Livro1 - Sumário e Capitulo1
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CONHECENDO A SOCIOLOGIA
Capítulo 2 - Como surge uma ciência? Um pouco da história da Sociologia ............ ..2 0
Muda a maneira de produzir . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1
As cidades e a questão social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 2
Mudam as maneiras de crer e conhecer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 2
O imperialismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 3
Auguste Comte e o positivismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 4
A lei dos três estados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 5
O positivismo na República brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 6
Duas visões de evolução no século XIX . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 6
A Sociologia clássica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 7
Émile Durkheim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 8
Os fatos sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 8
Os tipos de solidariedade social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 1
Anomia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2
O suicídio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 2
Karl Marx . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 4
O materialismo histórico e a crítica da ideologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 4
Modos de produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 6
A dialética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 7
Luta de classes no modo de produção capitalista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 8
As ideias socialistas antes de Karl Marx . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1
Max Weber . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 3
Ação social como base da análise sociológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 4
Relação social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 6
Tipos ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 6
Atividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 8
Atividades complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 8
Abertura de capítulo
Com a palavra
Biografia
Nesta seção é apresentada um pouco da trajetória de pensadores que contribuíram para o desenvolvimento
da Sociologia.
Boxe complementar
Traz informações em variados formatos, como notícias de jornal, trechos de relatórios, entrevistas, entre outros,
para o aprofundamento dos assuntos tratados em cada capítulo.
Sugestões
Indicações de filmes, livros e sites que buscam disponibilizar fontes variadas de reflexão e pesquisa relacionadas
ao conteúdo estudado.
Seção que propicia a possibilidade de refletir sobre os conteúdos de cada capítulo por meio de exercícios
que abordam diversas habilidades, além de proporcionar contato com questões de diferentes exames de
seleção existentes em território nacional.
CONHECENDO A SOCIOLOGIA
A Sociologia é uma ciência que investiga questões relacionadas à vida
humana em coletivo, à maneira como as relações sociais se estabelecem e
apresentam tendências e sentidos específicos. Sua história é relativamente
recente e frequentemente esteve envolvida com a tentativa de compreender
contextos de mudanças e disputas intensas, que influenciam a vida de mi-
lhões de pessoas em todo o planeta. Esses são processos que temos dificul-
dade de perceber e explicar, mesmo que nos afetem diretamente.
É fundamental, para qualquer indivíduo que deseja situar-se com clareza no mundo
em que vive, dispor das ferramentas de pensamento que a Sociologia oferece para, inclu-
sive, questioná-lo.
À Sociologia cabe analisar, desvendar e explicar as relações sociais e as formas de associação entre as
pessoas, buscando a compreensão de fenômenos como as transformações sociais, as diferenças e desigual-
dades entre grupos humanos e os diversos conflitos existentes no planeta.
Manifestação em Paris, França, de protesto contra as leis anti-imigração, Protesto em prol da Educação no Brasil em 2019.
fevereiro de 2018. Foto: AP. Fonte: https://encrypted-
Ponto de partida
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Como pensar a sociedade?
Tópicos do capítulo
Ciências Sociais
Imaginação sociológica
Desnaturalização
Estranhamento
Teias de interdependência
Ciência
Senso comum
Interdisciplinaridade
Transdisciplinaridade
Qual é a finalidade de estudar a sociedade em que vivemos? Como fazer isso? A que conclusões e resul-
tados de pesquisa pode chegar uma ciência da sociedade? E de que forma estes podem ser usados por nós,
membros dessa mesma sociedade?
Essas são apenas algumas das perguntas feitas pelos que começam a se aventurar pela Sociologia, ciência
que busca compreender os fenômenos da vida humana em coletivo e suas influências sobre nossas próprias
trajetórias como indivíduos, analisando o que se transforma e o que permanece nas relações sociais – e as
razões para isso. São de seu interesse os padrões de comportamento social, o sistema político, os múltiplos
processos educacionais (sendo a escola apenas um deles), a diversidade cultural, o papel das ciências nas
transformações sociais, as lutas por reconhecimento das minorias, as diferentes formas de organização da
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produção dos itens necessários à sobrevivência humana e às modalidades de trabalho nelas envolvidas, os
tipos de estratificação social e as desigualdades que daí surgem, o papel da democracia e os obstáculos por ela
encontrados, as influências religiosas nos comportamentos individuais e de grupos, o papel dos movimentos
sociais na construção da cidadania, as raízes históricas dos padrões de violência e de criminalidade, a maneira
como os meios de comunicação e a política se articulam e a construção de identidades individuais e sociais,
entre muitos outros. Estudar esses temas tanto nos possibilita uma visão mais contextualizada sobre fenôme-
nos que consideramos estarem “acima” de nós quanto nos torna capazes de tomar uma posição mais consci-
ente diante deles.
Faça um pequeno exercício: imagine-se numa cidade como São Paulo no final do século XIX. Ruas irre-
gulares e com calçamento precário, apenas algumas delas iluminadas com lampiões, casas com estrutura de
taipas, população reduzida. Um município meio urbano, meio rural, defasado em infraestrutura se comparado
a cidades como Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belém, Niterói, Porto Alegre e Fortaleza.
Desde então, inicialmente em razão da expansão cafeeira, da construção de linhas ferroviárias para o trans-
porte do café (que convergiam de vários pontos do interior para a cidade) e das enormes levas de imigrantes para
trabalharem nas lavouras, e mais adiante em razão do uso dos capitais acumulados no desenvolvimento industrial,
São Paulo se transformou em metrópole (do grego metropolis, cidade-mãe), com crescimento urbano e demo-
gráfico acentuado, grande circulação de veículos, influência nas decisões políticas e econômicas, ocorrência de
movimentos artísticos e de mobilizações reivindicatórias e atração de migrantes de outras regiões do país.
O Vale do Anhangabaú é um exemplo da maneira como a cidade de São Paulo se urbanizou. O local
sofreu o aterramento de um rio, abrigou cultivos agrícolas, foi palco de inovações (como a construção do Via-
duto do Chá e de alguns dos primeiros grandes edifícios do município).
Vale do Anhangabaú, no município de São Paulo (SP) em 1897, ainda Vale do Anhangabaú por ocasião de sua reinauguração, em 2021.
com a primeira edificação do Viaduto do Chá sobre fazendas que culti- Foto: Casimiro/Arena/Estadão.
vavam o produto e lhe deram o nome.
Foto: Folhapress.
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Essa cidade continua a se transformar em veloci- Essa análise é importante não só por ter sido resul-
dade, acarretando uma série de consequências: elevação tado de amplo conjunto de ações e comportamentos de
dos índices de criminalidade, poluição do ar e sonora, es- milhões de pessoas que habitaram a região, como tam-
peculação imobiliária e segregação socioespacial, dificul- bém por ter influenciado o modo de vida atual dos pau-
dade de mobilidade urbana, devastação das coberturas ve- listanos, ou seja, se quisermos compreender como pensa-
getais e das nascentes de água, destinação inadequada do vam e se relacionavam os indivíduos em determinada
lixo produzido, frequentes alagamentos. época, precisamos saber em que meio social viviam.
Ao mesmo tempo, é possível pensar os indivíduos Assim, a reflexão sociológica atua como sugeriu o
inseridos nesses momentos de tamanha transformação e francês Pierre Bourdieu: é necessário reconhecer, de forma
os tipos de relação social que se estabeleciam: escravos re- científica e crítica, como os comportamentos são determi-
cém-libertos (afinal, a abolição se deu em 1888, quando a nados socialmente, revelando tanto o que fica escondido
transformação urbana paulistana se iniciava), vindos à ci- na ação de indivíduos ou grupos quanto as causas e o sen-
dade para compor uma nova força de trabalho; negros li- tido dos processos desencadeados, neste caso, pela moder-
vres, que já compunham a população urbana, mas sofre- nização urbana, procurando torná-los compreensíveis.
ram com o racismo dos governantes e deputados – que De acordo com Zygmunt Bauman e Tim May, sociólo-
priorizaram as políticas de incentivo estatal à imigração gos atuantes na Inglaterra, pensar sociologicamente é exa-
europeia; imigrantes que chegavam da Europa para traba- tamente isso: dar sentido à condição humana mediante a
lhar em fazendas de café no interior do estado e que, algu- análise das inúmeras teias de interdependência que nos
mas vezes, resolviam ficar mesmo pela cidade de São envolvem – o que ajuda a explicar os motivos e os efeitos
Paulo para tentar se estabelecer; os fazendeiros de café, que de nossas ações individuais.
se instalavam no Centro de São Paulo e passavam a inte- As vidas individuais veem-se constantemente marcadas por eventos externos a
grar cada vez mais a cidade ao mercado mundial, ao cons- elas, embora originados no interior da sociedade. Eventos que por vezes apare-
cem como inexplicáveis e incontroláveis podem ser interpretados pela Socio-
truir ferrovias de transporte de café (do interior do estado logia. Abaixo, imagens com diferentes vistas da comunidade Nova Providên-
aos portos de Santos e do Rio de Janeiro) e ao redesenhar cia, no Rio de Janeiro (RJ), setembro de 2013. Alguns moradores sofreram
ação de despejo e algumas casas foram demolidas por autoridades municipais
a rede de serviços de acordo com novos padrões de riqueza para dar lugar a um teleférico que liga a estação Central do Brasil ao Porto
e costumes, derivados da Europa; os comerciantes que, ao Maravilha. A obra fez parte dos planos de revitalização e urbanização da cidade
para as Olimpíadas de 2016.
venderem bens de primeira necessidade para os trabalha-
dores urbanos e rurais, acumularam suficiente capital para
investir em iniciativas industriais voltadas ao mercado in-
terno; os técnicos especialistas vindos da Europa e dos Es-
tados Unidos, responsáveis por coordenar obras nos ra-
mos da eletricidade, da construção de ferrovias, de trans-
porte urbano e de construção civil etc.
Esse exemplo permite refletir sobre possíveis usos da
Sociologia, num diálogo com a História e a Geografia, ao
pensar a dinâmica das relações sociais num determinado
período e espaço. Deve ser investigada a maneira como as
modificações históricas de São Paulo trouxeram à tona
conflitos entre a tradição de um núcleo urbano até então
pequeno e a modernidade que definitivamente inseriu a Fonte: Acervo pessoal do autor.
cidade num circuito mundial.
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A imaginação (não só) sociológica
Na atualidade, o trabalho dos profissionais das Ciências Sociais é de fundamental importância na to-
mada de decisões e no planejamento de ações que repercutem ou possam repercutir sobre grupos, comuni-
dades ou sociedades. Sua produção científica contribui para entendermos de forma mais completa as conse-
quências sociais dessas ações, já que se debruça sobre os mais diversos temas e considera aspectos muitas vezes
negligenciados por governantes, empresários, partidos políticos, equipes técnicas governamentais e outros
tomadores de decisão. Alguns exemplos de atuação são as participações de cientistas sociais na elaboração de
políticas de assistência social, educação, saúde, segurança pública, habitação e emprego; o auxílio aos proces-
sos judiciais de reconhecimento do direito ao território por populações indígenas, quilombolas e tradicionais;
a assessoria a partidos políticos e movimentos sociais na formulação de programas e estratégias de intervenção
na sociedade.
Ao mesmo tempo, a pesquisa em Sociologia se diferencia daquela das Ciências da Natureza, por exem-
plo, em que se podem realizar repetidamente experimentos controlados com o objetivo de coletar séries de
dados e depois compará-los. A experimentação na Ciência da Sociedade torna-se difícil por envolver seres
humanos, cujo comportamento resulta de influências como impulsos, desejos, memória, competitividade,
vontades, valores morais. A motivação dos grupos a serem estudados é variável e imprevisível, o que traz um
elemento de desafio às investigações na área.
Num plano mais amplo e acessível a todos, o objetivo da disciplina é estimular o que o pesquisador
estadunidense Charles Wright Mills (1916-1962) chamou de imaginação sociológica, ou seja, a capacidade
de entender o que acontece na vida social e como isso pode interferir em nossas próprias vidas. Essa “quali-
dade do espírito”, como Mills a caracterizou, proporciona uma complexa experiência de pensamento: a ca-
pacidade de articular nossas vidas individuais aos eventos coletivos e históricos, o que pode inclusive auxiliar-
nos a identificar a raiz de inquietações que temos e por vezes não entendemos de onde vêm. A partir daí,
torna-se mais fácil tomar posição sobre as questões fundamentais do nosso tempo.
As Ciências Sociais são constituídas por três disciplinas científicas: a Sociologia, a Antropologia e a Ciência
Política. Cada uma delas tem seus objetos, teorias, pensadores e métodos próprios, que muitas vezes dialogam
entre si e com outros saberes.
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COM A PALAVRA
CHARLES WRIGHT MILLS
A imaginação sociológica
[...] A imaginação sociológica permite ao seu possuidor compreender o cenário histórico mais amplo em termos de seu
significado para a vida interior e a carreira exterior de uma variedade de indivíduos. Ela lhe permite levar em conta de que maneira
indivíduos, no tumulto de suas experiências diárias, tornam-se muitas vezes falsamente cônscios de suas posições sociais.
[...] O primeiro fruto dessa imaginação – e a primeira lição da ciência social que a corporifica – é a ideia de que o indivíduo
só pode compreender sua própria experiência e avaliar seu próprio destino situando-se dentro de seu período, de que ele só pode
conhecer suas próprias chances na vida tornando-se consciente daquelas de todos os indiví-duos em suas circunstâncias. Sob
muitos aspectos, é uma lição terrível; mas também, sob muitos aspectos, uma lição magnífica. [...] Descobrimos que todo indiví-
duo vive, de uma geração para outra, em alguma sociedade; que ele vive uma biografia, e que ele a vive dentro de uma sequência
histórica. Pelo fato de viver, contribui, ainda que minimamente, para a conformação dessa sociedade e para o curso de sua história,
mesmo que seja feito pela sociedade e por seu empurra-empurra histórico.
A imaginação sociológica nos permite apreender história e biografia e as relações entre as duas na sociedade. Essa é sua tarefa
e sua promessa. Reconhecer essa tarefa e essa promessa é a marca do analista social clássico. [...] Pois essa imaginação é a capacidade
de passar de uma perspectiva para outra. [...] É a capacidade de oscilar entre as transformações mais impessoais e remotas e os
traços mais íntimos da pessoa humana – e de ver a relação entre os dois.
[...] É por isso, em resumo, que se espera que através da imaginação sociológica os homens possam agora captar o que está
acontecendo no mundo, e compreender o que está se passando em si mesmos como minúsculos pontos de interseção de
biografia e história dentro da sociedade.
Desnaturalização e estranhamento
A violência, por exemplo, é um fenômeno que pode ser compreendido com base na imaginação sociológica. Po-
rém, devemos ir além da desnaturalização e do estranhamento dos fenômenos sociais, uma vez que a historicidade e a
compreensão da relação indivíduos e sociedade são princípios igualmente fundamentais e que, portanto, não devem ser
desprezados. Muito ao contrário. E é importante que tenhamos em mente que problematizar e estranhar não são exclu-
sividades do pensar sociológico, mas dos propósitos científicos e dos campos de conhecimento em geral.
De forma prática, pensemos em duas situações sociais contrastantes no Brasil contemporâneo: um jovem ne-
gro residindo na periferia de algum centro urbano e um jovem branco morador de áreas nobres desse mesmo centro
urbano. Dados recentes sobre juventude e homicídios no Brasil apontam uma probabilidade de morte violenta
maior para o primeiro jovem do que para o segundo. No entanto, é possível que nenhum deles pare para refletir
sobre as razões disso: facilidade no acesso a armas em determinadas regiões; incidência mais consolidada de organi-
zações criminosas violentas em determinadas regiões; valorização juvenil dos atrativos de ascensão social ligados às
atividades econômicas da criminalidade violenta; abordagem violenta, pela polícia, de certos grupos – jovens, ho-
mens, negros, pobres, periféricos – em oposição à abordagem de outros, o que pesquisadores chamam de suspeita
sistemática; cultura de resolução violenta de conflitos; entre outros fatores.
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DICA DE FILME:
As melhores coisas do mundo. Direção: Laís Bodanzky. Brasil, 2010. 105 min.
Com base na trajetória de Mano, adolescente branco de classe média urbana, o filme trata da experiência de certo segmento de jovens da
sociedade brasileira e aponta para temas como o respeito às diferenças, os conflitos familiares e de geração, a iniciação aos relacionamentos
afetivos e sexuais e o bullying escolar.
Ambos os jovens podem simplesmente não articu- um fenômeno ou acontecimento. Porém, a tendência
lar seu cotidiano a esses dados e análises, tomando é que o que nos assombrou ganhe contornos de natu-
como algo natural os diferentes graus e atos de violência ralidade rapidamente.
que sofrem, que presenciam ou de que escutam falar. Para as Ciências Sociais, estranhar não pode signifi-
Como algo que simplesmente “é assim”, natural. A car apenas o espanto inicial, mas a indagação e a busca
proposta da imaginação sociológica é romper essa na- das causas do fenômeno ou do acontecimento causa-
turalização e praticar o exercício constante do estra-
dor.
nhamento.
Os dados apresentados no infográfico abaixo se re-
Estranhar significa espantar-se, surpreender-se, abis- ferem à violência no Brasil e podem nos auxiliar a exer-
mar-se, incomodar-se diante de um acontecimento. citar um pouco a imaginação sociológica com base na
Mesmo envolvidos profundamente com as nossas ati- situação apresentada anteriormente.
vidades rotineiras, podemos até nos espantar diante de
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No Brasil, os números sobre a violência continuam a
apresentar a diferença entre negros e brancos no Brasil. Se-
gundo a edição do Atlas da Violência de 2019, 75,5% das
vítimas de assassinato em 2017 eram indivíduos negros. A
taxa de homicídios de negros (pretos e pardos) por grupo de
100 mil habitantes foi de 43,1, ao passo que a de não negros
(brancos, amarelos e indígenas) foi de 16,0. Ou seja, para
cada indivíduo não negro que sofreu homicídio em 2017,
cerca de 2,7 negros foram mortos. O Atlas da Violência, ex-
posto em infográfico, também aponta que, no período de
Fonte: Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil, 2018
uma década (2007 a 2017), a taxa de letalidade de negros
cresceu 33,1%, enquanto a de não negros apresentou um au-
mento de 3,3%. Analisando apenas a variação no último ano
Além da precariedade do sistema carcerário,
(2016 para 2017), enquanto o índice de mortes de não ne-
gros demonstrou relativa estabilidade, com redução de as políticas de encarceramento e aumento de pena
0,3%, o de negros cresceu 7,2%. Entre 2016 e 2017, o Brasil se voltam, em maior quantidade, contra a popula-
experimentou aumento de 6,7% na média de homicídios de ção negra e pobre e envolve grande número de jo-
jovens. Na última década, esse número passou de 50,8 pes- vens entre 18 e 29 anos de idade.
soas entre 15 e 29 anos executadas por grupo de 100 mil
jovens em 2007, para 69,9 em 2017.
A razão humana é a base tanto da reflexão científica quanto da filosófica. Está fundada na forma
de explicar a realidade que valoriza o uso da palavra e afasta as primeiras impressões sobre os fenôme-
nos, as paixões individuais e o uso da violência. Sua origem remonta à Grécia antiga, onde surge a
preocupação com os métodos de conhecimento e com a distinção entre opinião e ciência.
O conhecimento racional teve especial valorização no Renascimento, do século XIV ao XVI, e
desde a ascensão dos ideais iluministas no século XVIII até hoje, quando se consolidam a ciência e a
técnica modernas.
Para entender o pensamento científico, é necessário refletir sobre como a razão humana opera e
as diferenças entre ela e alguns saberes utilizados no cotidiano. Estes compõem o que chamamos de
senso comum , que nos ajuda a lidar com as circunstâncias que nos rodeiam, a realizar as mais diversas
atividades e a reagir, por vezes de forma muito criativa, às situações e aos problemas que delas possam
decorrer, ou seja, é um conhecimento que vem da “vida vivida”, formado nas nossas práticas e experi-
ências, e que pouco as questionam ou analisam de forma mais abrangente.
Pode-se comparar o senso comum a uma espécie de “óculos” de leitura do mundo, que usamos
desde cedo e com o qual nos acostumamos. Além do já mencionado, esse conjunto de verdades prees-
tabelecidas caracteriza-se por não questionar dogmas, certezas e aceitar os acontecimentos tais como
são, incluindo preconceitos, injustiças e desigualdades; por não desconfiar das possibilidades de trans-
formação social existentes; e por encarar as primeiras impressões que temos sobre os fenômenos como
explicações quase absolutas. É importante reconhecer a dificuldade de romper completamente com
ele, pois faz parte da maneira como todos, inclusive cientistas e filósofos, aprendemos a pensar.
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DICA DE LEITURA
O debate sobre senso comum aparece de forma aprofundada no Capítulo 2 do livro Introdução a uma ciência pós-
moderna, do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos (Rio de Janeiro: Graal, 2010).
Elementos da ciência
Não se deve, portanto, considerar o senso comum algo somente negativo, mas reconhecer que ele age de ma-
neira diferente do conhecimento científico, que busca distanciar-se dos estímulos imediatos em prol de uma abor-
dagem rigorosa, questionadora de dogmas e das primeiras impressões que temos sobre a realidade. A ciência investiga
problemáticas (ou seja, conjuntos de questionamentos) relacionadas aos mais variados fenômenos (que chamamos
de objetos científicos), com o objetivo de obter respostas racionais. Para isso, faz uso dos métodos adequados para
coletar e analisar informações, descrevendo de forma lógica e clara o processo e os resultados obtidos, e estabelecendo
possíveis relações de causa e efeito entre os objetos pesquisados.
Para que os procedimentos sejam os mais rigorosos, e os resultados, os mais precisos, os cientistas atentam
muito para a influência dos seus próprios preconceitos e juízos de valor – o que é ainda mais complexo em ciências
que lidam diretamente com os seres humanos, como a Psicologia, a História, a Economia ou as Ciências Sociais. Já
vimos, ao tratar do senso comum, que mesmo os cientistas não conseguem afastar por completo suas opiniões e
preconceitos.
Outro elemento importante para compreendermos a ciência é seu caráter coletivo: os métodos e as conclusões
obtidas pelos cientistas são avaliados por membros da comunidade de pesquisadores especialistas em cada área do
conhecimento. Serão aceitas se consideradas verdadeiras, mas estarão sempre sujeitas a modificações, pois novas
perguntas podem ser colocadas com base nos resultados encontrados. Para fazer ciência é preciso questionar, estudar
e pesquisar continuamente, ampliando o universo de interesse de cada área. Além disso, entender seu caráter coletivo
nos leva a romper com a ideia de que a ciência avança principalmente graças às contribuições de “indivíduos geniais”.
Para que estes tenham condições de surgir e atuar, existe necessariamente um contexto favorável: equipes, institui-
ções, universidades, laboratórios, orçamentos e programas de financiamento ao desenvolvimento científico e tecno-
lógico, entre outros.
Cada ciência é particular por delimitar um campo de pesquisa com problemáticas, objetos e métodos próprios.
Surgem assim disciplinas, como a Biologia (que trata da vida e dos seres vivos); a Química (que abrange as estruturas
e transformações das substâncias); a Física (que busca construir leis e modelos para explicar a natureza das coisas); a
Sociologia (que trata do conjunto das relações sociais) etc. Muitas vezes, a complexidade de alguns objetos de co-
nhecimento exige que essas ciências se unam e componham estudos interdisciplinares ou transdisciplinares.
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Interdisciplinares são as articulações entre diversas áreas científicas em pesquisas sobre uma temática complexa, a fim de obter conclusões mais abrangentes e
detalhadas e expressá-las numa linguagem comum às diversas disciplinas. A ideia de interdisciplinaridade se opõe à alta especialização de cada pesquisador
apenas em seu campo de conhecimento; é cada vez mais utilizada para compreender fenômenos que envolvem a intervenção humana no mundo natural,
como nos estudos ecológicos (do aquecimento global, de desastres naturais), de bioética, entre outros.
Transdisciplinares, por sua vez, são as articulações não só de vários campos do conhecimento científico, mas também destes com outros saberes, como os
produzidos por técnicos, organizações não governamentais, profissionais de empresas, movimentos sociais ou populações tradicionais, como indígenas e qui-
lombolas.
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Comunidade quilombola de João Surá (PR)
DICA DE VÍDEO
Laboratório de Cartografia Social da Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Pará (UNIFESSPA). Série "Nossos Laboratórios". Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=zTjEntO6sqo
14
TEXTO
O ensino de Sociologia e a importância de desnaturalizar a
COMPLEMENTAR naturalização
[...] Há uma frase presente na sociedade brasileira que revela bem a naturali-
zação: “sempre foi assim”. Tal expressão, com a aparência de considerar a histó-
ria (sempre foi), a nega. Ao afirmar “sempre foi assim” há uma segunda negação,
a negação da dialética inerente da história e das relações sociais, negação das
dinâmicas políticas que determinam a manutenção ou a mudança.
Num primeiro momento, o “sempre foi assim” parece ser apenas a repetição que conduz
a uma espécie de amnésia da gênese que naturaliza as relações significantes, estas mesmo
que são produtos da história. Em outros termos, se coloca como sendo apenas a negação das
origens de seu significado, uma espécie de “inconsciente natural”, diria Bourdieu e Passeron
(2016). Ao dizer “sempre foi assim” o objetivo é inferir que não há porque buscar suas
origens, já que o fenômeno não mudou e nem mudará e que sua origem pouco importa em
sua configuração. Contudo, é necessário ampliar a compreensão do “sempre foi assim”,
talvez expressão máxima da naturalização. Dito de outra forma, é necessário desnaturalizar
a naturalização.
Desnaturalizar não deve ser reduzido à demonstração de que há um “inconsciente natural” e uma
produção social – o que é verdade – mas, sobretudo, demonstrar de quais maneiras as estruturas
sociais materiais e simbólicas de ontem e hoje reforçam o estado das coisas e como o “sempre foi
assim” o legitima. O processo de naturalização não é espontâneo, natural, mas socialmente produ-
zido. Em miúdos, a naturalização é um fenômeno socialmente construído, reproduzido e mantido
por estruturas sociais estabelecidas a partir de arbitrários culturais, as quais interessam alguns grupos
sociais privilegiados e, por isso, uma prática política (marcada por relações de poder) e uma violência
simbólica.
Nesse sentido – repito! –, não adianta apenas criar condições para que o corpo discente desnatu-
ralize os fenômenos sociais nas, e a partir, das aulas de Sociologia, é necessário também desnaturali-
zar a naturalização, conduzindo os/as estudantes a compreender que a naturalização é também um
fenômeno social resultante de uma configuração política, marcadas por jogos de poder e que ocorre
sem que os envolvidos tenham consciência, ou plena consciência, do processo, e por isso é violenta.
Então, cabe aos/às professores de Sociologia desnaturalizar a naturalização, problematizando
como que os fenômenos sociais naturalizados assim o foram e quais os jogos políticos estão pre-
sentes nos processos de naturalização. Importa tomar a naturalização como um fenômeno social
também naturalizado, por isso a importância de desnaturalizar a naturalização a partir do ensino
de Sociologia.
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ATIVIDADES
1) Conforme vimos no começo do capítulo, a So- Escreva um pequeno texto articulando as no-
ciologia nos ajuda a compreender a sociedade ções de imaginação sociológica, senso co-
humana por meio de uma série de teorias e téc- mum , desnaturalização e estranhamento .
nicas de observação e compreensão da reali-
4. Conforme estudamos ao longo do capítulo, a
dade. Observe a imagem abaixo (que retrata os
Sociologia compreende os diferentes contextos
refugiados na Hungria) e reconstitua os fatores
das sociedades. Tomando como o ponto de
que levaram à ocorrência desse fenômeno de
partida o exemplo da cidade de São Paulo ex-
imigração em massa de países da Ásia, do Ori-
posto no capítulo, pesquise como se dava a or-
ente Médio e da África, com mais intensidade
ganização social do seu município ou região no
entre 2015 e 2016, e como a Sociologia poderia
começo do século XX e nos dias de hoje.
nos ajudar a compreendê-lo.
5. As Ciências Sociais são compostas por três
áreas do conhecimento. Explique cada uma
delas e seus objetos de estudo.
6. Agora que você explorou cada área do conhe-
cimento das Ciências Sociais, realize uma
breve pesquisa sobre outras disciplinas que
compõem seu currículo escolar (Física, Quí-
mica, Biologia, Matemática, História, Geogra-
fia, Educação Física, Artes, Filosofia, Língua
Portuguesa) e procure descobrir um pouco de
Migrantes fogem da polícia na cidade de Roszke, na Hungria,
em 2015. REUTERS / Laszlo Balogh sua história e seus objetos, métodos, principais
questões.
7. De acordo com o que estudamos até o mo-
2. Com base na leitura do capítulo, tente apre- mento, qual a finalidade dos estudos da Socio-
sentar com suas próprias palavras o que é a so- logia?
ciedade.
8. A Sociologia, por ser uma ciência, procura
3. Leia o seguinte trecho da obra A imaginação fugir do olhar imediatista ou comum sobre a
sociológica, do sociólogo Wright Mills, e de- realidade. Como ela procura fazer isso?
pois faça o que se pede.
9. Busque em seu cotidiano exemplos de senso
comum e de conhecimento científico. Escolha
“O que [os indivíduos] precisam é de uma qua- dois de cada e explique em detalhes como eles
lidade de espírito que lhes ajude a perceber o que procuram explicar a realidade e como se dife-
está ocorrendo no mundo e o que pode estar renciam.
acontecendo dentro dele mesmo. É essa quali-
10. Pesquise em jornais e revistas ou redes sociais
dade que poderemos chamar de imaginação so-
exemplos de conteúdos (anúncios publicitá-
ciológica.”
rios, títulos de reportagens, postagens etc.) que
se aproximam do senso comum e justifique
WRIGHT MILLS, C. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: suas escolhas.
Zahar Editores, 1965. p. 11.
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ATIVIDADES COMPLEMENTARES
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destino humano mediante o estudo dos b) o pensar sociologicamente caracteriza-se
astros. pela descrença na ciência e pouca fide-
III. Na consulta ao horóscopo, aos astros e dignidade de seus argumentos. O senso
às melhores pedras para cada signo do comum, ao contrário, evita explicações
zodíaco, o senso comum substitui o ci- imediatas ao conservar o rigor científico
entífico. dos fenômenos sociais.
IV. Enquanto área de conhecimento, o eso- c) pensar sociologicamente é não ultrapas-
terismo é fundamental para desfetichi- sar o nível de nossas preocupações diárias
zar a vida social ao esclarecer ao homem e expressões cotidianas, enquanto o
o que é sua existência real. senso comum preocupa-se com a histori-
Assinale a alternativa correta. cidade dos fenômenos sociais.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. d) o pensamento sociológico se distingue
do senso comum na explicação de alguns
b) Somente as afirmativas I e III são corretas. eventos e circunstâncias, ou seja, en-
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. quanto o senso comum se preocupa em
analisar e cruzar diversos conhecimen-
d) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
tos, a Sociologia se preocupa apenas com
e) Somente as afirmativas II, III e IV são as visões particulares do mundo.
corretas.
e) um dos papéis centrais desempenhados
pela Sociologia é a desnaturalização das
4. (Seduc-PI) A imaginação sociológica é a concepções ou explicações dos fenôme-
habilidade de se perceber a conexão exis- nos sociais, conservando o rigor original
tente entre problemas pessoais e estruturas exigido no campo científico.
sociais. O emprego da expressão antes de-
finida está associado às obras de:
6. (Unimontes-MG)
a) Talcott Parsons.
[…] A Sociologia não é hoje apenas um
b) Robert Merton.
conhecimento de interesse restrito a quem a
c) C. Wright Mills.
usa profissionalmente. É um conhecimento
d) Peter Berger. que interessa a todos. Sendo uma disciplina
e) Pierre Bourdieu. humanística, a Sociologia é, consequente-
mente, uma forma significativa de consciên-
5. (Unioeste-PR) Segundo Zygmunt Bau- cia social.
man, a Sociologia é constituída por um VILA NOVA, Sebastião. Introdução à Sociologia . 5. ed.
conjunto considerável de conhecimentos rev. e aum. - São Paulo: Atlas, 2000.
acumulados ao longo da história. Pode-se Considerando as reflexões acima, julgue os
dizer que a sua identidade forma-se na dis- itens a seguir.
tinção com o chamado senso comum. Con-
siderando que a Sociologia estabelece dife-
renças com o senso comum e estabelece I. As explicações científicas produzidas
uma fronteira entre o pensamento formal e pela Sociologia, resultado da observação
o senso comum, é correto afirmar que: sistemática dos fatos, podem constituir
subsídio confiável para a resolução de
a) a Sociologia se distingue do senso co-
problemas sociais.
mum por fazer afirmações corroboradas
por evidências não verificáveis, baseadas II. Nas sociedades em que existem muitas
em ideias não previstas e não testadas. injustiças sociais, o sentimento de indig-
nação moral faz com que se busque na
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Sociologia não apenas a explicação cien- do mito da Religião ou da Filosofia sem-
tífica dos fenômenos sociais, mas tam- pre se acha um agente humano, que se
bém indicações de possíveis resoluções preocupa, fundamental e primariamente,
das injustiças sociais. com questões relativas à origem, à vida e
III. A Sociologia se interessa pelas doutri- ao destino de seus semelhantes.
nas sociais, sejam elas políticas ou reli- (FERNANDES, Florestan. A herança intelectual da Sociolo-
gia. In: FORACCHI, Marialice; MARTINS, José de Souza.
giosas, como um componente impor- Sociologia e Sociedade . Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
tante da vida social, pois estas prescre- Científicos, 1977, p. 11.)
vem como a sociedade deve ser, mas o Pode-se concluir do texto que a Sociologia:
conhecimento sociológico não se con-
funde com as doutrinas sociais. 1 nasce e se desenvolve procurando com-
preender a Idade Média. Os sociólogos
Estão corretos os itens: utilizaram os recursos explicativos gera-
a) I, II e III. dos, sobretudo, pelas doutrinas religio-
b) II e III, apenas. sas para analisar a organização do
mundo;
c) I e III, apenas.
2 empreende uma reflexão sistemática so-
d) I e II, apenas. bre as transformações sociais em curso
nas sociedades em que a ciência se tor-
nou uma poderosa ferramenta de com-
7. (UEM-PR) Leia o texto a seguir: preensão do mundo;
A Sociologia não se limita ao estudo
4 define, ao refletir sobre os conflitos estabe-
das condições de existência social dos se-
lecidos nas relações entre indivíduo e soci-
res humanos. Todavia, esta constitui a
edade, que a função dos sociólogos é en-
porção mais fascinante ou importante de
contrar soluções para esses conflitos;
seu objeto e aquela que alimentou a pró-
pria preocupação de aplicar o ponto de 8 objetiva construir formas de conheci-
vista científico à observação e à explicação mento científico sobre a realidade, esta-
dos fenômenos sociais. Ora, ao se falar do belecendo teorias e metodologias que
homem, como objeto de indagações espe- gerem compreensão dos fenômenos so-
cíficas do pensamento, é impossível fixar, ciais;
com exatidão, onde tais indagações se ini- 16 elabora um estudo organizado do com-
ciam e quais são os seus limites. Pode-se, portamento humano. Logo, podem ser
no máximo, dizer que essas indagações co- objetos de estudo dessa ciência, dentre
meçam a adquirir consistência científica outros: as formas de exclusão social, os
no mundo moderno, graças à extensão dos novos arranjos familiares, os processos
princípios e do método da ciência à inves- de construção da cidadania e o fenô-
tigação das condições de existência social meno da violência urbana.
dos seres humanos. Sob outros aspectos,
já se disse que o homem sempre foi o prin- Qual é o resultado da soma dos valores das
cipal objeto da curiosidade humana. Atrás afirmativas corretas: ___
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Como surge uma ciência?
Um pouco da história da Sociologia
Tópicos do capítulo
Positivismo
Fato social
Solidariedade mecânica
Solidariedade orgânica
Anomia
Consciência coletiva
Materialismo histórico
Ideologia
Modo de produção
Dialética
Luta de classes
Burguesia
Proletariado
Ação social
Relação social
Tipo ideal
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