Direito Processual Penal

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. SISTEMAS PROCESSUAIS
 Sistema inquisitório: as funções de acusar, defender e julgar estão concentradas na mesma pessoa. O
processo é instaurado por acusação, notícia-crime ou de ofício pelo juiz (processo judicialiforme).
o O sistema inquisitório busca a verdade real, admitindo-se a tortura, por exemplo, tendo em
vista que o acusado era mero objeto de prova e não sujeito de direitos.
o Crítica: há comprometimento da equidistância e imparcialidade do julgador pela
concentração da acusação e do julgamento na mesma pessoa.
o É diferente de sistema inquisitorial de produção de provas.
 Sistema acusatório: há obrigatória separação das figuras do acusador e do julgador. O processo
depende de uma acusação, apresentada por pessoa diversa do juiz, para iniciar.
o O sistema acusatório busca a verdade processual, que é a única atingível durante o processo.
o Actum trium personarum: ato de três personagens – acusador, defensor e juiz.
 Sistema misto ou francês: tem duas fases diversas – uma tipicamente inquisitória para apurar a
materialidade e a autoria do fato delituoso; e outra tipicamente acusatória, com clara divisão de
tarefas, respeitando a publicidade e a oralidade.

Em relação à produção de provas, há dois modelos vigentes (cuja nomenclatura pode confundir):
 Modelo adversarial (adversarial system): decorre de uma ideologia liberal, característico de países
da commom law, que trabalha com a ideia de que a produção de provas é encargo exclusivo das
partes, pautada na passividade do juiz.
 Modelo inquisitorial (inquisitorial system): fundado na função social do processo, o processo visa
atingir o interesse de toda a sociedade, de forma que o juiz é dotado de certa iniciativa probatória,
de forma residual, que pode variar a depender do sistema processual adotado.

Assim, o Brasil adotou o sistema processual acusatório, nos termos do art. 3º-A, do Código de Processo
Penal, com modelo inquisitorial de produção de provas: “por maioria, atribuir interpretação conforme ao
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art. 3º-A do CPP, para assentar que o juiz, pontualmente, nos limites legalmente autorizados, pode
determinar a realização de diligências suplementares, para o fim de dirimir dúvida sobre questão relevante
para o julgamento do mérito”.

2. JUIZ DAS GARANTIAS


 É o juiz atribuído de atuar exclusivamente durante a fase investigatória da persecução penal.
 Foi instituto trazida para o ordenamento jurídico brasileiro pelo Pacote Anticrime (Lei n.º 13.964/19).
o Em 22 de janeiro de 2020, o relator das ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305, o Min. Luis Fux,
suspendeu a eficácia dos dispositivos introduzidos no Código de Processo Penal no título do
Juiz das Garantias (além do art. 28; art. 157, §5º; e art. 310, §4º).
o As ADIs foram julgadas em 24 de agosto de 2023, cujo acórdão foi publicado no Diário de
Justiça eletrônico em 19 de dezembro de 2023. Concluído o julgamento, foi confirmada a
constitucionalidade do juiz das garantias, formal e materialmente.
 É formalmente constitucional, haja vista que trata de processo penal e pode ser
matéria legislada pela União. Não é auto-organização judiciária.
 O prazo implementação do juiz das garantias foi modificado para 12 meses,
prorrogáveis por igual período (contados da publicação) – a lei trazia, originalmente,
o prazo de vacatio legis de 30 dias.
 A inconstitucionalidade material levantada foi em relação à violação da autonomia
financeira e administrativa do Poder Judiciário. Tais argumentos foram afastados.
 Em relação aos inquéritos e processos em andamento, o STF entendeu que a eficácia
da lei não acarretará a modificação do juízo competente.
 O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a
substituição da atuação probatória do órgão de acusação (art. 3-A).
o No julgamento das ADIs referentes ao Pacote Anticrime, restou decidido que, durante a fase
investigatória, não se outorga qualquer iniciativa probatória ao juiz das garantias. Somente
pode agir, assim, se provocado.
o Em relação à vedação da iniciativa probatória do juiz da instrução e julgamento, há duas
correntes doutrinárias acerca do tema.
 1ª corrente: defende a passividade do juiz inclusive no curso do processo, não sendo
conferida qualquer inciativa probatória ao juiz, inclusive na fase processual (teoria
da gestão da prova). Não é a corrente que prevalece.
 2ª corrente: admite a iniciativa probatória do juiz, mas apenas de forma residual
(modelo inquisitorial de produção de provas). É a corrente adotada pelo STF e pelo
Código de Processo Penal no art. 156, inciso II.
 O STF entendeu inconstitucional o art. 3º-D, do Código de Processo Penal, que estabelece o
impedimento do juiz das garantias para atuação na fase de instrução e julgamento.
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o Crítica: a inconstitucionalidade somente deste dispositivo esvazia a figura do juiz das


garantias.
o A prevenção continuará sendo utilizada como critério residual de fixação de competência.
Porém, o juiz que atuou como juiz das garantias não poderá atuar como juiz da causa.
 A competência do juiz das garantias inicia com a instauração da investigação, estendendo-se até o
oferecimento da peça acusatória (conforme decisão do STF, que fez interpretação conforme da
expressão "recebimento" constante no art. 3º-C).
 O juiz das garantias tem natureza jurídica de competência funcional por fase da persecução. Varia de
acordo com a função que cada um exercerá no curso do processo.
 Tem como fundamento a garantia da imparcialidade do magistrado.
o Imparcialidade subjetiva: é a íntima convicção do magistrado.
o Imparcialidade objetiva: teoria da aparência, a imparcialidade deve ser demonstrada.

TEORIA DA DISSONÂNCIA COGNITIVA (LEON FESTINGER)


Estudo da psicologia que determina que o ser humano busca uma zona de conforto e um estado de
coerência entre suas opiniões. Tomada determinada decisão, ainda que involuntariamente, o ser humano
passa a desenvolver mecanismos que confirmem a decisão previamente adotada. Tem como
desdobramentos:
 Desvalorização de elementos cognitivos dissonantes (efeito inércia ou perseverança).
 Busca involuntária por informações consonantes com a cognição pré-existente (ou busca seletiva
de informações).
 Evitação ativa do aumento de elementos cognitivos dissonantes.
Pesquisa de Bernd Schünemann – trouxe a teoria da dissonância cognitiva para o processo penal:
 É muito mais comum a superveniência de decisões condenatórias quando o juiz toma
conhecimento prévio dos autos da investigação preliminar.
 O armazenamento correto de informações que contariam o teor dos elementos investigatórios
produzidos em juízo é extremamente precário.
 As perguntas formuladas na audiência de instrução geralmente são feitas apenas para confirmar
um conhecimento prévio, baseado no inquérito policial e não para apreender novas informações.

 Ao contrário do juiz das garantias, o juizado de instrução é dotado de iniciativa acusatória na


investigação. Existe somente em alguns países.
 As centrais de inquérito eram varas especializadas para trâmite de inquéritos policiais, cuja
competência vai até o oferecimento da denúncia, sem configuração de impedimento ao magistrado
atuante.
 A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações penais, exceto: a) competência
originária dos Tribunais; b) competência do Tribunal do Júri; c) casos de violência doméstica e familiar;
d) infrações de menor potencial ofensivo.
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o O afastamento do juiz das garantias nos processos originários dos Tribunais decorre do
princípio da colegialidade, que, na teoria, seria suficiente para garantir a imparcialidade dos
julgadores.
o No caso de violência doméstica e familiar, entende-se que se aplica à violência contra a
mulher, crianças e adolescentes.
o Será possível a implementação do juiz das garantias na Justiça Militar e na Justiça Eleitoral (o
julgamento das ADIs pelo STF foi silente quanto a essas justiças).
 A atuação do juiz das garantias vai até o oferecimento da denúncia (houve declaração de
inconstitucionalidade do dispositivo que afirmava a atuação até o recebimento da denúncia,
aplicando-se a interpretação conforme).
o Os autos da investigação deverão ser remetidos ao juiz da instrução e julgamento (logo, o art.
3º-C, §3º, do CPP foi declarado inconstitucional pelo STF).
o Após o oferecimento da denúncia, eventuais questões pendentes serão analisadas pelo juiz
da causa. Da mesma forma, o juiz da instrução deverá reexaminar as cautelares em curso, no
prazo máximo de 10 (dez) dias.

2.1 ATRIBUIÇÕES DO JUIZ DAS GARANTIAS


 A atribuição precípua é o controle da legalidade da investigação criminal e salvaguarda da cláusula de
reserva de jurisdição.
 O art. 3º-B traz um rol exemplificativo de atribuições ao juiz:
o Receber a comunicação imediata de prisões.
o Receber o auto da prisão em flagrante para o controle de legalidade da prisão.
o Zelar pela observância dos direitos do preso, podendo este ser conduzido à sua presença.
o Ser informado sobre a instauração de qualquer investigação criminal.
 Não se restringe ao inquérito policial, sendo válido inclusive ao procedimento
investigatório criminal (PIC), instaurado e presidido pelo Ministério Público.
 O Ministério Público tem o prazo de 90 dias para encaminhar todos os PIC em
andamento.
o Decidir sobre requerimento de prisão provisória ou outra medida cautelar.
o Prorrogar a prisão ou medidas cautelares, bem como substituí-las ou revogá-las,
preferencialmente, em audiência pública e oral.
o Decidir sobre o requerimento de produção antecipada de provas urgentes e irrepetíveis, com
ampla defesa e contraditório, em audiência pública e oral.
 Como nos casos de estupro de vulnerável, para evitar a revitimização.
o Prorrogar o prazo de duração do inquérito, estando o investigado preso.
o Determinar o trancamento do inquérito policial, inexistindo fundamento razoável.
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 Em regra, o inquérito termina com o arquivamento (ato complexo: promotor +


Juízo). O trancamento é medida de exceção, quando o inquérito representar
constrangimento ilegal ao investigado (ato simples: determinado pelo Juízo).
 São possibilidades de trancamento do inquérito policial: manifesta atipicidade
formal ou material; causa extintiva da punibilidade; e crimes de ação penal pública
condicionada ou ação penal privada, sem a manifestação da vítima.
 O dispositivo legal não deixar claro se o dispositivo é aplicável aos procedimentos
investigatórios criminais do Ministério Público.
 1ª corrente: entende que não se aplica, usando analogicamente a
competência para julgamento de habeas corpus em face de ato de
Promotor de Justiça (competência originário do Tribunal de Justiça). Assim,
somente o Tribunal de Justiça poderia determinar o trancamento do PIC.
 2ª corrente: defende uma interpretação extensiva do dispositivo, a fim de
abranger os procedimentos investigatórios criminais. No voto das ADIs, o
ministro Alexandre de Moraes adota a segunda corrente.
o Requisitar documentos, laudos e informações ao delegado de polícia sobre o andamento da
investigação, desde que provocado (não pode agir de ofício).
o Decidir sobre requerimentos de interceptação telefônica, afastamento de sigilos, busca e
apreensão domiciliar, acesso a informações sigilosas etc.
o Julgar o habeas corpus impetrado antes do oferecimento da denúncia.
 A autoridade coatora não pode ter foro por prerrogativa de função para ser julgado
pelo juiz de primeira instância.
 Exemplo: Habeas corpus contra delegado ou contra particular.
o Determinar a instauração do incidente de unanimidade mental, se requerido durante a fase
investigatória (antes do oferecimento da denúncia).
o Assegurar o direito de acesso aos elementos informativos e provas produzidos no âmbito da
investigação criminal ao investigado ou seu advogado.
 O delegado de polícia somente pode recusar acesso a diligências em andamento.
o Deferir pedido de admissão do assistente técnica para acompanhamento da perícia.
o Decidir sobre a homologação de acordo de não persecução penal ou colaboração premiada,
quando formalizados durante a investigação.
 Em caso de desclassificação no curso do processo, eventual acordo deverá ser
homologado pelo juiz da instrução.
o Outras matérias pertinentes à investigação criminal e reservadas à cláusula de reserva de
jurisdição.
 Audiência de custódia: é a solenidade a ser realizada dentro do prazo de 24h após a prisão em
flagrante, para verificar a regularidade do ato.
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o O STF decidiu que a obrigatoriedade do cumprimento do prazo de 24h pode ser mitigada em
caso de impossibilidade fática (primado da realidade).
o Excepcionalmente poderá ser realizada mediante emprego de videoconferência, desde que
seja o meio apto a verificar a integridade do preso e a garantia de seus direitos (entrevista
prévia e reservada entre o preso e o advogado).
 O §2º do art. 3º-B, do Código de Processo Penal, prevê a possibilidade de prorrogação do inquérito
policial, por 15 (quinze) dias. Pela nova interpretação do STF, as prorrogações poderão ocorrer
quantas vezes necessárias, desde que haja fundamentação.
o O STF, em contrariedade à letra de lei, manifestou-se no sentido de não haver o relaxamento
da prisão caso as investigações não se encerrem no prazo previsto no CPP.

2.2 INFORMATIVOS SOBRE O TEMA


É constitucional a instituição do juiz das garantias no processo penal brasileiro
A implementação do juiz das garantias visa garantir uma maior imparcialidade, a proteção de direitos
fundamentais e o aprimoramento do sistema judicial. Contudo, para viabilizar a adoção do instituto de
forma progressiva e programada pelos tribunais, é necessário fixar prazo de transição mais dilatado e
adequado ao equacionamento da reorganização do Poder Judiciário nacional.
O STF julgou parcialmente procedentes as ações para:
i) atribuir interpretação conforme ao art. 3º-A do CPP, para assentar que o juiz, pontualmente, nos
limites legalmente autorizados, pode determinar a realização de diligências suplementares, para o fim de
dirimir dúvida sobre questão relevante para o julgamento do mérito;
ii) declarar a constitucionalidade do caput do art. 3º-B do CPP, mas fixar o prazo de 12 meses para que
sejam adotadas as medidas legislativas e administrativas necessárias à adequação das diferentes leis de
organização judiciária, à efetiva implantação e ao efetivo funcionamento do juiz das garantias em todo o
País, tudo conforme as diretrizes do CNJ. Esse prazo poderá ser prorrogado uma única vez, por no máximo
doze meses, devendo a devida justificativa ser apresentada em procedimento realizado junto ao CNJ;
iii) declarar a inconstitucionalidade parcial, por arrastamento, do art. 20 da Lei 13.964/2019, quanto à
fixação do prazo de trinta dias para a instalação dos juízes das garantias;
iv) atribuir interpretação conforme aos incisos IV, VIII e IX do art. 3º-B do CPP, para que todos os atos
praticados pelo Ministério Público, como condutor de investigação penal, se submetam ao controle
judicial e fixar o prazo de 90 (noventa) dias para encaminharem ao Juiz todos os procedimentos em
andamento;
v) atribuir interpretação conforme ao inciso VI do art. 3º-B do CPP, para prever que o exercício do
contraditório será preferencialmente (e não obrigatoriamente) em audiência pública e oral;
vi) atribuir interpretação conforme ao inciso VII do art. 3º-B do CPP, para estabelecer que o juiz pode
deixar de realizar a audiência quando houver risco para o processo, ou diferi-la em caso de necessidade;
vii) declarar a inconstitucionalidade do inciso XIV do art. 3º-B do CPP, e atribuir interpretação conforme
para assentar que a competência do juiz das garantias cessa com o oferecimento da denúncia;
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viii) atribuir interpretação conforme ao § 1º do art. 3º-B do CPP, para estabelecer que o preso em
flagrante ou por força de mandado de prisão provisória será encaminhado à presença do juiz das garantias,
no prazo de 24 horas, salvo impossibilidade fática, momento em que se realizará a audiência com a presença
do Ministério Público e da Defensoria Pública ou de advogado constituído, cabendo, excepcionalmente, o
emprego de videoconferência, mediante decisão da autoridade judiciária competente, desde que este meio
seja apto à verificação da integridade do preso e à garantia de todos os seus direitos;
ix) atribuir interpretação conforme ao § 2º do art. 3º-B do CPP, para assentar que:
a) o juiz pode decidir de forma fundamentada, reconhecendo a necessidade de novas prorrogações do
inquérito, diante de elementos concretos e da complexidade da investigação; e
b) a inobservância do prazo previsto em lei não implica a revogação automática da prisão preventiva,
devendo o juízo competente ser instado a avaliar os motivos que a ensejaram;
x) atribuir interpretação conforme à primeira parte do caput do art. 3º-C do CPP, para esclarecer que
as normas relativas ao juiz das garantias não se aplicam às seguintes situações:
a) processos de competência originária dos tribunais, os quais são regidos pela Lei 8.038/1990;
b) processos de competência do tribunal do júri;
c) casos de violência doméstica e familiar; e
d) infrações penais de menor potencial ofensivo;
xi) declarar a inconstitucionalidade da expressão “recebimento da denúncia ou queixa na forma do art.
399 deste Código” contida na segunda parte do caput do art. 3º-C do CPP, e atribuir interpretação conforme
para assentar que a competência do juiz das garantias cessa com o oferecimento da denúncia;
xii) declarar a inconstitucionalidade do termo “Recebida” contido no § 1º do art. 3º-C do CPP, e atribuir
interpretação conforme ao dispositivo para assentar que, oferecida a denúncia ou queixa, as questões
pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e julgamento;
xiii) declarar a inconstitucionalidade do termo “recebimento” contido no § 2º do art. 3º-C do CPP, e
atribuir interpretação conforme ao dispositivo para assentar que, após o oferecimento da denúncia ou
queixa, o juiz da instrução e julgamento deverá reexaminar a necessidade das medidas cautelares em curso,
no prazo máximo de dez dias;
xiv) declarar a inconstitucionalidade, com redução de texto, dos §§ 3º e 4º do art. 3º-C do CPP, e
atribuir interpretação conforme para entender que os autos que compõem as matérias de competência do
juiz das garantias serão remetidos ao juiz da instrução e julgamento;
xv) declarar a inconstitucionalidade do caput do art. 3º-D do CPP;
xvi) declarar a inconstitucionalidade formal do parágrafo único do art. 3º-D do CPP;
xvii) atribuir interpretação conforme ao art. 3º-E do CPP, para assentar que o juiz das garantias será
investido, e não designado, conforme as normas de organização judiciária da União, dos estados e do
Distrito Federal, observando critérios objetivos a serem periodicamente divulgados pelo respectivo tribunal;
xviii) declarar a constitucionalidade do caput do art. 3º-F do CPP;
xix) atribuir interpretação conforme ao parágrafo único do art. 3º-F do CPP, para assentar que a
divulgação de informações sobre a realização da prisão e a identidade do preso pelas autoridades policiais,
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Ministério Público e magistratura deve assegurar a efetividade da persecução penal, o direito à informação e
a dignidade da pessoa submetida à prisão;
Por fim, o STF fixou a seguinte regra de transição: quanto às ações penais já instauradas no momento
da efetiva implementação do juiz das garantias pelos tribunais, a eficácia da lei não acarretará qualquer
modificação do juízo competente. (STF. Plenário. ADI 6.298/DF, ADI 6.299/DF, ADI 6.300/DF e ADI 6.305/DF,
Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 24/08/2023) (Info 1106).

3. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
 Pretensão punitiva: surge quando um determinado delito é cometido. É um poder-dever do Estado de
exigir de quem cometeu um delito a submissão à sanção penal.

3.1 PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL


3.1.1 Princípio da presunção de inocência
 Ninguém pode ser considerado culpado sem que haja sentença penal condenatória, ao término de um
devido processo legal, com ampla defesa e contraditório.
o O termo “presunção de inocência” seria mais adequado ao referir-se às convenções
internacionais, ao passo que a Constituição e o ordenamento jurídico brasileiro preconizam a
“presunção de não culpabilidade”.
 Dimensão interna: está direcionada principalmente ao magistrado, traduzindo em uma regra de
tratamento e uma regra probatória.
o Regra probatória: impõe o in dubio pro reo. Em caso de dúvida razoável, o julgamento deverá
ocorrer em benefício do réu, ainda que se tratando de excludente de ilicitude.
 O princípio do in dubio pro reo cessa com o trânsito em julgado, não substituindo em
caso de revisão criminal.
o Regra de tratamento: o poder público não pode tratar o acusado como se fosse culpado sem
antes haver o trânsito em julgado da sentença condenatória. A prisão cautelar deve ser vista
como medida excepcional (em regra, o acusado responda ao processo em liberdade).
 Súmula n.º 444/STJ: “É vedada a utilização de inquéritos e processos em curso para
agravar a pena-base”.
 Tema n.º 1.190: A suspensão dos direitos políticos prevista no artigo 15, III, da
Constituição Federal ("condenação criminal transitada em julgado, enquanto
durarem seus efeitos") não impede a nomeação e posse de candidato aprovado em
concurso público, desde que não incompatível com a infração penal praticada, em
respeito aos princípios da dignidade da pessoa humana e do valor social do trabalho
(CF, art. 1º, III e IV) e do dever do Estado em proporcionar as condições necessárias
para a harmônica integração social do condenado, objetivo principal da execução
penal, nos termos do artigo 1º da LEP (Lei nº 7.210/84). O início do efetivo exercício
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do cargo ficará condicionado ao regime da pena ou à decisão judicial do juízo de


execuções, que analisará a compatibilidade de horários.
 Tema n.º 1.139: É vedada a utilização de inquéritos e/ou ações penais em curso para
impedir a aplicação do art. 33, §4º, da Lei n.º 11.343/06 (reconhecimento do tráfico
privilegiado).
 Tema n.º 129: A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito
em julgado não pode ser considerada como maus antecedentes para fins de
dosimetria da pena.
 Tema n.º 22: Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é
legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de
candidato pelo simples fato de responder a inquérito ou ação penal.
 Dimensão externa: está direcionada à proteção da inocência fora do processo, vedando
estigmatização e estabelecimento de preconceitos em face do acusado, mediante a limitação da
exploração midiática em torno do fato e da suposta autoria (art. 3º-F, do Código de Processo Penal).
o Caso J. vs. Peru: a Corte Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Peru por
violação ao estado de inocência. A Sra. J. foi presa durante busca e apreensão residencial por
suposta vinculação ao grupo armado Sendero Luminoso, mas foi absolvida em junho de 1993,
deixando o território peruano. Apesar disso, foram feitas declarações públicas, sem os
devidos cuidados, sobre o processo penal, gerando na sociedade a crença sobre a
culpabilidade da acusada.
 O critério objetivo para fixação do fim da presunção de inocência é o trânsito em julgado; contudo, a
Convenção Americana de Direitos Humanos, no art. 8, §2º, por sua vez, estabelece que perdura até a
comprovação legal da culpa.
o Pela interpretação sistemática da CADH, entende-se que a comprovação da culpa ocorre com
o exercício do duplo grau de jurisdição.
o Nos processos submetidos ao Tribunal do Júri, o condenado iniciará imediatamente o
cumprimento da pena, caso a pena seja igual ou superior a quinze anos (art. 492, inciso I,
“e”).
o Nas penas restritivas de direitos, também não é possível o cumprimento provisório antes do
trânsito em julgado, nos termos da Súmula n.º 643, do STJ: “A execução da pena restritiva de
direitos depende do trânsito em julgado da condenação”.
 Também dependem do trânsito em julgado a obrigatoriedade do pagamento das
obrigações pecuniárias (multa, custas processuais e obrigação de reparar danos).
o Para o reconhecimento de falta grave por cometimento de crime doloso no curso da
execução penal não é necessário o trânsito em julgado (Súmula n.º 526, do STJ).
 Tema n.º 758: O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato
definido como crime doloso no curso da execução penal dispensa o trânsito em
julgado da condenação criminal no juízo do conhecimento, desde que a apuração do
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ilícito disciplinar ocorra com observância do devido processo legal, do


contraditório e da ampla defesa, podendo a instrução em sede executiva ser
suprida por sentença criminal condenatória que verse sobre a materialidade, a
autoria e as circunstâncias do crime correspondente à falta grave.

ANO/DECISÃO ENTENDIMENTO DO STF


Era cabível a execução provisória de sentença penal condenatória recorrível,
Até fevereiro de 2009 independentemente da demonstração de qualquer hipótese autorizadora de
prisão preventiva do acusado.
O plenário do STF alterou seu entendimento para concluir que a execução da
HC 84.078: pena só poderia ocorrer com o trânsito em julgado da sentença penal
fevereiro de 2009 condenatória. Assim, a despeito de não possuírem efeito suspensivo, não seria
possível a execução provisória da pena.
O Plenário do STF alterou novamente seu entendimento, para fixar que seria
possível a execução provisória de acórdão penal, proferido por Tribunal de
segunda instância, quando ali esgotada a jurisdição, ainda que sujeito a recurso
especial ou extraordinário e ainda que ausentes os requisitos da prisão cautelar,
sob os seguintes fundamentos:
 Equilíbrio entre a presunção de inocência e a função jurisdicional.
 Exaurimento da análise de fatos e provas nas instâncias ordinárias. Os
fatos e provas são insuscetíveis de análise nas instâncias
extraordinárias.
HC 126.292:  O art. 995 e 1.029, §5º, do CPC, prevê o mero efeito devolutivo das
fevereiro de 2016 decisões dos Tribunais em sede de apelação, tendo vigência posterior
ao art. 283, do Código de Processo Penal.
 Todos os países do mundo autorizam a execução provisória da decisão
após o duplo grau de jurisdição.
 Evita a interposição de recursos meramente protelatórios para
configuração da prescrição da pretensão punitiva ou executória.
 Ainda que exequível provisoriamente, o acusado não estaria
desamparado da tutela jurisdicional em casos de flagrante violação de
direitos, ante a possibilidade de concessão de efeito suspensivo nas
instâncias extraordinárias e de impetração de habeas corpus.
ADC 43, 44 e 54: Com o advento do Pacote Anticrime, a redação do art. 283, do CPP foi alterada,
novembro de 2019 ocasionando o ajuizamento das ações declaratórias de constitucionalidade 43,
44 e 54, que, ao final, foram julgadas procedentes pelo STF. Na oportunidade,
firmou o entendimento de que somente é possível o cumprimento definitivo da
pena, ordenando-se a liberdade provisória de todos aqueles em execução
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provisória.
No julgamento, assentou-se que somente seria admitida a execução provisória
da pena caso houvesse mudança constitucional acerca da presunção de
inocência. Esta, por sua vez, configura-se verdadeira cláusula pétrea.

3.1.2

 Princípio do nemo tenetur se detegere: vedação da autoincriminação, previsto na Constituição (art.


5º, LXIII) e na CADH (art. 8, §2º, “g”).
o A palavra “preso” no dispositivo constitucional deve ser submetido a interpretação expansiva,
de forma que não se limita a ele o direito ao silêncio. Assim, o titular do direito é o suspeito, o
investigado, o indiciado e o acusado.
o A testemunha, enquanto terceiro desinteressado ao feito, não tem direito ao silêncio. Se,
entretanto, das perguntas que forem formuladas à testemunha puder resultar
autoincriminação, ela terá direito ao silêncio.
o Acerca da necessidade de advertência quanto ao direito de não produzir provas contra si
mesmo, há duas correntes doutrinárias que buscam discutir a sua necessidade:
 1ª corrente: não há necessidade de informação, tendo em vista que, à luz da LINDB,
é presumido que os indivíduos conheçam a lei. Posição minoritária.
 2ª corrente: a Constituição não contém palavras inúteis, sendo claro que o preso
será informado de seus direitos. Trata-se de obrigação imposta às autoridades
(dever de advertência).
 No direito americano, chama-se de aviso de Miranda (Miranda warnings) e
impõe a informação sobre o direito ao silêncio, que tudo que for falado
pode ser usado em seu desfavor e que possui direito de assistência.
 No Brasil, somente é necessária a informação do direito ao silêncio.
o O STF entende a necessidade de informação do direito ao silêncio não apenas no
interrogatório formal, mas logo no momento da abordagem (RHC 170.846 AgR/SP).
o É firme a jurisprudência do STJ no sentido de que a ausência de informação quanto ao direito
ao silêncio constitui nulidade relativa, a qual depende da comprovação de efetivo prejuízo
(AgRg nos EDcl no REsp 1.868.466-RO).
o A imprensa precisa respeitar o dever de advertência?
 1ª corrente: Alguns doutrinadores entendem que sim. Trata-se de eficácia horizontal
dos direitos fundamentais. Entretanto, esse entendimento não é seguido pelo STF,
pois este entende que o dever de advertência se aplica apenas às autoridades
estatais.
 2ª corrente (majoritária): O STF possui precedentes que dizem que a imprensa não
precisa respeitar o dever de advertência.
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o São desdobramentos do princípio:


 Direito ao silêncio ou de permanecer calado, sem consequências desfavoráveis,
ainda no Tribunal do Júri (sequer precisa comparecer ao plenário).
 Inexigibilidade de dizer a verdade: no Brasil, não existe o crime de perjúrio.
 Direito de não praticar qualquer comportamento ativo ou invasivo que possa
incrimina-lo. No entanto, se for comportamento passivo ou não invasivo, não está
abrangido pelo princípio.’
o O direito de não produzir provas contra si mesmo pode ser total ou parcial:
 Exercício total: o acusado não adere a nenhuma forma de auxílio para a produção de
provas.
 Exercício parcial: pode ocorrer de maneira horizontal, quando o agente se cala
completamente em um dos interrogatórios, mas não em outros; ou vertical, no qual
em um interrogatório, o agente responde a algumas indagações e deixa outras sem
resposta nenhuma.
 Parte da doutrina entende que o exercício parcial vertical poderia ser usado
em detrimento do acusado no sentenciamento.
 Silêncio seletivo: o acusado escolhe quais perguntas ele quer responder. Os
Tribunais superiores entendem que é direito do acusado exercer o direito
ao silêncio, ora de maneira total, ora de maneira parcial.
o Apesar de ninguém ser obrigado a produzir provas contra si mesmo, nenhum direito pode ser
usado como escudo protetor para a realização de atividades ilícitas, pois não há nenhum
direito com valor absoluto.
 Súmula 522, STJ: “A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade
policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa.”
 Tema n.º 478: “O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, LXIII, da CF/88) não
alcança aquele que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intento
de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo
agente (art. 307 do CP).”
o (In)constitucionalidade do art. 305, do Código Brasileiro de Trânsito: O STF considerou que
não há nenhuma incompatibilidade com o princípio em tela, afirmando que o condutor tem o
dever de permanecer no local.
 Também não viola a Constituição a imposição de sanção administrativa ao condutor
que se recuse a relação teste, exame ou perícia (bafômetro) (Tema n.º 1.079).
o Se o acusado, fazendo uso do direito ao silêncio, se recusa a responder perguntas formuladas
pelo magistrado, promotor ou defensor, que ignoram a manifestação do uso do direito,
incorrem estes em crime de abuso de autoridade (art. 15, parágrafo único, inciso I, da Lei n.
13.869/19.
13

 Princípio do contraditório: consiste na ciência bilateral dos atos do processo e a possibilidade de


contrariá-los (audiência bilateral) – art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal.
o Atualmente, sobretudo em sede processual penal, há a ideia de que a reação não deve ser
apenas possível, mas sim efetiva e equilibrada (paridade de armas ou pars conditio).
 Súmula 707 do STF: “Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para
oferecer contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não a
suprindo a nomeação de defensor dativo”.
o Contraditório para a prova (ou real): as partes atuam na produção do meio de prova (regra).
o Contraditório sobre a prova (ou diferido): é exercido somente após a produção da prova.
 A corrente majoritária defende que não há contraditório durante o inquérito policial.
 Princípio da ampla defesa: se subdivide em defesa técnica (ou processo/específica) e autodefesa (ou
material/genérica).
o A defesa técnica é aquela exercida por um profissional da advocacia ou Defensor Público.
Trata-se de modalidade de defesa irrenunciável.
 O acusado tem o direito de escolher seu advogado. Assim, caso o advogado renuncie
ou simplesmente deixe de apresentar a defesa em algum momento do processo,
cabe ao juízo intimar o acusado para que contrate outro advogado ou informe a
impossibilidade para tanto. O juízo não pode, de pronto, antes de intimar o acusado,
nomear defensor dativo ou intimar a Defensoria Pública para assisti-lo (STF, HC
67.755/SP).
 Súmula 523 do STF: “No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade
absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”.
 Nas ações penais originárias, a defesa preliminar (L. 8.038/90, art. 4º), é atividade
privativa dos advogados. Os membros do Ministério Público estão impedidos de
exercer advocacia, mesmo em causa própria. São atividades incompatíveis (L.
8.906/94, art. 28) (STF, HC 76.671/RJ).
 Um mesmo advogado não pode defender dois ou mais acusados se as teses forem
colidentes. Assim, em um caso concreto em que isso possa ocorrer, o juiz precisa
intervir para evitar que haja prejuízo aos acusados.
o A autodefesa é aquela exercida pelo próprio acusado, sobretudo no momento do seu
interrogatório. É facultativa, já que o acusado pode optar pelo direito ao silêncio.
 Direito de audiência: é o direito de ser ouvida pelo juiz. O entendimento dominante
é que o interrogatório é meio de defesa do réu, não meio de prova.
 Direito de presença: o acusado tem o direito de acompanhar os atos da instrução
processual ao lado de seu defensor.
 O direito de presença não tem natureza absoluta, tendo em vista que pode
ser restringido em caso de constrangimento de testemunha ou do ofendido.
14

 Revela-se lícita a retirada dos acusados da sala de audiências, se as


testemunhas de acusação demonstram temor e receio em depor na
presença dos réus (STF, HC 86.572/PE).
 Atualmente, o direito de presença pode ser realizado de maneira remota
(videoconferência), em especial na oitiva de testemunhas perante o juízo
deprecado.
 Tema n.º 240: “Inexiste nulidade pela ausência, em oitiva de testemunha
por carta precatória, de réu preso que não manifestou expressamente
intenção de participar da audiência”.
 Capacidade postulatória autônoma: ainda que o acusado não seja profissional da
advocacia, o acusado pode praticar certos atos postulatórios, como interposição de
recursos, impetração de habeas corpus e revisão criminal e incidente de execução
penal.
o A ampla defesa no processo administrativo disciplinar é obrigatória. Contudo, não é
obrigatória a presença de advogado.
 Súmula vinculante nº 5: “A falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a constituição”.
 Na execução penal, contudo, a ampla defesa e a presença do defensor são
obrigatórias. É o teor da Súmula 533 do STJ.
 Súmula n. 533 do STJ: “Para o reconhecimento da prática de falta disciplinar no
âmbito da execução penal, é imprescindível a instauração de procedimento
administrativo pelo diretor do estabelecimento prisional, assegurado o direito de
defesa, a ser realizado por advogado constituído ou defensor público nomeado”.
 Tema n.º 941: “A oitiva do condenado pelo Juízo da Execução Penal, em audiência
de justificação realizada na presença do defensor e do Ministério Público, afasta a
necessidade de prévio Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), assim como
supre eventual ausência ou insuficiência de defesa técnica no PAD instaurado para
apurar a prática de falta grave durante o cumprimento da pena”.
 Súmula n. 639 do STJ: “Não fere o contraditório e o devido processo decisão que,
sem ouvida prévia da defesa, determine transferência ou permanência de
custodiado em estabelecimento penitenciário federal”.
 Princípio do juiz natural: consiste no direito que cada cidadão possui de conhecer antecipadamente a
autoridade jurisdicional que irá processar e julgá-lo caso venha a praticar um fato delituoso.
o O princípio do juiz natural tem como objetivo resguardar a garantia da imparcialidade e vedar
a criação de juízo de exceção (juízo criado após o fato delituoso, para seu julgamento).
o A justiça especial (militar e eleitoral) e o foro por prerrogativa de função não configuram
tribunal de exceção, haja vista que as suas competências já são previamente estabelecidas
pela Constituição.
15

o Do princípio do juiz natural derivam, ao menos, três regras importantes:


 Só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos pela Constituição.
 Ninguém pode ser julgado por órgão instituído após o fato (vedação aos tribunais de
exceção).
 Entre os Juízos pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que
exclui qualquer alternativa deferida à discricionariedade de quem quer que seja.
o A superveniência de lei modificadora da competência tem aplicação imediata aos processos
em andamento?
 1ª corrente: não tem aplicação, em razão do tempus criminis regit delictum (a época
do delito é o que define a competência para o seu julgamento).
 2ª corrente: Sim, pois a lei que altera a competência é genuinamente processual
(teoria majoritária). Assim, ressalvado o caso dos casos em que houve sentença de
mérito, o processo será remetido ao novo juízo competente.
o É possível que, em caso de vaga ou afastamento, os juízes de primeiro grau sejam chamados
para substituição. Não pode, contudo, o substituído indicar o substituto (inconstitucional).
 Em decisões isoladas, o STJ entendeu pela nulidade das decisões proferidas por
câmaras ou turmas compostas majoritariamente por juízes convocadas. Contudo, o
STF firmou entendimento no entendimento de não haver irregularidade.
 Princípio da publicidade: é a garantia do acesso de todo e qualquer cidadão aos atos processuais. A
doutrina costuma definir como uma espécie de garantia de segundo grau (ou garantia de garantia,
conforme Ferrajoli).
o A publicidade revela certa postura democrática e permite que haja controle interno e externo
da atividade judiciária. Possibilita a aferição do respeito às garantias processuais.
o A regra geral é a publicidade dos atos processuais. Entretanto, é possível restringi-la quando a
defesa da intimidade ou o interesse social assim exigirem (art. 5º, LX, da Constituição
Federal).
o A doutrina trabalha com duas espécies de publicidade:
 Publicidade ampla: o acesso aos autos é assegurado às partes, aos advogados e a
sociedade. É a regra no ordenamento jurídico brasileiro.
 Publicidade restrita: quando houver alguma limitação à publicidade dos atos do
processo. A publicidade ficará restrita às partes e aos advogados do processo.
o O segredo de justiça poderá ser imposto às CPIs. Assim, se o segredo de justiça foi decreto,
apenas o Poder Judiciário pode quebra-lo (a CPI não pode).

4. LEI PROCESSUAL PENAL NO TEMPO


 Em relação às normas de direito processual penal, é necessário verificar a espécie da norma para
aferição da (ir)retroatividade da norma.
16

o Norma genuinamente processual: são aquelas que cuidam de procedimentos, atos


processuais, técnicas do processo, como no caso de lei que altera competência.
 Aplica-se o princípio da aplicação imediata (art. 2º) – tempus regit actum.
 Os atos praticados antes da nova lei são válidos (não serão anulados).
 As normas genuinamente processuais jamais poderão ter aplicação retroativa.
o Norma processual material (mista ou híbrida) : abrigam naturezas diversas, pois possuem um
caráter penal e outro processual penal.
 A doutrina entende que deve ser aplicada as normas do direito penal quanto à
aplicação da lei no tempo.
o Normas processuais heterotópicas: não obstante previstas em diplomas processuais penais,
possuem conteúdo material, devendo, pois, retroagir para beneficiar o acusado.

5. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL


 Interpretação extensiva: a lei disse menos do que pretendia dizer.
 Analogia não é método de interpretação, mas sim de integração. Significa suprir lacunas.
 A doutrina entende que o art. 15 do CPC deve ser objeto de interpretação extensiva, de modo a ser
aplicado aos processos criminais de modo supletivo e subsidiário.

6. INQUÉRITO POLICIAL
 É o procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela autoridade policial, com o
objetivo de identificar fontes de provas e colher elementos de informação quanto à autoria e a
materialidade da infração penal, a fim de permitir que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.
o O inquérito policial é o principal instrumento usado para investigações (mas não o único).
o É mero procedimento administrativo, uma vez que dele não resulta imposição de sanção.
o Não há falar em contraditório e ampla defesa no inquérito policial, em que pese doutrina
minoritária defenda a necessidade de sua observância.
o O inquérito policial tem dupla função: preparatória e preservadora.
 Função preparatória: fornece elementos de informação para que o titular da ação
penal possa ingressar em juízo, além de acautelar as provas que poderiam
desaparecer no tempo.
 Função preservadora: a existência prévia de um inquérito inibe a instauração de um
processo penal infundado, temerário, resguardando a liberdade do inocente e custos
ao Estado.
o Por elementos informativos, entendem-se aqueles obtidos na fase investigatória, sem a
necessária observância do contraditório e ampla defesa, intervindo o juiz apenas quando
necessário e quando for provocado. Tem por finalidade a fundamentação de medidas
cautelares e a formação da opinio delicti (convicção do titular da ação penal).
17

 O juiz não pode fundamentar a sentença condenatória exclusivamente nos


elementos informativos colhidos na investigação preliminar (apenas de forma
subsidiária).
 A prova não confunde com os elementos informativos, pois, em regra, é produzida
no âmbito do processo penal, sob o crivo do contraditório. As provas cautelares,
antecipadas ou não repetíveis, contudo, podem ser produzidas na investigação.
 Provas cautelares: há risco de desaparecimento e dependem de
autorização judicial, submetidas ao contraditório diferido (ou postergado) –
ex.: interceptação telefônica.
 Provas não repetíveis: é aquela que, uma vez produzida, não poderá ser
coletada novamente, ante o desaparecimento da fonte. Não depende de
autorização judicial e o contraditório é diferido – ex.: exame pericial de
violência física.
 Provas antecipadas: são aquelas produzidas sob a observância do
contraditório real, durante a sua produção. É produzida em momento
processual distinto daquele prevista ou mesmo antes do processo. Depende
de autorização judicial, tendo em vista que ele próprio participará da
formação da prova – ex.: art. 225, do CPP; e depoimento especial.
 Durante o curso do processo, o juiz é dotado de iniciativa probatória residual; o juiz
das garantias não possui qualquer iniciativa probatória no curso da investigação.
 As provas cautelares, não repetíveis e antecipadas podem servir de fundamento
exclusivo da sentença condenatória, ainda que produzidas no âmbito da
investigação.
o Em razão da natureza jurídica de procedimento administrativo do inquérito policial, eventuais
vícios e ilegalidade na fase do inquérito não causam a nulidade da ação penal, em regra.
 A prova ilícita, contudo, contamina todas as demais dela decorrentes (teoria dos
frutos das árvores envenenadas), podendo dar causa à anulação da ação penal.
o A presidência do inquérito policial é exercida exclusivamente sobre o Delegado de Polícia.
 A função de polícia pode ser administrativa, de caráter preventivo; ou judiciária, de
caráter repressivo.
 O art. 26, da Lei n.º 14.735/2023 (Lei Orgânica Nacional das Polícias Civis) prevê a
atribuição ao Delegado de Polícia da direção das atividades da polícia civil e da
presidência do inquérito policial, gozando de autonomia funcional (não
independência funcional).
 O Delegado possui discricionariedade para determinar as diligências que devem ser
realizadas, salvo informações protegidas pela cláusula de reserva de jurisdição.
18

 A autoridade superior somente poderá avocar a competência do Delegado de Polícia


em caso de motivo de interesse público ou em razão da inobservância de
regulamento que prejudique a eficácia da investigação.
 O Delegado não goza do benefício da inamovibilidade, mas o §5º, do art. 2º, da Lei n.
12.830/13 prevê a necessidade de fundamentação para remoção.
 O Delegado de Polícia não goza de independência funcional, porque se sujeito ao
controle externo do Ministério Público (que possui poder de requisição) e porque a
Constituição Federal exige subordinação do Delegado ao Poder Executivo (ADI 5.52).

LEI Nº 12.830, DE 20 DE JUNHO DE 2013

Dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia.

Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia.

Art. 2º As funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais exercidas pelo delegado de polícia
são de natureza jurídica, essenciais e exclusivas de Estado.
§ 1º Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da investigação criminal
por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a apuração
das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.
§ 2º Durante a investigação criminal, cabe ao delegado de polícia a requisição de perícia, informações,
documentos e dados que interessem à apuração dos fatos.
§ 3º (VETADO).
§ 4º O inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei em curso somente poderá ser avocado ou
redistribuído por superior hierárquico, mediante despacho fundamentado, por motivo de interesse público
ou nas hipóteses de inobservância dos procedimentos previstos em regulamento da corporação que
prejudique a eficácia da investigação.
§ 5º A remoção do delegado de polícia dar-se-á somente por ato fundamentado.
§ 6º O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á por ato fundamentado, mediante análise
técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a autoria, materialidade e suas circunstâncias.

Art. 3º O cargo de delegado de polícia é privativo de bacharel em Direito, devendo-lhe ser dispensado o
mesmo tratamento protocolar que recebem os magistrados, os membros da Defensoria Pública e do
Ministério Público e os advogados.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 20 de junho de 2013; 192º da Independência e 125º da República.


19

DILMA ROUSSEFF
José Eduardo Cardozo
Miriam Belchior
Luís Inácio Lucena Adams

o As guardas municipais não constam dentro o rol dos órgãos da segurança pública, mas a
Constituição Federal atribui aos Municípios a possibilidade de constituir guardas municipais.
 O STF entendeu que a Lei n.º 13.022/14 (Estatuto Geral das Guardas Municipais) é
constitucional, na medida em que somente estabeleceu critérios padronizados para
a instituição, sem invadir a autonomia dos municípios. Os órgãos municiais podem
ser criados e estruturados por lei de iniciativa municipal.
 Na ADI, foi definido que as guardas municipais podem exercer poder de polícia no
trânsito e atividades de segurança pública, sem detalhar a extensão da atividade, o
que faz com que o STJ se manifeste:
 3ª Seção (HC 830.530): concluiu que a atribuição das guardas municipais
devem ficar restritas a atividades de policiamento ostensivo exclusivamente
relacionadas a proteção de bens, serviços e instalações municipais.
Qualquer atuação fora será considerada ilegal. Assim, não poderá fazer
busca pessoal em locais públicos, sem que haja perigo de ofensa a bens do
município.
 PEC 57/2023: pretende incluir as polícias municipais no rol do art. 144, da
Constituição Federal, inclusive dando poderes para preservação da ordem pública.
 As funções de polícia judiciária também poderão ser exercidas por outros órgãos. Assim, será definido
o órgão com atribuições tendo como parâmetro a natureza do delito investigado.
o Crime militar da competência da Justiça Militar da União: forças armadas.
o Crime militar da competência da Justiça Militar estadual: membro da polícia militar ou CBM.
o Crime eleitoral: em regra, é investigado pela polícia federal. Em cidades menores, onde não
há Justiça Federal, é possível que a própria polícia civil investigue o crime.
o Crime federal: é atribuição da polícia federal (art. 144, §1º, inciso I, da CF).
o Crime comum de competência da justiça estadual: em regra, a atribuição é da polícia civil.
 A polícia federal pode investigar crime que tramitam na justiça estadual, bastando
que haja repercussão interestadual ou internacional e previsão normativa.

6.1 CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL


 Procedimento escrito: as peças do inquérito serão, em regra, reduzidas a escrito e rubricadas pela
autoridade, admitida também a gravação em áudio e vídeo, quando necessário.
20

 Procedimento dispensável: o inquérito não é conditio sine qua non para oferecimento da denúncia.
Somente são necessários os elementos informativos, podendo ocorrer por outros meios.
 Procedimento sigiloso: é assegurado o sigiloso necessário à elucidação dos fatos. É possível dar
publicidade quando houver interesse público na persecução penal (ex.: retrato falado).
o É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de
prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com
competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
 A negativa de acesso implica em crime de abuso de autoridade (art. 32).
 O STJ entende que a súmula vinculante n.º 14 pode ser interpretada extensivamente
para abranger o investigado e outras pessoas que tenham interesso no fato
delituoso, como a própria vítima. Não pode a vítima, contudo, se habilitar como
assistente à acusação (STJ, RMS 70.411).
o O advogado deve ter acesso às diligências já documentadas nos autos do procedimento
investigatório, mas não em relação àquelas em andamento.
o Em regra, não há necessidade de procuração, salvo nos casos de informações sigilosas ou
tramitação em segredo de justiça.
o Não há necessidade de autorização prévia pelo juízo, salvo nas investigações submetidas à lei
de organização criminosa.
o Regras de Brady: Ao se franquear a defesa o acesso, deve-se franquear a parte contrária o
acesso a integralidade das diligências já documentadas (favoráveis ou não a acusação).
 Procedimento inquisitivo: o inquérito policial possui natureza inquisitiva, voltada à obtenção de
elementos que suportem o oferecimento de denúncia ou queixa-crime, sem as garantias do
contraditório e da ampla defesa.
o 1ª corrente (minoritária): são de observância obrigatória na fase investigatória.
 Exercício exógeno: por meio de atuação fora do inquérito policial (ex.: habeas
corpus).
 Exercício endógeno: exercício do direito de defesa nos autos do inquérito policial.
o 2ª corrente: devem ser observados apenas na fase judicial.
 Procedimento discricionário: o delegado de polícia tem autonomia para determinar as diligências
necessárias ao esclarecimento dos fatos.
o Essa discricionariedade não deva ser confundida com arbitrariedade, devendo sempre
respeitar as normas constitucionais e infraconstitucionais aplicáveis.
o Somente o Ministério Pública tem poder de requisição (mitigação da discricionariedade). As
demais partes poderão formular pedidos de diligências, podendo o Delegado negar a sua
realização (art. 14, do Código de Processo Penal).
 Procedimento indisponível: o delegado não pode arquivar autos de inquérito policial.
 Procedimento temporário: decorre da garantia de razoável duração do processo.
21

6.2 FORMAS DE INSTAURAÇÃO DO INQUÉRITO POLICIAL


 Para que a instauração ocorra, há necessidade de indícios de autoria ou de materialidade. Não se pode
admitir a instauração de inquérito temerário, leviano, dado o constrangimento que a mera
instauração produz.
o A própria lei de abuso de autoridade visa coibir inquéritos e procedimentos temerário.
o A nova lei de abuso de autoridade prevê como crime a instauração de inquérito sem indícios
da prática de crime (art. 27, da Lei de abuso de autoridade).
o Vedação às fishing expeditions: expressão cunhada quando não há nenhum indício, mas
“joga a rede” para ver se “pega ou descobre” alguma coisa. Trata-se de uma investigação
especulativa indiscriminada, sem objetivo certo ou declarado, que lança suas redes com a
esperança de pescar qualquer prova, para subsidiar uma futura acusação.
o Verificação de procedência de informações (VPI) : É comum nos casos de denúncia ou
notitica criminis anônimas. Os Tribunais entendem que a notícia anônima, por si só, não pode
levar a instauração do inquérito. Mas se pode, a partir dela, fazer a verificação de
procedência de informações.
 As formas de instauração do inquérito dependem da espécie de ação penal:
o Crimes de ação penal pública condicionada ou de ação penal de iniciativa privada : a
persecução penal, desde o início, depende de provocação da vítima, mediante manifestação
da vontade da vítima ou de seu representante legal. Não cabe instauração de ofício pelo
delegado de polícia.
o Crimes de ação penal pública incondicionada : o próprio delegado de polícia vai lavrar uma
portaria, que será a peça inaugural do inquérito policial. Pode ocorrer também mediante
requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público.
 Se a conduta a ser investigada mediante requisição for atípica, o delegado
fundamentadamente vai abster-se de instaurar o inquérito.
 Segundo a doutrina, essa requisição pela autoridade judiciária viola a imparcialidade
e o sistema acusatório. Nesse caso, o juiz deve limitar-se a levar ao conhecimento
das autoridades a eventual prática delituosa, mas não requisitar a instauração do
procedimento.
 Não é possível a defensoria pública requisitar inquérito policial. Conforme o STF, em
2023, apreciando uma ADI, concluiu-se que o Código de Processo Penal não a
menciona e, também, não é compatível com as atribuições de defensoria essa
possibilidade de requisição.
 A DPE, contudo, pode apresentar noticia criminis (≠ de requisição).
 O ofendido ou seu representante legal pode apresentar requerimento de
instauração do inquérito policial, contendo narração dos fatos, individualização do
indiciado e nomeação de testemunhas.
22

 Indeferido o pedido de instauração pelo Delegado de Polícia, o CPP prevê o


cabimento de recurso para o chefe de polícia (recurso inominado).
 Se o crime é de ação penal pública incondicionada, qualquer do povo pode levar a
autoridade policial esse conhecimento.
 Auto de prisão em flagrante: se constar do auto de prisão em flagrante justa causa,
não haverá necessidade de instauração de inquérito policial, hipótese em que o APF
já trouxe tudo que se precisa para oferecer a denúncia.

6.3 NOTITIA CRIMINIS


 De cognição imediata (espontânea): a autoridade policial toma conhecimento do crime através de
suas atividades rotineiras.
 De cognição mediata (provocada): a autoridade policial toma conhecimento do crime através de um
expediente escrito.
 De cognição coercitiva: nesse caso a autoridade policial toma conhecimento do fato delituoso através
da apresentação de indivíduo preso em flagrante.
 Notitia criminis inqualificada: é a denúncia anônima. Ela, por si só, não pode levar a instauração de
um inquérito. Deverá ser feito a verificação de procedência de informações para somente então,
apurando a presença de algum indício, determinar a instauração de um inquérito.
o STF: “(...) Firmou-se a orientação de que a autoridade policial, ao receber uma denúncia
anônima, deve antes realizar diligências preliminares para averiguar se os fatos narrados
nessa "denúncia" são materialmente verdadeiros, para, só então, iniciar as investigações”.
(STF, 1ª Turma, HC 95.244/PE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 23/03/2010, DJe 76 29/04/2010).

6.4 INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO PRESO


 Art. 21, do CPP: A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e
somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
o A doutrina entende que esse dispositivo não teria sido recepcionado pela Constituição
Federal de 1988. A Constituição assegura assistência de advogado. Se há esse direito, não há
como ficar incomunicável por três dias.

6.5 IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL


 É gênero, do qual são espécies a identificação datiloscópica, a fotográfica e o perfil genético.
o Datiloscópica: feita pela colheita das impressões digitais. Se tornou a regra, é mais confiável.
o Perfil genético: foi introduzida na lei de execuções penais e na lei de identificação criminal (lei
nº. 12.037/2009). Foi introduzida pela lei nº. 12.654 de 2012.
 Antes da CF/1988, a identificação criminal era a regra, ainda que identificado civilmente.
23

o A Súmula n. 568 do STF (“A identificação criminal não constitui constrangimento ilegal, ainda
que o indiciado já tenha sido identificado civilmente”) sofreu overruling pela Constituição
Federal, especificamente em relação ao art. 5º, inciso LVIII.
 Atualmente, o art. 5º, inciso LVIII, da Constituição Federal estabelece a impossibilidade de
identificação criminal daquele que foi civilmente identificado. Assim, conclui-se que:
o O civilmente identificado, em regra, não será submetido a identificação criminal.
o Caso o indivíduo não se identifique civilmente, poderá ser submetido a identificação criminal.
o Nas hipóteses previstas em lei, o civilmente identificado poderá ser submetido a
identificação.

6.5.1 Hipóteses de identificação criminal


 São hipóteses autorizadoras de identificação criminal:
o O documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação.
o O documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado.
o O indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações conflitantes entre
si.
o A identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho da
autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da
autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa.
 É a única hipótese que depende de autorização judicial prévia.
o Constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações.
o O estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do
documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.

6.5.2 Identificação do perfil genético (Lei n. 12.037/09)


 A lei nº. 12.654 de 2012 trouxe mudanças na lei de execuções criminais e na lei nº. 12.037 de 2009 e
traz a ambas a possibilidade de coleta de material genético para fins de identificação.
o O tema está, a alguns anos, no STF, e aguarda-se uma decisão da Corte sobre a
constitucionalidade ou não dessa forma de identificação.
 Esse tema é polêmico e controverso. Mas é fato que inúmeros crimes têm sua autoria revelada com
base na coleta desse material biológico. Esse material, posteriormente, pode ser confrontado.
o Há divergência doutrinária acerca da constitucionalidade, em especial no que diz respeito à
vedação da autoincriminação.
 Na lei de identificação criminal, a coleta poderia ser feita independentemente do delito praticado,
mediante autorização judicial prévia.
 Na Lei de Execução Penal, há alguns requisitos para a coleta do perfil genético, devendo ocorrer
obrigatoriamente em caso de crime doloso praticado com violência graves contra a pessoa, bem como
por crime contra a vida, contra a liberdade sexual ou por crime sexual contra vulnerável (art. 9º-A).
24

o O STJ fez um distinguishing para declarar a nulidade da coleta compulsória de material


orgânico e inserção no banco nacional de perfil genético (RHC 162.703).
o A recusa à submissão ao procedimento de identificação do perfil genético é falta grave.

6.6 INDICIAMENTO
 Consiste em atribuir a alguém a autoria ou participação de determinada infração penal.
 É uma atribuição do delegado, configurando ato exclusivo da fase investigatória.
o Art. 2º, §6º, da Lei n. 12.830/13: “O indiciamento, privativo do delegado de polícia, dar-se-á
por ato fundamentado, mediante análise técnico-jurídica do fato, que deverá indicar a
autoria, materialidade e suas circunstâncias”.
o STJ, HC 182.455/SP: “o indiciamento formal dos acusados, após o recebimento da denúncia,
submete os pacientes a constrangimento ilegal e desnecessário, uma vez que tal
procedimento, que é próprio da fase inquisitorial, não mais se justifica quando a ação penal já
se encontra em curso.”
o Se o indiciamento for requisitado pelo juiz ou promotor, restará configurado
constrangimento ilegal, não tendo fundamento jurídico.
 São espécies de indiciamento:
o Indiciamento direto: ocorre quando o indiciado está presente.
o Indiciamento indireto: ocorre quando o indiciado está ausente (ex.: foragido).
 Pressupostos para o indiciamento:
o Trata-se de ato fundamentado com base em indícios de autoria ou participação.
o STF: “(...) Indiciamento. Ato penalmente relevante. Lesividade teórica. Indeferimento.
Inexistência de fatos capazes de justificar o registro. Constrangimento ilegal caracterizado.
Liminar confirmada. Concessão parcial de habeas corpus para esse fim. Precedentes. Não
havendo elementos que o justifiquem, constitui constrangimento ilegal o ato de indiciamento
em inquérito policial”. (STF, 2ª Turma, HC 85.541, Rel. Min. Cezar Peluso, DJe 157
21/08/2008).
 Desindiciamento: Se refere a desconstituição de anterior indiciamento. A pessoa já teria sido
indiciada, verifica-se que houve um erro, uma ilegalidade, e se desconstitui.
o Pode ser feito pelo delegado ou pode haver uma determinação judicial.
o Desindiciamento coacto (obrigatório): é aquele em que o juiz ou o tribunal determina ao
delegado que proceda uma desconstituição de um desindiciamento anterior.
 Em regra, qualquer pessoa pode ser indiciada. Todavia, em razão das respectivas leis orgânicas, juízes
e promotores não podem ser indiciados.
o O STF entende que, em se tratando de autoridade com prerrogativa de foro, não apenas o
indiciamento, mas a instauração da investigação, dependem de autorização prévia do relator.
o Indiciamento complexo: Se no caso de autoridades dotadas de prerrogativa de foro há
necessidade de autorização prévia, então se teria um ato composto.
25

 Em caso de indiciamento de servidor público por crime de lavagem de capitais, este será afastado,
sem prejuízo da remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize,
em decisão fundamentada, o seu retorno (art. 17-D, da Lei n. 9.613/1998).
o No julgamento da ADI 4.911 (j. 20.11.2020), o Plenário do STF declarou a
inconstitucionalidade do art. 17-D da Lei n. 9.613/98. A determinação de afastamento
automático do servidor investigado depende de representação da autoridade policial ou do
Ministério Público à autoridade judiciária, na forma de medida cautelar diversa da prisão.

6.7 CONCLUSÃO DO INQUÉRITO POLICIAL


 São prazos para conclusão do inquérito policial:
PRAZO SOLTO PRESO
Justiça Estadual 30 (+ prorrogações) 10+ (+ prorrogações)
Justiça Federal 30 15+15 (+15...)
Lei de Drogas 90+90 30+30
Justiça Militar 40 20
Crimes contra a economia popular 10 10
Prisão temporária em crimes hediondos Não se aplica 30+30

 Relatório da autoridade policial: peça de caráter descritivo, em que o Delegado de Polícia descreve as
principais diligências realizadas na fase investigatória.
o Não é requisito para o oferecimento da denúncia. É obrigação legal do delegado, mas não é
indispensável ao oferecimento da denúncia.
 Destinatário dos autos do inquérito policial : os autos serão encaminhados ao juiz competente, que
deverá remetê-lo ao órgãos do Ministério Público.
 Providências a serem adotadas pelo MP ao ter vista dos autos do inquérito policial:
o Em se tratando de crime de ação penal privada, o promotor requererá o arquivamento
administrativo do inquérito, aguardando a iniciativa do ofendido.
o Em se tratando de ação penal pública, o Ministério Público poderá promover o oferecimento
da denúncia, requerer o arquivamento ou requisitar diligências à polícia judiciária (salvo se
houver necessidade de autorização judicial), declinar a competência ou suscitar conflito de
competência.
 As diligências são requisitadas diretamente a polícia.
 Se o juiz negar a remessa dos autos por entender a desnecessidade da diligência,
poderá requerer a correição parcial do magistrado, pois não é dado ao juiz das
garantias imiscuir-se no mérito da formação da opinio delicti, tendo em vista que o
Ministério Público é o titular da ação penal.
 A declinação de competência ocorrerá quando o MP concluir que o juiz perante o
qual atua não tem competência para atuar no feito.
26

 O conflito de competência trata-se de instrumento que visa dirimir eventual


controvérsia entre duas ou mais autoridades judiciárias acerca da (in)competência
para o processo e julgamento de determinada demanda.
 Positivo: quando as duas autoridades se consideram competentes.
 Negativo: quando as duas ou mais autoridades se consideram
incompetentes para o julgamento da demanda.
 Súmula 59 do STJ: não há conflito de competência se já existe sentença
com trânsito em julgado, proferida por um dos juízos conflitantes.
 Tribunal competente para decidir o conflito de competência: se há
hierarquia, não há conflito de competência. Não havendo hierarquia, deve-
se buscar um Tribunal Superior e comum a ambos os juízes conflitantes.
 Difere do conflito de atribuições, que é o procedimento incidental que visa
dirimir a controvérsia entre dois ou mais órgãos do Ministério Público
acerca da responsabilidade ativa para a persecução penal.
 Na declinação, o promotor é o primeiro a “mandar embora”. No conflito, o promotor
não está concordando com a manifestação de outro juízo.

6.8 ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL


 O inquérito policial não pode ser arquivado pelo Delegado.
 O arquivamento é um ato complexo, demandando a junção de vontades de dois órgãos diversos.
Primeiro há uma manifestação do Ministério Público (promoção de arquivamento) que será levada a
apreciação do Judiciário que, se concordar com ela, estará aperfeiçoado o ato.
o Se o juiz concordar com a promoção de arquivamento do Ministério Público, homologará o
arquivamento do inquérito policial.
o O juiz não pode determinar o arquivamento de ofício, nem mesmo nas causas de
competência originária dos Tribunais (o titular da ação penal é o Ministério Público).
o Havendo manifesto constrangimento ilegal, é possível que o Poder Judiciário determine o
trancamento do inquérito de ofício (art. 3º-B, inciso IX, do Código de Processo Penal).
 São exemplos de constrangimento ilegal a tramitação de inquérito de fato atípico ou
de fatos cuja pretensão punitiva encontra-se prescrita.
 Não há no Código de Processo Penal dispositivo expresso, mas a doutrina sugere tomar empréstimo
dos artigos 395 e 397, do Código de Processo Penal.
o Falta de pressuposto processual ou condição para a ação penal (ex.: representação).
o Falta de justa causa para o exercício da ação penal (lastro probatório).
o Existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato.
o Existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade.
27

 No caso de inimputabilidade não há possibilidade de arquivamento, pois, uma vez


diagnosticada, há obrigação de oferecimento da denúncia, considerando que a
medida de segurança somente pode ser aplicada ao final do processo (respeito ao
devido processo legal).
o Falta de tipicidade formal ou material (ex.: princípio da insignificância).
o Extinção da punibilidade do agente (ex.: prescrição).
 Nova sistemática do arquivamento adotada pelo Pacote Anticrime, diante da decisão proferida pelo
STF nas ADIs 6.298, 6.299, 6.300 e 6.305:
o Antes do Pacote Anticrime: o MP requeria o arquivamento do inquérito e o juiz, discordando
do arquivamento, remetia os autos ao Procurador-Geral (princípio da devolução), para que
ofereça a denúncia, designe outro membro para fazê-lo ou insista no arquivamento.
 Entendia-se que o juiz exercia função anômala de fiscal do princípio da
obrigatoriedade da ação penal.
 Em sendo oferecida a denúncia após a remessa ao Procurador-Geral, o juiz que
rejeitou o arquivamento era o competente para a tramitação da ação.
 A vítima não exercia participação no procedimento de arquivamento do inquérito.
o Sistemática do Pacote Anticrime: o MP ordenava o arquivamento do inquérito policial e
comunicava a vítima, o investigado e a autoridade policial. Ato contínuo, havia remessa
necessária para a instância de revisão ministerial para fins de homologação.
 Essa sistemática nunca entrou em vigor, tendo em vista que teve sua eficácia
suspensa no dia anterior à entrada em vigor do Pacote Anticrime.
 O arquivamento deixou de ser ato complexo e se tornou um ato composto, tendo
em vista que dependia de homologação na estrutura interna do mesmo órgão.
 A vítima passou a fazer parte do arquivamento do inquérito policial, tendo em vista
que outorgou-se a possibilidade de interposição de recurso inominado à instância de
supervisão ministerial.
 Enunciado n. 7 do CNPG e do GNCCRIM: “Compete exclusivamente ao Ministério
Público o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos
informativos da mesma natureza. Trata-se de ato composto, constituído de decisão
do promotor natural e posterior homologação pela instância de revisão ministerial
(Procurador-Geral de Justiça ou órgão delegado)”.
 Enunciado n. 8 do CNPG e do GNCCRIM: ““A nova redação do art. 28 do CPP, em
harmonia com o princípio acusatório, dispõe que o arquivamento do inquérito
policial não se reveste mais de um mero pedido, requerimento ou promoção, mas de
verdadeira decisão de não acusar, isto é, o promotor natural decide não proceder à
ação penal pública, de acordo com critérios de legalidade e oportunidade, tendo em
vista o interesse público e as diretrizes de política criminal definidas pelo próprio
Ministério Público”.
28

 Enunciado n. 14 do CNPG e do GNCCRIM: “Ordenado o arquivamento do inquérito


policial ou de qualquer elemento de informação, o órgão de execução do Ministério
Público comunicará a vítima, o investigado e a autoridade policial, da forma mais
célere possível, preferencialmente por meio eletrônico, inclusive por aplicativos de
troca de mensagens ou recurso tecnológico similar, na forma de regulamentação
própria. Não sendo localizadas, a comunicação da vítima e/ou investigado poderá
ser por edital no Diário Oficial do Ministério Público, na forma de regulamentação
própria”.
 Enunciado n. 17 do CNPG e do GNCCRIM: “Os bens apreendidos vinculados a
inquéritos policiais arquivados devem ter a destinação prevista em lei, isto é, sua
restituição ao investigado, à vítima ou a terceiros de boa-fé; ou a destinação a
órgãos de persecução criminal e de segurança pública; ou a alienação antecipada em
leilão; ou a entrega em museu público”.
 Enunciado n. 16 do CNPG e do GNCCRIM: “Homologado o arquivamento pelo órgão
revisor do Ministério Público, os autos serão remetidos ao juízo competente a fim
de (i) comunicar o juízo, bem como (ii) permitir que as partes tenham amplo
acesso aos autos acautelados na respectiva secretaria, a teor da norma inserta no
art. 3º-C, §4º, do CPP” (nosso grifo).
o Sistemática fixada nas ADIs: ao se manifestar pelo arquivamento do inquérito policial, o MP
submeterá sua manifestação ao juiz competente e comunicará à vítima, ao investigado e à
autoridade policial, podendo encaminhar os autos para o Procurador-Geral ou para a
instância de revisão ministerial, quando houver, para fins de homologação.
 Além da vítima ou de seu representante legal, a partir da decisão do STF, o juiz
poderá submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial,
em caso de patente ilegalidade ou teratologia no ato de arquivamento.
 Com a publicação da decisão pelo STF, surgiram 03 correntes sobre o arquivamento:
 1ª corrente: entendeu que o STF não alterou a sistemática do arquivamento
do Pacote Anticrime, submetendo a decisão exclusivamente ao MP.
 2ª corrente: a tese do Supremo estabeleceu uma via alternativa, ora pela
via ministerial, ora via pela via judicial.
 3ª corrente: o STF voltou a sistemática anterior, prévia ao Pacote Anticrime,
submetendo a decisão de arquivamento à homologação do juiz.
 Prevaleceu a tese de que o arquivamento deve ser uma decisão judicial, usando as
expressões do próprio dispositivo da decisão. Deverá haver a “manifestação” do MP
ao Juiz, que poderá homologar ou não, sob pena de violação do princípio da
inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal).
29

 Não há definição, no julgamento das ADIs, qual a competência para a decisão acerca
do arquivamento do inquérito policial (juiz das garantias ou juiz da instrução ou
julgamento).
 Com a decisão do STF, os fundamentos passíveis de análise pelo juiz são: patente
ilegalidade ou manifesta teratologia, mas não há definição dos referidos conceitos.
 A partir do momento em que o STF ressuscita o controle do judiciário, não há
necessidade de remessa a instância de revisão ministerial, salvo se houver pedido
de revisão do arquivamento formulado pela vítima ou seu representante legal.
 O STF entendeu que a vítima, ou seu representante legal, podem submeter
a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial.
 No âmbito do MP estadual, quem detém a atribuição de revisão ministerial para fins
de homologação de arquivamentos é o Procurador-Geral Justiça; no âmbito do MP
federal, essas atribuições são exercidas pela Câmara de Coordenação e Revisão.
 Determinada a remessa à instância de revisão, poderá o PGJ ou a Câmara de
Coordenação e Revisão oferecer a denúncia, insistir no arquivamento ou designar
outro órgãos do MP para oferecer a denúncia.
 Não pode ser designado o mesmo promotor que promoveu o
arquivamento.
 O órgão designado é obrigado a agir, não podendo requerer o
arquivamento, tendo em vista que age por delegação (longa manus do
Procurador-Geral).
 Em caso de atribuição originária do Procurador-Geral de Justiça ou do Procurador-
Geral da República, não há necessidade de chancela do Poder Judiciário, ressalvada a
hipótese de formação de coisa julgada formal e material.
 O STF entendeu que se deixasse o arquivamento no âmbito do MP, sérios prejuízos
poderiam ser causados ao investigado, porque se estaria suprimindo do
arquivamento os efeitos da coisa julgada (exclusiva de decisões judicial).
 A coisa julgada formal se submete à cláusula rebus sic standibus (ou
cláusula a imprevisão), segundo a qual a decisão será mantida enquanto
mantidos seus pressupostos fáticos e jurídicos.
 O STF tem um julgado dizendo que excludente de ilicitude seria caso de
coisa julgada formal (situação de excludente de ilicitude que depois se
demonstrou ser falsa).
 No caso de certidão de óbito falsa, há declaração inexistente, não fazendo
coisa julgada formal e material. Se restar comprovado que o agente está
vivo, é possível a reabertura do inquérito policial.

FUNDAMENTO DO ARQUIVAMENTO COISA JULGADA


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Ausência de pressupostos processuais ou de condições da ação Formal


Falta de justa causa Formal
Atipicidade Formal e material
Excludente de ilicitude Formal e material
Excludente de culpabilidade Formal e material
Causa extintiva de punibilidade Formal e material

 Desarquivamento do inquérito policial: somente poderá ocorrer em caso de provas novas.


o A mera notícia de prova nova é suficiente para o desarquivamento do inquérito policial, ao
passo que para oferecimento da denúncia, é necessário o surgimento da prova nova.
o Súmula n. 524 do STF: “Arquivado o inquérito policial, por despacho do Juiz, a requerimento
do Promotor de Justiça, não pode a ação penal ser iniciada sem novas provas”.
 Recorribilidade contra a decisão de arquivamento : o Procurador-Geral de Justiça, nas hipóteses de
suas atribuições legais, poderá determinar o arquivamento de inquérito policial, devendo tal decisão
ser revista pelo Colégio de Procuradores de Justiça caso haja requerimento nesse sentido por parte de
legítimo interessado.
o É restrito ao Ministério Público estadual, não havendo disposição semelhante no MPF.
o Art. 7º, da Lei n. 1.521/51: “Os juízes recorrerão de ofício sempre que absolverem os
acusados em processo por crime contra a economia popular ou contra a saúde pública, ou
quando determinarem o arquivamento dos autos do respectivo inquérito policial”.
o Art. 6º, da Lei n. 1.508/51: quando qualquer do povo provocar a iniciativa no MP para
processos envolvendo contravenções de jogo do bicho e corrida de cavalo fora do hipódromo
e a representação for arquivada, poderá o autor interpor recurso no sentido estrito.
o Há ainda, após o advento da Lei n. 13.964/19, a possibilidade de recurso pela vítima.
 Arquivamento determinado por juízo absolutamente incompetente: há divergência doutrinária:
o 1ª corrente: não faz coisa julgada (não prevalece).
o 2ª corrente: a decisão de arquivamento, ainda que ordenada por juízo absolutamente
incompetente, faz coisa julgada formal e material.
 Arquivamento implícito: ocorre quando o promotor deixa de incluir na denúncia algum fato delituoso,
ou algum investigado, sem, no entanto, se manifestar expressamente no sentido do arquivamento.
o Os Tribunais Superior não admitem o arquivamento implícito do inquérito, devendo ser o
pedido formulado expressamente.
 Arquivamento indireto: ocorre quando o promotor se recusa a oferecer denúncia, por entender que,
o juízo perante o qual atua, não teria competência, porém o juiz não concorda.
31

6.9 TRANCAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL


 Conceito: Trata-se de medida de força que acarreta a extinção prematura das investigações quando a
mera tramitação do inquérito, ou de qualquer outro procedimento investigatório, configurar
constrangimento ilegal.
 Competência: caberá juiz das garantias determinar o trancamento do inquérito (art. 3º-B, do CPP).
 São hipóteses autorizadoras:
o Atipicidade formal ou material.
o Causa extintiva de punibilidade.
o Ausência de requerimento da vítima, nas ações privadas e públicas condicionadas.
 Instrumento adequado: habeas corpus, se houver risco à liberdade de locomoção.
o Súmula 693 do STF: “Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa,
ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única
cominada”.
o A competência seria do juiz das garantias até o oferecimento da peça acusatória, momento
em que cessa sua competência, a depender da entidade coatora.

6.10 INVESTIGAÇÃO CRIMINAL PELO MINISTÉRIO PÚBLICO


 Em que pese a presidência exclusiva da polícia judiciária no inquérito policial, isso não afasta a
atribuição investigatória de outras autoridades.
o Aqui se utiliza a teoria dos poderes implícitos (importada do direito norte-americano), que
entende que, de nada adianta outorgar poderes/finalidade para uma instituição se,
concomitantemente, não outorgar a ela os poderes para se desincumbir dessa finalidade.
o Tema n. 184: “O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade
própria, e por prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os
direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação
do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de
jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso
País, os advogados (Lei n. 8.906-94, art. 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX),
sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado Democrático de Direito – do
permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula
Vinculante n. 14), praticados pelos membros dessa Instituição”.
 ADI 2.943/DF, ADI 3.309/DF e ADI .3.318/MG: “A realização de investigações
criminais pelo Ministério Público tem por exigência: (i) comunicação imediata ao juiz
competente sobre a instauração e o encerramento de procedimento investigatório,
com o devido registro e distribuição; (ii) observância dos mesmos prazos e
regramentos previstos para conclusão de inquéritos policiais; (iii) necessidade de
autorização judicial para eventuais prorrogações de prazo, sendo vedadas
renovações desproporcionais ou imotivadas; iv) distribuição por dependência ao
32

Juízo que primeiro conhecer de PIC ou inquérito policial a fim de buscar evitar, tanto
quanto possível, a duplicidade de investigações; v) aplicação do artigo 18 do Código
de Processo Penal ao PIC (Procedimento Investigatório Criminal) instaurado pelo
Ministério Público” (Info 1135).
 A jurisprudência entende que essa atribuição investigatória do MP é sempre de
maneira excepcional. Não é a regra que a investigação criminal seja feita pelo MP. A
regra é ser realizada pela polícia.
 Para a jurisprudência, o MP poderá investigar em casos de abuso de autoridade, de crimes praticados
por policiais, crimes contra a administração pública, inércia da polícia (ADPF 635).

7. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL


 Conceito: negócio jurídico de natureza extrajudicial, celebrado entre o Ministério Público e o
investigado, necessariamente assistido pelo defensor, e homologado pelo juiz (das garantias), por
meio do qual o investigado, não só confessa a prática do delito, e assume o compromisso de cumprir
condições não privativas de liberdade, recebendo em contrapartida a promessa do Ministério Público
de que não dará início a persecução penal.

8. AÇÃO PENAL
8.1 PRINCÍPIOS COMUNS ÀS AÇÕES PENAIS
 Princípio da inércia da jurisdição : ao juiz não é dado iniciar um processo penal condenatório de ofício
(ne procedat ludex ex officio). A iniciativa da ação penal é do Ministério Público ou do próprio
ofendido, nos casos de ação penal privada.
o O art. 26, do Código de Processo Penal, que prevê o procedimento judicialiforme, não foi
recepcionado pela Constituição Federal.
o Se a ação penal tiver índole libertária, o juiz poderá agir de ofício. É o que ocorre no caso de
habeas corpus, que poderá ser concedido de ofício pelo magistrado, desde que dentro de sua
área de competência.
 Princípio da inadmissibilidade da persecução penal múltipla ( ne bis in idem): ninguém pode ser
processado duas ou mais vezes pela mesma imputação, em proteção à segurança jurídica.
o Não existe no Brasil revisão criminal pro societate, somente pro reo.
o Deve ser tratar ao mesmo acusado e à mesma imputação.
o Em caso de decisão absolutória ou declaratória da extinção da punibilidade proferida por
juízo absolutamente incompetente, há constituição de coisa julgada, não podendo os fatos
serem reanalisados, ainda que por juízo competente (HC 86.606/MS).
 Princípio da intranscendência: deriva do princípio da pessoalidade da pena (art. 5º, inciso XLV, da CF).
Nenhum processo penal pode ser instaurado senão em face do suposto autor do delito.
33

8.2 PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA


 Princípio da obrigatoriedade: presente as condições da ação e havendo justa causa, o Ministério
Público é obrigado a oferecer denúncia, não se reservando nenhum critério de oportunidade ou
conveniência.
o Em que pese a obrigatoriedade da ação penal, poderá o Ministério Público formular pedido
absolutório, ao qual não se vincula o juiz, em que pese não seja pacífico na doutrina.
o O Código Processual Penal prevê mecanismos de controle da obrigatoriedade da ação penal,
por meio do procedimento do arquivamento do inquérito (art. 28) e da ação penal privada
subsidiária da pública (art. 29).
o São exceções ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública o instituto da transação
penal (art. 76, da Lei n. 9.099/95), o acordo de leniência (art. 86, da Lei n. 12.529/11), o
parcelamento do crédito tributário (art. 83, §2º, da Lei n. 9.430/96), o termo de ajustamento
de conduta em crimes ambientais, a colaboração premiada na Lei das Organizações
Criminosas (art. 4º, da Lei n. 12.850/13) e o acordo de não persecução penal (art. 28-A, do
CPP).
 Em que pese exista uma corrente doutrinária que defende a impossibilidade de
oferecimento da denúncia após a formalização de TAC em matéria ambiental, o
entendimento do STJ é no sentido de que o acordo tem consequências no âmbito
administrativo, não impedindo a propositura da ação (STJ, HC 187.043/RS).
 Princípio da indisponibilidade (ou da indesistibilidade) : o Ministério Público não pode desistir da ação
penal (art. 24), ao mesmo tempo em que não poderá desistir de recurso, uma vez interposto (art.
576).
o Exceção à indisponibilidade: suspensão condicional do processo (art. 89, da Lei n. 9.099/95)
 Princípio da divisibilidade: na doutrina, prevalece a corrente que estabelece que o Ministério Público
pode oferecer denúncia contra alguns, sem prejuízo do prosseguimento das investigação em relação
aos demais (STF, RHC 111.211).

8.3 PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DA AÇÃO PENAL PRIVADA


 Princípio da oportunidade e conveniência : cabe ao ofendido ou ao seu representante legal, mediante
critérios próprios de oportunidade e conveniência, optar pelo exercício do direito de queixa.
o Escândalos do processo ou exceptio judicius: há casos em que é melhor “deixar para lá” do
que promover o processo criminal. Cabe a pessoa decidir o que é melhor para si.
o Caso não pretenda exercer o direito de queixa, o ofendido poderá deixar passar o tempo para
propositura da queixa (decadência - oportunidade) ou renunciar ao direito de queixa
(renúncia - conveniência).
 Princípio da disponibilidade: enquanto o princípio da oportunidade vale antes do exercício do direito
de queixa, o princípio da disponibilidade se relaciona ao momento posterior.
34

o Mesmo que já se tenha exercido o direito queixa, será possível dispor do processo, por meio
do perdão do ofendido, da perempção ou da conciliação (art. 522, do CPP).
 Princípio da indivisibilidade: se relaciona à ideia de que o processo de um obriga aos processo de
todos, não sendo possível escolher quem se pretende processar criminalmente (art. 48) - o processo
de um obriga ao processo de todos.
o Tem fundamento na impossibilidade de que o processo penal seja utilizado como
instrumento de vingança pessoal.
o Ao Ministério Público cabe velar pela indivisibilidade da ação penal privada (art. 48).
 Em caso de omissão involuntária, cabe ao Ministério Público requerer a intimação do
querelante para que promova o aditamento da ação penal, caso em que, quedando-
se silente o querelante, haverá a renúncia tácita ao direito de queixa, estendendo-se
aos demais.
 Em caso de omissão voluntária, na qual o querelante possuía conhecimento de todos
os envolvidos, e, apesar disso, não intentou a ação penal em face de todos, entende-
se que já houve a renúncia em relação aos não processados, que se estende aos
demais.

8.4 REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO


 Conceito: é a manifestação do ofendido ou de seu representante legal no sentido de que possui
interesse na persecução penal do fato delituoso.
 Natureza jurídica: é condição de procedibilidade da ação penal.
 Não há necessidade para formalismo para a representação. O STJ entende que:

“a representação - nos crimes de ação penal pública condicionada -, prescinde de maiores


formalidades, sendo suficiente a demonstração inequívoca de que a vítima tem interesse na
persecução penal. O mero comparecimento da vítima perante a autoridade policial só pode
ser considerado como representação quando é espontâneo, tal como ocorre nas hipóteses
em que comparece à Delegacia para fins de registrar ocorrência policial ou mesmo no
Instituto Médico Legal para fins de submissão ao respectivo exame médico legal, pois está
implícita a vontade da vítima em dar início à persecução penal. Por outro lado, quando esse
comparecimento não é espontâneo, ou seja, a vítima comparece em observância ao
mandado de intimação previamente expedido pela autoridade policial, incumbe à
autoridade colher a representação, ainda que circunstanciando esse fato no próprio termo
de declaração. [...]” (STJ, 6ª Turma, REsp 2.097.134/RJ).

 Retratação da representação: a representação será irretratável após o oferecimento da denúncia.


o No caso da Lei Maria da Penha, a retratação pode ocorrer até o recebimento da denúncia.
 Retratação da retratação da representação: ela significa uma nova representação sobre o fato
delituoso. A doutrina entende que é possível se respeitado o prazo decadencial (6 meses).
 Eficácia objetiva da representação: em sendo caso de ação pública condicionada, a representação do
ofendido em relação a um dos autores do fato autoriza o oferecimento de denúncia contra todos (a
representação é feita em relação ao fato, não em relação aos envolvidos).
35

8.5 REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA


 É a manifestação do Ministro da Justiça demonstrando interesse na persecução penal.
 Natureza jurídica: é uma condição específica da ação penal, mas nada impede que a lei passe a exigi-lá
como condição de prosseguibilidade.
o Apesar da nomenclatura ser “requisição” (que costuma ser sinônimo de ordem), aqui se está
diante de condição de procedibilidade e, dessa forma, a requisição do Ministro da Justiça não
é sinônimo de ordem.
o A ação penal aqui é pública, que possui o MP como titular. Mesmo que a condição seja
implementada pelo Ministro da Justiça, o promotor não é obrigado a propor a demanda.
 Retratação da requisição: não há consenso, mas ante o silêncio da lei, se poderia utilizar do mesmo
raciocínio da representação (a requisição seria irretratável após o oferecimento da denúncia).
 Inexistência de prazo decadencial : enquanto a representação está sujeita decadência, a requisição do
Ministro da Justiça não. Ou seja, não há falar em decadência. O crime, contudo, se submete ao prazo
prescricional.

8.6 CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE DA AÇÃO PENAL PRIVADA


 As causas extintivas da punibilidade da ação penal privada recaem exclusivamente sobre os delitos de
ação penal privada exclusivamente privada e da ação penal privada personalíssima.
 Decadência: é a perda do direito de queixa ou do direito de representação, em razão do seu não
exercício dentro do prazo legal (seis meses, em regra).
o A contagem do prazo de decadência se dá à luz das disposições do Código Penal (inclui-se o
dia de início no cômputo, seguindo o calendário comum – art. 10).
o A decadência é prazo fatal e improrrogável, não incidindo causas suspensivas ou
interruptivas.
o É irrelevante se a queixa foi oferecida perante o juízo competente ou não, sendo
independente do seu recebimento, ainda que por autoridade judicial incompetente.
o A contagem do prazo de decadência se inicia com o conhecimento da autoria, ainda que
anterior à instauração do inquérito policial.
 Na hipótese do delito do art. 236, do Código Penal, o prazo começa a fluir do trânsito
em julgado e não do conhecimento da autoria.
 Nos crimes de ação privativa do ofendido, não será admitida queixa com
fundamento em apreensão e em perícia, se decorrido o prazo de 30 dias, após a
homologação do laudo (art. 529, do Código de Processo Penal).
o Na ação penal privada subsidiária da pública, o prazo de decadência começa a fluir da inércia
do Ministério Público (art. 38, do Código de Processo Penal).
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 Decorrido o prazo sem que tenha sido proposta a queixa subsidiária, haverá
decadência imprópria (não haverá a extinção da punibilidade, apenas a perda do
direito do ajuizamento da ação penal privada subsidiária da pública).
 Renúncia ao direito de queixa: ato unilateral e voluntário por meio do qual a pessoa legitimada ao
exercício da ação penal privada abdica do seu direito de queixa. Cuida-se de causa extintiva da
punibilidade nas hipóteses de ação penal exclusivamente privada ou privada personalíssima.
o Ocorre antes do exercício do direito de queixa, guardando relação com o princípio da
oportunidade ou conveniência da ação pena privada.
o Pode ocorrer independentemente de aceitação.
o A renúncia pode se dar, ora de maneira expressa (declaração inequívoca do direito de
queixa), ora de maneira tácita (seria a prática de um ato incompatível com a vontade de
processar).
o O recebimento de indenização não é hipótese de renúncia tácita. Mas, no caso da lei de
Juizados, se isso acontecer, será caso renúncia.
o O processo de um obriga ao processo de todos. Se renunciar para um, a renúncia é para
todos.
 Perdão do ofendido: ato bilateral e voluntário por meio do qual o querelante resolve não prosseguir
com o processo que já estava em andamento, perdoando o acusado. Trata-se de causa extintiva da
punibilidade nos casos de ação penal exclusivamente privada ou privada personalíssima.
o O perdão depende de aceitação do querelante, podendo ser expresso ou tácito.
o Momento do perdão: está relacionado ao princípio da disponibilidade da ação penal privada.
É apresentado após o oferecimento da queixa e até o trânsito em julgado.
o Cada vítima tem seu direito de queixa, de forma que se for concedido por um dos ofendidos,
não prejudica o perdão dos demais; se o querelante recusar o perdão, não produz efeito,
prosseguindo o processo em relação a ele.
 Perempção: é a perda do direito de prosseguir no exercício da ação pena privada em razão da
negligência do querelante, com a consequente extinção da punibilidade nos crimes de ação penal
exclusivamente privada ou privada personalíssima.

8.7 AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA


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