Un01.t04.filosofia Na Idade Moderna
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GERAL E
JURÍDICA
Cássio Vinícius
Filosofia do Direito
na Idade Moderna
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O período que marca a transição do período medieval para o período
moderno é chamado de Renascimento. Embora o Renascimento muitas
vezes seja apresentado apenas em função do seu legado cultural para
a humanidade, nas obras de arte de artistas como Leonardo da Vinci ou
em escritos de autores como William Shakespeare isso não passa de uma
parte da história. Tal legado cultural é, sobretudo, o produto, não a causa,
de uma verdadeira transformação da concepção filosófica na visão de
mundo do homem e do seu papel no contexto da existência, com impli-
cações para diversos campos do conhecimento, inclusive para o Direito.
Neste capítulo, você vai aprender sobre o Renascimento e algumas
das suas consequências filosóficas mais importantes, bem como sobre
a noção de Direito Natural originada em tal período.
Renascimento
Renascimento é o nome dado ao período da história que vai do final do século
XIV até o final século XVI. Esse período é caracterizado por uma revolução
cultural (cuja origem remonta a diversas cidades da península itálica) que
determina a transição da visão de mundo medieval para a visão de mundo mo-
derna, com transformações significativas na arte, economia, política, religião,
2 Filosofia do Direito na Idade Moderna
etc. Quanto a isso, antes de tudo, é importante que você saiba que, embora o
Renascimento represente uma ruptura com relação ao período medieval, tal
ruptura não é total e completa. Mesmo com os diversos contrastes entre ambos
os períodos, é possível encontrar diversas semelhanças e similaridades que
justificam a ideia de que há neles certa continuidade.
que a vida mundana não tem valor para a ideia de que essa vida tem valor, bem
como a compreensão de que o homem é, sobretudo, obra-prima da criação
divina. Quanto a isso, duas ideias são fundamentais: aquilo que comumente
chamamos de virada antropocêntrica renascentista e a sua proposta de
retorno ao mundo clássico. Vejamos cada uma das ideias.
Em 1469, Lorenzo de Médici (1449 d.C.–1492 d.C.) assumiu o controle dos bem-sucedidos
negócios da família no ramo bancário. Além de ser reconhecido como ótimo admi-
nistrador, multiplicando em muito o poder da família pela Europa, Lorenzo de Médici
também era reconhecido pelo modo peculiar com que desfrutava do seu dinheiro.
Ele acreditava que poderia usá-lo para promover a beleza e a verdade. Com o tempo, a
ideia de Lorenzo acabou por se propagar e a prática do mecenato passou a ser adotada
por diversos papas, pela nobreza e também pelos comerciantes abastados da época.
Assim, uma quantidade enorme de dinheiro pode ser investida na promoção da beleza
e do conhecimento humano. Graças a isso, o Renascimento pode florescer pela Europa.
Figura 3. O nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli. Obra feita para Lorenzo de Médici.
Fonte: Dias (2013).
6 Filosofia do Direito na Idade Moderna
obra prima da divindade. Assim, mesmo que não seja incorreto dizer que o
Renascimento pretendeu voltar aos clássicos sem a contaminação do pensa-
mento cristão, isso não significa dizer que os clássicos eram vistos de modo
puro, isto é, por si mesmos.
Para que você tenha uma ideia mais clara de algumas das mais importantes
implicações filosóficas do Renascimento, vamos ressaltar quatro pontos:
o naturalismo renascentista;
o racionalismo;
o hedonismo;
o individualismo.
No contexto do Renascimento, mesmo que a ideia de que existem verdades que vêm da
fé não tenha caído em completo descrédito, houve o início de um processo de eman-
cipação da razão sobre a fé e uma busca de explicações racionais acerca da realidade,
a despeito dos dogmas do cristianismo. Agora, se você soma isso com a tendência
humanista e naturalista do Renascimento, torna-se possível compreender o germe
de uma atitude que veio a desembocar no desenvolvimento das ciências modernas.
A Cidade de Deus é o lugar regido pela lei divina que contrasta com a cidade
dos homens, regida pela lei humana. A tarefa de incorporar a lei divina no
âmbito da lei humana é o que deve ser realizado pelo Direito. Ressalte-se que
se trata de uma tarefa dificílima. Na concepção tomista há uma lei eterna, uma
lei natural e uma lei humana. A lei eterna regula toda a ordem cósmica (céu,
estrelas, constelações etc.) e a lei natural é decorrente dessa lei eterna. Fica
claro nas duas concepções, sinteticamente resenhadas anteriormente, que a
lei superior (a divina, para Santo Agostinho, e a eterna, para São Tomás de
Aquino) emana de uma força sobre-humana, qual seja: Deus.
Leituras recomendadas
FERRAZ JÚNIOR, T. S. Introdução ao estudo do Direito: técnica, decisão dominação.
São Paulo: Atlas: 1990.
MORRIS, C. Os grandes filósofos do direito: leituras escolhidas em direito. São Paulo:
Martins Fontes, 2002.
REALE, M. Introdução à filosofia. São Paulo: Saraiva, 2015.
REALE, M. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
VILLEY, M. Filosofia do direito. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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