Monografia Certa
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CURSO DE DIREITO
LICENCIATURA EM DIREITO
Luanda, 2022
UNIVERSIDADE METODISTA DE ANGOLA
CURSO DE DIREITO
LICENCIATURA EM DIREITO
I
AGRADECIMENTOS
Antes de mais, gostaria de expressar o meu profundo agradecimento à Deus, pela inspiração, a
partir de um sonho, para a elaboração deste trabalho, e pela Luz que sempre me guiará nesta
caminhada terrena.
Ao meu orientador, Dr. Nsessani Vemba, pelo exemplo, rigor, disciplina e disponibilidade
demonstradas desde o início.
Aos meus colegas do curso de Direito e à todos que participaram directa e indirectamente para
o êxito deste trabalho, mormente aos magníficos professores e corpo diretivo da nossa
Faculdade da Faculdade de Direito da Universidade Metodista de Angola.
II
RESUMO
O sistema de Governo Angolano é uma análise histórica e jus política sobre a evolução das
instituições angolanas no período pré constituinte de Alvor revolucionário da primeira
República e suas instituições, a segunda República e suas instituições e finalmente a terceira
República e as perspectivas transconstitucionais ou globais que a ordem política interna não
ignora. O primeiro texto Constitucional de Angola foi caracterizada principalmente por uma
visão monista do poder, consubstanciada no partido-único. Em 1992 deu-se a primeira
abertura para a democracia multipartidária que teve como ápice a realização das primeiras
eleições legislativas, seguida das eleições Presidenciais. Em 2010 aprovou-se a primeira
Constituição da história do país que marcou o início da terceira República. Nesta
Constituição, tal como na Lei de Revisão Constitucional de 1992, consagrou-se o Estado
Democrático de Direito e vê-se o alargar dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.
O Sistema de Governo angolano é denominado Presidencialista- Parlamentar por existir um
único processo eleitoral que legitima quer o Presidente da República, bem como os Deputados
à Assembleia Nacional. O actual Sistema de Governo angolano é um desenho institucional
híbrido, uma vez que resulta da combinação de elementos de diferentes sistemas de Governo
com prevalência do Presidencialismo, onde o Presidente da República é igualmente Chefe do
Governo e tem ainda poderes Legislativos.
III
ABSTRACT
The Angolan Governament system is a historical analysis and political justification on the
evolution of the Angolan in pre-constituent period of revolutionary Alvor of the first Republic
and its institutions, the second Republic and its institutions and finally the third Republic and
the transconstitutional or global perspectives that order domestic policy is aware. The first
constitutional text of Angola was characterized mainly by a monistic vision of power,
consubstantiated in the single-party. In 1992 the first opening for multi-party democracy was
held, culminating in the holding of the first legislative elections, followed by the Presidential
elections. In 2010 was approved the first Constitution of the history of the country that
marked the beginning of the third Republic. In this Constitution, as in the Constitutional
Revision Law of 1992, the Democratic Rule of Law was established and the fundamental
rights and freedoms of the citizens were extended. The Angolan Government System is called
Presidentialist - Parlamentary because there is a single electoral process that legitimates both
the President of the Republic and the Deputies to the National Assembly. The current
Angolan Government System is a hybrid institutional design, since it results from the
combination of elements of different Government systems with prevalence of Presidentialism,
where the President of the Republic is also Head of Government and has Legislative powers.
IV
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACA- Associação Cívica Angolana.
ACNUR- Alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados.
AN – Assembleia Nacional
art.º - artigo.
CCFAA- Comando-Chefe das Forças Armadas de Angola.
CML- Câmara Municipal de Luanda.
CNE- Comissão Nacional Eleitoral.
FAA- Forças Armadas Angolanas.
FALA- Forças Armadas de Libertação de Angola.
FAPLA- Forças Armadas Populares de Libertação de Angola.
FLEC- Frente de Libertação do Enclave de Cabinda.
FNLA- Frente Nacional de Libertação de Angola.
GURN- Governo de Unidade e Reconciliação Nacional.
MFA- Movimentos das Forças Armadas.
ML- Movimentos de Libertação.
MNE- Ministro dos Negócios Estrangeiros.
MNIA- Movimentos dos Novos Intelectuais de Angola.
MONUA- Missão de Observação das Nações Unidas em Angola. Substituiu a UNAVEM III.
MPLA-PT- Movimento Popular de Libertação de Angola- Partido do Trabalho.
ONU- Organização das Nações Unidas.
OUA/ OA- Organização da Unidade Africana/ União Africana.
PDA- Partido Democrático de Angola.
PIDE- Polícia Internacional de Defesa do Estado (no tempo Colonial).
PM – Primeiro-Ministro
PR- Presidente da República.
UNAVEM- Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola.
UNITA- União Nacional para a Independência Total de Angola.
UPA- União dos Povos do Norte de Angola.
V
ÍNDICE
DEDICATÓRIA.....................................................................................................................I
AGRADECIMENTOS..........................................................................................................II
RESUMO..............................................................................................................................III
ABSTRACT.........................................................................................................................IV
CAPITULO I – INTRODUÇÃO..........................................................................................8
1.1.Objetivos da Pesquisa........................................................................................................8
1.1.1.Objetivo Geral................................................................................................................8
1.1.2.Objectivos Específicos...................................................................................................8
1.2.Justificativa.......................................................................................................................8
1.3.Formulação do Problema..................................................................................................9
1.4.Formulação da Hipótese...................................................................................................9
2.1.Métodos de Pesquisa.......................................................................................................10
2.2.Técnica de Pesquisa........................................................................................................10
2.3.Tipo de Pesquisa..............................................................................................................10
3.1.1.Sistema.........................................................................................................................11
3.1.2.Politica..........................................................................................................................11
3.1.3.Governo........................................................................................................................11
VI
3.3.CONTEXTUALIZAÇÃO DO SISTEMA DE GOVERNO ANGOLANO NA 1ª E 2ª
REPÚBLICA.........................................................................................................................19
CONCLUSÃO......................................................................................................................31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................32
VII
CAPITULO I – INTRODUÇÃO
1.2. Justificativa
8
A escolha do tema justifica-se pela crescente complexidade que se levanta quanto ao
modelo híbrido de sistema de governo adoptado por Angola, comportando elementos do
sistema Presidencialista e Parlamentarista. Por outro lado, é muito frequente fazer uma grande
confusão entre Regime e Sistema Político, aplicando os dois termos indiscriminadamente para
se referir à mesma realidade. Falam muitas vezes em Regime Político para se referirem à
estrutura do aparelho do poder, e em sistema para evidenciarem a forma de designação dos
titulares dos órgãos de Soberania e como se relacionam, os poderes e limites de cada órgão de
soberania ou de Estado.
9
CAPITULO- II. METODOLOGIA
2.1. Métodos de Pesquisa
Para realizar a pesquisa proposta, o presente trabalho utilizou-se do método hipotético-
dedutivo, completado pelo método qualitativa. De acordo com Carmo e Ferreira (2015),
podemos classificar a metodologia segundo os objetivos e segundo a abordagem do problema;
quanto aos objetivos foi efetuada uma abordagem descritiva. E com referência ao critério da
abordagem do problema, classificamo-la como pesquisa mista, uma vez que utiliza ambas,
pesquisa qualitativa e quantitativa
10
CAPÍTULO III – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1. Definição de Termos e Conceitos
3.1.1. Sistema
Um sistema (do grego σύστημα systēma, através do latim systēma), é um conjunto de
elementos interdependentes de modo a formar um todo organizado. É uma definição que
acontece em várias disciplinas, como biologia, medicina, informática, administração, direito.
Vindo do grego, o termo "sistema" significa "combinar", "ajustar", "formar um conjunto".
3.1.2. Politica
O termo política é derivado do grego antigo πολιτεία (politeía), que indicava todos os
procedimentos relativos à Pólis, ou cidade-Estado grega. Por extensão, poderia significar
tanto cidade-Estado quanto sociedade, comunidade, coletividade e outras definições referentes
à vida urbana.
3.1.3. Governo
O Governo é a organização que é a autoridade governante de uma
unidade política"; "o poder de regrar uma sociedade política"; ou o aparato pelo qual o
corpo governante funciona e exerce autoridade. O governo é, usualmente, utilizado para
designar a instância máxima de administração executiva, geralmente reconhecida como a
liderança de um Estado ou uma nação. Os Estados podem ter vários níveis ou esferas de
Governo, conforme a organização política daquele país, como por exemplo os Governos
locais ou municipais, os regionais ou estaduais e o nacional ou federal.
11
Para J. J. Gomes Canotilho (2003: p. 573) chama de «Forma de Governo, devendo
essa ser entendida como a posição jurídico-constitucional recíproca dos vários órgãos de
soberania e respectivas conexões e interdependências políticas, institucionais e funcionais».
O Chefe de Estado não é eleito por sufrágio universal. Este pode ser um Rei que
assume o poder político de forma hereditária ou, alguns casos, um PR escolhido por um
colégio restrito. Ao chefe de Estado são reservadas apenas competências formais, das quais,
cabe dissolver o Governo após a solicitação dos chefes de Governo ou pressão do Parlamento.
1
A eleição presidencial nos EUA, formalmente por sufrágio indirecto de dois graus, converteu-se, de facto, em
decisão popular directa dos eleitores na medida em que os grandes eleitores se encontravam vinculados a votar
em determinado candidato,
14
No que tange aos sistemas mistos, especialmente acordo com Maurice Duverger.
E neste sentido que se diz «No Jogo do equilíbrio Político participam com poderes
efetivos o Chefe de Estado, o Parlamento e o Governo» (Miranda, 1998: p. 200).
15
3.2.1. Teoria da Separação dos Poderes
O primeiro autor que nos tempos modernos formulou a teoria da separação dos
poderes do Estado foi o filósofo inglês John Locke na sua obra “Dois tratados do Governo
Civil” aparecida em 1960 para sustentar os princípios de liberdade política da revolução de
1689 e impugnar o absolutismo real.
Todos eram livres e iguais, todos tinham direito de gozar a vida, a liberdade e a
propriedade e a fazer observar e respeitar esta lei natural punindo, segundo o seu próprio
critério, aqueles que a perturbassem. No estado de natureza cada pessoa tinha dois poderes: o
primeiro era o de fazer o que bem lhe parecesse para a sua salvaguarda e dos outros, o
segundo era o de punir os crimes cometidos contra essa lei (Caetano, 2014; p.191).
Somente em 1748 a teoria da separação dos poderes ganha maior configuração através
da obra de MONTESQUIEU "De L’Espirit des Lois". A teoria apresentava a figura dos três
poderes, o legislativo, o executivo e o judiciário exercendo seus papeis harmonicamente e
independentes entre si, separação esta que hoje é prevista em quase totalidade das
constituições. Para Montesquieu cada poder apresentava suas funções intrínsecas e
inconfundíveis, admitindo ainda que estas funções fossem confiadas a um só órgão, porém
sendo ideal que o Estado separasse os três órgãos, cada qual com sua função determinada.
Contudo, o legislativo não tem condições para fixar regras gerais sem ter
conhecimento do que já foi ou está sendo feito pelo executivo e sem saber de meios este
dispõe para atuar. O executivo, por seu lado, não pode ficar à mercê de um lento processo de
elaboração legislativa, nem sempre adequadamente concluído, para só então responder às
exigências sociais, muitas vezes graves e urgentes.
16
O que nos permite, portanto, concluir que separação de poderes não implica inimizade,
mas interligação e interdependência de funções.
O modelo teórico clássico do Estado liberal desenvolveu uma ruptura radical com o
modelo absolutista que lhe antecedeu, tendo introduzido profundas alterações ao modelo de
organização e disposição do poder politico, através da introdução do princípio da separação
de poderes, sendo este um dos pontos de referência do movimento liberalista. Reconhecendo a
impossibilidade de resistência aos abusos em regime de concentração de poderes,
Montesquieu, na sua obra lapidar «De l´esprit des lois», propõe uma distribuição das várias
funções do Estado, até então concentradas no monarca, por diferentes órgãos, permitindo-se
assim o equilíbrio entre o Legislativo, o Executivo e o Judicial, no quadro de uma colaboração
e interdependências recíprocas.
A independência de cada órgão e a seriedade dos seus agentes é importante para a sua
própria credibilidade perante os governados em qualquer sociedade moderna, considerando
que o indivíduo do século XXI, não é mais um mero desatento, ou alheio em relação aos actos
17
praticados pelos agentes públicos, mas, o é, já, um analista e observador, que controla, critica
ou elogia e discute sobre a seriedade e legalidade de tais actos, pois, o indivíduo actual almeja
ascender ao poder, seja com o objectivo de lutar para alterar o sistema de coisas, ou apenas
para «corrigir o que está mal».
No que diz respeito ao governo emanado do contrato social e agindo sob a égide da
“vontade geral”, J.J. Rousseau admite que «o interesse do corpo político, i.e., classe política
podem entrar em conflito com o interesse da maioria da população, porém, o contrato social
estabelece meios visando repor a vontade geral». Mas, de acordo com o autor, a vontade
geral não se constitui meramente da somatória das vontades particulares: “há muita diferença
entre a vontade de todos e a vontade geral. Esta olha apenas o interesse comum, a outra olha
o interesse privado e é só uma soma de vontades particulares” . Por isso, deve-se esclarecer
que a vontade geral não está lastreada na ideia de unanimidade; ela não é geral por ser
unânime, por não haver discordância, mas porque nela estarão contadas todas as ideias, todas
as contribuições e todas as discordâncias que participam formalmente do todo.
18
3.3. CONTEXTUALIZAÇÃO DO SISTEMA DE GOVERNO ANGOLANO
NA 1ª E 2ª REPÚBLICA
A República Popular de Angola, nascida com a proclamação da Independência em
1975 pelo adoptou um sistema socialista e monopartidário. O primeiro texto Constitucional de
Angola foi caracterizada principalmente por uma visão monista do poder, consubstanciado no
partido-único correspondente ao MPLA.
Este período revolucionário foi caracterizado pela adoção de suas grandes opções
estratégicas, como aspetos fundamentais da ideologia oficial do poder: primeiro, a
consagração de um sistema económico que privilegia a apropriação colectivas dos meios de
produção, sendo o Estado o principal agente económico e simultaneamente o orientados e
planificador de toda a actividade económica (art.º 8.º LC/75), e a consagração de um sistema
político de concentração de poderes, assente num sistema de partido único.
No seu título III “Dos Órgãos do Estado”, a LC/75 consagrou quatro órgãos do poder
político: o Presidente da República, a Assembleia do povo 2, o Conselho da Revolução e o
Governo.
2
A Assembleia do Povo, embora tivesse previsão constitucional, foi criada de facto apenas em 1980. Antes da
sua criação, porém, o poder legislativo era exercido pelo conselho da Revolução, a quem competia a aprovação
do OGE, a nomeação e destituição do primeiro-ministro e dos respectivos membros do governo, bem como a
nomeação e exoneração dos comissários provinciais-entidades máximas a nível provincial.
19
chefia do Governo. Não obstante o Presidente da República acumular a presidência do
Conselho da Revolução e da Assembleia do Povo o Presidente da República não presidia
sequer ao Conselho de Ministros.
De acordo com o art.º 35º da LC/75, «enquanto não se verificar a total libertação do
território nacional e não estiverem preenchidas as condições para a instituição da
Assembleia do Povo, o órgão supremo do poder do Estado é o Conselho da Revolução».
Assim, «O conselho da Revolução se constituía no órgão supremo do poder do Estado até
1980, antes da instituição da Assembleia do Povo» (António, 2015; p. 96).
Convém reafirmar que na primeira República não existia uma evidente separação de
poderes, o governo configurava-se do tipo totalitário e de partido único; o Governo, embora
presidido pelo Primeiro-Ministro, nada mais se diz sobre as competências deste, não sendo
por isso indigno de realce o quase absoluto esquecimento da figura constitucional do
presidente do Governo, pelo constituinte.
É esta Lei Constitucional de 1975, com todas as suas revisões que vem, por fim, a
integrar as alterações de 1991 e 1992 que deu lugar às primeiras eleições multipartidárias em
Angola (1992) e deram origem à chamada II República. «Consagrou a democracia
multipartidária, as garantias dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e o sistema
económico de mercado, mudanças aprofundadas». (Araújo, 2009; p. 274).
A LC/92 rejeita claramente uma estrutura executiva monista prevendo, pelo contrário,
um modelo que permite que tanto o Presidente da República quanto o Primeiro-Ministro
exerçam funções políticas executivas. Essa estruturação executiva bifronte resulta
expressamente de alguns preceitos constitucionais.
21
nomeia, com alguma margem de discricionariedade (umas vezes maior e outras menor) o PM
(art.º 66º, alínea a)) e põe termo às suas funções, promulga os decretos-leis e assina os
decretos do Governo. Por seu turno, PM representa o Governo, para efeitos da assunção da
sua responsabilidade política, perante o PR e perante a AN, dirige, conduz e coordena a acção
geral do Governo (art.º 114º n.º 1), coordena e orienta a actividade de todos os Ministros e
Secretários de Estado (art.º 114º, n.º 2, alínea a), dirige o funcionamento do Governo e as suas
relações com os demais órgãos do Estado (art.º 114º, n.º 2, alínea c), assina decretos-leis, os
decretos e as resoluções do conselho de Ministros.
A CRA fora aprovada num primeiro momento a 21 de janeiro de 2010, tendo depois o
Tribunal Constitucional proferido o Acórdão nº 111/2010, de 30 de janeiro de 2010,
suscitando a necessidade da correção de algumas das suas normas, em importante aresto
jurisprudencial. Tem sido discutido se o aparecimento de uma nova Constituição – como
sucede a partir de fevereiro de 2010 com a CRA – não implicaria automaticamente a mudança
de regime constitucional a ponto de se impor uma III República de Angola, à semelhança do
que sucedeu com a periodificação da história político-constitucional portuguesa.
Mas também tem sido lembrada que essa pode não ser a melhor solução dada a
combinação existente entre a transição constitucional que se iniciou com o texto de 1992 e a
22
sua consumação em 2010. Vem a ser essa a opinião de Miranda (2010, p. 19): “Em 1991-
1992, poder constituinte material; em 2010, poder constituinte formal”.
Pode haver decerto um impulso político legítimo trazido por um novo texto
constitucional, que representa o culminar de todo um período, alentando os angolanos para os
desafios futuros, explicando-se que politicamente se possa falar em III República.
23
3.4. ANÁLISE DO SISTEMA DE GOVERNO ADOPTADO POR ANGOLA
NA CONSTITUIÇÃO DE 2010
O sistema de governo angolano, acolhido pela CRA, resultou do proposto pelo Projeto
“C” da Comissão Constitucional, o qual caracterizava expressamente o sistema de governo
proposto como presidencialista parlamentar.
Para Esteves Hilário (2013, p. 242), não obstante a esta designação, «trata-se de um
sistema presidencial, o qual, na realidade, se traduz num regime “Hipe presidencialista”,
atentos aos amplos poderes que são conferidos pela CRA ao Presidente da República».
Entrementes, qualquer sistema de Governo deve ser entendido como um todo, na sua
relação com os demais valores, princípios e regras constitucionais, o que significa que o
sistema de governo angolano deve ser compreendido à luz do seu relevo do ponto de vista dos
princípios republicanos, democrático e do Estado de Direito, bem como à luz do seu relevo na
proteção e promoção dos direitos fundamentais.
4
A expressão Constituição Atípica foi consagrada pelo Presidente da República José Eduardo dos Santos no ato
da sua Promulgação.
24
A existência de um Presidente da República constitui um corolário do princípio
republicano, isto é, da estrutura republicana do Estado. Com particularidade, assinala-se o
facto de o Presidente da República ser eleito na sequência das eleições gerais para o
Parlamento.
25
O atual texto constitucional angolano é o mais jovem dos textos constitucionais de língua
portuguesa e surgiu no contexto da abertura alcançada pelos Acordos de Bicesse, não obstante
toda a longa evolução ocorrida, interrompida durante anos pelo regresso da guerra.
Durante muito tempo, a convicção generalizada era a de que o mesmo deveria ser aprovado
no quadro político-eleitoral que resultou das eleições legislativas de setembro de 1992.
Foi assim que por alguns anos, sobretudo depois do fim guerra em 2002, foram apresentados
vários projetos de Constituição, dos quais resultou a elaboração de um anteprojeto de
Constituição da República de Angola no âmbito de uma comissão parlamentar.
Sabe-se que cada Estado tem poderes que se incorporam em órgãos distintos de modos
a melhor conduzir os cidadãos em uma sociedade. Nesta ordem de ideias, a presente
apresentação visa dar notas sobre a identificação e funcionamento dos poderes do Estado
angolano constitucionalmente consagrados na Sua Magna Carta ― CRA. A abordagem
ilustrará as competências de cada um dos órgãos bem como, fará alusão ao princípio
constitucional da separação de poderes, de modos a se encontrar o equilíbrio entre ambos,
expondo os limites e dimensão de cada um Destes poderes.
A separação de poderes, tal como está prescrita na Constituição angolana (CRA), não
se assume como um conceito rígido, criador de compartimentos estanques. Obviamente, cada
poder tem as suas funções e atribuições próprias. Contudo, cada um dos poderes está
interdependente, querendo isto dizer que interage através daquilo que se chama sistema de
26
“checks and balances” (controlos e equilíbrios). Dispõe o artigo 2.º, n.º 1 da Constituição que
“a República de Angola é um Estado Democrático de Direito que tem como fundamentos (…)
a separação de poderes e interdependência de funções”. Adianta o artigo 105.º, n.º 3 que “os
órgãos de soberania devem respeitar a separação e interdependência de funções estabelecidas
na Constituição”. E o artigo 236.º j) coloca a separação e interdependência dos órgãos de
soberania como limite material à revisão da Constituição. Portanto, na dinâmica das relações
entre os poderes, existe uma separação que exige colaboração de acordo com vários
mecanismos estabelecidos na Constituição e na Lei.
É isto que resulta da CRA: uma separação de poderes mitigada e com um elemento
moderador no topo dotado de poderes imperiais, o presidente da República. Podemos
discordar desta arquitectura constitucional e querer revê-la, mas devemos clarificar o que,
neste momento, está escrito e determinado na Constituição.
A isto acresce que, no caso concreto, aquele que diz respeito às negociações com
Isabel dos Santos, a lei adiciona mais um elemento interessante no Estatuto do Ministério
Público. Estabelece o artigo 8.º, n.º 3 da Lei n.º 22/12, de 14 de Agosto, que “o Procurador-
Geral da República recebe instruções directas do Presidente da República, no âmbito da
27
representação do Estado pela Procuradoria-Geral da República”. Mais uma vez, até
poderemos contestar esta solução legal, mas é o que está expressa e claramente determinado,
para além de qualquer dúvida, na lei. Torna-se assim claro que, no caso de Isabel dos Santos,
é mesmo competência directa do presidente da República dar instruções ao procurador-geral
da República.
Não parece que tenha razão e crê-se que não houve por parte da solução definitiva que
a CRA corporiza qualquer desvio à identidade constitucional previamente definida no texto da
LCRA.
28
3.4.2. Principais Traços de Sistema Presidencialista Parlamentar Angolano
Criado pela Assembleia constituinte angolana em 2010 e dispõe das seguintes
características: o Presidente da República e os deputados são eleitos por sufrágio universal,
directo, secreto e periódico para um mandato de cinco anos;
29
Mais autonomia do Presidente da República face à maioria parlamentar caso seja o
líder do partido maioritário ou mesmo acontece com um cabeça de lista que não seja líder da
maioria;
30
CONCLUSÃO
Em síntese conclusiva, o Sistema de Governo Angolano é um sistema híbrido,
resultante da combinação de diferentes sistemas de governo, com prevalência do
Presidencialismo e do parlamentarismo. A aprovação da Constituição angolana de 2010
introduziu um sistema de governo Presidencialista-Parlamentar.
Ditando regras para a eleição dos principais decisores governamentais, bem como
ditou a competência dos órgãos de Soberania. Prescreveu, outrossim a salvaguarda de certos
direitos e liberdades individuais e colectivos.
31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FRANCISCO, João Manuel (João Pinto) “ Os Poderes do Presidente da República na
Constituição de 2010”, Universidade Autónoma de Lisboa, Dissertação de Mestrado, 2012.
SARTORI, Giovani (1994) “ A Teoria da Democracia revisitada: o debate contemporâneo”.
Volume 1.
SHUMPETER, Joseph (1961) “ Capitalismo, Socialismo e Democracia”. Rio de Janeiro,
Zahar editora.
SOUSA, Marcelo Rebelo de. (1983) “ Os Partidos Políticos no Direito constitucional
Português”. Livraria Cruz-Braga.
Legislações consultadas:
Lei constitucional da República Popular de Angola de 11 de Novembro de 1975.
Lei Constitucional nº 12/91 de 06 de Maio.
Lei de Revisão Constitucional da República de Angola (Lei nº 23/92, de 16 de Setembro)
Lei Constitucional de 07 de Fevereiro de 1978.
Constituição de Angola (2010).
Lei nº 7/04 de 17 de Junho (Lei eleitoral)
Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais
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