabalhar?”)
Estas perguntas podem facilitar uma transição suave e respeitadora dos problemas para as soluções,
através da suscitação de competências que têm permitido o não agravamento do problema
2. Se o/a cliente se encontra na fase de transição entre problema e soluções, responde e elabora sobre as
soluções, mas pouco depois volta à discussão do problema
O/a terapeuta deve equilibrar a sua conduta entre a aceitação e a mudança, a empatia e o desafio
3. Se o/a cliente reage bem às questões centradas nas soluções, amplificando-as e elaborando com facilidade as
suas implicações, o/a terapeuta deverá enfatizar a mudança e as soluções
Quando o/a terapeuta experiencia dificuldades em centrar a conversação terapêutica nas soluções, pode socorrer-
se de diversas estratégias
Desconstrução – traduzir rótulos totalizadores em comportamentos observáveis suscetíveis de mudança
Análise detalhada do problema – de que modo o/a cliente mantém ou intensifica o problema nos seus
esforços para o resolver (e.g., questionar acerca das possíveis vantagens do problema)
Centrar a terapia nos significados, em vez de na ação – útil sobretudo quando o/a cliente está num estado
de indecisão que lhe dificulta a atenção a soluções ou exceções ao problema
▪ Elaborar questões que possam suscitar competências a partir do problema – perguntando ao/à cliente
como é que, com as suas dificuldades, não permitiu que o problema ficasse pior ou fazendo questões de
coping
Um dos objetivos é procurar produzir mudanças mesmo que o/a cliente faça apenas uma única sessão
Há uma conceção, por parte do/a terapeuta, de que cada sessão deverá ter uma espécie de unidade
temática ou sequência narrativa
Apesar de este não ser um modelo rígido, é mais estruturado nas atividades do que outros modelos que se inserem
neste paradigma
É necessário que o/a terapeuta tenha a flexibilidade de não o usar quando ele não se parece adequar às
necessidades do/a cliente ou quando o seu uso é sentido como desajustado pelo/a cliente – para clientes
que precisem de tempo para mudar, pode ser sentido como demasiado rápido e podem até perceber as
questões como uma forma de pressão para operar mudança; outros/as clientes podem senti-lo como
demasiado redutor e simples para a complexidade com que costumam pensar as suas vidas
Primeira sessão
Identificar e expandir as mudanças que ocorreram antes da primeira sessão
Se, no decurso da conversação, a viragem para as soluções fracassar, o/a terapeuta deve ser capaz de
recentrar a discussão no problema, voltando mais tarde a sondar a possibilidade de orientar a entrevista
para as soluções
Estabelecer metas (pela presença de algo)
A pergunta-milagre e o escalonamento podem ser utilizados para tornar as metas mais claras, bem como a
pergunta-padrão para a primeira sessão (foco nos aspetos da vida que o/a cliente aprecia e deseja manter)
Pode ser realizado um intervalo a seguir, no qual é formulada uma mensagem final e, se o/a terapeuta
assim o decidir, pode propor uma tarefa
Sessões seguintes
A entrevista deverá à partida começar pelas tarefas terapêuticas ou por um sumário da sessão anterior
É recomendado que seja sempre o/a terapeuta a fazer o sumário a partir das suas notas e que se
assegure com o/a cliente de que este/a está de acordo com a sua perspetiva
De seguida, o/a terapeuta deve procurar perceber o que está melhor ou o que está a funcionar e esforçar-se
para amplificar todas as mudanças, ainda que incipientes
Não tentando convencer o/a cliente de que está melhor, mas mostrando curiosidade sobre como as
mudanças têm sido possíveis
A pergunta-padrão, a pergunta-milagre e o escalonamento são habitualmente revisitados
Há situações em que a Terapia Centrada nas Soluções pode forçar o/a cliente a tomar uma decisão para a qual não
está preparado/a
E.g., Situação em que o/a cliente deseja deixar o/a parceiro/a, mas não se sente capaz de o fazer
Há clientes que precisam que a terapia seja um espaço de clarificação emocional e cognitiva e, deste modo, o
simples facto de poderem falar com alguém fora do seu espaço social habitual já é em si mesmo terapêutico – a
Terapia Centrada nas Soluções não é um modelo focado no insight
E.g., Se o/a cliente insiste em compreender melhor a sua infância para mudar, o/a terapeuta pode
perguntar-lhe sobre o que é que ele/a acha que irá mudar depois de ocorrer essa compreensão –
compreensão a priori versus nova perspetiva a posteriori
Recomendações Gerais
É muito importante que o/a terapeuta se mantenha curioso/a acerca das dificuldades do/a cliente e da sua vida
Sem esta curiosidade, as perguntas centradas nas soluções tornam-se fórmulas vazias de significado que
rapidamente esgotam a conversação terapêutica
O/a terapeuta tem de ser respeitador/a das dificuldades e não sacrificar a empatia à rapidez – de outro modo, a
terapia torna-se “forçada” nas soluções
Procurar convencer o/a cliente de que é competente ou está a mudar força-o/a a assumir uma posição
complementar de argumentação, em que afirma a presença e a intensidade do problema
A Terapia Centrada nas Soluções baseia-se em boas perguntas e não em boas afirmações
Aula 9
Terapia Narrativa
Uma explicação negativa descreve todos os constrangimentos que ocorrem num determinado momento e, a partir
desses constrangimentos, procura perceber porque é que um dado acontecimento teve lugar em vez de outro
“O que impede a família de fazer X?”
“O que impossibilitou, nesta família, a ocorrência de Y?”
“O que é que faz com que o João reaja assim, em vez de fazer Z, como ele preferia?
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: BRUNER (1986)
Duas formas irredutíveis de pensar
Modo paradigmático – o modo como as pessoas significam tem como analogia a computação ou o
processamento de informação (e.g., esquema cognitivo, retroação negativa, homeostase)
Modo narrativo – o fluir dos acontecimentos assume uma sequência de episódios com princípio (início de uma
nova narrativa), meio (desenvolvimento de um conjunto de ações) e fim (resolução da história); as histórias são
construídas e narradas
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS: FOUCAULT
Subjacentes às narrativas de vida, há pressupostos organizadores que não são visíveis porque estão naturalizados; ou
seja, não são vistos como opções de vida, mas como “a forma como as coisas são”
Verdades dadas por adquiridas, que nos dizem o que é ser normal, adequado, feliz, etc.
PRESSUPOSTOS DA TERAPIA NARRATIVA
As histórias não são produções individuais, dado que há pressupostos (i.e., verdades tomadas como adquiridas)
que as organizam e que são resultado da nossa história e cultura
E.g., Considera-se “normal” não ter traços de personalidade muito exagerados, considera-se “adequado”
ou “funcional” ter uma família com fronteiras claras entre os seus subsistemas, considera-se “desejável”
ter um determinado peso para se ter sucesso junto dos outros
Estes pressupostos – muitas vezes implícitos – podem ter um impacto poderoso nas nossas vidas, conduzindo à
formação de narrativas que envolvem sofrimento (e.g., porque não se consegue viver de acordo com esses
pressupostos)
Exercício 1
1. Reflita acerca dos pressupostos que imagina que possam organizar a vida deste cliente e o modo como estes estarão
a contribuir para o seu sofrimento
2. Procure imaginar que alternativas sociais existem ou que pressupostos alternativos poderiam facilitar a mudança
em direção a um maior bem-estar
Os discursos sociais impõem limites severos à possibilidade de mudança na vida das pessoas
Felizmente, a nossa cultura é fortemente marcada pela existência de discursos contraditórios, que possibilitam o
questionamento dos pressupostos que organizam a nossa vida e, a partir daí, a mudança e a procura ativa de
pressupostos mais de acordo com as nossas preferências
É precisamente esta possibilidade de questionar os discursos sociais que abre à possibilidade de mudança
narrativa!
O modelo narrativo recusa a tradicional conceção de défice que está presente nos modelos psicopatológicos
Porque surgem os problemas na vida das pessoas?
Na maioria das vezes, porque as pessoas lidam com as dificuldades normais da vida (e.g., medo de
morrer) de um modo hiperracional (e.g., “tenho que ter a certeza absoluta de que não estou doente” =
“hipocondria”)
“Acidentalismo” – embora existam situações altamente perturbadoras do desenvolvimento da pessoa (e.g.,
trauma, abuso), na maior parte das vezes não há “razões profundas” para os problemas que as pessoas
enfrentam
Recusa de explicações determinísticas – Uma dada causa não é julgada como responsável por uma dada
condição psicológica
Porque é que as pessoas procuram ajuda?
Porque as narrativas socialmente dominantes (organizadas a partir de verdades tomadas como adquiridas) as
impedem de viver as suas vidas preferidas
PROBLEMAS E HISTÓRIAS TOTALITÁRIAS: ILUSTRAÇÃO
Em terapia narrativa, o pensamento clínico procura facilitar uma mudança narrativa nas histórias totalitárias, em
que um tema exclui todas as outras possibilidades interpretativas
O perfecionismo, no caso da Catarina, tem uma presença constante, fazendo com que se narre a si própria
como menos competente do que desejaria
Narrativas problemáticas (White, 1994) – narrativas nas quais um problema parece dominar a totalidade da
identidade da pessoa, de histórias totalitárias ou histórias saturadas pelo problema
A grande maioria dos problemas “psi” podem ser descritos com base no conceito de narrativa totalitária:
depressão, ansiedade, anorexia, etc
DESCONSTRUÇÃO NARRATIVA
Quando um/a terapeuta se defronta com uma história totalitária, em que o problema molda a identidade da
pessoa, impedindo a diversidade e conduzindo a uma definição patologizadora (e.g., depressão), é necessário
desconstruir o problema
A desconstrução envolve o questionamento das “verdades” não questionadas que sustentam a história
problemática
EXTERNALIZAÇÃO
Ilustração
Personificação de um problema infantil
A terapia narrativa aposta não no tradicional insight mas num outsight, dada a ênfase que coloca no modo como
os problemas se constroem social e culturalmente
Há uma inversão na lógica habitual de pensamento terapêutico, em que as pessoas são os problemas
Na terapia narrativa procura-se a objetificação do problema e não a objetificação da pessoa
Dada a possibilidade de associar o problema a formas sociais de sustentação (e.g., “Existe algo na nossa cultura,
no nosso modo de vida, que dê poder a este problema?”), a terapia narrativa permite a devolução do problema à
cultura – é fundamentalmente despatologizadora!
Do ponto de vista do/a terapeuta, a capacidade de pensar de modo externalizador reduz a tendência para procurar
explicar o comportamento da pessoa ou da família a partir da identificação de défices
Do ponto de vista do/a cliente, tende a criar um movimento de desresponsabilização pelo problema, mas de
responsabilização pelas soluções
Como construir a externalização?
1. Estar atento/a à linguagem do/a cliente
2. É vital que a conversação seja externalizadora
3. Não são precisas, nem aconselháveis, longas explicações sobre a externalização
4. Habitualmente não se externalizam os sintomas, mas sim os significados que os sustentam
5. Formas habituais de ser podem ser externalizadas (e.g., impaciência, desconfiança)
6. Em nenhuma circunstância se deve centrar nos/as outros/as, embora se possa centrar em relações
Como NÃO construir a externalização: Ilustração