Enseaprenzmusicalemprojetossociais SOUSA 2023
Enseaprenzmusicalemprojetossociais SOUSA 2023
Enseaprenzmusicalemprojetossociais SOUSA 2023
Natal – RN
2023
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE- UFRN
ESCOLA DE MÚSICA
Orientador:
Professor Doutor Vinícius Eufrásio
Natal – RN
2023
Catalogação de Publicação na Fonte
Biblioteca Setorial Pe. Jaime Diniz - Escola de Música da UFRN
Dedico este trabalho à minha mãe, uma figura inspiradora de força e perseverança. Ela
dedicou-se incansavelmente para me garantir a melhor educação possível, superando inúmeras
adversidades. Embora separadas por distância física, sua presença manifestou-se de forma
ininterrupta, sendo minha inigualável fonte de encorajamento e meu pilar inabalável. Nos
momentos de fragilidade, sua orientação e apoio foram indispensáveis para que eu retomasse o
caminho que percorri até aqui.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, expresso minha gratidão a Deus pelas inúmeras bênçãos que Ele tem concedido
em minha vida.
A minha amada família, incluindo minha mãe, Maria Missilene, meus irmãos Marlley, Josué e
Matheus, minha avó Lúcia Souza e meu avô Deassis Bernardo, por seu constante apoio e
encorajamento ao longo de todos esses anos.
A meu noivo, Àllex Brendo, que esteve ao meu lado durante esses intensos dias de estudo e
trabalho árduo. Sua presença foi fundamental, fornecendo apoio emocional e ajudando-me em
tudo que necessitei. Sua dedicação e compreensão foram pilares essenciais para minha jornada.
Aos meus amigos e colegas de trabalho por cada palavra de incentivo.
Aos professores que fizeram parte da minha trajetória musical. Em particular, gostaria de
agradecer ao professor Leandro Oliveira, por me introduzir no mundo da música, ao meu ex-
professor de viola, professor Paulo França, e ao professor Anderson Oliveira, pela paciência e
dedicação em compartilhar seus conhecimentos durante os anos de estudo na EMUFRN.
Ao orientador Dr. Vinícius Eufrásio, expresso minha profunda gratidão pela parceria e tempo
dedicado ao meu trabalho. Sua orientação e expertise foram fundamentais para despertar em
mim um maior entendimento e paixão pelo tema estudado. Agradeço sinceramente por sua
disponibilidade, paciência e comprometimento, pois contribuíram de maneira significativa para
o desenvolvimento deste trabalho.
Em memória de minha amada avó paterna, Iracema, carinhosamente conhecida como Neneda,
expresso uma menção honrosa. Mesmo que ela não esteja mais presente fisicamente, sua
influência e amor deixaram uma marca indelével em minha vida.
Por fim, expresso minha sincera gratidão à minha terapeuta, cuja ajuda foi fundamental para a
compreensão dos meus processos internos. Agradeço por seu profissionalismo, empatia e
dedicação ao meu bem-estar e desenvolvimento pessoal.
.
A educação exige os maiores cuidados,
porque influi sobre toda a vida...
Sêneca
RESUMO
This study addresses the processes of teaching and learning music in social projects located in
the region of Alto Oeste Potiguar, in the state of Rio Grande do Norte. The main objective is to
analyse the musical practices developed in the active projects of this region, identify the
challenges faced in teaching music in this context and understand the teaching-learning
processes involved. Methodologically, the research started with a bibliographical review
around the role of music education in social contexts, involved a mapping and identification of
the active social projects in the region, followed by the application of two methods of data
collection: 1) semi-structured interviews; 2) questionnaires elaborated and sent through digital
forms. The research involved the participation of fourteen teachers whose responses provided
data that revealed essential aspects related to the teaching and learning of music in the context
of social projects within the geographical area covered. The results obtained allow us to
highlight the importance of these projects as agents of transformation in communities,
providing learning opportunities and development for children and young people, playing an
important role in promoting music education.
Figura 1: Mapa do Rio Grande do Norte com destaque na região do Alto Oeste .................... 26
Figura 2: Público do Concerto de encerramento do encontro de bandas realizado em 2020 ... 33
Figura 3: Banda Dr Vicente Fernandes Lopes no 1º Encontro Interestadual de bandas em Luís
Gomes ....................................................................................................................................... 34
Figura 4: Concerto de encerramento do II Encontro de 2019 ................................................. 34
Figura 5: Registro do concerto de encerramento do Projeto Sinos .......................................... 35
Figura 6: Camerata Jovem e Orquestra do Festival Harmonia Jovem de 2009 no Teatro Dix-
Huit Rosado .............................................................................................................................. 37
Figura 7: Camerata Jovem e Orquestra D’Amore da Atitude Cooperação em 2021 no Auditório
da EMUFRN ............................................................................................................................. 37
Figura 8: Cartaz do concerto canções sertanejas realizado em 29 de mar. de 2023 ................. 38
Figura 9: Apresentação da Banda 10 de Maio no encerramento das atividades da FUNPREV
em 2021 .................................................................................................................................... 39
Figura 10: Maestro Batista e Banda Dr Vicente Fernandes Lopes........................................... 41
Figura 11: Nova formação da Banda Dr Vicente Fernandes Lopes em seu aniversário de 61
anos ........................................................................................................................................... 42
Figura 12: Orquestra Filarmônica Pauferrense no V Concerto Oficial “Especial Solistas” em
2019 .......................................................................................................................................... 43
Figura 13: Orquestra Filarmônica Francisco Lopes em desfile cívico de 7 de setembro ......... 45
Figura 14: Apresentação dos alunos do curso de Musicalização Infantil no CMEI - São
Francisco das Chagas em Luís Gomes-RN .............................................................................. 47
Figura 15: Turma de Violão Popular ........................................................................................ 48
Figura 16: Apresentação da Camerata Harmonia ..................................................................... 48
LISTA DE QUADROS
LISTA DE GRÁFICOS
INTRODUÇÃO........................................................................................................................15
INTRODUÇÃO
terceiro e último capítulo discute os resultados obtidos por meio dos formulários digitais
aplicados ao grupo de professores responsáveis pela coordenação dos projetos previamente
mapeados. Este capítulo foi dividido em seis sub tópicos, abrangendo a análise dos perfis dos
participantes, os desafios e metodologias do contexto de ensino, dados dos projetos,
engajamento dos alunos, taxas de evasão e formação acadêmica.
Nas considerações finais recapitulamos os principais pontos e reflexões da pesquisa,
enfatizando a importância da educação musical em contextos sociais, destacando, também, os
desafios enfrentados pelos professores, a diversidade de referências e materiais utilizados no
ensino, o engajamento dos alunos e a necessidade de investimento e políticas públicas. Além
disso, ressaltamos a necessidade de realizar mais estudos e análises, especialmente
considerando a perspectiva dos alunos, visando obter uma compreensão mais abrangente e
aprofundada desses projetos. Esses caminhos sugerem a obtenção de mais dados e
direcionamentos para futuras pesquisas que contribuam para a melhoria dessas iniciativas
educacionais.
18
1
Nesse sentido, 14,6% da população brasileira em 2021, em torno de 31,0 milhões de pessoas, viviam com até o
valor de ¼ de salário mínimo per capita mensal (R$ 275) e 34,4%, aproximadamente 73,1 milhões de pessoas,
com até ½ salário mínimo per capita (cerca de R$ 550). Nas Regiões Nordeste e Norte 54,3% e 51,2% da
população, respectivamente, viviam com até ½ salário mínimo de renda mensal, enquanto na Região Sul somente
17,8%. Enquanto 3,3% da população (7,0 milhões de pessoas) tinham rendimento per capita superior a cinco
salários mínimos (R$ 5 500). (IBGE; PNAD, 2012/2021, p.55)
2
Em um estudo realizado por Carvalho e Benvenuto na Universidade Federal do Ceará (UFC) em 2014, foi
exposto que os estudantes da referida universidade advêm desses diversos contextos sociais (CARVALHO;
BENVENUTO, 2014, p. 02).
19
contextos. É apresentada uma análise comparativa entre duas realidades distintas. A primeira
delas é um cenário em que as pessoas não possuem conhecimento acerca da notação musical
escrita convencional. Nesse contexto, a autora destaca que o aprendizado musical ocorre de
maneira empírica, já nas primeiras experiências de vida em momentos onde as crianças têm a
oportunidade de observar ou realizar uma prática ativa em manifestações musicais cotidianas.
Adicionalmente, a autora destaca que a repetição é uma prática indispensável, onde a tradição
precisa ser internalizada na memória, nos gestos e no corpo de cada indivíduo dentro da
comunidade (HIKIJII, 2006, p. 116).
Na análise do segundo contexto do qual a sociedade possui escrita musical, a autora
discute a importância do papel que a partitura desempenha, mas ressalta que esse recurso dentro
do processo de aprendizagem musical é apenas um dos aspectos relevantes a serem
considerados. Ao observar as aulas no projeto Guri a autora identificou a presença do caráter
oral e mimético na transmissão de conhecimento inerente ao aprendizado de instrumento.
Chegando a conclusão de que o fato de existirem partituras não implica que o conhecimento
musical esteja restrito a esta modalidade e ainda enfatiza que "a partitura pode preservar um
repertório, mas o conhecimento musical vai além da notação ou da sua leitura" (HIKIJII, 2006,
p. 116) e para reforçar seu argumento aponta uma citação de Bruno Nettl (1983) da qual diz
que:
Ainda não é possível aprender um sistema musical apenas por meio da
notação, sem ouvi-lo. O aprendizado musical é, em grande parte, uma
experiência intensa de relação entre estudante e professor. A identidade, o
papel social e a proximidade do professor de música são componentes
importantes de um sistema sócio emocional (NETTL, 1983, p.329 apud
HIKIJII , 2006, p.117).
Falar sobre o ensino em projeto social é crucial para evidenciar a importância de uma
abordagem pedagógico-musical adequada. Diferentemente do ensino de música em escolas
particulares ou conservatórios, o trabalho em projetos sociais apresenta desafios específicos que
exigem habilidades e competências diferenciadas dos professores, pois, em grande parte das
vezes, prática musical possui uma função secundária em relação aos benefícios que o projeto
como um todo pode proporcionar a vida dos seus participantes. Então o que se espera do
educador musical que atua neste tipo de contexto?
No âmbito de processos educativos em geral e, especialmente, aqueles de cunho social,
é preciso que o educador tenha muito mais do que conhecimento teórico-musical para lidar com
as peculiaridades exigidas pelos contextos (MULLER, 2004; PENNA, 2007; SOUZA, 2004;
CORUSSE; JOLY, 2014) que, em muitos casos, podem estar associados a questões de
vulnerabilidade. É preciso que o educador, ao se envolver nestes ambientes educativos,
desenvolva competências relacionadas ao comprometimento e à sensibilidade. Neste sentido
podemos compreender: 1) Compromisso se faz necessário para que o educador possa agir com
responsabilidade, promovendo um equilíbrio entre a prática docente e os conhecimentos
musicais, pois, assim, os objetivos das aulas poderão caminhar de acordo com as propostas
gerais do projeto. Sendo assim, é importante ressaltar que “do mesmo modo que o educador
musical [...] precede de determinados conceitos para sua formação, também a prática em
projetos sociais apresentada requer um zelo em relação aos saberes a serem desenvolvidos pelo
docente em sua graduação” (JOLY; CORUSSE, p. 54); 2) Sensibilidade para reconhecer a
singularidade dos educandos e sua realidade, de modo a compreendermos que se trata
24
indivíduos únicos e diversos em termos socioculturais, e que estão lidando com a complexidade
da vida humana (SOUZA, 2004, p.10).
Essa compreensão pode ser alcançada através de uma observação atenta e reflexiva,
ferramenta valiosa para ampliação de horizontes e promoção de uma abordagem mais crítica
da realidade educacional. Com base na perspectiva de Weber (1984), Carlos Kater enfatiza a
importância da observação como meio de identificar abismos nos lugares comuns. Isso permite
a libertação de padrões que frequentemente intermedeiam nossa relação com as coisas do
mundo, proporcionando uma visão mais autêntica e menos filtrada da profissão, cultura e
relações (KATER, 2004, p. 44). Através dessa abordagem, é possível enxergar, além das
convenções e dos estereótipos, o que pode levar a uma compreensão mais profunda e
significativa das coisas.
Quanto ao reconhecimento da diversidade cultural, a autora Magali Kleber (2011)
propõe a inserção de uma proposta socioeducativa em tais espaços, com a finalidade de garantir
o reconhecimento da diversidade cultural e suas distintas modalidades de conhecimento. Esse
procedimento é capaz de contribuir para a construção e valorização dos grupos sociais, bem
como para sua inserção nos processos políticos, que por alguns são marginalizados,
evidenciando a problemática da exclusão sociocultural.
O reconhecimento da nossa realidade, tanto em termos culturais quanto estruturais, nos
permitirá conquistar um espaço que historicamente nos foi negado e a lutar contra os padrões
culturais eurocêntricos e norte-americanos que influenciam a trajetória da educação musical.
Ao valorizarmos nossa diversidade cultural e promovermos uma educação musical mais
inclusiva e participativa, podemos romper com esses padrões e construir uma identidade
musical mais autêntica e representativa das nossas raízes e tradições (BRITO, 2012, p. 107).
Dos aspectos metodológicos, Gainza (1997) destaca que a abordagem metodológica na
educação musical requer uma clara definição dos objetivos e métodos a serem adotados no
processo educacional. É importante estabelecer metas claras, para que o processo educativo seja
eficaz e atinja resultados satisfatórios. Isso significa que a metodologia adotada deve ser
cuidadosamente planejada e adequada às necessidades e características dos alunos, levando em
consideração fatores como idade, habilidades musicais prévias e interesses individuais. Dessa
forma, é possível garantir uma educação musical de qualidade, que possa contribuir para o
desenvolvimento integral dos alunos (GAINZA, p. 11, 1997, apud CORUSSE e JOLY, 2014).
Diante de uma realidade tão complexa, surge um questionamento: como atender a tantos
requisitos se há uma lacuna na formação de educadores para atuarem nesse contexto? Muller
25
(2004), em seu artigo “Ações sociais em educação musical: com que ética, para qual mundo?”,
expressa preocupação quanto à formação de professores.
Kater (2004), por sua vez, suscita a problemática referente à ausência de programas de
formação profissional para educadores musicais, que forneçam competências aos educandos
para atuarem em projetos de ação social. Além disso, o autor destaca a relevância de tais
programas manterem um diálogo interdisciplinar com as áreas de conhecimento afins, como a
psicologia, pedagogia, sociologia e serviço social. Nesse sentido, a integração dessas áreas ao
ensino com a música revela-se crucial para uma formação completa e humanizadora dos
educadores musicais, uma vez que pode proporcionar uma compreensão mais ampla dos
processos educativos, bem como das relações sociais e culturais que estão inerentes ao ensino
da música (KATER, 2004, p. 44).
A educação musical, em relação à profissão do educador musical, reflete as
transformações do mundo e as diferentes definições de sua função nas diversas sociedades
(KATER, 2004, p. 44). Portanto, não é possível desvinculá-la de um contexto tão rico e diverso,
em especial quando falamos em uma prática vinculada a uma ação social. A prática da educação
musical não é algo engessado, mas sim fluido e capaz de moldar-se a diferentes contextos da
nossa realidade. Um educador musical que possui essa visão pode alcançar uma forma eficaz
de transmissão de conhecimento que envolve tanto aspectos técnicos e teóricos como também
aspectos subjetivos3.
Por fim, é necessário compreender a complexidade do ensino da música em projetos
sociais, onde muitos alunos enfrentam dificuldades econômicas e sociais, e onde o professor
precisa adaptar suas metodologias para atender às necessidades individuais de cada aluno. Além
disso, o trabalho em equipe, o desenvolvimento social e humano dos alunos, e a democratização
do acesso à música são objetivos que devem ser considerados na prática do professor em
projetos sociais.
3
“Nesse sentido, entre as funções da educação musical teríamos a de favorecer modalidades de compreensão e
consciência de dimensões superiores de si e do mundo, de aspectos muitas vezes pouco acessíveis no cotidiano,
estimulando uma visão mais autêntica e criativa da realidade.” (KATER, 2004, p. 44)
26
O presente trabalho tem como recorte geográfico o Alto-Oeste Potiguar, região sertaneja
do estado do Rio Grande do Norte, composta por 30 municípios4, situados na ampla localidade
que, pelo discurso regionalista, pode ser identificada como “tromba do elefante”, cerca de 454
km da capital do estado Natal/RN (ver Figura 1).
Figura 1: Mapa do Rio Grande do Norte com destaque na região do Alto Oeste
4
Água Nova, Alexandria, Almino Afonso, Antônio Martins, Coronel João Pessoa, Doutor Severiano, Encanto,
Francisco Dantas, Frutuoso Gomes, João Dias, José da Penha, Luís Gomes, Lucrécia, Major Sales, Marcelino
Vieira, Martins, Pau dos Ferros, Paraná, Pilões, Portalegre, Rafael Fernandes, Riacho da Cruz, Riacho de Santana,
São Francisco do Oeste, São Miguel, Serrinha dos Pintos, Tenente Ananias, Taboleiro Grande, Venha-Ver e
Viçosa.
5
Em Major Sales, grupos de caboclos organizados se destacam por sua estrutura musical composta por sanfona,
zabumba, triângulo e pandeiro. A dança é realizada em roda, com vinte e seis brincantes executando passos
característicos, enquanto o Judas ocupa o centro e é alvo de pisoteio e agressões com bastões. Os dançarinos
emitem sons guturais e seus sapateados contribuem para a percussão. As vestimentas, confeccionadas em mutirão,
são compostas por trapos multicoloridos e máscaras, criando um impacto visual marcante. A brincadeira tem início
na semana santa, com cortejos pelas ruas, sítios e terreiros, culminando no Festival de Caboclos, evento realizado
27
se manifesta por meio de cantos e orações durante as festas de padroeiro e nas celebrações
religiosas.
A música, por sua vez, tem ocupado lugar de destaque como uma das principais formas
de expressão artística, contendo uma variedade de gêneros e estilos que demonstram a
diversidade cultural da região. No que diz respeito à música popular, há uma grande variedade
de grupos e artistas que por ali atuam. Os rabequeiros, seresteiros e sanfoneiros são outros
exemplos expressivos. O Alto-Oeste Potiguar também é conhecido pelas bandas municipais de
forró, que se apresentam em festas e eventos em todo o estado.
A região também conta com uma grande variedade de projetos sociais relacionados à
música e que alcançam cerca de 90% dos seus municípios. Dentre estes, todos contêm projetos
de bandas de música, bem como outras atividades musicais (ver Quadro 1). O ensino de cordas
friccionadas pode ser identificado em 4% (ver Quadro 2) dos municípios; a musicalização
infantil em 1% (ver Quadro 3); o ensino de flauta doce, em 2% (ver Quadro 3); o ensino de
sanfona em 1% (ver Quadro 3); e, por fim, projeto que envolvem a prática com violão em 2%
(ver Quadro 3). No total, existem quarenta e dois projetos sociais que contemplam música ativos
na região, atendendo aproximadamente oitocentos e vintes e quatro crianças, jovens e adultos
da região, proporcionando, a este público, a oportunidade de receber educação musical gratuita.
Os dados mencionados aqui neste capítulo, foram coletados por meio de uma pesquisa
em redes sociais, sites e contatos com profissionais atuantes no campo da música na região em
questão. É de relevância destacar que essa fase do estudo contou com a valiosa colaboração do
Professor Maestro Wanderson Lucas, o qual disponibilizou uma relação da UNIBAM/RN6 com
todas as bandas da localidade. Com base nessa lista e nas informações coletadas na internet, foi
realizada uma filtragem e atualização do status dos projetos.
É importante ressaltar algumas informações relevantes para a visualização das tabelas
apresentadas. Alguns projetos estão identificados com a sigla "SN" (sem nome), e essa
designação foi atribuída com base em dois motivos distintos. Em primeiro lugar, alguns projetos
não possuem um nome especificado, o que pode ocorrer por diversas razões, como a ausência
de uma denominação formal para o projeto. Em segundo lugar, a falta de contato com o
em parceria com a comunidade e autoridades locais. Os Caboclos de Major Sales são reconhecidos como
patrimônio cultural imaterial da cultura popular brasileira, revelando a diversidade cultural do semiárido brasileiro
e contribuindo para a construção da identidade cultural do país. (CARLOS, 2017, Site oficial da Prefeitura de
Major Sales)
6
A União das Bandas de Música do Rio Grande do Norte (UNIBAM) é uma entidade que representa e apoia as
bandas de música existentes no estado. A instituição tem como objetivo principal promover o desenvolvimento e
a valorização das bandas, bem como fomentar a cultura musical em todo o território potiguar.
28
responsável pelo projeto inviabilizou a obtenção de informações adicionais necessárias para sua
devida catalogação.
É crucial destacar que a inclusão da sigla "SN" não implica em uma omissão intencional
ou falta de diligência na identificação dos projetos. Pelo contrário, essa designação tem o
propósito de indicar a limitação de informações disponíveis sobre esses projetos específicos. A
consideração desses fatores permite uma análise mais precisa e transparente da lista de projetos
apresentados.
Após todo esse processo tornou-se viável a listagem dos seguintes projetos:
14 Monte Alegre SN
25 Venha-Ver SN
Após uma análise cuidadosa das listas, constatou-se que alguns municípios contam com
uma quantidade significativa de projetos em música. Dentre eles, destacam-se Alexandria, com
três projetos; Pau dos Ferros, com quatro projetos; Luis Gomes, com cinco projetos; Martins,
com dois projetos; e Portalegre, com dois projetos. Essa maior concentração de projetos em
determinados municípios pode ser explicada por uma série de fatores, como, por exemplo, a
presença de instituições culturais e de ensino superior que promovem atividades na área
musical, assim como a existência de um público engajado e interessado em participar de
iniciativas dessa natureza. Como é o caso de Luís Gomes e Pau dos Ferros, esses exemplos
citados acima podem ser um fator determinante para a maior proporção de projetos nestas
localidades.
Na cidade de Luís Gomes há uma forte presença de núcleos culturais e instituições de
promoção da arte, como é o caso da Fundação (FUNFFEC) e da Associação Comunitária
sociocultural Luís-Gomense (ACSLG). Tais entidades desempenham um papel relevante na
atração de projetos culturais para a cidade, contribuindo para a dinamização do cenário artístico
local. Em outra perspectiva, Pau dos Ferros, por ser a maior cidade da região e com um
considerável desenvolvimento econômico, podemos considerar que estes fatores, juntamente
com a presença de universidades, podem ser determinantes para a concentração de projetos na
área musical. É importante destacar que uma das iniciativas nesse campo é sediada pela
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), o que evidencia a importância do
ensino superior na promoção de atividades culturais na região. Além disso, a disponibilidade
de recursos financeiros e a atuação de agentes locais também podem influenciar nessa
tendência. Em síntese, a análise das listas revela uma maior presença de projetos em música em
determinados municípios, o que pode estar relacionado a diversos fatores que favorecem a
promoção de atividades culturais nesses locais e que não foram abarcados nesta etapa do
presente estudo.
É notável a presença de uma quantidade significativa de projetos em bandas que
abrangem praticamente todos os municípios. Tal fato suscita a curiosidade acerca dos motivos
que levaram a essa concentração. Com o intuito de obter esclarecimentos, foram realizadas
entrevistas com alguns professores que compartilharam suas opiniões sobre o assunto. Um dos
participantes, que contribuiu para a pesquisa, destacou alguns fatores que podem ter contribuído
para esse fenômeno. Em primeiro lugar, é importante ressaltar a estreita relação entre as bandas
e as igrejas. Os movimentos religiosos locais geraram demandas que impulsionaram a formação
de diversas bandas. Além disso, o participante também enfatizou a relevante contribuição do
32
Questão tradicional ligada a aspectos religiosos criou essa tradição muito forte entre
banda e igreja. Existem bandas centenárias que faziam tocatas que enalteciam
aspectos religiosos principalmente católicos, e essas bandas geralmente eram
contratadas para tocarem em outros municípios que não tinham banda. Com o tempo
foi surgindo a necessidade de contratar uma banda porque não tinham uma banda, e
então esses municípios foram se organizando. Como é o próprio caso de Luís Gomes
que completou ontem 14/05 61 anos de história e anteriormente eram bandas de
Uiraúna-PB e de Souza-PB que vinham fazer essas apresentações no período festivo
no mês de julho que acontece a tradicional festa de Sant'ana. Pe Osvaldo quando
chegou a Luís Gomes viu a necessidade de criar uma banda de música através da
necessidade gerada nesse aspecto [...]. Eu acredito que esse seja um aspecto relevante.
O segundo que posso pontuar é que existiram projetos como o RN Sustentável que foi
um projeto criado no estado para fomentar esse projeto musical de bandas, muitas
cidades receberam um pacote que vem com toda a instrumentação de banda que não
é barata, lembro que em algum tempo teve algumas edições que foram de 91 mil reais
para comprar instrumentos básicos para fazer funcionar a banda e muitas cidades
foram contempladas algumas que estavam há 10 anos com a banda desativada e as
que nunca tiveram banda, receberam esses protocolo de inscrição, como é o caso de
Major Sales, Rafael Fernandes, José da Penha, Água Nova (que está desativada).
Devido essa tradição que é muito forte no alto oeste e no seridó digo que no meu olhar
e diante das minhas leituras é um dos grupos que mais formam pessoas no sentido de
ter o ensino de música, o público que é contemplado pelo ensino de música é imenso,
na faculdade a gente vê o relato principalmente na parte de sopro, boa parte do pessoal
vem de projetos assim como de bandas filarmónicas (PARTICIPANTE B.
Depoimento sobre a fundação de bandas no interior do RN. Entrevista cedida a
Antonia Miliene em 15/05/2023).
O participante também mencionou outros aspectos relevantes que podem ter contribuído
para a formação do cenário atual, ampliando nossa compreensão acerca dos fatores que o
moldam. Portanto, destacam-se a influência da cultura militar dos desfiles cívicos, bem como
as raízes da tradição musical que remontam ao período colonial.
O participante B, por sua vez, também menciona o projeto RN Sustentável trazendo
mais informações sobre seu ano de fundação, que ocorreu entre meados de 2006 a 2007.
Segundo ele, além do fomento de instrumentos, esse projeto tinha como objetivo capacitar
maestros para formar bandas de música nos interiores do estado.
Figura 3: Banda Dr Vicente Fernandes Lopes no 1º Encontro Interestadual de bandas em Luís Gomes
Além das bandas, a região apresenta um nicho de projetos voltados para o ensino de
cordas friccionadas, que incluem violino, viola, violoncelo e contrabaixo. Quatro cidades são
beneficiadas com esses projetos: Luís Gomes, Pau dos Ferros, Alexandria e Martins. Bem como
as bandas, tais projetos já promoveram alguns eventos, como, por exemplo, o I e II Encontro
Pedagógico de Orquestras Sociais, realizados nos anos de 2018 e 2019, respectivamente (Figura
4). Recentemente, em novembro de 2022, a cidade de Luís Gomes foi palco do Encontro de
Orquestras realizado pela caravana do Sistema Nacional de Orquestras Sociais do Brasil
(SINOS) (Figura 5).
7
Importante ressaltar que todas as informações apresentadas neste contexto foram obtidas a partir do portfólio
oficial do Projeto Camerata Jovem. Essa fonte confiável e documentada oferece dados precisos e embasados sobre
a constituição, histórico e realizações do projeto, conferindo maior credibilidade e respaldo às informações aqui
expostas.
37
Figura 6: Camerata Jovem e Orquestra do Festival Harmonia Jovem de 2009 no Teatro Dix-Huit
Rosado
Devido aos estímulos proporcionados, esse aluno demonstrou rápida adaptação, pois
em questão de meses já apresentava melhorias com avanços na comunicação e interação social,
tanto dentro quanto fora do projeto. Além disso, no desenvolvimento de suas habilidades
musicais, ele foi capaz de se desenvolver ao ponto de assumir o posto de 1º clarinete.
A metodologia aplicada nas aulas em geral, é amplamente inspirada em um modelo
utilizado na banda de Cruzeta/RN. Essa abordagem consiste na divisão dos estudos por naipes,
permitindo a exploração de aspectos técnicos e estruturais das músicas, por exemplo, os
exercícios que envolvem a aplicação da tonalidade da música a ser trabalhada no repertório.
Além disso, é adotada uma dinâmica com variações de um mesmo trecho ou exercício para
garantir a efetividade do estudo e manter os alunos motivados.
Este projeto é uma das iniciativas mais antigas em atividade na região, possuindo uma
notável trajetória de sessenta e um anos desde sua fundação em 15 de maio de 1962 pelo Pe.
Raimundo Osvaldo da Rocha, em conjunto com João Batista Ferreira, que posteriormente
assumiu o papel de maestro e exerceu essa função por impressionantes cinquenta e sete anos,
deixando um legado significativo para a formação dos jovens músicos da cidade de Luís Gomes
até o final de sua vida (PREFEITURA MUNICIPAL DE LUÍS GOMES, 2023). Como
evidência de sua influência marcante, três de seus alunos decidiram buscar cursos de formação
musical e, atualmente, todos eles trilham carreiras promissoras, contribuindo de maneira
notável e prestigiosa para o cenário musical de Luís Gomes. Esses músicos são exemplos
concretos do legado duradouro que o Maestro Batista deixou na comunidade, demonstrando a
importância de sua dedicação e expertise na formação de talentos musicais.
O legado do Maestro João Batista Ferreira foi passado adiante para dois desses jovens
músicos, que tiveram a oportunidade de se beneficiar de sua experiência e conhecimento. Nesse
contexto, destacam-se Wanderson Maia e Prof. Ms. Gustavo Gomes, ambos ex-alunos da
referida banda e graduados em Licenciatura em Música pela UERN. Ambos os professores
desempenham um papel fundamental na continuidade do projeto, contribuindo para a formação
e desenvolvimento dos talentos musicais da nova geração.
O projeto em questão representa um exemplo inspirador de dedicação e compromisso
com a formação musical e cultural da comunidade de Luís Gomes. Ao longo de sua trajetória,
42
Figura 11: Nova formação da Banda Dr Vicente Fernandes Lopes em seu aniversário de 61 anos
O projeto foi iniciado em janeiro de 2018 e, em 2019, estabeleceu uma sólida parceria
com a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), campus Pau dos Ferros. A
iniciativa possui dois objetivos principais: 1) a inclusão e formação de crianças e jovens como
músicos de instrumentos filarmônicos de sopro e cordas; 2) proporcionar acesso à música de
concerto, por meio deste importante projeto cultural promovido pela Sociedade Filarmônica
Pauferrense, além de fomentar a disseminação da cultura, da educação e da arte, por meio do
ensino não formal de música, com ênfase na música erudita e nordestina/brasileira (SITE
OFICIAL DA SFP, 2019).
Figura 12: Orquestra Filarmônica Pauferrense no V Concerto Oficial “Especial Solistas” em 2019
A OFP destaca-se na região por sua estrutura abrangente e robusta, contando com uma
equipe de profissionais altamente qualificados. Essa equipe é composta por seis professores
especializados, dois coordenadores artísticos, uma secretária executiva desempenhando um
papel crucial na organização administrativa, uma bolsista arquivista encarregada da
documentação e partes orquestrais, dois montadores/assistentes de palco responsáveis pela
montagem e preparação dos eventos, dois coordenadores de imprensa e mídia responsáveis pela
divulgação e promoção, e uma designer/webmaster responsável pelo desenvolvimento visual e
web do projeto. Além disso, o projeto conta com a participação ativa de sessenta alunos,
desempenhando um papel fundamental em diversas atividades. A participação desses
indivíduos é essencial para garantir a excelência e o êxito do projeto.
44
8
Todas as informações apresentadas neste subcapítulo foram obtidas por meio de uma entrevista conduzida em
28 de maio de 2023 com o professor Edney Aquino, responsável pelo projeto. Através dessa entrevista, foi possível
obter dados precisos e atualizados sobre o projeto, sua história e impacto na comunidade.
45
Além disso, é admirável como o projeto tem conseguido atender a um número tão
grande de alunos. O grupo é composto por pessoas de diversas áreas profissionais,como
enfermeiros, fisioterapeutas, empresários, professores, psicólogos e designers, entre outros.
Mesmo que alguns deles não tenham seguido carreira na música, são gratos pela aprendizagem
adquirida na orquestra, que contribui para o desenvolvimento de suas vidas profissionais.
Uma particularidade encantadora da Orquestra Filarmônica Francisco Lopes é a
presença de vários casais que se conheceram no projeto, casaram e continuam engajados na
orquestra. Isso demonstra que a orquestra não é apenas um local para o aprendizado musical,
mas também para a construção de laços afetivos duradouros. A Orquestra Filarmônica
Francisco Lopes é, sem dúvida, um projeto notável que transcende a música. Ele se destaca por
sua capacidade de reunir indivíduos de diferentes áreas profissionais e idades.
divertido para as crianças. Em relação à inclusão de alunos com necessidades específicas, não
houve casos no curso de musicalização até o momento. No entanto, foi observada uma aluna
com dificuldades em leitura e escrita, e como estratégia, foram fornecidas anotações e desenhos
no caderno para auxiliar em sua prática. A importância do apoio dos pais no aprendizado em
casa foi ressaltada pela professora (BENTO, 2023).
Figura 14: Apresentação dos alunos do curso de Musicalização Infantil no CMEI - São Francisco das
Chagas em Luís Gomes-RN
O curso de violão popular oferecido pela FUNFFEC teve início em agosto de 2012,
estabelecendo inicialmente uma idade mínima de 11 anos devido ao tamanho do instrumento.
No entanto, nos últimos anos, a faixa etária foi reduzida. As turmas são bastante diversificadas,
ao todo são 35 alunos com faixa etária dos 10 até os 45 anos. É notória a diferença de idade
entre os participantes, por esse motivo foi indagado à entrevistada quais eram suas estratégias
para nivelar os alunos. A mesma afirmou que utiliza estratégias como ouvir as dificuldades dos
seus alunos e criar exercícios específicos para ajudá-los a desenvolver suas habilidades.
Também destaca a importância de parar a aula quando necessário para sanar as dúvidas dos
alunos e buscar trabalhar individualmente com cada um.
O objetivo do curso de violão popular é proporcionar aos alunos o aprendizado dos
fundamentos do violão, incluindo acordes e leitura de melodias por meio de tablaturas, cifras
melódicas e partituras. Na primeira etapa, chamada de Violão Popular Básico I, o foco está no
acompanhamento de música popular. Já no Violão Popular Básico II, há a introdução da leitura
em partitura e do método de dedilhado de Henrique Pinto (1978), além da exploração do violão
clássico. No entanto, o curso não se distancia do violão popular, pois há uma conexão com a
Camerata Harmonia, um grupo de música instrumental que existe desde 2014 (BENTO, 2012).
48
A Camerata Harmonia é composta por oito alunos do curso de violão e mais alguns
agregados, que tocam flauta transversal e violino. Foi mencionado que o grupo possui um
repertório diversificado, incluindo músicas nordestinas, e no ano de 2022, o grupo se apresentou
em um espetáculo intitulado "Som do Nordeste" em Teresina-PI. Sobre a dinâmica de ensaios
do grupo, a professora destacou que tem observado certa dificuldade de interação e engajamento
dos alunos, especialmente em relação à prática e ao estudo do movimento. Alguns alunos não
se dedicam adequadamente ao estudo, o que faz com que seja necessário pausar o ensaio para
realizar leituras e revisar as notas, especialmente para os novatos. No entanto, o envolvimento
49
dos monitores e alunos veteranos contribuem nos ensaios apresentando repertório e realizando
leitura de música com esses alunos mais atrasados.
Os cursos de musicalização e violão popular oferecidos pela Fundação têm
desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento musical dos alunos. A
musicalização desperta a sensibilidade musical nas crianças, preparando-as para estudos mais
avançados. O curso de violão popular proporciona o aprendizado dos fundamentos do
instrumento. A conexão com a Camerata Harmonia e demais cursos como o de cordas
friccionadas, amplia ainda mais a experiência dos alunos, promovendo o aprendizado e a
integração social dos envolvidos.
A relevância desse projeto se evidenciou após a aplicação dos formulários, pois não
tínhamos conhecimento prévio sobre sua existência na região, e sua singularidade como um dos
poucos ou possivelmente o único projeto do Alto Oeste que envolve música nesse nicho, torna
sua inclusão fluida e justificada, visando ampliar a diversidade e abrangência dos estudos
realizados. Durante uma entrevista com o professor e musicoterapeuta Édney Aquino, tive a
oportunidade de conhecer a história por trás desse projeto em questão, que está ocorrendo na
cidade de Pau dos Ferros- RN há quatro meses, através da clínica CIDH, onde atende cerca de
dez pacientes são atendidos. Ele relatou que, após uma vivência de seis anos no Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS), onde trabalhou com musicalização para os usuários,
desenvolveu um crescente interesse pela musicoterapia. Esse interesse o levou a se especializar
na área, com o objetivo de exercê-la profissionalmente e oferecer seus benefícios a um público
mais amplo.
Ao questioná-lo sobre como surgiu a parceria com a clínica em que atualmente trabalha,
o professor explicou que recebeu um convite da dona do espaço, que havia ficado sabendo de
seus trabalhos anteriores com musicalização. Esse convite foi recebido com entusiasmo e
gratidão, pois representava uma oportunidade para expandir seu trabalho e levar a
musicoterapia a um novo contexto. Quanto ao público que o professor atende, ele mencionou
que sua atuação atual se concentra principalmente em pessoas com necessidades específicas,
como autistas e outras atipicidades. Além disso, ele enfatizou que é pós-graduando em ABA
(Análise do Comportamento Aplicada), o que lhe proporciona uma abordagem complementar
para atender de forma mais eficaz às necessidades individuais de seus pacientes.
50
No que diz respeito ao formato das sessões de musicoterapia, o professor esclareceu que
elas podem ocorrer tanto de forma individual quanto coletiva, dependendo das necessidades e
preferências de cada paciente. Ele ressaltou que cada abordagem tem suas vantagens e
benefícios específicos, e que se esforça para adaptar as sessões de acordo com as demandas e
objetivos de cada pessoa. Durante a entrevista, o professor expressou sua crença no poder de
cura da musicoterapia e compartilhou com entusiasmo como se sente orgulhoso ao testemunhar
a evolução dos seus pacientes. Ele revelou que tem o sonho de expandir ainda mais o alcance
da musicoterapia, almejando trabalhar em UTIs com pacientes em estágio terminal. Ele
considera essa área extremamente significativa, reconhecendo o potencial da música em
oferecer conforto e melhorar a qualidade de vida.
51
A presente pesquisa foi conduzida com professores que atuam em projetos sociais de
música na região do Alto Oeste Potiguar. O objetivo deste estudo foi investigar e compreender
os aspectos das práticas musicais nessa região específica. Além disso, buscou-se obter
conhecimento acerca dos perfis dos professores, com o intuito de investigar o nível de formação
desses profissionais e examinar se aqueles que obtiveram acesso às universidades receberam o
suporte adequado para atuar de forma eficaz em um ambiente de ensino social, tendo em vista
a pluridimensionalidade que o mesmo apresenta.
O estudo também teve como propósito compreender as estratégias de ensino adotadas
pelos professores para enfrentar os desafios inerentes à prática docente em um contexto social.
Para alcançar tais objetivos, foi utilizado o método de pesquisa de levantamento, com a
aplicação de um questionário estruturado (ver apêndice). O questionário foi desenvolvido com
o intuito de obter informações relevantes tanto sobre os professores envolvidos nos projetos
sociais quanto sobre os próprios projetos musicais. Foram trinta e oito perguntas, distribuídas
em seções distintas.
Na primeira seção, as indagações foram direcionadas aos docentes, com a finalidade de
coletar informações acerca de seu processo de formação musical e seus interesses em adquirir
uma formação continuada. Já na segunda parte do questionário foram abordados aspectos
relacionados à atuação no contexto de ensino, tais como o número de projetos sociais nos quais
estão envolvidos, bem como os desafios enfrentados, as fontes de inspiração e a metodologia
aplicada nesse contexto.
A terceira e última seção do questionário foi destinada aos próprios projetos, a fim de
coletar dados acerca de seu tempo de atividade, a quantidade de alunos inseridos, a faixa etária
média dos participantes, a taxa de evasão e os critérios utilizados para avaliar o
desenvolvimento dos mesmos. Além disso, foram realizadas perguntas sobre a capacidade
desses projetos de formar músicos aptos a ingressarem nas universidades ou se alguns de seus
alunos seguem carreira na música. Ademais, buscou-se analisar o impacto desses projetos na
comunidade em que estão inseridos, considerando sua relevância e influência.
52
sendo que em cada uma delas há a presença de um professor. Essas localidades incluem
Marcelino Vieira, São Miguel, Itaú, Apodi, Almino Afonso e Alexandria. É possível notar que
dois desses professores residem em Uiraúna - PB9, cidade que faz divisa com alguns municípios
do RN. Essa proximidade possibilitou o estabelecimento de um intercâmbio entre os
professores dessas regiões. Consequentemente, esses profissionais mencionados desempenham
suas atividades em quatro projetos distintos no Alto Oeste.
No que se refere à formação acadêmica dos participantes, constatou-se que nove deles
(64,3%) possuem formação específica em Música, enquanto os demais estão distribuídos entre
cursos em outras áreas, correspondendo a uma média de a pelo menos 7,1% para cada campo
de estudo (Gráfico 4). Buscou-se esse tipo de informação a fim de se ter uma compreensão mais
abrangente dos perfis dos participantes, destacando a diversidade de áreas acadêmicas
representadas. Essa abordagem tem sua relevância tendo em vista estudos como o realizado
pela Associação Brasileira de Ensino Superior (ABMES), que revelou que uma porcentagem
de 70% o que corresponde de sete a cada dez estudantes recém formados são inseridos no
mercado de trabalho (ABMES, 2022).
9
Uiraúna, município localizado na Paraíba, faz divisa com três cidades do Rio Grande do Norte: Luís Gomes e
Paraná. Essas duas cidades fazem fronteira com Uiraúna, permitindo uma proximidade geográfica entre os estados
da Paraíba e do Rio Grande do Norte.
54
Para enriquecer ainda mais as informações sobre essa temática, procurou-se investigar
a quantidade de cursos que os participantes costumam buscar ao longo de um período de cinco
anos. Os resultados revelaram uma distribuição variada: 42,9% dos docentes realizam cursos
de formação complementar entre duas e três vezes nesse intervalo de tempo. Outros 35,7%
buscam participar de mais do que cinco, enquanto uma parcela de 7,1% dos docentes está
envolvida em três a cinco cursos por ano. Por fim, uma minoria de participantes,
correspondendo a 7,1% cada, relatou realizar apenas um curso ou nenhum durante o período de
cinco anos (Gráfico 8).
Esses resultados são reflexo da diversidade de abordagens e podem variar de acordo
com as prioridades dos docentes em relação à busca por cursos de formação complementar ao
longo do tempo. Por isso, alguns participantes optaram por uma frequência mais intensa,
envolvendo múltiplas atividades de formação, enquanto outros escolhem uma abordagem mais
focada e participam de um número mais limitado de cursos.
Através desta pesquisa, podemos considerar a variedade de cursos nos quais estiveram
envolvidos nos últimos cinco anos. Estes cursos abrangem diversas áreas relacionadas à música
e à educação. Alguns dos cursos citados incluem: cursos breves de violão, aprendizagem
infantil, edição de partituras com o MuseScore, especialização em educação musical, mestrado
em música, especialização em ensino de cordas no século XX, simpósio de educação, cursos
de gestão cultural, práticas em regência, cursos de saxofone e flauta transversal, tecnologias da
educação, Tamu (talento musical), teoria e solfejo, software musical, flauta doce, escrita
musical, curso informal de regência, curso de clarineta na Academia Arte de Toda Gente
57
(projeto espiral da UFRJ) e palestra sobre inteligência sócio emocional e o papel das artes na
educação no combate aos indicadores sociais de gravidez na adolescência e casamento infantil.
Algumas informações foram coletadas acerca da trajetória musical dos envolvidos, o
que proporcionou descobertas interessantes. Uma informação relevante que emergiu é que parte
desses educadores obtiveram o primeiro contato musical por meio de projetos sociais em
bandas. É curioso observar que, pelo menos quatro deles permanecem envolvidos ativamente
com o mesmo projeto, ou pelo menos contribuem significativamente para a cena musical da
cidade onde desenvolveram suas habilidades musicais. Isso é exemplificado pelo caso do
participante de nº13.
Enquanto isso, os demais relataram origens distintas para suas primeiras experiências
musicais. Um participante mencionou ter adquirido suas habilidades musicais na Congregação
Cristã no Brasil (CCB) (Participante 3), enquanto outro destacou ter iniciado na música através
da participação em bandas escolares, tocando percussão (Participante 14). Além disso, um
participante compartilhou que sua formação musical teve início na escola de música Manoel
Israel, localizada em Uiraúna - PB (Participante 11).
Já outro mencionou ter tido seu primeiro contato com a música no ambiente familiar.
Esse participante relatou que sua família tem uma tradição musical e que seu interesse pela
música surgiu em casa, onde começou a explorar um teclado por curiosidade, aprendendo de
forma autodidata algumas melodias e acordes (Participante 9). Tais relatos serviram como
fomento para a compreensão acerca da formação musical dos participantes, de modo que
destaca a singularidade dos educadores em relação à origem de suas experiências musicais.
Nesta etapa da pesquisa, buscamos obter informações cruciais sobre os projetos sociais
nos quais os quatorze professores participantes estão envolvidos. Para isso, inicialmente,
solicitou-se que eles indicassem quantos projetos sociais atuam. Compreender a quantidade de
projetos em que estão engajados permitirá uma análise mais precisa das responsabilidades
assumidas por cada professor.
58
Com base nos resultados obtidos (ver gráfico 9), foi constatado que 42,9% dos
professores atuam em um único projeto, demonstrando um foco específico em uma iniciativa.
Além disso, observou-se que 35,7% dos professores estão envolvidos em até duas ações,
evidenciando um maior grau de engajamento e abrangência. Por sua vez, 14,3% dos professores
atuam em até três projetos, indicando um nível de envolvimento ainda mais amplo. E uma
pequena parcela que corresponde a 7,1%, afirmou trabalhar em mais do que três iniciativas,
demonstrando um engajamento significativo em múltiplos projetos sociais.
flauta doce, dez participam de sessões de musicoterapia e quinhentos e setenta e nove são alunos
de bandas de música (Quadro 4).
Quadro 4: Listagem dos projetos envolvidos com a etapa de pesquisa questionário online
Tempo de
Nome do grupo/projeto Nº de Alunos
Atividade
1 Banda Filarmônica Nossa Senhora de Fátima 7 anos 23 alunos
2 Banda Encanto do Sertão 9 anos 20 alunos
3 Camerata e curso de Violão FUNFFEC 10 anos 36 alunos
4 Cordas FUNFFEC 10 anos 35 alunos
5 Musicalização FUNFFEC 10 anos 24 alunos
6 Flauta doce FUNFFEC 10 anos 5 alunos
7 Banda de Música Cleto Nunes 2 anos 25 alunos
8 Banda de Música Escola 4 de Setembro 7 meses 13 alunos
9 Filarmônica Pauferrensse 6 anos 60 alunos
10 Banda de Música Dr Vicente Fernandes Lopes 61 anos 35 alunos
11 Banda de Música de Água Nova 5 meses 50 alunos
12 SCFV de Alexandria 12 anos 30 alunos
13 Violinos da Waldemar de Almeida 2 anos 30 alunos
14 Filarmônica Nossa senhora de Fátima 7 anos 23 alunos
15 Banda de Música Maestro Pedro Rufino 8 anos 30 alunos
16 Orquestra Filarmônica Francisco Lopes 10 anos 100 alunos
17 Orquestra Municipal de Pilões 4 anos 50 alunos
18 Musicoterapia 4 meses 10 pacientes
19 Orquestra da UNICRI 3 meses 60 alunos
20 Filarmônica 10 de maio 16 anos 42 alunos
21 Filarmônica Jovem de Pau dos Ferros 15 anos 28 alunos
22 Filarmônica 26 de Dezembro 5 anos 25 alunos
23 Camerata Jovem 15 anos 45 alunos
Número não
24 Aula de Música Para Todos 25 anos
identificado
60
O corpo docente de seis dos projetos mencionados no quadro 4 é composto por uma
diversidade de professores, coordenadores e monitores. No entanto, oito dos entrevistados
relataram assumir todas as responsabilidades sozinhos, como mencionado pelo respondente 3:
"sou o único responsável [...] sou professor de teoria, instrumentos e maestro". Além de
respostas como essa que detalham essa sobrecarga de funções, foi possível identificar as
diversas funções exercidas ou acumuladas por cada um deles em duas questões: 1) Além da
docência, quais atividades você exerce? 2) Poderia especificar, para além da quantidade, as
funções exercidas ou acumuladas por cada professor?
Dos dez professores que responderam à questão 2, suas respostas revelaram uma ampla
gama de responsabilidades e papéis desempenhados. Em alguns casos, os professores
compartilham a função de maestro e contramestre da iniciação dos instrumentos de madeira e
metais, demonstrando uma divisão de trabalho nessas áreas específicas. Outros relataram que
atuam de forma abrangente em seus projetos, desempenhando funções como professor de teoria,
professor de instrumento, regente, diretor musical e outras tarefas relacionadas. Além disso,
alguns professores mencionaram que também oferecem apoio em eventos e atividades
esporádicas quando necessário. Há casos em que os professores se consideram os idealizadores
dos projetos, sendo responsáveis não apenas pelo ensino teórico e iniciação instrumental, mas
também pelo papel de maestro e outras atribuições relacionadas à administração dentro das
associações.
Um dos professores mencionou um leque ainda mais amplo de funções, incluindo
professor de prática de conjunto de diversos instrumentos, como violino, viola, cello, baixo,
flauta transversal, saxofone e percussão. Além disso, esse professor também se envolve em
arranjos musicais, edição de partituras, produção cultural, direção artística e articulação
política.
Para além dessas e outras funções que envolvem a música ou a docência, foram citadas
outras funções, como a atuação como guardas municipais, servidores na área de segurança e até
mesmo secretários de cultura. Essas responsabilidades extras evidenciam a versatilidade e a
capacidade dos professores em desempenhar diversos papéis na sociedade, assim como revela
a escassez de oportunidades de trabalho e remuneração adequada na área da música, o que
resulta na necessidade desses educadores assumirem múltiplas funções. Essas demandas
destacam a sobrecarga de funções enfrentada pelos professores, levando-os, em alguns casos, à
61
falta de motivação, afetando tanto aqueles que têm suporte quanto os que não têm. Nesse
sentido, foi conduzida uma enquete para investigar se esses profissionais se sentem
sobrecarregados, e todos os onze que responderam à questão afirmaram que o acúmulo de
funções gera uma sobrecarga que interfere na qualidade do atendimento aos alunos.
discutidas anteriormente no capítulo 1. Nesse sentido, uma questão foi endereçada aos
participantes com o intuito de explorar se eles receberam preparação adequada durante sua
formação universitária para atuarem de forma efetiva no contexto de projetos sociais.
Dentre os participantes, pelo menos cinco deles expressaram que não receberam o
suporte adequado em sua formação universitária para atuarem em projetos sociais. Um deles
enfatizou que sua experiência em bandas foi fundamental e que sem ela não se sentiria
preparado e confiante para atuar nesse contexto, e ainda ressaltou a importância de considerar
as bandas de música como um campo profissional viável para os graduados do curso. Além
disso, um dos bacharéis mencionou que todo o conhecimento adquirido para atuar em projetos
sociais foi resultado de sua experiência como aluno e monitor em projetos anteriores.
Não, o curso foi voltado sempre para a performance, tudo que aprendi para
atuar em projetos sociais foi devido a minha experiência como aluno e também
como monitor em projetos que participei (Participante 10).
Por outro lado, um dos participantes aponta que em seu curso superior não havia uma
disciplina específica que o preparasse para lidar com a realidade dos projetos sociais. Ele
enfatiza a visão de que a música é apenas uma ferramenta formativa, enquanto as outras
competências necessárias foram adquiridas por meio de experiência prática e pela atuação em
colaboração com profissionais das áreas de psicologia e assistência social (participante 14).
Mais cinco pareceres apresentam relatos opostos aos anteriores, estes docentes
afirmaram ter recebido, ou ainda estar recebendo, suporte durante o desenvolvimento de seus
cursos, especialmente aqueles que estão se formando na área de licenciatura. O participante 2,
atualmente em processo de formação no curso de licenciatura, ressaltou a existência de
disciplinas específicas voltadas para o ensino de música em projetos sociais, destacando a
relevância desse processo educacional em nível nacional. Em contrapartida, o colaborador 13,
mencionou que, embora não tenha concluído o curso superior, essa experiência foi de
fundamental importância para o aprendizado das metodologias utilizadas no ensino da música.
Foram compartilhadas diversas experiências, sendo que a resposta de um dos
colaboradores sintetiza, de forma abrangente, a ideia subjacente a pelo menos parte desses
relatos. Ele afirmou: “Nas minhas atuais áreas de trabalho, o curso me favoreceu o suporte para
63
atuação. Certo que ficaram algumas lacunas que ao enxergá-las na prática, tentamos saná-las"
(Participante 1). Essa afirmação revela o panorama vivenciado por muitos dos participantes,
em que receberam apoio e incentivo, mas também encontraram desafios que só puderam ser
superados por meio da experiência profissional. Essa vivência permitiu um aprimoramento
significativo das habilidades pedagógicas no campo da música.
Em busca de uma alternativa que possa servir como solução para essa problemática
relacionada à lacuna na formação dos educadores, foi realizada uma identificação das
deficiências na formação desses profissionais por meio de seus relatos sobre os tipos de
capacitação que mais lhes fazem falta diante dos desafios enfrentados. Dentre as áreas de
formação que despertam interesse dos educadores que atuam em projetos no Alto Oeste
Potiguar, destacam-se diversas temáticas importantes para aprimorar suas práticas pedagógicas.
Entre as relacionadas ao ensino inclusivo, dois participantes demonstraram interesse
nessa modalidade, sendo que um deles especificamente ressaltou a importância de uma
abordagem didática eficiente para alunos com TEA/TDAH. Outro tema que despertou o
interesse foi uma formação que aborde as metodologias de ensino da música dentro do contexto
dos projetos, seja em nichos específicos, como o das bandas, ou em projetos sociais de maneira
geral. Esses educadores reconheceram a necessidade de uma troca de materiais que possa
orientá-los desde a formação inicial até o momento de integração do grupo como um todo. Em
relação à formação em licenciatura, alguns participantes expressaram a necessidade de um
curso de licenciatura, pois, apesar de possuírem formação em bacharelado, sentem falta de um
foco mais direcionado para a docência.
Na área de saúde mental e a economia criativa um dos educadores demonstrou desejo
por uma formação mais aprofundada no campo da inteligência socioemocional, saúde mental e
empreendedorismo no contexto da economia criativa. Reconhecendo a importância desses
conhecimentos para lidar com os desafios dos projetos. O uso de tecnologia também despertou
o interesse dos educadores. Alguns participantes destacaram a importância de cursos voltados
para o uso de tecnologias em bandas de música, reconhecendo a relevância dessas ferramentas
para inovar as práticas musicais e envolver os alunos de maneira mais dinâmica. No campo da
musicalização, os educadores expressaram a necessidade de formação em musicalização
infantil. Reconhecem que essa formação é essencial para estimular o desenvolvimento musical
das crianças desde cedo, proporcionando-lhes uma base sólida nessa área.
Por fim, houve interesse em cursos de aperfeiçoamento em arranjo, composição e teoria
musical. Os educadores desejam aprofundar seus conhecimentos na construção de composições
64
os profissionais pedem por melhores condições de trabalho “[...] que a gente tenha o básico
para ensinar” (Participante 12).
Diante disso, cabe aqui apresentar uma análise dos níveis de satisfação desses
educadores em relação aos recursos estruturais e financeiros dos projetos em que atuam. Com
base no gráfico 11, observa-se que 50% dos participantes alegam que os recursos estruturais
são insuficientes. Essa insatisfação pode estar relacionada a aspectos como infraestrutura física
precária, falta de equipamentos ou instrumentos adequados para o uso dos alunos. Por outro
lado, 37,7% dos docentes consideram suficiente, indicando uma percepção mais positiva em
relação à disponibilidade desses recursos. No entanto, 14,3% preferiram não responder a
questão, o que pode sugerir uma indecisão em relação aos recursos em questão.
Gráfico 11: Níveis de satisfação relacionados aos recursos estruturais dos projetos
tecnológico em que os jovens estão imersos, visando aumentar seu interesse e participação nas
atividades musicais.
Essas observações evidenciam a complexidade do ambiente atual e a necessidade de
buscar soluções inovadoras que promovam o interesse e a motivação dos jovens. É fundamental
explorar novas formas de ensino e aprendizagem que sejam compatíveis com a era digital, a
fim de envolver os jovens de maneira mais efetiva nas atividades musicais e superar os desafios
impostos pela sobrecarga de informações e estímulos tecnológicos.
De acordo com a pesquisa realizada, foi observado que o engajamento dos projetos
avaliados apresenta uma variação de médio a alto rendimento. Os resultados revelaram que
68
42,9% dos projetos demonstraram um alto índice de engajamento, o que indica que seis desses
projetos mantêm um comprometimento e entusiasmo significativos com as atividades
propostas, mesmo diante de possíveis dificuldades e desafios (Gráfico 13). Esses projetos se
destacam pelo seu envolvimento ativo dos participantes.
Além disso, 50% dos projetos foram classificados, pelos próprios docentes, como de
médio rendimento, indicando um nível moderado de engajamento. Esses projetos demonstram
um interesse e participação regulares por parte dos envolvidos, embora possa haver espaço para
um maior aprofundamento e intensidade no envolvimento dos participantes.
No entanto, uma parcela reduzida de 7,1% dos projetos foi identificada como
apresentando um baixo rendimento em termos de engajamento. Isso sugere que esses projetos
enfrentam dificuldades significativas no envolvimento e motivação dos participantes. Essas
dificuldades podem estar relacionadas a limitações de recursos, falta de estrutura adequada,
falta de apoio ou outros desafios específicos enfrentados pelos projetos
dados precisos sobre a taxa de evasão anual. Quatro deles afirmaram não saber responder,
enquanto três não detalharam suas observações. Uma justificativa plausível para essa falta de
informação pode ser a baixa taxa de evasão, mencionada por 14,3% dos participantes, indicando
que o problema não é uma preocupação expressiva em determinado contexto. No entanto,
outros respondentes relataram índices de evasão mais alarmantes.
Entre as respostas detalhadas, foram mencionadas taxas de evasão de 60%, 70% e até
mesmo 80%. Esses números elevados demandam uma atenção especial, uma vez que podem
ter um impacto significativo no sucesso dos projetos e grupos. Enfatizo que esses índices não
representam todos os contextos, mas destacam a necessidade de aprofundar a análise e
investigação para compreender as causas subjacentes a essa evasão, o que será investigado no
ponto 3.
Quanto à faixa etária mais suscetível à evasão, os resultados indicam uma tendência
entre os 15 e 20 anos, com ênfase na faixa entre 16 e 20 anos. Essa observação é corroborada
por um dos participantes, que atribuiu a evasão predominante a adolescentes entre essa faixa
etária. Um dos motivos apontados para essa evasão foi a transição para instituições de ensino
superior, como Institutos Federais (IFs) e universidades, conforme mencionado pelo
respondente 14 “[...] geralmente na faixa etária entre 18 a 20 anos pois é quando os alunos têm
que sair para estudar em IFs ou Universidades”. Essa transição pode ser um fator relevante, pois
os estudantes podem optar por buscar novas oportunidades educacionais fora do projeto em
questão.
A última pergunta do questionário foi sobre se possuem formas de medir esses níveis
de impacto. Seis professores afirmaram não ter nenhum método para a coleta dessa informação,
enquanto os restantes dos professores apontaram que essa análise se dá de forma empírica
através das vivências com os educandos e o envolvimento de suas famílias. A satisfação dos
alunos e de seus pais também é considerada um indicativo importante do impacto do projeto.
Através do feedback e do envolvimento contínuo desses participantes, é possível obter uma
compreensão mais abrangente do valor e dos benefícios que o projeto proporciona. Embora não
haja uma abordagem formal de medição do impacto social, o reconhecimento da importância
do projeto pelos alunos, seus pais e a comunidade em geral é um forte indicador de que ele está
cumprindo sua missão de promover mudanças positivas nas vidas dos participantes e,
indiretamente, na sociedade como um todo.
74
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, essa pesquisa revelou a importância desses projetos sociais como agentes de
transformação na comunidade, proporcionando oportunidades de aprendizado e
desenvolvimento para os alunos. Apesar das dificuldades enfrentadas por parte dos educadores,
os mesmos mostraram ter compromisso e sensibilidade para lidar com as tamanhas
adversidades do contexto em que se inserem e para com a formação de novos músicos. Embora
essas reflexões tenham revelado aspectos relevantes, acredito que sejam necessários mais
estudos e análises para uma compreensão mais abrangente e aprofundada desses projetos em
questão, principalmente acerca da perspectiva dos alunos. Isso permitirá o desenvolvimento de
estratégias mais eficazes para melhorar o engajamento dos alunos, enfrentar os desafios da
evasão e promover ainda mais o impacto desses projetos na formação dos participantes e na
comunidade em geral.
78
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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estudo. Disponível em: https://abmes.org.br/noticias/detalhe/4748/cerca-de-70-dos-recem-
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"Métodos de pesquisa." Organizado por Tatiana Engel Gerhardt e Denise Tolfo Silveira.
Coordenado pela Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRGS e pelo Curso de Graduação
Tecnológica – Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da SEAD/UFRGS.
Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf. Ultimo acesso em: 01 de junho
de 2023
MÜLLER, Vânia. "Ações sociais em educação musical: com que ética, para qual mundo?"
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em educação musical: com que ética, para qual mundo? | Müller | REVISTA DA ABEM
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PENNA, Maura. A formação inicial do professor de música: porque uma licenciatura? In:
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revisto[1] (usp.br). Ultimo acesso em 01 de junho de 2023
81
APÊNDICE
MAPEAMENTO DE PROJETOS SOCIAIS
EM MÚSICA NO ALTO OSTE POTIGUAR
Este questionário integra a pesquisa "ENSINO E APRENDIZAGEM DE MUSICA EM
PROJETOS SOCIAIS: mapeamento e aspectos da prática educativa no Alto Oeste
Potiguar" realizada como um dos requisitos para a conclusão de curso no âmbito da
Licenciatura em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O
presente estudo é realizado pela discente Antônia Miliene de Araújo Sousa sob a
orientação do Professor Mestre Vinícius Eufrásio e tem como objetivo, conhecer a
realidade vivenciada por professores de música que atuam em projetos sociais do Alto
Oeste Potiguar.
Salientamos que, caso venha a se sentir desconfortável por participar deste estudo, você
poderá abandoná-lo em qualquer etapa. É importante frisar que a participação não
envolve qualquer custo ou remuneração e que acontece de forma voluntária com o
intuito de contribuir com a produção de conhecimento acerca do tema em questão. Caso
o participante queira ter acesso aos dados recolhidos, contribuições prestadas e aos
resultados da pesquisa, será prontamente atendido pela equipe de pesquisa. Os
pesquisadores se responsabilizam em manter o anonimato e privacidade dos
participantes de pesquisa e a confidencialidade e sigilo dos dados coletados caso seja
solicitado pelo participante. Os dados coletados serão, após a análise, arquivados pelos
pesquisadores para fins de consultas posteriores num prazo de até cinco anos.
1. Nome *
2. Identidade de Gênero *
Masculino
Feminino
Outro:
3. Telefone de Contato
Esta informação pode ser utilizada pra que os pesquisadores entrem em contato no caso
de eventuais dúvidas ou para o agendamento de possíveis entrevistas.
4. Faixa Etária *
18 - 24 anos
25 - 30 anos
31 - 35 anos
36 - 40 anos
40 anos ou mais
5. Cidade *
6. Estado *
7. Possui formação acadêmica específica em música? Se não, informe o tipo de *
formação e o curso que possui no campo "outros"
Sim
Outro:
11. Em relação a sua preparação para atuar no ensino de música, de onde vêm ou *
quais são suas principais referências em termos de metodologia de ensino?
Sim
Não
13. Nos últimos cinco anos, quantos cursos de formação complementar você fez? *
Nenhum
Apenas um
14. Descreva brevemente os tipos de formação complementar que cursou nos
últimos anos.
Sim
Não
16. Com qual frequência você acha importante buscar novos cursos de formação *
complementar?
17. Descreva brevemente os tipos de formação que lhe fazem mais falta perante os
desafios e contextos em que atua.
18. Quais os principais desafios no contextos de educação musical em que atua
você?
Dados do Projeto
Nesta seção, por favor, insira dados referentes aos projetos em que você atua como
docente.
20. Em quantos projetos sociais de ensino de música você atua como docente? *
Para responder esta questão, desconsidere atuações específicas em disciplinas
curriculares de música e/ou artes que integram a grade curricular de Escolas de
Educação Básica. Projeto sociais que ocorram dentro de uma escola, mas que sejam
extracurriculares, podem ser considerados.
Um projeto
Dois projetos
Três projetos
26. No caso de acúmulo de funções, diria que esta situação gera uma sobrecarga
sobre os sujeitos e interfere na qualidade do atendimento aos alunos?
Sim
Não
Muito baixa
Baixa
Média
Alta
Muito Alta
Muito baixa
Baixa
Média
Alta
Muito Alta
31. Saberia especificar um percentual médio de evasão anual ou a faixa etária que *
mais evade do projeto?
32. Teria uma ou mais razões confirmadas ou hipóteses sobre o que motiva a *
evasão dos alunos?
33. O projeto já formou alunos que vieram a ingressar na universidade? Quantos? *
35. De forma geral, nos projetos em que atua, você diria que os recursos *
estruturais para atendimento às demandas de ensino de música são:
Insuficientes
Suficientes
Insuficientes
Suficientes
Muito baixo
Baixo
Médio
Alto
Muito Alto
38. O projeto possui mecanismos que são utilizados para medir o seu impacto
social na comunidade em que está inserido?
Em caso positivo, favor descrever.
Formulários