Intelectuais Das Áfricas
Intelectuais Das Áfricas
Intelectuais Das Áfricas
Bibliografia.
ISBN 978-85-7113-959-6
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(Unicamp – Campinas)
Clarissa Menezes Jordão
(UFPR – Curitiba)
Edleise Mendes
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(UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná)
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Renato Noguera
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1 Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP). Professor da Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
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2 Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professor da Universidade
do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
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O TERMO INTELECTUAL
3 Um dos primeiros livros que trazem uma perspectiva de pensamento africano foi o organizado por
Elisa Larkin Nascimento. NASCIMENTO, Elisa Larkim. (Org.) Afrocentricidade: uma abordagem
epistemológica inovadora. São Paulo: Selo Negro, 2009. Mais recentemente, um dos autores do
nosso livro, José Rivair Macedo, organizou a obra “O Pensamento Africano no século XX”. MA-
CEDO, José Rivair Macedo, O Pensamento Africano no Século XX, São Paulo: Outras Expressões,
2016, e, em 2019, uma coletânea de pensadores marxistas africanos também foi organizada por
Jones Manoel e Gabriel Landi Fazzio, “Revolução Africana – Uma Antologia do Pensamento
Marxista” pelo selo Quebrando Correntes, 2019. MANOEL, Jones e FAZZIO, Gabriel Landi.
Revolução Africana – Uma Antologia do Pensamento Marxista. Quebrando Correntes, 2019. Por
sorte nossa, diferentes revistas acadêmicas têm organizado dossiês trazendo para o Brasil traduções
ou pesquisas relativas a estes intelectuais.
4 Quando nos referimos a intelectuais africanos estamos falando tanto de homens quanto de mu-
lheres. Diferentemente da primeira edição do livro, desta vez preferimos retirar o “africanos/as”
por conta da fluidez do texto. Quando for importante fazer um demarcador de gênero usaremos
“os intelectuais africanos e africanas”.
5 Alfred Dreyfus, um francês judeu, foi injustamente acusado em seu país de fornecer documentos
secretos ao exército alemão. Preso em 1894, ele foi julgado de maneira sumária e condenado à
degradação militar e à prisão perpétua. Em 1898, foram encontradas evidências de sua inocência,
provocando a indignação do escritor Émile Zola (1840-1902), que escreveu, em 1898, carta aberta
ao presidente francês, publicada na imprensa, intitulada J’Accuse!, gerando um debate público por
mais de oito anos até Dreyfus ser totalmente inocentado em 1906. Longe de ter sido somente
um erro judiciário, o então intitulado “Caso Dreyfus” correspondeu a uma das maiores crises
políticas da III República francesa, na qual os intelectuais tiveram alta participação nos debates.
RODRIGUES, Helenice. O intelectual no “campo” cultural francês: do “Caso Dreyfus” aos tempos
atuais. Varia História, Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, Pós-Graduação em
História, v. 21, n. 34, p. 395-413, jul. 2005.
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6 WOLFF, Francis. Dilema dos intelectuais. In: NOVAIS, Adauto (Org.). O silêncio dos intelectuais.
São Paulo: Companhia das Letras, WOLFF, 2006, p. 47.
7 ZANNOTTO, Gizele. História dos intelectuais e História intelectual: contribuições da historio-
grafia francesa. Biblos. Revista do Instituto de Ciências Humana e Informação, Rio Grande,
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), v. 22, no. 1, p. 31-45, 2008, p.34.
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9 MACEDO, José Rivair. O pensamento africano no século XX. São Paulo: Outras Expressões,
2016, p. 281
10 Awa Thiam, Hilda Twongyeirwe e Abena Busia são feministas, as duas primeiras muito conhecidas
pela luta contra a mutilação genital de mulheres africanas, enquanto a terceira é famosa por sua
poesia.
11 SAID, Edward W. Representações do Intelectual. As Conferências de Reith de 1993. São Paulo:
Companhia das Letras, 2005, p.25.
12 HERNANDEZ, Leila Leite. A itinerância das ideias e o pensamento social africano. Anos 90
(UFRGS. Impresso), v. 21, p. 195-225, 2014.
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13 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru/São Paulo:
EDUSC, 1999.
14 LIMA JÚNIOR, David Marinho de. Descolonizando as mentes: Ousmane Sembène e a proposta de
um Cinema Africano na década de 1960. Dissertação (Mestrado do Programa de Pós-Graduação
em História Social da Cultura) - Departamento de História do Centro de Ciências Sociais, PUC-
Rio. Rio de Janeiro, 2014, p.. 40, 109.
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15 CASSAMA, Daniel Júlio Lopes Soares. Amílcar Cabral e a independência da Guiné-Bissau e Cabo
Verde. Dissertação (Mestrado do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais). Faculdade
de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Araraquara (SP),
2004, p.81-82.
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21 MBEMBE, Achille. Sair da Grande Noite. Ensaio sobre a África Descolonizada. Luanda: Edições
Mulemba; Mangualde (Portugal): Edições Pedago, 2014, p.179-182.
22 Aprofundando os campos específicos de cada um: Fanon (psiquiatria), Soiynka (Letras), Mernissi
(sociologia); Mudimbe e Hountondji (filosofia), Chabel (antropologia), Mbembe (história e
politologia), Adichie (comunicação).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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ACHILE MBEMBE:
IMAGINAÇÃO, PODER E COSMOPOLITISMO
A PARTIR DA ÁFRICA
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OS ANOS DE FORMAÇÃO
3 MBEMBE, Achille. Sair da grande noite: Ensaio sobre a África descolonizada. Man-
gualde (Portugal), Luanda (Angola): Edições Pedago; Edições Mulemba, 2014, p. 34.
4 ECKERT, Andreas. Rethinking colonial history in Cameroun. Journal of African History
(Cambridge),v. 40, p. 151,1999.
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7 BAYART, Jean-François; MBEMBE, Achille; TOULABOR, Comi. La politique par lebasen Afrique
Noire -Nouvelle edition augmentée. Paris: Éditions Karthala, 2008. Na última parte, uma discussão
entre Mbembe e Bayart permite entrever suas divergências acerca dos fatores de influência na
disputa de poder na África subsaariana, de acordo com o maior ou menor valor conferido por
cada um deles às lógicas e estratégias locais. As críticas de Mbembe estão, sobretudo, no capítulo
intitulado Pouvoir, violence et accumulation. Ver a resenha de AWESSO, Atiyihwè, publicada no
Bulletin de L.A.P.A.D. Montpellier, nº5, p. 3, 1993.
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PÓS – COLÔNIA
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10 Os termos pós-colonialismo e pós-colonial têm sido empregados nas Ciências Sociais em duas acep-
ções não totalmente excludentes, mas conceitualmente distintas. Na primeira, aplica-se ao período
histórico posterior ao momento em que sociedades africanas e asiáticas foram colonizadaspor euro-
peus, isto é, da década de 1940 para cá. Na segunda, designa uma tendência de interpretação mais
ou menos vinculada aos “estudos culturais” e aos “estudos subalternos”, integrada por autores de
origem oriental (Edward Said; Homi Bhabha; Gayatri Spivak, Arjun Appadurai) ou afro-diaspórico
(Paul Gilroy, Stuart Hall) que, não obstante as preferências temáticas, metodológicas e analíticas,
têm em comum o fato de questionarem a validade das elaborações discursivas, representações
e paradigmas explicativos etnocentrados,problematizaremas percepções convencionais do que
seria a ciência, amodernidade e o cosmopolitismo, e estudarem os fenômenos de hibridização,
deslocamentos culturais e transculturação. Ver SANCHES, Manuela Ribeiro (Org). Deslocalizar
a Europa. Antropologia, arte, literatura e história na pós-colonialidade. Lisboa: Edições Cotovia,
2005. É nesta segunda acepção que o termo será aqui utilizado, mesmo não sendo consensual
entre intelectuais identificados ao pensamento crítico, como Nelson Maldonado Torres, Aníbal
Quijano e Walter Mignolo, que preferem a denominação de “estudos descoloniais” e outros,
como Boaventura de Souza Santos, Jean e John Comaroff, que preferem falar do que denominam
de “epistemologias do Sul”.
11 MBEMBE, Achille. Sair dagrande noite, op.cit., p. 79-139.
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15 MBEMBE, Achille. De la postcolonie: Essai sur l’imagination politique dans l’Afrique contempo-
raine. Paris: Éditions Karthala, 2000, p. XI. Na entrevista intitulada Qu’est ce La pensée postcolo-
niale, concedida a revista Esprit, 2016,diz que o propósito do livro é examinar em profundidade
a fratura colonial, isto é, o momento a partir do qual o antigo colonizado assume o poder e o
inimigo deixa de ser o colonizador, mas sim o “irmão”. O livro apresenta, pois, uma crítica ao
discurso africano da fraternidade (p. 131).
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NECROPOLÍTICA E RACISMO
20 Expressão às vezes utilizada para designar a França, em virtude da semelhança visual entre a
representação cartográfica de seu território e a figura geométrica de um hexágono regular com
seus seis lados.
21 GIGENA, Andrea Ivanna. Lecturas postcoloniales y decoloniales de la analítica foucaultiana para el
analise de contextos de herencia colonial, art. cit. p.14.
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26 AJARI, Norman. De la montée en humanité. Violence et responsabilité chez Achille Mbembe, art.
cit., p. 27-30.
27 MBEMBE, Achille. Sair da grande noite, op.cit., p. 141-163.
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COSMOPOLITISMO AFRICANO
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36 MBEMBE, Achille; NUTTALL, Sarah (Orgs). Johannesburg: The elusive metropolis. Durham:
Public Culture/ Duke University Press, 2004.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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45 AMSELLE, Jean-Loup. L’Occident décroché: Enquête sur les postcolonialismes. Paris: Fayard, 2010,
p. 91.
46 DEDIEU. Les elites africaines, enjeu de la diplomatie scientifique des États-Unis. Politique Étran-
gere. Paris, nº 1, p. 120, 2003.
47 HOUNTONDJI, Paulin J. Le savoir mondialisé: desequilibres et enjeux actuels, p. 8. In: La
mondialisation vue d’Afrique (Univ. Nantes), 2001. Disponível online: http://mshafrique.free.fr/
afrique/charpar/cfpaulin.pdf Acessao em: 30/05/2014.
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48 SÁ, Ana Lúcia. A idéia de pós-colônia em cientistas sociais africanos na diáspora, pp. 3-4. In: 7º Con-
gresso de Estudios Africanos (ISCTE - Lisboa, 2010). Disponível online: http://www.portaldoconhe-
cimento.gov.cv/bitstream/10961/395/1/A%20ideia%20de%20p%C3%B3scol%C3%B3nia%20
em%20cientistas%20sociais%20africanos%20na%20di%C3%A1spora.pdf. Acessado em:
02/03/2014.
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49 Eis alguns textos que empregam o referido conceito, através de Mbembe: SANTOS, Madalena.
Beyond negotiating impossibilities: the art of palestinian creative resistance. Platforum. Londres,
v.12, p. 57-79, 2011; ALVES, Jaime Amparo. Topografias da violência: Necropoder e governamen-
talidade espacial em São Paulo. Revista do Departamento de Geografiada USP. São Paulo, v. 22, p.
108-134, 2011; LAURIS, Elida. Uma questãode vida ou morte: para uma concepção emancipatória
do Acesso em: a justiça. Revista Direito & Práxis. Rio de Janeiro, v. 6, nº10, p. 412-454,2015.
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PERCURSOS TRANSLOCAIS:
VALENTIN MUDIMBE E O PÓS-COLONIAL
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PERCURSOS TRANSLOCAIS
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5 Ibidem.
6 Tradução livre de: “Dans la classification coloniale, mon père n’est pas un ‘évolué’. Il est quelque
part, à mi-chemin entre le villageois des ouvrages anthropologiques et l’assimilité parfait du projet
de conversion colonial”. MUDIMBE, Valentim. Les Corps glorieux des mots et des êtres. Paris:
Humanitas, 1994. Apud SANKARA, Edgard. Valentin Mudimbé. Autobiography, Philosophy
and Exclusive Francophone Reception. In: Postcolonial Francophone Autobiographies: From Africa
to the Antilles. University Virginia Press, 2011, p.73.
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7 Tradução livre de: “A présent que je peux, à froid, regarder mon parcours, je me dis: l’universitaire
international ou, simplement, l’homme que je suis devenu est, pour beaucoup, le fruit d’une
élection. (...) Mon enfance remonte: un cadre, un art, une vocation. J’en ai émerge et, depuis
lors, tourney en un jardin, surpris. Les jeux étaient, visiblement, faits, dès le depart. Jusqu’en
mes rebellions, j’haletais d’après des norms anciennes. Je mourrais fidèle à ce champ ou, plus
exactement, avec les reflexes acquis de lui. Même les écarts témoignent, au total, de ce passé.
Dieu contourné, la futilité des beautés du Dimanche oubliée et, avec ele, l’étendue des symboles
chrétiens réduite aux illusions d’une foi, il me reste encore un fond de rêve, une culture catholique
et ses vertus”. Ibidem, p.73.
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8 Tradução livre de: “Mon projet d’agir, comme enseignant, dans le context politique zaïrois, ne
pouvait rien modeler de décisif. Je ne pouvais attendre aucune explosion à partir de mes enseig-
nements de philologie à Lovanium ou Lubumbashi. Aujourd’hui, je me dis: la clé est là, en mon
enfance une fois de plus. Ma peinture voulait saisir le souffle de la vie en ma nudité; ma poésie,
commme mes essais, se moquaient des humeurs et dérives d’inspirations bourgeoises, mais mon
travail universitaire, malgré la décomposition politique de mon pays, voulait témoigner d’une
éducation et de sa compétence. Il relevait d’une mission religieuse: sauver”. Ibidem, p.70-71.
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utilizado pela primeira vez por Aimé Césaire, poeta e político nascido
na Martinica, em seu Discurso sobre o Colonialismo, escrito logo após
a 2a Guerra Mundial, revelando a ideia da unidade do mundo negro
fundamentada na solidariedade racial. O principal teórico do movi-
mento foi Léopold Sédar Senghor. Mais tarde, Senghor tornou-se o
primeiro presidente do Senegal, permanecendo no poder entre 1960
e 1980. O meio de debate e divulgação das ideias da Négritude era a
revista Présence Africaine, criada em 1947, em Paris. Foram realizados
intercâmbios pelos futuros líderes das independências como Jomo
Kenyata, Krumah, Senghor nas capitais coloniais com discussão e
elaboração de projetos que contribuiriam para as independências
políticas africanas. De uma maneira geral, esse movimento contribuiu
para que as elites africanas tomassem consciência dos problemas e
das condições políticas, sociais e econômicas do continente e pas-
sassem a questionar e elaborar projetos para combater a opressão
e exploração, propondo as independências.
Com relação à produção dos intelectuais da Négritude, Mu-
dimbe promove uma crítica contundente à filosofia do senegalês
Cheikh Anta Diop, que dizia que a civilização africana havia prece-
dido à civilização europeia e lhe era superior, fundamentando-se
nos estudos sobre o antigo Egito:
36 Tradução livre de: “Que la philosophie, au nom d’une authenticité mystificatrice ou sous
prétexte d’une altérité culturelle africaine absolue, abandonne le lieu de notre modernité et de
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Obras do autor
étymologique du mot (colére: cultiver), exactement comme nous pouvons décider de transformer
un pan de forêt en un jardin érigé en transcendance, et que nous avons décidé de promouvoir
la respectabilité d’un role”. MUDIMBE, Valentim, op. cit, 1994. Apud SANKARA, Edgard, op.
cit., p.75-76.
44 Sankara, Edgard, op. cit., p.76.
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na qualidade de pilar para a edificação da civilização do Universal, uma obra que será comum a
todas as raças, a todas as civilizações diferentes, ou não será (SENHOR, 1964, IN ELUNGU, P.
E. A. 2014, p. 91). ELUNGU, P. E. A. O despertar filosófico em África. Portugal: Edições Pedago
LDA, 2014.
5 ELUNGU P.E.A. O despertar filosófico em África. Portugal: Edições Pedago LDA, 2014, p. 71.
6 Procedemos à esquematização e caracterização dessa evolução consoante três etapas, durante
as quais a noção de negritude se torna mais clara e definida:
- a arte: expressão da negritude;
- a política e a negritude;
- a filosofia e a negritude. [...]. Contudo, “objectivamente, a negritude é um fato: uma cultura
correspondente ao conjunto dos valores – econômicos e políticos -, não apenas dos povos da
África negra, mas também das minorias negras da América, e mesmo da Ásia e da Oceania”
(ELUNGU, 2014, p. 78-83). ELUNGU, P. E. A. O despertar filosófico em África. Portugal: Edições
Pedago LDA, 2014.
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19 Mas é importante ter claro que a proposta de Durkheim ultrapassa o campo da antropologia.
O que está em causa é o próprio entendimento humano, a faculdade de classificar, de induzir,
de deduzir, de associar. Durkheim se recusa a aceitar que essas seriam capacidades imanentes
ao indivíduo e se contrapõe às teses do a priori Kantiano, que considerava o espaço e o tempo
como categorias universais do pensamento. O estudo dos povos primitivos leva-o para outra
direção e lhe permite demonstrar que essas categorias são produtos da sociedade, articulando-se
no interior de “quadros sociais do conhecimento”. Isto significa que os universos cognitivos
devem ser apreendidos na sua articulação com os grupos que os exprimem, sejam eles os povos
primitivos, os proletários, ou a classe burguesa. As representações de tempo, espaço, morte etc.
ganham, dessa forma, solo sociológico e historicidade (ORTIZ apud DURKHEIM, 1989, p. 19).
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa: o sistema totêmico da Austrália. Trad.
Joaquim Pereira Neto. São Paulo: Ed. Paulinas, 1989.
20 AGUIAR, Itamar Pereira de. O encanto do diamante: sublimidade, perversão e, às vezes, perver-
sidade In: Revista Paradigma. Venezuela: Vol. XXXVI, Nº 1, Junho de 2015, p. 56–71.
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dos Estudos Africanos e das demais disciplinas a compreender que, até o momento, têm levado
a cabo um tipo de pesquisa maciçamente extravertido, isto é, orientado para fora, destinado em
primeiro plano a ir ao encontro das necessidades teóricas e práticas das sociedades do Norte.
Propõe nova orientação e ambições para a investigação feita por africanos em África (HOUN-
TONDJI, 2008, 149 - 160, p. 149, nossa tradução). HOUNTONDJI, Paulin. Conhecimento de
África, conhecimento de Africanos: Duas perspectivas sobre os Estudos Africanos. Revista Critica
de Ciências Sociais, 80, março de 2008: 149-160.
26 Os chamados estudos africanos não só se baseiam em metodologias e teorias que se consolidam
em vários campos – como a história geral, a sociologia, a lingüística, a economia, a ciência política,
etc. – muito antes de terem sido aplicadas a África enquanto novo campo de estudo, como é,
de resto, comum, em instituições acadêmicas e de investigação, encontrar esta matéria associada
a outras disciplinas, como sejam a matemática, a física, a informática, a biologia, a química a
geologia, a gestão e administração, a filosofia ou a engenharia. Em breves palavras, estas discipli-
nas são objeto de ensino e investigação para além dos próprios estudos africanos e das grandes
disciplinas que lhes deram origem. Este quadro institucional não é exclusivo de Bayreuth. De
fato, o mesmo se passa em todo lado, tornando clara a interligação profunda entre as diversas
áreas de investigação. Como é sabido é essa interligação que está na raiz da própria idéia de
universidade (Universita) tal como foi tematizada, entre outros, por um homem que não foi um
mero pensador, mas sim o verdadeiro fundador da Wissenschaftspolitik da Alemanha do século
XIX: Wilhelm Von Humboldt (HOUNTONDJI, 2008: 149-160, pp. 150-151). HOUNTONDJI,
Paulin. Conhecimento de África, conhecimento de Africanos: Duas perspectivas sobre os Estudos
Africanos. Revista Critica de Ciências Sociais, 80, março de 2008: 149-160.
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30 HOUNTONDJI, 2008: 149 - 160, pp. 151. HOUNTONDJI, Paulin. Conhecimento de África,
conhecimento de Africanos: Duas perspectivas sobre os Estudos Africanos. Revista Critica de
Ciências Sociais, 80, março de 2008: 149-160.
31 Idem, pp. 151.
32 Idem.
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39 Al decir que la tradicional imagen del mundo african tiene uma extraordinária armonía, lo
cierto es que, aparte de la palabra “africana”, cada uno de los términos de esta frase es a la vez
correcto y falso. Pues em primer lugar, la imagen del mundo tradicional sigue viva em nuestros
dias; em segundo lugar no se trata de una imargen del mundo em sentido europeo, pues no
es posible separar en ella lo percibido, lo experimentado y lo vivido; em tercer lugar sólo es
posible señalarla como extraordinária desde el punto de vista europeo, mientras que para el
hombre africano es la imagen enteramente normal, y en cuarto lugar la expresión “armonia”
es insuficiente, y a que no permite reconocer cuáles son las partes que se armonizan en qué
unidad. Y si décimos; “todo”, esta palabra expressa aún menos que lo anterior. “Todo” no es
posible representarse, ni tampoco puede decirse con unas cuantas palabras lo que se quiere
significar com el término “todo” (JAHN,1963, p. 131). JAHN, Janheinz. Mutum: Las culturas
neoafricanas. Trad. Jasmin Reuter. México – Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica,
1963.
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2 PARADA, Mauricio; MEIHY, Murilo Sebe Bon; MATTOS, Pablo de Oliveira. História da África
Contemporânea. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio: Pallas, 2013, p. 121-122.
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9 “Al-Ghazâlî (c.1056–1111) foi um dos mais proeminentes e influentes filósofos, teólogos, juristas e
místicos do Islã sunita. Ele foi ativo em um momento em que a teologia sunita tinha acabado de pas-
sar por sua consolidação e entrou em um período de intensos desafios produzidos pela teologia xiita
ismaelita e pela tradição árabe da filosofia aristotélica (falsafa). Al-Ghazâlî compreendeu a importância
da falsafa e desenvolveu uma resposta complexa que rejeitou e condenou alguns de seus ensinamentos,
ao mesmo tempo em que permitiu que se aceitasse e aplicasse outros. A crítica de Al-Ghazâlî a vinte
posições da falsafa em sua obra Incoerência dos filósofos (Tahâfut al-falâsifa) é um marco significativo na
história da filosofia a medida que avança na crítica nominalista da ciência aristotélica desenvolvida
mais tarde na Europa do século XIV. No lado árabe e muçulmano, a aceitação da demonstração
(apodeixis) por al-Ghazâlî levou a um discurso muito mais refinado e preciso sobre a epistemologia
e um florescimento da lógica e da metafísica aristotélica. Com al-Ghazâlî começa a introdução bem-
sucedida do aristotelismo ou, melhor, do avicennismo na teologia muçulmana. Após um período
de apropriação das ciências gregas no movimento de tradução do grego para o árabe e os escritos do
falsafa até Avicenna (IBN SÎNÂ, c.980-1037), a filosofia e as ciências gregas foram “naturalizadas”
no discurso da Kalâm e teologia muçulmana (Sabra, 1987). A abordagem de al-Ghazâlî para resolver
contradições aparentes entre a razão e a revelação foi aceita por quase todos os teólogos muçulmanos
posteriores e teve, através das obras de Averroes (IBN RUSHD, 1126-98) e de autores judaicos uma
influência significativa no pensamento medieval latino.” Griffel, Frank, “Al-Ghazali”, The Stanford
Encyclopedia of Philosophy (WINTER, 2016 Edition), Edward N. Zalta (ed.), forthcoming URL =
<http://plato.stanford.edu/archives/win2016/entries/al-ghazali/>. Tradução minha.
10 CHEBEL, MAlek. Du Désir. Paris : Ed. Payot, 2000..
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16 CHEBEL, Malek. Manifeste pour un islam des Lumières, 27 propositions pour réformer l’islam. Paris:
Hachette Littératures, 2004.
17 CHEBEL, Malek. L’islam et la Raison, le combat des idées. Paris: Perrin, 2005.
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18 “Originalmente, apenas um mujtahid, ou seja, um jurista que atende a certo número de qualifi-
cações e treinado nas técnicas de ijtihad (“raciocínio pessoal”, a quarta fonte da lei islâmica após
o Alcorão, a sunna do Profeta Muhammad e a ijma, ou consenso) foi autorizado a emitir uma
opinião legal ou interpretação de uma lei estabelecida. Mais tarde, todos os juristas treinados
podiam ser muftis. As fatwas não são vinculativas, contrárias às leis que derivam das três primei-
ras fontes, e os muçulmanos podem buscar outra opinião legal. As fatwas de juristas famosos
geralmente são coletadas em livros e podem ser usadas como precedentes em tribunais.
Pelo fato de que a maioria dos países muçulmanos parou de seguir a shari’a durante o século XX e
adotou sistemas legais seculares, fatwas são emitidos principalmente em uma base pessoal ou por
razões políticas. A prática de ter um mufti nomeado pelo governo que emita fatwas justificando a
política governamental foi uma crítica central dos movimentos islâmicos reformistas do período.
No entanto, muitos destes últimos muitas vezes permitem que indivíduos sem a formação jurídica
necessária para emitir fatwas. Tais editos podem ser considerados pelos seus seguidores como
vinculativos, mas não são reconhecidos pelos juristas ou pelo resto da comunidade muçulmana
como legítimas opiniões jurídicas”
Wael B. Hallaq. “Fatwa”. Encyclopedia of the Modern Middle East and North Africa. Encyclopedia.
com.Tradução minha.
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24. Uma postura mais liberal diante de questões estéticas ligadas às artes
musicais e imagéticas;
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19 ARKOUN, Mohammed. Pour une critique de la raison islamique. Paris: Maisonneuve et Larose,
1984.
20 AHMED AN-NA’IM, Abdullah . Islam and the Secular State: Negotiating the Future of Shari`a.
Cambridge: Harvard University Press, 2008.
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texto The America that I Have Seen, uma crítica aos Estados Unidos
da América a partir do peso do materialismo nessa sociedade. A
permanência dessa imagem sobre o secularismo ocidental é uma
barreira ideológica a ser superada ainda hoje.
Outro tema bastante controverso e que dialoga com as ques-
tões enfrentadas por Chebel na França do início do século XXI é o
uso do véu pelas mulheres muçulmanas. Sem entrar diretamente na
polêmica de gênero que o tema possui, o autor destaca a ausência
de parâmetros religiosos para a obrigatoriedade das mulheres se
cobrirem. Nas palavras de Chebel:
várias alianças políticas desde 1984 e tem apelo popular em todas as classes sociais.” “Muslim
Brotherhood in Egypt.” In The Oxford Dictionary of Islam. Ed. John L. Esposito. Oxford Islamic
Studies Online. 2016. http://www.oxfordislamicstudies.com/article/opr/t125/e1637. (Tradução
minha).
24 Revenons très brièvement sur une question qui agite nos contemporains, et pas seulement en France: le voile.
Appelé hidjab, tchador ou burkha, le voile islamique (dit djilbab dans le Coran) représente un ensemble
de réalités historiques et d’affects contradictoires qui l’empêchent d’être un élement vestimentaire neutre
ou semblable à tout les autres. Au début de la prédication, le voile était préconisé par le Coran comme un
élément distinctif du harem prophétique. (...)
Aujoud’hui, à la faceur de l’implantation de l’islam dans de nouvelles régions qui n’étaient pas musulmanes
au départ, et du fait de la politisation extrême de cette religion, le voile est devenu un signe ostentatoire
d’adhésion à l’islam le plus rigoriste, un signe religieux qui charrie autour de lui de nombreuse idéologies
plus ou moins restrictives. » (MALEK CHEBEL, 2004, 81-82). (Tradução minha).
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26 « Cet autre érotisme, le plus truculent, opère dans les lieux malfamés et dans les lupanars. Dans leur en-
semble, les femmes arabes estiment que cet érotisme explicite est trop obscène. Obscène parce que trop dit,
explicite! D’ailleursm loin de la sublimation de la société savante, les milieux interlopes livrent bataille aux
démons de la chair mais ne refusent pas, occasionnellement, quelques agapes gouailleuses et bien arrosées.
» Tradução minha. (MALEK CHEBEL, 2006, 12)
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27 Nome dado a cada um dos 114 capítulos do texto corânico, ordenadas por tamanho, da maior
para a menos, com exceção da primeira, intitulada al-Fatiha (a abertura) .
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CONCLUSÕES POSSÍVEIS
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BIBLIOGRAFIA GERAL
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1 Doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora de pós-
doutorado do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais (NUPRI-USP).
2 O diacrítico ou vogal curta do idioma árabe que tem o som de “i”, é, muitas vezes, transliterado
usando-se a letra “e”. No próprio website de Mernissi, a grafia com o “e” foi a escolhida para
Fatema. Neste texto, optamos por manter a grafia deste modo e não como Fatima, usado por
editoras do mundo anglófono. As referências bibliográficas, contudo, respeitarão a opção das
editoras.
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5 MERNISSI, Fatema. Sultanes Oubliées. Paris: Editions Albin Michel S.A, 1990, p. 26.
6 FOX, Margalit. Fatema Mernissi, a founder of Islamic Feminism, dies at 75. The New York
Times. Nova York, 9 dez 2015. Acesso em: 1 fev 2016. Disponível em: http://www.nytimes.
com/2015/12/10/world/middleeast/fatema-mernissi-a-founder-of-islamic-feminism-dies-at-75.
html?_r=2
7 RASSAM, Amal. Fatima Mernissi. In: The Oxford Encyclopedia of the Modern Islamic World. New
York: Oxford University Press, 1995, p. 93.
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14 RHOUNI, Raja. Secular and Islamic Feminist. Critiques in the Work of Fatima Mernissi. Leiden:
Brill, 2010.
15 Ao conhecer o período, as circunstâncias e motivações as quais cada revelação foi feita ao Profeta
Muhammad, é possível compreender melhor seus significados.
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16 Uma edição revisada da obra foi lançada em 1987, com uma nova introdução, utilizada neste
texto.
17 Em 2004, uma grande modificação foi realizada na legislação da Família no Marrocos, a Muda-
wana. A mudança é discutida na página 156.
18 MERNISSI, Fatima. Beyond the Veil. Male-Female Dynamics in Modern Muslim Society. Revised
Edition. Bloomington: Indiana University Press, 1987, p. 96
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19 Ibidem, p. 97 e 99.
20 Tradução livre da autora para: “People tend to perceive women’s liberation as a spiritual and not
a material problem. We have seen this to be true in the case of Islam, where changes in condi-
tions for women were perceived by Muslim male literature as involving solely religious problems.
Muslims argued that changes in women’s conditions were a direct attack on Allah’s realm and
order. But changes in the twentieth century, mainly in socialist societies, have showed that the
liberation is primarily a question of the allocation of resources. A society that decides to liberate
women not only has to provide them with Jobs, but also has to take upon itself the responsibility
for providing childcare and food for all workers regardless of sex” (Ibidem, p. 17 e 33).
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A ELITE MASCULINA
24 A tradução para o inglês, usada neste capítulo, The Veil and the Male Elite: A Feminist Interpretation
of Islam, foi publicada em 1991 e tem um prefácio especialmente escrito pela própria socióloga
para esta versão.
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25 Tradução livre da autora para: “To defend the violation of women’s rights it is necessary to go back into
the shadows of the past” (MERNISSI, Fatima. The Veil and the Male Elite. A Feminist Interpretation
of Women’s Rights in Islam. Cambridge, Massachusetts: Perseus Books, 1991, p. vii).
26 Tradução livre da autora para: “everybody knows but no one really probes, with the exception
of the authorities on the subject: the mullahs and the imams” (Ibidem, p. 2),
27 Ibidem, p. 34.
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28 Ibidem, p. 191.
29 Tradução livre da autora para: “You find in the Koran hundreds of verses to support women’s
rights in one way or another and only a few that do not. They [male leaders] have seized on those
few and ignored the rest” (Ibidem, p. 2).
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32 Tradução livre da autora para: “By revisiting the concept of the ‘Word of God’ or ‘revelation,’
scholars can consider this androcentrism as historical and contextual rather than eternal and
divine. This is central to the project of Islamic feminists who compromise neither their faith nor
the ideal of gender equality” (RHOUNI, op. cit., p. 252.).
33 KEDDIE, Nikki R. Women in the Middle East: Past and Present. Princeton: Princeton University
Press, 2007, p. 145.
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O HARÉM E AS FRONTEIRAS
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45 Ibidem, p. 44.
46 SAID, Edward W. Orientalismo. O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia
das Letras, 2007, p. 277.
47 Tradução livre da autora para: “Yet for me, not only is the word ‘harem’ a synonym for the family
as an institution, but it would also never occur to me to associate it with something jovial. After
all, the very origin of the Arabic word ‘haram,’ from which the word ‘harem’ is derived, literally
refers to sin, the dangerous frontier where sacred law and pleasure collide. Haram is what the
religious law forbids; the opposite is halal, that which is permissible. But evidently, when cross-
ing the frontier to the West, the Arabic word ‘harem’ lost its dangerous edge. Why else would
Westerners associate it with euphoria, with the absence of constraints? In their harem, sex is
anxiety-free” (MERNISSI, Fatima. Sheherazade goes West. Different Cultures, Different Harems.
New York: Washington Square Press, 2001, p.12-3).
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REVOLUÇÃO E INFORMAÇÃO
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
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5 Entre os críticos de arte, não há consenso quanto aos critérios de “africanidade” de um filme ou
de um romance. Muitos livros publicados na Europa em meados do século passado são, hoje,
considerados “clássicos” da literatura africana, assim como vários filmes com coprodução europeia,
inclusive sem ou com restrita distribuição em países africanos, passam por “cinema africano”.
6 Para ficar em alguns exemplos, ver as teses de Bestman (1972), Moore (1973), Rufa’ï (1983), Sall
(2007), Bourhane (2008).
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A TRAJETÓRIA DE UM INTELECTUAL
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algumas das fontes à sua sede de leitura. Livros como Banjo (1929),
do escritor jamaicano Claude Mckay, Native Son (1940), do escritor
afro-americano Richard Wright ou Gouverneurs de la rosée (1944), do
escritor haitiano Jacques Roumain, fizeram parte da cultura literária
de Ousmane Sembène.11 Ainda a leitura de algumas obras de Jack
London fez o estivador perceber a literatura como missão, a arte
de “forçar o destino”, a chance de aprimorar-se através da escrita
e a oportunidade de escrever para escapar da condição miserável12.
Durante a primeira década como imigrante na França, Ousma-
ne Sembène participou de manifestações e greves, por exemplo,
contra as guerras na Indochina e na Argélia. Chegou mesmo a
protestar contra o processo do casal Rosenberg em 1952. Durante
esses anos, teve também a oportunidade de conhecer uma literatu-
ra africana de expressão francesa.13 Mesmo sem ter contato direto
com o meio literário dos escritores africanos radicados na França,
Ousmane Sembène teria lido os textos dessa primeira geração como
Amadou Diagne, Bakary Diallo, Ousmane Socé Diop e Birago Diop.14
Em meados dos séculos XX, a literatura dos escritores afri-
canos e da “diáspora negra” representa um pequeno filão do
mercado editorial francês. Seus romances, ensaios, novelas e
poemas foram publicados por algumas editoras. Entre elas, cabe
destacar a Présence Africaine, cuja revista circulava desde 1947. No
prefácio de Anthologie de la nouvelle poésie nègre et malgache de la
langue française, Jean-Paul Sartre (1949) enfatizou a importância
da négritude enquanto movimento de afirmação identitária para
africanos, afro-caribenhos e afro-americanos e também o quanto
essa literatura era inovadora.
11 Claude Mckay foi também estivador no porto de Marselha (VIEYRA, 2012, p.18). Sobre a influ-
ência do escritor jamaicano no primeiro romance de O. Sembène, ver ainda Murphy (2000).
12 Gadjigo, 2013, p.212-213.
13 Quando o jovem Sembène chegou na França, já havia um pequeno grupo literário de escritores
africanos radicados em Paris. Em termos de cinema, também outros africanos o antecederam
como Youssef Chahine e Paulin Soumanou Vieyra. Este último iria ajudar Ousmane Sembène
para estudar cinema em Moscou. Cabe lembrar que Souleymane Cissé também estudou cinema
em Moscou. Anos depois seria a vez de Abderrahmane Sissako passar pela escola de cinema russa.
14 Gadjigo, 2013, p. 219.
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19 Nascido no Vietnã e descendente de uma família da Guiana Francesa, Georges Caristan trabalhou
com Ousmane Sembène em filmes como Niaye, Emitaï, Xala, Ceddo.
20 GADJIGO, Samba. Ousmane Sembène. Une conscience africaine. Paris: Présence Africaine, 2013.
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21 Devido a algumas divergências em relação aos anos de publicação de livros e filmes de Ousmane
Sembène, a cronologia adotada foi aquela proposta por Samba Gadjigo (2013).
22 Em artigo sobre o a participação brasileira no Festival Mundial de Artes Negras de Dacar, defendeu-
se a excelência do filme Assalto ao Trem Pagador e que, segundo o Cine-Clube de Dacar, o filme
brasileiro teria merecido o Grande Prêmio ao invés do filme de “um jovem diretor senegalês”.
Afro-Ásia, Revista do CEAO, Salvador, n.2-3,1966, p78.
23 O filme deveria ser de média metragem. Mas houve um acordo para atender o contrato com a
produtora e, por conseguinte, obter os recursos para a realização do filme.
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DA IMAGEM-DESPERTADOR
24 Em sua tese de doutorado, Papa Wongue Mbengue (1982) analisa a estrutura da narrativa literária
e fílmica de Ousmane Sembène.
25 VIEYRA, Paulin Soumanou. Ousmane Sembène cinéaste: Première période, 1962 - 1971. (1ed.
1972) Paris: Présence Africaine, 2012, p. 161.
26 Uma das importantes contribuições de David Murphy (2001) foi superar uma ideia consensual
que reduzia a estética do cinema sembeniano ao realismo social.
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36 Se Chaïba, Mouhmad Fall e Souleymane são as personagens principais de três novelas homólogas
de Voltaïque (1962), Ibrahima Dieng é a personagem principal de Mandat (1966), adaptado ao
cinema em 1968. Sobre este último personagem, Ousmane Sembène afirmou ter se inspirado
de alguém que ele mesmo conheceu.
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37 GADJIGO, Samba. Ousmane Sembène. Une conscience africaine. Paris: Présence Africaine, 2013, p.
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38 Para uma abordagem de gênero na ficção senegalesa, ver a tese pioneira de Hammond (1976) e
para a imagem feminina na obra sembeniana, ver Rufa’ï (1983). Para uma abordagem de gênero
no caso do romance Les Bouts de bois de Dieu, ver a tese de doutorado de Fanta Sylla (2008).
39 Sobre a reconfiguração do passado africano nos filmes de Sembène, ver o artigo de Mbye Cham
(2012).
40 Ver entrevista de O. Sembène concedida para Guy Hennebelle (1971, p. 20).
41 Samori Touré (1830-1900) foi um líder político, militar e religioso dos malinké. Foi o “arquiteto”
do império mandinga (1852-1882) e protagonista de uma das maiores resistências ao imperialismo
francês na África ocidental nas últimas décadas do século XIX.
42 Ver entrevista de O. Sembène concedida para Alioune T. Dia (1986, p.117).
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43 Myriam Makeba deixou a África do Sul em 1960. Depois de viver na Inglaterra e nos EUA, ela se
radicou na Guiné na década de 1970, sendo delegada do país junto a ONU na década de 1980.
Com o fim do Apartheid, voltou para a África do Sul em 1990. Sobra a sua indicação para atuar
no filme, ver entrevista de O. Sembène concedida para Alioune T. Dia (1986, p.122).
44 Ver entrevista de O. Sembène concedida para Alioune T. Dia (1986, p.122).
45 Ver entrevista de O. Sembène concedida para Alioune T. Dia (1986, p.118).
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59 Vieyra, 2012, p.48. Esse filme não teve uma distribuição comercial. O cenário foi depois retomado
por Sembène e publicado pela Présence Africaine sob o título Véhi Ciosane ou Blanche-Genèse em
1966.
60 O recurso ao suicídio como desfecho trágico, mas também como forma de resistência e defesa
da dignidade foi empregado pelo escritor nigeriano Chinua Achebe em seu clássico Things Fall
Apart (1958).
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VERSATILIDADE INTELECTUAL
61 Sobre o cinema do Terceiro Mundo ou “terceiro cinema”, ver Ella Shohat e Robert Stam (2006,
59-65).
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62 No filme Xala (1975) há uma referência ao jornal Kaddu. Inclusive, a secretária da casa de im-
portação do comerciante El Hadji compra um exemplar de um jovem vendedor do jornal.
63 Na capa de Kaddu, abaixo do título, tem-se a seguinte grafia: benn yoon weer wune, o que pode ser
traduzido como “uma vez por semana”.
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64 Embora a língua wolof predomine nas páginas do jornal Kaddu, outras línguas populares como
o poular e dioula também podem ser identificadas. Agradeço meu amigo Gilbert Ndecky por
chamar minha atenção para isso.
65 O termo wolof “Kaddu” pode ser traduzido por palavra ou mensagem.
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66 O recurso às bandas desenhadas não era uma novidade na imprensa local de Dacar. Nas últimas
décadas do colonialismo francês, o jornal Echos d’Afrique noire publicou uma história em quadri-
nhos de autoria de um desenhista parisiense e cujo propósito era traduzir em imagens satíricas
a campanha difamatória que o hebdomadário de Maurice Voisin fazia contra a migração sírio-
libanesa na AOF. Sobre as imagens satíricas do jornal Echos d’Afrique noire e a campanha contra
os “amarelos”, ver Correa (2015).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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Entrevistas:
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3 Ver em MAHAMA, John Dramani. Meu Primeiro Golpe de Estado e outras histórias reais das décadas
perdidas da África, São Paulo: Geração Editorial, 2014.
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14 OLORUNYOMI, Sola. Afrobeat! Fela and the Imagined Continent. Eritréia: Africa World Press, p.
202.
15 VEAL, Michael E. Fela: The Life and times of na African Musican Icon. Philadelphia: Temple Uni-
versity Press, 2000, p. 249.
16 VEAL, Michael E. Fela: The Life and times of na African Musican Icon. Philadelphia: Temple Uni-
versity Press, 2000, p. 246.
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17 WATERMAN, Christopher A. Aṣíkò, Sákárà and Palmwine: Popular Music And Social Identity In
Inter-War Lagos, Nigeria, Urban Anthropology and Studies of Cultural Systems and World Eco-
nomic Development, Vol. 17, No. 2/3, Black Folks In Cities Here and There: Changing Patterns
of Domination anf Respose (SUMMER-FALL, 1988, pp. 229-258).
18 Ibidem.
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21 MOORE, Carlos. Fela. Esta Puta Vida, Belo Horizonte: Nandyala, 2011, p. 87.
22 VEAL, Michael E. Fela: The Life and times of na African Musican Icon. Philadelphia: Temple Uni-
versity Press, 2000, p.247. “Fela´s vision crystallized in an era in which black people from Africa,
the Caribbean, and the Americas were forming unprecedented political, cultural, artistic and
personal alliances”.
23 VEAL, Michael E. Fela: The Life and times of na African Musican Icon. Philadelphia: Temple Uni-
versity Press, 2000, p. 247.
24 MOORE, Carlos. Fela. Esta Puta Vida. Belo Horizonte: Nandyala, 2011, p. 123.
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28 MOORE, Carlos. Fela. Esta Puta Vida. Belo Horizonte: Nandyala, 2011, p. 24.
29 Gilberto Gil. Ver em MOORE, Carlos. Fela. Esta Puta Vida. Belo Horizonte: Nandyala, 2011, p. 13.
30 VEAL, Michael E. Fela: The Life and times of na African Musican Icon. Philadelphia: Temple Uni-
versity Press, 2000, p. 125.
31 OLORUNYOMI, Sola. Afrobeat! Fela and the Imagined Continent. Eritréia: Africa World Press, p. 173.
32 VEAL, Michael E. Fela: The Life and times of na African Musican Icon. Philadelphia: Temple Uni-
versity Press, 2000, p. 125.
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40 Ibidem.
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41 Ver em Revista de Cultura Vozes. Petrópolis: Vozes, ano 71, n. 9, nov./ 1977.
42 Ibidem.
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43 KUBIK, Gerhard. Música e Dança ao Sul do Sahará. Oxford: Cultural Atlas of Africa, 1981, p. 2.
44 Ibidem.
45 “Fela`s acute sense of the dramatic was the source of much of the visuality of his music. He
also lavishly drew from his Yoruba cultural tradition, with its very expressive sculpture, theatre,
music, clothing, and so on, and its language”. OLANIYAN, Tejumola. Arrest the Music! Fela and
his Rebel Art and Politics, USA: Indiana University Press, 2004, p. 124..
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Não será possível neste texto fazer uma reflexão sobre a vasta
produção discográfica de Fela. Desse modo, atenho-me a tratar
do disco “Zombie”, gravado em 1976, o qual possui uma história
particular dentro da obra músico. “Zombie” transformou-se numa
metáfora de como o poder militar na Nigéria era violento e de-
vastador. As letras expressavam uma encorpada crítica ao governo
ditatorial da época.
Entre janeiro e fevereiro de 1977, a Nigéria sediou o II Festival
Mundial de Artes Negras – FESTAC, tendo convidado artistas de
todo mundo; entre os quais estavam Gilberto Gil, Steve Wonder,
entre outros. Recusando a participar do Festival por discordar dos
métodos e do conteúdo ideológico da ditadura nigeriana, Fela
organizou seu contra-FESTAC na República Kakakuta - como assim
chamava sua residência na época. Passou a denunciar na imprensa
os métodos duvidosos de organização do Festival; bem como or-
ganizou seus shows, conversou com artistas e tornava conhecido
o autoritarismo do regime.
Após o término do FESTAC, a República Kalakuta foi cruelmen-
te atacada. Durante a invasão, mil soldados envolvidos na operação,
estupraram várias mulheres de Fela, feriram sua mãe, destruíram
seus acervos pessoais de vídeo, áudio e instrumentos musicais e o
próprio músico foi torturado e preso. As críticas explícitas no disco
“Zombie” somadas às denúncias durante o Festival provocaram
a ira do general e presidente Olusegun Obasango que ordenou
a destruição da República. Os dois discos posteriores, “Sorrow,
Tears and Blood” e “Unknown Soldiers” retrataram a incursão e
suas consequências.
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59 MBEMBE, Achille. Sair da Grande Noite: Ensaio sobre a África descolonizada; tradução Narrativa
Traçada, Luanda: Angola: Edições Mulemba, Mangualde. Portugal: Edições Pedago, 2014, p. 158.
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Documentação
62 MOORE, Carlos. Fela. Esta Puta Vida, tradução Bruno Madeira. Belo Horizonte: Nandyala, 2011,
p. 327.
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Discografia consultada
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9 OKONJI, M. Ogbolu apud MADUKA, Chidi. African religious beliefs in literary imagination:
Ogbanje and abiku in Chinua Achebe, J. P. Clark and Wole Soyinka. In: Journal of Commonwealth
literature, v. 22.1, 1987, p. 18, tradução nossa.
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10 MADUKA, Chidi. African religious beliefs in literary imagination: ogbanje and abiku in Chinua
Achebe, J. P. Clark and Wole Soyinka. In:Journal of Commonwealth literature, v. 22.1, 1987, pp.
17-30, tradução nossa
11 CLARK-BEKEDEREMO, John. Abiku. In: CLARK-BEKEDEREMO, John. The poems. 1958-1998.
Ann Abor: University of Michigan, 2002, p. 6. Publicado inicialmente no livro A reed in the tide
(1965). “Vindo e indo por essas várias estações,/Fique do lado de fora em cima do baobá,/Siga
até onde quiser seus espíritos companheiros/Se essa casa não for o bastante para você”. Optamos
por deixar os trechos das obras literárias no original, apresentando uma tradução simplificada
nas notas de rodapé para auxiliar os leitores a compreenderem seu conteúdo. Em relação aos
textos teóricos, decidimos traduzi-los diretamente no corpo do texto.
12 O harmattan é um vento oriundo do deserto do Saara que atinge a África ocidental durante
alguns meses do ano (aproximadamente de dezembro a março), trazendo a estiagem.
13 “Ainda assim, tem sido o abrigo saudável/para vários membros, e será para muitos mais/Que
chegaram à luz do sol”.
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16 SOYINKA, Wole. Abiku. In: SOYINKA, Wole. Idanre and other poems. London: Methuen &
Company Limited, 1967, p. 28. “Eu sou Abicu, chamando pela primeira/E repetida vez”.
17 “Em vão seus braceletes lançam/Círculos encantados em meus pés/[...] Devo chorar por cabras e
búzios/Por vinho de palma e cinza aspergida/Inhames não brotam como amuletos/Para aterrar
os membros do Abicu”.
18 “Eu sou os dentes do esquilo, rachados/O mistério da palma da mão. Lembrem-se/Disso e me
enterrem ainda mais profundo no pé inchado do deus”.
19 “O lugar de onde venho, onde/O chão está molhado de pranto/O orvalho branco alimenta aves
de rapina/A noite faz amizade com a aranha, prendendo/Moscas na espuma do vento”.
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vivos. O abicu quer voltar para lá, não importa o que exista ou se
faça na Terra: “[...] Mother! I will be the/Supplicant snake coiled on the
doorstep/Yours the killing cry”.20 Nem mesmo a dor da mãe é capaz
de demovê-lo; ele será para ela como uma cobra sorrateira que dá
o bote e morde quando menos se espera, injetando na vítima um
veneno letal. Se a mãe esperava obter alegria com seu nascimento,
isso é um aviso de que ele só trará tristeza.
Para Quayson, ao contrário do que ocorria no romance de
Achebe e no poema de Clark-Bekederemo, nos versos de Soyinka,
existe a noção de que o ser humano está diante de algo que não
pode controlar racionalmente. O que prevalece é o ponto de vista
do mundo dos espíritos, de onde provém o abicu, e os rituais re-
alizados pelos seres humanos são vistos de uma forma que põe a
descoberto a sua inutilidade. Em outras palavras, fundamental na
perspectiva de Soyinka “é a tentativa de localizar a consciência orga-
nizadora do artefato literário na esfera do mundo dos espíritos”.21
Além disso, o abicu é antes de tudo alguém que não se rende, é
um rebelde por natureza. E talvez não seja por acaso que Soyinka
tenha escrito esse poema quando se encontrava preso. Muito
mais do que uma criatura específica, o abicu representaria, no ser
humano, o ímpeto de resistir à opressão, o anseio por liberdade
que se encontra em todas as pessoas.
Assim, escolhemos a figura do abicu para representar a poética
de Soyinka, uma poética baseada no paradigma da travessia entre
mundos realizada pelo abicu. Na cosmologia iorubá, a realidade
está dividida em três esferas: o mundo dos não-nascidos, o mundo
dos mortos ou ancestrais e o mundo dos vivos. Apesar de serem
diferentes, esses mundos não se encontram totalmente separados,
havendo espaços de intersecção entre eles. O que existe é uma
simultaneidade entre os três mundos, que coexistem em franca
proximidade uns com os outros, permitindo que vivos e espíritos
possam transitar entre eles. Tal transição ocorre nos extremos da
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22 SOYINKA, Wole. Myth, literature and the African world. Cambridge: Cambridge University Press;
Canto, 1990.
23 REIS, Eliana L. de L., op. cit., p. 149.
24 Ibidem, p. 150.
25 SOYINKA, Wole. The telephone conversation. In: ASOMBA, Benjamin O. The heritage of black
literature. Lagos: Pumark Nigeria Limited, 2001. Publicado inicialmente em 1963.
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33 BHABHA, Homi. The third space. In: RUTHERFORD, J. (ed.). Identity, community, difference.
London: Lawrence & Wishart, 1990, p. 216, tradução nossa.
34 Ibidem, pp. 209-10, tradução nossa.
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35 AFOLAYAN, Kayode ‘N. Mythology, aesthetics and social vision in Wole Soyinka’s Idanre. In:
The performer-ilorin. Journal of the performing arts, v. 12, 2010, pp. 187-199.
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37 FRASER, Robert. Lifting the sentence: A poetics of postcolonial fiction. Manchester; New York:
Manchester University Press, 2000.
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39 SOYINKA, Wole, op. cit., 1973a, p. 20. “Egbo tomou o desenho ofensivo das mãos de Kola e
o examinou. Kola apenas disse ‘Eu estava incomodado por ela, como se isso fosse o suficiente
para explicar por que ele havia plantado um bócio no pescoço da mulher e calçado seus pés
em botas de borracha Wellington ou talvez fossem as nadadeiras de um ornitorrinco. Só então
Egbo viu o próprio original, sozinha na pista de dança. Nenhum deles, exceto, obviamente, Kola
e Sekoni, a haviam visto tomar conta da pista vazia. Ela não tinha parceiro, sendo totalmente
autossuficiente. Era imensa. Podia se sobressair em qualquer lugar, dominadora. Ela enchia a
pista com seu corpo, ignorando o que estava a sua volta com um ar natural de plenitude. E se
movia lentamente, intensamente, envolta na música e no ritmo da chuva”.
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chamados de owolebi, palavra que passa a ser usada por Egbo para
designá-la. De certa forma, essa palavra africana, a indumentária
e os gestos quase ritualísticos da dançarina a constroem como
um sujeito que, na visão de Egbo e provavelmente na dos outros
também, encarna o “caráter africano”:
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42 Ibidem, pp. 234-5. “‘Meu amigo tem talentos muito irregulares. Olhe para a coisa que ele fez a
partir de mim, por exemplo, um maldito maníaco sanguinolento saído de algum zoológico de
segurança máxima. Isso devia ser eu? Ou mesmo Ogum, a quem presumo que representa?’ ‘O que
há de errado com isso?’ ‘É uma distorção vulgar, é o que há de errado com isso. Ele tomou um
único mito, Ogum no ápice da embriaguez, perdendo seu senso de reconhecimento e matando
seus próprios homens na batalha, e o congelou no auge da carnificina’”.
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que tinham sido suas primeiras criações. Ogum, como vimos, não
criou nada quando estava alcoolizado, apenas destruiu e matou o
que estava vivo.
Soyinka também relata que, depois de cometer tal deslize,
Oxalá se retirou para o reino de Xangô, o orixá da justiça, onde
permaneceu preso. Enquanto esteve na prisão, o equilíbrio do uni-
verso foi prejudicado porque, ainda de acordo com Soyinka, quem
assumiu o controle único do mundo foi Ogum, o que significa que
as forças destrutivas prevaleceram sobre as criativas. As crianças e
os animais morreram nos ventres de suas mães e as plantas secaram
por falta de chuva. Então, a “[c]omplementaridade e o equilíbrio são
destruídos. Oxalá é o deus que transforma o sangue em crianças;
e Ogum é o deus que transforma crianças em sangue”.48
Apesar da complementaridade estabelecida pelos poderes
das duas divindades, Soyinka escolhe Ogum como o modelo de
postura artística a ser defendido em sua produção literária. Para
ele, Oxalá apresenta as qualidades de acomodação dos indivíduos
e das sociedades como um todo: paciência, resignação ao sofri-
mento, passividade, enfim todas as atitudes necessárias para a paz,
ou melhor, para a submissão pacificada. Por outro lado, Ogum,
em virtude de sua assertividade e de sua interferência na ordem
existente, parece mais atraente para Soyinka. Segundo Isidore
Okpewho, Soyinka enxerga em Ogum a energia de ação necessária
para que as sociedades sejam transformadas e avancem para a sua
autorrealização.49 E o artista seria aquele capaz de incorporar os
atributos dessa divindade e conduzir o povo para a liberdade e a
mudança.
Para Okpewho, a energia de Ogum é canalizada por Soyinka em
seus personagens artistas, sendo que aquele que mais se aproximar
da personalidade do deus deve apresentar um equilíbrio entre ele-
mentos destrutivos e criativos. Em The interpreters, Sekoni é capaz
de esculpir uma obra inspirada e de grande qualidade estética, mas
48 Ibidem, p. 19, tradução nossa.
49 OKPEWHO, Isidore. Myth in Africa. Cambridge: Cambridge University Press, 1983.
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56 SOYINKA, Wole. Collected plays. Volume 1. Oxford: Oxford University Press, 1973b, p. 8.
“HOMEM MORTO: Você aceita o meu caso, senhor? [Adenebi se assusta, encara o Homem
Morto e sai correndo.] HOMEM MORTO [sacudindo a cabeça]: Pensei que éramos esperados.
MULHER MORTA: Esse é o lugar. HOMEM MORTO: ... A menos, é claro, que eu tenha vindo
cedo demais. Faz tanto tempo e é uma distância tão grande! MULHER MORTA: Ninguém para
me receber. Sei que esse é o lugar. [...] [Demoke entra. Ele está apressado.] MULHER MORTA:
Você aceita o meu caso? DEMOKE [para]: Você não vê? Estou com pressa. MULHER MORTA:
Mas você parou. Você não aceita o meu caso? DEMOKE: Quando você vir um homem correndo,
saiba que ele tem um fardo nas costas. Você acha que vivo à toa e posso pegar o caso de outra
pessoa por dinheiro ou piedade?”
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caso de outra pessoa, mas o dele mesmo, que agora precisa ser
enfrentado.
Cada um dos três protagonistas comete malfeitos no presente.
Demoke, que sofre de acrofobia, assassina seu aprendiz Oremole
motivado pela inveja, justamente porque o rapaz consegue escalar
grandes alturas. Assim, atrai para si a animosidade do deus Oro
(associado à punição e à morte), já que Oremole era devoto dessa
divindade. Mais tarde a ira divina contra Demoke se intensifica
porque ele decide entalhar um totem numa árvore sagrada (araba),
que é protegida por Eshuoro, uma das formas assumidas por Oro
(o nome é, na verdade, uma mistura de Exu e Oro). Rola/Madame
Tartaruga também é responsável, na atualidade, pela morte de dois
de seus amantes. Adenebi aceita suborno para autorizar que um
caminhão viaje acima de sua capacidade máxima de passageiros, o
que acaba causando um acidente em que sessenta e cinco pessoas
morrem carbonizadas. A esse respeito, ele é cobrado por Obaneji,
que é a forma humana tomada pelo Rei da Floresta para lembrar
aos personagens suas responsabilidades:
OBANEJI: Before I tell you, I must let you know the history
of the lorry. When it was built, someone looked at it, and
decided that it would only take forty men. But the owner
took it to the council... now, my friend, this is something
for you to investigate. One of your office workers took a
bribe. A real substantial bribe. And he changed the capacity
to seventy.
[...]
OBANEJI: You see, I want to close my files on this particular
lorry – the Incinerator. And my records won’t be complete
unless I have the name of the man who did it – you know,
the one who took the bribe. Do you think you can help
me there?
ADENEBI: Since you are so clever and so knowledgeable,
why don’t you find that out yourself?
OBANEJI: Please… it is only for the sake of records…
ADENEBI: Then to hell with your records. Have you no
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57 Ibidem, p. 18. “OBANEJI: Antes que eu lhe diga, preciso lhe contar a história do caminhão.
Quando foi construído, alguém olhou para ele e decidiu que só poderia carregar quarenta homens.
Mas o dono levou isso para o conselho... ora, meu amigo, isso é algo que você deve investigar.
Um de seus colegas de escritório aceitou suborno. Um suborno realmente substancial. E mudou
a capacidade para setenta passageiros. [...] OBANEJI: Veja, eu quero arquivar o caso sobre esse
caminhão em particular - o Incinerador. E os meus registros não estarão completos até que eu
tenha o nome do homem que fez isso - você sabe, o que aceitou o suborno. Acha que pode me
ajudar nisso? ADENEBI: Já que você é tão esperto e instruído, por que não descobre por si
mesmo? OBANEJI: Por favor... é apenas para os registros... ADENEBI: Então, para o inferno
com seus registros. Você não tem sentimentos pelos que morreram? Você é só um bloco de pedra
desumano e insensível?”
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62 REIS, Eliana L. de L., op. cit., p. 98, grifos no original.
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Prendeste-me
Ai, prendeste-me
Porque gritei viva Angola
Quando um dia voltar
Terei na cabeça uma grinalda de mussequenha
Na mão direita rabo de leão
Na mão esquerda rabo de onça
Nos pés alparcatas de pele de elefante
E andarei pela rua gritando
Liberdade, Liberdade, Liberdade
E... e...
Com todo fôlego gritarei bem alto:
Viva Angola.
(Uanhenga Xitu, Tarrafal, 1963).2
1 Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Professor adjunto da Uni-
versidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Email: washingtonprof@gmail.com
2 UANHENGA XITU. Mungo. Os sobreviventes da máquina colonial depõem... Luanda: Editorial
Nzila, Coleção Letras Angolanas 5, 2002, p. 37
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3 Uanhenga Xitu em quimbundo significa “O Poder é Odiado”. Xitu, portanto, não é um so-
brenome, e, sim, um nome, não fazendo sentido reduzir a referência a ele como sendo apenas
Xitu, o que seria comum no Brasil.
4 Ana Lopes de Sá (2004) diz ser difícil (e incorreto) considerar Uanhenga Xitu como sendo
participante de um movimento ou período literário fixo e preciso, diante de seus trânsitos
e variações ao longo do tempo. “De qualquer forma, e perspectivando a produção literária
angolana num macro período designado como ‘época da nacionalidade’, é claramente nos
seus propósitos, nele que UX se insere” (SÁ, 2005, p.60). SÁ, Ana Lopes. A Confluência do
tradicional e do moderno na obra de Uanhenga Xitu. Luanda: UEA, Práxis, 2004.
5 UANHENGA XITU. Mungo. Os sobreviventes da máquina colonial depõem... Luanda: Editorial
Nzila, Coleção Letras Angolanas 5, 2002, p. 36.
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APONTAMENTOS BIOGRÁFICOS
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14 UANHENGA XITU. O Ministro. Luanda: União dos Escritores Angolanos. 199, p. 39.
15 Segundo Cristina Freitas (2005), “A descolonização literária tem sido, de modo geral, o
projecto da escrita ficcional pós-colonial. No mundo das letras africanas, Chinua Achebe (Ni-
géria), Ahmadou Kourouma (Costa do Marfim) e Mia Couto (Moçambique) têm questionado
técnicas romanescas, discursos e estratégias discursivas ocidentais a partir de uma posição
privilegiada entre dois mundos” (FREITAS, 2005, p.7). Ainda segundo ela, “[...] as literaturas
africanas modernas se afirmaram como entidades autónomas das literaturas ocidentais e, mais
especificamente, que um romance africano difere de um romance ocidental tanto a nível da sua
dimensão ética e sócio-histórica como das convenções estéticas que o enformam” (FREITAS,
2005, p.9). FREITAS, Cristina Ferreira Pinto M. de. O processo de descolonização literária em
África - os casos de Chinua Achebe, Ahmadou Kourouma e Mia Couto. Tese de Doutorado em
Literatura. Faculdade de Letras da Universidade do Porto: Porto, 2005.
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16 UANHENGA XITU. Entrevista In: LABAN, Michel. Angola: encontro com escritores. Porto:
Fundação Eng. António de Almeida, 1991, p. 113.
17 Ibidem.
18 Ibidem.
19 Ibidem.
20 O que estamos fazendo é uma suposição com base em outras entrevistas dadas por Xitu ao longo
de sua vida. Como por exemplo na entrevista que dera a Agência Angola Press no ano de 2001.
http://m.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/mobile/noticias/sociedade/2001/7/32/,c95e91de-
408a-4f03-a2a8-84394de6035d.html?version=mobile
21 Ibidem.
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parte do cenário, afinal era preciso saber “de onde nós viemos antes
da igreja e da luta entre a igreja e a nossa população”26. Trata-se de
uma “maka”, ou seja, uma história verdadeira (ou reputada como
tal), mas que tem um final instrutivo e útil27.
De produção literária vasta, ele foi um dos responsáveis por um
processo que, como já dissemos, visava “angolanizar” a literatura
angolana, com a incorporação não só de novos suportes literários,
como a Maka, mas também através da escrita em kimbundu (sobretudo
aquele falado na região de Icolo e Bengo) do umbundo e ibinda (ou
“fiote”). Na apresentação de Manana (1974), ele afirma que aquele
“livrário”, não teria “[...] português caro, não. Português do liceu, não.
Do Dr., não. Do funcionário, não. De escritório, não. Só tem mesmo
português d’agente mesmo, lá do bairro, lá da sanzala, lá do quimbo”28.
Suas obras literárias apresentam diversidade de temas, mas
têm como eixo os trânsitos entre tradição e modernidade, rural
e urbano (cujo símbolo maior é Mestre Tamoda, sua obra mais co-
nhecida). Denuncia com ironia, mas também com assertividade, o
colonialismo português, o racismo e as segregações da sociedade
colonial (como fez em Os sobreviventes da Máquina Colonial depõem...)
e do pós-independência (a exemplo de O ministro)
Tamoda, seu personagem mais importante, aparece em duas
obras. Rita Chaves (2010) considera-o como um dos mais expressi-
vos da literatura angolana29. É através dele, um “falso assimilado”,
que, com ironia, o escritor tece críticas à situação colonial prin-
cipalmente a partir da segunda metade do século XX, quando a
política de assimilação colonial estava em franco desenvolvimento,
mostrando não só a assimilação a partir de um novo eixo, produ-
zida no entre - lugares e dando origem a novas subjetivações e
26 UANHENGA XITU. Entrevista In: CRISTÓVÃO, Aguinaldo Cristóvão e CORI, Isaquiel.
Pessoas com quem conversar. Angola, UEA, 2004, p. 217.
27 Macedo e Chaves (2007) baseando-se na classificação de Héli Chatelain divide as oraturas
em seis classes: Mi-sosSo, Maka, La-Lunda ou Mi-Sendu, Ji-Sabu, Mi-Imbu e Ji-Nongo.
MACEDO, Tania e CHAVES, Rita . Literaturas de língua portuguesa - Marcos e Marcas -
Angola. 1. ed. São Paulo: Arte & Ciência, 2007.
28 UANHENGA XITU. Manana. Lisboa: Edições 70, 1978, p.14.
29 CHAVES, Rita. Uanhenga Xitu: mundos em confronto de uma terra chamada Angola. Mulemba.
Rio de Janeiro, v.1, n. 2, pp. 118-128, jan/jul 2010.
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33 UANHENGA XITU. O ministro. Luanda, União dos Escritores Angolanos, 1990, p. 228.
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38 UANHENGA XITU. Entrevista In: LABAN, Michel. Angola: encontro com escritores. Porto:
Fundação Eng. António de Almeida, 1991, p..115-116.
39 UANHENGA XITU. Entrevista In: LABAN, Michel. Angola: encontro com escritores. Porto:
Fundação Eng. António de Almeida, 1991, p. 120.
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44 UANHENGA XITU. Os discursos do Mestre Tamoda. São Paulo, INL. 1984, p.132.
45 PAREDES, Margarida. Deolinda Rodrigues, da Família Metodista à Família MPLA, o Papel
da Cultura na Política. Cadernos de Estudos Africanos, 20, p. 11-26, 2010.
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48 Um dos mais significativos sobre as migrações de portugueses para suas colônias na África foi
o desenvolvido por Claudia Castelo (2007), já as transformações de Luanda é analisada por
Fernando Mourão (2006) CASTELO, Cláudia. Passagens para África. O Povoamento de Angola
e Moçambique com Naturais da Metrópole, Porto, Edições Afrontamento, 2007 e MOURÃO,
Fernando Augusto Albuquerque. Continuidades e descontinuidades de um processo colonial através de
uma leitura de Luanda. São Paulo: terceira margem, 2006.
49 Ibidem, p. 137-138)
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50 Ibidem, p. 123
51 UANHENGA XITU. Os discursos do “mestre” tamoda. Luanda, Angola: União dos Escritores
Angolanos, INALD. 1984, p.30.
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52 LOPES DE SÁ, Ana. A confluência do tradicional e do moderno na Obra de Uanhenga Xitu. Luanda:
UEA, 2009.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
Entrevistas
Obras literárias
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Artigos e livros
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Tania Macêdo1
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4 Idem
5 BITTENCOURT, Marcelo; FERREIRA, Roquinaldo. A trajetória de um intelectual africa-
no. Tempo.[On-line] Niterói: UFF, 2006, v. 10, n. 20, p. 164-173.
6 COUTO, Mia. Pensatempos. 2 ed. Lisboa: Caminho, 2005, p. 10.
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12 SAID, Edward W. Representação do Intelectual: As Conferências Reiht de 1993. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2005.p. 16.
13 SANTOS, Milton. O intelectual anônimo. Expresso Vida: São Francisco do Sul. Junho 2001, ano
2, número 73, p. 2.
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Identidade
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19 CHAVES, Rita, CAVACAS, Fernanda, MACEDO, Tania. (Org). Mia Couto: Um convite à
diferença. São Paulo: Humanitas, 2013, p. 141.
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21 LUCKÁCS, Georg. A teoria do romance. Um ensaio histórico-filosófico sobre a grande épica. São
Paulo: Duas Cidades; Editora 34, 2000, p. 223-224.
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22 MBEMBE, Achille. Necropolítica, seguido de Sobre o governo privado indireto. Barcelona: Editorial
Melusina, 2006, p. 21.
23 COUTO, Mia. Pensatempos. 2 ed. Lisboa: Caminho, 2005, p. 59.
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O JORNALISMO, NOVAMENTE
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32 Tradução nossa de: La mondialisation n’affecte donc pas seulement l’économie, ele affecte
aussi le domaine du savoir. Or, contrairement à une idée reçue, cette mondialisation ne date
pas d’hier mais remonte, pour ce qui concerne l’Afrique noire, à l’époque de son intégration
brutale au marché mondial à travers la traite négrière, c’est-à-dire au XVIIe siècle au moins. Et
contrairement à une autre idée reçue, elle n’a pas seulement eu pour effet, dans le Tiers-Monde,
de «moderniser» les économies et autres activités connexes, elle a surtout eu pour effet de les
annexer à celles de l’Occident, donc de les satelliser, de les rendre périphériques. Les structures
de recherche ouvertes ici et là hors des métropoles, et singulièrement en Afrique, n’entraînent
aucune réelle autonomisation, aucune appropriation, aucun apprivoisement effectif de l’activité
scientifique, mais restent des postes périphériques au service de l’accumulation du savoir au centre
du système
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35 Idem, p. 212.
36 Idem, p. 213.
37 Idem, 2009, p. 213.
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38 DIOP, Boubacard Boris. Por os nossos imaginários a dialogar... Site Buala, 2011. http://www.
buala.org/pt/mukanda/por-os-nossos-imaginarios-a-dialogar. Acesso em: 10 de fevereiro de 2016.
39 SAID, Edward W. Representação do Intelectual: As Conferências Reiht de 1993. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2005, p. 42.
40 Nossa tradução para: De modo que encontramos que, al fin y al cabo, hay sólo dos amplias ca-
tegorías de cultura: la cultura que lisonjea y sostiene el poder y la cultura “hereje” que lo critica
y desafía. SOYINKA, 2003.
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41 REIS, Eliana Lourenço de Lima. Os escritores africanos e o Prêmio Nobel. Revista Gragoatá.
Niterói: Universidade Federal Fluminense, número 19, 2005, p. 19.
42 COUTO, 2009, p. 103.
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REFERÊNCIAS
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28 NUNES, Alyxandra Gomes Nunes. Chimamanda Ngozi Adichie: Trajetória intelectual e projeto
literário. Revista Africa, vol.3, n.5, 2016, p. 200.
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40 “[Chika] will find out that it all started at the motor park, when a man drove over a copy of the
Holy Koran that lay on the roadside, a man who happened to be Igbo and Christian. The men
nearby, men who sat around all day playing draughts, men who happened to be Muslim, pulled
him out of his pickup truck, cut his head off with one flash of a machete, and carried it to the
market, asking others to join in; the infidel had desecrated the Holy Book.”
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41 “Chika will learn that as she and the woman are speaking, Hause Muslims are hacking down
Igbo Christians with machetes, clubbing them with stones”
42 “[that] do no happen in a vaccuum, that religion and ethnicity are often politicized because the
ruler is safe if the hungry ruled ar killing one another”.
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43 “’My nipple is burning like pepper,’ the woman says. ‘What?’ ‘My nipple is burning like pepper.’
Before Chika can swallow the bubble of surprise in her throat and say anything, the woman
pulls up her blouse and unhooks the front clasp of a worn black bra. She brings out the money,
ten –and twenty-naira notes, folded inside her bra, before freeing her full breasts[…].”
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44 “She hardly ever lies, but the few times she does, there is always a purpose behind the lie. She
wonders the purpose this lie serves, this need to draw on a fictional past similar to the woman’s”.
45 “The woman’s crying is private, as though she is carrying out a necessary ritual that involves no
one else”.
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46 “It is like the woman’s tears, a private experience, and [Chika] wishes that she could leave the
store. Or that she, too, could pray, could believe in a god, see an omniscient presence in the stale
air of the store”.
47 A questão da religião é recorrente na obra da escritora. Essa temática reverbera também no
romance Purple Hibiscus, pois Adichie queria escrever sobre o assunto, conforme aponta em
entrevista ao Louisianna Channel (“Chimamanda Ngozi Adichie: The right to tell your story”),
em 3/9/2013. Foi educada como católica e com o passar do tempo compreendeu que as pessoas
acabam se tornando rígidas em suas crenças religiosas. No conto “The Shivering” há um encontro
religioso entre as personagens e, desta vez, o acolhimento é através de Padre Patrick, numa igreja
católica, frequentada pela protagonista Ukamaka, em Princeton, nos Estados Unidos, que leva
o amigo nigeriano, protestante e gay, Chineku, para, ali, buscar um pouco de paz diante da sua
condição de imigrante ilegal, em vias de ser deportado.
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Mais tarde, quando Chika desejar não ter ido de taxi com
Nnedi ao mercado apenas para ver um pouquinho da cidade
velha de Kano [...], ela vai também desejar que a filha da
mulher, Halima, tivesse ficado doente, cansada, ou com
preguiça, naquela manhã (p.51).50
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6. A dor do outro que se torna sua: “Mais tarde, ao caminhar para casa,
pegará uma pedra manchada de cobre do sangue seco e segurará o ma-
cabro souvenir em seu peito [...]”.54
52 “Later, when Chika and her aunt go searching throughout Kano, a policeman in the front seat
of her aunt’s air-conditioned car, she will see other bodies, many burned, lying lengthwise along
the sides of the street… She will look at only one of the corpses, naked, stiff, facedown, and it
will strike her that she cannot tell if the partially burned man is Igbo or Hausa, Christian or
Muslim, from looking at that charred flesh. She will listen to BBC radio and hear the accounts
of the deaths and the riots – “religious with undertones of ethnic tension” the voice will say.
And she will fling the radio to the wall and a fierce rage will run through her at how it has all
been packaged and sanitized and made to fit into so few words, all those bodies […]”.
53 “Later, Chika will read in The Guardian that “the reactionary Hausa-speaking Muslim in the
North have a story of violence against non-Muslims, and in the middle of her grief she will stop
to remember that she examined the nipples and experienced the gentleness of a woman who is
Hausa and Muslim”.
54 “Later, as she walks home, she will pick up a stone stained the copper of dried blood and hold
the ghoulish souvenir to her chest…”.
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REFERÊNCIAS
ADICHIE, Chimamanda Ngozie. The Thing around Your Neck. New York:
Anchor Books, 2010.
______. Interview. In: The Chimamanda Ngozie Adichie Website. Disponível
em: <www.13.ulg.ac.be/adichie/cninterview.html> Acesso em:
2/05/2016 e em 27/02/2017.
______. Interview. In <http://hub.jhu.edu/2017/02/09/chimamanda-
adichie-fas-hopkins/> Acesso em: 27/02/2017.
______. Chimamanda Ngozi Adichie, The Thing around Your Neck. Jim Foster:
Conversations on the Coast. In: << https://www.youtube.com/
watch?v=uQJNMtMQ_1g>> Acesso em: 27/02/2017.
______. 2015 Weslesley College Commencement Speaker: Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=RcehZ3CjedU>, Acesso em:
12/05/2016.
______.<http://www.ted.com/talks/chimamanda_adichie_the_danger_
of_a_single_story>. Acesso em: 10/04/2016.
______. BBC News, Programa “Hard Talk”, com Steven Sackur, em 5/6/2014.
______. Sejamos todos feministas. Tradução de Christina Baum. São Paulo:
Swartz, 2014.
______. Channel 4 News. Jon Snow. 10/04/2013.
______. BBC Culture Writer Chimamanda Ngozi Adichie discusses her career
<<https://www.youtube.com/watch?v=NHE_CQOAE98>> Acesso
em: 27/02/2017
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13 LABAN, op. cit,, s.d.(a), v. 2, p. 774; PEPETELA, op. cit, 23 de Nov. de 2008b,: PEPETELA. Op.
01 set. 2008c; HODGES, Tony. Angola. Do Afro-Estalinismo ao Capitalismo Selvagem. Cascais:
Principia, 2003, p. 79; VIDAL, Nuno. The Angolan Regime and the Move to Multiparty Politics
In: CHABAL, Patrick & VIDAL, Nuno (Edit). Angola. Tem Wright of History. London: Hurst
& Company. 2007. p. 124-174, p. 141.
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39 PINTO, Marcelo Bittencourt Ivair. “Estamos juntos!” O MPLA e a luta anticolonial (1961-1974). Lu-
anda: Kilombelombe, 2008, p. 339; SCHUBERT, 1999, p. 408-9; PEPETELA, 2008a, p. 136.
40 PEPETELA. Predadores. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2008a. p. 36, 73-5, 87, 136, 162, 164, 167,
171.
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41 PEPETELA,1985, p. 46-9, 21, 45-7, 131-8; Id., 1995 p. 9; PEPETELA, 2017a; SANTOS, A., 1984,
p. 15, 14, 18; AFRICA, 1986, p. 37.
42 PEPETELA, 1985, p. 48.
43 PEPETELA, 1985, p. 48, 20-1, 46; AFRICA, 1986, p. 35; RUI, 1984, p. 21; KORWIN-KOWA-
LEWSKA, s.n.t. p. 8; SANTOS, A.,1984, p. 17.
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44 PEPETELA1985, p. 46-9.
45 PEPETELA. Mayombe. São Paulo: Ática, 1982, p. 83; LARA, 1978, p. XIII.
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46 PEPETELA, 1985, p. 12, 24, 44, 113-5; LABAN, s.d.(a), p. 176; MATA, 1990, p.8.
47 PEPETELA, 1985, p. 44, 108, 112, 115, 144; PEPETELA, 2008a, p. 154; MATA, 1990, p. 8;
PERES, 1979, p. 2; MELO, 1985, p. 46; EXPRESS INTERNACIONAL, 7/11/1981, p. v. ;
LABAN, s.d.(a), p. 176; SOMERVILLE,1986, p. 60-1; EXPRESSO, 10/9/1983, p. 34.
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54 BAYART, ELIS, HIBOU, 1997, p. 19-22; BAYART, 1997, p. 9; PEPETELA, 1985, p. 13, 19-20,
23, 81-2, 84, 115, 151; Id., 1995, p. 12-3;Id. , 2008a, p. 145, 168-171; EXPRESSO, 10/9/1983,
p. 32 e 34; EXPRESS INTERNACIONAL, 7/11/1981, p. V; nte poCHABAL & DALOZ, 1999,
p.6-7.
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2009, p. 43-4.
62 JOURDE, 2009, p. 44, . 47; CHABAL&DALOZ, 1999, p.xix, 1.
63 BAYART, Jean-François. Présentation. In: BAYART, Jean-François, ELLIS, Stephen; HIBOU,
Béatrice. La criminalisation de l’ État em Afrique. Bruxelas: Éditions Complexe, 1997, p. 21-2;
LUHMANN, 1999, p.131 apud ANTUNES, 2009, p. 16, ANTUNES, 2009, p. 18.
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64 WHEELER & PELISSIER, 2009, p. 383; MESSIANT, 2007, p. 97; HODGES, 2003, p. 83.
65 PEPETELA. O Desejo de Kianda. Lisboa, Dom Quixote, 1995, p. 20-1, 26, 23-5.
66 PEPETELA. Predadores. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2008, p. 15-16; GABIZO & THIRIOT,
2009, p. 24.
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74 O funge é uma massa cozida feita de farinha de milho, enquanto cabidela significa um frango
cozido com o seu sangue. Na kisaka, usa-se de folha de mandioca refogada com dendê e amen-
doim.
75 PEPETELA. Predadores. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2008a, p. 88, 92; HODGES, 2003, p. 65;
LANÇA, 2010.
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9 CASTANHEIRA, Quem mandou matar Amílcar Cabral?; TOMÁS, O fazedor de utopias, p. 265–285.
10 Nos meios acadêmicos, o reconhecimento da importância do pensamento de Cabral no contexto
do nacionalismo africano ocorreu, principalmente, após seu desaparecimento. No prestigioso
Journal of Modern African Studies, por exemplo, apenas um trabalho foi publicado enquanto Cabral
vivia: CHILCOTE, Ronald H., The political thought of Amílcar Cabral, The Journal of Modern
African Studies, v. 6, n. 3, p. 373–388, 1968. O artigo, aliás, começa por apresentá-lo como “um
intelectual revolucionário pouco conhecido”. Após sua morte, o interesse parece ter-se ampliado
significativamente. Ver BLACKEY, Robert, Fanon and Cabral: a contrast in theories of revolution
for Africa, The Journal of Modern African Studies, v. 12, n. 2, p. 191–209, 1974; BIENEN, Henry,
State and revolution: the work of Amílcar Cabral, The Journal of Modern African Studies, v. 15,
n. 4, p. 555–568, 1977; e CHABAL, Patrick, The social and political thought of Amílcar Cabral:
a reassessment, The Journal of Modern African Studies, v. 19, n. 1, p. 31–56, 1981.
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11 Um exemplo entre muitos: “as grandes unidades étnicas estão unidas por características culturais
que também as distinguem nitidamente de grupos vizinhos. (...) O exclusivismo étnico proporciona
uma base prévia para movimentos políticos separatistas. (…) Ademais, torna-se difícil estimular
lealdades étnicas sem implicar a aceitação de valores tribais como o nepotismo. A eficiência de
qualquer organização moderna tende a ser debilitada se as colocações são atribuídas com base
na afiliação étnica em vez da capacidade” LLOYD, Peter Cutt, Africa in social change: changing
traditional societies in the modern world, Harmondsworth: Penguin, 1967, p. 302. Questionamen-
tos sobre a relação mecânica entre características culturais, etnicidade e comportamento político
começaram a surgir ainda na década de 1960, mas demoraram a ser ouvidos pelo público mais
amplo: MERCIER, Paul, On the meaning of “tribalism” in Black Africa, in: VAN DEN BERGHE,
Pierre L. (Org.), Africa: social problems of change and conflict, San Francisco: Chandler, 1965,
p. 483–501; APTHORPE, Raymond, Does Tribalism really matter?, Transition, n. 37, p. 18–22,
1968; MAFEJE, Archie, The ideology of “tribalism”, The Journal of Modern African Studies,
v. 9, n. 2, p. 253–261, 1971.
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34 Ibid., v. 7, p. 5-6.
35 Ibid., v. 7, p. 6.
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38 CABRAL, Cabral ka muri, v. 10, p. 15. A posição de Cabral sobre a característica colonial das
chefias “tradicionais” africanas, e seu caráter de classe, aproxima-o de Ahmed Sékou Touré. Depois
de deposto por um golpe de Estado em 1965, Kwame Nkrumah também viria a concordar com
essa posição.
39 CABRAL, Textos, v. 1, p. 19.
40 CABRAL, Cabral ka muri, v. 18, p. 4.
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41 Ibid., v. 18, p. 13. O relatório de 1966 parece deixar claro que, longe de querer erigir os “chefes
tradicionais” em inimigos do nacionalismo per se, o objetivo de Cabral era constrangê-los a apoiar,
ou pelo menos a não atrapalhar, as atividades militares e de logística do PAIGC no terreno
42 Ibid., v. 18, p. 30; os relatórios de 1966 e 1968 citados foram publicados juntos em CABRAL,
Obras escolhidas, v. 2, p. 45–60.
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DA ETNIA À NAÇÃO
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ção, nem por isso as etnias devem ser preservadas tais como se
verificam no presente. Antes, o que Amílcar Cabral parece propor
é a engenharia de uma dimensão nacional da cultura. A meta po-
lítica de trazer à luz uma consciência nacional envolve, segundo
ele, um trabalho seletivo sobre as culturas (étnicas) existentes no
território da colônia, que serão usadas como matérias-primas. Uma
seleção racional e conscientemente dirigida, de modo a proteger
os conteúdos “positivos” (como sinônimo de “progressivos”) das
culturas base e generalizá-los:
Na apreciação do papel da cultura no movimento de liberta-
ção, é conveniente não esquecer que a cultura, como resultante e
determinante da história, comporta elementos essenciais e secun-
dários, forças e fraquezas, aspectos positivos e negativos, factores
de progresso ou mesmo de regressão — em suma, contradições
e mesmo conflitos. Seja qual for a complexidade desse panorama
cultural, o movimento de libertação tem necessidade de nele lo-
calizar e definir os dados contraditórios para preservar os valores
positivos, efectuar a confluência desses valores no sentido da luta
e no âmbito de uma nova dimensão — a dimensão nacional.50
Essa “confluência” é invocada de forma a impulsionar o pro-
gresso, assim como a luta anticolonial — como o caminho para o
progresso. É também um procedimento necessário para reconciliar
o anticolonialismo (em última instância uma negação das alegações
civilizacionais da filosofia da história ocidental) e o Estado-Nação
(a forma clássica e ideal do corpo político para a filosofia política
deste mesmo ocidente). A necessidade da correlata noção ocidental
de racionalidade é, dessa maneira igualmente, proclamada: a ra-
zão moderna é chamada a julgar cada uma das práticas culturais e
decidir seu destino futuro integrando a cultura nacional ou sendo
atirada à lata de lixo da história. Se a “unidade política e moral das
categorias sociais” que comporiam afinal o povo da nova nação
tinha de ser forjada através das fronteiras étnicas existentes, era
necessário extinguir progressivamente os “vestígios da mentali-
50 CABRAL, Cabral ka muri, v. 10, p. 20–21.
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54 Esse princípio de política cultural sobreviveu a Amílcar Cabral e manteve-se enquanto o PAIGC
conservou o estatuto de partido único, conduzindo a uma forte “integração nacional por baixo”,
apesar da persistência de tensões políticas que recorrem a dimensões étnicas, conforme KOHL,
Christoph, Integração nacional “por baixo”: a contribuição do associativismo em Guiné-Bissau,
Revista Anthropológicas, v. 22, n. 2, 2013.
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DOCUMENTAÇÃO
Portugal, Casa Comum (PT CC)
Arquivo Amílcar Cabral
http://casacomum.org/cc/arquivos?set=e_2617
REFERÊNCIAS
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Muryatan S. Barbosa1
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2 GUIMARÃES, Antonio Sérgio. A recepção de Fanon no Brasil e a identidade negra. Novos estudos
CEBRAP. São Paulo no. 81, Julho de 2008; SILVA, Mário Augusto Medeiros da. Frantz Fanon e
o ativismo político-cultural negro no Brasil: 1960/1980. Estudos históricos. Rio Janeiro, vol.26, no.
52, Jul/Dez, 2013.
3 Este ensaio foi escrito visando uma breve contribuição a este debate atual. Portanto, ele não se
debruçará sobre questões gerais que justificariam a importância do seu pensamento de um modo
geral. Sobre isto há farta bibliografia internacional que o leitor poderá pesquisar. Em português,
também, já possuímos alguns textos sobre o assunto, que vem sendo renovado com a contribui-
ção de pesquisadores, como Thiago Sapede (Racismo e dominação Psíquica em Frantz Fanon.
Sankofa, v. 4, n. 8 (2011); Deivison Mendes Faustino (Colonialismo, racismo e luta de classes: a
atualidade de Frantz Fanon. In: Anais do V Simpósio Internacional Lutas Sociais na América Latina
“Revoluções nas Américas: passado, presente e futuro, 10 a 13/09/2013. No site: http://www.
uel.br/grupo-pesquisa/gepal/v16_deivison_GI.pdf; visitado em 10/05/2016); Walter Günther
Rodrigues Lippold. O pensamento anticolonial de Frantz Fanon e a Guerra de Independência
da Argélia. Monographia, Porto Alegre, n. 1, 2005.
4 Tipologia inspirada em Lewis GORDON (2015: 3-4).
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5 FANON, Frantz. Os condenados da terra. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2005, p. 278. Em verdade,
esta passagem faz parte de um texto de 1958, que foi a comunicação (Fundamentos recíprocos da
cultura nacional e das lutas de libertação) do autor ao II Congresso dos Escritores e Artistas Negros,
em Roma.
6 CÉSAIRE, Aimé. Culture and colonization. Présence Africaine. Nos. 8,9,10. Jun./Nov, 1956.
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8 FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008, p. 26.
9 GORDON, Lewis. Prefácio. In: Pele negra, máscaras brancas. Salvador: EDUFBA, 2008, p. 16.
10 Frantz Fanon. op. cit. 2008, p. 28.
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11 AIMÉ CESAIRÉ. Carta aberta à Maurice Thorez.Também em 1956, e talvez não por acaso, é o
livro clássico de George Padmore, importante líder pan-africanista da época: “Comunismo ou
pan-africanismo?”.
12 Neste sentido, como recorda Deivison M. Faustino (2015), vale citar a constatação do próprio
Fanon à época (1952), na conclusão de Pele Negra, máscaras brancas:
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27 Em inglês:
The Algerian Revolution does of course restore its rights to national existence. It does of course
testify to the people’s will. But the interest and the value of our Revolution reside in the message
of which it is the bearer.
The truly monstrous practices that have appeared since November 1, 1954, are surprising espe-
cially because of the extent to which they have become generalized ... In reality, the attitude of
the French troops in Algeria fits into a pattern of police domination, of systematic racism, of
dehumanization rationally pursued. Torture is inherent in the whole colonialist configuration.
(FANON, F. op. cit., 1994, p. 64).
28 O termo utilizado por Fanon em francês é “ensemble colonialiste”. Mantivemos o termo “con-
figuração colonialista”, utilizado pelo tradutor da versão inglesa de 1994 (Haakon Chevalier),
por acharmos que ele traduz bem este sentido original, em francês. Segue a citação original em
francês:
Les pratiques authentiquement monstrueuses qui sont apparues depuis le 1er novembre 1954
étonnent surtout par leur généralisation... En réalité, l’attitude des troupes françaises en Algérie
se situe dans une structure de domination policière, de racisme systématique, de déshumanisation
poursuivie de façon rationnelle. La torture est inhérente à l’ensemble colonialiste. (FANON, F.
Pour la révolution africaine, 2001, p. 74-75.).
29 Em nossa opinião, a tradutora da edição portuguesa da obra (Em defesa da Revolução africana,
1980), Isabel Pascoal, errou ao caracterizar o termo “ensemble colonialiste” por “todo colonialista”,
conforme pode-se observar abaixo:
[...] A tortura é inerente ao todo colonialista.
A Revolução Argelina, propondo-se a libertação do território nacional, visa não somente a
morte deste conjunto, como a elaboração de uma nova sociedade (...) (FANON, F. Em defesa da
revolução africana, 1980, p. 71).
Ao fazê-lo desta forma, inclusive, ela não captou a riqueza da frase seguinte, em que Fanon diz
que o objetivo da revolução argelina não seria apenas promover a independência. Para ele, não se
trata, tão somente, de destruir o “todo colonialista”. Trata-se de destruir à estrutura colonialista
– a configuração colonialista - que se consolida com o colonialismo, mas que continua a existir
para além dele.
Em inglês:
The Algerian Revolution, by proposing the liberation of the national territory, is aimed both at
the death of this configuration and at the creation of a new society. The independence of Algeria
is not only the end of colonialism, but the disappearance, in this part of the world, of a gangrene
germ and of a source of epidemic. (FANON, F. op. cit., 1994, p. 64).
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DESCOLONIZANDO
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do pós-Guerra não tinha as mesmas facilidades. Ademais, o exemplo vitorioso do Vietnã (1954),
China (1949) e Cuba (1959) era muito forte, mostrando que a alternativa socialista era possível.
Para estes, não se tratava mais, “tão somente”, de conquistar as independências nacionais, mas
de construir uma alternativa civilizacional, que em geral era visto como uma construção própria
do socialismo. Daí a famosa frase de Fanon, em sua comunicação ao II Congresso dos Escritores
e Artistas Negros: “No interior de uma relativa opacidade, cada geração deve descobrir a sua
missão, cumpri-la ou traí-la”. FANON, Frantz. op. cit., 2005, p. 239.
35 Supondo que Fanon tenha participado da edição do livro.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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PALAVRAS FINAIS
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AS INFLUÊNCIAS EXTERNAS
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1 NGOENHA, Severino Elias. Das Independências às liberdades: filosofia africana. Prior Velho.
Edições Paulinas, 2014.
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AS ATUAÇÕES INTERNAS
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6 BA, Amadou Hampâté. Tradição Viva In. História geral da África, I: Metodologia e pré-história da
África / editado por Joseph Ki -Zerbo. – 2.ed. rev. – Brasília: UNESCO, 2010. _____. Amkoullel,
o menino fula. São Paulo: Palas Athena: Acervo África, 2013.
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AUTORES
Divanize Carbonieri
Doutora em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês pela Universida-
de de São Paulo e professora-adjunta do Departamento de Letras e do
Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem da Universidade
Federal de Mato Grosso. É autora de A compensação da imobilidade
em Nuruddin Farah (EdUFMT, 2013), sendo uma das organizadoras de
Práticas de multiletramentos e letramento crítico: novos sentidos para
a sala de aula de línguas (Pontes, 2016), Estudos sobre gênero: identida-
des, discurso e educação. Homenagem a João W. Nery (Pontes, 2017) e
Perspectivas críticas no ensino de línguas: novos sentidos para a escola
(Pontes, 2017).
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Renato Noguera
Professor do Departamento de Educação e Sociedade (DES), do Progra-
ma de Pós-Graduação em Filosofia, do Programa de Pós-Graduação em
Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares (PPGEduc)
e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFil) da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), pesquisador do Laboratório de
Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Leafro), e, do Laboratório Práxis
Filosófica de Análise e Produção de Recursos Didáticos e Paradidáticos
para o Ensino de Filosofia (Práxis Filosófica) da UFRRJ, Noguera coordena
o Grupo de Pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Interseções (Afrosin),
doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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1 Possui graduação em História pela Universidade de São Paulo, mestrado e doutorado em História
Social também pela Universidade de São Paulo. É autora do livro Homens de Ferro. Os ferreiros na
África central no século XIX (Alameda /FAPESP, 2011) e co-autora do livro África em Artes (São
Paulo: Museu Afro Brasil, 2015).
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