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EXTERNA
AULA 2
Nesta aula você será apresentado a algumas das principais teorias das
Relações Internacionais e aprenderá sobre suas visões a respeito da política
externa.
Em um primeiro momento será introduzida a ideia de teoria e a sua
importância para a construção de uma análise. Esse Tema será introdutório
para maior facilidade de absorção das teorias que serão apresentadas a seguir.
Como primeira teoria trabalhada teremos o Realismo. Nesse momento
será realizada uma introdução às três vertentes do realismo: o realismo
clássico, realismo neoclássico e o neorrealismo. Nesse Tema
compreenderemos o surgimento dessa teoria e sua visão do Estado como ator
que age de forma a garantir seu interesse próprio, tendo como principal foco a
sua segurança no cenário anárquico internacional.
Na sequência, abordaremos a teoria liberal. Com a apresentação da
teoria liberal, será possível fazer uma comparação de suas ideias com a da
teoria realista, observando como sua visão sobre o Estado e a concepção de
outros atores no cenário internacional representam a mudança na dinâmica
internacional.
Acompanhando as mudanças teóricas que surgiram como reflexo das
mudanças conjunturais do cenário internacional, o construtivismo será
apresentado, trazendo alguns dos seus principais conceitos como a identidade
e a interdependência complexa. Por fim, uma breve consideração sobre a
emergência das teorias que consideram outros níveis além do Estado será
realizada, encerrando a análise das relações da Análise de Política Externa
(APE) com algumas das principais teorias das Relações Internacionais.
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Um outro ponto a ser observado pelo pesquisador além da teoria são os
níveis de análise. No campo da APE, os níveis de análise podem se dividir em
três:
O Realismo é uma das teorias mais antigas, e talvez uma das mais
conhecidas, dentro da disciplina das Relações Internacionais. Apresentando
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três principais vertentes, sendo essas o realismo clássico, o realismo
neoclássico e o neorrealismo. Por sua vez, a corrente realista ainda se mostra
viva nas análises dentro do campo das Relações Internacionais, ainda que o
cenário no qual essa teoria nasceu tenha se alterado durante os anos.
O realismo clássico é baseado em pensadores como Sun Tzu,
Tucídides, Tito Lívio, Maquiavel, Hobbes e Richelieu (Castro, 2012, p. 314).
Cada um contribuindo com uma visão, assim como com a concepção de seu
tempo, sobre a relação do Estado e indivíduo, assim como as relações entre
Estados. Como ponto central do realismo clássico tem-se a ideia de
preservação do Estado, assim como coloca o seu foco na importância da
segurança que estaria correlacionada ao poder estatal.
Com base nesses conceitos básicos sobre o Estado, o realismo clássico
também constrói sua visão sobre o cenário internacional, podendo esse cenário
ser observado como amparado na:
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I. As articulações externas, ou não, do Estado se pautariam em parte pela
natureza egoísta e individualista do indivíduo;
II. O Estado garante sua sobrevivência e segurança com base em
mecanismos, sendo um deles, a guerra;
III. O Estado executa a maximização de poder executando
constrangimentos;
IV. O Estado justifica suas políticas para a defesa com a ideia de obtenção
e manutenção;
V. A ausência de controle no cenário externo força a priorização da agenda
particular de cada Estado;
VI. O Estado é o principal ator no cenário internacional;
VII. A organização e posicionamento dos Estados ocorre de forma
assimétrica.
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considerando como importantes, já que auxiliariam na redução de custos das
ações dos Estados. A definição sobre o que são esses regimes se altera de
acordo com o autor que observarmos. Keohanne estabelece uma definição
mais objetiva, observando regimes como instituições que representam de um
determinado conjunto de regras em relação a um problema internacional no
qual os Estados concordam (Tarzi, 2004, p. 124).
Em um texto publicado em 2004 por Waltz, o autor aborda as críticas
feitas ao neorrealismo. Um dos pontos relevantes a serem comentados é sobre
o que Waltz fala sobre a visão do neorrealismo, ou como coloca, do “novo
realismo” como sendo o “antigo realismo” apenas de forma mais rigorosa.
Segundo o autor, essa visão estaria equivocada ao se observar o antigo
realismo como comportamental, vendo bons Estados como capazes de
produzir bons resultados, e maus Estados, maus resultados. Para o novo
realismo, ou neorrealismo, o resultado não estaria tão dependente de uma
observação sobre “bom ou mal” em relação ao Estado, mas sim estaria
conectado com as questões de estrutura nas quais as ações estatais
ocorreriam.
Um dos pontos que podemos utilizar para encerrar o debate sobre o
neorrealismo está na sua natureza de não ser uma teoria de política externa.
Waltz por si só já definiu que a teoria neorrealista não teria essa função, no
entanto, como Telbami (2002, p. 158-159) estabelece, o fato de a teoria
neorrealista não necessariamente correr o mesmo caminho da política externa,
as análises provenientes da visão neorrealista não necessariamente devem ser
excluídas de uma análise de política externa. Como Telbani esclarece, “O
neorrealismo é, portanto, melhor concebido como uma estrutura para uma
investigação mais aprofundada, não como o fim da investigação” (Telbami,
2002, p. 159).
Essas duas vertentes do Realismo demonstram como a visão dentro da
própria teoria se alterou conforme as mudanças da conjuntura internacional.
Logo, é de se esperar que outras teorias também passassem por momentos de
maior ou menor emergência. No próximo tema iremos analisar outra importante
teoria: a teoria liberal.
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TEMA 3 – A APE E O LIBERALISMO
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Keohane e Nye (1972; 1977) trazem a visão de interdependência
complexa, que se mostra a par das mudanças internacionais. Como já debatido
na Aula 1, a mudança no cenário internacional é acompanhada da emergência
de novos poderes Estatais e não estatais, de novos centros de cooperação,
acordos bilaterais e multilaterais, além de diversos outros novos paradigmas.
A interdependência complexa é um auxílio na análise dessa nova
dinâmica. Sobre essa perspectiva todos os Estados estariam de alguma forma
conectados, e seria essa “conexão” que construiria a concepção de
interdependência entre eles. Como podemos interpretar de forma prática essa
visão?
Em certo ponto, a interdependência complexa argumentará que os
Estados não vivem de forma isolada, e que devido a esse cenário de “conexão”
entre eles, as decisões, rupturas e eventos que ocorrem em um Estado-nação,
podem afetar outros Estados. Temos então os conceitos de sensibilidade e
vulnerabilidade dentro da abordagem de interdependência.
A sensibilidade trataria sobre a capacidade de resposta de um país em
relação ao outro. Na sensibilidade, uma ruptura no país A não causaria um
custo sobre o país B pois, não demandaria alguma mudança política desse
país. Já na visão de vulnerabilidade, a questão se dá em relação à influência
de um Estado sobre outro. Nessa percepção, uma ruptura no país A não
somente é sentida pelo país B, mas também demanda que esse país tome
ações de proteção, gerando custo interno.
É relevante trazer à tona a concepção de assimetria que permeia as
questões de interdependência complexa. Seriam as assimetrias existentes
entre os diferentes Estados que acabariam propiciando a formação de alianças.
Por essa concepção, os Estados com interesses em comum se uniriam, e os
conflitos acabariam sendo um resultado dos interesses opostos (Di Sena
Junior, 2003, p. 188-189 citado por Rodrigues, 2014, p. 110).
A interdependência complexa trabalha sobre a ideia de existência de
três canais múltiplos pelos quais diferentes sociedades poderiam se relacionar:
Interestatais: existente no âmbito das relações entre os Estados;
transgovernamentais e transnacionais, sendo ambas conectadas a ideia de não
coerência na ação estatal, ocorrendo as alianças decorrente da intenção de
resolução de problemas (Filho, 2006, p. 82-83).
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Essa ideia de cooperação entre Estados permearia até mesmo a
concepção de anarquia internacional. Para Keohane (1984), seria o ambiente
anarquista que construiria a oportunidade para a relação e cooperação entre os
Estados, eliminando a ideia de conflito automático que existiria nesse cenário.
Uma corrente Liberal que deve ser citada é a do neoliberalismo
institucional. Por essa abordagem, ainda se observa o papel de outros atores
que não somente os estatais nas relações internacionais. A existência de
instituições teria o papel central de ceder um espaço de debate e
relacionamento para os Estados.
Por essa visão, três variáveis seriam responsáveis por afetar a
cooperação entre os Estados:
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teoria construtivista se inseriu propondo apontar os pontos falhos de cada uma
das teorias clássicas, e contribuir de forma a cobrir esses pontos.
Esse discurso construtivista pode ser percebido na fala de Adler (1999,
p. 206) que encaixa o construtivismo como não sendo contrário ao realismo ou
liberalismo, não adotando uma posição “pessimista ou otimista”. O autor
também categoriza o construtivismo como não sendo uma teoria a ser utilizada
de forma isolada, mas sim em conjunto com outra abordagem.
Certamente o construtivismo trouxe uma nova visão para os estudos das
Relações Internacionais. Tendo seu início no campo das Artes no Século XX,
partindo para a Pedagogia na Rússia antes de a URSS e alcançando a
Sociologia no Ocidente, o construtivismo tem raízes que justificam suas visões
fora dos padrões até então observados.
O construtivismo vai trocar a palavra ator por agente, compreendendo
que agentes são aqueles que agem, o que caracteriza aqueles envolvidos na
política; também irá substituir a concepção de cenário por sistema. Na visão
construtivista, o Estado representa uma crença pois, representa a sociedade
que o compõe. O construtivismo argumentaria contra a ideia realista de que as
análises devem ser concebidas de forma top-down, observando do Estado para
dentro, e argumentará a favor de uma abordagem que venha de baixo, da
sociedade.
As novas nomenclaturas e prismas do construtivismo criam críticas por
parte daqueles que aplicam as Relações Internacionais de forma mais clássica.
Uma das principais críticas se dá sobre a visão construtivista de que não
existem barreiras, logo, não existiria o externo. Os agentes domésticos
simplesmente se relacionariam no sistema externo sem a existência das
mesmas normas domésticas.
Outro ponto essencial para compreender o construtivismo é observar a
alteração de foco para o campo das ideias, interpretando que essas seriam as
responsáveis por construir a realidade. A análise sobre as relações entre
agentes deveria ser executada de forma a considerar a estrutura em que estão
inseridos sendo que ambos existiriam mutuamente, sem um preceder o outro.
Uma boa forma de compreender a visão construtivista está na definição de
Adler:
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[...] o construtivismo amplia nossa compreensão da relação entre conhecimento
científico e desfechos das relações internacionais com o argumento que as
relações internacionais, em geral, sejam cooperativas ou conflituosas, são
moldadas e socialmente construídas por todos esses tipos de conhecimento,
científico e outros. (Adler, 1999, p. 233)
O fim da guerra fria sempre é citado como um dos marcos para o início
das mudanças teóricas das Relações Internacionais. No entanto, não somente
uma ruptura ocasiona mudanças no campo teórico. A emergência de novos
atores, a adoção de novos regimes internacionais, a crescente criação de
acordos entre Estados, além de outros novos fenômenos internacionais
também são correlacionados com as novas visões que foram surgindo com os
anos.
No entanto, grande parte das teorias que observamos hoje como
estando em ascensão, não surgiram após esses eventos. Sua existência já é
anterior a eles, no entanto, a conjuntura até então não permitia que tais teorias
fossem utilizadas na mesma frequência, ou com a mesma atenção que as
teorias mais clássicas.
Temos então a ascensão do pós-colonialismo, por exemplo, podendo
ser observado como um conjunto de teorias primeiramente aplicadas sobre
estudos de cultura, que foram se expandindo para outros campos das ciências
sociais. Trabalhando sobre a herança que as relações do colonialismo, o pós-
colonialismo argumenta sobre como o fim do colonialismo, na prática, não
representa o fim do colonialismo como percepção e interpretação sobre o outro
(Santos, 2008, p. 16-17).
Outro exemplo de teoria que emergiu é o pós-estruturalismo. Nessa
abordagem, podemos usar uma visão de Foucault sobre poder. Para o autor, o
poder não seria algo natural, mas sim uma prática social. Ou seja, o poder não
seria algo que alguns possuem e outros não, mas estaria presente nas práticas
sociais.
O poder, na visão de Foucault, não se limitaria ao Estado, também
estando presente na sociedade por meio de práticas, e até mesmo costumes.
Têm-se então o poder como presente no dia a dia, com uma característica de
“rede”, moldando comportamentos (Pacifico; Pinheiro, 2013, p. 118).
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Outras teorias como a Teoria Feminista também surgem como um
reflexo do novo cenário de relações entre os Estados, e entre o Estado e a
sociedade. Os avanços de teorias que passaram a considerar a influência da
sociedade nas decisões de política criaram cada vez mais espaço para outras
abordagens que se debruçavam sobre essa relação.
Têm-se então a APE, assim como as Relações Internacionais, sofrendo
uma metamorfose com os anos e ganhando cada vez mais aparatos para a
execução de suas análises.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
Nessa aula você foi apresentado a algumas das principais teorias das
Relações Internacionais e suas visões sobre a dinâmica da política externa.
Após ser apresentado a ideia de teoria e a importância da escolha teórica para
a realização da análise do pesquisador, a primeira teoria de Relações
Internacionais foi apresentada: o realismo.
Com a leitura sobre a visão realista aprendemos que o Estado é um ator
central para essa perspectiva, e que suas ações são movidas pela intenção de
garantir seus objetivos e também ideia de necessidade de defesa.
Tendo a concepção de que o cenário internacional é anárquico, o
realismo clássico interpreta que o desequilíbrio entre as forças estatais, leva a
esses autores a terem a necessidade de preservação, sendo a questão de
defesa um tema constante na agenda estatal.
Como visão contrária temos o Liberalismo, e sua ideia de que as
modificações no cenário externo levaram aos Estados a terem que compartilhar
sua posição com outros atores. O estado continua tendo sua importância, no
entanto, a análise não deve mais ser somente realizada sobre esse autor.
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Funcionando do princípio de racionalização, o liberalismo verá a cooperação
como um ato racional estatal em busca da garantia de seus interesses.
O construtivismo surge primeiramente como uma teoria que não
buscava se posicionar contra o liberalismo ou realismo. Trazendo sua própria
visão, o construtivismo logo se mostra apto para as análises de política externa
ao considerar fatores como a identidade nas relações entre Estados. A ideia de
interdependência complexa trabalha sobre a conexão existente entre os
agentes e seu impulso para a cooperação.
Por fim, uma breve leitura sobre algumas teorias que emergiriam
conforme a conjuntura internacional se alterou nos propiciou pensar em como o
uso de diferentes teorias e metodologias acabam sendo um reflexo do
momento vivido.
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REFERÊNCIAS
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TARZI, Shah M. Neorealism, Neoliberalism and the International System.
International Studies, v. 41, n. 1, 2004. Sage Publications.
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