Prometida Ao Rei Lobisomem
Prometida Ao Rei Lobisomem
Prometida Ao Rei Lobisomem
Gota.
A umidade do teto caía no chão, ecoando nas paredes escuras da
masmorra. O cheiro era quase insuportável, um lembrete de minhas
circunstâncias atuais.
Gota.
As lágrimas escorreram pelo meu rosto e se juntaram à umidade
fedorenta no chão. Até que combinava. Tudo o que eu sabia antes de hoje
estava de ponta cabeça.
Ser uma loba significava ser livre, selvagem e fazer o que era do
melhor interesse de sua matilha. Isso não era o melhor negócio para
ninguém, exceto para o rei monstro que me mantinha aqui.
Mas, por quê?
A resposta escapou enquanto outros medos enchiam a minha mente.
Eu queria que alguém me notasse e me tirasse dessa situação.
É pedir demais que os meus desejos se tomem realidade?
Minha família devia estar preocupada. A filha do alfa ser levada no
meio da noite não era um bom sinal para os outros membros da matilha,
mesmo o meu sequestrador sendo o Rei Lobisomem.
Sean sem dúvida estava chateado, a sua irmã mais nova foi levada e
ele foi incapaz de fazer qualquer coisa. Ele procuraria pelo meu cheiro
em qualquer lugar que fosse.
Mas isso os traria até aqui? Fazia alguma diferença, agora que o rei me
tornou prisioneira?
Estremeci na masmorra fria, permitindo que as paredes me
envolvessem em seu abraço frio. Era melhor do que estar perto do
monstro.
Quando a memória de cavalgar em suas costas veio na minha cabeça,
ao mesmo tempo um calor ardente cresceu lentamente no meu corpo.
Confesso. Havia algo mais do que apenas calor.
Desejo.
Luxúria.
Eu podia ouvir nós dois nos beijando.
Eu podia ver as nossas línguas se entrelaçando.
Eu me revoltei com a ideia de querer alguma coisa com ele.
As lágrimas começaram a cair novamente, mais rápido e com mais
força. Eu encheria essa masmorra com minhas lágrimas e flutuaria até o
topo, para fora do castelo, e o riacho me levaria para casa.
Mas, e se essa fosse minha casa?
Fechei os olhos, sentindo mais lágrimas aquecerem as minhas
bochechas. A escuridão era o meu consolo, agora. E eu deixei isso me
levar para um sono profundo.
***
Vidro quebrando.
Chamas envolvendo o trono.
Os olhos vermelhos brilhantes do Lorde Demônio.
***
BUM!
Nosso grupo rugiu pelas vastas planícies. Cada passo batia no chão
como um trovão no céu.
Minhas garras rasgaram o chão, fazendo pedaços de grama voar atrás
do meu rastro.
Não fui tão rápido quanto eles, mas consegui me manter por perto.
No começo foi divertido, quase relaxante. Meus músculos ainda
estavam doloridos da masmorra, mas cada passo oferecia mais e mais
alívio.
Até continuarmos correndo...
Minha respiração ficou sufocada. Eu podia sentir o esforço dos meus
pulmões, por ter cada vez menos oxigênio.
A visão que nunca me falhou começou a ceder, deixando manchas
escuras que turvaram minha visão.
Eu tropecei, mas me segurei. A humilhação de ser deixada para trás
era grande demais para ser superada depois. Eu não perderia. Eu não
podia!
Foi quando perdi a sensação nas pernas.
Tropeçando uma última vez, vi a matilha à distância, antes de sentir
meu corpo atingir o chão.
***
ESCURIDÃO.
SILÊNCIO.
Foi ensurdecedor. Eu senti como se pudesse ouvir tudo e nada ao
mesmo tempo.
Eu estava flutuando. Ou caindo.
Todos nós estávamos. Eu não poderia dizer isso com certeza absoluta.
Mas todos nós pulamos pela mesma porta para este mundo escuro.
Meus sentidos não podiam fazer nada ali. Isso me lembrou de algo
que aconteceu muito tempo atrás, mas eu não tinha certeza do que era.
Essa incerteza agora tinha voltado e se alojava na boca do meu
estômago.
Eu tentei puxar o ar, mas não parecia ser o suficiente.
Keith.
Xavier.
Eu não conseguia nem sentir as palavras se formando na minha boca.
Não adiantaria continuar tentando.
Esse foi um dos desafios sobre os quais fui avisada? Nesse caso,
parecia muito mais psicológico do que físico...
Procurei em minha memória alguma coisa que pudesse me ajudar.
O sorriso e a risada de Sean inundaram a minha mente, me
mandando de volta alguns anos no tempo, quando havia um desafio
muito diferente a ser superado...
Naquele dia em particular, depois de anos de luta, os meus instintos
naturais decidiram entrar em ação. Com a ajuda e orientação de Sean, fui
capaz de me transformar para minha verdadeira forma de loba.
Foi um milagre.
Deusa da Lua seja louvada, foi tudo graças ao meu irmão.
Pensei em como ele me deu os parabéns. Claro, ele não poderia fazer
isso por mim, mas suas palavras foram muito importantes para mim ***
Sean: Eu sabia que você conseguiria!
Belle: Não minta. Isso não combina com você Sean: Sério!
Demorou bastante, mas todos nós tínhamos fé.
Belle: rsrs
Especial?
Eu podia ouvir essa palavra ecoando em meu cérebro.
— Você disse que ela era especial? — Eu questionei Tessa quando ela
se sentou na minha frente.
Eu não acreditava no que estava ouvindo. A Sacerdotisa achou que
era uma boa ideia dizer à Belle, a recompensa premiada do submundo,
que ela era especial?
Uma bruxa é capaz de bagunçar até mesmo o mais simples dos
planos.
— Você mesmo viu. Negar não vai adiantar nada, — disse Tessa, com
um traço de aborrecimento em sua voz.
A raiva correu pelo meu sangue, mas com ela veio também uma
compreensão inquietante.
Não foi a Tessa que empurrou Belle para longe. Eu sabia que tinha
sido eu...
— Acalme-se, Rei, — Tessa avisou. — A raiva não vai te ajudar agora.
Precisamos trabalhar juntos para encontrá-la.
Foi a primeira vez que ela pareceu honesta desde que chegamos. Se eu
a pressionasse, talvez pudesse obter mais informações.
Eu preciso de mais.
— Fale-me de novo sobre essa porta que você viu, — ela perguntou.
Havia um borrão na minha mente, mas fiz o meu melhor para contar
tudo o que aconteceu.
Como Belle me viu com Daisy, fugiu pelo corredor com uma
velocidade repentina que eu não consegui alcançar, e a porta mágica se
fechou no momento em que entrei na sala.
Então, ele desapareceu bem diante dos meus olhos.
Tessa olhou para mim com uma admiração genuína. Algo brilhou
atrás de seu olhar, e eu sabia que ela entendia mais do que estava
deixando transparecer.
— Diga-me o que você fez com ela, ou vou derrubar todo este lugar!
— Eu disse com um rosnado. — E você sabe que eu consigo.
— Mas você não vai, — ela me assegurou.
Sua resposta direta me pegou desprevenido.
Tentei encontrar uma réplica, mas a raiva afastou as palavras.
— Você veio nos pedir ajuda. Você precisa de nós para encontrar
Annabelle. E não temos motivo para não te ajudar. É do nosso interesse
encontrá-la, e rapidamente.
Louvada seja a Deusa da Lua! Pela primeira vez, Tessa estava
realmente fazendo algum sentido.
— Então, traga a porta de volta e vamos encontrá-la! — Eu insisti,
com uma esperança crescendo na minha voz.
— Meu caro Keith, não havia nenhuma porta lá, — ela disse,
simplesmente.
Eu podia sentir a minha boca aberta, emudecida por esse comentário.
Talvez não houvesse uma porta lá agora, mas eu tinha visto uma. De
que outra forma ela poderia ter atravessado?
— Que diabos isso significa? Você não acredita em mim? Eu não estou
mentindo. Eu não sou louco.
Eu vi com meus próprios olhos!
— Você não é louco. Eu acredito que você realmente viu a porta. Mas
nós não a colocamos lá e a passagem não pode ser aberta. Por ninguém
daqui, — disse ela.
Essa frase não fazia sentido. Agora, eu estava começando a me
perguntar quem era realmente louco!
Mesmo com meus olhos perplexos olhando para ela, ela continuou.
— Aquela porta que você viu é a Porta do Destino. Foi colocada lá
pela Deusa da Lua e não pode ser aberta ou fechada a menos que isso seja
ordenado pelo destino.
— Como você sabe disso? — Eu perguntei, duvidando.
Tessa olhou para mim com um peso que eu nunca tinha visto em
nenhuma Sacerdotisa.
Seus olhos revelaram muitos anos de tristeza reprimida que se
espalhou pela sala enquanto estávamos sentados, olhando um para o
outro.
— Eu sei disso porque já aconteceu antes. A Porta do Destino se
mostrou a nós apenas uma outra vez. Essa foi a última vez que eu vi a
minha filha, Shea.
A voz de Tessa vacilou e seus olhos desviaram o olhar.
Suas palavras se acomodaram em meus ombros com um peso que
pensei que não pudesse suportar. No entanto, era algo com que ela
conviveu todos os dias pelo resto de sua vida.
E a vida de uma bruxa era algo que não acabava facilmente.
A compostura de Tessa era impressionante. Por que eu não conseguia
mostrar esse autocontrole quando as coisas ficavam complicadas?
Eu podia ouvir o comentário que a Belle fez mais cedo.
Nem tudo pode ser derrotado com força bruta.
Então, por que essa é a única coisa que eu sei usar?
Tessa continuou com a sua história.
— Procurei por ela em todos os lugares. Todas nós tentamos. Até dei
meu sangue à Deusa da Lua como um sacrifício pelo retorno seguro de
Shea. Como último recurso, eu trouxe meu irmão Tannon para ajudar na
busca. Seus poderes como feiticeiro são imensos e incomparáveis.
O olhos dela desviaram dos meus. Uma lágrima brilhou, mas não caiu
pela sua bochecha.
Essa compostura de aço mais uma vez...
— Mas, nem mesmo ele poderia ajudá-la, — disse ela com tristeza.
Finalmente, ela olhou para mim e eu não aguentei mais. Levantei-me
e flexionei todos os músculos do meu corpo, esperando que o esforço
aliviasse minha tensão.
Não funcionou.
— Então, acho que você está me dizendo que acabou? — Eu
perguntei, sentindo a raiva subir pela minha garganta. Eu podia sentir o
gosto na boca, ácido como bile.
— Não. Esperamos muito por Shea, pensando que algum tempo era
tudo o que precisávamos. Quando a busca começou, já era tarde demais.
— Mas Belle apenas desapareceu. Se você conseguir chegar a Tannon,
ainda há uma chance de encontrá-la.
— Se eu conseguir chegar ao Tannon? — Eu repeti. Isso não parecia
bom. — Onde exatamente ele está?
Tessa se levantou de sua cadeira, mantendo-se com uma postura que
apenas uma bruxa poderia possuir.
— Meu irmão pode ser encontrado nos Alpes. Mas já te aviso, não
será fácil.
Eu não pude deixar de rir. Nada nunca foi fácil...
— Esta jornada apenas começou, Rei Lobisomem. Annabelle está no
caminho. Agora, é hora de você seguir o seu próprio destino.
Belle
Corra.
Só corra e...
Não faça isso.
Olhe.
Volte.
As palavras mal passaram pela minha cabeça quando eu desobedeci
ao meu próprio conselho e olhei para trás.
Tentando não tropeçar enquanto corria para frente, virei a cabeça.
O horror quase me parou no meio do caminho.
Enxames de crianças das sombras voavam ao meu redor, apagando
todos os sinais de luz. Algumas desceram, mirando na minha cabeça.
Consegui me esquivar da primeira rajada.
Quando a próxima onda veio, eu não tive tanta sorte.
Fiquei surpresa e pude sentir o meu corpo girar.
O lago passou rapidamente abaixo de mim. A criança-sombra no
centro parecia estar olhando para cima, me observando flutuar para
longe.
De cabeça para baixo, carregada pelos meus pés, continuei subindo.
Uma das crianças das sombras se agarrou ao meu rosto, me cegando de
tudo.
Parecia que apenas uma coisa era certa. Não haveria escapatória dessa
vez.
CRACK
POP.
O cheiro de lenha queimando me assegurou de que eu não estava em
uma masmorra. E se eu estava, pelo menos havia calor.
De repente, a sombra foi tirada de meus olhos.
Eu finalmente pude ver!
As chamas queimavam em uma lareira de pedra profunda, enquanto
faíscas e fumaça subiam das toras.
Eu estava em uma grande sala rodeada de livros, bustos esculpidos e
pinturas opulentas. No meio da sala, a poucos metros de mim, havia um
grande trono.
Então, eu vi alguém sentado nele.
A figura se levantou e se aproximou.
— Eles não te machucaram, não é? — perguntou a figura. Sua voz era
mais gentil do que eu esperava para um Lorde Demônio.
— Bem, minha cabeça dói com todo o sangue que se acumulou
enquanto eu estava voando de cabeça para baixo, mas fora isso, estou
estupenda.
Eu queria que meu sarcasmo o atingisse como uma flecha afiada, mas
na minha posição atual, só poderia roçar a superfície.
— Bom, eu realmente sinto muito, — disse ele.
A pessoa que estava diante de mim tinha um queixo quadrado, testa
alta e cabelos castanhos longos e cacheados que roçavam suavemente
seus ombros.
Não era a imagem de quem eu esperava sequestrar mulheres jovens
com um enxame de sombras.
— Você deve ser o Lorde Demônio, — eu disse, certificando-me de
que ele pudesse ouvir o ódio em minhas palavras.
Seu rosto se encolheu e a raiva passou por suas sobrancelhas.
— Não. Agradeça à Deusa do Sol. Eu nunca serei ele. Nunca! — A
potência em sua voz me assegurou que ele estava dizendo a verdade.
— Meu nome é Derek, e eu sou o líder dos filhos das sombras.
Aqueles que trouxeram você ao meu covil, — ele disse.
Dei outra olhada no quarto. Até que era bonita para um covil.
— Por que você me sequestrou? — Eu perguntei.
Derek encolheu os ombros e se virou, olhando fixamente para o fogo
enquanto falava. — Eu não sequestrei você. Pelo menos, eu não dei a
ordem.
— Ainda assim, da última vez que verifiquei, levar alguém contra a
vontade é sequestro, — eu disse.
Ele não respondeu, então continuei. — Você trabalha para o Lorde
Demônio?
— Não por escolha própria, — disse ele, antes de desviar o olhar do
fogo e voltá-lo diretamente para mim.
Tentei ver a expressão em seus olhos, mas eles estavam mascarados
por sombras.
— O Lorde Demônio levou o meu irmão mais novo como refém. Ele
era apenas uma criança.
Eu deveria estar grata por não ser o Lorde Demônio me levando
como sua prometida. Mas saber que ele tomara uma criança como
refém... A raiva que senti só foi ofuscada pelo medo. Um medo mais
profundo que eu já tinha sentido.
— Eu sinto muito. — Minha voz falhou enquanto eu tentava
transmitir minha simpatia.
Não era todo dia que dois seres podiam se unir para descobrir que os
reis deste mundo escuro adoravam sequestrar. Eu era a prova viva.
Derek continuou.
— Ele ameaçou torturar o meu irmão se eu não entregasse você. No
começo, eu recusei. Meus homens sofreram ameaças semelhantes e
sobreviveram para contar a história. Mas depois de ouvir os gritos de
uma criança...
Derek enxugou as lágrimas que se formaram em seus olhos.
— Eu não tive escolha.
Eu fechei minhas mãos, em punhos. Meus dedos estavam
entrelaçados com tanta força que pude ver minhas juntas ficarem
brancas.
Quem poderia fazer uma coisa dessas com uma criança? Suponho que
alguém que se autodenomina o Lorde Demônio, claro. Mas, mesmo
assim...
Que razões ele poderia ter para me querer tanto, a ponto de fazer
uma coisa dessas?
Um ruído alto nos tirou de nossa conversa.
Passos pesados ecoaram nos ladrilhos do outro lado da porta. Alguém
estava chegando. E estava se movendo rapidamente.
A porta da sala do trono se abriu. Então, ele entrou.
Meu suposto prometido. Aquele que decretou que eu devo ser dele,
virando meu mundo de cabeça para baixo.
Ele se aproximou, levantando os braços para se apresentar a mim.
— Meu amor, — disse o Lorde Demônio.
— Finalmente, nos encontramos. Tem sido uma tortura absoluta não
ter você ao meu lado.
Capítulo 11
VENENO OCULTO
Belle
Tortura.
Dor.
Fogo ardente.
Sofrimento eterno.
O nome Lorde Demônio realmente não trouxe nenhum outro
pensamento à minha cabeça!
Sempre que ouvia esse apelido, era assombrada pelas visões sombrias
de fogo, sangue e carne queimando.
Mas quando olhei para o seu sorriso de marfim, não consegui pensar
em nenhuma dessas palavras. Ele era lindo, diferente de qualquer ser que
eu tinha visto antes — incluindo demônios.
Como a bela coloração de um sapo, o cabelo curto e espetado do
Lorde Demônio alertava sobre o veneno escondido dentro dele.
Seus olhos vermelhos contrastavam bem com seu cabelo, pele pálida e
roupas pretas. Exalava uma vibração assustadoramente sexy que eu não
pude deixar de achar atraente.
Ele sorriu novamente, e uma covinha se formou no seu queixo.
Embora eu mesma tivesse ouvido os rumores, estava tendo
dificuldade em acreditar que aquele homem era mesmo um demônio.
— Meu amor, eu tenho uma fome voraz que chega tão alto quanto a
lua nesta noite gloriosa, — ele disse com desejo.
Meu queixo caiu.
Eu esperava fogo e enxofre. Talvez até mesmo algumas dezenas de
lacaios demoníacos invadindo, destruindo tudo à vista.
Não havia caos deixado em seu rastro. Sem corpos em chamas ou
membros decepados.
O ser que estava na minha frente não era nenhuma dessas coisas. Não
acreditava no que eu estava vendo.
Não pude evitar ser pega de surpresa.
Um formigamento se formou dentro do meu peito, espalhando-se
por todo o meu torso. Ele se moveu em direção aos meus pés e braços,
entorpecendo meus dedos enquanto eu os fechava em punhos ao meu
lado.
— Por favor, não tenha medo, — ele ronronou.
— O homem que supervisionou minha captura enviando os seus
súditos atrás de mim de repente quer ser amigável? Acho que já passamos
desse ponto, — eu disse, com raiva na minha voz.
Seu sorriso ainda estava lá. maliciosamente brilhante. Foi difícil
desviar o olhar.
— Eu sei que você deve ter tido um longo dia. meu amor. Então, vou
perdoar a confusão. Mas eu não sou tal homem, querida Annabelle. Meu
nome é Lazarus e vim para te levar para casa.
Ele sorriu.
Ainda mais surpresas em uma noite já inesperada.
— Não entendo. Você vai me levar para a minha família? — Eu
perguntei.
Sua risada retumbou, barulhenta e alta. Pensei em proteger os meus
ouvidos do som, mas mantive o pouco de compostura que me restava.
O Lorde Demônio olhou para Derek, que estava rígido e imóvel.
— Ela tem um senso de humor maravilhoso, essa aqui... Em certo
sentido, sim, você estará com a família. Sua nova família.
— Eu vim para te levar para a nossa casa, onde governaremos o
Submundo juntos. Afinal, foi ordenado, você é minha prometida, — disse
ele, enquanto tocava meu ombro com a mão.
Seus dedos transferiram um calor ardente que permaneceria no meu
corpo por muito tempo depois de sua mão partir.
Eu estremeci e me afastei, tentando manter um espaço entre nós.
— Nós tínhamos um acordo. Você já tem o que queria. Agora, onde
está meu irmão? — Derek perguntou, com mais do que apenas um toque
de irritação em sua voz.
Eu quase tinha me esquecido de seu irmão mais novo!
O sorriso de Lazarus vacilou e, naquele momento, vi algo. Ele tentou
o seu melhor para esconder, mas era inconfundível.
Naquele momento, eu pude ver uma rachadura na máscara que
escondia as suas verdadeiras e tortuosas intenções.
— Seu irmão estará ao seu lado assim que eu tiver Annabelle comigo,
— Lazarus sibilou, enquanto olhava para mim.
— Se ela não vier de boa vontade, você cumpriu apenas metade do
seu dever.
O corpo de Derek balançou com tristeza. Eu podia ver a dor e a raiva
gravadas em seu rosto.
A segurança de seu irmão mais novo estava pendurada por um fio que
seria determinado pela minha própria escolha.
Dei um passo à frente e os dois se viraram, olhando diretamente para
mim.
— Eu vou com você. Mas só se eu souber que o menino está seguro,
— eu disse com determinação.
— Isso é tudo que eu precisava ouvir, meu amor — Lazarus disse
gentilmente.
Lazarus fez uma breve reverência e, com um aceno de mãos, a porta
da sala do trono se abriu mais uma vez.
Uma criança pequena correu para a sala e saltou para os braços
abertos de Derek.
— Jason! Você está bem! — Derek chorou de alívio. Lágrimas
escorreram por seu rosto sorridente enquanto Jason o abraçava com
força.
— Eu não estava com medo, eu juro, — Jason assegurou ao seu irmão
mais velho.
Derek acariciou seu rosto enquanto verificava Jason por qualquer
sinal de dano.
— Você é um garoto tão forte, — ele disse, dando um beijo na testa de
Jason.
Lazarus observou essa troca, incapaz de conter seu desprezo.
— O menino foi entregue são e salvo. Assim como prometi.
Então, ele olhou para mim e deu uma piscadela.
— Eu sempre mantenho as minhas promessas. Em breve, você verá
isso.
Derek se levantou, mantendo Jason por perto.
— Nosso negócio está terminado, Lazarus. Você tem o que queria.
Não há mais nada entre nós.
Derek olhou para mim ao dizer isso, franzindo as sobrancelhas com
tristeza.
— Você foi maravilhoso. Derek. Eu não poderia ter pedido mais nada.
E eu não terei que...
Lazarus olhou para mim novamente. Seus olhos brilharam com uma
luxúria ardente.
— Contanto que eu tenha minha Annabelle ao meu lado.
— Porque a maneira mais fácil de cortejar uma mulher é sequestrar
uma criança pequena. Certo?
Eu sabia que não era inteligente atacar o Lorde Demônio, mas o que
eu tinha a perder?
Memórias de minha família inundaram minha mente. Eles ainda
eram parte de mim, mas por quanto tempo eu seria capaz de dizer isso?
— Uma maneira bem revigorante. Você deve gostar de ser perseguida.
E acredite em mim, eu amo a perseguição. Mas é ainda mais delicioso
pensar sobre o que acontecerá depois que a minha presa for capturada.
Presa capturada. Para Lazarus, eu era apenas uma criatura a ser
caçada.
O pensamento me repeliu, mas não consegui me livrar dele.
Eu não queria ser caçada? Para alguém olhar para mim e me perseguir
com a mesma ânsia que o Lorde Demônio agora mostrou?
Não pude deixar de comparar Lazarus ao Rei Lobisomem.
A crueldade e ousadia de Keith sempre me pegavam desprevenida,
especialmente quando comparada com o desejo que eu sentia a cada
toque seu.
Lazarus tinha uma gentileza que minou as suas ações monstruosas.
Ele controlava seu mundo com uma mão suave, não o poder e a
destruição que eu conhecia do Rei Lobisomem.
Mesmo que essa suavidade exigisse que uma criança pequena fosse
mantida como refém...
Mas ele devolveu o menino ileso. Havia algo de louvável nisso, não é?
Eu nem mesmo acreditei nas desculpas que estavam se formando na
minha mente.
Se eu fosse ser a prometida do Lorde Demônio e cumprir todas as
suas ordens, não parecia que os meus próprios pensamentos
importavam.
Olhei para sua covinha no queixo e senti que as minhas preocupações
começaram a enfraquecer. Ele não era difícil de olhar, eu tinha que
admitir.
Lazarus estendeu a mão, ajoelhando-se sobre uma perna.
— Se você quiser, meu amor, devemos seguir o nosso caminho. — ele
murmurou.
— Onde estamos indo? — Eu perguntei. Eu estava tão perdida em
meus pensamentos que esqueci por que ele tinha vindo, em primeiro
lugar.
— Para sua nova casa na Ilha Demoníaca. Os demônios estão ansiosos
pelo nosso retorno, — ele me assegurou, com um sorriso.
— Não devemos deixá-los esperando para conhecer a sua nova
rainha.
Keith
Um enorme vazio.
Isso é tudo que eu pude ver enquanto estava ao lado de Tannon,
olhando para a vista de montanhas e neve.
Tannon assumiu uma postura ampla e entoou palavras que mal pude
ouvir, muito menos entender.
O cajado ao seu lado começou a brilhar com um brilho que
combinava com o poder que vi antes, emanando de Belle.
Com cada canto entoado de sua boca, eu podia sentir seu poder
ficando mais forte.
De repente, a visão diante de mim cedeu e eu pude enxergar outra
coisa.
Um campo de força imperceptível brilhou diante dos meus olhos,
estendendo-se até o horizonte.
— Este é o portão que você tem procurado. Você encontrará
Annabelle do outro lado.
Era tudo que eu precisava ouvir!
Eu me joguei para frente, batendo no portão translúcido. Eu podia
sentir a energia pulsando, impedindo qualquer coisa de entrar ou sair.
Tannon gritou um feitiço e bateu com o cajado no chão.
Como uma bola de boliche caindo na água, pude ver o efeito cascata
do poder de seu bastão.
A explosão me atingiu e fui jogada para o lado por uma rajada de
vento. Limpei a neve do meu corpo.
— Que diabos? — Eu rosnei.
Os olhos de Tannon eram penetrantes. Eu ainda não o tinha visto tão
irritado. Eu imediatamente fiquei de pé.
— Seus métodos irão apenas quebrar a barreira e permitir que os
demônios passem pelo buraco, fundindo nosso mundo com o deles.
— Bom! Então, vou rasgar até o último demônio até que todo o
sangue manche esta terra, — eu avisei. Tannon balançou a cabeça com
desgosto. — Se isso acontecer, essa guerra eterna entre as espécies nunca
vai acabar. Belle irá embora para sempre. Esta não é a maneira de salvá-
la.
— Então como? Diga-me! Devemos nos apressar antes que seja tarde
demais, — eu insisti.
— Tudo em seu...
Eu o cortei antes que ele pudesse terminar. — Tudo no seu tempo,
sim, entendi! Mas se este não for o caminho, mostre-me qual é. Eu farei
qualquer coisa para recuperá-la, — eu disse, com uma voz suplicante.
Tannon contemplou isso antes de olhar para mim e acenar com a
cabeça.
— Devemos subir as montanhas e recuperar um pergaminho da
Deusa da Lua. Só então seremos capazes de abrir a barreira com
segurança, — disse ele, como se estivesse em um devaneio.
Minha raiva e dúvida lentamente se transformaram em esperança.
Com Tannon ao meu lado, tínhamos uma chance de encontrar Belle.
De salvá-la e acabar com esta guerra miserável.
Um estrondo constante, mais forte do que qualquer um que eu senti
antes, sacudiu o chão sob nossos pés. Ele nos alertou sobre os perigos que
espreitam no submundo.
Uma sensação de peso atingiu meu coração. Algo nessa sensação me
disse tudo que eu precisava saber.
Chegamos tarde demais? Belle já poderia estar nas garras do Lorde
Demônio, nas profundezas do submundo.
Eu cravei meus dedos das mãos e pés no chão, pronto para empurrar
o portal com uma força explosiva.
Não importa os perigos que me aguardavam ou para onde eles
levaram Belle, eu iria encontrá-la.
Eu tinha certeza disso.
Capítulo 12
LEVADA PARA A ILHA Belle
Bomp.
O bater das asas do demônio bateu no mesmo ritmo do meu coração
acelerado.
Momentos depois de o Lorde Demônio anunciar a nossa jornada para
a ilha, fomos recebidos pelo que parecia ser uma grande carruagem sem
rodas.
Era negra como a noite, mas extravagante, ao mesmo tempo bela e
assustadora.
Era transportada por grandes demônios parecidos com morcegos
com asas enormes, puxando pela frente com rédeas que normalmente
seriam presas aos cavalos.
No geral, era uma engenhoca aterrorizante, mas que parecia deixar o
Lorde Demônio bem orgulhoso.
Bomp.
Havíamos viajado por um mar sem fim pelo que pareceram horas. À
medida que rastejamos acima das ondas infinitas, uma ilha começou a se
formar no horizonte.
Um sol poente enviou raios de luz através da água, iluminando a ilha
com uma aura etérea e inquieta.
Das colinas verdes exuberantes surgiu uma grande estrutura. Na
verdade, eram muitas estruturas ligadas entre si para formar um
complexo.
Bomp.
Eu podia ver a mansão de quatro andares erguida como uma
sentinela. Edifícios menores a cercavam, formando uma linda
comunidade no meio de uma ilha remota.
Eu engasguei com o seu esplendor.
Lazarus ouviu. Como ele poderia não saber?
Ele esteve ao meu lado durante toda a viagem, tocando a minha pele,
acariciando meu cabelo, beijando minhas mãos sempre que eu permitia.
Eu tinha me arrastado para o outro lado da carruagem, mas ele ficou ao
meu lado.
Eu era incapaz de me mover — sua caça, presa, sem nenhum lugar
para ir.
Pude perceber por sua carência que ele não gostou das minhas
respostas frias. Lazarus queria uma mulher que ele pudesse chamar de
sua e desfilasse com ele pela ilha.
Ele queria alguém que se submetesse e se curvasse a todos os seus
desejos. Talvez ele soubesse que logo eu não seria capaz de me afastar.
O que ele não sabia é que eu faria tudo ao meu alcance para não
desistir!
Mas então, eu a vi alto, acima da ilha ao redor. Todos os meus medos
e incertezas começaram a se dissipar com a visão da mansão.
— Bem-vinda ao lar, meu amor, — disse-me ele com um sorriso,
quando a carruagem começou a descer.
Era bonita. Mas eu poderia pensar nesse lugar como o meu lar?
— Esta é a sua Rainha. Curvem-se a ela, — ele gritou severamente.
A infinidade de servos se ajoelhou como um só. Lazarus ficou
satisfeito com a exibição e mostrou sua aprovação com aplausos.
— Belo truque. Eles rolam? — Eu podia ouvir a angústia em minha
voz, e isso me preocupou. Eu não gostava de quem estava me tornando,
minha natureza cínica irrompendo.
Mas foi tudo que consegui dizer. O medo me envolveu como uma
capa e eu precisava mostrar que tinha uma máscara de determinação.
— Eles vão se fingir de mortos, se for o que você deseja, — disse ele
com um sorriso.
Conheço alguém que adoraria te ver morto, pensei, enquanto
continuávamos nosso tour pelo complexo.
Caminhamos pelos grandes corredores, nossos passos ecoando no
piso de mármore. Era luxuoso, cada pequeno detalhe examinado com
perfeição.
O diabo está nos detalhes.
Eu tive que segurar minha risada. Lazarus estava muito ocupado
exibindo a sua fortuna e não percebeu.
Ou talvez ele tenha percebido...
— Isso é todo seu, meu amor. Cada partícula desta ilha será sua assim
que eu marcá-la como minha. Então, você se tornará minha rainha, — ele
sussurrou em meu ouvido.
Eu me levantei, hipnotizada, um pouco irritada. Eu não tinha pedido
nada disso. Mas não havia como negar que ele era fascinante.
— O que vem a seguir... a masmorra? — Eu perguntei. Quando Keith
me tomou como sua para me — proteger — do Lorde Demônio, a
masmorra era a minha morada fria e humilde.
Agora que o Lorde Demônio me tinha nas suas mãos, eram mansões e
servos, não mofo e escuridão.
— Você me hipnotiza... — ele disse.
Percebi que ele estava olhando de perto para mim. Quando encontrei
seu olhar, isso me assustou. Não por medo, mas pela honestidade que vi.
Eu me virei, na esperança de esconder a vermelhidão crescendo em
minhas bochechas.
— Isso tudo é tão... bom. Mas por que você está fazendo isso? — Eu
perguntei.
Lazarus deixou o olhar amolecer. Ele não estava gritando para eu
parar de manipular sua mente. O Lorde Demônio estava realmente me
ouvindo.
— Porque é o nosso destino, meu amor. Comigo nesta ilha, podemos
ter tudo. Ninguém jamais dirá que você é muito fraca. Que você está
muito quieta. Que você não merece mais.
Ele passou a mão pela minha bochecha. Seus dedos traçaram minha
pele, movendo-se lentamente pelo meu pescoço e pelo meu peito,
parando no meu umbigo.
— Juntos, poderemos governar o mundo, — ele disse. Lazarus se
inclinou para dar um beijo em minha bochecha. Foi tudo muito, muito
rápido.
Meu coração estava disparado e eu não conseguia controlar a torrente
de emoções que tomava conta de mim.
Mas havia outra coisa, um buraco vazio em meu desejo que nunca
veio à tona com o toque de Keith. A atração invisível que senti em torno
do Rei Lobisomem não era a mesma.
Era muito mais forte.
— Eu não sei, Lazarus. Isso tudo é coisa demais.
— Nós podemos fazer isso. Juntos. É mais do que apenas destino,
querida Belle. É o sangue poderoso e antigo correndo em suas veias.
Eu olhei para ele. O sorriso que surgiu no seu rosto ao ouvir minhas
dúvidas anteriores agora disparou em seu rosto. Naquele momento, pude
ver sua benevolência.
— O que você sabe sobre o meu sangue? — Eu perguntei, em
descrença.
— Mais do que qualquer outra pessoa. O Lorde Demônio tem suas
maneiras de descobrir as coisas.
Ele circulou, inspecionando cada centímetro de mim enquanto eu
estava lá, incapaz de me mover.
— Só eu conheço sua verdadeira origem. Você não quer esse
conhecimento, meu amor? Se eu fosse você, gostaria de saber a verdade.
Eu gostaria de ver a minha família verdadeira.
Keith
Mãe: Pipoca!
Pai: Alguém mais está com vontade de comer tacos hoje à noite?
Pai: E?
Silêncio.
Silêncio absoluto.
E por que eu só conseguia ver o branco?
Eu havia atravessado o portal e entrado em um mundo com uma
brancura cegante e nenhum som. Eu balancei minha cabeça e tentei
bocejar, estalando minhas orelhas.
Elas levaram um momento para se ajustar.
CHIRP.
Eu podia ouvir o assobio dos pássaros escondidos no alto das árvores.
Esfreguei meus olhos e os abri novamente.
O brilho estava em toda parte, envolvente.
Tentei encontrar a fonte da luz sobrenatural, mas não consegui. Ela
vinha de todos os lugares e ainda não tinha um ponto de origem.
Finalmente, o branco mudou para algo menos áspero e eu pude ver o
mundo ao meu redor.
Eu estava em um campo pacífico cercado por árvores altas. No centro
deste mundo verde exuberante havia um grande lago.
Era majestoso, mas inquietante em sua beleza.
Eu me perguntei quais perigos se escondiam na névoa.
Meus dedos ficaram brancos.
A água se moveu. Algo estava curvado, brincando na beira da água.
Era pequena e frágil, quase como uma criança coberta por sua própria
sombra.
Aproximei-me com cautela. Meus instintos entraram em ação. Isso
me lembrou de quando eu caçava, perseguindo minha presa com uma
rapidez furtiva e letal.
Mas a sombra me ouviu e virou a cabeça. Não consegui encontrar
seus olhos, mas senti que ele me observava.
— Quem é você e por que veio aqui? — perguntou com uma voz
vacilante e infantil.
— Eu sou o Rei Lobisomem e vim procurar Annabelle. Ela é minha
prometida, — eu respondi.
Assim que disse essas palavras, pude ouvir a profecia ecoando em
minha cabeça. Uma guerra eterna seria o preço final para o nosso amor.
Pensar nela agora, enquanto eu estava nesta clareira, só reforçou a
minha necessidade de encontrá-la.
Eu não desistiria de procurar, custe o que custar. A criança-sombra
balançou a cabeça e olhou para mim novamente.
— O Rei das Sombras está pronto para vê-lo. Ele estava te esperando,
— disse.
Ela estendeu o braço e estendeu a mão para mim. Pensei em recuar.
E se isso fosse uma armadilha?
Você terá apenas três horas.
Eu pensei sobre o que Tannon havia dito.
Haveria outros momentos de incerteza. Agora, eu precisava seguir em
frente.
Respirando fundo, segurei a mão da criança-sombra.
Meu estômago embrulhou quando fomos ultrapassados por uma
massa rodopiante. A criança sombra abriu um portal para nós viajarmos.
Não sabia o nosso destino nem quem me esperava no final. Não
importava, contanto que eu encontrasse Belle.
Mordi meu lábio enquanto uma escuridão pesada sugava toda a luz
do meu mundo.
Um grande fogo queimava em uma lareira de pedra.
O cheiro de madeira fumegante encheu as minhas narinas.
A luxuosa sala era bem diferente do que eu imaginava que um Rei das
Sombras possuiria.
Seu trono estava orgulhosamente exibido no meio da sala, brilhando
com o fogo aceso.
A criança-sombra tinha me teletransportado aqui segundos depois de
tocar as mãos. Com a mesma rapidez, ela havia desaparecido, me
deixando sozinho.
Ou, então eu pensei...
Um movimento chamou a minha atenção. Eu me abaixei, pronto para
atacar se necessário.
Consegui distinguir duas figuras sentadas perto do fogo.
Enquanto as chamas dançavam, vi os rostos de uma criança e de um
homem adulto. Eles estavam lendo à luz do fogo.
De repente, o homem olhou para mim e se levantou. Seu cabelo
comprido balançou em seu rosto, tampando a sua expressão.
O menino também se levantou, segurando o livro perto do peito.
— Meu nome é Derek, o Rei das Sombras. Seja bem-vindo ao meu
castelo. Rei Lobisomem. É bom te ver.
Sua voz era gentil e acolhedora.
Mais uma coisa para me pegar desprevenido!
Ele não era um monstro que sequestrou uma mulher inocente.
Eu rapidamente olhei ao nosso redor para ter certeza de que não
havia mais ninguém — ninguém à espreita.
— Onde ela está? — Eu perguntei com raiva.
O menino se agarrou com mais força ao Rei das Sombras. Não tive a
intenção de assustá-lo, mas não consegui conter a minha frustração.
— O Lorde Demônio está com ela, — respondeu ele.
Abri minha boca e soltei um rugido ensurdecedor.
O Rei das Sombras deu um passo à frente, erguendo as mãos para
impedir o que quer que eu fizesse a seguir.
— Ela salvou o meu irmãozinho! O Lorde Demônio o sequestrou e só
o devolveria se eu a encontrasse, — ele explicou.
Eu dei um passo à frente e respirei fundo. Precisei me controlar ao
máximo para não atacá-lo.
— Então, foi você quem a entregou? — Eu perguntei, a raiva em
minha voz era inconfundível.
— Ela foi de boa vontade. Para salvar a vida dele, — disse Derek.
O menino tentou se esconder atrás do Rei, para se proteger da minha
raiva.
Eu dei alguns passos para trás, dando mais espaço entre nós.
— Diga-me como encontrá-la. Rei das Sombras.
Não tenho tempo para jogos, — avisei.
— O Lorde Demônio não joga. Ele vai torturar qualquer um até
conseguir o que quer. Eu sei que seu tempo é precioso. Eu prometo, eu
quero derrubá-lo tanto quanto você, — Derek disse.
Seu rosto estava sério, mostrando nada além de determinação.
Senti minha coragem crescer.
— Bom — eu disse. — Então, o que você sugere que façamos a seguir?
Belle
Keith!
Eu ouvi Belle gritar o meu nome, e isso me encheu com ondas de
energia.
Foram as minhas próprias ações que a enviaram para longe de mim.
iniciando esta busca frenética. Finalmente, eu poderia corrigir os meus
erros.
Eu pulei no ar e caí com força sobre os dois Lordes Demônios.
Eles estavam esperando, mas o meu tamanho e impulso para frente
estavam a meu favor.
Pousei com força em cima deles e deslizei pelo chão de brasas.
— Esperávamos ver você. Rei Lobisomem — Lazarus disse enquanto
se levantava.
Seus olhos ardiam com mais paixão do que o mundo infernal ao
nosso redor. O cabelo espetado em sua cabeça começou a reverberar de
um lado para o outro com uma energia poderosa.
— Eu não suportaria que a minha rainha perdesse a sua morte —
Lazarus sussurrou de alegria.
Azazel sacou sua espada flamejante, do nada, e as chamas que o
cercavam dançavam com vontade própria.
— Agora que você veio, ela pode assistir você morrer, — Azazel
assegurou.
Eu sorri, deixando minhas presas pingarem saliva quente. Fiquei
apoiado nas patas traseiras, elevando-me sobre os dois demônios.
Eles eram poderosos, sim. Mas eu tornaria a vida deles muito difícil
nessa luta.
Uma explosão de energia me derrubou para trás.
— Você não é páreo para nós! — Lazarus riu.
Outra onda me pegou e me fez girar como um redemoinho.
Eu me equilibrei e balancei a cabeça. Nossa, isso foi inesperado!
Eu pulei para o lado quando a espada de Azazel desceu, com força. Ela
perfurou o local onde eu estava, apenas alguns momentos antes.
A terra já queimada borbulhava com o calor inimaginável emitido
pela sua lâmina diabólica.
— Você tem que fazer melhor do que isso! — Eu rugi.
Eu ataquei com todas as minhas forças, alternando entre punhos
fechados e garras abertas.
Azazel saltou para trás e para longe, escapando apenas por alguns
centímetros de uma patada que poderia ter rasgado o seu peito.
— Cuidado! — O aviso de Belle mal chegou aos meus ouvidos, mas foi
o suficiente para me salvar.
Eu podia sentir uma presença se aproximando rapidamente por trás e
rolei para o lado.
Uma grande explosão abriu um buraco no chão, enviando pedaços de
terra escaldante em todas as direções.
Saltei e rolei várias vezes seguidas, tentando me distanciar do perigo.
SLASH
Eu caí no chão, as minhas pernas cederam.
Um grande corte se abriu, de repente, na minha coxa. O cheiro de
pelo chamuscado fumegou até as minhas narinas enquanto eu mordia
meu lábio, cheio de dor.
A ferida estava cauterizada...
Eu fui cortado pela espada de Azazel.
Eu vi o Demônio em chamas voando pelo ar e ele deu uma
cambalhota sobre o meu corpo, posando atrás de mim. Meus dentes
afundaram na carne de seu ombro.
Eu podia sentir as chamas queimando a minha pele, então apertei a
mandíbula ainda mais forte e rasguei a pele dele com todas as minhas
forças.
RUGIDO!
As chamas queimaram o meu rosto. Eu as esfreguei com uma pata. O
corpo em chamas de Azazel era uma armadura natural.
Eu assisti enquanto Azazel pressionava o seu ombro que agora
gotejava com sangue preto.
Eu sabia que a única maneira de vencer era correr riscos. Mas até que
ponto eu poderia chegar?
BOOM!
Eu caí no chão com um estrondo.
Lazarus. mais uma vez, circulou atrás de mim. O Lorde Demônio
usou a agressividade de seu irmão como uma distração.
As minhas costelas estavam machucadas e eu podia sentir as minhas
costas doendo com a explosão dessa energia negra.
Pelo sangue antigo que corria em minhas veias, eu sabia que as feridas
iriam curar com o tempo. Isso sempre acontece.
Mas Tannon avisou que os meus poderes não eram tão fortes neste
reino. Eu balancei a minha cabeça sem querer acreditar, mas ele
realmente estava certo.
Virei de costas e estremeci.
Lazarus estava parado perto de mim. Azazel logo ficou do seu lado.
— Seu tempo acabou, Rei Lobisomem — Lazarus disse, com um
sorriso.
Azazel se inclinou para o chão e estendeu a lâmina de fogo em direção
ao meu peito.
— Não se preocupe, nós cuidaremos bem dela, — ele me assegurou,
com veneno exalando pela sua voz.
Belle
Belle agarrou-se ao pelo das minhas costas com todas as suas forças
enquanto eu corria.
Os músculos dos meus braços e pernas estalaram com potência,
enrijecendo com a pressão.
Recusei-me a desacelerar, nem que fosse por um segundo. Mesmo se
não estivéssemos correndo contra o relógio, este mundo não era um
lugar para fazer pausas e apreciar a paisagem.
Eu torci meu nariz, que ainda ardia do fogo de Azazel. Se Belle e eu
íamos sobreviver, precisávamos sair pelo portal.
A imagem do cajado brilhante de Tannon veio à minha mente. Eu me
perguntei se ele conseguiu manter o portão aberto e lutar contra
qualquer demônio que tentasse sair.
As nossas vidas dependiam disso.
Eu ri do meu egoísmo. Não éramos apenas Belle e eu que
precisávamos dos poderes do feiticeiro para permanecer vivos.
O destino do mundo todo dependia disso.
Eu podia sentir o seu abraço cedendo, mas não ousei tropeçar ou
parar.
Estávamos nos aproximando do local por onde eu entrei nesse
mundo infernal. Apenas mais alguns segundos e ela não precisaria mais
se segurar.
Eu a carregaria através do portal para o nosso mundo...
Meus pés cravaram no chão e paramos.
Eu olhei para a esquerda e para a direita. Para cima e para baixo.
Minhas narinas se encheram de ar enquanto eu tentava perceber o
cheiro de Tannon.
Este tinha sido o lugar! Eu tinha certeza!
Mas nós estávamos sozinhos.
Tannon havia fechado o portal, sentenciando oficialmente as nossas
almas à condenação eterna no inferno.
Belle
Belle: Tannon! 0 fogo vai nos consumir. Por favor. Tannon! Abra o
portal, precisamos de ajuda!
Belle: TANNON!
BAM!
Uma explosão de energia disparou, saindo do meu corpo. Abri os
olhos com esperança, mas não vi nenhuma mudança em nosso entorno.
Então, notei Keith olhando para mim, e antes que meus olhos
seguissem os dele, eu já podia sentir uma diferença por dentro.
Minhas veias estavam pulsando, azuis, e meu corpo emitia um brilho
intenso. Tentei sentir o chão sob meus pés, mas percebi que estava
flutuando de novo!
— Seus poderes... — Keith me olhou pasmo, talvez até um pouco
assustado.
Fechei meus olhos mais uma vez e reuni toda a energia que pude.
Uma voz ecoou em minha mente.
A barreira está se abrindo, Belle. Você tem apenas alguns segundos...
THWACK!
Abri meus olhos e vi Keith olhando para a barreira invisível.
Eu segui seus olhos e notei um pequeno orifício, do diâmetro de um
lápis, que começou a se abrir.
— Belle, está funcionando! — Keith gritou, enquanto um sorriso
surgiu em seus lábios.
— Temos apenas alguns segundos para passar! — Eu respondi com
urgência.
WHOOSH!
O súbito buraco na barreira permitiu que um ar inesperado
alimentasse o fogo. Ele girou ao nosso redor como um ciclone gigante de
chamas e calor.
Keith pressionou seu corpo contra o meu enquanto nosso espaço
seguro diminuía ainda mais, com o avanço do fogo.
O buraco finalmente cresceu o suficiente para que passássemos um
de cada vez.
— Agora! — Keith gritou.
Com uma explosão de força, consegui passar pelo buraco com
facilidade.
Eu podia sentir Keith se espremendo atrás de mim e fiquei feliz em
vê-lo desabar no chão ao meu lado, sentindo a terra fria pressionada
contra seu rosto.
Não muito longe de Keith estava o corpo amassado do que eu só
poderia supor ser o guardião da barreira.
— Tannon! — Eu chamei, enquanto nós dois corríamos para o seu
lado.
O frágil feiticeiro parecia murcho e quebrado, mas olhou para mim
com suavidade em seus olhos violeta antes de desmaiar.
Ele deu toda a sua força vital para nos salvar.
— Precisamos de ajuda, — declarei, com a voz trêmula. — Ele não
pode morrer! — Eu gritei.
Eu olhei para Tannon, um feiticeiro imortal. Morrendo diante dos
meus olhos.
Assim como Gregory morreu.
Eu não poderia deixar isso acontecer. Ele deu tudo por mim e eu faria
o mesmo por ele.
— Estamos muito longe de Tessa. Mesmo se eu mudasse para a
minha forma de lobo, levaria horas para chegar até ela, — afirmou Keith.
— NÃO! Temos que ir até Tessa agora! PODEMOS fazer isso! — Eu
gritei.
Levantei-me e na mesma hora senti meu pé chutar algo duro.
Eu mal podia acreditar que estava olhando para o cajado de Tannon
caído no chão, aos meus pés.
Por instinto, eu o peguei, sentindo todo o poder ao redor e dentro de
mim.
Toquei o chão com o bastão três vezes, enquanto uma frase na parte
de trás da minha cabeça me chamava.
— Leve-nos de volta, — eu disse, sem me direcionar a ninguém em
particular.
Uma porta sinistra apareceu de repente à nossa frente, com uma
energia preta e branca em torno dela.
— Vamos, — eu disse, com o cajado firmemente na minha mão,
enquanto eu avançava.
— Não, Belle! E se for uma armadilha? — Keith me avisou, agarrando
meu pulso com força.
Eu o encarei bem nos olhos e puxei o braço. Uma energia passou por
mim — era algo familiar, mas tão poderoso que deve ser novo.
— Eu sei exatamente aonde isso vai me levar, — eu disse com certeza.
— Pegue-o e carregue-o. Nós precisamos ir.
Capítulo 18
RETORNO AO CLÃ
Belle
Como isso pôde acontecer? Eu pensei que ele queria me ter por
inteiro... O seu corpo não mentia, especialmente depois do que
passamos.
Ele passou por todos esses problemas para me reivindicar, apenas
para depois ir embora?
Eu esperei ali, como uma tola por dez minutos, esperando que ele
voltasse e dissesse que isso era uma piada de mal gosto.
Mas ele não fez isso, então deixei minhas lágrimas caírem, sem
enxugá-las.
Fui paciente com a minha vulnerabilidade. Eu sabia que no momento
em que parasse de chorar, eu prometeria a mim mesma não deixar
ninguém me deixar nua e sozinha em sua cama novamente.
Enquanto descia a escada, a minha mente ainda vagava pelas várias
mudanças de humor de Keith. Tive vontade de sair e arrancar as pétalas
de uma flor para ver se ele me amava ou não.
Melhor ainda, tive vontade de invocar os meus poderes e queimar até
a última flor da Terra com uma gigante labareda de fogo azul.
Eu tentei espantar esses pensamentos e me concentrar. Não foi
minha culpa e eu sabia. Mas por que ele fez isso?
E por que eu ainda me importava?
Sem ter mais o que fazer, andei pelos corredores até me encontrar em
frente à porta do quarto de Tessa.
Entrei e encontrei Tessa sentada em um sofá aconchegante de feltro
verde, bebendo chá. Parecia que ela tinha um tempinho para conversar.
— Como vão as coisas? — Eu perguntei a ela, sentando no sofá de
frente para ela.
Tessa olhou para mim com olhos cansados e um sorriso fraco.
— Ele vai ficar bem. querida. Eu fiz um feitiço de cura nele, mas a sua
saúde estava muito fraca. Vai demorar, mas ele já está começando a se
recuperar.
— Mais cedo você disse que podia sentir a dor dele, é verdade? — Eu
perguntei.
— Sim, nós temos uma conexão mágica. Embora gêmeos não sejam
uma ocorrência comum entre as bruxas, nosso poder compartilhado
parece ser maior do que a maioria.
— Sabemos quando o outro está sofrendo porque também nos
sentimos parte dele. Eu doei um pouco da minha força vital para que eu
pudesse amenizar a sua dor, e assim ele poderia ter uma parte da minha
saúde, — explicou ela.
— Uau, — eu disse com admiração.
Sua franqueza foi revigorante, mas me lembrou das minhas próprias
falhas. Sean e eu não conseguíamos compartilhar nem uma barra de
chocolate quando éramos mais jovens, muito menos uma força vital
inteira.
Tessa olhou para mim com tristeza. — Eu não deveria falar sobre os
meus problemas quando você conhece tanta dor. Sinto muito pela sua
perda.
Eu balancei minha cabeça, tentando afastar as emoções.
Gregory tinha sido meu verdadeiro irmão, mesmo que só por algumas
horas. Ele nunca iria substituir Sean, mas eu lamento por ele do mesmo
jeito.
Ninguém precisava dizer a ela que o Gregory havia morrido para que
ela soubesse e sentisse a dor que consumia o meu coração. Ela entendeu
e não me ignorou.
Bem quando eu pensei que não tinha mais lágrimas para chorar,
novas gotas apareceram, mais e mais fortes desta vez.
Tessa se aproximou e me deixou chorar em seu ombro.
Depois que as lágrimas morreram. Tessa olhou para mim e acariciou
o meu cabelo.
— Sabe... você me lembra a minha filha, — ela disse calorosamente.
— Eu nem sabia que você tinha uma filha! — Eu disse, surpresa.
— Não tenho. Pelo menos, não mais, — ela respondeu, seus olhos
desviando dos meus.
Meu coração afundou no meu estômago.
Eu olhei para cima, horrorizada. Perder uma filha é algo que ninguém
deveria viver. No entanto, ela parecia afetada.
— Perder um ente querido é difícil, eu entendo, — disse Tessa, com
um leve sorriso em seu rosto. — Aproveite este momento para valorizar
as memórias que você teve com ele e honrar o seu espírito.
— Sinto muito, Tessa, — eu disse.
Ela encolheu os ombros. — É a vontade da Deusa da Lua.
Abaixei a minha cabeça em compreensão. A Deusa da Lua cuidava de
seus filhos, isso poderia ser verdade.
Mas o que aconteceu quando ao invés de cuidar, a Deusa decreta que
deve levar um deles?
— O que aconteceu com ela? — Eu perguntei hesitante. — Se você
não se importa que eu pergunte.
Tessa suspirou. — É difícil dizer. Ela desapareceu atrás de uma porta
semelhante à que você entrou, mas nunca foi encontrada.
— Passei décadas procurando aquela porta para descobrir aonde ela a
levou. Parte de mim sente que a sua alma está perdida, vagando para
algum lugar, para nunca mais ser encontrada, mas isso me assusta mais
do que sua morte.
Um pensamento passou pela minha mente Uma alma perdida? Eu me
perguntei...
— Tessa... quando eu entrei por aquela porta, eu fui levada para um
lugar, — eu disse.
— Bem. eu simplesmente não pude deixar de pensar... e se Shea se
tornou um deles? — Eu perguntei.
Tessa cruzou uma perna sobre a outra e colocou o chá na mesa
enquanto se virava para mim. — Eu acho que é uma suposição e tanto.
Belle, — ela disse para mim.
Meu coração afundou. Eu me senti estúpida por pensar nessa
possibilidade.
— Claro, eu ainda não sei de tudo, e se todas as crianças-sombras são
sombras... É uma possibilidade...
Depois de uma longa pausa, ela suspirou rapidamente e se levantou
com certa dificuldade.
— Eu deveria ir verificar como está o meu irmão. Não vá abrir
nenhuma outra porta, hein?, — ela brincou.
Eu sorri e a observei sair. Embora eu a conhecesse há pouco tempo,
Tessa era a mulher mais forte e mais corajosa que eu já Conheci.
Ter nem que fosse uma pequena fração do poder que ela possuía seria
algo inimaginável.
Keith
Me transformei para a minha forma de lobo e comecei a correr — isso
era só uma solução de curto prazo para liberar tanta energia sexual
reprimida.
Eu ainda podia sentir o calor do corpo dela. Aquele perfume doce e os
lábios macios. A maneira como seus quadris se encaixam perfeitamente
nos meus.
Pelo amor da Deusa da Lua. POR QUE seus quadris tinham que ser
tão perfeitos?
Eu fui completo idiota por acreditar que poderia possuir a Belle essa
noite.
Marque-me...
Sua voz envolveu a minha mente, reverberando com tons celestiais
bem na minha consciência, aquilo era demais para mim.
Ela queria que eu a marcasse. Para reivindicá-la como minha e eu
como dela.
E eu saí do quarto como um completo covarde e idiota. Quem eu
pensava que era para tê-la quando isso significava criar uma guerra?
Parte de mim não se importava se houvesse uma guerra, mas isso
significava arriscar a vida dela.
Como pude dedicar tanto tempo para salvá-la, apenas para vê-la
morrer?
Eu corri rápido o suficiente para perder de vista os meus arredores e
ficar tonto. Com uma velocidade fugaz, para fazer o sangue correr no
meu corpo e me deixar exausto.
Eu caí no chão e me transformei novamente para a minha forma
humana.
Fiquei ali nu, pensando em contar tudo a ela.
Eu queria dizer a ela porque tive que fugir antes de consumar o nosso
ato.
Mas o meu medo foi maior e agora eu a perdi, e ela já não tem
nenhum motivo para me aceitar de volta.
Eu não sou assim.
Mas repetir essa mesma frase, ao longo dos anos, me afastou ainda
mais do homem que eu gostaria de ser para ela.
Eu me levantei e fiz o caminho de volta para o clã. Da escada, pude
ver Belle dormindo no sofá.
Parte de mim queria acordá-la. Pedir desculpas a ela, agarrá-la e levá-
la embora.
Mas isso seria egoísmo.
Eu fiquei cabisbaixo e comecei a subir a escada.
Logo parei, por instinto, quando notei uma luz azul se espalhando
pelas frestas de uma porta.
Era o quarto de Daisy. Que tipo de feitiçaria poderia estar
acontecendo a esta hora?
Eu me arrastei até a porta e entrei em seu quarto, silenciosamente.
Ela estava parada na parede oposta, com um livro mágico nas mãos.
Ela estava convocando algo.
Algo maior do que eu!
— Venite ad me porta numine parcae! — Ela gritou.
— Daisy! O que você está fazendo? — Eu gritei.
Emergindo da luz havia uma porta semelhante à que Belle conjurou.
Mas essa porta estava banhada de vermelho, jorrando sangue ao se abrir.
Daisy se virou para mim com um sorriso travesso. Seus olhos eram
malignos e cheios de sadismo.
— Talvez em outra vida, nós poderíamos ter algo bonito.
— Daisy, NÃO! — Eu gritei.
Antes que eu pudesse me mover, ela acenou com a mão em minha
direção, lançando um feitiço rápido que me jogou no chão.
Senti o meu corpo se dobrar e se contorcer de dor enquanto eu a
observava entrar na escuridão, atrás da Porta do Destino.
Capítulo 20
SONHOS ESTRANHOS
Belle
Quem é você?
Eu olhei nos olhos do meu amante e vi um estranho olhando para
mim.
Ele não conseguia lembrar de nada sobre mim.
Nosso tempo que passamos juntos, a jornada que nos mudou tanto,
agora era completamente inexistente para ele.
Tessa e eu demos privacidade para ele se trocar enquanto nos
reunimos na cozinha.
— Você poderia ver através da mente dele? Encontrou alguma coisa
da sua memória? — Eu perguntei a ela.
— Eu não posso mexer em nada que ele não esteja ciente, Belle. Só
uma deusa pode fazer isso, — ela suspirou. — Estou longe de ser uma.
— Bem, o que vamos fazer? — Eu perguntei a ela. — Não podemos
simplesmente deixar as coisas assim.
Tessa levou um momento para tomar mais um gole de seu chá. Pelo
amor da Deusa da Lua! Esta mulher e seu bendito chá!
Tentei conter a preocupação que borbulhava dentro de mim
enquanto a observava engolir e se mexer.
As ervas flutuavam na sua xícara e os aromas chegaram às minhas
narinas. Toques de cardamomo, canela e algo mais que não consegui
decifrar.
Foi adorável e reconfortante, acalmou um pouco os meus nervos.
— Eu acredito que Keith deve voltar ao seu trono, — ela disse. —
Estar lá pode refrescar a memória dele.
— Mas todas as memórias que ele criou comigo foram bem longe de
seu trono! — Eu disse.
— Ele precisa estar em um lugar em que se sinta confortável primeiro.
Keith tem uma conexão com o trono que pode quebrar o poder desse
feitiço. Espero que seja o suficiente para que a magia desapareça. Você
deveria ir com ele, — disse Tessa.
— Mas ele não se lembra de mim! — Eu disse.
— Ele é seu prometido. Em breve, essa sensação voltará para ele, se é
que já não voltou. Seja paciente, — disse Tessa.
— E quanto ao Tannon? E a porta de entrada para o submundo?
Quem vai proteger isso? — Eu perguntei, me sentindo cada vez mais
oprimida.
Tessa sorriu com as minhas perguntas e ergueu as mãos, para me
acalmar.
— Tannon ficará bem, sob minha supervisão. Vou pedir a Daisy para
guardar o portal, — disse Tessa.
Revirei os olhos e murmurei: — Certifique-se de que ela realmente
faça o seu trabalho.
Eu odiava como a Daisy fazia eu me sentir. A atmosfera que ela
exalava era tóxica e eu tinha dúvidas de que ela ajudaria em alguma coisa.
Havia algo sinistro que ela mantinha por baixo dos panos. Como uma
maçã vermelha madura que era podre por dentro.
— O que é que foi isso? — A voz de Keith ecoou atrás de mim.
— Você vai levar Belle de volta ao castelo, — explicou Tessa. — Eu
acho que isso vai te ajudar a recuperar as suas memórias.
Keith
Quem é você?
Eu olhei nos olhos do meu amante e vi um estranho olhando para
mim.
Ele não conseguia lembrar de nada sobre mim.
Nosso tempo que passamos juntos, a jornada que nos mudou tanto,
agora era completamente inexistente para ele.
Tessa e eu demos privacidade para ele se trocar enquanto nos
reunimos na cozinha.
— Você poderia ver através da mente dele? Encontrou alguma coisa
da sua memória? — Eu perguntei a ela.
— Eu não posso mexer em nada que ele não esteja ciente, Belle. Só
uma deusa pode fazer isso, — ela suspirou. — Estou longe de ser uma.
— Bem, o que vamos fazer? — Eu perguntei a ela. — Não podemos
simplesmente deixar as coisas assim.
Tessa levou um momento para tomar mais um gole de seu chá. Pelo
amor da Deusa da Lua! Esta mulher e seu bendito chá!
Tentei conter a preocupação que borbulhava dentro de mim
enquanto a observava engolir e se mexer.
As ervas flutuavam na sua xícara e os aromas chegaram às minhas
narinas. Toques de cardamomo, canela e algo mais que não consegui
decifrar.
Foi adorável e reconfortante, acalmou um pouco os meus nervos.
— Eu acredito que Keith deve voltar ao seu trono, — ela disse. —
Estar lá pode refrescar a memória dele.
— Mas todas as memórias que ele criou comigo foram bem longe de
seu trono! — Eu disse.
— Ele precisa estar em um lugar em que se sinta confortável primeiro.
Keith tem uma conexão com o trono que pode quebrar o poder desse
feitiço. Espero que seja o suficiente para que a magia desapareça. Você
deveria ir com ele, — disse Tessa.
— Mas ele não se lembra de mim! — Eu disse.
— Ele é seu prometido. Em breve, essa sensação voltará para ele, se é
que já não voltou. Seja paciente, — disse Tessa.
— E quanto ao Tannon? E a porta de entrada para o submundo?
Quem vai proteger isso? — Eu perguntei, me sentindo cada vez mais
oprimida.
Tessa sorriu com as minhas perguntas e ergueu as mãos, para me
acalmar.
— Tannon ficará bem, sob minha supervisão. Vou pedir a Daisy para
guardar o portal, — disse Tessa.
Revirei os olhos e murmurei: — Certifique-se de que ela realmente
faça o seu trabalho.
Eu odiava como a Daisy fazia eu me sentir. A atmosfera que ela
exalava era tóxica e eu tinha dúvidas de que ela ajudaria em alguma coisa.
Havia algo sinistro que ela mantinha por baixo dos panos. Como uma
maçã vermelha madura que era podre por dentro.
— O que é que foi isso? — A voz de Keith ecoou atrás de mim.
— Você vai levar Belle de volta ao castelo, — explicou Tessa. — Eu
acho que isso vai te ajudar a recuperar as suas memórias.
Keith
WHACK!
Uma dor lancinante percorreu todo o meu corpo como o que deve ter
sido o centésimo açoite de um chicote cheio de espinhos.
Eu estava pendurado no teto, pendendo, por correntes de prata que
queimavam os meus pulsos.
WHACK!
O chicote cortou a minha pele, deixando outro vergão saliente,
escorrendo sangue.
— O QUE VOCÊ QUER!? — Eu gritei.
— Chega, — uma voz escorregadia gritou, vindo das sombras.
O chicote parou de me atacar e eu ouvi passos se aproximando.
Uma figura emergiu das sombras, era um menino com uma postura
imaculada.
Ele sorriu para mim com sua expressão distorcida e inclinou a cabeça.
— Olá, Keith. Há quanto tempo não nos vemos.
Rosnei para o menino parado abaixo de mim.
Posso ter perdido a minha memória, mas o seu sorriso de comedor de
merda fez a minha raiva ferver.
— Eu acredito que você até que tem algum valor. Este pequeno
inconveniente deve lembrá-lo de como eu sou persistente para conseguir
o que quero, — disse ele com um sorriso.
Meu sangue ferveu a ponto de eu nem sentir as correntes de prata
perfurando os meus pulsos.
Eu nunca fui inimigo dos vampiros, não que minha mente débil
pudesse se lembrar. Mas era óbvio que nunca fomos amigos também.
Os vampiros só faziam o que convinha aos seus interesses e eram
bons em manipular.
— Por que estou aqui? — Eu rosnei.
— Você tem algo que eu quero. Ou melhor, alguém... — disse Samuel.
— Belle? — Eu perguntei. — O que você fez com ela?!
— Acredite em mim, eu tratei Belle como uma rainha, — ele disse.
— Eu quero que você a liberte. Diga para ela que você a esqueceu, que
ela não vale o seu tempo, e eu te deixarei ir embora. É simples assim, —
ele sugeriu.
— Eu não confio em você! — Eu rosnei. — Você só se preocupa com
você mesmo e eu não vou dar ouvidos às suas mentiras!
Tentei novamente me soltar das correntes, mas só consegui machucar
ainda mais meus pulsos.
Samuel riu da cena. — Eu sei que você não confia em mim. Mas você
deve confiar nisso... Se eu não conseguir o que quero... você não será o
único ser sangrando em carne viva.
Capítulo 23
SUBTERFÚGIO
Belle
Uma lágrima rolou pelo meu rosto e caiu no chão duro abaixo.
Tudo isso estava só na minha cabeça, mas parecia real. Não importa o
problema, a minha família sempre esteve lá para ajudar.
Estava parecendo que eu nunca iria vê-los novamente.
Se eu quisesse ver novamente aqueles que eu amava, precisava de um
milagre.
Tessa!
Ela era a minha única esperança.
Mantendo a minha mente afiada e os olhos fechados, concentrei-me
em sua essência.
Eu tinha conseguido estender a mão com minha mente antes, mas
sem correntes neutralizando a minha magia.
Eu tinha que tentar. Desistir não era uma coisa que estava no meu
sangue!
Tessa. Por favor. Estamos presos. O Samuel vai nos matar. Ajude-nos,
Tessa.
Se funcionar corretamente, ela deve receber a mensagem em breve.
Mas será que teremos esse tempo?
Eu ouvi uma trava se abrir e passos se aproximando.
Enquanto eu estava pendurada ali. indefesa, mais lágrimas surgiram
dos meus olhos e caíram no chão.
Por favor, que dê tempo...
Keith
Eu queria falar com o Keith, contar a ele tudo o que sentia, mas o
pano em minha boca só me permitiu grunhir e gemer.
Uma fruta podre explodiu na minha bochecha, levando a multidão a
um frenesi. Eles rugiram com gargalhadas, embriagados de sangue.
Então, todos eles ficaram cada vez mais quietos.
Samuel saiu do seu castelo, dando uma caminhada longa e lenta entre
a multidão de pessoas.
A multidão permaneceu em silêncio, quase em devaneio.
— Olá. meus súditos! Vocês estão prontos para se divertir!? — ele
perguntou.
Eles começaram a gritar de novo, e a minha pele estava úmida e fria.
Samuel se virou para mim, com um sorriso. — O que posso dizer?
Essa multidão gosta de um show. Seria muito rude da minha parte
desapontar o meu povo.
Seus lábios se separaram e as presas afiadas brilharam como a lâmina
de uma guilhotina.
Eu olhei para Keith, que compartilhou comigo um olhar temeroso.
Eu não conseguia imaginar a quantidade de dor que havia sido
infligida a ele. As chicotadas deixaram mais do que marcas vermelhas por
todo o corpo.
Também haviam consumido a sua energia e paixão, sugando-o até
secar.
— Estamos reunidos aqui hoje para nos despedirmos, — disse
Samuel.
— Adeus a uma ideia do que poderia ter sido.
Muitos de nós vivemos lamentando por causa das escolhas que temos
muito medo de fazer.
Ele fez uma pausa para olhar para mim, e pude ver que ele estava
fazendo questão de me envergonhar por causa da minha escolha.
— Eu digo que é uma vida longa para nós, então não há necessidade
de gastá-la sobrecarregados com o que simplesmente poderia ter sido.
Ele tocou meu rosto com a mão. como se o admirasse.
Keith soltou um grunhido sufocado através da mordaça.
— Pedimos a ela para ser nossa rainha. Em vez disso, ela tentou salvar
esta besta e nos destruir. — Samuel fez uma pausa para causar efeito e
então me olhou nos olhos.
— Mas devo dizer que, se nós não somos desejados, eles também não
são.
A multidão rugiu de alegria, mais uma vez.
Comecei a chorar quando dois dos guardas me forçaram a levantar e
me acompanharam até a guilhotina. O rosnado abafado de Keith se
intensificava a cada passo que eu dava.
Fiquei de joelhos com a cabeça voltada para baixo, esperando a
lâmina cair sobre mim.
— Alguma última palavra. Annabelle? Samuel perguntou.
Eu preciso de um milagre...
Eu olhei para cima novamente, procurando algum sinal — algo que
eu pudesse me garantir que a morte não seria tão ruim.
Mas as lágrimas turvaram a minha visão, me lembrando que nem
todas as histórias terminavam como um conto de fadas.
— Agora ela está sem palavras, hein? — Samuel brincou.
A multidão riu com ele.
Então, eu ouvi... um uivo agudo que logo foi acompanhado por
muitos mais.
Keith
Eu não sabia o que doía mais: a dor lancinante da corda que ainda
queimava a minha pele, ou o fato de que eu não conseguia me lembrar de
nada.
A cada rosto que passava, eu me sentia cada vez mais perdido em um
mar de estranhos.
Todos me tratavam com gentileza, mas eu ainda podia sentir a tensão
quando passei.
Como se eu fosse alguém que deveria ser temido...
O Rei Lobisomem que mal conseguia se lembrar dos seus nomes,
nem sabia como governar um trono.
Lembrei de estar preso na cela, torturado por aquele idiota arrogante
do Samuel. Ele teve uma morte que foi justificada por suas mentiras e
manipulação.
Mas se as histórias que me contaram estivessem corretas, havia muito
mais coisas lá fora esperando, prontas para fazer o mesmo conosco...
Belle manteve distância desde a batalha. Não a culpei por querer espaço,
mas não podia mentir para mim mesmo sobre os meus sentimentos.
Quando Zena me beijou, despertou uma sensação que eu não
esperava. Depois de tanta perda, seus beijos apaixonados reviveram os
meus ossos cansados.
Zena ficou presa ao meu quadril durante toda a corrida para casa,
embora ela soubesse que eu não conseguia me lembrar dela. Quando
chegamos de volta ao castelo. Belle havia praticamente desaparecido.
Algo me dizia que era ela que eu queria ter do meu lado, mas eu não
conseguia entender por que me importava tanto com uma espécie
híbrida.
Belle não era uma de nós, mas o seu espírito era mais fiel à forma de
lobisomem do que qualquer um gostaria de admitir.
Quando entramos no castelo pela primeira vez, fui derrubado pelo
cheiro delicioso de comida. Pão recém-assado, cordeiro e o aroma de
torta de maçã estavam me chamando.
Cada cômodo por que passei sacudiu algo dentro de mim que parecia
um déjà vu.
As pessoas lá dentro eram reais, mas eram tão estranhas para mim
como um enigma de um sonho.
Fui conduzido ao meu quarto e imediatamente fui para o chuveiro.
RUGIDO!
A água quente queimou todas as feridas abertas nas minhas costas. Eu
queria parar aquela dor sem fim, mas sabia que as feridas precisavam ser
limpas antes de cicatrizar.
Finalmente terminei, manquei até a cama e caí de cara no colchão. Os
lençóis limpos pareciam o paraíso contra a minha pele nua.
Eu ouvi um barulho e fiquei surpreso quando notei Zena parada na
porta.
Ela também havia tomado banho recentemente.
Eu podia sentir o cheiro do frescor de sua pele e o seu perfume no ar.
Ela caminhou até mim e estendeu um pequeno frasco de bálsamo.
— Achei que você pudesse precisar de ajuda, — disse ela, abrindo o
pote.
Suas mãos tocaram as feridas e elas começaram a pegar fogo. Mas o
bálsamo era calmante e rapidamente suprimiu a dor.
— Você se lembra desse lugar? — Zena perguntou, interrompendo os
meus pensamentos.
— Vagamente, — eu disse. Seus dedos massagearam suavemente as
lacerações, cuidando de todos os ferimentos.
— Está tudo bem. meu rei. Dê um tempo e você se lembrará. — Zena
sorriu enquanto me beijava na bochecha. — Eu vou fazer você se lembrar
de tudo.
Belle
— Eu te amo, Belle.
Palavras dele, não minhas.
Elas não eram do Lorde Demônio ou do Rei Vampiro... Essas palavras
vieram dos belos lábios de Keith.
Por mais simples que fossem essas palavras, eu não acreditei nelas até
que foram ditas.
Sean e meu pai olharam para mim, dolorosamente desconfortáveis,
pois não sabiam mais como lidar com a situação.
— Mark? Sean — Keith gritou para eles, inclinando levemente a
cabeça. — Reconheço meu comportamento indecente desde o momento
em que Cheguei para buscá-la pela última vez. Peço desculpas.
Fiquei chocada. Meu pai e Sean ficaram chocados.
O Rei Lobisomem, se desculpando com um de seus subordinados...
isso era inédito.
Acenei para eles, libertando-os de seus deveres familiares. Eles
rapidamente entraram.
Quando a porta se fechou atrás de mim, dei um passo para mais perto
de Keith, cujos olhos brilhantes permaneceram fixos nos meus.
— Você está falando sério? — Eu perguntei.
E se isso fosse apenas algum outro feitiço doentio que alguém
colocou nele? Nesse ponto, eu não conseguia dizer e estava com medo de
descobrir.
Mas pude ver uma clareza em seus olhos que me disse que ele não
estava mentindo.
— Sim, Belle. Eu amo Você. Eu soube desde o momento em que
coloquei os olhos em você pela primeira vez, — ele implorou.
Eu ri com essa ideia. Ele me separou da minha família com garras
frias e nenhum fiapo de calor amoroso.
— Eu sei que a maneira como me comportei foi horrível, mas você me
mudou mais do que eu poderia imaginar. Somos perfeitos juntos, posso
sentir isso! — ele insistiu.
— Então, por que você não disse nada naquela época? — Eu rebati,
me surpreendendo.
— Como vou saber que você não vai sair com Zena, ou Daisy, ou
alguma outra garota, no momento em que as coisas ficarem difíceis?
Foi uma pergunta honesta, e a cara de Keith me deu uma resposta
honesta. Ele mostrou remorso pelas ações que podia ou não lembrar.
Todas elas.
— Porque eu não tenho mais medo! — ele gritou.
Agora, ele me surpreendeu. O Rei Lobisomem, com medo?
Ele esperou que eu preenchesse os espaços em branco, mas cruzei os
braços, precisando de mais explicações.
Keith abaixou a cabeça mais uma vez e suspirou.
— Você me fez sentir tantas coisas novas, coisas que eu nunca tinha
experimentado antes. A atração que você exerce sobre meu corpo às
vezes era incontrolável. Exatamente como agora.
Eu queria abraçá-lo, mas também queria me mostrar séria.
E algo ainda me mantinha a uma certa distância do homem que
estava parado diante de mim.
Ele organizou os seus pensamentos e respirou fundo.
— Quando eu fui para a minha sala do trono, tudo voltou para mim
em uma enxurrada de memórias. Eu sei o que eu fiz. E eu prometo a você,
Belle, nunca mais eu vou fazer você passar por isso! — Eu notei a sua
autenticidade e senti os últimos medos derreterem com o sol da manhã.
Ele parecia sentimental e sincero.
Era difícil ficar com raiva dele...
Então, tive a suspeita repentina de que estávamos sendo espionados.
Embora eu tive que usar cada grama de minha energia para fazer isso,
eu me afastei dele e olhei para trás, avistando minha mãe e Sean nos
observando através das janelas salientes.
— Oh, Deusa da Lua... Vamos dar um passeio, — eu disse.
Keith esperou até que estivéssemos em outro quarteirão antes de
segurar a minha mão.
No início, ficamos em silêncio, aproveitando a brisa da manhã bem
cedo e experimentando a companhia um do outro.
— Tenho saudades disso desde o momento em que você saiu, — Keith
quebrou o silêncio.
Eu olhei em seus olhos simpáticos e ele olhou de volta nos meus.
— Eu estava tão perdido e confuso, e em vez de falar com você sobre
isso, eu simplesmente me afastei. Fui covarde.
— Você teve a sua memória apagada. Não foi sua culpa, — eu
assegurei a ele.
— Sim, foi! — ele disse. — Naquele dia em que saí correndo do
quarto...
Meu estômago se contraiu enquanto prendia a respiração. Esse dia
despedaçou a minha alma. — Eu estava assustado. Eu queria te marcar,
mas me lembrei da profecia, — admitiu.
— Que profecia? — Eu perguntei.
Bem ali, no meio do meu bairro tranquilo, Keith me contou tudo.
A Deusa da Lua deu a ele o pergaminho e um decreto simples: se ele
me marcasse como sua prometida, uma guerra eterna estouraria.
Naquela noite, quando estávamos em seu quarto juntos, lembrei-me
de ter visto uma luz brilhando suavemente, mas não entendi.
Eu não poderia ter entendido naquele momento.
O peso de sua revelação afundou em meus ombros, e tentei não
deixar transparecer — mas nunca fui boa em esconder as minhas
emoções. E aqui estava eu, pensando que ele simplesmente não me
queria. Eu não sabia o quanto estava em jogo se eu fosse ou não marcada
por ele.
Em vez disso, ele não queria que o mundo acabasse por causa do
nosso destino...
— O que diabos eu fiz para ser a razão da destruição completa!? — Eu
gritei, arrancando uma risada de Keith. — Você está ferrado se me
marcar, e está ferrado se não me marcar.
Keith deu um passo à frente e gentilmente pegou as minhas mãos nas
suas.
— Não, de jeito nenhum. Eu percebo agora, eu estava ferrado por não
seguir os meus verdadeiros sentimentos. E se você tivesse sido levada
embora para sempre...
Ele parou e deixou a sua voz sumir.
Eu sorri para ele e apertei as suas mãos. Seus olhos continuaram a
brilhar e seus lábios me deixaram tonta.
— Então o que fazemos agora? — Eu perguntei.
— Eu não sei, — ele murmurou. Estávamos perdidos nos olhos um do
outro, procurando uma conclusão à qual nenhum de nós poderia chegar.
Começamos nossa caminhada novamente e finalmente contornamos
o quarteirão, parando na frente da minha casa.
— É errado eu te querer mais do que tudo? Mesmo que isso signifique
guerra...? — Eu perguntei.
Seus olhos eram um sonho. Eu poderia me afogar neles e morrer feliz.
Claro, eu queria paz para todos, mas parecia que a guerra já havia
começado, independentemente de onde estivéssemos.
E não importa o que fosse acontecer daqui em diante, eu queria ficar
com ele.
— Belle, passei a minha vida inteira pensando que alguém como você
era impossível para mim, — disse ele. — Que como Rei, eu nunca poderia
encontrar minha verdadeira rainha.
Você me deu empatia e me mostrou que o amor é mais do que uma
fraqueza. Isso constrói força por dentro, e eu estaria realmente
condenado se perdesse você para qualquer outra pessoa novamente.
Suas palavras me fizeram sentir como se eu estivesse levitando, mas
os meus poderes não estavam ativados, e meus pés estavam plantados no
chão.
Esta era uma magia própria dele.
Ele me puxou para um abraço caloroso. Eu podia sentir a sua
respiração em meus lábios e eu queria.
Tudo dele.
Keith podia sentir a minha determinação e eu podia sentir a dele.
— Esses mundos já estão em guerra... eles sempre estiveram. Então,
se vou lutar, vou lutar. Mas, pelo amor da Deusa da Lua, quero você lá
comigo.
Naquele momento, meus joelhos dobraram.
O meu pai estava errado. A verdade não foi encontrada em silêncio;
foi encontrada quebrando o silêncio. Bem diante de mim, eu
testemunhei o poder que essa verdade tinha.
Esta besta que eu amava havia se tornado o homem que estava
destinado a mim, e nada, nem mesmo uma guerra, poderia impedir isso.
— Bem. então, é claro... me marque, — eu disse.
Capítulo 29
UMA BATALHA PELA ETERNIDADE
Belle
Guerra eterna...
Ou felicidade eterna...?
Pode parecer uma escolha fácil para alguns, mas quando o destino do
mundo depende da sua decisão de casar, tudo acaba sendo mais
complicado.
Eu estava nervosa, e poderia dizer que Keith também estava. Mas com
cada olhar tranquilizador, a minha confiança em nossa decisão só
cresceu.
Quando me mudei para o meu quarto. Keith me seguiu de perto, para
não me perder de vista.
— Minha Belle, — disse ele, puxando-me para mais perto.
Eu segurei seu rosto em minhas mãos e beijei seus lábios macios.
— Meu Keith, — eu respirei entre beijos.
Ele puxou a minha camisa e eu flutuei em direção a ele com
entusiasmo. Com um simples puxão, senti o tecido da camisa deslizar
para fora do meu corpo.
Keith me girou na cama e roçou meu pescoço com os lábios, deixando
um rastro de beijos até a minha boca.
Suas mãos encontraram a minha cintura e avançaram ao longo da
minha barriga, finalmente descansando quando alcançaram os meus
seios.
Eu gemi baixinho.
Ele pressionou seus lábios nos meus, e de repente eu senti uma
sensação estranha que me deixou nervosa.
Estamos na casa da minha família.
— Não vamos fazer barulho, — sussurrei.
Keith olhou para mim e ergueu uma sobrancelha. — Nós podemos
tentar.
Ele piscou, beijando-me nos lábios mais uma vez, desta vez mordendo
meu lábio inferior. Pequenos espasmos agitaram o meu corpo.
Eu gemi de novo — mais alto, desta vez.
A necessidade repentina de ficar quieta me deixou com mais tesão
ainda. Algo sobre o sigilo intensificou cada toque.
CRASH!
Um som alarmante de vidro quebrado nos separou.
Pulamos da cama e descemos as escadas correndo.
A porta deslizante estava completamente quebrada. Meu pai já havia
mudado para a forma de lobo e estava em uma luta brutal com um
demônio.
— Que diabos?! — Keith latiu.
Um segundo demônio entrou e atacou o Keith. Sua rápida reação
lançou o demônio ao chão, urrando de dor.
Então, outro demônio entrou na casa. E outro.
O medo atingiu meu peito. Logo, seríamos oprimidos pelas suas
forças.
Por instinto, levantei os meus braços, em defesa.
A pulsação das minhas veias e o brilho azul dos meus braços
começaram a iluminar a sala. Senti uma grande força quando a minha
poderosa magia enviou uma onda de choque pela casa.
Os demônios que se infiltraram em nossa residência foram todos
derrubados ao chão, se contorcendo em agonia.
Minha família ficou me olhando, estupefata. Mas agora não era o
momento de ficar pasmos com meu poder.
— O que está acontecendo? — Eu gritei.
— Não sei, — admitiu meu pai. — Como os demônios entraram em
nosso mundo?
— É impossível! — Sean disse, ao lado de nossa mãe. Corri para a
porta deslizante que agora estava completamente destruída e passei por
ela.
— Belle, o que você está fazendo!? — Keith gritou, correndo atrás de
mim.
Eu não respondi. Eu estava muito ocupada olhando para o céu
enquanto centenas de sombras desciam sobre a casa.
— Oh, Deusa da Lua, ele está aqui, — entrei em pânico, enquanto
corria de volta para dentro.
— Quem? — minha mãe perguntou.
— O Lorde Demônio! — Eu gritei.
Keith
Demorou vários dias até que eu finalmente voltasse para a minha casa
nos Alpes.
Tessa e eu encontramos problemas com os portais. A magia negra no
reino etéreo estava nos impedindo de ir para onde precisávamos estar.
Era algo que eu nunca tinha experimentado antes e percebi que uma
força poderosa deve estar envolvida.
Eu estava com medo do que isso poderia acarretar. Se Daisy tivesse
tomado o meu lugar e ela me explodisse com a sua magia, havia muito
pouca esperança de que o portal permanecesse fechado.
— O que faremos se o portal for aberto? — Tessa me perguntou.
Normalmente, era eu quem tinha todas as respostas, mas desta vez,
não consegui responder nada.
— Depende se alguma coisa cruzou, — eu admiti debilmente.
— Se chegarmos lá a tempo, talvez apenas alguns demônios tenham
conseguido passar. Eu posso lacrá-lo novamente, mas não há como
adivinhar o que pode ter sido liberado.
Finalmente chegamos ao ponto da parede que eu sempre protegi,
apenas para encontrá-lo completamente dissolvido.
Em seu lugar havia um buraco largo o suficiente para passar uma
casa.
— Oh não, — disse Tessa.
O buraco não mostrou nenhum sinal de presença demoníaca do
outro lado. Todos eles haviam saído de seu mundo?
Me uni a Tessa enquanto fazíamos o possível para selar o portal, mas
sabíamos que já era tarde demais.
O Lorde Demônio e Azazel eram apenas uma parte do submundo que
conhecíamos.
Era um mundo sem fim, com toneladas de magia negra.
— Você sabe o que isso significa, — eu disse a Tessa depois de selar o
portão.
Tessa suspirou e acenou com a cabeça. — Temos que alertar Belle e os
outros.
Eu senti um fracasso no fundo do meu coração. Este portal foi
esticado e destruído por forças mais fortes de alguém tão jovem como
Daisy.
A morte estava próxima e não havia como parar o que seria
desencadeado.
Keith