Doutorado em Artes Visuais ECA USP 2009
Doutorado em Artes Visuais ECA USP 2009
Doutorado em Artes Visuais ECA USP 2009
SÃO PAULO - SP
2009
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES ECA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS
JOCIELE LAMPERT
Comissão Examinadora:
_______________________________________________
1ª MEMBRO Prof. Dra. Ana Mae Barbosa
(Presidente/Orientadora)
_______________________________________________
2ª MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA
________________________________________________
3ª MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
4ª MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
5ª MEMBRO DA BANCA EXAMINADORA
Amo muito o que faço. Mas confesso que ainda tenho muito a aprender: como artista e
como professora, não sei se o trabalho que faço corresponde exatamente à concepção que
tenho de sistema ou hipóteses sobre o trabalho artístico com que atualmente me defronto.
Penso que a incerteza me faz bem, e acreditar que a verdade não existe também. Por isso,
desde os tempos do ateliê de pintura na UFSM RS, passando pela vivência como professora
em escolas e projetos ligados à área de ensino de arte, até chegar à experiência de ser
professora na Universidade foram muitos os embates e anseios em minha formação acadêmica
e inúmeras parcerias foram construídas neste caminho.
Agradeço à minha amada mãe, por nunca ter me permitido desistir fazendo-me acreditar
que o impossível seria possível. Aos meus irmão e irmã, Sander e Franciele, pelo apoio e
incentivo para seguir em frente, entendendo a doação em estar longe da família em momentos
tão importantes.
Aos que partiram em meio ao meu trabalho, porém nunca me deixaram sozinha, meu pai
e minha avó. Tamanha a importância destas duas figuras em minha vida, tantos ensinamentos e
momentos que me fizeram crescer e ser uma pessoa melhor me ensinaram, sobretudo, a olhar
para o Outro.
Impossível não nomear neste agradecimento: Lilian Amaral, Rita Bredariolli e Ana Mae,
minhas colegas e orientadora que me ajudaram a 'caçar conceitos apresentados na tese', mas
que, sobretudo, me ensinaram o valor sincero da amizade.
Em especial agradeço ao Val, por entender que nossas opções e escolhas nos fizeram
pessoas melhores, porém em caminhos diferentes.
dados que justifica esta pesquisa-ação. Agradeço à banca examinadora pela leitura do texto e,
por fim, agradeço aos meus amigos virtuais e presenciais de todos os dias, pessoas que
RESUMO
ABSTRACT
This research was developed in the Graduation Program in Visual Arts of the Arts and
Communication School of the University of Sao Paulo, concentration area of Art Theory,
Teaching and Learning, and research interest The Fundamentals of Art Teaching and Learning. It
aimed to investigate the aspects that elapse from the interrelations among Visual Arts, Visual
Culture and Faculty Formation, which comprehend the educational and artistic practice. From
these tension points, it aims the fashion image in confluence with the art teaching in the practice
of the supervised internship, being able to suggest and instigate collaborative and autonomous
ways of teaching and learning in the formation of the artist/teacher/researcher in the Visual Arts.
It approaches a theoretical reflection about the visual culture, as well as the derivations of the
relational art and the creative process. Thus, this research was based on some reflexive aspects
of the artography and the relational art, comprehending a group of artistic practices that take as
initial point (theoretical and practical) the human relations and their social context.
Figura 19 Leonilson - O que você desejar, o que você quiser, eu estou aqui, pronto para
servi-lo (1991)
Figuras 43 a 52 Colagens
Figuras 53 a 55 Colagens
Figuras 67 e 68 - S/título
Figuras 74 e 75 Variações
Figuras 76 e 77 - Seis propostas para o próximo milênio
Figuras 80 e 81 S/título
Figuras 84 e 85 - S/título
Capitulo 1 6
Delineando o contexto pesquisado 7
Planos e ações de pesquisa 9
Referências 153
Anexos 158
Pairando sobre o olhar investigativo
Foram muitos os caminhos que andarilhei até chegar neste momento. Do doutorado na
USP, do olhar vislumbrado sobre a cidade de São Paulo e sobre as perspectivas de uma
professora universitária iniciando um percurso acadêmico. Noites de insônia refletindo sobre
hipótese e problema da pesquisa, leituras que se faziam necessárias e complexas em
proposições difusas que, muitas vezes, denunciavam minhas incertezas a respeito de minha
'função' como arte educadora. Mas sem dúvida a dificuldade mais relevante que encontrei foi
buscar um deslocamento da minha pesquisa realizada no Mestrado, bem como buscar
alternativas para um novo projeto que se desdobrava agora em outra pesquisa. Lembro-me
bem, foi em outubro de 2005, eu havia terminado o Mestrado em Educação na UFSM quando
esbocei o anteprojeto para Doutorado. O anteprojeto ainda impregnava-se da minha
dissertação; questões que eram muito presentes: a imagem da moda, a sociedade do
espetáculo e a formação docente.
Em 2006, aprovada para o curso de Doutorado, dei início aos meus estudos e
aprofundamento da temática para a pretendida tese. Assim, cheguei até a Escola de
Comunicações e Artes da USP. Naquele semestre cursei três disciplinas que me obrigaram a
relacionar meu anteprojeto de pesquisa a temáticas que permeavam a compreensão da Arte,
em meio a metodologias, poéticas interativas e ações educativas em museus, foram tempos de
descobertas.
Não apenas o anteprojeto começou a ser desdobrado, mas minha postura crítica frente ao
Ensino de Arte. Como professora, como artista e como pesquisadora, sempre me pergunto:
qual o papel do pesquisador na sociedade, e o que eu poderia fazer para que meus alunos
compreendessem o significado de ensinar e produzir Arte hoje. Como pesquisadora, passei a
observar e a desenvolver um olhar questionador e duvidoso, desacreditei das verdades em que
um dia ousei acreditar.
Foi em meio a este turbilhão de sentimentos que em julho de 2006 assumi o cargo de
professora efetiva na Universidade do Estado de Santa Catarina, no Departamento de Artes
Visuais no Centro de Artes (CEART), sendo concursada para a área de estágio supervisionado
no curso de Artes Visuais. Ao longo de 2006 e 2007 assumi várias disciplinas e funções
administrativas na Instituição, dentre elas a de coordenadora de estágios do CEART e
atualmente a de Chefe de Departamento dos cursos de Artes Visuais, onde tive a possibilidade
de observar a problemática do ser professor e formar professores e artistas. O CEART abarca
vários cursos de graduação e pós-graduação : Artes Visuais (Licenciatura, Bacharelado e
LAMPERT, Jociele. Interface arte-moda: tecendo um olhar crítico-estético do professor de Artes Visuais. Santa
Maria: Dissertação de Mestrado em Educação PPGE/Universidade Federal de Santa Maria, 2005.
Mestrado em Artes Visuais), Teatro (Licenciatura, Bacharelado, Mestrado e Doutorado em
Teatro), Música (Licenciatura, Bacharelado e Mestrado em Música), Design (Bacharelado) e
Moda (Bacharelado).
Em 2007 vivenciei reformas curriculares, discussões pedagógicas em meio a um fio tênue
entre a política e a educação dentro da Instituição. Acompanho desde então ajustes curriculares
nos cursos de Bacharelado e Licenciatura em Artes Visuais. Este é o contexto onde se situa
minha investigação de Doutorado e meu olhar como pesquisadora.
Um ponto observado entre os estudantes de Artes Visuais é a dificuldade na articulação
entre construção poética e articulação pedagógica, ou seja, prática de ensino e produção
artística. Há uma dificuldade recorrente entre teoria e prática discutida em cursos de licenciatura
que vem sendo historicamente registrada, porém, penso que no curso de Artes Visuais esta
dicotomia é acentuada, quando, além da dificuldade em relacionar contextos (teóricos e
práticos) oriundos de espaços educativos, também há uma incessante inquietação no lugar de
quem ensina arte e de quem produz arte como um artista pesquisador.
A partir disto, refletir sobre eixos geradores (poéticos e educativos) que entrecruzassem
a construção de um olhar descondicionado entre o artista/professor/pesquisador me pareceu o
mais válido, como professora em um curso de Artes Visuais. Temáticas como a imagem em meio
a discussões sobre moda, cidade, cinema, e imagens de produção artística que tivessem em
seus discursos poéticos em tais representações visuais ou proposições pautadas na arte
relacional, tornaram-se relevantes para a construção de um pensamento visual articulado entre
a esfera da criação poética e a esfera do processo educativo em Artes Visuais. Daí entendem-
se os estudos visuais como uma abordagem transmetodológica onde se aborda em seu objeto a
cultura visual. Derivando de teorias pós-estruturalistas, advindos dos Estudos Culturais, os
estudos visuais diferem-se de espaços como a Estética e a História da Arte, pois se
centram em diferentes práticas de ver, ou em experiências relacionais/visuais que
envolvem o regime escópico, tornando-se um pseudo-campo ou pseudo-disciplina
voltada muito mais ao processo contextual de reflexão sobre a imagem do que somente seu
contexto de produção ou recepção especificamente.
Por sua vez, a cultura visual foi entendida como um objeto aproximando a reflexão crítica,
constituído de tudo o que pode ser visto ou sentido, ou que seja comunicado por meio de
visualidades. Não somente reconhecendo as linguagens visuais (pintura, gravura, desenho,
escultura, fotografia, história em quadrinhos, performances, procedimentos, artes gráficas,
Ver Brea (2004), cambio de régimen escópico: des inconsiente óptico a la e-image, disponível em:
http://www.estudiosvisuales.net/revista/index.htm. Segundo Brea (2004), a episteme escópica seria a estrutura
abstrata que determina o campo do que é cognoscível no território visual.
moda, design, propagandas, web sites, filmes, televisão, entre outras), mas também as
entendendo como formas de produção cultural. A cultura visual tem uma clave sobre a
produção, recepção, intenção, organização que pré-supõe considerarmos as visualidades em
contextos de significado, ou seja, estudar o visual como uma reflexão cultural partindo do que
seja real para a construção de repertórios e imaginários visuais para a produção de sentido do
sujeito contemporâneo.
A cultura visual permeia redes transmetodológicas a partir de diversas áreas de
conhecimento: antropologia, sociologia, filosofia e artes. Trata-se de considerar focos
ideológicos, institucionais, sociais, políticos e econômicos como traços vinculados à produção
cultural de determinado contexto.
A moda surge neste entre cruzamento como um sistema estético que organiza e
articula expressividade: sendo a indumentária/roupa e o corpo como suporte, o elemento
constituinte de uma visualidade passível de ser compreendida. Assim, podemos buscar
entender significados sociais e culturais apresentados em atitudes, crenças e valores. A
imagem da moda centra-se nesta pesquisa imbricada a discussão sobre o campo dos estudos
cultural-visuais, que poderá apresentar diferentes e múltiplas camadas de significados
culturais relacionados à cultura visual. Estas camadas são conjuntos de valores, de crenças e
significados que nossos estudantes muitas vezes utilizam para dar sentido ao mundo em que
vivem. Articular a educação à cultura visual poderá ser a conexão para religar o mundo social e
o simbólico das representações e, assim, refletir criticamente sobre a compreensão da
visualidade contemporânea.
A reflexão sobre a visualidade contemporânea deverá ser permeada pelas condições de
visibilidade, assim educar em imagens e sobre imagens possibilita a percepção da
experiência visual/relacional individual. A cultura visual relaciona-se com formas culturais,
investigadas pela identidade/subjetividade, conceitos de cultura, de diferença e de
representação social do indivíduo. A cultura contemporânea é uma cultura visual vivenciada
pela imagem e suas relações sociais, dos locais de trabalho ao âmbito do lazer (cinema,
televisão, jogos interativos e Internet), vive-se a cultura do que é visual por meio, muitas
vezes, de relações de socialidade virtual.
Por fim, nesta pesquisa a esfera da produção poética é apontada como abordagem para
uma educação contemporânea e processo de formação do artista/professor/pesquisador
norteado pela cultura visual e pautado na reflexão sobre os aspectos da arte relacional.
Conforme Brea (2005), os estudos cultural-visuais configuram o cenário de aproximação transdisciplinar que
potencializa a compreensão crítica da eficácia performativa na prática sociocultural da Arte.
Os objetivos pretendidos pela pesquisa decorrem da temática e suas delimitações entre
Artes Visuais, cultura visual e formação docente. Especificamente outros objetivos foram
buscados nesse estudo:
- Pesquisar como o professor de Artes Visuais compreende criticamente a inter-relação
cultura visual e educação na prática educativa e prática artística.
- Impulsionar formas de ensino e aprendizagem (autônomas e colaborativas), situando o
conhecimento produzido pelo professor em uma dinâmica contextual.
- Entender como a imagem da moda pode tornar-se eixo gerador para desenvolver projetos
pedagógicos e poéticos no ensino de arte.
A pesquisa partiu da seguinte questão inicialmente: como o professor (em formação inicial)
pode articular a cultura visual e as Artes Visuais? Este questionamento foi fundamental para a
elaboração da coleta de dados e assim, seguindo os procedimentos metodológicos, aportou-se
a pesquisa sobre bases da pesquisa-ação. Conforme Tripp (2005) e Thiollent (2004), a
pesquisa-ação se desenvolve quando o pesquisador busca efetuar transformações em sua
própria prática. Esta forma de pesquisa deverá ser: inovadora, contínua, pró-ativa,
estrategicamente participativa, intervencionista, problematizada, deliberadamente
documentada, compreendida e disseminada no seu contexto social. A reflexão é essencial ao
processo da pesquisa-ação, sendo uma reflexão participativa e colaborativa envolvendo
criticidade do pesquisador e sujeitos participantes da pesquisa.
A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e
realizada em estreita associação de ações, proposições e resoluções de problemas coletivos
pautados no contexto social pesquisado. Assim, a pesquisa-ação pré-supõe uma metodologia
entendida em um conjunto de procedimentos teórico-práticos ativados na abordagem da
realidade. Este estudo adota uma abordagem qualitativa, que permite aprofundamento em
uma análise efetuada de forma contextualizada.
O estudo volta-se para a formação docente em Artes Visuais, desta forma a pesquisa foi
desenvolvida com estudantes universitários. Especificamente os dados foram coletados nas
disciplinas de Estágio Curricular Supervisionado I e Cultura Visual do Curso de Licenciatura
em Artes Visuais no Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catariana, entre
2008 e 2009.
Os instrumentos utilizados nesta pesquisa foram: observação participante (inserção
direta do pesquisador no contexto investigado) e análise documental (fitas de vídeo,
questionários, imagens, currículos, planos de aula, projetos gerados pelos sujeitos
participantes). Acredita-se que, desta forma, os registros permitiram maior articulação entre os
resultados de cada um destes instrumentos de coletas de dados qualitativos e entende-se
que a investigação pressupõe uma rede de reflexões baseada em dois eixos norteadores, ou
categorias: a cultura visual e a formação docente em Artes Visuais.
Ressalta-se que foi usado como aporte teórico para a reflexão dos dados coletados e até
mesmo como procedimentos de pesquisa alguns aspectos da artografia, bem como, aspectos
relevantes sobre arte relacional no que tangencia os dados coletados sobre formação docente e
Arte Contemporânea.
Arte relacional pode ser entendida como um conjunto de práticas artísticas que tomam
como ponto de partida (teórico e/ou prático) as relações humanas e seu contexto social, em vez
de um espaço privativo. Estética relacional, por sua vez, é uma teoria estética que consiste em
julgar obras de arte em função das relações inter-humanas que elas configuram, produzem ou
criam de acordo com critérios da coexitência (entende-se a possibilidade que o indivíduo tem
em participar, interagir, integrar ou completar a obra e as reflexões realizadas a partir dela),
conforme Bourriaud (2009).
Com a arte relacional evidenciam-se processos colaborativos e interativos que procuram
eliminar a distinção entre o artista enquanto produtor de objetos e os espectadores enquanto
consumidores de mensagens visuais, ou seja, a interação de subjetividades é fundamental
para a produção de novas formas de sociabilidade, bem como para a produção de sentido.
São verificados diferentes modos de olhar como construções culturais - nas quais
cultivamos práticas sociais de representação e recepção (que perpassam ética/estética e
política). É de relevância que os estudos visuais, como campo acadêmico que referenciam a
abordagem para os estudos da cultura visual, tenham como fio condutor o olhar para a
percepção do artista/professor/pesquisador, percebendo-se como sujeito contemporâneo,
onde a cultura (conforme GEERTZ, 1990) não é uma realidade, ou algo que se possa atribuir de
maneira casual a acontecimentos sociais, modos de conduta, instituições ou processos sociais.
Compreender a cultura supõe captar seu caráter sem reduzir suas particularidades. Assim, a
cultura consiste em estruturas de significados, em virtude das quais os homens dão forma à sua
experiência.
A imagem da moda surge como possível tessitura para os estudos visuais,
especificamente como temática sobre a cultura visual. Assim, é passível de proposições
sistematizadas ao redor de um dado objeto configurado como epistemológico. Desta forma,
consolida um campo de saber poli-disciplinar. Talvez seja porque a moda tornou-se objeto
reflexivo e comunicativo que possa ser tratada e pensada como linguagem, possível de ser
incluída, ou articulada como fio condutor do conteúdo mediado nos processos de ensino/
aprendizagem em arte, bem como do próprio processo de criação.
Conforme Ana Claudia de Oliveira (2005), na contemporaneidade a moda pode tornar-se
um objeto/conceito problematizador. Passando pela forma que vemos a estética do cotidiano,
o modo como nos vestimos todos os dias, à forma como é considerado o conceito 'do corpo' na
sociedade; e lembrando ainda campanhas publicitárias, imagens de propagandas que
literalmente nos atropelam todos os dias.
Despertar um olhar reflexivo e crítico que permita uma educação para a compreensão tem,
em uma de suas principais articulações, a preocupação com a realidade pessoal, social e
cultural onde o sujeito se insere. Isto pressupõe significação entre conteúdo e indivíduo. Assim,
o estudo da cultura visual abordando a Arte como produção cultural, bem como proposições
sobre temáticas relacionadas à moda e arte colaborativa, podem inferir estratégias didáticas
para a compreensão crítica no ensino de Arte. Seguindo o pensamento de Araño (2005), pode-
se perceber a Arte em um sentido educativo, como uma atividade humana que consiste em que
o indivíduo se manifeste plenamente capaz de intervir e observar seu contexto. Assim, o
significado do termo cultura está submetido a um contínuo debate que implica uma realidade
muito mais ampla do que a relacionada ao patrimônio artístico.
arte/identidade/subjetividade.
tematica arte/moda/cidade.
É relevante esclarecer que alguns teóricos se utilizam da expressão 'cultura visual', outros
ainda optam por empregar o termo 'estudos da cultura visual', e também há aqueles teóricos que
se utilizam da nomenclatura 'estudos visuais'. Empregado como um campo de estudo, não
abstraído de conteúdo substancial e de condição histórica, ou na tentativa de desvincular
formações visuais das culturais, a cultura visual, seja como projeto/objeto ou campo de
abordagem transdisciplinar, também se torna um meio propício a embates epistemológicos.
De qualquer forma, independente do termo que seja usado (quer cultura visual, estudos da
cultura visual ou estudos visuais), há uma temática que perpassa a maior parte da produção
acadêmica, tanto no suporte teórico quanto no aporte metodológico, é a temática da
contextualização da visualidade na vida cotidiana. Não se trata de evidenciar uma cultura
hegemônica e sim em desconstruir tal pensamento sedimentado por valores de certo ou errado.
Entende-se que a escola poderá olhar para o contexto que abarca o que há de popular ao seu
redor sem fazer distinção do que é ou não arte.
Partindo do estímulo ao olhar para a visualidade cotidiana na contemporaneidade, aponta-
se como viabilidade para desenvolver o pensamento visual, pautado em rede e conexão com o
tempo de produção e recepção das artes visuais (entendendo o posicionamento do artista/
professor/pesquisador), uma clave sobre a arte relacional.
Nesta pesquisa a cultura visual está margeada em meio à arte relacional, porque para
estudar conceitos de cultura visual partiu-se da produção contemporânea em Artes Visuais e
seus modos de socialidade. Entender processos colaborativos e interativos que eliminam a
distinção entre o artista enquanto produtor e o espectador enquanto 'consumidor' foi articulação
inicial da pesquisa, por esta condição deve ser ressaltada a arte relacional como também
procedimento metodológico da pesquisa.
Quando aborda-se o conceito de arte relacional, ou seja, o conjunto de práticas artísticas
que tomam como ponto de partida teórico e prático o grupo das relações humanas e seu
contexto social (ao contrário de espaços autônomos e privativos), entende-se o conceito
instaurado por Nicolas Bourriaud (2009) desde 1995 e publicado em 1998 no livro “Estética
Relacional”. Compreende-se o conceito de estética relacional enquanto teoria estética que
consiste em julgar as obras de arte em função das relações inter-humanas que estas figuram,
produzem ou criam conforme o critério de coexistência, que não permitem mais ao espectador
uma contemplação e sim a instauração de questionamentos em relação a si próprio.
Na arte relacional, as experiências e repertórios individuais estão em consonância com a
construção de significados coletivos, o que faz com que a participação do público seja um fator
chave na ativação ou efetivação de tais propostas. Valorizam-se as relações que os trabalhos
estabelecem em seu processo de realização e de exibição, com o envolvimento de artistas e do
público.
A partir dos anos 90 vivemos na contemporaneidade um tempo e espaço virtual, há uma
predominância em nossas inter-relações influenciada por um meio tecnológico e sedimentado
por uma indústria de serviços, ou por uma economia imaterial. Muitos artistas iniciaram construir
lugares e espaços de socialidade como questionamentos ao ponto de encontro entre arquitetura
e relações humanas, daí entendendo a esfera da interação um artista deveria inventar novos
modos de habitar a cidade e sua arquitetura, conforme Beecroft apud Bourriaud (2008).
Nicolas Bourriaud, em seu livro “Pós-produção como a arte contemporânea reprograma o
mundo contemporâneo” (2009), apresenta uma cartografia sobre o uso de formas, objetos e
modos de co-habitação utilizados por vários artistas contemporâneos. Para este autor, artistas
visuais são semionautas, pois podem reprogramar obras existentes, habitar estilos e formas já
historicizadas, ou utilizar a sociedade como repertório de formas, e ainda, recorrer a outros
meios e sistemas como a moda, por exemplo, ou a comunicação.
O artista não é um sujeito que traz o novo, mas é um sujeito que aponta para como
podemos viver inseridos em algo que não conhecemos. Não se trata de construir, mas sim de
entender as ferramentas que podemos usar e questionar as relações formadas por tais
ferramentas, relações estas que são contextuais, assim a prática artística aparece como um
campo fértil a experimentações sociais.
As obras de Vanessa Beecroft, a exemplo disto, derivam de entrecruzamentos entre a
performance e o protocolo da fotografia de moda (remetem a performances, mas não se
reduzem à linguagem performática). A artista veste vinte mulheres que o visitante só enxerga
pelo vão da entrada da exposição, apontando um movimento da construção de um
tempo/espaço narrativo que encaixa obras ou estruturas do cotidiano dentro de uma forma-
enredo e isto difere em muito de espaços tradicionais de obras de arte; Antoni Muntadas é outro
artista visual que instaura referências, diferentes formas de ver e perceber o mundo, chamando
atenção para as formas de percepção; Jacques Vileglé retira da cidade fragmentos sociais e
refaz uma estética sobre a poética do urbano apropriando-se de fragmentos visuais do
cotidiano, o que certamente detona uma discussão sobre o processo de autoria e apropriação;
Fabiana Barreda constrói cartográficas corporais, mapas que habitam corpos que são
paisagens, a arte é um lugar de encontro, o artista é um produtor de metáforas, ou seja, o artista
habita as circunstâncias dadas pelo presente para transformar ou subverter o contexto de sua
própria vida; Sylvie Fleyry também é uma artista que vincula sua produção ao universo
glamourizado das tendências apresentadas em revistas femininas e se define influenciada por
tal sistema estético.
Na arte relacional as formas artísticas são derivadas de um substrato dado pela
intersubjetividade e tem como tema central 'estar - junto', o encontro entre observador e a obra,
e a elaboração coletiva de produção de sentido.
No interior desse interstício social, o artista deve assumir os modelos simbólicos que
expõe: toda representação (mas a arte contemporânea cria modelos e não
representações; ela se insere no tecido social sem propriamente se inspirar nele)
remete a valores transferíveis para a sociedade (BOURRIAUD, 2009, pág. 24)
Essa nova reutilização de elementos artísticos preexistentes numa nova unidade é uma
das ferramentas que contribuem para a superação da atividade artística, dessa arte
'separada' executada por produtores especializados. A Internacional Situacionista
preconiza o desvio das obras existentes para 'devolver paixão à vida cotidiana'
privilegiando construção de situações vividas em vez de fabricação de obras que
ratificam a divisão entre atores e espectadores da existência. (BOURRIAUD, pág. 36-
37)
Figura 2
Antoni Muntadas
Media sites/media monuments
Buenos Aires (2007)
Fonte da imagem: Catálogo
Muntadas/Bs. As. atención: la
percepción requiere
participación. Espacio Fundación
Telefónica.
Figura 3
Imagem do catálogo: Jacques Villeglè
Buenos Aires. Centro Cultural Recoleta
(2003).
Figura 4
Imagem do catálogo: Jacques Villeglè
Buenos Aires. Centro Cultural Recoleta
(2003).
Figura 5
Sylvie Fleury
installatin view
Fonte da imagem: Catálogo Sylvie Fleury (2001).
Figura 6
Sylvie Fleury
Pleasure (1996)
Fonte da imagem: Catálogo Sylvie Fleury (2001).
Figura 7
Vanessa Beecroft
Polaroids (1994-1999)
Fonte da imagem: Catálogo Vanessa Beecroft
photographs, films, drawings (2004).
Figura 8
Vanessa Beecroft
The secret of female intimacy
Fonte da imagem: Catálogo Vanessa Beecroft
photographs, films, drawings (2004).
Figura 9
Vanessa Beecroft
Foto performance realizada em 2001
Peggy Guggenhein collection.
Fonte da imagem: Catálogo Vanessa Beecroft
photographs, films, drawings (2004).
Figura 10
Fabiana Barreda
Imagens cedidas pela artista à
pesquisadora.
Fonte da imagem:
http://www.fabianabarreda.com/
A fotógrafa argentina Fabiana Barreda
expôs seus trabalhos em uma mostra Intitulada
“Caminata Lunar”, no Centro Cultural da
Recoleta em Buenos Aires, AR, no final de 2008.
Foi uma de suas mostras de maior referência,
foram mostradas 21 foto/performances, 7 objetos
e 5 vídeos instalações realizados desde 2004 até
2008, com obras pertencentes a duas séries dos
projetos poéticos “Arquitectura del Deseo” e
“Caminata Lunar”. As obras circundam o desejo
que se constitui ao redor do corpo, não somente
como suporte, mas como materialidade poética justapostas com pequenas inserções
contundente realizada por escrituras/mapas imaginárias a citações de História da Arte.
corporais e mentais, desenhos reais e virtuais Na sala maior foi apresentada a caminhada
que insinuam o campo de energia envolvendo a lunar (projeções, objetos holográficos,
criação e o uso de imagens tecnológicas. pequenas casas de acrílico intrincadas a
telas de plasma com desenhos de mapas
A artista é um expoente na Arte corporais amimados). O corpo surge como
Contemporânea Argentina, pois sua metáfora para a casa, seja como abrigo,
investigação instaura formas transversais (e esfera particular e íntima, ou como um
múltiplas) acerca não somente da forma como o território que agrega e constitui a história
corpo produz essas imagens, mas também na mais peculiar: a vida.
forma como produz sentido ao contexto sócio- Sem discutir gênero, Fabiana
histórico e imaginário do sujeito contemporâneo. Barreda instaura um trânsito amoroso de
Fabiana articula seus estudos em psicanálise passagem entre um corpo feminino e outro
com uma rigorosa formação em artes visuais, masculino; passos recorrentes na trajetória
estudos filosóficos e sociais que são onde um corpo 'adentra' outro laços de
incursionados por práticas curatoriais e docente afeto repletos de subjetividade. O trabalho
como pesquisadora. Seus trabalhos são fruto de da artista é extremamente contundente,
um repertório de ferramentas para pensar e forte, coeso ao mesmo tempo que
compreender conexões entre os afetos mais transcende ao espectador uma reflexão
íntimos, assim como ambigüidades que sobre seus próprios laços de afetos.
percorrem a ética/poética presente na Arte Fabiana Barreda é uma artista que serve
Contemporânea. A exposição dividia-se entre como referência a jovens artistas, ganhou
a arquitetura do desejo (foto/performances) diversos prêmios, participou de Bienais
que apresentava mapas corporais/narrativas importantes e circula como figura
contundente na cena da Arte Contemporânea O habitar como uma ação humana e como
argentina. Para ela, há duas tendências eixo vital, vinculado ao individual e ao
estéticas na Argentina atualmente, coletivo (o Eu, o Outro e os Outros), condutas
especificamente em Buenos Aires, e de comportamento e modos de interação e
considerando os artistas que potencializam a participação como elementos fundamentais
temática do corpo como objeto de subjetividade para a vida cotidiana fazem da obra de arte
na produção plástica, fotografias e instalações um interstício social e uma possibilidade de
seguem como linguagens visuais na linha de estética relacional.
Thomas Hirschhorn. O trabalho da artista está
presente em coleções particulares e acervos de
museus e galerias de arte no Brasil. Sua obra
transita em uma linha ético/poética sobre a
reflexão oriunda do corpo, o corpo como
temática geradora já teve derivações sociais e
políticas na obra de Fabiana, exemplo disto são
as fotografias do Projeto Habitat “Circuitos de
Consumo”. Fabiana aborda o corpo em suas
formas de habitar e existir.
Figura 12
Fabiana Barreda
Exposição Caminata Lunar (Centro Cultural Recoleta
/Buenos Aires, AR, 2008).
Fonte da imagem: http://www.fabianabarreda.com/
Já o trabalho de Thomas
Hirschhorn, artista suíço e uma das
figuras mais referenciadas na arte
contemporânea, apresenta espaços de
trocas e locais onde o indivíduo perde
contato com o social e incrusta a reflexão
sobre o caos.
Figura 11 Em suas instalações formas vagas
Fabiana Barreda de um cotidiano aparecem projetadas em
circuitos de consumo
Imagens cedidas pela artista à pesquisadora. uma estética aglomerada de objetos. O
Fonte da imagem: http://www.fabianabarreda.com/
espectador pode até identificar tais
objetos e materiais ( plásticos, papéis ,
vitrines, móveis, manequins, livros, panfletos, jornais, livros), porém é surpreendido por um
tempo suspenso que causa desconforto; em meio a imagens midiáticas e vinculações políticas,
Hirschhorn pode apresentar em seus trabalhos discussões sobre mercado, sistema e circuito
de arte, mas suas instalações funcionam como redes que conectam os modos de viver e habitar
na contemporaneidade ao mesmo tempo que insere o sujeito em um outro espaço-tempo que
reflete sobre a desordem.
Figura 13
Thomas Hirschhorn
Fonte da imagem: http://www.tate.org.uk/magazine/issue7/hirschhorn.htm
Figura 14
Projeto Prada Transformer, arquitetura
conceitual realizada em Seul Coréia do Sul.
Fonte da imagem: http://prada-
transformer.com/
Partindo da interação entre theoria, práxis e poesis entendemos um princípio onde são
acolhidos sentidos múltiplos que acabam por percorrer a tensão e a pulsão de uma obra ou
processo artístico. Compreendemos que a pesquisa em arte, que elabora um pensamento
sobre o processo criativo, não acaba em um objeto artístico, e sim pressupõe a construção de
um pensamento visual que pode ser subjetivado em meio às questões que permeiam a cultura
visual.
Desta forma, perceber o contexto relacional e o interstício social que a arte
contemporânea pode apontar não é negar a expressividade artística, mas pressupõe sim
entender a arte como produção cultural. Assim, como possibilidade de articulação, a arte
relacional contemporânea seria uma abordagem possível para entendermos as questões que
permeiam a cultura visual, a visualidade contemporânea e a educação.
Figura 15
Imagens de visualidades contemporâneas.
Fonte da imagem: Catálogo Cultura Urbana (2007).
O ensino de arte em espaços silenciosos da cultura visual:
a quiça de colagens conceituais
Dada a posição da colagem como uma forma usada para atrair consumo, ela não é,
coincidentemente, a forma de discurso mais amplamente usada pelos sistemas
mediados de massa de televisão, publicidade, noticiário, cinema e Internet. Além disso,
considerando o excesso de material visual disponível nos jornais, revistas e outras
formas de cultura visual, virtualmente cada professor de sala tem empregado a
colagem como um processo rápido, fácil e barato de produção de imagem para os
estudantes ilustrarem o que eles aprendem em várias disciplinas acadêmicas.
No entanto, a colagem poderá ser vista não como instrumento ou meio somente de um
fazer artístico tecnicamente concebido, mas sim evidenciar a dimensão estética e a narrativa
elaborada pelo estudante, entendendo a colagem como um eixo conceitual que permeia sim a
produção plástica, mas também a elaboração crítica do contexto.
Na colagem há uma indecisão, narrativa de caráter representacional ou anti-
representacional (seja qual for o caso), tratando-se de um emblema para a cultura
contemporânea, assim é necessário que seja proposto ao ensino de arte uma atenção
crítico/pedagógica sobre a colagem.
Considerando a 'dominação' da sociedade pela cultura visual através da televisão,
cinema, Internet, propaganda e outras formas de produção corporativa, o campo do ensino de
arte vem sendo proposto a instigar um processo de definição de práticas pedagógicas e
curriculares que poderiam possibilitar aos estudantes expôr, examinar e criticar os códigos
imutáveis e essencializados de sistemas mediados pela massa.
Refletir criticamente sobre a cultura visual, propor compreensões e percepções sobre
a sociedade de consumo pode ser questão também ancorada no que Garoian e Gaudelius
(2008) chamaram de cultura visual como pedagogia do espetáculo. Espetáculo, de acordo
com o crítico cultural Guy Debord (1967/1994), não é uma coleção de imagens; melhor, é
um relacionamento social entre pessoas que é mediado por imagens (p.12).
Desta forma, em uma sociedade dominada pela produção e consumo de imagens,
nenhuma parte da vida permanece imune à invasão do espetáculo, sendo que este seria uma
espécie de ornamento da massa.
Visto que a cultura visual tece imbricamentos com a sociedade do espetáculo, nesta
pesquisa temos a necessidade de se refletir sobre a tese Nº 4 de Debord (1997, p. 14), onde
aponta que o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas,
mediada por imagens. A linguagem da sociedade do espetáculo, assim como sua forma e seu
conteúdo, são construídos de sinais pertencentes ao modo de produção existente. Assim, a
prática social que contém o espetáculo é também algo autônomo que permeia a
espetacularização. O espetáculo que inverte o real pode ser efetivamente um produto, ao
mesmo tempo em que a realidade é materialmente invadida pela contemplação do espetáculo e
retoma em si a ordem espetacular da contemplação. Segundo Debord (1997), a alienação do
espectador em favor do objeto se expressa da seguinte forma: quanto mais o homem
contempla, menos ele vive, quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da
necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo.
O espetáculo, conforme apontava Debord, acabou! O espetáculo tido onde o espectador
era condicionado à contemplação passiva do outro, onde o espectador dependia do
direcionamento do contemplado, acabou. A contemplação continua, porém aproxima-se
efetivamente de conceitos como a “alteridade”, a contemplação de si mesmo num outro sujeito
é o princípio alcançável de tempos hiper-contemporâneos. Dado seu apelo de massa, o poder
da cultura de espetáculo está em atuar no seu funcionamento pedagógico. Seu estímulo visual
cativante esmaga e prende a atenção do corpo, com isto se inscreve em uma ideologia auto-
validativa da cultura de massa.
Não se trata de apresentar especulações sobre o contexto cultural, ou 'equiparar' sistemas.
Mas sim possibilitar uma transgressão que visaria uma transformação necessária ao ensino de
arte. Devido à imersão no espetáculo da vida contemporânea, há a necessidade de um
entendimento mais amplo e inclusivo dos estudos da cultura visual que inclui o poder
transformativo e transgressivo da produção artística.
Não é mera coincidência que os meios de colagem, montagem, construção, instalação,
vídeo arte e performance foram provavelmente as faturas que mais contribuíram para gerar
deslocamentos na arte do século XX. Para Garoian e Gaudelius (2008, p. 33):
Desde então, artistas contemporâneos como Sylvie Fleury, Bárbara Krueger, Cindy
Sherman, Guillermo Gómez-Peña, Franko B, William Wegman, Rebecca Horn, Erwin Olaf,
Matthew Barney, Vanessa Beecroft, entre outros; e no Brasil: Hélio Oiticica, Lygia Clark,
Leonilson, Tunga, Brígida Baltar, Laura Lima, e etc., têm usado estratégias efêmeras para
instaurar deslocamentos em suas poéticas de forma que o deslocamento também circunde
contextos políticos e sociais. Estes artistas potencializam a desterritorialização no campo da
arte, questionando apresentações sobre a cultura de massa e assim instauram, dentro do
contexto da arte, o intuito de criar um novo conhecimento em tramas conceituais e visuais.
Nestas tramas conceituais apresentam-se os princípios fundamentais de colagem,
montagem, construção, instalação, dentre outras, e são suas representações disjuntivas,
segmentadas e geralmente desiguais das formas visuais que propiciam um perturbamento
contemporâneo. Como tais, estes meios representam atos de percepção (como associações
disjuntivas) entre si e experiências culturais dissociações - que capacitam os espectadores a
participar na criação de conjunções significativas e ainda mutáveis. Seguindo o pensamento de
Garoian e Gaudelius (2008), a dissociação destes meios assume que toda a experiência
humana é disjuntiva, uma epistemologia problemática que requer conjunções criativas para
possibilitar novos e diferenciados entendimentos. Este meio cita e situa a cultura visual dentro
do contexto da arte e, fazendo isto, serve como metáfora de como a cultura visual está já
constituída como disjuntivo dentro da sociedade.
Sendo o desafio pedagógico a transformação (partindo muitas vezes de uma
transgressão), entendemos que mapear possíveis tessituras no olhar do professor de Artes
Visuais, partindo do contexto da confluência artística entre arte, cultura visual e moda, requer
primeiramente que pensemos como o sujeito contemporâneo reflete sobre seu cotidiano (sobre
a sociedade onde vive). Suas percepções acerca da arte, assim como da imagem, perpassaram
um universo tramado de forma conceitual pela colagem. Conforme Mesquita:
Por subjetividade deve-se entender o perfil de um modo de ser de pensar, de agir, de
sonhar, de amar, etc.. em determinada época. [...] A subjetividade varia seus modelos
dominantes, a partir da oscilação das forças que estão compondo e recompondo seus
contornos. A moda estetiza e apresenta muito desses elementos interligando: moral,
tecnologia, arte, religião, cultura, ciência, economia e natureza (2004, p. 14).
Por exemplo, Bryson, Holly e Moxy (1994) falam mais de 'imagens' do que de 'arte'.
Jenks (1995) se referencia a cultura visual em termos de 'visualidade'; Bird (1986), a
define como uma 'análise materialista da arte'; Nos Estados Unidos e na Gran Bretanha
se fala de cultura visual e estudos visuais; na França e na Alemanha, teoria da imagem
ou ciência da imagem (Rampley, 2005) e Heywood e Sandywell (1999), se referem a
'hermenéutica da experiência visual'.
Em 2003, Bob Wilson escreveu um texto onde abordaria a cultura visual como metáfora de
um rizoma, pois para este autor haveria uma impossibilidade (dificuldade) em mapear os
estudos para a cultura visual. A cultura visual torna-se um rizoma porque adquire formas muito
diversas e tem ramificações que geram conexões multidisciplinares, e possivelmente rupturas
entre diversas áreas.
Os estudos para a cultura visual não se referem somente a uma série de objetos
(iconográficos e iconológicos), mas sim emergem da confluência de diferentes espaços.
Entendem-se aqui espaços como a antropologia visual, a sociologia, os estudos culturais e
feministas, a História Cultural da Arte (que aborda diferentes perspectivas teóricas e
metodológicas). Segundo Hernandez (2005), o campo da cultura visual poderá ser pensado
como elemento em proximidade com as formas culturais vinculadas ao olhar que denominamos
práticas visuais.
Neste contexto, os estudos para a cultura visual tornam-se uma concepção inclusiva que
torna possível a incorporação de todas as formas de arte e design ou fenômenos visuais
relacionados com o corpo e tradicionalmente ignorados, conforme aponta Guasch (2005, p.14).
Assim, a cultura visual aponta para visualidades, não apenas pelo valor estético, mas sim
porque busca compreender o papel social da imagem na vida sociocultural e cognitiva do
indivíduo.
Para Mirzoeff (1999), o mundo contemporâneo é hiper visual. Vivemos em um ambiente
cultural modificado, que inclui simbioses entre a tecnologia, a formação social e os arranjos
econômicos. Deste modo, observar novas visualidades e buscar compreender a visibilidade é
tarefa do ensino de Artes Visuais, ou seja, educar em imagens e sobre imagens. Seguindo o
pensamento do autor, os estudos visuais podem ser entendidos como:
A cultura visual é geralmente informada do ponto de vista de que artefatos visuais e sua
percepção são parecidos tendo um limite contextual, isto é, são tangenciados, mas podendo ser
estudados isoladamente, o que pressupõe perceber e refletir sobre a experiência visual de cada
sujeito levando em conta seus repertórios, crenças e valores. Estas imagens podem ser
percebidas em contextos de processos e pressões sociais amplas (entre linhas/fronteiras
distorcidas), entre o estudo das imagens e da sociologia, ou antropologia visual como eixos
flutuantes.
Para Freedman (2006), um importante aspecto educativo sobre a cultura visual é seu
efeito sobre a identidade, tanto no que diz respeito à criação à observação, como questões
de maior importância para a educação. A educação é um processo de formação de
identidade porque há uma troca à medida que se apreende.
É relevante ressaltar que a partir dos anos 80 a teoria social crítica passa a tornar-se parte
do discurso da Educação e da Arte pós-moderna, alimentando o crescimento de perspectivas
sociais e da representação cultural da Arte.
No Brasil, no fim da década de 80, o MAC-USP teve sua política cultural pautada em
vertentes interterritoriais, tornando-se pioneiro nas referências sobre o discurso de abarcar
diferentes culturas, sem privilegiar, mas entendendo um diálogo constante de aprendizado.
Alguns dos projetos mais representativos desse exemplo foram: diálogos internacionais
intensificados por projetos relativos com Arte e o meio ambiente, bem como epistemologias da
Arte; prioridade para exposições coletivas de jovens artistas, conferindo bolsas de estudos aos
mesmo; vinculação de projetos expositivos oriundos de pesquisas em História da Arte e/ou
poéticas visuais de alunos de Pós-Graduação e professores da ECA e outros centros de ensino
da USP; exposições sobre cultura de massa e cultura popular, como, por exemplo, a exposição
“Carnavalescos” (1987), causando repúdio entre a classe artística universitária da época.
O MAC-USP também foi pioneiro em projetos sobre ação educativa onde o museu se
dispunha a 'ir até a escola'. Este museu como museu universitário deflagrou no Brasil na
década de 80 projetos que viabilizariam o acesso de todas as classes sociais aos códigos
culturais, fundamentando uma política pluricultural estendida a todos. Desta forma, as Artes
Visuais tornam-se de fundamental relevância para a transfiguração cultural do discurso político,
considerando a interação social e as formas de tessituras identitárias que caracterizam uma
condição contemporânea. Isto pode manifestar-se de fato por meio de imbricações culturais
interpessoais, ou em encontros sociais, institucionais incluindo aqui as práticas educativas em
escolas, museus, comunidades ou espaços não-acadêmicos.
É papel do campo de conhecimento das Artes Visuais gerar novas problemáticas e
tendências aos sistemas de produção e recepção: tencionar acesso, gestar a produção,
divulgação, legitimação e circulação do conhecimento, não de informação apenas. Somente
assim será possível impulsionar formas de aprendizagens autônomas e colaborativas
centrando na indagação ou questionamento em dinâmicas contextuais. O que se busca é
compreender a forma como se constituem o efeito de sentido, ou como se dá significado às
coisas no mundo em que vivemos.
efeito sobre a identidade, tanto no que diz respeito à criação à observação, como questões
de maior importância para a educação. A educação é um processo de formação de
identidade porque há uma troca à medida que se apreende.
É relevante ressaltar que a partir dos anos 80 a teoria social crítica passa a tornar-se parte
do discurso da Educação e da Arte pós-moderna, alimentando o crescimento de perspectivas
sociais e da representação cultural da Arte.
No Brasil, no fim da década de 80, o MAC-USP teve sua política cultural pautada em
vertentes interterritoriais, tornando-se pioneiro nas referências sobre o discurso de abarcar
diferentes culturas, sem privilegiar, mas entendendo um diálogo constante de aprendizado.
Alguns dos projetos mais representativos desse exemplo foram: diálogos internacionais
intensificados por projetos relativos com Arte e o meio ambiente, bem como epistemologias da
Arte; prioridade para exposições coletivas de jovens artistas, conferindo bolsas de estudos aos
mesmo; vinculação de projetos expositivos oriundos de pesquisas em História da Arte e/ou
poéticas visuais de alunos de Pós-Graduação e professores da ECA e outros centros de ensino
da USP; exposições sobre cultura de massa e cultura popular, como, por exemplo, a exposição
“Carnavalescos” (1987), causando repúdio entre a classe artística universitária da época.
O MAC-USP também foi pioneiro em projetos sobre ação educativa onde o museu se
dispunha a 'ir até a escola'. Este museu como museu universitário deflagrou no Brasil na
década de 80 projetos que viabilizariam o acesso de todas as classes sociais aos códigos
culturais, fundamentando uma política pluricultural estendida a todos. Desta forma, as Artes
Visuais tornam-se de fundamental relevância para a transfiguração cultural do discurso político,
considerando a interação social e as formas de tessituras identitárias que caracterizam uma
condição contemporânea. Isto pode manifestar-se de fato por meio de imbricações culturais
interpessoais, ou em encontros sociais, institucionais incluindo aqui as práticas educativas em
escolas, museus, comunidades ou espaços não-acadêmicos.
É papel do campo de conhecimento das Artes Visuais gerar novas problemáticas e
tendências aos sistemas de produção e recepção: tencionar acesso, gestar a produção,
divulgação, legitimação e circulação do conhecimento, não de informação apenas. Somente
assim será possível impulsionar formas de aprendizagens autônomas e colaborativas
centrando na indagação ou questionamento em dinâmicas contextuais. O que se busca é
compreender a forma como se constituem o efeito de sentido, ou como se dá significado às
coisas no mundo em que vivemos.
Para Villaça (2007, p. 135), a moda é mola propulsora da sociedade de consumo. Oferece
ao indivíduo contemporâneo elementos de reflexão e devaneio. Esta autora ainda aponta para o
seguinte questionamento: poderá ser a moda uma prótese do corpo, como um elemento
dinâmico e definitivo para a produção de sentido na sociedade?
Nesta pesquisa a imagem da moda foi um dos elementos geradores para a proposição da
prática educativa em Artes Visuais. Uma das funções do Ensino Superior é propiciar aos
estudantes tornarem-se sujeitos. A imagem da moda como clave para pensar a cultura visual
em Arte pode ser abordada de diferentes formas de pesquisa. Não se trata de desenvolver
metodologias, mas sim refletir sobre a possibilidade estratégica de um sistema estético paralelo
ao sistema de arte (com eixos sobre a linguagem e a expressão), podendo este sistema dar
suporte a colagens conceituais em Arte.
No campo da comunicação, na linha dos Estudos Culturais onde se aproxima a cultura
visual ou Estudos Visuais, se assumem uma somatória de olhares cruzados, em ritmos
similares de adequação com a construção de um objeto visual. A velocidade de circulação das
imagens na contemporaneidade provoca discussões sobre a crise de representação, perda de
fundamentos, e se valoriza o corpo e seu modo de apresentar-se na busca de referências para
uma identidade/subjetividade social num momento da comunicação global.
Refletir sobre a moda e sua imagem quer dizer refletir sobre o corpo e suas confluências
em diferentes espaços e ações. O corpo na cena contemporânea apresenta narrativas
singulares, fragmentos permeados por idiossincrasias e paradoxos. Podendo ser um corpo
constituído por próteses, moldes de linguagens, aparatos da ciência. Cirurgias, transplantes,
recombinações genéticas e, assim, o corpo desprende-se dos limites anatômicos para pautar-
se sobre o imaginário produzido pela sociedade da informação.
O corpo como objeto de tendência em Artes Visuais assemelha-se ao corpo evidenciado
pela sociedade espetacular contemporânea: os corpos de Bill Viola, Cindy Sherman, Jeff
Koons, emblemáticos de 'nossa era' são corpos virtuais e tecnológicos, nascidos em um mundo
onde não existem mais limites físicos, conforme Kátia Canton (2001). O artista constantemente
ultrapassa barreiras que separam arte e vida, e desta maneira estabelece uma vigorosa dobra
entre arte e vida cultural em diferentes comunidades e contextos.
Tanto a arte quanto a moda abordam a visualidade e a visibilidade em seus sistemas
estéticos. Visualidade é quando a imagem que se insinua na constatação receptiva do visual
físico (e concreto) deixa marcas fixas que referenciam e a identificam. Por outro lado,
visibilidade trata da elaboração perceptiva e reflexiva das marcas visuais, que ultrapassam o
recorte icônico para ser flagrada em indícios, seguindo o pensamento de Lucrécia Ferrara
(2002).
Desde a Revolução Industrial estabeleceu-se a suposta diferença entre o que é
academicamente concebido como Artes Visuais, plásticas e arte aplicada, esta última
considerada por muitos como arte menor, sendo que toda a linguagem que não constituísse
pintura ou escultura estaria na categoria de arte aplicada, sobretudo as artes decorativas,
artesanato, arte popular, artes gráficas, moda ou design. No entanto, levamos em
consideração que a arte nunca existiu em um contexto separado, na medida em que os
sistemas (sendo como categorias ou linguagens) se justapõem e coexistem advindos de uma
mesma vanguarda.
Martins e Aranha (1998, p.136) enfatizam a arte como forma do homem marcar presença
criando objetos que oferecem uma interpretação do mundo tanto quanto uma frase. Só que em
vez de dizer as coisas são assim, ele mostra, através da sua criação, que as coisas podem ser
assim. O objeto artístico fala à imaginação deixando ver, ouvir e sentir o que poderia ser. Desta
forma, não existe arte verdadeira ou arte falsa, pois a arte não mostra a realidade como ela é,
mas como poderia ser, e as faces do poder ser são muitas. Daí muitos tipos de arte.
É relevante que discutamos o que é um objeto artístico e um objeto estético, já que a
função da arte e o seu valor não estão em copiar a realidade, mas sim na apresentação
simbólica do mundo, ou seja, seguindo o pensamento de Martins & Aranha (1998, p. 136), a
arte é um dos modos pelos quais o homem atribui sentido à realidade que o cerca, e uma
forma de organização que transforma a experiência, o vivido, em objeto de conhecimento,
sendo, portanto, simbólica. Levamos em consideração que inúmeros museus e galerias
expõem o que pertence ao (visual) cotidiano presente na vida de todos nós: desde árvores
natalinas, carros, frascos de perfumes, ou ainda sacolas de famosas grifes.
A interface é um termo que pode remeter ao mundo da tecnologia, que se refere à
conexão humana com as máquinas, ou mesmo à entrada humana em um ciberespaço que se
auto-contém, constituindo um dispositivo físico ou lógico, que faz adaptações entre dois
sistemas, ou ainda, poderia ser considerado como um conjunto de elementos comuns entre
duas ou mais áreas de conhecimento. Conforme Santaella (2003, p. 91), uma interface ocorre
quando duas ou mais fontes de informação se encontram face-a-face.
Seguindo este pensamento, a interface artística pode ser considerada como uma
característica da arte contemporânea, que tem como propósito negar a pureza dos meios, ou
seja, romper com as categorias e suas especificidades nas linguagens visuais, propondo
assim que um sistema avance sobre o limite do outro. No saber específico das Artes Visuais
acontece na contemporaneidade um atravessamento por práticas discursivas de enunciados
e práticas não discursivas de visibilidade.
Uma das questões pertinentes, para que reflitamos sobre obras que se apresentam a
partir deste contexto, pode estar no ato de apropriação, ou seja, nos ready-mades de
Marcel Duchamp, que descontextualizou o que até então seria considerado como obra de arte.
Apropriou-se de objetos produzidos em série e escolhidos ao acaso, não causando alterações
ou modificações, mas sim os recontextualizando em tempo e espaço.
A arte contemporânea pode assumir forma inter-, multi-, ou transdisciplinar. O que
verificamos na tendência contemporânea refletida na arte é a crise social do homem, sua
identidade enquanto sujeito globalizado e massificado, atualizando novas configurações
virtualizadas em obras, que não mais se verificam em meios tradicionais, mas possibilitam ou
potencializam variações de leituras e significados através de signos e contextos
descentralizados deles próprios. Não se trata de dizer que a arte contemporânea está em crise,
mas que sua leitura deverá assumir um contexto crítico e reflexivo.
Vivemos em uma época de constante saturação de significados que habitam poéticas
extremamente individuais. Muitas vezes, a obra de arte contemporânea é relegada, sem medo,
a ícone da imagem, do texto e do contexto a qual pertence. Enfim, suas contradições denotam
uma certeza: a busca incessante por uma construção/formulação de poéticas singulares, uma
forma da própria consciência do artista na inscrição em um sistema cultural atual.
Desde a explosão das vanguardas nas primeiras décadas do século XX até os dias atuais,
a obra de arte contemporânea causa um sentimento de estranheza, de certa forma porque são
tantas as possibilidades e direções que parece possível se fazer de tudo, com tudo ou em
qualquer direção, já não podemos mais definir a priori seus conceitos. Paralelo a esta idéia, a
experiência contemporânea conduz manobras simultaneamente mais abertas e precisas para
decifrar os contatos sociais. Deste modo, se faz imprescindível uma investigação crítica da
própria arte, pois não podemos buscar a produção contemporânea apenas em um estudo
empírico, mas sim procurar ligá-la a estudos filosóficos e sociológicos, a fim de lograr sua
legitimação.
Para Archer (2001), foi a partir de Duchamp que o mundo artístico cresceu freneticamente
com variada profusão de estilos, formas e práticas, onde todos os materiais, até mesmo os não-
convencionais, como: luz, ar, som, palavras, pessoas, comidas e roupas podem constituir
suportes para idéias artísticas.
Outro fato contemporâneo, que favorece a idéia da interface na obra de arte atual, é que
vivemos em uma cultura de releitura e re-elaboração, pois segundo Mendes (2001), não
somente nas artes, mas em todas as outras áreas, tudo já havia sido realizado e o que restava
então era juntar os fragmentos, recombinando-os de maneira para que fossem re-
significados.
De acordo com Archer (2001, p. 156), a novidade não mais podia ser critério de
julgamento, pois a novidade ou a originalidade, como eram percebidas, não podiam mais ser
alcançadas, podendo até mesmo ser fraudulentas. Diante disto, tudo se tornou válido e a
quebra de fronteiras entre as linguagens artísticas tornou-se elemento articulador na obra
contemporânea: em arte contemporânea as linguagens estabelecem conexões intertextuais,
misturam-se e apropriam-se umas das outras. Não há limites, normas, regras ou critérios para
definir se uma obra é contemporânea ou não.
Esta questão é ampliada quando nos referimos à visibilidade do campo expandido no
objeto artístico, que possibilita a consideração de diferentes práticas do artista, localizadas em
relação a reflexões que vão além da imagem apresentada. Estas relações constituem misturas
confluentes na realização do projeto plástico, que se identifica na obra de forma a estabelecer
diálogos contundentes por meio dos conjuntos culturais. Isto evidencia um pensar que vai
ultrapassar os materiais utilizados, ou seja, o que se propõe é diferentes formas de pensar
sobre a obra (a imagem), que se sobrepõem à mesma. É através da linguagem inserida em um
pensamento filosófico que acontece a articulação da relação do homem com o real, pois é dela
que o homem constrói seus significados - e confere sentido aos signos.
Outro ponto que ainda é pertinente à
compreensão da confluência artística é a
questão do contexto onde a obra se insere.
Na contemporaneidade é possível observar o
quanto se modifica a noção da obra
dependendo do direcionamento que ocorre
no contexto. Como, por exemplo, na obra
“Fotografia Vestida de Gotsho” (1996),
vestida por Martin Margiela. Na obra de
Gotsho e Margiela temos um relevo, que
pendurado no centro de uma sala passaria
para o conceito de instalação, pois seria
possível contemplá-lo através de todos os
ângulos, o que mudaria toda a concepção da
obra, muito além do texto visual, entendemos
arte como produção cultural e elaboração de
subjetividades.
É relevante observar que a moda
apresenta as mesmas questões formais e
Figura 16
Gotsho estéticas da arte, assim como um pintor ou
Fotografia Vestida 5 (1996)
Fonte da imagem: MENDES, Rafael H. In:
escultor, o estilista, ao criar um modelo ou
Interface artística: uma abordagem entre as obra, tem de resolver as questões do espaço,
artes plásticas e a moda, s/d.
das dimensões, das linhas, dos volumes,
cores, dos ritmos, do equilíbrio, das tensões, da harmonia e etc. No caso da confluência de
ambos os sistemas, artista e estilista, ou designer de moda, fundem as especificidades dos
materiais próprios de suas competências para discutir o mundo contemporâneo.
A moda como manifesto da arte não pode ser entendida como roupa para vestir, mas sim
um sistema que afirma seu tempo e é capaz de responder a urgentes mudanças num mundo
ansioso por novidades. Ao longo dos anos surgiram cada vez mais profissionais e criadores de
conceitos, idéias e principalmente imagens. A respeito disto, a imagem tornou-se muitas vezes,
mais significativa do que o próprio produto. Costuma-se vender um conceito, seja da marca ou
de uma coleção, através de imagens (por vezes até mesmo sem aparecer a roupa). Alguns
teóricos (seja no veio das Artes Visuais ou da moda) consideram o contraste, e mesmo a
comparação entre os sistemas estéticos, de caráter literalmente superficial, pois crêem no
apelo de mercado/consumo que a moda traz consigo. Os pontos comuns e perceptíveis são os
elementos visuais e a característica de criação, pois novamente há diferenças entre as
finalidades, o que também pode ser abordado nos pontos díspares, como conceito e
instauração da obra.
Figura 17
Hélio Oiticica
Parangolés
Luis Fernando Guimarães veste Parangolé capa 23
Fonte da imagem: SALOMÃO, Wally. In: Hélio Oiticica
- qual é o parangolé e outros escritos, 2003.
Levamos em consideração que a arte possui uma teoria autônoma, sendo um sistema
que se constitui sem precisar de outro. Esta poderia ser uma diferenciação entre a interface
arte-moda, já que a moda é um sistema estético que precisa se ligar a outros sistemas para
constituir seu objetivo, e que a finalidade da moda é comercial e visa à construção de um
produto voltado para o âmbito comercial.
No entanto, é a partir dos elementos da linguagem visual (ponto, linha, forma, cor, textura,
composição) que há um elo entre a confluência moda/arte em relação à imagem, pois tanto o
artista quanto o design de moda trabalham com estes elementos em seus percursos criativos.
A este respeito, Cosac (2004, p. 44-46) afirma que apesar da respeitabilidade de Yves-Sant
Laurent, o vestido criado por ele nunca será neoplasticista, como o neoplasticismo de
Mondrian nunca será um vestido tubinho, porém no mesmo artigo continua: apesar de não ter
sido absolutamente a intenção, uma das únicas vezes em que as tentativas de hibridização
entre arte-moda geraram um resultado, se não brilhante, peculiar foi a dos Parangolés de Hélio
Oiticica (1937-1980), de certo modo porque ele queria discutir a possibilidade da pintura
enquanto movimento, e não moda.
Depois de Marcel Duchamp (1887-1969) ter levado um urinol para um espaço
consagrado da arte e ter declarado que o objeto seria arte legitimando-o, e também depois das
vanguardas artísticas do início do século XX proporem o rompimento da diferenciação entre
arte e cotidiano (declarando um diálogo constante entre arte maior e arte menor), a discussão
entre o binômio moda e arte alcança seu ápice na contemporaneidade. Mesmo antes da
chamada corrente smart clothes (ou roupas inteligentes) e da Wearable computer (literalmente
o computador de vestir), estilistas buscaram referências nas artes, e artistas interpretaram
conceitos do vestir. Neste sentido, a confluência arte-moda acontece pelo conceito de
visibilidade, alcançada pelo objeto artístico, seja ele um perfume (o líquido), ou o próprio
frasco, enquanto objeto passível de uma leitura estética.
No Brasil, em meados dos anos 80, temos a introdução de Arthur Bispo do Rosário (1911-
1989) nas Artes Visuais, quando o crítico de arte Frederico Morais incluiu suas obras na
exposição “À margem da vida”, no MAM/RJ, com suas roupas e lençóis bordados, carregados
de significações. Bispo do Rosário foi considerado louco e gênio, artista que sofria de
esquizofrenia, ex-marinheiro, passou parte da vida internado em um sanatório para doentes
mentais. Foi dentro do sanatório que produziu várias obras de arte, caracterizando-se por
apropriações e bordados. Entre as roupas que produziu como obras de arte está o “Manto de
Apresentação”, que, conforme Hidalgo (1996), o próprio Bispo dizia que era sua melhor roupa,
com a qual iria se apresentar diante de Deus.
Ao fazer o manto, ele resgatou uma influência da cultura popular, que é a de amortalhar os
mortos com um manto ou a melhor roupa que ele possuía. Para ele, esse manto era uma
roupa comum, não uma obra de arte. Bispo do Rosário tinha um grande sentimento religioso, de
devoção. Ele tinha uma satisfação pessoal com o que fazia, não tendo uma preocupação
artística, nem de agradar aos outros, observa o jornalista e pesquisador Luís Antônio
Barreto.
Figura 18
Bispo do Rosário
Manto de Apresentação
Fonte da imagem: http://www.
radioufs.com.br/destaques
Nos anos 90, em um evento de arte que procurava evidenciar o legado de Leonilson, a
exposição “Vizinhos”, realizada na Galeria Vermelho em São Paulo, deu lugar a performances
de moda, sob o título “Corações Ex-postos”. Segundo Olivero (2004, p. 59):
Figura 19
Leonilson
O que você desejar, o que você quiser, eu
estou aqui, pronto para servi-lo (1991).
Bordado s/ voile , 132 x 42,5 cm
Fonte da imagem: LAGNADO, Lisette. In:
São tantas as verdades, 1998.
Estes artistas não produziram somente roupas para vestir, mas criaram a partir de códigos
da própria moda objetos repletos de mensagens, atitudes e conceitos que expandiram o
sentido do vestuário.
Em 2004 a mesma artista Karlla Girotto participou da quinta edição do “Fashion Rio”, onde
propôs uma reflexão sobre o tempo, destacando o contraste entre repouso e ação. Realizou um
desfile-performance no jardim do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em um cenário
composto por cinco grandes camas e gaiolas, onde as modelos, todas com luvas de pelica e
perucas em estilo Chanel, usando vestidos godês e casaquinhos acinturados, deixaram seus
escarpins aprisionados em gaiolas, representando o aprisionamento da feminilidade. Depois
de duas horas, as modelos literalmente acordaram ao som de caixinhas de música, pegaram
colares de pérolas nas gavetas dos criados-mudos, calçaram os sapatos e retornaram aos
camarins. Karlla Girotto, desde então, vem realizando, assim como outros designers de moda,
desfiles conceituais, com mensagens que permeiam o contexto estético visual, mas que além
do eixo da moda comercial, tratam-se de desfiles conceituais que aproximam a confluência
artística, a moda aproxima-se do status de Arte pela apresentação e leitura conceitual.
Também em 2004, no “São Paulo
Fashion Week” (que aconteceu no
mesmo prédio da Bienal Internacional de
SP), o maior evento de moda da América
Latina, o estilista e artista visual Jum
Nakao apresentou sua coleção
inteiramente feita de papel vegetal, com
estrutura, volumes plissados, colocados
sobre uma malha preta e uma peruca de
bonecos playmobil. Foram apresentadas
vinte peças de roupas em papel de
estilo/referência vitoriano e ao final do
desfile as modelos rasgaram as peças,
estabelecendo um caráter performático
extremamente simbólico e significativo
para o contexto da moda.
Figura 20
Karlla Girotto
Imagens do desfile - performance (2004).
Fonte da imagem:Revista Caras especial de
moda, agosto de 2004.
Jum Nakao alargou os horizontes da moda propondo neste evento uma ruptura de
conceitos relacionados a uma arte efêmera, repleta de questionamentos que possibilitaram
diferentes modos de ver arte e o mundo da moda, favorecendo um processo imagético de
leitura estética, através de um viés artístico da performance e do eixo conceitual/experimental.
Conforme Oliveros (2004, p. 60):
Para o filósofo Alain Renaud, que se tem destacado por suas análises das
relações entre cultura e tecnologia, a noção de visibilidade cultural hoje está
ligada aos processos de simulação interativa, que permitem antecipar o real
físico, reproduzi-lo e manipulá-lo. Dentro dessas novas estruturas, aquela
que o autor denomina imagem-espetáculo é substituída pelo simulacro
interativo, o que gera uma transformação radical não apenas no conceito de
representação, mas, sobretudo, na relação com o real, [...] foi preciso um
estilista destruir sua própria criação para pensarmos para que serve a moda,
a quem serve e com quem ela estabelece seu diálogo hoje.
Porém, quando a moda relaciona-se com outras linguagens, no caso específico das
Artes Visuais, esta relação deve ser pensada a partir de um rompimento de códigos (de cada
linguagem), para que se estabeleça outro não-lugar, que não resulte em um produto e sim em
uma obra de arte que propõe um diálogo.
Desde a concepção de redy-made de Duchamp (1913), da Bauhaus (1919), do desenho
industrial (1930), da teorização de W. Benjamim (1936) sobre a reprodutibilidade técnica da
obra de arte, e de Andy Warholl e a Pop-Art (1955), foram tantos os enfoques que só vieram a
acrescentar como intermediadores entre a arte e vida, o que possibilitou a estetização de
várias linguagens e objetos da vida cotidiana, dando lugar a um conjunto de pensamentos pós-
modernos, que segundo Fabris (apud DE CARLI 2002, p. 140) valorizam a produção em
detrimento da feitura, que fazem da aura não uma qualidade do objeto, mas uma projeção do
espectador, estas concepções estendem-se da alta-costura ao prêt-à-porter, do processo
criativo do design de moda à roupa de artista, do niilismo a etapas da Wearable Computer.
As representações da arte e da cultura convivem com a contracultura: o provocativo, o
chocante e o sensacional constituem objetos estéticos que desfilam a mostra como uma
identidade contemporânea, permeada por variações e ondulações em constante devir.
Conforme Lipovetsky (1989, p. 24), a moda é um dispositivo social caracterizado por uma
temporalidade particularmente breve, por reviravoltas mais ou menos fantasiosas, podendo,
por isso, afetar esferas muito diversas da vida cotidiana.
A moda consumada/estetizada em criações não é necessariamente para ser usada nas
ruas, mas sim refletida em idéias e conceitos inserindo-se em desfiles-shows e desfiles-
manifestos.
A performance consiste em um trabalho de arte apresentado a uma audiência viva, como
nos desfiles de moda, por exemplo, também pode acontecer com a integração de outros meios:
como vídeo, cinema e trabalhos de rua. No Brasil, o precursor da pesquisa performática foi
Flavio de Carvalho, lembrado por sua performance de arte e vida intitulada “Moda de verão para
a cidade” (1956), saiu em passeio pelo viaduto do Chá, em São Paulo, vestindo saiote verde,
blusão amarelo, meias arrastão e sandálias, provocando um escândalo na época. Também
realizou a performance “Experiência II” (1939), onde caminhou de boné na cabeça no sentido
contrário a uma procissão de Corpus Chisti, com o intuito de estudar a reação da população,
sendo quase linchado.
No entanto, segundo Agra (2004), foi Hélio Oiticica quem avançou em algumas propostas,
as quais o tornariam o verdadeiro iniciador da arte performática. Figura ligada ao samba e à
cultura popular, Oiticica apreendeu em sua obra elementos fundamentais, tanto do mundo
popular das favelas e morros, quanto do construtivismo europeu. A síntese mais perfeita desse
processo, sem dúvida, vem dos “Parangolés”, ainda em meados dos anos 60. Os “Parangolés”
(nome que deriva de uma gíria dos morros cariocas) eram capas ou “fantasias” para serem
vestidas e fruídas como obras, anulando a idéia de mera contemplação (p.166).
Desta forma, o artista estava usando a indumentária como elemento precursor no conceito
da performance. Ocorre hoje que a moda inverteu o que a arte propôs; é claro que com muito
mais aparato e recurso comercial, porque a moda é sustentada pela sociedade de consumo. E o
artista, no caso, questiona a mesma sociedade.
Outro meio favorável ao tecido híbrido entre moda e arte poderiam ser os ambientes e as
instalações que formam espaços, onde o artista usa a arquitetura sem se confundir com a
mesma. São formas intertextuais que podem também abranger diferentes gêneros artísticos
propondo entrecruzamentos. Conforme Costa (2004, p. 63-64), podem incluir a performance, o
objeto, o vídeo e inúmeros outros meios, estabelecendo uma relação ou interação entre eles.
Tratam tanto da arte e seus limites como da relação, ou mesmo fusão, entre vida e arte. Neste
sentido, não somente artistas, mas também criadores de moda utilizam-se do meio artístico de
instalações e performances em ambientes com o propósito de instaurar suas criações e seu
processo criativo, levando em consideração as finalidades específicas de cada linguagem.
Em um dado momento contemporâneo, alguns estilistas começaram a redefinir as
fronteiras esculturais e conceituais do vestuário, usando materiais inusitados ou esculpindo
peças que mostrariam o corpo de forma provocativa. Desde então, a relação entre o que é
vestido como roupa e a identidade do sujeito que a veste tornou-se objeto/tema
explorado também por artistas visuais, por exemplo: o vestido de noiva de Christo em forma de
carga pesada, Joseph Beuys e sua escultura com forma de ternos de feltro e Emily Bates com
seu vestido feito de cabelo humano. Segue neste sentido, inserida na confluência artística, a
variabilidade da idéia de beleza e, conseqüentemente, critérios estéticos, ligando em
particular a multiplicidade dos dados de percepção do corpo idealizado enquanto padrão.
Figura 21
Christo
Vestido de noiva
Fonte da imagem: MÜLLER, Florence. Arte e moda, 2000
A idéia de trabalhar o corpo e seus pré-supostos pode ser outro ponto de confluência
entre as fronteiras dos sistemas da moda e da arte. Neste sentido, seus sistemas, como
processo de criação, propõem a conjunção/disjunção das poéticas. Ao mesmo tempo em que
se entrecruzam, suas finalidades são díspares ao mundo da moda, o estranhamento das
artes; e ao mundo das artes, o estranhamento da moda, dada sua repulsa ao seu destino de
massificação.
A produção emergente de arte contemporânea poderá apresentar o virtual, o efêmero e o
erótico como motes que evidenciam estilos híbridos em termos transdisciplinares. Não se trata
de buscar justificativa para a temática, mas sim de sublinhar o modo de operar as investigações
e procedimentos psicológicos e antropológicos, que segundo Lagnado (In: BASBAUM, 2001, p.
374) incide diretamente sobre a instauração de dois aspectos recorrentes:
A instauração de uma obra de arte não representa, mas sim apresenta situações dirigidas
pelo artista sem sua direta participação, mesclando configurações verificadas em
impossibilidades. Desta forma, a tessitura da instauração contempla o tornar visível o invisível,
perpassando pelo sentido do olhar do espectador. Já com a moda procuram-se perceber os
significados sociais, culturais e o modo como ela se relaciona a valores e propostas de vínculo.
Assim, a moda é uma linguagem que organiza os sistemas de expressão conforme semelhante
ao sistema da arte. A moda pode ser a forma de vestir e adornar o corpo seguindo tendências
contemporâneas que se atualizam a todo o instante (sazonais), apresentadas sucessivamente
pelo mercado, e devemos incluir aqui tanto o sistema da roupa como também o sistema do
corpo como pontos de expressão que usam a imagem.
Porém, entendemos que a moda é muito mais do que um sistema estético,
compreendemos assim, como Castilho (2004), que é uma linguagem que provoca a produção
de sentido. Desta forma, a moda e sua imagem poderão ser estudadas como forma de colagem
juntamente ao conteúdo de Artes Visuais. Com isto a moda aproxima-se da Educação em Arte.
Não somente artistas, mas também criadores de moda utilizam-se do meio/viés artístico
de instalações e performances em ambientes com o propósito de instaurar suas criações e seu
processo criativo, levando em consideração as finalidades específicas de cada linguagem. No
entanto, as unidades estéticas são as mesmas e por isso é possível que, independentemente
da vida efêmera e dos objetos mais imediatos, haja possibilidades de ligação entre as
correntes.
A produção emergente de arte contemporânea poderá apresentar o virtual, o efêmero e o
erótico como motes que evidenciam estilos híbridos em termos transdisciplinares. Não se trata
de buscar justificativa para a temática, mas sim de sublinhar o modo de operar as investigações
e procedimentos psicológicos e antropológicos, que segundo Lagnado (In: BASBAUM, 2001, p.
374) incide diretamente sobre a instauração de dois aspectos recorrentes:
A instauração de uma obra de arte não representa, mas sim apresenta situações dirigidas
pelo artista sem sua direta participação, mesclando configurações verificadas em
impossibilidades. Desta forma, a tessitura da instauração contempla o tornar visível o invisível,
perpassando pelo sentido do olhar do espectador. Já com a moda procuram-se perceber os
significados sociais, culturais e o modo como ela se relaciona a valores e propostas de vínculo.
Assim, a moda é uma linguagem que organiza os sistemas de expressão conforme semelhante
ao sistema da arte. A moda pode ser a forma de vestir e adornar o corpo seguindo tendências
contemporâneas que se atualizam a todo o instante (sazonais), apresentadas sucessivamente
pelo mercado, e devemos incluir aqui tanto o sistema da roupa como também o sistema do
corpo como pontos de expressão que usam a imagem.
Porém, entendemos que a moda é muito mais do que um sistema estético,
compreendemos assim, como Castilho (2004), que é uma linguagem que provoca a produção
de sentido. Desta forma, a moda e sua imagem poderão ser estudadas como forma de colagem
juntamente ao conteúdo de Artes Visuais. Com isto a moda aproxima-se da Educação em Arte.
Não somente artistas, mas também criadores de moda utilizam-se do meio/viés artístico
de instalações e performances em ambientes com o propósito de instaurar suas criações e seu
processo criativo, levando em consideração as finalidades específicas de cada linguagem. No
entanto, as unidades estéticas são as mesmas e por isso é possível que, independentemente
da vida efêmera e dos objetos mais imediatos, haja possibilidades de ligação entre as
correntes.
Neste capítulo apresentam-se as duas coletas de dados levantados para esta
investigação.
Introdução
O uso do nome da acadêmica foi permitido por meio de uma carta de cessão de direitos, em ANEXO à
pesquisa.
(Procuro também me localizar nessas idéias. Se, em meu projeto, não pretendo
abordar O Corpo como uma instituição distanciada e alheia, mas como a própria manifestação
de si, é importante que eu me encontre nessa escritura. Posso dizer que tenho uma relação
forte com a moda. Não por gostar de assistir a desfiles, ou acompanhar assiduamente as
mídias de moda, mas por encontrar nas roupas que uso muitas particularidades de mim.
Características como cores suaves e texturas orgânicas, por exemplo, são desejáveis para
que eu me sinta confortável (para caber) dentro desses panos que são as roupas. São
elementos estéticos que aprecio também nos trabalhos de arte, nos objetos, nas coisas do
mundo em geral. Tenho, portanto, a necessidade de carregar comigo aquilo que acho belo,
que me causa agrado, e que está também no mundo. Outras convicções pessoais também
estão localizadas no que carrego (ou deixo de carregar) no meu corpo. A escassez de
acessórios que levo comigo está relacionada a certa busca pela naturalidade. Procuro,
através daquilo que uso no corpo, a manifestação de uma essência. Como se houvesse uma
noção de verdade que estivesse localizada na pele. Mas que tipo de verdade se carrega no
corpo se a todo instante o corpo se transforma? O homem acaba por se assemelhar àquilo que
pretendia ser, sugere Baudelaire apud Kathia Castilho.)
Estabeleço, portanto, a procura por um corpo-crítico, que (se) questione e (se) re-
signifique a partir do seu entorno; mas também por um corpo-âmago, que se mantém abaixo
da pele, íntimo, subjetivo, esperando por estímulos expressivos que o permitam escapar pelas
frestas.
Objetivos
Que possíveis seriam esses? Por que um corpo deveria esperar para existir? Essas são
perguntas plausíveis e importantes para compreensão dessa idéia que me pareceu tão
instigante. Revela-se aí a noção de um corpo que espera. Ele aguarda por abrigo, identidade,
referência, significação. E, nesse sentido, espera por existência. O corpo não é auto-suficiente,
ele busca o tempo todo extensões para si, sejam artefatos da tecnologia, abrigos, territórios ou
a companhia de outros corpos. Um corpo nunca pode estar só. E seria para abrandar esse
desamparo simbólico que a moda se faz tão importante. O mesmo texto explica:
Não é em um gesto de negação do 'fora' que estes trabalhos me inspiram, mas numa
profunda busca pela densidade de si. Jorge Larossa escreve sobre estes percursos internos:
O itinerário que leve a um 'si mesmo' está para ser inventado, de uma maneira sempre
singular, e não se pode evitar nem as incertezas nem os desvios sinuosos. De outra
parte, não há um eu real e escondido a ser descoberto. Atrás de um véu, há sempre um
outro véu; atrás de uma máscara, outra máscara; atrás de uma pele, outra pele. O eu
que importa é aquele que existe sempre mais além daquele se toma habitualmente
pelo próprio eu: não está para ser descoberto, mas para ser inventado (2004, p. 9).
Seria possível que, sendo mais inventores do próprio corpo, formadores da nossa própria
imagem, fôssemos também mais propositores das nossas próprias histórias.
Abordagem Metodológica
Estas aulas foram pensadas para alunos de 8ª série a 2º ano. Quando falo deste 'aluno',
logo penso nos estudantes que conheci visitando o Colégio Aplicação. Tendo assistido a uma
aula de 8ª série, percebi alunos distanciados, pouco interessados, porém inventivos e
surpreendentes quando chamados a falar. Sobre esse contexto de idade, pensando em escolas
Estaduais, é que estruturei os meus planos de aula.
Plano de Aula I
Tema: O que a gente carrega no corpo?
Objetivo: Voltar a atenção dos alunos às imagens de moda vinculadas às mídia impressas.
Questionar essas imagens e os códigos pré-estabelecidos que seguem, fazendo relações
com o trabalho “Nômades” da artista Laura Lima.
Justificativa: A recorrência dessas imagens no cotidiano do aluno, as relações sociais que
elas suscitam e necessidade de se formar cidadãos mais críticos e preparados para lidar com
a cultura visual.
Conteúdo: Arte Contemporânea (relações entre arte e moda)
Avaliação
A avaliação se dará observando o envolvimento e interesse na montagem do varal e na
participação, quando chamados a opinar nos momentos de debate.
Plano de Aula II
Tema: O que a gente carrega no corpo?
Objetivo: Voltar a atenção dos alunos às imagens de moda vinculadas às mídias impressas.
Questionar essas imagens e os códigos pré-estabelecidos que sigam, fazendo relações com o
trabalho “Nômades” da artista Laura Lima. Propor uma experiência plástica e conceitual de
subversão dos meios.
Justificativa: A recorrência dessas imagens no cotidiano do aluno, as relações sociais que elas
suscitam e necessidade de se formar cidadãos mais críticos e preparados para lidar com a
cultura visual. A importância de questionarmos e atuarmos sobre os meios que nos são
impostos.
Conteúdo: Arte Contemporânea Artista Laura Lima
-Identidade/ Subjetividade
- Vivência poética: roupa poética
Avaliação
A avaliação se dará observando o envolvimento e interesse na confecção das roupas-poéticas
e na possibilidade de explicar as escolhas feitas na construção do trabalho.
Referência Bibliográficas
Anexos
Figura 22
Fabíola Scaranto
Projeto Guardo-me por dentro
Figura 23
Lygia Clark
Nostalgia do corpo - Máscara Abismo (1965-88)
Figura 24
Laura Lima
Série Nômades (2007)
Máscaras em acrílica sobre
tela e chassis de madeira,
dimensões variadas.
Figura 25
Laura Lima
Série Nômades (2007)
Figura 26
Laura Lima
Série Nômades (2007)
Resumo: O presente artigo relata a experiência de estágio desenvolvido no Colégio Aplicação
de Florianópolis, SC. A partir de temáticas da arte contemporânea investigo os
desdobramentos suscitados pelas relações entre experiência e significação, buscando
relacionar o experimental com referências teóricas e poéticas, contrapondo intenção e
resultado, projeto e redimensionamento. O trabalho conversa com trabalhos de artistas como
Nelson Leirner, Lygia Clark e Laura Lima, e faz relações entre imagens da arte e imagens da
cultura da visual.
Palavras-Chave: Arte contemporânea, significação, educação, experiência.
Nota da autora: Neste artigo de Priscilla Menezes entendemos que há repetições de trechos e citações, os
quais foram oriundos do projeto de estágio. Para fins desta pesquisa, optamos por não alterar o texto que a
professora/artista/pesquisadora elaborou para seu artigo.
Disciplina do curso de Licenciatura em Artes Plásticas (CEART- UDESC), ministrada então pela professora
Drand. Jociele Lampert.
Pensando nesse corpo da espera, que aguarda por abrigo, identidade, referência,
significação, é possível entender que um corpo nunca é auto-suficiente, ele busca o tempo todo
extensões para si, sejam artefatos da tecnologia, abrigos, territórios ou a companhia de outros
corpos. Um corpo nunca pode estar só. E seria para abrandar esse desamparo simbólico que a
moda se faz tão importante. O mesmo texto explica:
O corpo, mantendo-se como fonte sagrada de todas as ilusões, garante o futuro dos
estereótipos. O corpo enigma permanece o grande estereótipo (2007, p. 66).
Entendendo dessa maneira que, sendo mais inventores do próprio corpo, formadores
da nossa própria imagem, fôssemos também mais propositores das nossas próprias histórias.
Frente a todo esse referencial teórico e poético, tendo um projeto preliminar em mãos,
fui até o Colégio Aplicação (Florianópolis- SC) onde havia feito minhas observações no
primeiro semestre de 2008 e onde pude atuar no segundo semestre do mesmo ano. Passei
então a redimensionar o meu projeto. Sabendo que daria aulas para um grupo de 40 alunos do
1º ano do 2º grau, e que teríamos três encontros de 45 minutos, precisei redimensionar os
planos de aula para que fossem plausíveis em relação ao tempo disponível e à quantidade de
alunos com os quais deveria trabalhar. Outro redimensionamento se deu através de uma
solicitação feita pela professora da turma, que me pediu para introduzir a arte contemporânea
(pouco conhecida para esses alunos até então), abordando os procedimentos de instalação e
performance. Como, inicialmente, meu projeto contemplava apenas duas aulas e eu tive a
oportunidade de atuar em três encontros, me foi possível pensar nesse acréscimo de conteúdo,
de forma a dialogar com a minha proposta inicial.
Para começar a conversar com os alunos sobre aspectos da arte contemporânea,
comecei fazendo alguns paralelos entre a arte academicista, a arte moderna e a arte
contemporânea. Pensando nos três momentos como desdobramentos uns dos outros,
apresentei pontos comuns e aspectos de divergência, buscando uma compreensão da arte
como território orgânico, vivo, influenciado por aspectos exteriores e internos a si,
problematizando o social e o formal, a representação e a apresentação. Para situá-los no
território híbrido e difuso da arte contemporânea, passei a trabalhar com conceitos. O primeiro
deles, o conceito de 'obra como objeto'. Para desmontar a idéia de que a obra precisa ser fruto
de uma feitura manual e que deve ser deslocada do mundo por uma moldura ou pedestal,
apresentei o trabalho do paulista Nelson Leirner. O artista tem como matéria-prima de seus
trabalhos, elementos prontos, fabricados industrialmente. Seu procedimento artístico consiste
no recolhimento do objeto de uso provocando um deslocamento do seu sentido. Seus trabalhos
transitam entre a escultura e o objeto, a composição e a apropriação. Fazendo uso de objetos
banais e repletos de significação culturalmente consolidadas, o artista propõe uma situação de
estranhamento, nos fazendo relativizar o código cultural no qual tais objetos se inserem,
repensando seus potenciais significantes. Trabalhando com Nelson Leirner pude aproximar
seus objetos-obras com o conceito de instalação, conversando sobre esse procedimento
artístico no qual a obra freqüenta o mundo, desprovida de molduras ou contornos, dialoga com
o espaço e com o corpo do espectador, convidando-o a ser parte viva da obra, no sentido de
que se dá uma nova maneira a cada reposicionamento empreendido pelo espectador em
relação à obra que se expande no espaço.
O segundo conceito que procurei trabalhar com os alunos ao longo das aulas foi a do
'artista como propositor'. Buscando desconstruir a idéia de um artista-gênio, ou um artista-
artesão, procurei apresentá-los a noção de um artista que trabalha com idéias, situações,
propondo vivências entre público e obra. Para ilustrar essa idéia, apresentei alguns trabalhos
da Lygia Clark de sua série “Objetos Relacionais”, designação genérica atribuída por Lygia
Clark a todos os elementos que utilizava nas sessões de Estruturação do Self, um trabalho
praticado de 1976 a 1988, no qual culminam as investigações da artista que envolve o receptor e
convoca sua experiência corporal como condição de realização da obra. Apresentando algumas
imagens da artista pude conversar com os alunos acerca da noção de performance. Ação
artística que tem como elementos estéticos o corpo do artista, ou de pessoas designadas pelo
artista, a efemeridade da ação e participação do público espectador. Acontece de maneira
singular a cada vez que é apresentada, pois fazem parte da obra os aspectos do espaço onde se
dá.
Após trabalhar tais questões conversei com os alunos sobre o trabalho da já citada Laura
Lima e confrontei imagens de seu trabalho com imagens da mídia, trabalhando questões da
imagem, da mídia e do mercado. Pude perceber então como os alunos se sentem mais à
vontade para empreender uma discussão quando são abordadas temáticas de seu cotidiano.
Enquanto estavam-se discutindo temáticas próprias da arte, eles se mantinham calados,
reagindo muito pouco às perguntas a eles direcionadas. Ao apresentar o trabalho de Laura Lima
fazendo ligações com imagens da moda, familiares a eles, os alunos se sentiram à vontade para
entrar na discussão, emitindo suas opiniões e vivências próprias. Questionando o trabalho da
artista através de seu repertório pessoal e as reflexões elaboradas durante as nossas aulas.
Diante desta experiência de trabalhar arte contemporânea com adolescentes me vi em
uma situação de grande complexidade. Pois é preciso estimular o interesse do aluno por este
assunto, que é muitas vezes obscuro para os próprios estudantes de arte. Buscando uma
compreensão sobre o que é infinitamente complexo. Tentando elaborar aquilo que muitas vezes
se mostra resistente à elaboração. Sobre arte contemporânea, a professora Anita Koneski vai
afirmar que Não existem mais quaisquer critérios formais ou materiais, ou qualquer critério
absolutamente válido para definir a arte com pretensões de uma universalidade. Portanto, ao se
propor a ensinar arte contemporânea, o professor chega desarmado de esquemas e resumos. É
preciso elaborar outro tipo de pensamento acerca do entendimento de arte. Anita Koneski
continua escrevendo que A arte deixa de ser expressão do fundamento para se abrir para uma
multiplicidade de leituras que faz do diálogo com o espectador o princípio da verdade. Tal
afirmação encontra respaldo em uma situação vivida em sala de aula, quando um aluno
pergunta qual é o significado de uma determinada obra e eu me vejo diante de uma obra múltipla
em significados, oferecendo um significado verdadeiro para cada leitura possível formadas por
diferentes espectadores. Tornar esse conceito de significação possível ao entendimento do
aluno é o esforço que se deve empreender. Anita Koneski escreve ainda a respeito da arte
contemporânea:
Esta arte assusta porque vai contra todo o esforço da sociedade de ordenar o caos,
manter a ordem, refrear os impulsos e censurar os desejos. A ordem ideal da nossa
sociedade está fundamentada na proteção aos perigos da transgressão.
Por estar emaranhado em um código de significações tão próprio, o ensino da arte
contemporânea nunca pode ser mera enumeração de fatos, mas precisa passar por uma
elaboração de ordem filosófica, a fim de que se relativizem verdades pré-concebidas, criando
um espaço fértil para novas significações.
Alberto Tassinari afirma que Há um duplo movimento de inclusão e exclusão do
espectador diante de uma obra contemporânea (2001, p. 143). Tal movimento é percebido nos
trabalhos contemporâneos, como os de Laura Lima que, ao mesmo tempo em que solicitam a
participação do público, provocam um forte estranhamento. Lidam com elementos banais do
cotidiano, mas transmutam seus significados a ponto de os tornarem estranhos e inacessíveis.
Tassinari continua, dizendo:
E segue colocando que Esboça-se, e no que esboça, a obra incorpora desvios, e também
uma alteridade aí começa a insinuar-se (2001, p. 153). Portanto, para pensarmos na suposta
aridez proposta por esses objetos apropriados do mundo e ressignificados em códigos
provocadores do estranhamento, podemos entender que, nessa intersubjetividade mediada
por desvios, o que resulta é o contato com a alteridade. E lidar com a alteridade me parece ser a
maior dificuldade e maior riqueza que se pode encontrar no cerne da arte contemporânea.
Ao final de minhas aulas expositivas junto a essa turma do Colégio Aplicação, propus um
trabalho prático em cima de roupas prontas, pré-configuradas, solicitando que os alunos, em
grupos, quebrassem os moldes das roupas, pensando em como ressignificá-las através de uma
customização poética. Acompanhar este exercício prático me fez pensar o quando o 'fazer' em
arte se apresenta problemático para mim. Se, por um lado, corre-se o risco de incidir em um
fazer vazio, propondo um fazer desprovido de significação, por outro lado a significação
esvaziada de experiência torna-se mera acumulação de informação. Pensar em um fazer que
esteja costurado no significar e procurar elaborar os dois de maneira a se acrescentarem
mutuamente é a tarefa do professor. Pensando na minha própria experiência como professora e
na experiência desses alunos, me remeto a um texto de Jorge Larossa no qual ele propõe
pensar a educação a partir do par experiência/sentido.
O autor (LAROSSA, 2002) vai colocar que nunca se passaram tantas coisas em nossa
sociedade, mas que a experiência se torna cada vez mais rara. Diz que a experiência é aquilo
que nos passa, que nos acontece e nos toca. Diferencia experiência de informação, colocando
que o excesso de informação seria um impedimento para a experiência, uma vez que um
sujeito manipulado pelos aparatos da informação e da opinião acaba tão rígido em seus
pré-julgamentos que se torna incapaz de experiência qualquer. Sendo a informação conforto e
certeza, a experiência, pelo contrário, contém em sua raiz etimológica as idéias de travessia e
perigo. Larossa escreve:
A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto
de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar
para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais
devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se
nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade,
suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os
ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros,
cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço (2002,
p.24).
Referências Bibliográficas
Refletir sobre a moda e sua imagem quer dizer refletir sobre o corpo e suas confluências
em diferentes espaços e ações. O corpo na cena contemporânea apresenta narrativas
singulares, fragmentos permeados por idiossincrasias e paradoxos. Podendo ser um corpo
constituído por próteses, moldes de linguagens, aparatos da ciência. Cirurgias, transplantes,
recombinações genéticas e assim o corpo desprende-se dos limites anatômicos para pautar-se
sobre o imaginário, imaginário produzido pela sociedade da informação e configurado de forma
virtual na contemporaneidade.
Em uma perspectiva re-construtivista e contemporânea para a educação, onde o estudo
reflexivo sobre a cultura midiática poderá enfatizar as diferentes formas de compreensão sobre
o poder, o privilégio e o desejo socialmente evidenciado na vida cotidiana. Trata-se como uma
função da Educação propiciar um conhecimento crítico, com um objetivo que reflita sobre um
processo de subversão de um sistema educativo solidificado em práticas modernistas.
O que proponho neste estudo é tecer uma pesquisa educacional baseada em Arte
(conforme o pensamento de BARONE; EISNER,1997; MARIN, 2005). Nesta perspectiva, além
de articular qualidades estéticas sobre o pensamento visual, seria inserir elementos do
design como processo da investigação para a intensificação de possíveis perspectivas. Marin
(2005) aponta para possíveis eixos de análises em uma pesquisa educacional baseada em arte:
a premissa de que uma investigação deverá ser baseada em imagens, tecer reflexões sobre
subjetividade e narrativas pessoais ou auto-etnografias (autoetnografhy) e basear-se na Arte
propriamente.
Priscilla, ao levar imagens de artistas contemporâneos e propor um trabalho reflexivo
sobre essas imagens, partindo do diálogo e do repertório dos alunos, interpôs no contexto
educacional a relação de um âmbito biográfico, que certamente não parte das imagens ou do
tempo de produção da obra, mas da inter-relação que esta imagem teria com quem tece
narrativas a partir das imagens.
Assim, investigações baseadas em
imagens tornam-se meio de
representação e conhecimento tão
legitimado quanto outro academicamente
aceito. O uso da imagem torna-se
relevante no sentido de avaliar
possibilidades futuras, sendo também um
sistema de dados (situações) que
intensificariam o desenrolar de repertórios
e narrativas vivências/reais/virtuais.
Estabelecer reflexões sobre identidade/
subjetividade, narrativas pessoais ou
auto-etnografias (autoetnografhy) implica em
reivindicações sobre conceitos de alteridade.
Em uma pesquisa, há uma atividade científica objetiva e outra atividade artística que é
intersubjetiva, compreendendo a criação artística assim configuramos um 'modelo' idôneo de
investigação em educação para as Artes Visuais. Priscilla engendrou o trabalho de criação
artística da percepção de seu próprio pensamento visual como professora/pesquisadora
estimulando a capacidade criativa e reflexiva de seus alunos frente à temática da arte/moda e a
imagem da moda referenciada pelo contexto contemporâneo.
A escolha dos artistas, a captura de material para o trabalho de sala de aula, a leitura de
um referencial teórico sobre a arte em uma perspectiva cultural subsidiaram a práxis educativa
de Priscilla. Mas principalmente foi fundamental o convívio com os estudantes da escola, com a
escuta e os ruídos dos corredores e pátio escolar, a esta vivência damos o nome de
docência.
Priscilla, em seu artigo final, relata:
Figura 27
Figuras 28 e 29
Cristiane Mesquita
Instalção
Nelson Leirner -O
Grande Combate,
1985, imagens de
santos, divindades
afro-brasileiras,
bonecos infantis e
réplicas de
animais.
Figuras 32 e 33
Performance
Máscaras Sensoriais
A moda e a mídia
Figuras 36 e 37
“Nunca se passaram tantas coisas, mas a experiência é cada vez mais rara.”
Figuras 38 e 39
“ A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca.”
Ao tecer um olhar, apontamos para um entrelaçamento de fios. Fios que juntos irão
compor um tecido. Tecido este que compõe um significado cultural. Significado cultural que
possibilita ou implica em leitura e práticas metafóricas sobre a imagem, pois imagens são
tecidos sociais, significados culturais, produção de sentido e percepção de um pensamento
visual real e imaginário. Ao olharmos a arte encontramos um tecido composto por significações
que necessitam ser entendidas no espaço escolar.
Para que isto ocorra, é necessário, antes de tudo, que o próprio professor teça um olhar
crítico e estético sobre a realidade. Ao compor uma trama ou rede o professor de arte percebe as
relações em que as imagens ultrapassam o que é visível. Isto é, o olhar do professor é
estabelecido pelas relações sociais entre as pessoas, mediadas por linhas de imagens.
Para tal, é viável que pensemos sobre o que é uma imagem. Ou ainda, como pensar a
imagem das coisas e a imagem de nós mesmos. Conforme Novaes (2005, p.11), o desvelar de
uma imagem está na própria etimologia da palavra theoría. Derivada da fusão de théa (“visão”,
“olhar”) e ora (“desvelo”). Desta forma, para tecer um olhar crítico-estético, precisamos pensar
em atos que levem à compreensão. Se não sabemos ver, é certamente porque a visibilidade não
depende do objeto apenas, nem do sujeito que vê, mas também do trabalho de reflexão: cada
visível guarda uma dobra invisível que é preciso desvendar a cada movimento.
O princípio de um pensamento crítico instaura-se no movimento entre olhar e questionar a
imagem, refletir sobre as relações no âmbito social em que se inserem tais representações
visuais e nas relações interpessoais que a imagem pode suscitar.
Não se trata daquele mero olhar contemplativo, extasiado pela sensibilidade do artista ou
pela imponente beleza da obra. Trata-se sim de um olhar reflexivo, um olhar que vai além da
imagem, é aquele olhar perturbador que constrói significado e sugere ou pressupõe do
professor um olhar inventivo que imagem me provoca? Ou de onde devo partir?
Talvez seja através desse ponto que nasce a criticidade. Ver as idéias nas imagens é
apenas o começo que o mundo imaginário exige de um sujeito contemporâneo, pois a imagem
começa a partir do momento em que não se vê mais aquilo que imediatamente é oferecido no
suporte material. E se pensarmos a arte em meio a um “hibridismo cultural”, conforme Burke
(2003) propõe, torna-se necessário que reflitamos sobre objetivos e práticas que se misturam. É
neste contexto que a confluência entre arte e moda pode contribuir, não somente para
contextualizar, mas para instaurar uma significação que dá sentido à imagem que o aluno da
escola percebe. Assim, o olhar do professor implica o olhar de seus alunos.
O ato de tecer um olhar crítico-estético possibilita a formação de um professor coerente,
que volta a sua consciência ao contexto social do aluno. Conforme Campos (2002):
Figura 43
Conteúdo possível para ser
abordado:
- estética
- o corpo como tendência na Arte
Contemporânea
- imagem e palavra
Figura 44
Figura 45
Figura 51
Figura 52
Figura 54
Figura 55
Polaróide é o que o artista visual define como espaço para apontamento ou escrita descritiva, são quadrados
para serem recortados, escritos e colados na paisagem.
Sobre o artista ver http://www.sintomnizado.com.br/tomlisboa
Polaróides visuais
Figuras 57 e 58
Imagens dos trabalhos gerados
Figura 59
Imagem da aula aberta realizada pelo artista visual Tom Lisboa em 2009/1, atividade vinculada à disciplina de
Cultura Visual
Todos os projetos poéticos tiveram seus registros visuais, bem como apontamentos
curatoriais, desenvolvidos pelos estudantes envolvidos em cada projeto poético. Cada
artista/professor/pesquisador desenvolveu reflexões teóricas a partir de ações práticas
pontuadas nos projetos poéticos:
Seguem os textos curatoriais:
Conforme o aluno A:
Inicialmente, o primeiro passo dado pelo grupo foi estabelecer contato com o artista Tom
Lisboa, residente em Curitiba. Foi escolhido o e-mail como fonte de comunicação com o
artista, sendo criado um e-mail em comum para o grupo. A partir daí foram feitos vários
contatos a fim de estabelecer fatos como uma data determinada para os eventos, o material
exigido para a oficina, etc. A divulgação da palestra, que foi aberta ao público, aconteceu em
forma de cartazes que foram distribuídos nos centros culturais de Florianópolis, e ainda
através das rádios Itapema FM e Rádio Udesc. Na elaboração do cartaz foi usada uma
imagem do trabalho “Polaróides (In)visíveis”, passando previamente pelo aval da professora
Jociele e de Tom Lisboa antes de sua distribuição. Para facilitar o processo dos alunos na
palestra e oficina, foram disponibilizados no xerox da faculdade textos sobre o trabalho de Tom
Lisboa e a sugestão de visita em seu site. Dessa forma o acesso dos alunos ao
desenvolvimento da oficina se deu de forma mais produtiva. Outros fatos importantes a serem
resolvidos foram a estadia, alimentação e transporte de Tom Lisboa nos dois dias que
passaria na cidade, assim como a ajuda de custo liberada pela universidade para o pagamento
de hotel, comida e locomoção. No que diz respeito a estas questões, contamos com a ajuda da
professora Jociele e de Ana Clara, que nos auxiliaram tanto na parte prática como na
burocrática. Lembrando também da realização das inscrições e convocação dos alunos para a
oficina.
Conforme o aluno B:
Na palestra, que aconteceu na segunda-feira do dia quatro de maio, Tom expôs o seu
trabalho “Polaróides (In)visíveis”, assim como falou de outras intervenções feitas no passado e
de seu atual trabalho. Divulgou seu site, onde posta todos os registros de suas intervenções,
além de textos sobre seu trabalho e sua trajetória. No dia seguinte ocorreu a oficina, que contou
com a participação da professora Jociele e Ana Clara, e alunos da disciplina que se inscreveram
previamente. O encontro foi marcado na Praça XV de Novembro, no coração do centro da
cidade. Desse local partimos para a intervenção na rua Felipe Schimitd. Cada um dos alunos
ganhou uma polaróide em branco e a indicação de um orelhão, para que a partir desse ponto
estabelecesse sua escrita. Depois de terminada a colagem de todos, percorremos juntos cada
um dos orelhões observando o trabalho dos colegas. O projeto poético elaborado na disciplina
de Cultura Visual foi uma oportunidade de entrarmos em contato com um artista e seu trabalho
de forma mais pessoal e comprometida. A realização da oficina foi também muito interessante,
pois participamos diretamente da ação que o trabalho de Tom Lisboa propõe. A prática de
organizar um evento como uma palestra, um encontro e uma ação educativa foi interessante
para o grupo. Ao longo desse percurso, destacamos a experiência e exercício da curadoria
como um dos fatos mais marcantes na realização desse trabalho. Também destacamos a
importância do trabalho em grupo e o contato com o artista e seu processo de criação.
Conforme aluno C:
“Polaroides (in)visíveis”
Habitar a cidade. Conhecê-la pelos cantos, desde os rodapés. Escalar muros, repor
ladrilhos, quebrar espelhos. Promover passeatas, mudas de mínimas feras mitológicas,
enfileirar formigas falsas. Pendurar céus eqüiláteros que vigiem a pele deste ser atemporal,
ser grande, ser pequena. Criar trajetos dispendiosos, tracejá-los, marcá-los com tinta até a
próxima chuva, segui-los até que todo sentido perca a direção. Amarrar balões aos postes,
deixar que voem, permitir que sejam esquecidos, marcar cada um deles com um segredo, uma
proposta invisível para cada milênio novo. Adesivar as superfícies com memórias indizíveis,
embaralhar paisagens, criar portos frágeis para pequenas naus, propor intimidades
improváveis entre um corpo anônimo e uma invisível arquitetura. Habitar as frestas, explicitar-
se nas brancuras. Eu não te esperava, mas aqui estou, para transtornar teus muros com
minhas contra-máquinas e deixar nas tuas mãos fórmulas que nos unam e nos separem, a
cada nova soma, a cada inútil solução. Entrar na cidade, permanecer em seus espaços. Entre
os muros, entre os carros, entre os corpos, entre os prédios, entrem todos. Habitar, entre a
intimidade e a espera, entre o que é meu e o que é seu, entre, pode entrar. Entre uma manhã e
uma noite, entre dois instantes que já passaram, entre a voz e o silêncio, entre e demore mais
um pouco. Entre e não vá, não tão rápido, não sem olhar uma segunda vez, dar-se o tempo de
uma espera, um instante para a pausa e então perceber que entre os cheios resolutos da
cidade, entre os corpos tão prontos que passeiam pelas ruas, há o espaço para a dúvida, para
as questões emudecidas. Habitar, sem ter certezas, sem precisar ter rumo, comprovante,
logradouro. Entre o que é fixo e o que nunca se resolve, entre e fique à vontade, a rua é sua,
pode entrar.
Figura 63
Convocatória/convite aos artistas
Figura 64
Figuras 65 e 66
Título do trabalho: mergulho numa cápsula NBP
Somando a parte sua que existe em mim com a parte minha que você levou, e multiplicando-
as por 2, terá contigo, eu elevada à quarta potência. Atente-se: as divisões impostas por
aquilo que sobrou podem repartir além do que deveriam e então anunciar o fim. O mergulho
se dá pelo incansável movimento dos pronomes, que possibilita equacionar você e eu. Se as
soluções são inúteis, tente substituir as variáveis por algo que você acredite que seja
equacionável; pois quando eu e você somos muitos, podemos nos igualar a zero.
Figuras 67 e 68
Título do trabalho: S/título (Intervenção com adesivos/formigas no museu Victor Meirelles)
Comentário postado no blog
da ação urbana:
Figuras 69 e 70
Título do trabalho: Nota de rodapé (apropriação de grafite em adesivo colado no Museu Victor Meirelles e
Museu da Escola de Florianópolis)
Figuras 71, 72 e 73
Título do trabalho: s/título (grafite urbano) inserido no espaço da cidade propositadamente pelo artista
com o intuito de dar visibilidade ao fragmento da cidade.
Figuras 74 e 75
Título do trabalho: Variações (foto
performance). O artista insere-se na
paisagem, registra sua inserção e assim
torna-se parte do lugar e objeto/paisagem
cultural instaurado por ele. Foto
performance de Priscilla Menezes como
parte do trabalho realizado na disciplina de
cultura visual.
Comentário postado do blog da
ação urbana:
Figuras 76 e 77
Título do Trabalho: Seis propostas para o próximo milênio
Figuras 78 e 79
Título do trabalho: Era uma vez um tango. Trabalho realizado com o intuito de provocar olhar para ações
deslocadas em tempo e espaço sobre o cotidiano.
Figura 86
Paulo Bruscky
AlimentAÇÃO - Imagem e idéia geradora do projeto poético.
Seguem imagens de registros do “Picnic Cover” realizado em 2009/1 no pátio do Centro
de Artes da UDESC, local chamado de arena multiuso pelos estudantes:
Figuras 87 e 88
Imagens de registros do “Foto Picnic Cover”
Figuras 89 e 90
Imagens de registros do “Foto Picnic Cover”
Figuras 91 e 92
Imagens de registros do “Foto Picnic Cover”
Figuras 93 e 94
Imagens de registros do “Foto Picnic Cover”
Texto curatorial do “Foto Picnic Cover” desenvolvido pelas alunas D e E como proposta
integrante ao projeto poético:
A partir da idéia de piquenique proposta pela professora como uma das possibilidades de
trabalho curatorial dentro da disciplina de Cultura Visual, pensamos sempre em tecer conexões
com o ato de se reunir para comer. Começamos a pesquisar trabalhos que envolvessem a
temática da comida e da alimentação como um todo, já que queríamos um trabalho poético que
pedisse participantes, sendo assim, curatorial, já que dependia de nós a escolha de local,
convocatória e o desenvolvimento e desdobramento do conceito do evento. Dentro dessa
busca encontramos o trabalho “AlimentAÇÃO” de Paulo Bruscky, no qual o artista simula comer
o próprio corpo através de poses para fotos e intervenção na revelação. Se trata de um trabalho
de arte postal, modalidade da arte que o artista ficou mais conhecido no Brasil e exterior, mas
posteriormente esse trabalho de fotos foi seqüenciado e virou livro de artista. Na década de 70
muitos artistas tinham seus trabalhos apreendidos e sua liberdade cerceada por conta do
sistema político e da censura, Bruscky, como um artista contestador, teve inúmeras vezes os
seus trabalhos apreendidos e suas exposições fechadas, a arte postal era uma alternativa a
essas limitações. Diante dessas limitações, a foto-ação de Bruscky é muito significativa, no
sentido de que o artista podado de sua liberdade de expressão tem a si mesmo e a seu corpo
como refúgio último da sua inconformidade e forma de expressão. Tecendo relações com o
Manifesto Antropofágico de 1928 por Oswald de Andrade, “Só a antropofagia nos une”, Bruscky
definitivamente queria tecer relações com essa raiz e esse passado antropofágico que o Brasil
tem, essa falta de lógica e categorização que sempre desconcertou os colonizadores e ainda
desconcerta aos brasileiros. A falta de sistematização e a presenças de conteúdos latentes e
pouco claros. Por que comiam os outros? Porque queriam sorvê-los, porque o corpo do outro
seduz já que contém tudo o que o outro é. Em “Totem e Tabu” os filhos comem o pai para
absorver sua força, em “AlimentAÇÃO” Bruscky come a si mesmo, reforçando sua potência, já
que é limitado de todo o resto. A partir dessas reflexões propusemos refazer a ação de Brusky
num piquenique tupinambá, pedindo aos participantes que cometessem a autofagia
fotográfica, simulando comer o próprio corpo e invadindo o espaço do outro para também
devorá-lo. As fotos do evento e nome dos participantes estão no blog HTTP://www.
Fotopicnicover.blogspot.com/
Projeto poético IV
Este projeto foi desenvolvido por um grupo de alunas do curso de Design Gráfico do
Ceart/UDESC, que cursaram a disciplina Cultura Visual como alunas especiais. Embora não
sejam professores/pesquisadores especificamente, entendo que a produção deste grupo
partiu do eixo da criação, ou seja, da articulação entre o produtor visual, sujeito que circula na
sociedade contemporânea, que convive com o que espetacular em relação à imagem, e que
deste meio pesquisa/investiga/elabora seu pensamento visual.
Figuras 95 e 96
Distorção de imagem, manipulação em processo digital, ensaio realizado no Horto florestal em Florianópolis
em 2009/1.
Figuras 95 e 96
Texto que circula na internet (s/data definida) intitulado “Deambulações sobre o contorno: ensaio para
ser lido em voz alta, simultaneamente, por três pessoas”.
no entanto é do (e com) encontro com o Outro que surge a rede de significação, ou de afetos,
como aponta Amaral (2008).
Durante o ano de 2009, partindo da prerrogativa de ter um espaço virtual para
armazenar os trabalhos de meus alunos, e tendo como parceiro o site
www.artistasvisuais.com.br, criei e idealizei o espaço para pesquisa em cultura visual. É um
espaço virtual que oferece a qualquer sujeito a possibilidade de postar imagens, textos,
vídeos e links sobre assuntos que relacionem artes visuais e cultura visual.
No site www.artistasvisuais.com.br/culturavisual é possível ter acesso à produção
textual dos alunos da disciplina Cultura Visual (Ceart/UDESC), resenhas e textos curatoriais,
também é possível encontrar registros fotográficos das ações urbanas, bem como links que
apresentam trabalhos de outros artistas. Entendo que há muito a desenvolver nesse espaço
virtual, podendo ser não apenas um espaço para registro de imagens, mas sim uma
referência para pesquisas na área.
Figura 99
Imagens/detalhes do site www.artistasvisuais.com.br/culturavisual
Figuras 100 e 101
Imagens/detalhes do site www.artistasvisuais.com.br/culturavisual
O objetivo deste trabalho não esteve em comprovar hipóteses. Mas sim compreender
como a delimitação entre Artes Visuais, cultura visual e formação docente pode ocorrer em um
espaço de construção do conhecimento que é a Universidade. Pesquisar como o professor de
Artes Visuais compreende criticamente a inter-relação cultura visual e educação na prática
educativa e prática artística foi o pressuposto final da investigação.
Entender como são construídos eixos geradores para abordagens de conteúdos foi
igualmente foco norteador para o olhar que detive sobre a imagem da moda e a sociedade que
vai muito além do espetáculo. Também foi objetivo subjacente desta tese impulsionar formas
de ensino e aprendizagem (autônomas e colaborativas) que situassem o conhecimento
produzido pelo artista/professor/pesquisador em uma dinâmica contextual considerando que
este sujeito irá ensinar e produzir arte.
A cultura visual faz parte da sociedade contemporânea e poderá ser articulada com o
conteúdo no Ensino da Arte, partindo possivelmente de uma abordagem para o campo
poético em Arte, entendo que é necessário interrogar o lugar e o estatuto do artista na
contemporaneidade para tal. O ateliê já não é mais o lugar que privilegia a criação, instaurada
de forma romantizada por muitos.
Hoje o artista co-habita um tempo/espaço sobre a cultura visual onde se torna intruso
necessário, sendo transgressor, não visto mais como um sujeito criador, mas sim como um
indivíduo inventivo e colaborativo porque ele seleciona signos, explora campos de produção
e manipulação e desenrola trajetórias entre estes meios, muitas vezes vinculados ao Outro
como participador ou interator. Assim, o mundo pode ser construído de encontros fortuitos
(materiais e aleatórios) e a arte, por sua vez, também é feita de reuniões casuais e caóticas
entre signos e formas.
A Arte contemporânea está longe de um conceito representativo e também não
apresenta o resultado de um trabalho, ela é o próprio trabalho ou o trabalho que virá a ser
realizado, conforme Bourriaud (2009).
Quanto à imagem, esta nunca foi 'apenas' uma obra de arte, muito menos uma
ilustração dos textos, mas sim é uma das formas pelas quais a sociedade representa o
mundo, isto é, torna-o presente para pensá-lo e agir sobre ele. Assim, não é possível mais
perceber o indivíduo contemporâneo de forma passiva em meio à sociedade da informação
(entendendo essa sociedade como pós 11 de setembro de 2001, e me refiro ao ataque
terrorista aos prédios do World Trade Center em Nova Iorque). Da televisão (novelas, reality
shows), passando por games (realidade virtual), sites de relacionamento (facebook, orkut,
twitter, fotologs e blogs), facilidade de comunicação (email, MSN, skype), e etc.,
apreendemos imagens rapidamente em diversos sentidos de 'estar' no mundo real e virtual
nossas redes são afetivas, porém não fixas.
Somos hoje convidados a ser 'figurantes' na sociedade além do espetáculo, porque
nos é permitido interagir, integrar e manipular mesmo que seja uma interação, integração ou
manipulação vigiada ou assistida por um modo de produção, ainda assim somos um 'fio do
tecido de uma rede' de significação que produz sentido.
Em 2008, em Buenos Aires, na FLACSO ocorreu o 5ª Seminário Educar La Mirada, em
palestra de abertura a professora e pesquisadora argentina Inês Dussel chamou atenção a
um olhar que interessa pensar e refletir um saber pedagógico sobre o ordenamento (ou
desordenamento) do que é visível, sobre o que produz e o que nos faz permear por novos
contextos. Interessaria desta forma uma 'educação de la mirada' com foco aberto para duas
questões: primeiro, o que significa ensinar a olhar a vida contemporânea tão povoada de
imagens que forma parte de uma visibilidade voraz, e a segunda seria olhar para a escola, que
não se trata de um espaço neutro e sim uma instituição peculiar com uma gramática voltada
para determinada cultura.
Desta forma, salienta-se a seguinte questão: como se ensina a olhar em um contexto
onde todos parecem tão 'competentes' nessa ação? É o caso do contexto universitário, que
deveria instigar o estudante à criticidade, a investigações pautadas em reflexões teóricas e
ações práticas. Penso que esta seria uma forma coerente de entender a Universidade.
Porém, é relevante salientar que, ainda assim, com tal produção de conhecimento, a
Universidade (especificamente na qual realizei esta pesquisa) ainda caminha em passos
lentos na relação ao contexto onde se insere. Digo isto e me refiro ao ponto clave de qualquer
ensino: a articulação entre o que é ensinado como conhecimento, o que é construído como
um entendimento e um possível desdobramento da ação desse conhecimento na realidade.
Não acredito em uma Universidade ou em uma Arte que seja fechada nela mesma, pautada
em padrões conservadores ou elitistas. Nem me parece coerente formar
artistas/professores/pesquisadores para serem inseridos em um 'mercado' linear, exemplo
disso: pesquisas que são engavetadas, professores que ensinam cronologicamente o que
julgam' o mais adequado, aplicam provas, abordam superficialmente as questões que
permeiam o cotidiano, ou ainda, artistas que produzem especificamente para circularem em
salões e algumas galerias de arte.
O artista de hoje funciona cada vez mais como um diretor. Ele faz o
casting, como Rebecca Bournigault ou Pierre Huyghe para os seus
vídeos, mas também castings de objetos, como nas instalações de
Sylvie Fleury e Pipilotti Rist, ou nos environnements de Domingues
Gonzales-Foerster: para aquele quarto, escolhe-se aquele despertador
e não outro qualquer. O artista trabalha exatamente como um diretor
que seleciona, de fato, o que vai se passar na frente da câmera. E a
exposição é isto: um filme sem câmera, uma película sobre a qual
registramos uma ação, uma forma. Em troca, o espectador pode de
algum modo o rganizar sua própria seqüência de exposição.
Os artistas contemporâneos são, portanto, diretores, essa é sua
condição natural, quase espontânea. Não têm, aliás, apenas o
desejo de fazer cinema; eles estão com bastante freqüencia no
próprio cinema com os filmes de Philippe Parreno, Doug Aitken,
Charles de Meaux, Douglas Gordon e Matthew Barney...Mas, ao
mesmo tempo, o que choca também as pessoas de cinema é
que, quando o artista faz um filme, isto é, para ele, apenas uma
atividade entre outras, um objeto que faz parte de um conjunto
muito mais vasto de objetos. Aqui se está ainda no registro da
dessacralização da arte: “Eu faço filmes, mas talvez na próxima
semana grave um disco”. E isso, sem dúvida, incomoda.
Necessário retomar que nos anos 50 Robert Rauschemberg anunciou seu desejo de
situar sua prática na brecha entre arte e vida. Uma década mais tarde afirmar que arte=vida e
que a arte estaria presente em toda a atividade humana foi procedimento operativo do grupo
Fluxus e de artistas como Joseph Beuys. Em princípios dos anos 70, Antoni Muntadas,
questionando ambos os pontos de vista, sugeriu outra vinculação entre arte e vida, e para tal
concebeu o ideograma em seu trabalho plástico:
ARTE VIDA
Este ideograma poderia ser entendido como arte na vida e vida na arte. Estaria sendo
constituída a partir de um interesse pelo sentido ao olhar para o cotidiano ou para uma
experiência diária vinculada à arte. Assim a efervescência artística não estaria somente no
ateliê do artista, mas indiscutivelmente fora dele. Passando pela arte conceitual, pela
contracultura e pelos movimentos feministas em 1969 Allan Kaprow perguntava-se
publicamente como a arte poderia competir com os primeiros passos do homem na lua,
sendo este um dos acontecimentos mais midiatizados dessa época. Arte seria uma
experiência, em lugar de passividade, concentrar-se-ia em questões de apresentação,
percepção e recepção (território anteriormente restrito à crítica). Em 1971 eclodiu da obra de
Antoni Muntadas a introdução de materiais e métodos não artísticos, pois este afirmava que
arte deveria ser repensada de forma mais aberta, mais exigente, mais educativa e mais
abarcadora da vida, e com mais interatividade. (Anos depois o artista reconheceria que seu
trabalho poderia ser reconhecido em um território onde determinados aspectos podem ser
compreendidos por críticos, pesquisadores da área de comunicação ou por filósofos e
sociólogos, mas que dificilmente seria compreensível em sua totalidade de proposta
artística).
Assim, do interesse de Antoni Muntadas sobre história arquitetônica e políticas
história e literatura. São apresentações de dualidades e justaposições de opostos, ou uma
meta tensão entre arte e vida seguida de outros conceitos dialeticamente relacionados, que
incluem público/privado, realidade/mídia, visibilidade/invisibilidade.
Antoni Muntadas, Vanessa Beecroft, Sylvie Fleury, Jacques Villaglé, entre outros que
apresentam uma estética relacional condicionada ao processo de criação, foram artistas
abordados nesta investigação, especificamente na articulação entre cultura visual e poéticas
visuais. Igualmente a artista Laura Lima, que serviu de eixo gerador para articular a imagem da
moda e as artes visuais, foi referência para a proposição do sujeito participante desta pesquisa.
Conforme Monachesi, Laura Lima costura relações socais com obras de vestir:
Pois construir casas, produzir utensílios, trabalhar, cozinhar, vestir roupas são hábitos
herdados socialmente e qualquer comunidade, antiga ou moderna, pode ser definida
por esse conjunto de tradições e seus usos. Na série Costumes Loja, a artista expõe
evidente carga crítica ao transformar uma galeria de arte em loja de roupas.
As peças instauradas pela artista podem funcionar como metáfora não apenas do
funcionamento mercantilista, mas também das estruturas e comportamentos viciados que
estão presentes no sistema de arte: relação entre espectador e obra e seus esperados
procedimentos. Um dos trabalhos mais conhecidos de Laura Lima é a performance “O
puxador”, nesta ação um homem veste apenas uma mochila da qual saem cordas compridas
que atravessam a janela e prendem-se em árvores externas ao espaço da exposição. O
homem tenta durante horas, com força, trazer a paisagem para dentro do espaço em ações
repetidas, exaustivas e de certa forma condenadas a não se realizarem.
Outros questionamentos inserem-se neste momento: o que estamos querendo ensinar
com isso? Por que abordar tais artistas no contexto de ensino/aprendizagem? Por que ir ao
encontro com tal pensamento contemporâneo?
Neste momento preciso fazer menção à ação de 26 de novembro de 1965, realizada
pelo artista visual Joseph Beuys, intitulada “como se explicam quadros a uma lebre morta”.
Com a cabeça besuntada de mel e folhas de ouro, Beuys adentrou uma exposição de pintura
falando com uma lebre morta em seus braços, o público fora excluído de sua performance,
apenas podendo observar pela janela a ação. Pergunto-me: Quem ou o quê seria esta
lebre? Por que explicar quadros a uma lebre morta?
Figura 102
Fabiana Barreda
Módulos Hogar, da série arquiteturas del deseo.
Fonte da imagem: http://www.fabianabarreda.com/barredaarquitecturadeseo.htm
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ANEXOS
ANEXO I
(DVD COM REGISTRO DE ENTREVISTAS, FRAGMENTOS REFERENTE AO ESTÁGIO I)
ANEXO II
(DECLARAÇÃO DE PRISCILLA MENEZES)