Aspectos Polêmicos Da Responsabilidade Objetiva
Aspectos Polêmicos Da Responsabilidade Objetiva
Aspectos Polêmicos Da Responsabilidade Objetiva
Elaborado em 09/2003.
1. INTRODUÇÃO.
A antiga tendência, hoje já consagrada, de não se permitir que a vítima de atos ilícitos
deixe de ser ressarcida dos prejuízos que lhes são causados, evoluiu, sobremaneira, com
o advento do atual Código Civil brasileiro.
Amenizou-se, com o novo diploma, a falta de sistematização com que o Código Civil de
1916 tratou do instituto da responsabilidade civil, que a ele dedicou reduzido número de
dispositivos, talvez porque, à época da sua elaboração, esse direito obrigacional ainda não
era muito difundido.
Com efeito, o antigo código, no seu art. 159, limitou-se a estabelecer que: "Aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo
a outrem, fica obrigado a reparar o dano. A verificação da culpa e a avaliação da
responsabilidade regulam-se pelo disposto neste Código, arts. 1518 a 1.532 e 1.537 a
1.553".
Chegou com atraso, todavia, a norma expressa no art. 186 do Código Civil de 2002, que
inseriu a garantia de reparação do dano "ainda que exclusivamente moral", no atual
estágio da jurisprudência brasileira, onde há muito não se contesta a reparabilidade do
dano moral.
Aliás, diante da rápida e extensa expansão que vem experimentando o dano moral, nos
últimos anos, pode-se verificar, com efeito, que o dano patrimonial era normalmente mais
freqüente em demandas judiciais do que o dano extrapatrimonial, realidade que, hoje, sem
qualquer incerteza, foi invertida.
Por isso mesmo, ao que nos parece, deixou o legislador se esvair a oportunidade de
prever, por exemplo, alguns parâmetros para disciplinar a extensão e os contornos do
dano moral, bem como a sua liquidação, o que se constitui numa flagrante omissão,
sobretudo porque o debate sobre o dano moral centra-se, hoje, menos na sua
reparabilidade e mais na sua quantificação.
Assim, persuadido de que o nosso Código Civil, novamente, relegou a tarefa de dissipar
essas e outras omissões, e conceitos, à doutrina e à jurisprudência, é que cuidamos de
analisar a matéria, com a esperança de fornecer alguma contribuição, ainda que singela,
para o estudo da responsabilidade civil à luz da nova codificação, mormente no que
concerne a "alguns aspectos problemáticos da responsabilidade civil objetiva", tema
central deste artigo.
Feito esse intróito, convém, para bem entendermos o tema em estudo, tecer algumas
breves considerações sobre as noções gerais da responsabilidade civil.
No Direito romano não houve construção de uma teoria da responsabilidade civil. Não se
pode desprezar, todavia, a contribuição dos romanistas para a evolução histórica desse
instituto, que foi, à época, desenvolvido no desenrolar de casos de espécie, decisões de
juízes e pretores, respostas de jurisconsultos e constituições imperiais, de onde foram
extraídos princípios e sistematizados conceitos.
É na Pena do Talião, com a visão do delito do Direito Romano, pois, que se encontra o
berço da responsabilidade civil, a qual evoluiu sensivelmente com o advento da Lei das XII
Tábuas, que fixou o valor da pena a ser paga pelo ofensor ao ofendido.
Maior evolução do instituto ocorreu, porém, com a Lex Aquilia, que deu origem à
denominação da responsabilidade civil delitual ou extracontratual, ou seja, a chamada
responsabilidade civil aquiliana, já referida.
A concepção de pena foi, então, aos poucos, sendo substituída pela idéia de reparação do
dano sofrido, finalmente incorporada ao Código Civil de Napoleão, que exerceu grande
influência no Código Civil brasileiro de 1916.
Por outro lado, em 1966, o Supremo Tribunal Federal admitiu, pela primeira vez, a
reparação do dano moral [6], embora a jurisprudência tenha continuado hesitante até 1988,
quando, por força de texto constitucional expresso, a reparabilidade do dano moral tornou-
se incontestável (CF, art. 5°, V e X).
Já agora, o nosso ordenamento jurídico reconhece, expressamente, tanto a
responsabilidade subjetiva (estribada na culpa), quanto a responsabilidade objetiva
(independente de culpa).
Por derradeiro, o Código Civil brasileiro de 2002, conquanto repetindo, em grande parte,
ipsis litteris, alguns dispositivos do código de 1916, e corrigindo a redação de outros,
consagrou a responsabilidade civil objetiva no parágrafo único do art. 927 e previu, no art.
186, a reparação do dano exclusivamente moral.
Essa sinótica definição parece abranger, com elevado rigor doutrinário, as diversas
hipóteses de obrigação de indenizar decorrentes da responsabilidade civil, seja ela
subjetiva ou objetiva.
4. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA E RESPONSABILIDADE
OBJETIVA.
Diz-se subjetiva a responsabilidade quando se baseia na culpa do agente, que deve ser
comprovada para gerar a obrigação indenizatória. A responsabilidade do causador do
dano, pois, somente se configura se ele agiu com dolo ou culpa. Trata-se da teoria
clássica, também chamada teoria da culpa ou subjetiva, segundo a qual a prova da culpa
lato sensu (abrangendo o dolo) ou stricto sensu se constitui num pressuposto do dano
indenizável.
Conclui-se, assim, que a variação dos sistemas da obrigação indenizatória civil se prende,
precipuamente, à questão da prova da culpa, ao problema da distribuição do ônus
probatório, sendo este o centro em que tem gravitado a distinção entre a responsabilidade
civil subjetiva e a responsabilidade civil objetiva.
Assentado o princípio, universalmente aceito, de que todo aquele que causar dano a
outrem é obrigado a repará-lo, cabe-nos agora analisar, em linhas gerais, os pressupostos
ou elementos básicos da responsabilidade civil.
O art. 186 do Código Civil de 2002 (art. 159 do CC-1916) estabelece que:
Entretanto, persuadido de que o nosso direito positivo não só admitiu, como priorizou
muito mais, a idéia de responsabilidade civil sem culpa, ou seja, a responsabilidade civil
objetiva, não podemos aceitar a culpa ou dolo do agente como pressuposto ou elemento
essencial da responsabilidade civil.
Hoje, com a evolução do nosso Direito Civil, já não se admite a ultrapassada concepção
de que a responsabilidade civil está sempre interligada à culpa. Ao contrário, ao menos em
termos quantitativos, o que se verifica é a predominância de demandas judiciais
indenizatórias fundadas em responsabilidade sem culpa. Caiu por terra, portanto, a idéia
de que a responsabilidade subjetiva é a regra e a responsabilidade objetiva a exceção.
"A culpa, portanto, não é um elemento essencial, mas sim acidental, pelo que reiteramos
nosso entendimento de que os elementos básicos ou pressupostos gerais da
responsabilidade civil são apenas três: a conduta humana (positiva ou negativa), o dano
ou prejuízo, e o nexo de causalidade...". [9]
Desta forma, conforme bem observou a culta professora JEOVANNA VIANA ALVES, em
sua excelente tese de doutoramento, "a responsabilidade civil não pode assentar
exclusivamente na culpa ou no risco, pois sempre existirão casos em que um destes
critérios se revelará manifestamente insuficiente. A teoria do risco não vem substituir a
teoria subjectiva, mas sim completá-la, pois, apesar dos progressos da responsabilidade
objetiva, que vem ampliando seu campo de aplicação, seja através de novas disposições
legais, seja em razão das decisões dos nossos tribunais, por mais numerosas que sejam,
continuam a ser exceções abertas ao postulado tradicional da responsabilidade
subjectiva". [11]
Ainda assim, por questões didáticas, nos permitiremos evitar uma análise mais
aprofundada da responsabilidade civil subjetiva, porquanto o âmago deste trabalho está na
responsabilidade objetiva, qual seja, aquela que é imposta por lei independentemente de
culpa e sem a necessidade de sua presunção.
A conduta humana, como pressuposto da responsabilidade civil, "vem a ser o ato humano,
comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio
agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem,
gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado". [13]
À luz dessa definição, constata-se que a responsabilidade decorrente de ato ilícito baseia-
se na idéia de culpa, enquanto que a responsabilidade sem culpa (objetiva) funda-se no
risco.
Por outro lado, essa conduta, positiva ou negativa, passível de responsabilidade civil pode
ser praticada: a) pelo próprio agente causador do dano; b) por terceiros, nos casos de
danos causados pelos filhos, tutelados, curatelados (art. 932, I e II), empregados (art. 932,
III), hóspedes e educandos (art. 932, IV); e, ainda, c) por fato causado por animais e
coisas que estejam sob a guarda do agente (art. 936).
5.2. Dano.
Com precisão, SÉRGIO CAVALIERI FILHO, citado por Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo
Pamplona Filho, salientou que:
"O dano é, sem dúvida, o grande vilão da responsabilidade civil. Não haveria que se falar
em indenização, nem em ressarcimento, se não houvesse dano. Pode haver
responsabilidade sem culpa, mas não pode responsabilidade sem dano. Na
responsabilidade objetiva, qualquer que seja a modalidade do risco que lhe sirva de
fundamento – risco profissional, risco proveito, risco criado etc. -, o dano constitui o seu
elemento preponderante. Tanto é assim que, sem dano, não haverá o que reparar, ainda
que a conduta tenha sido culposa ou até dolosa". [14]
Assim, os tribunais têm reconhecido a existência de dano moral não apenas nas ofensas à
personalidade, mas também sob forma de dor, sofrimento e angústia. Há "situações em
que a frustração, o incômodo ou o mero aborrecimento é invocado como causa suficiente
para o dever de indenizar". [15]
6. ATIVIDADE DE RISCO.
"Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,
nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida
pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem".
(grifos nossos)
No parágrafo único, diversamente, se, por um lado, laborou com acerto o legislador, ao
consagrar a responsabilidade civil objetiva, independentemente de culpa, noutro, não
andou bem, quando introduziu na codificação o conceito aberto de atividade de risco,
transferindo para os magistrados e doutrinadores a tarefa de definir o que efetivamente
vem a ser atividade de risco, apta a justificar a obrigação de reparar o dano.
Parece ter passado despercebido pelo legislador que a falta de delimitação do conceito de
atividade de risco, por certo, ao menos até que a jurisprudência se pacifique – o que, sem
dúvida, demorará anos ou até décadas - dará ensejo a inúmeras decisões díspares,
causando, também, aumento significativo de demandas judiciais indenizatórios, a serem
apreciadas nos diversos juízos e tribunais, já tão avolumados de trabalho.
Com efeito, vaticinando esse problema, CARLOS ROBERTO GONÇALVES, assim previu:
"...a admissão da responsabilidade sem culpa pelo exercício de atividade que, por sua
natureza, representa risco para os direitos de outrem, da forma genérica como está no
texto, possibilitará ao Judiciário uma ampliação dos casos de dano indenizável". [17]
É bem verdade, como disse ANDERSON SCHREIBER, que a "história das codificações
mostra que um código consiste menos nas suas palavras, e mais no que sobre elas se
constrói. De fato, o conteúdo de um código é sempre dinâmico, no sentido de que suas
normas não são nunca dadas, mas construídas e reconstruídas dia-a-dia pelos seus
intérpretes". [18]
Feitos esses registros, cabe-nos, agora, a árdua tarefa de tentar compreender o sentido da
norma em análise, talvez o dispositivo mais polêmico do novo Código Civil.
Duas situações são verificadas: na primeira, a responsabilidade civil poderá ser
reconhecida, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei; e na segunda,
por sua vez, a responsabilidade civil poderá ser reconhecida, independentemente de
culpa, quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.
A outra, entretanto, é muito mais complexa. É onde nos deparamos com o conceito
demasiadamente aberto, ou melhor, a falta de conceituação da atividade de risco a que se
refere a norma.
c) O risco excepcional é aquele que escapa à atividade comum da vítima, ainda que
estranho ao trabalho que normalmente exerça, a exemplo dos casos de acidentes de rede
elétrica, exploração de energia nuclear, radioatividade etc.
d) Na teoria do risco criado, segundo o insigne mestre CAIO MARIO, citado por SERGIO
CAVALIERI FILHO, "aquele que, em razão de sua atividade ou profissão, cria um perigo,
está sujeito à reparação do dano que causar, salvo se houver adotado todas as medidas
idôneas a evitá-lo" (Responsabilidade civil, 3ª ed., Forense, 1992, p. 24) [20]. Diferem as
teorias do risco-proveito e a do risco criado ao passo em que, nesta última, não se
correlaciona o dano a um proveito ou vantagem do agente.
e) Por fim, a teoria do risco integral é uma modalidade extremada da doutrina do risco,
porquanto nela se dispensa até mesmo o nexo causal para justificar o dever de indenizar,
que se faz presente somente em razão do dano, ainda que nos casos de culpa exclusiva
da vítima.
À luz dessa conceituação, poder-se-á entender por atividade de risco, apta a justificar a
obrigação indenizatória, aquela empreendida habitualmente pelo agente causador do dano
com fins lucrativos, como meio de vida ou como profissão. A freqüência da prática da
atividade e a sua finalidade lucrativa induzem à previsibilidade, ou probabilidade, do risco
para direitos de outrem.
Com o liame entre a atividade normalmente desenvolvida pelo agente com fins lucrativos -
conduta humana, e o dano, além do nexo de causalidade, é que se justificaria o dever de
indenizar, ainda que inexistente a ilicitude ou a culpa.
É essa, ao que nos parece, a melhor hermenêutica da norma inserta na segunda parte do
polêmico parágrafo único do art. 927, do novo Código Civil. Todavia, por certo, a amplitude
desse dispositivo somente será delimitada pela jurisprudência, após o aprofundado exame
dos casos concretos que serão submetidos à apreciação dos julgadores, o que, como já
dito, demandará muito tempo.
Dir-se-ia, então, ao contrário senso, que todo ato danoso praticado no exercício de
atividade profissional, com fins lucrativos - portanto, seria indenizável.
O que dizer, por exemplo, da atividade médica? Sem sombra de dúvida, o médico, assim
como o dentista, o enfermeiro, o farmacêutico etc., exerce atividade de risco. O dano
decorrente do exercício de sua profissão seria indenizável, independentemente de
comprovação de culpa?
Poderá o juiz, por exemplo, numa ação judicial escorada na responsabilidade civil
subjetiva, onde a culpa não resultou comprovada, condenar o agente causador do dano a
indenizar a vítima, fundamentando a sua decisão na ocorrência da responsabilidade civil
objetiva?
Poderá o julgador, nesse caso, julgar procedente o pedido de reparação de danos, com
fulcro na segunda parte do parágrafo único do art. 927, do Código Civil, ou seja, com base
na responsabilidade civil objetiva?
Ora, conforme determina o art. 282, inciso III, do Código de Processo Civil, insta ao autor
expor na petição inicial os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido, sendo que na
fundamentação está a causa de pedir.
"É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem
como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi
demandado".
Da inteligência das disposições processuais transcritas, extrai-se que, ainda que durante a
instrução do processo resulte comprovado o nexo de causa e efeito entre a conduta, o
risco e o evento danoso, se a pretensão do autor não se fundamentou no risco, mas sim
na culpa, não há que se falar em responsabilidade objetiva do agente causador do dano.
Por conseguinte, no nosso entender, não poderá o juiz, numa ação judicial fundamentada
exclusivamente na responsabilidade civil subjetiva, condenar o agente causador do dano a
indenizar a vítima com base na ocorrência da responsabilidade civil objetiva, sob pena de
nulidade da sentença.
a) danos causados por demanda de dívida inexigível (arts. 939 a 941 do CC-02 e art. 42
do CDC);
No entanto, a regra básica de Direito Civil para a mensuração do quantum debeatur está
expressa no art. 944, do novo código, que dispõe:
O caput do artigo transcrito é muito claro. A indenização deve ser medida de acordo com a
extensão do dano. Se o prejuízo é de "X", compreendendo o dano emergente e o lucro
cessante, a indenização terá de ser também de "X".
O problema está no parágrafo único desse artigo. Como poderá o juiz considerar a
gravidade da culpa para fixar o valor indenizatório na hipótese de responsabilidade civil
objetiva, que independe de culpa?
Comentando esse dispositivo legal, RUI STOCO, citado por Pablo Stolze Gagliano e
Rodolfo Pamplona Filho, assim expressou a sua preocupação: "Também o parágrafo único
desse artigo, segundo nos parece, rompe com a teoria da restitutio integrum ao facultar
ao juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização se houver ‘excessiva desproporção entre a
gravidade da culpa e o dano’. Ao adotar e fazer retornar os critérios de graus da culpa
obrou mal, pois o dano material não pode sofrer influência dessa gradação se comprovado
que o agente agiu culposamente ou que há nexo de causa e efeito entre a conduta e o
resultado danoso, nos casos de responsabilidade objetiva ou sem culpa. Aliás, como
conciliar a contradição entre indenizar por inteiro quando se tratar de responsabilidade
objetiva e impor indenização reduzida ou parcial porque o agente atuou com culpa leve, se
na primeira hipótese sequer se exige culpa? [22]
Assim, a primeira vista, deduz-se que o parágrafo único do art. 944, do Código Civil,
somente será aplicado nos casos de responsabilidade subjetiva, onde a comprovação da
culpa é imprescindível para gerar o dever de indenizar. Se inexistir culpa na conduta do
agente causador do dano, por óbvio, não poderá haver a sua gradação no momento da
fixação do valor indenizatório.
Buscando suprir essa lacuna, e defendendo o caráter punitivo da indenização por danos
morais, ao adotar a teoria do "valor do desestímulo", o Projeto de Lei n. 6.960/2002, que
altera dispositivos do novo Código Civil, acrescenta um segundo parágrafo ao artigo 944,
in verbis: "§ 2° A reparação do dano moral deve constituir-se em compensação ao lesado
e adequado desestímulo ao lesante". O quantum indenizatório, portanto, compreenderia,
também um valor capaz de dissuadir a prática e a reiteração do ato ou fato que gerou o
dano.
Tratando dos critérios valorativos do dano moral, MARIA CELINA BODIM DE MORAES,
lembrou que o "STJ, de modo especial nos votos do Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira,
tem sustentado sistematicamente que, na fixação do quantum reparatório, devem ser
considerados os seguintes critérios objetivos: a moderação, a proporcionalidade, o grau de
culpa, o nível socioeconômico da vítima e o porte econômico do agente ofensor. No
espaço de maior subjetividade, estabelece, ainda, que o juiz deve calcar-se na lógica do
razoável, valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e às
peculiaridades de cada caso." [23]
Para fixar o valor da indenização decorrente de dano moral, portanto, deve o juiz observar
os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, de modo que ela se constitua em
compensação ao lesado e sirva de desestímulo ao agente causador do dano.
9. CONCLUSÃO.
Como dito, essas são apenas algumas indagações que serão suscitadas acerca da
atividade de risco de que trata o parágrafo único do art. 927, do novo Código Civil. Outras
controvérsias pertinentes à responsabilidade objetiva, por certo, irão surgir ao longo do
tempo.
Qualquer comentário que se faça, hoje, acerca da nossa nova codificação será puramente
doutrinário e sem o balizamento jurisprudencial.
Caberá à doutrina e aos tribunais, portanto, interpretar o novo Código Civil e dele extrair
preceitos que auxiliem na superação das questões polêmicas de suas inovações.
BIBLIOGRAFIA
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STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua Interpretação Jurisprudencial. 4.ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1999.
Notas
1
A expressão "responsabilidade aquiliana" tomou da Lei Aquília (Lex Aquilia) o seu nome
característico, pois nela é que se esboça o princípio geral regulador da reparação do dano.
2
Gonçalves, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 2.
3
Gagliano, Pablo Stolze e Pamplona Filho, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. São
Paulo:Saraiva, 2003, v. 3, p. 10
4
Santana, Heron José. Responsabilidade Civil por Dano Moral ao Consumidor. Minas
Gerais: Edições Ciência Jurídica, 1997, p. 4.
5
Silva, Wilson Melo da. O Dano Moral e sua Reparação. Rio de Janeiro: Revista Forense,
1955.
6
RTJ – 39/38-44.
7
Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. 15 ed. São
Paulo: Saraiva, 2001, v. 7, p.34.
8
Dias, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1944. v. 1. pp.
94-95.
9
Gagliano, Pablo Stolze e Pamplona Filho, Rodolfo, ob. cit., p. 29.
10
Pereira, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil, Rio de Janeiro: Forense, 1997,
v. 5, 11ed., p. 391.
11
Alves, Jeovanna Viana. Responsabilidade Civil dos Pais Pelos Actos dos Filhos
Menores. Editora Renovar, biblioteca de teses, 2003.
12
Venosa, Sílvio de Salvo, A Responsabilidade Objetiva no Novo Código Civil. Artigo
disponível no site www. Societario.com.br, doutrina.
13
Diniz, Maria Helena, ob. cit., p.37.
14
Gagliano, Pablo Stolze e Pamplona Filho, Rodolfo, ob. cit., p. 40.
15
Schreiber, Anderson. Arbitramento do Dano Moral no novo Código Civil. RTDC. Rio de
Janeiro: Padma, 2002, v. 12., p. 4-5.
16
"O direito civil atual, repita-se, já não se limita a regular de forma neutra as relações
jurídicas entre particulares, tendo adquirido um cunho eminentemente social, fulcrado na
nova ordem constitucional, a qual se erige em fonte maior da matéria. As normas
constitucionais, principalmente os artigos que estabelecem os valores e princípios
fundamentais da Constituição de 1988, não se constituem em princípios gerais do direito,
cujo papel de integração do ordenamento depende da inexistência de lei ou costume;
antes, são direito positivo, no vértice do ordenamento e se aplicam diretamente a todas as
relações havidas no seio da coletividade". (Carlos Edison do Rego Monteiro Filho.
Problemas de responsabilidade civil do Estado. RTDC. Rio de Janeiro: Padma, 2002, v.
11., p. 37).
17
Gonçalves, Carlos Roberto, ob. cit., p. 25.
18
Schreiber, Anderson. ob. cit., p. 3.
19
Cavalieri Filho, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 4 ed. São Paulo: Malheiros,
2003, pp. 146/147.
20
Pereira, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 3. ed. Forense, 1992, p.24. Apud
Cavalieri Filho, Sérgio, ob. cit., p.148.
21
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio do Século XXI.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
22
Rui Stoco, Tratado de Responsabilidade civil – Responsabilidade Civil e sua
Interpretação Jurisprudencial, 5. ed. São Paulo: RT, 2001, p. 13. Apud Gagliano, Pablo
Stolze e Pamplona Filho, Rodolfo, ob. cit., p. 161.
23
Moraes, Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana – Uma Leitura Civil-
Constitucional dos Danos Morais. Rio de Janeiro-São Paulo: Renovar, 2003, p. 290.