Apostila de Metodologia Científica - Ivan - 11-08-2023
Apostila de Metodologia Científica - Ivan - 11-08-2023
Apostila de Metodologia Científica - Ivan - 11-08-2023
Introdução
Introdução
A Metodologia Científica não deve ser vista como uma disciplina cuja ênfase é o
ensino de métodos e técnicas para planejar, conduzir e apresentar uma pesquisa científica,
mas sim como uma disciplina para elucidar o que são essas técnicas, a quais métodos da
ciência atendem e em que bases epistemológicas se fundamentam.
No novo contexto que se vislumbra, o conhecimento é como uma moeda de grande
valor que viabiliza transações e negociações essenciais. Saber manipular, desvendar,
apreender, expressar, construir e transmitir conhecimentos1 é imprescindível para não perder
inúmeras oportunidades. E sendo a pesquisa uma oportunidade de compreensão dos
múltiplos saberes, dos múltiplos textos e contextos, das múltiplas realidades e dos múltiplos
atores, não dá para renunciar à metodologia! (Elizabeth Teixeira. As Três Metodologias:
Acadêmica, da Ciência e da Pesquisa. 8ª ed. Vozes, 2005).
Um método, ou o método, para obtenção de conhecimento foi proposto no século XVI
de forma a criar outra ciência, a chamada Ciência Moderna; assim, quando se fala de
Metodologia Científica se subentende que estamos nos referindo à Ciência Moderna.
A importância da Ciência Moderna é mais bem compreendida quando se contrasta com
a ciência antiga, com a ciência apresentada pelo filósofo grego Aristóteles (384 – 322 a. C).
Ciência Antiga
Antes do século XVI, o homem se interessava em observar os fenômenos que ocorriam
à sua volta, bem como, tentar compreendê-los. Dentre eles, os fenômenos astronômicos que
foram classificados e sistematizados pela ciência mais antiga, a Astronomia.
Em geral, pode-se dizer que a ciência antiga começa com Aristóteles, pois deve-se a
esse filósofo a classificação e a sistematização do conhecimento existente até então.
Ademais, Aristóteles deixou como legado para a posteridade a lógica e a valorização do
conhecimento empírico para a obtenção de qualquer conhecimento prático sobre o mundo.
A ciência antiga carecia de um método de replicação e verificação de teorias, pois em
sua formulação só importava que fossem válidas logicamente, ou seja, no pensamento
formal; que partia de princípios estabelecidos e dogmáticos.
Em um processo de transição, e não uma ruptura radical, a partir do século XVI,
propriamente, na Europa, uma nova ciência propõe um modelo, que valoriza a observação e
o método experimental, unindo a ciência e a técnica, que conseguiu articular o método de
1
A palavra scientia, derivada do latim, significa conhecimento
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I. 1. Ciência
A) Noções gerais
A ciência é o conjunto de procedimentos e metodologias, adotado convencionalmente
por uma comunidade concreta de pesquisadores, numa época determinada, com o qual se
pretende alcançar um conhecimento rigoroso e controlado de fenômenos naturais
observáveis, seja direta ou indiretamente.
A ciência, assim como a filosofia, tem por objetivo fundamental conhecer a verdade.
O que distingue, grosso modo, essas duas formas de saber é que a primeira adota uma
perspectiva particular, isto é, busca explicações sobre um conjunto específico de fenômenos
— considera a realidade, não em sua totalidade, mas setorialmente — à luz de outros
conhecimentos particulares, ao passo que a segunda pretende explicar a mesma realidade de
uma perspectiva global, buscando suas causas primeiras e universais. Nesse sentido, a
ciência natural se divide em múltiplas disciplinas subalternas (física, química, biologia etc.),
cada uma das quais, fazendo um “recorte” do mundo, o considera do seu próprio ponto de
vista, deixando de lado aqueles aspectos que não lhe interessam e que podem ser estudados
por outra disciplina. Assim, por exemplo, a física se ocupa das leis a que todos os corpos
estão sujeitos, enquanto a biologia escolhe, dentro deste universo de objetos, apenas aqueles
que, além de serem realidades físicas, são também realidades vivas ou orgânicas. Já a
filosofia natural, por outro lado, busca “explicações que se refiram ao ‘ser’ e aos ‘modos de
ser’, das entidades e processos naturais” em geral, ou seja, não está interessada, por exemplo,
em saber quais são os componentes de uma célula nem as funções que nela desempenham,
mas em compreender o que é, no fundo, isto que chamamos de vida e que atribuímos, de
forma espontânea e irrefletida, às plantas e aos animais.
Trata-se de perspectivas autônomas, mas intimamente relacionadas: a filosofia deve
levar em conta o que a ciência pode dizer sobre o mundo, sob o risco de se tornar uma
especulação vazia, “de escrivaninha”; a ciência, por sua vez, seria impossível sem um aporte
mínimo de conhecimentos filosóficos, na medida em que toda concepção de ciência e do
método que a caracteriza baseia-se em pressupostos filosóficos, os quais nem sempre são
explícitos. Uma concepção puramente instrumentalista da ciência, por exemplo, supõe uma
tomada prévia de posição com relação a um problema filosófico (neste caso, epistemológico)
de capital importância para a ciência: pode o ser humano conhecer de fato o mundo que o
rodeia ou, pelo contrário, tudo o que nos dizem as ciências se reduz a modelos meramente
preditivos, que nada afirmam sobre como realmente são as coisas?
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enganosas e conclusões falsas, que dependem mais do sujeito investigado que do objeto
investigado.
Objetividade não significa importância. Uma pessoa pode ser muitíssima objetiva
com problemas mais triviais do que com problemas mais importantes. Podemos, por
exemplo, estudar a relação entre o número de carteiras nas classes e o aproveitamento verbal
das crianças. Tanto o número de carteiras quanto o aproveitamento verbal podem ser
medidos com muita objetividade. Mas e daí? A objetividade, entretanto, é uma característica
indispensável e inseparável da ciência e da pesquisa científica.
A abstração e a ciência. A ciência investiga o objeto na sua generalidade (seu
potencial de abranger vários fenômenos), substituindo coisas concretas por modelos ou tipos
ideais. A abstração, parte do poder da ciência, está sempre distante das preocupações comuns
e do calor do relacionamento humano. Isto por definição; é parte da natureza da ciência. Sem
tal abstração, não há ciência. O mesmo quanto a objetividade, que também tende a fazer a
ciência parecer fria e distante. Parece distante e fria porque os testes das proposições
científicas são feitos "lá fora", o mais longe possível das pessoas e suas emoções, desejos,
valores e atitudes, incluindo os do próprio cientista. Mas é isto precisamente o que deve ser
feito. Deve-se obedecer ao cânone da objetividade, ou abandonar a ciência.
C) Visão comum
(fonte Silvio Seno Chibeni, O que é Ciência)
https://www.unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/ciencia.pdf)
A visão comum da ciência tem três pressuposições centrais:
(i) a ciência começa por observações;
(ii) as observações são neutras;
(iii) processo de indução, as leis científicas são extraídas do conjunto das observações
supor um processo supostamente seguro e objetivo, chamado indução.
O processo de indução consiste na obtenção de proposições gerais (como as leis
científicas) a partir de proposições particulares (como os relatos observacionais). Servindo-
nos de uma ilustração simples, a lei segundo a qual todo papel é combustível seria, segundo
a visão que estamos apresentando, obtida de modo seguro de um certo número de
observações de pedaços de papel que se queimam. A lei representa, pois, uma generalização
da experiência. O processo inverso, de extração de proposições particulares de uma lei geral,
assumida como verdadeira, cai no domínio da lógica, sendo um caso de dedução.
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(1°) A ciência é mutável, dinâmica e tem como objetivo buscar explicar os fenômenos
naturais; e, vale enfatizar, que dentro dos fenômenos naturais, se inclui o homem como ser
que tem uma natureza!
A ciência não é um conhecimento definitivo. A ciência, em constante transformação,
tem sempre o objetivo de compor modelos explicativos para os fenômenos do mundo
natural. Nega-se, portanto, a visão de que a ciência é um conjunto de verdades absolutas a
serem aceitas cegamente. Pelo contrário, por ser conhecimento em contínua mudança, ela
está sempre se reformando internamente, revendo seus modelos e bases, o que implica que
nossa própria percepção dela também muda com o tempo.
(2°) Não existe um método científico universal. Há um consenso muito amplo a
respeito deste aspecto da natureza da Ciência. Ao contrário das visões de senso comum sobre
o método científico, os pesquisadores na área concordam que não existe um conjunto de
regras universais a serem seguidas para fazer Ciência. As metodologias podem ser variadas
e os resultados também, abrindo margem para os desacordos. Isso implica dizer que um
mesmo fenômeno pode ser estudado, e, ainda, compreendido de modos distintos. Todos
podendo ser coerentes dentro dos limites de validade dos métodos e concepções empregados
para estudá-lo.
(3°) A Ciência é influenciada pelo contexto social, cultural, político etc., no qual ela
é construída. Este aspecto evidencia a não neutralidade da Ciência e do pensamento
científico, isto é, nenhuma ideia científica ou cientista está envolta numa redoma
intransponível; pelo contrário, suas concepções, as questões da época, o local em que vivem
e as influências que sofrem podem desempenhar um papel importante na aceitação, rejeição
e desenvolvimento das ideias da Ciência. Embora a influência de fatores externos na Ciência
seja um tópico consensual, há um dissenso em relação à natureza e à força destes (...).
(4°) Os cientistas utilizam imaginação, crenças pessoais, influências externas, entre
outros para fazer Ciência. No senso comum, há uma noção de que o cientista está alheio ao
mundo ao redor, fazendo uma Ciência neutra e livre de influências. Entretanto, a análise da
construção da Ciência revela uma característica de todo cientista: eles são seres humanos
comuns, por isso, cometem erros, utilizam de suas crenças e expectativas para elaborar e
legitimar suas ideias, têm qualidades e defeitos etc. Isto nos leva a concluir que não há um
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modelo único de cientista; cada um se faz dentro de seu próprio contexto. O cientista de hoje
certamente não é o mesmo de ontem, e isso não necessariamente significa que o primeiro
seja melhor que o último, apenas que pertencem a contextos diferentes.
(fonte; Breno Arsioli Moura. O que é natureza da Ciência e qual sua relação com a História e
Filosofia da Ciência? Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p. 32-46,
jan - jun 2014)
Definir o que se entende por Ciência não é tarefa das mais fáceis. O termo foi e
continua sendo muito debatido por diversos pensadores de variados lugares e épocas. Uma
forma de tentar chegar a um conceito, portanto, é olhar para a ciência a partir da ideia do que
ela não é. Desse modo, podemos dizer que a ciência não é:
(i) a ciência não é uma crença inquestionável;
(ii) a ciência não é um argumento de autoridade;
(iii) a ciência não é o senso comum, ou seja, saberes adquiridos e transmitidos
socialmente – pelas nossas experiências de vida – que oferecem respostas prontas para
questões corriqueiras e frequentes no nosso dia a dia.
Dito isso, portanto, podemos tentar estabelecer uma definição nossa de ciência como
uma explicação possível de ser testada, racionalmente válida e justificável, que possa ser
replicada, e obtida por meio de estudos, observações e experimentações feitas sobre a
afirmação ou o objeto estudado. (fonte: https://www.politize.com.br/o-que-e-ciencia/)
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exemplo, as leis da herança genética são aplicadas ao conjunto de organismos vivos. (fonte:
I. 3. Não Ciência.
O conhecimento científico é definido como uma aproximação crítica à realidade
baseada no Método Científico, que é um conjunto de passos ordenados, consistentes em (i)
observação sistemática; (ii) medição; (iii) experimentação; (iv) análise e (v) formulação das
hipóteses. E, ainda, está sustentado por dois pilares fundamentais: a reprodutibilidade e a
refutabilidade.
Não se pode considerar a Ciência como algo objetivo. Porque o Método Científico
consiste em um conjunto de práticas acordadas pela comunidade científica. Trata-se de um
acordo sobre o modo válido de estabelecer o conhecimento, que não é o mesmo que a
verdade. Assim, a Ciência é, portanto, um conjunto de teorias, que ainda não foram
refutadas; mas além disso, o Método Científico não é a única aproximação possível ao
conhecimento. O Método Científico é somente uma delas. Temos, por exemplo, o
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I. 4. Pseudociência
Não há linha clara que separe Ciência da Pseudociência, diz o professor de história da
ciência da Universidade de Princeton, Michael D. Gordin, em seu livro (On the Fringe.
Where Science Meets Pseudoscience) publicado pela Universidade de Oxford, em 2021.
A palavra pseudociência é usada para empregar algo que parece ciência, mas é uma
coisa falsa, enganosa, ou não provada. Muitos consideram que cabe dentro dessa categoria
a Astrologia, a Alquimia, a Frenologia, a Eugenia, o Criacionismo, a Ufologia etc.
Definir o que torna falsos esses campos de conhecimento, acima citados, é um tema
complexo. Tem-se visto como algo impossível chegar a um simples critério que nos permita
diferenciar a pseudociência de uma ciência genuína, autêntica.
Muitas vezes, as pessoas designam uma doutrina pseudociência não tanto devido ao
que, mas ao quando era. Por exemplo, a Astrologia:
A Astrologia é de longe a doutrina mais antiga sobre a natureza e
encabeça a lista de muitas pessoas quando solicitadas a nomear uma
pseudociência. Tanto a longevidade quanto a onipresença da astrologia podem
obscurecer em vez de revelar. Em sua forma mais geral, podemos definir a
Astrologia como a crença de que as posições dos corpos celestes têm efeitos na
Terra, colocada dessa forma, não apenas a crença é bastante inofensiva, como
também é verdadeira. a posição do sol no céu corresponde não apenas à
temperatura, mas também às estações, e - embora o mecanismo não tenha sido
bem compreendido até a virada do século XVIII - a lua obviamente afeta as
marés. Muito disso é observação básica. A partir daí, foi um curto salto para
incluir planetas e estrelas fixas... (On the fringes, p.16-17).
RESPOSTAS
1. O que é o conhecimento científico?
A palavra ciência vem do latim e significa conhecimento. A ciência representa todos os
conhecimentos obtidos a partir de estudos e práticas, para encontrar solução de algum
problema. Para ser científico, o conhecimento deve ser validado e demonstrado através de
investigações e experimentações. O conhecimento científico é, portanto, aquele que é
passível de teste, racionalmente válido e justificável e que pode ser replicado e alcançado
através de estudos, observações e experimentações.
comunidade científica. Isso mostra que o método científico não é suficiente para convencer
os cientistas. Mais ainda, que a ciência mantém vivos apenas os conhecimentos aceitos no
momento, aos quais denomino de conhecimento científico.
Nesse contexto, a publicação científica é elemento necessário, mas não suficiente, para
produção de conhecimento científico. Notem que vários estudos publicados permanecem no
anonimato. Isso ocorre porque o cientista não teve clareza e robustez suficiente para
convencer outros cientistas. O fato de que alguns conhecimentos possam ser negados no
presente e aceitos no futuro, no entanto, é mais exceção do que regra. As bibliotecas e a
Internet estão abarrotadas de publicações que não são e nunca serão usadas pela comunidade
científica. E a principal causa disso não é a pesquisa equivocada, mas principalmente a
publicação inadequada ou a redação precária dos artigos.
Em resumo, devemos publicar para que o conhecimento produzido tenha chance de
ser reconhecido pela comunidade científica como solução válida para o problema
investigado. Em outras palavras, a publicação é um meio que pode tornar nossas ideias parte
do conhecimento científico da época. O quanto durará, no entanto, não saberemos... Esse é
um dos desafios estimulantes do fazer ciência. (Gilson Volpato. Publicação Científica. 3ª Ed.,
Cultura Acadêmica, São Paulo, 2008, p. 13-17)
Para Asimov: “a vitória da ciência moderna não foi completa até que estabeleceu um
princípio mais essencial, o intercâmbio de informações livre e cooperador entre todos os
cientistas. Apesar de que esta necessidade nos parece agora evidente, não o era tanto para
os filósofos da Antiguidade e para os dos tempos medievais. Os pitagóricos da Grécia
formavam uma sociedade secreta, que guardava zelosamente para si os descobrimentos
matemáticos. Os alquimistas da Idade Média faziam deliberadamente confusos seus escritos
para manter seus achados no interior do menor círculo reduzido possível. No século XVI, o
matemático Niclolas Tartaglia, que descobriu um método para resolver equações de
terceiro grau, não considerou inconveniente tratar de manter o seu segredo. Quando
Jerônimo Cardano, um jovem matemático, descobriu o segredo de Tartaglia e o publicou
como próprio, Tartaglia naturalmente, sentiu-se ultrajado, mas à parte a traição, agiu de
forma correta reconhecendo que um descobrimento desse tipo tinha de ser publicado.
Hoje, nenhuma descoberta científica é considerada como tal se for mantida em
segredo. O químico inglês Robert Boyle, um século depois de Tartaglia e Cardano, enfatizou
a importância de publicar todas as observações científicas com o máximo de detalhes. Além
disso, uma nova observação ou descoberta não tem realmente validade, mesmo que tenha
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sido publicada, até que pelo menos outro pesquisador tenha repetido e "confirmado" a
observação.
Hoje, a ciência não é produto de indivíduos isolados, mas da "comunidade científica".
Um dos primeiros grupos, e sem dúvida o mais famoso, a representar essa comunidade
científica foi a "Sociedade Real de Londres para o Desenvolvimento do Conhecimento
Natural", conhecido em todo o mundo, simplesmente, pela “Royal Society”.
A “Royal Society” nasceu em 1645, de reuniões informais de um grupo de cavalheiros
interessados nos novos métodos científicos introduzidos por Galileu. Em 1660, a
"Sociedade" foi formalmente reconhecida pelo rei Carlos II da Inglaterra. Os membros da
"Royal Society" se reuniram para discutir abertamente suas descobertas. Eles escreveram
artigos, mais em inglês do que em latim, e eles continuaram com seus experimentos. No
entanto, eles permaneceram na defensiva até o século XVII. A atitude de muitos de seus
contemporâneos eruditos poderia ser representada com uma gravura mostrando as figuras
sublimes de Pitágoras, Euclides e Aristóteles olhando orgulhosamente de cima para baixo,
algumas crianças jogando bolinhas de gude e cujo título era: "A Sociedade Real". Essa
mentalidade mudou graças ao trabalho de Isaac Newton, que foi nomeado membro da
«Sociedade».
O método científico não é uma crença, mas se baseia em uma crença: a crença de que
podemos compreender a Natureza. Para compreender a Natureza, é essencial a observação
da Natureza, e é isso que o Método científico faz. Não é só se sentar em um banco da praça
e olhar a natureza passar. É observar com método. Quantas pessoas vêm da direita para a
esquerda? E vice-versa? Isso muda durante o dia? Dos que se sentam nos bancos, quantos
vêm de um lado e retornam para o mesmo lado? E a faixa etária de quem passa na praça,
qual é? A que horas vemos mais adolescentes? E a que horas os velhos aparecem? Diferentes
fenômenos meteorológicos (chuva, calor de rachar, neve, vento de agosto) têm efeito sobre
estes números?
Só fazemos estas observações porque achamos que, com isso, podemos compreender
alguma coisa sobre a praça e os humanos que a frequentam. Se achássemos que é alguma
coisa totalmente aleatória, ainda assim poderíamos fazer uma observação para refutar isso.
A ciência não se limita a observar a população de frequentadores da praça, queremos
entender mais. Queremos entender tudo: do movimento das galáxias, às maneiras que as
formigas fazem seus ninhos; desde a forma com a qual surgem novas espécies até a energia
necessária para separar um casalzinho de próton e nêutron; do tamanho do Universo ao
processo de fazer queijos, enfim, tudo.
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pode ter requerido anos através da aplicação direta e rigorosa do método científico. F. A.
Kekulé encontrou a estrutura do benzeno enquanto sonhava dormindo no ônibus. Otto Loewi
acordou no meio da noite com a solução do problema da condução sináptica. Donald Glaser
concebeu a ideia da câmara de bolhas para o estudo de partículas subatômicas enquanto
observava ociosamente o seu copo de cerveja.
Isso significa que, enfim, é tudo uma questão de sorte e não de intelecto? Não, não e
mil vezes não. “Esse tipo de “sorte” só ocorre nos melhores cérebros; somente naqueles
cuja “intuição” é a recompensa de longa experiência, compreensão profunda e pensamento
disciplinado”. (100 preguntas básicas sobre la ciencia. Isaac Asimov. 3ª Ed. cast.: Alianza Editorial,
S. A., Madrid, 1979, p. 10).
22
O raciocínio dedutivo.
O raciocínio indutivo.
O raciocínio indutivo é aquele que se utiliza de fatos específicos para tentar provar
uma conclusão geral. É, basicamente, um método que se utiliza de verdades conhecidas até
o momento para criar uma regra geral que sirva para diversas situações. O raciocínio indutivo
é o processo inverso do dedutivo, parte do específico para o geral, embora também não
produza novos conhecimentos, a indução procura induzir o conhecimento já existente à uma
validação através de uma experimentação. Está relacionado ao método empírico que
significa obter conhecimento através dos cinco sentidos, que é a experimentação e a
observação, que tem como resultado uma possibilidade de ser verdade. A indução está
relacionada ao pensamento sintético, também conhecido como pensamento divergente, por
ser um pensamento que vai do específico para o geral. O raciocínio indutivo também está
relacionado ao pensamento intuitivo, que tenta prever o futuro com base em suas
experiências, por isso não produz conhecimentos novos. Este raciocínio está relacionado ao
viés da validez, porque sempre busca validar informações que já possui.
Exemplo. Esses feijões são daquela saca. Esses feijões são brancos. Logo, todos os
feijões daquela saca são brancos.
O raciocínio abdutivo
seja e busca a melhor explicação para isso. É também o único que projeta futuro, sem se
prender ao passado, é o único procedimento racional de aquisição de conhecimento;
enquanto o indutivo e o dedutivo servem para verificar ou comprovar a verdade de um
conhecimento já adquirido.
As ideias básicas dos métodos científicos de pesquisa passaram a ser formalizadas pelo
pensador e filósofo francês René Descartes (1596-1650), e foi com o advento da ciência, a
partir do século XVII, que o conceito geral de método se consolida e populariza.
Na filosofia da ciência, muitos filósofos têm abordado o raciocínio lógico dedutivo e
indutivo. É importante observar que a maioria dos filósofos não se limita exclusivamente a
um tipo de raciocínio, pois ambos têm seu valor e são usados em diferentes contextos
científicos. No entanto, existem alguns filósofos que enfatizaram mais um tipo de raciocínio
do que o outro.
Aqui estão três exemplos de filósofos conhecidos por seguirem o raciocínio lógico
dedutivo: 1) René Descartes, que além de filósofo era matemático e defendia o uso do
raciocínio dedutivo como uma ferramenta fundamental para a obtenção de conhecimento
seguro e indubitável; 2) Gottfried Wilhelm Leibniz, conhecido por sua contribuição para a
lógica e a matemática, defendia a ideia de que todas as verdades poderiam ser alcançadas
por meio de um raciocínio dedutivo a partir de princípios fundamentais; 3) Baruch Spinoza,
que desenvolveu uma filosofia sistemática baseada na geometria euclidiana. Ele acreditava
que a verdade poderia ser obtida por meio do raciocínio dedutivo e da aplicação rigorosa de
princípios axiomáticos.
Aqui estão três exemplos de filósofos conhecidos por seguirem o raciocínio lógico
indutivo: 1) Francis Bacon, considerado um dos primeiros defensores do método indutivo
na ciência. Ele enfatizou a importância da observação cuidadosa, experimentação e
generalização indutiva na busca do conhecimento científico; 2) David Hume, que criticou
fortemente o raciocínio dedutivo como uma base segura para o conhecimento. Ele
argumentou que a indução, baseada na observação e na experiência, era a única maneira de
estabelecer inferências probabilísticas e leis causais; 3) John Stuart Mill, que defendeu o uso
do raciocínio indutivo como a base do método científico. Ele desenvolveu métodos para a
indução de leis gerais a partir de observações particulares e argumentou que a indução era
essencial para estabelecer conexões causais na ciência.
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O Método Dedutivo
O método dedutivo foi empregado nos pensadores racionalistas Descartes,
Spinoza e Leibniz, tendo como pressuposto que apenas a razão pode conduzir ao
conhecimento verdadeiro. O método dedutivo parte de princípios tidos como
verdadeiros e inquestionáveis (premissa maior), para assim o pesquisador estabelecer
relações com uma proposição particular (premissa menor) e, a partir do raciocínio
lógico, chegar à verdade daquilo que propõe (conclusão). (...) “a dedução consiste em
tirar uma verdade particular de uma verdade geral na qual ela está implícita”.
Esse tipo de raciocínio é muito útil uma vez que parte do conhecido para o
desconhecido com pequena margem de erro, desde que se respeitem os princípios de
coerência e da não-contradição.
27
O Método Indutivo
https://www.thatquiz.org/tq/previewtest?B/F/Q/C/90551352322409
1. What skill is a scientist using when she listens to the sounds that whales makes.
a) drawing conclusions
b) making a hypothesis
c) making observations
d) interpreting data
5. A series of steps designed to help you solve problems and answer questions
a) hypothesis
b) observation
c) scientific method
d) experiment
7. When you decide whether or not the data supports the original hypothesis, you are
a) drawing conclusions
b) forming a hypothesis
c) making observations
d) asking questions
33
1c 2d 3a 4a
5c 6d 7a 8b
9a 10 d 11 c 12 b
………………………………………………………………………………………………
…
34
A busca por um método científico adequado pautou a ação de grande parte dos
pensadores da Idade da Revolução Científica (séculos XVI e XVII), onde se destacaram:
Galileu Galilei, Francis Bacon, René Descartes e Isaac Newton. Eles, com suas
contribuições, foram decisivos para a estruturação daquilo que chamamos hoje de Ciência
Moderna.
Francis Bacon e Descartes, de forma especial, em seus estudos e pesquisas, estiveram
sempre preocupados em construir um método, o mais adequado possível, para o
entendimento da realidade, método este que fosse pautado na racionalidade.
Galileu Galilei (1564-1642) adotou um método que pode ser rotulado de indução
experimental, pois é a partir da observação de casos particulares que se propõe a chegar a
uma lei geral. As etapas propostas foram: observar os fenômenos, analisar seus elementos
constitutivos visando estabelecer relações quantitativas entre os mesmos, induzir hipóteses
com base na análise preliminar, verificar as hipóteses utilizando um procedimento
experimental, generalizar o resultado alcançado para situações similares, confirmar estas
generalizações para se chegar a uma lei geral.
Galileu, o primeiro físico-matemático da História das Ciências, italiano de Pisa,
sepulta de vez o mais importante dos dogmas aristotélicos: o de que corpos mais pesados
caem mais rapidamente. Após cuidadosas medições cronometradas (uma grande novidade
para a época), ele concluiu que o peso dos corpos nenhuma influência tem sobre a rapidez
de suas quedas. Com sua atitude, ocorre uma das mais importantes revoluções científicas de
todos os tempos. Enquanto a ciência medieval coloca as ideias acima de qualquer suspeita,
Galileu, porém, suspeita delas e vai cuidadosamente verificá-las para saber se estão de
acordo com as evidências experimentais e, se não estiverem, será necessário modificá-las ou
até abandoná-las. Isto era inconcebível em seu tempo, ainda dominado pelo pensamento
platônico, no qual as ideias predominavam sobre os fatos, estes sim, considerados meras
aparências. (...)
A revolução galileana é, assim, sobretudo metodológica e para muitos historiadores
Galileu é considerado o criador do método científico (...). Para Isaac Asimov: “A revolução
de Galileu consistiu em situar a “indução” por cima da dedução, como o método lógico da
Ciência. Em lugar de deduzir conclusões (como os gregos faziam) a partir de uma suposta
série de generalizações, o método indutivo considera como ponto de partida as observações,
das quais derivam generalizações”. [(p.17); livro: Introducción a la Ciencia - Isaac Asimov)].
35
e ampliar o alcance da observação sensível. Nesta, no entanto, está o veredito final sobre a
validade daquela. Razão e experiência sensível formam, no método galileano, um par
interativo e mutuamente variável. Com a ciência mecânica fundada por Galileu, aprimorada
por Descartes e que tem a sua plenitude com Newton, é decretada a falência da cosmologia
escolástica aristotélica. (“Origens e evoluções das ideias da física”; organizador: José
Fernando M. Rocha. Capítulo 1. “Da Bíblia a Newton”; p.84-85. Roberto I. Leon Ponczek,
EDUFBRA, 2002).
Galileu foi um dos primeiros pensadores modernos a afirmar claramente que as leis
da natureza são matemáticas. Em termos mais amplos, seu trabalho marcou mais um passo
para a separação final da Ciência, tanto da Filosofia quanto da Religião, um grande
desenvolvimento do pensamento humano. Galileu mostrou uma apreciação notavelmente
moderna da relação adequada entre matemática, física teórica e física experimental. Ele
entendeu a parábola, tanto em termos de seções cônicas quanto em termos da ordenada (y)
variando com o quadrado da abscissa (x). Ele afirmou ainda que a parábola era a trajetória
teoricamente ideal de um projétil uniformemente acelerado na ausência de atrito e outras
perturbações.
Resumindo.
Galileu Galilei (1564-1642) foi o primeiro teórico do método experimental. Ele
valorizou a verificação experimental de ideias. O método empírico defendido por Galileu
constitui uma ruptura com o método aristotélico mais abstrato, que busca a essência íntima
das substâncias individuais; devido a isso, Galileu é considerado o "Pai da Ciência
Moderna". Ele foi um dos responsáveis por introduzir ao método de observação de
Aristóteles (que foi o responsável por introduzir a lógica à ciência) uma característica
fundamental, a da experimentação metódica. Dessa forma, hipóteses derivadas da
observação precisariam ser testadas através de experimentos. E, assim, por exemplo,
diversas teses físicas de Aristóteles, como a de que corpos com maior massa cairiam mais
rápido, puderam, com isso, ser provadas falsas.
O objetivo das investigações, para Galileu, deve ser o conhecimento da lei que
preside os fenômenos, e não a essência íntima deles. Além disso, o foco principal da ciência
deve ser as relações quantitativas.
Enfim, o método de Galileu é conhecido como indução experimental e consiste nos
seguintes passos: observação dos fenômenos, análise dos elementos constitutivos do
fenômeno, indução de certo número de hipóteses, verificação das hipóteses, generalização
dos resultados, e confirmação das hipóteses.
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O início do século XVII viu uma colisão de duas filosofias quando ao entendimento
do Método Científico: ênfase na dedução e/ou na experimentação.
Renê Descartes (1596 - 1650) em seu livro Discourse on Method, de 1637, enfatizou
a dedução matemática.
Descartes propõe um processo que se afasta em essência dos anteriores. Em vez de
usar inferência indutiva, utiliza a inferência dedutiva (do geral para o particular). A certeza
somente poderá ser alcançada pela razão.
Com Descartes, existe um deslocamento do centro de gravidade do conhecimento, que
deixa o objeto para se instaurar no sujeito que conhece, ou seja, na razão. Esse deslocamento,
operado pela Regras, gera consequências ontológicas importantes. As Regras se
desenvolvem em torno de um diálogo não declarado com a filosofia de Aristóteles, no qual
Descartes teria abandonado a ousis (substância) aristotélica, substituindo-a pela relação
estabelecida pela razão entre os objetos do conhecimento. (V F.B. Calazans. O projeto newtoniano
de matematização da natureza. https://www.ufjf.br/eticaefilosofia/files/2009/08/17_1_veronica.pdf)
O objetivo do filósofo francês René Descartes era construir uma ciência universal
com caráter de verdade necessária. Ele estava disposto a encontrar uma base sólida para
servir de alicerce a todo conhecimento.
Ao buscar um alicerce novo para a filosofia Descartes:
(i) rompeu com a tradição aristotélica e com o pensamento escolástico, que dominou
a filosofia no período medieval;
(ii) fez a separação entre sujeito e objeto;
(iii) fez da dúvida metódica a base para fundamentar o conhecimento; assim, o
filósofo deve rejeitar como falso tudo aquilo que possa ser posto em dúvida.
(https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/rene-descartes-1-o-metodo-cartesiano-e-a-revolucao-na-historia-da-filosofia.htm)
39
O inglês Isaac Newton (1643 - 1727) considerado um dos maiores gênios da história
universal, publicou sua obra, Philosophiae Naturalis Principia Mathematica ou Principia,
em 1687, que é considerada uma das mais influentes em história da ciência. Nela descreve a
lei da gravitação universal e as suas três leis que fundamentaram a mecânica clássica.
Newton foi o grande sintetizador das obras de Copérnico, Kepler, Bacon, Galileu e
Descartes, desenvolvendo uma formulação matemática da concepção mecanicista da
natureza. Newton pressupôs que a matemática pode ser aplicada ao mundo físico, com o
objetivo de provar as leis da mecânica que, direta ou indiretamente, são formuladas a partir
da experiência. A partir dele estava plenamente estabelecido o paradigma mecanicista ou
newtoniano-cartesiano. A partir de Newton a complexidade do Cosmos seria reduzida a
algumas leis fundamentais; contudo, é precisa destacar: Newton afasta-se em parte da
proposta cartesiana ao conceber a dedução a partir dos fatos observados/experimentados e
não de conceitos mentais; entretanto, as proposições de Bacon e a experimentação e a
matematização de Galileu, como princípios básicos de metodologia, mantiveram-se.
Em relação à aplicabilidade da matemática à natureza o projeto cartesiano é
essencialmente metodológico. Newton, de forma distinta, utiliza a matemática como recurso
para demonstrar as relações que as grandezas físicas guardam entre si. Newton pressupõe
que a matemática pode ser aplicada ao mundo físico com o objetivo de provar que as leis da
mecânica, direta ou indiretamente, são formuladas a partir da experiência. (V F.B. Calazans.
O projeto newtoniano de matematização da natureza.
https://www.ufjf.br/eticaefilosofia/files/2009/08/17_1_veronica.pdf)
Newton desenvolveu laços adicionais entre Física e Astronomia através de sua lei da
gravitação universal. Ao perceber que a mesma força que atraía objetos para a superfície da
Terra mantinha a Lua em órbita ao redor da Terra, Newton foi capaz de explicar, em uma
estrutura teórica, todos os fenômenos gravitacionais conhecidos. Em Principia de Newton
(1687) foram formuladas as leis do movimento e da gravitação universal, que dominaram a
visão dos cientistas do universo físico pelos três séculos seguintes. Ao derivar as leis do
movimento planetário de Kepler a partir de sua descrição matemática da gravidade, e usando
os mesmos princípios para explicar as trajetórias dos cometas, as marés, a precessão dos
equinócios e outros fenômenos, Newton removeu as últimas dúvidas sobre a validade de o
modelo heliocêntrico do cosmos. Este trabalho também demonstrou que o movimento de
40
objetos na Terra e de corpos celestes poderia ser descrito pelos mesmos princípios. Suas leis
de movimento deveriam ser a base sólida da mecânica; sua lei da gravitação universal
combinava a mecânica terrestre e a celestial em um grande sistema que parecia ser capaz de
descrever o mundo inteiro em fórmulas matemáticas (...). (https://aulazen.com/historia/a-
revolucao-cientifica/)
Segundo CAPRA: “antes de Newton, duas tendências opostas orientavam a ciência
seiscentista: o método empírico, indutivo, representado por Bacon, e o método racional,
dedutivo, representado por Descartes. Newton, em seus Principia, introduziu a combinação
apropriada de ambos os métodos, sublinhando que tanto os experimentos sem interpretação
sistemática quanto a dedução a partir de princípios básicos sem evidência experimental não
conduziriam a uma teoria confiável. Ultrapassando Bacon em sua experimentação
sistemática e Descartes em sua análise matemática, Newton unificou as duas tendências e
desenvolveu a metodologia em que a ciência natural passou a basear-se desde então”.
(CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 2006, p.59)
Newton afirmava que suas leis e teorias eram tiradas dos fatos, sem nenhuma
interferência da especulação hipotética.
Esse seria o método ideal, chamado de “método experimental” ou, “método científico
indutivo - confirmável”. De acordo com esse modelo, o sujeito do conhecimento deveria ter
a mente limpa, livre de preconceitos. As hipóteses seriam decorrentes do processo indutivo
e o conhecimento científico seria formado pelas certezas comprovadas pelas evidências
experimentais. Observação dos elementos que compõem o fenômeno → Análise da relação
quantitativa existente entre os elementos que compõem o fenômeno → Indução de hipóteses
quantitativas → Teste experimental das hipóteses para verificação → Generalização dos
resultados em lei.
Newton é importante para a filosofia por fundamentar a ciência que influenciará os
pensadores iluministas. Ele acreditava que a natureza age de modo a simplificar as suas ações
ao máximo, as consequências naturais têm o mínimo de causas possíveis. A natureza não
desperdiça nem tempo nem energia em seus movimentos, em uma atividade natural é
utilizado o mínimo possível de elementos. Além dessa simplificação das ações, na natureza
as mesmas consequências tendem a ter as mesmas causas ou causas parecidas. Causas
semelhantes têm consequências semelhantes e isso torna a natureza homogênea. Essa
homogeneidade gera uma constância nas leis físicas e químicas e é essa constância que
possibilita a harmonia do nosso universo.
41
Qualquer uma dessas quatro grandes realizações teria bastado para distingui-lo como
um cientista de importância capital. Essas quatro façanhas juntas o colocam em primeiro de
modo inquestionável; mas, não são apenas as suas descobertas que devem ser enfatizadas na
figura de Newton: o mais importante era o seu jeito de apresentá-las.
O poder do pensamento científico de Newton foi tal que uma série de argumentos
apresentados por Newton foram aceitos e reproduzidos acriticamente durante praticamente
dois séculos e meio por vários pensadores de diversas áreas do conhecimento. Era como se
3
: “O que Newton não distinguira outras pessoas não eram capazes de analisar
cuidadosamente”.
A importância e a influência que o mecanicismo exerceu no pensamento científico
moderno serviram como uma espécie de fundamento filosófico e metodológico de todas as
demais ciências 4:
“O método característico da filosofia mecânica na opinião de seus
defensores aparece tão poderoso a ponto de ser aplicável a todos os aspectos da
realidade: não só ao mundo da natureza, mas também ao mundo da vida, não apenas
aos movimentos dos astros e à queda dos corpos pesados, mas também à esfera das
43
No século XVII havia, pelo menos, duas dimensões em debate sobre o Método
Científico. Uma delas se referia aos papéis exercidos pela matemática e o experimento;
enquanto, a outra dimensão se referia aos conflitos surgidos quanto ao objetivo, à finalidade
do Método Científico.
Primeira dimensão: quanto à matemática e ao experimento, Galileu e Descartes
reconheciam que ambas exerciam um papel de destaque, mas a matemática teria um peso,
uma maior influência. Essa mesma visão era compartilhada por Francis Bacon e por Harvey,
quanto à influência da matemática e do experimento; porém, Francis Bacon e Harvey
colocavam maior peso, maior influência no experimento e não na matemática. Esse papel
principal do experimento também era a visão de Hobbes, Boyle, Hooke e outros fundadores
da Royal Society.
Segunda dimensão: quanto ao objetivo, à finalidade do Método Científico, Bacon e
Descartes pensavam em preservar a visão tradicional de que a ciência tinha em relação a
tudo aquilo referente ao conhecimento das causas; e, ainda, de que os métodos devem ser
elaborados de forma a nos ajudar a conseguir essa finalidade. Outros, também ancorados
pela tradição, como Galileu e Harvey, tinham a visão de que é crucial alcançar certeza nas
conclusões, e de que os métodos devem garantir esse objetivo.
Nesse debate verifica-se as abordagens tinham pontos fortes e fracos que contribuíram
para o método científico moderno. Bacon, que era um cientista teórico, não percebeu a
importância da intuição na criação, interpretação e rejeição de hipóteses, de modo que apenas
um subconjunto delas precisasse ser testado. E Descartes procurou limitar a ciência àquelas
áreas em que a matemática poderia produzir "certeza".
Nesse contexto de tensão entre essas duas dimensões sobre o Método Científico é que
Newton realizou a sua contribuição, pois agrega o método empírico-indutivo e o racionalista-
analítico-dedutivo. E, ainda, a matemática empregada no Principia (1687) e o método
experimental apresentada no seu livro de ótica, Optiks em 1704, são de muitas formas o
coroamento da revolução científica. Em ambos os livros contém importantes afirmações
sobre como o método científico deve ser realizado, embora Newton nunca tivesse abordado
de forma explícita esse tema, como Galileu, Bacon e Descartes o fizeram em seus escritos
expondo-o de forma detalhada. (...) (Barry Gower. Scientific Method. An historical and
philosophical introduction, p.67, 1997.)
45
Isaac Newton reforçou a perspectiva cartesiana da ciência com seu livro Principia
Mathematica. Considerado por alguns o livro científico mais importante da história,
Principia estabeleceu um novo paradigma da física do movimento, reunindo um conjunto
muito amplo de observações em um rigoroso sistema matemático. Nesse livro pode-se
constatar que Newton era principalmente um teórico, não um empirista, que usava
ansiosamente os dados coletados por outros.
46
(i) introdução
A historiadora da Ciência, Mohana Ribeiro Barbosa, apresentou em 2013 na
Universidade Federal de Goiás a sua Dissertação de Mestrado: Revolução científica e
nascimento da ciência experimental em Alexandre Koyré. A autora apresenta muitos
elementos sobre a matematização da Natureza; que fizeram possível a criação da Ciência
Moderna. Dentre eles, destaco os seguintes:
1º) a matematização do mundo – só se torna possível após a destruição da ideia do
cosmos aristotélico – como o grande marco para a nova ciência;
2º) a matematização da física e a construção de uma ciência exata constituíram uma
transformação em todos os aspectos da ciência, e os resultados dessa mutação se fazem sentir
por um tempo muito longo na história do pensamento;
3º) a matematização é característica da cientificidade moderna. Se não há cálculos
precisos nem exatidão na ciência da Idade Média isso não deve ser encarado como
incapacidade ou falha na produção do conhecimento científico. A ciência do mundo
medieval não é precisa; pois, a ideia de precisão não existe para esse mundo;
4º) em sua obra mais conhecida, Estudos Galilaicos, Koyré estuda as condições que
tornaram possível a ciência moderna e a posterior transformação dos princípios que
sustentavam a ciência antiga e medieval e a estrutura científica e filosófica da nova
concepção de mundo, além de apontamentos sobre o estatuto da experiência no
desenvolvimento da nova ciência. Nessa obra, Koyré historiciza o processo de
matematização da natureza e de transformação dos fundamentos da ciência, um processo
que, para ele, deve ser definido como uma revolução intelectual, uma vez que representam
uma ruptura definitiva com uma série de princípios não apenas científicos, mas filosóficos e
metafísicos;
5º) o ordenamento geométrico do universo e da natureza, a matematização da física e
a experimentação marcam a Revolução Científica do século XVII, consolidando o
nascimento da Ciência Moderna.
47
A postura do ceticismo permite que Descartes rejeite tudo quanto não se conforme aos
critérios preestabelecidos definidos pela matemática. Toda a filosofia anterior é mera
altercação sem fundamento, porque ninguém antes de Descartes efetivara a união
intelectual de construção matemática e natureza matematizada. Pelo mesmo motivo, todas
as opiniões e tradições anteriores podem ser descartadas como irrelevantes, e a própria
Teologia abandonada (com todas as devidas expressões de piedade), por ser irracional. Pode-
se duvidar dos sentidos porque eles aceitam a natureza tal qual ela é, tal como se apresenta,
em vez de reduzirem-na a uma extensão homogênea não sensível e pouco visível, apta a
receber tratamento matemático de acordo com sua nova física. Portanto, a postura do
ceticismo é inseparável do método porque ela serve para eliminar os obstáculos à união
ímpar que Descartes faz entre matematização, mecanização e domínio.
Esse é um aspecto de enorme importância exatamente por causa da atitude desdenhosa
da adopção do ceticismo na Modernidade ao fazer referência à religião e, em particular, a
própria Bíblia (...). Verdades reveladas são rejeitadas porque não são racionais. Nem a
própria Bíblia nem seus intérpretes tradicionais podem arrogar-se a um verdadeiro
conhecimento; no máximo, eles podem expressar uma espécie de fideísmo não racional. É a
ciência (nos estritos termos da definição de Descartes) que oferece a revelação verdadeira e,
ao contrário das promessas dos entusiastas bíblicos, propicia uma libertação muito real e
mundana do sofrimento, em um paraíso terreno, mediante o domínio da natureza.
(...) pág. 366. A matematização da natureza levou inevitavelmente à noção de que as
coisas da natureza deviam obedecer a leis definidas de forma matemática, leis cuja
necessidade estrita também deve fazer parte da natureza. Desse modo, milagres não podem
acontecer na realidade, pela mesma razão por que não ocorrem em geometria. Todo esse
determinismo matemático-ontológico implicava que não poderia haver irrupções e
extranaturais do Divino, uma crença curiosamente reforçada pela teologia, na forma da
posterior identificação deísta da sabedoria de Deus com as próprias leis matemático-
geométricas. Com essa identificação, agir contra essas leis seria, para Deus, agir contra Sua
sabedoria, contra Sua própria natureza até.
(...) a matematização traz uma consequência importante. Descartes introduziu o
ceticismo radical com relação aos sentidos não apenas porque, às vezes, eles se podem
enganar, mas, sobretudo, porque a ontologia matemática, entranhada no mundo invisível da
extensão material homogênea atômica, substitui a realidade de nossa experiência cotidiana
do mundo como a experiência fundamental. Em consequência, somos colocados em um
estado de permanente dúvida com relação ao mundo sensorial e, com isso, transformar o
49
mundo cotidiano - o mundo que supomos ser real e que forma a base de nosso pensamento
e nossa linguagem, símbolos e metáforas comuns - em uma fonte não confiável da verdade.
A fim de compreendermos com mais clareza esse ponto importante, recordemos as famosas
palavras de Galileu, sem dúvida um dos mentores de Descartes no desejo de matematizar a
natureza:
A filosofia é escrita no grande livro que está sempre diante de dos nossos olhos -
refiro-me ao universo -, mas não podemos compreendê-la se, antes, não aprendermos
a linguagem e entendermos os símbolos em que ela está escrita. Esse livro está escrito
na linguagem matemática e os símbolos são triângulos, círculos e outras figuras
geométricas, sem cujo auxílio é impossível que se aprenda uma única palavra dele;
sem os quais se perambula, em vão, por um labirinto escuro.
Dizer (com Galileu) que a natureza está escrita na linguagem da geometria euclidiana
e que, sem a compreensão dessa linguagem, é “impossível que se aprenda uma única palavra
dele”, de modo que, sem a matemática, se perambula, em vão, para um labirinto escuro”, é
insinuar, ao mesmo tempo, que a maioria dos seres humanos está relegada à absoluta
ignorância da natureza, por causa de sua ignorância da geometria euclidiana e suas
aplicações. Isso ainda é mais verdadeiro com relação a Descartes, pois ele não só afirma, do
mesmo modo, que a natureza é essencialmente, ontologicamente matemática, como também
que a única maneira de a compreender é por meio de seu método geométrico.
A aceitação desse tipo de matematização, tal como permeou a cultura intelectual
ocidental, criou um antagonismo ainda maior para a apresentação bíblica da verdade
revelada. Uma vez que os antigos hebreus ou cristãos tinham, no máximo, um conhecimento
muito rudimentar e prático de geometria, passaria a ser bem difícil vê-los como o único
veículo da revelação. O erro de hebreus ou cristãos estava em sua confiança em métodos
não-matemáticos (ou seja, pré-científicos) de conhecimento, que equivaliam a conhecer
pouco ou nada.
Como as personagens da Bíblia acreditavam que o mundo atual era inteligivelmente
ordenado por Deus e que essa inteligibilidade se manifestava em coisas bastante prosaicas e
através de olhos bastante comuns, eles tratavam - na realidade, celebravam - o mundo
cotidiano como uma revelação da sabedoria de Deus. Assim, a linguagem da revelação, tal
como a compreendiam, era um tanto terrena, baseada nas experiências de mães e pais,
agricultores e soldados, pastores e construtores de tendas. Ademais, as práticas de culto
religioso não só usavam objetos do dia a dia como julgavam que objetos naturais transmitiam
as Revelações mais elevadas e mais misteriosas de Deus. Eles não conseguiam perceber que
50
Quando falamos hoje em Ciência Moderna devemos ter como referência os séculos
XVI e XVII que foram importantíssimos no processo de sua construção, e ficaram
conhecidos na história como a Idade da Revolução Científica. Segundo CAPRA: “A ciência
do século XVI e XVII baseou-se num novo método de investigação, defendido vigorosamente
por Francis Bacon, o qual envolvia a descrição matemática da natureza e o método analítico
de raciocínio concebido pelo gênio de Descartes. Reconhecendo o papel crucial da ciência
na concretização dessas importantes mudanças, os historiadores chamaram os séculos XVI
e XVII de a Idade da Revolução Científica”. (CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix,
2006, p.50)
Durante a Idade Média a ciência baseava-se na razão e na fé, e sua principal
finalidade era compreender o significado das coisas e não exercer a predição ou o controle.
Para CAPRA: “Os cientistas medievais, investigando os desígnios subjacentes nos vários
fenômenos naturais, consideravam do mais alto significado as questões referentes a Deus,
à alma humana e à ética”. (CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 2006, p.49).
A visão de mundo que predominou na Europa durante a Idade Média era orgânica.
A Igreja Católica era a principal autoridade espiritual, política e científica, e a grande
referência filosófica era Aristóteles.
Durante a Idade Média predominava um paradigma Teocêntrico, que supõe a
existência de dois mundos e o conceito vigente de universo era geocêntrico. (TEIXEIRA,
Elizabeth. As três metodologias: acadêmica, da ciência e da pesquisa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005, p.95).
A partir do século XVI a visão de mundo orgânica foi substituída pela noção de
mundo como se ele fosse máquina, e o paradigma Teocêntrico deu espaço para o
Antropocêntrico ou newtoniano-cartesiano, conhecido ainda como mecanicismo. Assim, a
Ciência Medieval é substituída por um novo modelo de ciência baseado em um novo método
de investigação, estabelecido dentre outros por Francis Bacon, Galileu Galilei, René
Descartes e Isaac Newton.
Os antigos gregos produziram uma enorme quantidade de pensamento científico e
filosófico. Os nomes de Platão, Aristóteles, Euclides, Arquimedes e Ptolomeu emergiram
durante dois mil anos como gigantes ao longo das gerações. E os grandes pensadores árabes
e europeus sempre recorriam aos gregos, e mal ousavam expor uma ideia própria, sem
endossá-la com alguma referência aos antigos. Aristóteles, em particular, era considerado o
"mestre daqueles que sabem".
52
Durante os séculos XVI e XVII uma série de físicos práticos, como Galileu e Robert
Boyle, mostraram que os antigos gregos nem sempre tinham a resposta certa. Galileu, por
exemplo, descartou as ideias de Aristóteles sobre a Física; no entanto, os intelectuais
europeus ainda não se atreviam a romper com aqueles gregos por tanto tempo idolatrados.
A ruptura se deu em 1687 quando Newton publicou seu Principia Mathematica, em
latim (o maior livro científico já escrito, segundo a maioria dos cientistas). Neste livro
Newton apresentou as suas leis de movimento, sua teoria da gravitação e muitas outras
coisas, usando a matemática no estilo estritamente grego.
Aqueles que leram o livro tiveram que admitir que, finalmente, se depararam com
uma mente igual ou superior a qualquer um da antiguidade, e que a visão do mundo
apresentada era bela, completa e infinitamente superior em racionalidade a tudo o que
continham os livros gregos.
Newton e seu livro destruíram a influência paralisante dos antigos e acabaram, para
sempre, com o complexo de inferioridade intelectual do homem moderno.
Após a morte de Newton, o poeta Alexander Pope (1688 - 1744) resumiu tudo em
duas linhas: “A natureza e as suas leis permaneceram escondidas durante a noite. Deus
disse: Seja Newton! E tudo era luz”. (Fonte: 100 preguntas básicas sobre la ciencia - ISAAC ASIMOV
- Título original: Please Explain. 3ª Ed. cast.: Alianza Editorial, S. A., Madrid, 1979)
Nos séculos XVI e XVII, cientistas europeus começaram a aplicar cada vez mais
medidas quantitativas à medição de fenômenos físicos na Terra.
Os Principia de Newton encerram um ciclo de mais de dois milênios, fundindo
Astronomia e Mecânica, que antes eram consideradas ciências distintas. Descartes e Newton
realizaram a maior síntese científico-filosófica, que o saber ocidental conhecera até então.
Descartes, dando ao pensamento científico o método e a sua estrutura geral, com a concepção
da natureza como um relógio, governado por leis matemáticas precisas, cabendo a Newton
descobri-las.
Os Principia de Newton sintetizam de forma tão perfeita toda a ciência conhecida
até então.
O pensamento científico foi - durante todo o século XVIII, e até o advento das
equações do eletromagnetismo de Maxwell em meados do século XIX -, em grande parte, a
consolidação e ao aprimoramento da mecânica newtoniana que, por exemplo, previa
corretamente desde as trajetórias dos cometas às marés. O seu reconhecimento foi de tal
dimensão que até a França, reduto do cartesianismo, teve que render-se à evidência dos fatos
(...).
53
A Mecânica Clássica reinaria absoluta durante os séculos XVIII e XIX. Era capaz de
não só explicar o movimento de todos os corpos celestes, em seus mínimos detalhes, como
também, a origem das galáxias e do sistema solar, além do movimento das marés e de todos
os fenômenos ligados à gravitação. O sistema cartesiano-newtoniano, aprimorado
filosoficamente por Kant e matematicamente por Laplace, Lagrange, Hamilton e outros,
estabeleceu-se, rapidamente, como teoria correta da realidade de todo o cotidiano que nos
cerca, produzindo enorme influência em todo o pensamento científico, humanístico e
filosófico. Nada é melhor para ilustrar a euforia determinista que se apossou dos cientistas
dos séculos XVIII e XIX do que a famosa citação de Laplace:
Uma inteligência que, em certo momento, conhecesse todas as forças que atuam no
universo e o estado inicial de todos os corpos que constituem a natureza, abarcaria (se esta
suposta inteligência fosse tão vasta que pudesse processar todos os dados) na mesma
expressão matemática os movimentos dos grandes objetos do universo bem como do mais
ínfimo dos átomos: nada lhe seria duvidoso e o futuro, tal qual o passado, seria como o
presente a seus olhos.
Segundo o sonho de Laplace, um super computador, que pudesse armazenar todos
os dados iniciais e as leis de força de interação entre todas as partes do universo, poderia
prever, com absoluta precisão e ad infinitum, toda a sua evolução. Não existiriam assim mais
mistérios que a ciência não pudesse desvelar. De fato, o brilhante êxito da Mecânica
newtoniana-lagrangeana-laplaceana na previsão do movimento dos coros celestes e
terrestres levou os físico-matemáticos a aprimorá-la para que fosse utilizada também no
movimento contínuo dos fluidos (hidrodinâmica) e nas vibrações dos corpos elásticos,
revelando-se sempre correta. Até mesmo o calor e temperatura puderam ser descritos
mecanicamente na teoria cinética dos gases, quando se percebeu, no século XIX, que eram
conceitos ligados a movimentos de agitação de moléculas. Muitos fenômenos térmicos como
dilatação, fusão, evaporação, puderam ser entendidos sob um ponto de vista mecânico.
A Física tornava-se um paradigma para todas as ciências, de tal sorte que os
pensadores do século XVII tentaram levá-la ainda mais longe, aplicando os princípios da
mecânica newtoniana às ciências humanas e sociais. Aliando-se este fato ao avanço
inevitável da burguesia e à revolução industrial, surge uma “mecânica social” que recebeu o
nome de Iluminismo.
54
Foi assim quebrado o dogma da imutabilidade do cosmos, um dos mais arraigados conceitos
medievais.
A concepção determinista de ciência surge com a revolução cientifica
O melhor, no entanto, ainda estava por vir. O epicentro dessa formidável revolução
científica ocorre no século XVII, sendo obra de duas das mais poderosas mentes da história
do pensamento ocidental: Descartes, filósofo e matemático, e Isaac Newton, físico-
matemático e teólogo. Eles criam uma concepção determinista de ciência: o universo visto
como mecanismo previsível, governado por leis matemáticas precisas. Essas ideias
deterministas, que colocam o homem como sujeito ativo diante de uma natureza previsível,
tal qual um relógio, chegam a seu ponto culminante no século XVIII, até meados do século
XIX, levando Laplace a formular uma teoria da origem do sistema solar que prescinde da
ideia do Criador.
Enquanto suas datas são disputadas, a publicação em 1543 de Nicolau Copérnico De
revolutionibus orbium coelestium (Sobre as Revoluções das Esferas Celestes) é
frequentemente citado como marcando o início da revolução científica.
A revolução científica foi construída sobre a fundação do antigo aprendizado e da
ciência dos gregos na Idade Média, uma vez que ela foi elaborada e desenvolvida pela ciência
romana / bizantina e pela ciência islâmica medieval. A tradição aristotélica ainda era
importante estrutura intelectual no século XVII, embora naquela época os filósofos naturais
tivessem se afastado de grande parte dela. As principais ideias científicas que remontam à
antiguidade clássica mudaram drasticamente ao longo dos anos e, em muitos casos, foram
desacreditadas. As ideias que permaneceram (por exemplo, a cosmologia de Aristóteles, que
colocou a Terra no centro de um cosmos hierárquico esférico, ou o modelo ptolomaico do
movimento planetário) foram transformadas fundamentalmente durante a revolução
científica.
A mudança no entendimento de Ciência Medieval ocorreu por quatro motivos:
1ª) Os cientistas e filósofos do século XVII puderam colaborar com membros das
comunidades matemáticas e astronômicas para efetuar avanços em todos os campos;
2ª) Os cientistas perceberam a inadequação dos métodos experimentais medievais para
o seu trabalho e, portanto, sentiram a necessidade de criar métodos (alguns dos quais usamos
hoje);
56
Novos métodos. Sob o método científico que foi definido e aplicado no século XVII,
circunstâncias naturais e artificiais foram abandonadas, e uma tradição de pesquisa de
experimentação sistemática foi lentamente aceita em toda a comunidade científica. A
filosofia de usar uma abordagem indutiva da natureza (abandonar a suposição e tentar
simplesmente observar com a mente aberta) estava em estrito contraste com a anterior
abordagem aristotélica da dedução, pela qual a análise de fatos conhecidos produzia uma
compreensão adicional. Na prática, muitos cientistas e filósofos acreditavam que era
necessária uma mistura saudável de ambos – a disposição de questionar os pressupostos e
interpretar as observações que se supunha terem algum grau de validade.
Durante a revolução científica, a mudança de percepções sobre o papel do cientista em
relação à natureza, o valor da evidência, experimental ou observada, levou a uma
metodologia científica em que o empirismo desempenhou um papel grande, mas não
absoluto. O termo empirismo britânico passou a ser usado para descrever as diferenças
filosóficas percebidas entre dois de seus fundadores – Francis Bacon, descrito como
empirista, e René Descartes, descrito como racionalista. Os trabalhos de Bacon
estabeleceram e popularizaram metodologias indutivas para a investigação científica, muitas
vezes chamada de método baconiano, ou às vezes simplesmente o método científico. Sua
demanda por um procedimento planejado de investigar todas as coisas naturais marcou uma
nova virada na estrutura retórica e teórica da ciência, grande parte da qual ainda envolve
concepções de metodologia apropriada hoje. Correspondentemente, Descartes distinguia
entre o conhecimento que poderia ser alcançado apenas pela razão (abordagem racionalista),
como, por exemplo, na matemática, e o conhecimento que exigia experiência do mundo,
como na física.
Thomas Hobbes, George Berkeley e David Hume foram os principais expoentes do
empirismo e desenvolveram uma tradição empírica sofisticada como a base do conhecimento
humano.
Novas ideias. Muitas novas ideias contribuíram para o que é chamado de revolução
científica. Alguns deles foram revoluções em seus próprios campos. Esses incluem:
57
O modelo heliocêntrico que envolveu o deslocamento radical da Terra para uma órbita
em torno do sol (em oposição a ser visto como o centro do universo). O trabalho de
Copérnico de 1543 sobre o modelo heliocêntrico do sistema solar tentou demonstrar que o
sol era o centro do universo. As descobertas de Johannes Kepler e Galileu deram à teoria
credibilidade e o trabalho culminou nos Principia de Isaac Newton, que formularam as leis
do movimento e da gravitação universal que dominaram a visão dos cientistas do universo
físico pelos três séculos seguintes. Estudar a anatomia humana com base na dissecação de
cadáveres humanos, e não nas dissecações de animais, praticadas há séculos. Descobrir e
estudar magnetismo e eletricidade e, portanto, propriedades elétricas de vários materiais.
Modernização de disciplinas (tornando-as mais como são hoje), incluindo odontologia,
fisiologia, química ou óptica. Invenção de ferramentas que aprofundaram o conhecimento
das ciências, incluindo a calculadora mecânica, o digestor de vapor (o precursor da máquina
a vapor), os telescópios de refração e reflexão, a bomba de vácuo ou o barômetro de
mercúrio.
A revolução científica lançou as bases para a Era do Iluminismo, que se centrou na
razão como fonte primária de autoridade e legitimidade e enfatizou a importância do método
científico. No século XVIII, quando o Iluminismo floresceu, a autoridade científica começou
a deslocar a autoridade religiosa. E as disciplinas, até então consideradas legitimamente
científicas (por exemplo, alquimia e astrologia), perderam a credibilidade científica. A
ciência passou a desempenhar um papel de liderança no discurso e no pensamento do
Iluminismo. Muitos escritores e pensadores do Iluminismo tinham antecedentes nas ciências
e associaram o avanço científico à derrubada da religião e da autoridade tradicional em favor
do desenvolvimento da liberdade de expressão e do pensamento. De um modo geral, a
ciência do Iluminismo valorizou muito o empirismo e o pensamento racional, e foi
incorporada ao ideal iluminista de progresso em progresso. Na época, a ciência era dominada
por sociedades e academias científicas, que substituíram amplamente as universidades como
centros de pesquisa e desenvolvimento científicos. Sociedades e academias também foram
a espinha dorsal do amadurecimento da profissão científica. Outro desenvolvimento
importante foi a popularização da ciência entre uma população cada vez mais alfabetizada.
O século XVIII viu avanços significativos na prática da medicina, matemática e física; o
desenvolvimento da taxonomia biológica; uma nova compreensão do magnetismo e da
eletricidade; e o amadurecimento da química como disciplina, que estabeleceu as bases da
química moderna.
58
de relojoeiro divino, que havia construído um relógio, dando-lhe corda e deixado que ele
corresse solto, sem o Seu envolvimento.
A explosão da ciência mudou toda a epistemologia ocidental (o estudo de como
sabemos o que sabemos). A ciência aristotélica, dominante na Idade Média, estava baseada
em conceitos metafísicos a respeito da natureza essencial das coisas. A nova ciência
descartou seus componentes metafísicos e passou a raciocinar a partir da observação
empírica. René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático, mudaria ainda mais a
abordagem à questão epistemológica. Enquanto Bacon dizia que deveríamos desenvolver
modelos raciocinando a partir da observação empírica, Descartes assumiu uma postura mais
puramente racionalista.
Descartes ensinava que o melhor começo para o método era aceitar como verdadeiras
somente as ideias claras que estivessem para além de qualquer dúvida. Não se deveria aceitar
como verdadeiro nada que fosse imposto por autoridade, e dever-se-ia até duvidar dos
próprios sentidos. Apenas aquilo sobre o que se pudesse ter certeza seria verdadeiro. O
primeiro de todos os princípios desse método é “penso, logo existo”.
A única coisa sobre o que não pode haver dúvida, portanto, é a existência individual.
Este é o fundamento de todos os outros pensamentos, segundo Descartes, que assim fez do
sujeito pensante e autônomo o determinador do que é verdadeiro ou não. Descartes era
racionalista, mas não era relativista moral – aliás, ele se considerava um católico devoto cuja
missão era, em partes, reconciliar a ciência e a fé.
O que Descartes fez – e o que o torna pai da filosofia moderna – foi inventar a
abordagem dos medievais em relação ao conhecimento. Para os escolásticos, a realidade era
objetiva e o dever da humanidade era, antes de qualquer coisa, entender a natureza metafísica
da realidade. Só então os homens poderiam começar a explorar o conhecimento do mundo e
de tudo o que ele contém. Descartes, por sua vez, começava toda a investigação a partir de
um conhecimento radical, declarando que o primeiro princípio do conhecimento era que o
Eu é consciente de si mesmo.
A filosofia cartesiana abriu as portas para o Iluminismo, projeto de mudanças radicais
no mundo todo assim denominados por seus entusiastas, que queriam contrastá-lo aos
supostos dias sombrios de quando a religião revelada mantinha o pensamento ocidental em
suas garras mortíferas. Em seu âmago, o Iluminismo foi uma tentativa dos intelectuais
europeus de encontrar uma base comum fora da religião pela qual pudessem determinar a
verdade moral. O sucesso das ciências levou os filósofos da moral a quererem explorar como
61
Prefácio do livro: “Uma Senhora toma chá”. David Salsburg. Ed. Zahar, 2008.
formulou a Teoria Geral da Relatividade, que logo começou a ser aplicada no estudo do
universo em seu conjunto.
Tudo isso é importante para a ciência, mas, ainda o mais importante, são as ideias de
fundo associadas à revolução de Einstein. Essa revolução mostrou que inclusive as teorias
científicas melhor comprovadas poderiam falhar; isso é o que sucedeu à teoria de Newton,
depois de mais de duzentos anos de constantes êxitos. O próprio Einstein, em uma
conferência que pronunciou em Viena, disse que se encontrassem fatos experimentais que
fossem contrários à sua teoria, teria de mudá-la; e Popper estava ouvindo aquela conferência.
Para a filósofa Elizabeth de Assis Diaz em seu artigo Popper, leitor de Einstein (Vol. VI,
n° 11, Julho 2014, p. 225-237) vemos a influência do pensamento de Einstein sobre Popper:
(...) sabemos que o propósito de Einstein, apesar da profundidade de seu
pensamento e de sua formação clássica, não foi o de construir um sistema
filosófico da natureza, mas sim contribuir para a solução de problemas surgidos
no âmbito da Física de seu tempo. Porém, no decorrer de suas investigações, ele
não deixou de produzir algumas reflexões filosóficas sobre a ciência, muito
embora não as tenha desenvolvido de forma sistemática. Einstein defendia a tese
de que o físico além de ser educado em uma tradição que lhe possibilitasse o
acesso aos conhecimentos de metodologia, história e filosofia da ciência, deveria
também filosofar.
Einstein, em vários trechos de suas obras, produziu reflexões filosóficas
sobre a ciência. Por exemplo, no texto “Indução e dedução em Física” (1919),
publicado no grande jornal de Berlim, o Berliner Tageblatt, do qual não se teve
referência antes de 1984. Nesse artigo, Einstein nos apresenta algumas reflexões
sobre o status da ciência expressas em sentenças curtas, que soam como
antecipações das análises de Popper acerca das teorias científicas, antes de este
ter publicado sua obra A Lógica da pesquisa científica (1934).
A questão que se coloca é se Popper teria lido esse texto de Einstein, antes
de formular os principais aspectos de sua teoria da ciência, que aparecem na
mencionada obra de 1934. Nos textos de Popper encontramos várias referências
a Einstein, e à grande revolução que este efetivou no âmbito da ciência, mas
nenhuma delas diz respeito ao artigo citado.
Einstein o fez perceber que qualquer teoria estabelecida pode ser,
simplesmente, uma primeira aproximação da verdade; e, ainda, ao contrário de
Newton, que considerava a indução como tendo um papel na descoberta de sua
67
teoria, viu nela um procedimento inválido. Popper esclarece que levou cinco
anos para ter uma compreensão clara acerca desses pontos, e que apenas em
1919, leu não só sobre Einstein, mas também suas obras. Muito embora Popper
admita que só teve conhecimento da obra de Einstein a partir de 1919, não deixa
de ser significativo o fato de ele ter formulado seu critério de falseabilidade
durante esse mesmo ano.
A negação de Popper da leitura do referido artigo, bem como a declaração
de sua admiração por Newton e de sua leitura tardia das obras de Einstein, não
significa que Popper não tenha sido influenciado pelo cientista alemão. Popper,
segundo o que supomos, parece não querer admitir que Einstein tenha formulado
o princípio de falseabilidade das teorias antes dele. Em suas obras, não deixa de
reconhecer uma grande influência de Einstein na formulação de certos aspectos
de sua teoria da ciência. E, com efeito, em sua Autobiografia intelectual escreve:
“foi nessa época (1919) que entrei em contato com as ideias de Einstein, que se
tornaram a influência dominante em meu próprio pensar – a longo prazo, a mais
importante influência, talvez”.
O próprio Popper, numa entrevista concedida à BBC de Londres, resume
em quatro aspectos a influência de Einstein sobre seu pensamento: (i) a teoria
melhor estabelecida pode ser modificada ou corrigida; (ii) a ideia de que se deve
buscar sempre os pontos fracos das teorias e suas limitações; (iii) a atitude crítica
como característica da melhor atividade científica; (iv) a distinção entre a atitude
crítica e a crítica filosófica.
68
Karl Popper nasceu em Viena, em 1902, praticamente junto com o século XX. Nessa
época, a ciência parecia ter atingido o auge do prestígio. A revolução industrial iniciada na
Inglaterra do século XVIII influenciou a divisão e a organização do trabalho. E as novas
tecnologias aproveitaram as possibilidades abertas pela ciência determinista de sir Isaac
Newton. A utilização maciça das aplicações técnicas do conhecimento científico produziu
um período de progresso material acelerado, no qual a humanidade avançou mais em dois
séculos neste campo do que nos quatro mil anos anteriores. Esse progresso acelerado colocou
o conhecimento científico numa posição de destaque, que, no século XIX, culminou no
cientificismo, a crença de que tudo poderia ser explicado pela ciência, que deveria ser
colocada acima de todos os outros modos do saber.
O que preocupava a Popper era saber quando uma teoria pode ser considerada
verdadeira, e se a verdade das teorias pode ser demonstrada mediante a experiência.
Nessas circunstâncias, assistiu a uma palestra de Einstein e viu uma nova luz. Se
Einstein mesmo dizia que deveria modificar a sua teoria da relatividade em caso de encontrar
fatos que a contradissessem, essa era a atitude cientifica e racional! Era uma atitude muito
diferente da adotada pelo marxismo e pela psicanálise, que se apresentavam como teorias
científicas, definitivamente verdadeiras, passasse o que passasse: embora a experiência
mostrasse o contrário.
Popper encontrou razões lógicas que iam ao mesmo sentido; concretamente, que
umas consequências verdadeiras podem ser obtidas a partir de premissas falsas e que,
portanto, a comprovação de uns resultados não garante que a teoria na qual se apoiam seja
verdadeira. Concluiu que nunca podemos demonstrar a verdade de nossas teorias mediante
fatos de experiência; de acordo com esse ponto de vista, as teorias são hipóteses ou
conjecturas, nunca verdades definitivas. A atitude científica não consistirá em defender a
todo custo nossas teorias, mas pelo contrário em buscar fatos que a contradigam; o melhor
que pode suceder é que esses fatos apareçam, pois então já sabemos algo: que temos
cometido um erro. Deste modo, mediante sucessivas teorias nas quais vamos corrigindo
nossos erros, podemos nos aproximar mais e mais em direção à verdade.
Em decorrência disso, segundo Popper, se nunca podemos demonstrar que nossas
teorias são verdadeiras, nosso conhecimento será sempre conjectural. Sem dúvida, pode-se
70
tratar de assuntos do domínio da religião, que tem suas doutrinas como verdades eternas ou
da filosofia, que busca verdades absolutas.
(https://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/filosofia-da-ciencia-karl-popper-falseabilidade-e-
limites-da-ciencia.htm). Filosofia da ciência - Karl Popper, falseabilidade e limites da ciência. Carlos
Roberto de Lana, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação).
que, por ele, carece de significado. Popper mantém, frente a este critério empirista do
significado, que o problema está em decidir o que é científico e o que não o é, e de que não
se deve identificar científico como significativo, de modo que muitos enunciados não
científicos, como por exemplo, os metafísicos ou filosóficos, são enunciados significativos,
apesar de não serem científicos: o critério de caráter científico de um enunciado reside em
sua refutabilidade, mas não em seu significado.
A fundamentação da refutabilidade como critério leva ao desenvolvimento de uma
nova concepção de ciência e de teoria científica. As ciências são sistemas de teorias
científicas, e estas devem conceber-se como aproximações à realidade, como “redes”, diz
metaforicamente, que lançamos para compreender o mundo, para “racionalizá-lo, explicá-lo
e dominá-lo”, e a maneira de conseguir que a malha das redes seja cada vez mais fina é
procurando eliminar todas aquelas teorias e hipótese que não dizem nada acerca do mundo,
porque são falsas. Uma vez que as teorias e as hipóteses são enunciados universais,
eliminaremos da ciência as hipóteses falsas submetendo seus enunciados universais a
refutação.... (...) A confirmação de hipóteses é irrelevante para estabelecer a verdade de uma
teoria, dado que um enunciado universal não é logicamente verificável, enquanto a refutação
cobra toda a importância, pois basta um só o caso de refutação para rejeitar como falso um
enunciado universal.
Milhares de provas que confirmam: “os cisnes são brancos” não fazem verdadeiro a
este enunciado; pelo contrário, basta um só caso de cisne negro para rejeitar o enunciado
como falso. Do mesmo modo, na metodologia científica não interessa esforçar-se pela
confirmação das teorias e das hipóteses científicas; a teoria que afirma que as órbitas os
planetas de todo o universo são elípticas não se demonstra de uma forma conclusiva
aduzindo exemplos de órbitas planetárias elípticas, enquanto que um apenas caso de órbita
circular refutaria a hipótese (assimetria lógica existente entre verificação e refutação, ou
confirmação e desconfirmação, quando se fala de enunciados universais). (...) Assim, na
metodologia científica, não existe razão lógica para que o cientista se esforce em confirmar
e salvar as próprias teorias; não se pode demonstrar que uma teoria cientifica seja verdadeira,
mas é possível rejeitá-la como falsa. O que importa, portanto, é eliminar todas as teorias
falsas submetendo-as às tentativas de refutação. Isso supõe uma mudança de perspectiva na
teoria da ciência mantida até então (antes de Popper):
“... em minha opinião, não existe nada que possa chamar-se de indução. Portanto,
seria logicamente inadmissível a inferência de teorias a partir de enunciados singulares que
estejam “verificados pela experiência”. (...) Assim, pois, as teorias não são nunca
73
... “A água ferve a 100ºC e isto traduz uma lei científica”. Nenhum número
de casos confirmadores demonstrará que assim é, mas podemos submeter a teste
a lei, procurando circunstâncias em que ela deixe de vigorar. Com pequeno
esforço de imaginação, descobriremos que a água não ferve a 100ºC em vasos
fechados. Aquilo que suponhamos uma lei científica deixa, pois, de sê-lo.
Podemos manter o enunciado original, restringindo seu conteúdo empírico,
para afirmar: “A água ferve a 100ºC em vasos abertos”. Passaríamos a buscar
75
Quântica, que o futuro nos apresente uma teoria mais avançada que englobe a
de Einstein, assim com englobava e explicava a de Newton a deste...
Proposição Falseabilidade/a
experiência diz que é
A Nunca chove às quartas-feiras Sim/falsa
B Todas as substâncias se expandem quando aquecidas Sim/falsa
C Objetos pesados, como um tijolo, quando liberados perto da superfície Sim/verdadeira
da Terra, caem diretamente para baixo se não forem impedidos.
D Quando um raio de luz é refletido de um espelho plano, o ângulo de Sim/verdadeira
incidência é igual ao ângulo de reflexão.
E Ou está chovendo ou não está chovendo. Não
F Todos os pontos num círculo euclidiano são equidistantes do centro. Não
G A sorte é possível na especulação esportiva. Não
H Deus existe. Não
Conclusão:
→As hipóteses falsificáveis são: A, B, C, D; porque são falseáveis são científicas, que
servem para a ciência.
→Porém, A e B, embora científicas, serão descartadas para a ciência porque são falsas.
→Não são frases científicas as hipóteses: E, F, G, H.
→As hipóteses falsificáveis são científicas.
→As hipóteses não falsificáveis não são científicas.
Quanto mais falsificável (grau de falseabilidade) for uma teoria melhor ela será.
Quanto mais uma teoria afirma, mais oportunidade potencial haverá para mostrar que o
mundo de fato não se comporta da maneira como mostrado pela teoria.
Exemplo:
Hipótese 1. Marte se move numa elipse em torno do Sol;
Hipótese 2. Todos os planetas se movem em elipse em torno de seus sóis.
Qual é a teoria mais falsificável e, portanto, mais cientifica?
Resposta. Observe. Na hipótese (1) tem apenas o planeta Marte. E, na hipótese (2) tem
mais planetas.
Dentre essas duas acima, qual é a teoria é mais falsificável e, portanto, a mais
cientifica? A resposta certa é a 2, é a hipótese 2. Porque há maior possibilidade de falsificar
o que está sendo afirmado nesta proposição. É mais fácil falsificar a 2 e, portanto, é a mais
científica.
79
(https://www.todamateria.com.br/karl-popper/)
Ao contrário do método indutivo, o método dedutivo propõe que, antes da
observação para a formulação de ideias, as ideias sejam pensadas. Somente depois devem
ser verificadas para confirmar se fazem ou não sentido.
Assim uma hipótese científica tem de surgir primeiro para somente depois ser
submetida a testes.
Para Popper o processo de pesquisa apresenta três momentos: problema, conjecturas e
falseamento.
→Problema: pensar em um conflito que precisa ser resolvido.
→Conjecturas: comprovar experimentalmente.
→Falseamento: provar que a teoria é científica pelo fato de ela poder ser falsa.
O que realmente fazemos é propor uma hipótese como uma tentativa de solução para
um problema, confrontar a previsão deduzida da hipótese com a experiência real e avaliar se
a hipótese é rejeitada ou não pelos fatos. Como as teorias não podem ser verificadas, só
podemos aceitá-las se resistirem a uma tentativa de rejeitá-las. Consequentemente, o
teste de uma teoria consiste na crítica ou numa tentativa séria de falsificação, isto é, a
eliminação do erro dentro de um artigo, a fim de rejeitá-la se for falsa. O objetivo é, assim,
a busca por teorias verdadeiras.
Para isso, o método científico utiliza um conjunto sistemático de regras metodológicas
(não lógicas), ou seja, decisões. Essas regras metodológicas ou princípios podem ser
resumidos em dois: isto é, seja inventivo e crítico! Isto é, proponha hipóteses ousadas e as
submeta a testes rigorosos de experiência. A lógica desempenha seu papel, principalmente,
ao permitir deduzir de uma hipótese as previsões a serem confrontadas com os fatos, ou
evidências. Isso é aplicável tanto à inferência estatística quanto à inferência causal.
(José R. Banegas, Fernando Rodríguez Artalejo y Juan del Rey Calero. Popper y el problema de la
inducción en epidemiologia. Rev Esp Salud Pública 2000; 74;327-339 N.” 4 - Julio-Agosto 2000).
85
2°) Uma teoria irrefutável não tem direito a ser considerada científica.
As teorias que não são refutáveis por alguma observação possível não são
científicas. E, cientificamente, são tanto mais úteis quanto mais riscos
correrem nas previsões que fazem.
Popper resolve o problema da indução opondo à concepção indutivista da
investigação científica (que procura tornar verdadeiras as teorias) a
falsificação.
Contra o indutivismo e
A indução não é o método da ciência porque:
o verificacionismo
1°) Não podemos inferir as hipóteses da experiência como se houvesse
observações puras ou objetivas. Os cientistas deduzem consequências
observacionais das teorias e, submetendo essas predições ao confronto
com os factos, sujeitam as teorias a testes rigorosos. Não precisam da
indução para formar hipóteses.
86
A indução não nos pode dar certezas acerca da verdade das nossas teorias.
Por maior que seja o número de observações a favor de uma teoria obtida
por indução, esta pode sempre vir a revelar-se falsa. Mas podemos muitas
vezes ter a certeza da sua falsidade adotando um modelo hipotético
dedutivo que procura provar a falsidade e não a verdade de uma teoria.
Uma teoria diz-se corroborada quando resiste aos testes destinados a
falsificá-la.
Mas ser corroborada não significa dizer que a sua verdade foi provada nem
que é provável que seja verdadeira. Unicamente não foi refutada e
podemos continuar a trabalhar com ela, se não for posteriormente
desmentida ou se não encontrarmos uma melhor. A qualquer momento,
uma teoria pode ser refutada por novos testes. O máximo que se pode dizer
de uma teoria científica é que, até a um dado momento, ela resistiu aos
testes usados para refutá-la.
A ciência progride mediante o método das conjeturas e refutações.
RESPOSTAS
1. O que caracteriza o conhecimento vulgar?
O conhecimento vulgar ou senso comum é um conjunto de conhecimentos fundado na
experiência concreta de cada ser humano. Este conhecimento constata regularidades
empíricas no funcionamento do mundo e com elas constrói soluções eminentemente práticas,
que permitem responder aos problemas do dia a dia sem quaisquer preocupações com
explicações teóricas baseadas em métodos específicos.
11. Que diferença existe entre uma teoria falsificada e uma teoria falsificável?
Uma teoria falsificável ou refutável é uma teoria que tem a propriedade (uma importante
propriedade, na perspectiva de Popper) de poder ser sujeita a testes empíricos que a possam
refutar. Uma teoria falsificada ou refutada é uma teoria que já se provou ser falsa, isto é, que
foi sujeita a testes e não resistiu.
(…) O homem é capaz de produzir em laboratório outro homem que, portanto, já não
seria dom de Deus nem da natureza. Pode-se fabricar e, da mesma forma que se fabrica,
pode-se destruir… se esse é o poder do homem, então ele está convertendo numa ameaça
mais perigosa que as armas de destruição em massa (...).
(fonte: Pablo Blanco. J. Ratzinger. Uma biografia. Ed. Quadrante, SP, 2005, p. 253-254)
O paradigma cartesiano-newtoniano que fundamenta a pesquisa científica desde o
século XVII estendeu-se, a partir da física clássica, aos diferentes campos do conhecimento,
incluindo a Biologia e as Ciências Sociais e Humanas. O modelo biomecânico decorrente
dessa visão positivista é alicerçado na especialização, fragmentação e avanços tecnológicos.
A metáfora do universo como uma grande máquina, um imenso relógio, cuja totalidade é a
soma das partes, foi o grande trunfo desse paradigma. Ao adotar-se essa metáfora em relação
aos seres vivos, incluindo os seres humanos, estabeleceu-se o modelo biomédico de ensino
e de prática da medicina, que predomina na atualidade.
Neste modelo biomédico de ensino deixou-se de contemplar as dimensões sutis do ser
humano, as quais, por milênios, foram consideradas importantes no que concerne à forma
como os indivíduos adoecem e aos processos de cura1. Além disso, na atualidade, comparar-
se o médico a um mecânico que repara as partes avariadas do corpo humano não chega causar
estranheza entre profissionais de saúde e leigos (...). Não podemos negar que o modelo
biomédico assegurou a diminuição de grande parte do sofrimento humano decorrente de
doenças e traumas e ainda mantém a promessa de que todos os problemas médicos têm ou
terão, em curto prazo, uma solução propiciada pelo vertiginoso progresso científico, visão
essa constantemente veiculada nos meios de comunicação, o que faz com que os leigos
também valorizem e coloquem todas suas esperanças nesse estilo de prática da medicina.
Todavia, profissionais e usuários dos sistemas de saúde em todo o mundo têm
consciência de que muitas promessas jamais poderão ser cumpridas e sentem que algo está
faltando. Este modelo fracassa, por exemplo, especialmente nas questões em que a
tecnologia não pode mais prover soluções definitivas, como é o caso dos cuidados paliativos
(...). A fragmentação da profissão e a ênfase na tecnologia tiveram um efeito muito sério,
que é a deterioração do relacionamento médico-paciente, sendo que este foi – e sempre será
– a base de uma boa prática da medicina (...). Na verdade, o que o paciente quer é ser cuidado
por alguém que, além de competência técnica, saiba entendê-lo como um ser humano com
sentimentos, que busca uma explicação para sua enfermidade e que anseia por respeito e amparo em
seu sofrimento (...). 1(fonte: De Benedetto MAC, Gallian DMC. The narratives of medicine and nursing students: the
concealed curriculum and the dehumanization of health care. Interface (Botucatu). 2018; 22(67):1197-207).
93
XI Cientificismo e negacionismo
https://pt.aleteia.org/2022/03/27/da-covid-ao-aborto-uma-reflexao-sobre-ciencia-cientificidade-e-ideologia/
(...)
Infelizmente, muitos de nós temos sido levados a uma oposição sistemática a tudo que
os organismos internacionais defendem. Paralelamente, tem levado também a um certo
“negacionismo” em relação aos dados científicos, como se nenhuma conclusão emanada da
comunidade científica tivesse valor e pudéssemos escolher a “verdade científica” que mais
nos agrada – geralmente aquela defendida pelos que pensam como nós.
Na pandemia de Covid-19, essa questão levou muitas vezes a um enfrentamento
ideológico entre os partidários de diferentes estratégias de saúde pública. A expressão
“baseado em evidências científicas” parecia legitimar qualquer coisa para uns e não
significar nada para outros. A desconfiança de um cientista contrário à OMS teria mais peso
do que o posicionamento da maioria esmagadora da comunidade científica e dos
mecanismos de validação adotados pelas publicações da área. Negacionismo e cientificismo
são reduções ideológicas que não nos permitem contemplar a realidade tal qual ela se
apresenta. Nenhum deles corresponde a uma busca honesta pela verdade.
A boa ciência reconhece que não está buscando a Verdade, como deve acontecer com
a reflexão filosófica ou teológica. Sua pretensão é bem menor: quer apenas conhecer os
fenômenos e sua dinâmica. Nesse sentido, produz apenas conhecimentos transitórios e
relativos, destinados a ser superados quando outros novos permitirem uma compreensão
melhor da realidade. Conclusões científicas têm sempre uma probabilidade de estarem certas
ou erradas. Contudo, a comunidade científica desenvolveu, com o tempo, procedimentos
para verificar quais teorias são mais plausíveis. Podemos constatar, pelo aumento constante
de nossos conhecimentos sobre o universo e de nosso domínio tecnológico sobre a matéria,
que tais verificações são confiáveis. Não é mais possível pensar numa visão realista do
mundo sem os dados produzidos pela ciência.
O conhecimento científico, porém, pode apenas dar subsídios para decisões éticas –
ele não fornece a sabedoria necessária para a tomada dessas decisões. Por exemplo, a ciência
mostra que o gênero, enquanto construção social e psicológica, pode ser diferente do sexo
biológico de um indivíduo; pode estudar os mecanismos que levaram a essa fratura entre
gênero e sexo, bem como suas consequências para a pessoa e a vida em sociedade. Contudo,
não pode dizer qual a melhor maneira de cada um viver a própria sexualidade. A ciência
94
fornece informações importantes para a tomada das decisões éticas, mas é falacioso imaginar
que nossas decisões vêm da ciência exclusivamente.
No caso da pandemia, a ciência pode nos dizer que uma vacina diminui a probabilidade
de morrermos de Covid-19, mas não nos diz que devemos tomá-la. A decisão de tomar a
vacina parte de uma opção ética pela defesa da nossa vida e das pessoas que amamos, ou
pelas quais somos parcialmente responsáveis (no caso dos gestores públicos). Uma pessoa
pode não querer tomar vacina alegando outros imperativos morais, medo ou por seguir a
opinião divergente de um determinado médico. Não poderá negar, contudo, que os resultados
alcançados pela ciência indicam que, até aqui, a vacina é a melhor defesa contra a Covid-19.
No caso do aborto, a ciência pode mapear o número de abortos ilegais e mortes deles
decorrentes em uma sociedade, pode estudar as consequências psicológicas tanto de realizar
quanto de não realizar o aborto etc. – mas não pode responder à pergunta “aquela mãe será
mais feliz abortando ou não abortando?”. A ciência também mostra, de forma cristalina, que
a partir da concepção temos um novo ser humano, com características genéticas e
individualidade diferente daquela da mãe – mas reconhecer que todo ser humano é uma
pessoa com dignidade e direitos inalienáveis é uma decisão filosófica e política, não
científica… Diga-se de passagem, não deixa de ser irônico que numa época em que tanto se
defende a dignidade e os direitos de todos, não reconheçamos a dignidade e o direito à vida
em nossos próprios filhos…
Superar positivamente as posições ideológicas.
Para superar tanto o cientificismo quanto o negacionismo, é necessário reconhecer
tanto a força quanto a relatividade da ciência. Nem sempre as teorias científicas
correspondem ao que acontece na realidade, mas são relativamente raros os casos em que
uma conclusão assumida pela comunidade científica internacional não se demonstre válida
ao longo do tempo. Por outro lado, a ciência nos diz como as coisas funcionam, mas não nos
dize o que fazer. Decisões éticas ou políticas devem ser tomadas utilizando-se a informação
científica disponível, mas seguindo critérios de discernimento que nascem de uma visão
integral da pessoa e da sociedade.
Quando organismos internacionais incorrem em posições que nos parecem desumanas,
como a defesa do aborto, a oposição incondicional a tudo o que dizem é uma postura
anticristã (porque não considera as ocasiões em que tomam posições justas e defendem o
bem comum) e ineficiente em termos de política cultural. A oposição incondicional facilita
a integração entre os que pensam igual, mas dificulta o diálogo e o convencimento dos que
estão em dúvida, que acabam optando pelo lado oposto, que passa a ser visto como mais
95