Direito Processual Penal
Direito Processual Penal
Direito Processual Penal
1. SISTEMAS PROCESSUAIS
Sistema inquisitório: as funções de acusar, defender e julgar estão concentradas na mesma pessoa. O
processo é instaurado por acusação, notícia-crime ou de ofício pelo juiz (processo judicialiforme).
o O sistema inquisitório busca a verdade real, admitindo-se a tortura, por exemplo, tendo em
vista que o acusado era mero objeto de prova e não sujeito de direitos.
o Crítica: há comprometimento da equidistância e imparcialidade do julgador pela
concentração da acusação e do julgamento na mesma pessoa.
o É diferente de sistema inquisitorial de produção de provas.
Sistema acusatório: há obrigatória separação das figuras do acusador e do julgador. O processo
depende de uma acusação, apresentada por pessoa diversa do juiz, para iniciar.
o O sistema acusatório busca a verdade processual, que é a única atingível durante o processo.
o Actum trium personarum: ato de três personagens – acusador, defensor e juiz.
Sistema misto ou francês: tem duas fases diversas – uma tipicamente inquisitória para apurar a
materialidade e a autoria do fato delituoso; e outra tipicamente acusatória, com clara divisão de
tarefas, respeitando a publicidade e a oralidade.
Em relação à produção de provas, há dois modelos vigentes (cuja nomenclatura pode confundir):
Modelo adversarial (adversarial system): decorre de uma ideologia liberal, característico de países
da commom law, que trabalha com a ideia de que a produção de provas é encargo exclusivo das
partes, pautada na passividade do juiz.
Modelo inquisitorial (inquisitorial system): fundado na função social do processo, o processo visa
atingir o interesse de toda a sociedade, de forma que o juiz é dotado de certa iniciativa probatória,
de forma residual, que pode variar a depender do sistema processual adotado.
Assim, o Brasil adotou o sistema processual acusatório, nos termos do art. 3º-A, do Código de Processo
Penal, com modelo inquisitorial de produção de provas: “por maioria, atribuir interpretação conforme ao
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art. 3º-A do CPP, para assentar que o juiz, pontualmente, nos limites legalmente autorizados, pode
determinar a realização de diligências suplementares, para o fim de dirimir dúvida sobre questão relevante
para o julgamento do mérito”.
o O afastamento do juiz das garantias nos processos originários dos Tribunais decorre do
princípio da colegialidade, que, na teoria, seria suficiente para garantir a imparcialidade dos
julgadores.
o No caso de violência doméstica e familiar, entende-se que se aplica à violência contra a
mulher, crianças e adolescentes.
o Será possível a implementação do juiz das garantias na Justiça Militar e na Justiça Eleitoral (o
julgamento das ADIs pelo STF foi silente quanto a essas justiças).
A atuação do juiz das garantias vai até o oferecimento da denúncia (houve declaração de
inconstitucionalidade do dispositivo que afirmava a atuação até o recebimento da denúncia,
aplicando-se a interpretação conforme).
o Os autos da investigação deverão ser remetidos ao juiz da instrução e julgamento (logo, o art.
3º-C, §3º, do CPP foi declarado inconstitucional pelo STF).
o Após o oferecimento da denúncia, eventuais questões pendentes serão analisadas pelo juiz
da causa. Da mesma forma, o juiz da instrução deverá reexaminar as cautelares em curso, no
prazo máximo de 10 (dez) dias.
o O STF decidiu que a obrigatoriedade do cumprimento do prazo de 24h pode ser mitigada em
caso de impossibilidade fática (primado da realidade).
o Excepcionalmente poderá ser realizada mediante emprego de videoconferência, desde que
seja o meio apto a verificar a integridade do preso e a garantia de seus direitos (entrevista
prévia e reservada entre o preso e o advogado).
O §2º do art. 3º-B, do Código de Processo Penal, prevê a possibilidade de prorrogação do inquérito
policial, por 15 (quinze) dias. Pela nova interpretação do STF, as prorrogações poderão ocorrer
quantas vezes necessárias, desde que haja fundamentação.
o O STF, em contrariedade à letra de lei, manifestou-se no sentido de não haver o relaxamento
da prisão caso as investigações não se encerrem no prazo previsto no CPP.
viii) atribuir interpretação conforme ao § 1º do art. 3º-B do CPP, para estabelecer que o preso em
flagrante ou por força de mandado de prisão provisória será encaminhado à presença do juiz das garantias,
no prazo de 24 horas, salvo impossibilidade fática, momento em que se realizará a audiência com a presença
do Ministério Público e da Defensoria Pública ou de advogado constituído, cabendo, excepcionalmente, o
emprego de videoconferência, mediante decisão da autoridade judiciária competente, desde que este meio
seja apto à verificação da integridade do preso e à garantia de todos os seus direitos;
ix) atribuir interpretação conforme ao § 2º do art. 3º-B do CPP, para assentar que:
a) o juiz pode decidir de forma fundamentada, reconhecendo a necessidade de novas prorrogações do
inquérito, diante de elementos concretos e da complexidade da investigação; e
b) a inobservância do prazo previsto em lei não implica a revogação automática da prisão preventiva,
devendo o juízo competente ser instado a avaliar os motivos que a ensejaram;
x) atribuir interpretação conforme à primeira parte do caput do art. 3º-C do CPP, para esclarecer que
as normas relativas ao juiz das garantias não se aplicam às seguintes situações:
a) processos de competência originária dos tribunais, os quais são regidos pela Lei 8.038/1990;
b) processos de competência do tribunal do júri;
c) casos de violência doméstica e familiar; e
d) infrações penais de menor potencial ofensivo;
xi) declarar a inconstitucionalidade da expressão “recebimento da denúncia ou queixa na forma do art.
399 deste Código” contida na segunda parte do caput do art. 3º-C do CPP, e atribuir interpretação conforme
para assentar que a competência do juiz das garantias cessa com o oferecimento da denúncia;
xii) declarar a inconstitucionalidade do termo “Recebida” contido no § 1º do art. 3º-C do CPP, e atribuir
interpretação conforme ao dispositivo para assentar que, oferecida a denúncia ou queixa, as questões
pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e julgamento;
xiii) declarar a inconstitucionalidade do termo “recebimento” contido no § 2º do art. 3º-C do CPP, e
atribuir interpretação conforme ao dispositivo para assentar que, após o oferecimento da denúncia ou
queixa, o juiz da instrução e julgamento deverá reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso,
no prazo máximo de dez dias;
xiv) declarar a inconstitucionalidade, com redução de texto, dos §§ 3º e 4º do art. 3º-C do CPP, e
atribuir interpretação conforme para entender que os autos que compõem as matérias de competência do
juiz das garantias serão remetidos ao juiz da instrução e julgamento;
xv) declarar a inconstitucionalidade do caput do art. 3º-D do CPP;
xvi) declarar a inconstitucionalidade formal do parágrafo único do art. 3º-D do CPP;
xvii) atribuir interpretação conforme ao art. 3º-E do CPP, para assentar que o juiz das garantias será
investido, e não designado, conforme as normas de organização judiciária da União, dos estados e do
Distrito Federal, observando critérios objetivos a serem periodicamente divulgados pelo respectivo tribunal;
xviii) declarar a constitucionalidade do caput do art. 3º-F do CPP;
xix) atribuir interpretação conforme ao parágrafo único do art. 3º-F do CPP, para assentar que a
divulgação de informações sobre a realização da prisão e a identidade do preso pelas autoridades policiais,
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Ministério Público e magistratura deve assegurar a efetividade da persecução penal, o direito à informação e
a dignidade da pessoa submetida à prisão;
Por fim, o STF fixou a seguinte regra de transição: quanto às ações penais já instauradas no momento
da efetiva implementação do juiz das garantias pelos tribunais, a eficácia da lei não acarretará qualquer
modificação do juízo competente. (STF. Plenário. ADI 6.298/DF, ADI 6.299/DF, ADI 6.300/DF e ADI 6.305/DF,
Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 24/08/2023) (Info 1106).
3. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Pretensão punitiva: surge quando um determinado delito é cometido. É um poder-dever do Estado de
exigir de quem cometeu um delito a submissão à sanção penal.
provisória.
No julgamento, assentou-se que somente seria admitida a execução provisória
da pena caso houvesse mudança constitucional acerca da presunção de
inocência. Esta, por sua vez, configura-se verdadeira cláusula pétrea.
3.1.2
6. INQUÉRITO POLICIAL
É o procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, com o
objetivo de identificar fontes de provas e colher elementos de informação quanto à autoria e a
materialidade da infração penal, a fim de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.
o O inquérito policial é o principal instrumento usado para investigações (mas não o único).
o É mero procedimento administrativo, uma vez que dele não resulta imposição de sanção.
o Não há falar em contraditório e ampla defesa no inquérito policial, em que pese doutrina
minoritária defenda a necessidade de sua observância.
o O inquérito policial tem dupla função: preparatória e preservadora.
Função preparatória: fornece elementos de informação para que o titular da ação
penal possa ingressar em juízo, além de acautelar as provas que poderiam
desaparecer no tempo.
Função preservadora: a existência prévia de um inquérito inibe a instauração de um
processo penal infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e custos
ao Estado.
o Por elementos informativos, entendem-se aqueles obtidos na fase investigatória, sem a
necessária observância do contraditório e ampla defesa, intervindo o juiz apenas quando
necessário e quando for provocado. Tem por finalidade a fundamentação de medidas
cautelares e a formação da opinio delicti (convicção do titular da ação penal).
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Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia.
Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia
são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal
por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração
das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.
§ 2º Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações,
documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.
§ 3º (VETADO).
§ 4º O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser avocado ou
redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público
ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que
prejudique a eficácia da investigação.
§ 5º A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado.
§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise
técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.
Art. 3º O cargo de delegado de polícia é privativo de bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado o
mesmo tratamento protocolar que recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e do
Ministério Público e os advogados.
DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo
Miriam Belchior
Luís Inácio Lucena Adams
o As guardas municipais não constam dentro o rol dos órgãos da segurança pública, mas a
Constituição Federal atribui aos Municípios a possibilidade de constituir guardas municipais.
O STF entendeu que a Lei n.º 13.022/14 (Estatuto Geral das Guardas Municipais) é
constitucional, na medida em que somente estabeleceu critérios padronizados para
a instituição, sem invadir a autonomia dos municípios. Os órgãos municiais podem
ser criados e estruturados por lei de iniciativa municipal.
Na ADI, foi definido que as guardas municipais podem exercer poder de polícia no
trânsito e atividades de segurança pública, sem detalhar a extensão da atividade, o
que faz com que o STJ se manifeste:
3ª Seção (HC 830.530): concluiu que a atribuição das guardas municipais
devem ficar restritas a atividades de policiamento ostensivo exclusivamente
relacionadas a proteção de bens, serviços e instalações municipais.
Qualquer atuação fora será considerada ilegal. Assim, não poderá fazer
busca pessoal em locais públicos, sem que haja perigo de ofensa a bens do
município.
PEC 57/2023: pretende incluir as polícias municipais no rol do art. 144, da
Constituição Federal, inclusive dando poderes para preservação da ordem pública.
As funções de polícia judiciária também poderão ser exercidas por outros órgãos. Assim, será definido
o órgão com atribuições tendo como parâmetro a natureza do delito investigado.
o Crime militar da competência da Justiça Militar da União: forças armadas.
o Crime militar da competência da Justiça Militar estadual: membro da polícia militar ou CBM.
o Crime eleitoral: em regra, é investigado pela polícia federal. Em cidades menores, onde não
há Justiça Federal, é possível que a própria polícia civil investigue o crime.
o Crime federal: é atribuição da polícia federal (art. 144, §1º, inciso I, da CF).
o Crime comum de competência da justiça estadual: em regra, a atribuição é da polícia civil.
A polícia federal pode investigar crime que tramitam na justiça estadual, bastando
que haja repercussão interestadual ou internacional e previsão normativa.
Procedimento dispensável: o inquérito não é conditio sine qua non para oferecimento da denúncia.
Somente são necessários os elementos informativos, podendo ocorrer por outros meios.
Procedimento sigiloso: é assegurado o sigiloso necessário à elucidação dos fatos. É possível dar
publicidade quando houver interesse público na persecução penal (ex.: retrato falado).
o É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
A negativa de acesso implica em crime de abuso de autoridade (art. 32).
O STJ entende que a súmula vinculante n.º 14 pode ser interpretada extensivamente
para abranger o investigado e outras pessoas que tenham interesso no fato
delituoso, como a própria vítima. Não pode a vítima, contudo, se habilitar como
assistente à acusação (STJ, RMS 70.411).
o O advogado deve ter acesso às diligências já documentadas nos autos do procedimento
investigatório, mas não em relação àquelas em andamento.
o Em regra, não há necessidade de procuração, salvo nos casos de informações sigilosas ou
tramitação em segredo de justiça.
o Não há necessidade de autorização prévia pelo juízo, salvo nas investigações submetidas à lei
de organização criminosa.
o Regras de Brady: Ao se franquear a defesa o acesso, deve-se franquear a parte contrária o
acesso a integralidade das diligências já documentadas (favoráveis ou não a acusação).
Procedimento inquisitivo: o inquérito policial possui natureza inquisitiva, voltada à obtenção de
elementos que suportem o oferecimento de denúncia ou queixa-crime, sem as garantias do
contraditório e da ampla defesa.
o 1ª corrente (minoritária): são de observância obrigatória na fase investigatória.
Exercício exógeno: por meio de atuação fora do inquérito policial (ex.: habeas
corpus).
Exercício endógeno: exercício do direito de defesa nos autos do inquérito policial.
o 2ª corrente: devem ser observados apenas na fase judicial.
Procedimento discricionário: o delegado de polícia tem autonomia para determinar as diligências
necessárias ao esclarecimento dos fatos.
o Essa discricionariedade não deva ser confundida com arbitrariedade, devendo sempre
respeitar as normas constitucionais e infraconstitucionais aplicáveis.
o Somente o Ministério Pública tem poder de requisição (mitigação da discricionariedade). As
demais partes poderão formular pedidos de diligências, podendo o Delegado negar a sua
realização (art. 14, do Código de Processo Penal).
Procedimento indisponível: o delegado não pode arquivar autos de inquérito policial.
Procedimento temporário: decorre da garantia de razoável duração do processo.
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o A Súmula n. 568 do STF (“A identificação criminal não constitui constrangimento ilegal, ainda
que o indiciado já tenha sido identificado civilmente”) sofreu overruling pela Constituição
Federal, especificamente em relação ao art. 5º, inciso LVIII.
Atualmente, o art. 5º, inciso LVIII, da Constituição Federal estabelece a impossibilidade de
identificação criminal daquele que foi civilmente identificado. Assim, conclui-se que:
o O civilmente identificado, em regra, não será submetido a identificação criminal.
o Caso o indivíduo não se identifique civilmente, poderá ser submetido a identificação criminal.
o Nas hipóteses previstas em lei, o civilmente identificado poderá ser submetido a
identificação.
6.6 INDICIAMENTO
Consiste em atribuir a alguém a autoria ou participação de determinada infração penal.
É uma atribuição do delegado, configurando ato exclusivo da fase investigatória.
o Art. 2º, §6º, da Lei n. 12.830/13: “O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á
por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a
autoria, materialidade e suas circunstâncias”.
o STJ, HC 182.455/SP: “o indiciamento formal dos acusados, após o recebimento da denúncia,
submete os pacientes a constrangimento ilegal e desnecessário, uma vez que tal
procedimento, que é próprio da fase inquisitorial, não mais se justifica quando a ação penal já
se encontra em curso.”
o Se o indiciamento for requisitado pelo juiz ou promotor, restará configurado
constrangimento ilegal, não tendo fundamento jurídico.
São espécies de indiciamento:
o Indiciamento direto: ocorre quando o indiciado está presente.
o Indiciamento indireto: ocorre quando o indiciado está ausente (ex.: foragido).
Pressupostos para o indiciamento:
o Trata-se de ato fundamentado com base em indícios de autoria ou participação.
o STF: “(...) Indiciamento. Ato penalmente relevante. Lesividade teórica. Indeferimento.
Inexistência de fatos capazes de justificar o registro. Constrangimento ilegal caracterizado.
Liminar confirmada. Concessão parcial de habeas corpus para esse fim. Precedentes. Não
havendo elementos que o justifiquem, constitui constrangimento ilegal o ato de indiciamento
em inquérito policial”. (STF, 2ª Turma, HC 85.541, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 157
21/08/2008).
Desindiciamento: Se refere a desconstituição de anterior indiciamento. A pessoa já teria sido
indiciada, verifica-se que houve um erro, uma ilegalidade, e se desconstitui.
o Pode ser feito pelo delegado ou pode haver uma determinação judicial.
o Desindiciamento coacto (obrigatório): é aquele em que o juiz ou o tribunal determina ao
delegado que proceda uma desconstituição de um desindiciamento anterior.
Em regra, qualquer pessoa pode ser indiciada. Todavia, em razão das respectivas leis orgânicas, juízes
e promotores não podem ser indiciados.
o O STF entende que, em se tratando de autoridade com prerrogativa de foro, não apenas o
indiciamento, mas a instauração da investigação, dependem de autorização prévia do relator.
o Indiciamento complexo: Se no caso de autoridades dotadas de prerrogativa de foro há
necessidade de autorização prévia, então se teria um ato composto.
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Em caso de indiciamento de servidor público por crime de lavagem de capitais, este será afastado,
sem prejuízo da remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize,
em decisão fundamentada, o seu retorno (art. 17-D, da Lei n. 9.613/1998).
o No julgamento da ADI 4.911 (j. 20.11.2020), o Plenário do STF declarou a
inconstitucionalidade do art. 17-D da Lei n. 9.613/98. A determinação de afastamento
automático do servidor investigado depende de representação da autoridade policial ou do
Ministério Público à autoridade judiciária, na forma de medida cautelar diversa da prisão.
Relatório da autoridade policial: peça de caráter descritivo, em que o Delegado de Polícia descreve as
principais diligências realizadas na fase investigatória.
o Não é requisito para o oferecimento da denúncia. É obrigação legal do delegado, mas não é
indispensável ao oferecimento da denúncia.
Destinatário dos autos do inquérito policial : os autos serão encaminhados ao juiz competente, que
deverá remetê-lo ao órgãos do Ministério Público.
Providências a serem adotadas pelo MP ao ter vista dos autos do inquérito policial:
o Em se tratando de crime de ação penal privada, o promotor requererá o arquivamento
administrativo do inquérito, aguardando a iniciativa do ofendido.
o Em se tratando de ação penal pública, o Ministério Público poderá promover o oferecimento
da denúncia, requerer o arquivamento ou requisitar diligências à polícia judiciária (salvo se
houver necessidade de autorização judicial), declinar a competência ou suscitar conflito de
competência.
As diligências são requisitadas diretamente a polícia.
Se o juiz negar a remessa dos autos por entender a desnecessidade da diligência,
poderá requerer a correição parcial do magistrado, pois não é dado ao juiz das
garantias imiscuir-se no mérito da formação da opinio delicti, tendo em vista que o
Ministério Público é o titular da ação penal.
A declinação de competência ocorrerá quando o MP concluir que o juiz perante o
qual atua não tem competência para atuar no feito.
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Não há definição, no julgamento das ADIs, qual a competência para a decisão acerca
do arquivamento do inquérito policial (juiz das garantias ou juiz da instrução ou
julgamento).
Com a decisão do STF, os fundamentos passíveis de análise pelo juiz são: patente
ilegalidade ou manifesta teratologia, mas não há definição dos referidos conceitos.
A partir do momento em que o STF ressuscita o controle do judiciário, não há
necessidade de remessa a instância de revisão ministerial, salvo se houver pedido
de revisão do arquivamento formulado pela vítima ou seu representante legal.
O STF entendeu que a vítima, ou seu representante legal, podem submeter
a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial.
No âmbito do MP estadual, quem detém a atribuição de revisão ministerial para fins
de homologação de arquivamentos é o Procurador-Geral Justiça; no âmbito do MP
federal, essas atribuições são exercidas pela Câmara de Coordenação e Revisão.
Determinada a remessa à instância de revisão, poderá o PGJ ou a Câmara de
Coordenação e Revisão oferecer a denúncia, insistir no arquivamento ou designar
outro órgãos do MP para oferecer a denúncia.
Não pode ser designado o mesmo promotor que promoveu o
arquivamento.
O órgão designado é obrigado a agir, não podendo requerer o
arquivamento, tendo em vista que age por delegação (longa manus do
Procurador-Geral).
Em caso de atribuição originária do Procurador-Geral de Justiça ou do Procurador-
Geral da República, não há necessidade de chancela do Poder Judiciário, ressalvada a
hipótese de formação de coisa julgada formal e material.
O STF entendeu que se deixasse o arquivamento no âmbito do MP, sérios prejuízos
poderiam ser causados ao investigado, porque se estaria suprimindo do
arquivamento os efeitos da coisa julgada (exclusiva de decisões judicial).
A coisa julgada formal se submete à cláusula rebus sic standibus (ou
cláusula a imprevisão), segundo a qual a decisão será mantida enquanto
mantidos seus pressupostos fáticos e jurídicos.
O STF tem um julgado dizendo que excludente de ilicitude seria caso de
coisa julgada formal (situação de excludente de ilicitude que depois se
demonstrou ser falsa).
No caso de certidão de óbito falsa, há declaração inexistente, não fazendo
coisa julgada formal e material. Se restar comprovado que o agente está
vivo, é possível a reabertura do inquérito policial.
Juízo que primeiro conhecer de PIC ou inquérito policial a fim de buscar evitar, tanto
quanto possível, a duplicidade de investigações; v) aplicação do artigo 18 do Código
de Processo Penal ao PIC (Procedimento Investigatório Criminal) instaurado pelo
Ministério Público” (Info 1135).
A jurisprudência entende que essa atribuição investigatória do MP é sempre de
maneira excepcional. Não é a regra que a investigação criminal seja feita pelo MP. A
regra é ser realizada pela polícia.
Para a jurisprudência, o MP poderá investigar em casos de abuso de autoridade, de crimes praticados
por policiais, crimes contra a administração pública, inércia da polícia (ADPF 635).
8. AÇÃO PENAL
8.1 PRINCÍPIOS COMUNS ÀS AÇÕES PENAIS
Princípio da inércia da jurisdição : ao juiz não é dado iniciar um processo penal condenatório de ofício
(ne procedat ludex ex officio). A iniciativa da ação penal é do Ministério Público ou do próprio
ofendido, nos casos de ação penal privada.
o O art. 26, do Código de Processo Penal, que prevê o procedimento judicialiforme, não foi
recepcionado pela Constituição Federal.
o Se a ação penal tiver índole libertária, o juiz poderá agir de ofício. É o que ocorre no caso de
habeas corpus, que poderá ser concedido de ofício pelo magistrado, desde que dentro de sua
área de competência.
Princípio da inadmissibilidade da persecução penal múltipla ( ne bis in idem): ninguém pode ser
processado duas ou mais vezes pela mesma imputação, em proteção à segurança jurídica.
o Não existe no Brasil revisão criminal pro societate, somente pro reo.
o Deve ser tratar ao mesmo acusado e à mesma imputação.
o Em caso de decisão absolutória ou declaratória da extinção da punibilidade proferida por
juízo absolutamente incompetente, há constituição de coisa julgada, não podendo os fatos
serem reanalisados, ainda que por juízo competente (HC 86.606/MS).
Princípio da intranscendência: deriva do princípio da pessoalidade da pena (art. 5º, inciso XLV, da CF).
Nenhum processo penal pode ser instaurado senão em face do suposto autor do delito.
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o Mesmo que já se tenha exercido o direito queixa, será possível dispor do processo, por meio
do perdão do ofendido, da perempção ou da conciliação (art. 522, do CPP).
Princípio da indivisibilidade: se relaciona à ideia de que o processo de um obriga aos processo de
todos, não sendo possível escolher quem se pretende processar criminalmente (art. 48) - o processo
de um obriga ao processo de todos.
o Tem fundamento na impossibilidade de que o processo penal seja utilizado como
instrumento de vingança pessoal.
o Ao Ministério Público cabe velar pela indivisibilidade da ação penal privada (art. 48).
Em caso de omissão involuntária, cabe ao Ministério Público requerer a intimação do
querelante para que promova o aditamento da ação penal, caso em que, quedando-
se silente o querelante, haverá a renúncia tácita ao direito de queixa, estendendo-se
aos demais.
Em caso de omissão voluntária, na qual o querelante possuía conhecimento de todos
os envolvidos, e, apesar disso, não intentou a ação penal em face de todos, entende-
se que já houve a renúncia em relação aos não processados, que se estende aos
demais.
Decorrido o prazo sem que tenha sido proposta a queixa subsidiária, haverá
decadência imprópria (não haverá a extinção da punibilidade, apenas a perda do
direito do ajuizamento da ação penal privada subsidiária da pública).
Renúncia ao direito de queixa: ato unilateral e voluntário por meio do qual a pessoa legitimada ao
exercício da ação penal privada abdica do seu direito de queixa. Cuida-se de causa extintiva da
punibilidade nas hipóteses de ação penal exclusivamente privada ou privada personalíssima.
o Ocorre antes do exercício do direito de queixa, guardando relação com o princípio da
oportunidade ou conveniência da ação pena privada.
o Pode ocorrer independentemente de aceitação.
o A renúncia pode se dar, ora de maneira expressa (declaração inequívoca do direito de
queixa), ora de maneira tácita (seria a prática de um ato incompatível com a vontade de
processar).
o O recebimento de indenização não é hipótese de renúncia tácita. Mas, no caso da lei de
Juizados, se isso acontecer, será caso renúncia.
o O processo de um obriga ao processo de todos. Se renunciar para um, a renúncia é para
todos.
Perdão do ofendido: ato bilateral e voluntário por meio do qual o querelante resolve não prosseguir
com o processo que já estava em andamento, perdoando o acusado. Trata-se de causa extintiva da
punibilidade nos casos de ação penal exclusivamente privada ou privada personalíssima.
o O perdão depende de aceitação do querelante, podendo ser expresso ou tácito.
o Momento do perdão: está relacionado ao princípio da disponibilidade da ação penal privada.
É apresentado após o oferecimento da queixa e até o trânsito em julgado.
o Cada vítima tem seu direito de queixa, de forma que se for concedido por um dos ofendidos,
não prejudica o perdão dos demais; se o querelante recusar o perdão, não produz efeito,
prosseguindo o processo em relação a ele.
Perempção: é a perda do direito de prosseguir no exercício da ação pena privada em razão da
negligência do querelante, com a consequente extinção da punibilidade nos crimes de ação penal
exclusivamente privada ou privada personalíssima.