Artigos - Manifestacoes Orais e Diabetes

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Revista Eletrônica Acervo Saúde | ISSN 2178-2091

Manifestações orais em pacientes portadores do diabetes mellitus: uma


revisão narrativa

Oral manifestations in patients with diabetes mellitus: a narrative review

Manifestaciones orales en pacientes con diabetes mellitus: una revisión narrativa

Caroline Rodrigues Thomes1*, Jonata Leal dos Santos2, Lara Victória Dittz de Abreu Costa1, David
Wilkerson dos Santos Silva2, Elisama de Oliveira Mendes2, Wendel Chaves Carvalho3, Rafael
Oliveira de Paula2, Antonio Weynisson Felix Santana4, Ernandes Aparecido Santos5, Alfredo Carlos
Rodrigues Feitosa1.

RESUMO
Objetivo: Descrever as manifestações orais provenientes do diabetes mellitus. Revisão bibliográfica: O
diabetes mellitus é o distúrbio metabólico mais comum, causador de repercussões multiviscerais e
classificado em tipo 1 e tipo 2. Quando descontrolado pode gerar uma série de complicações renais, oculares
e vasculares e outras sistêmicas, incluindo manifestações orais, às quais podem atingir uma ocorrência de
80%. As lesões orais mais comuns incluem: xerostomia, cárie dentária, lesões periapicais, gengivite, doença
periodontal, candidíase oral, síndrome da ardência bucal, alterações no paladar, língua geográfica, líquen
plano oral e estomatite aftosa recorrente. O diabetes mellitus, assim como as suas complicações na cavidade
oral, na maioria das vezes pode ser prevenido principalmente por meio da prática de atividades físicas, do
controle da pressão arterial, dos níveis de colesterol, dos problemas emocionais, além da redução do peso
corporal, enquanto, o tratamento tem como finalidade principal, a manutenção do controle metabólico e
glicêmico do paciente. Considerações finais: A plena compreensão e o domínio do conhecimento da
fisiopatologia, das manifestações e do próprio manejo dos diferentes tipos de infecções orofaciais
relacionadas ao diabetes mellitus pelo endocrinologista e pelo cirurgião-dentista são essenciais para otimizar
o atendimento dos pacientes diabéticos.
Palavras-chave: Boca, Diabetes mellitus, Odontologia.

ABSTRACT
Objective: To describe oral manifestations from diabetes mellitus. Bibliographic review: Diabetes mellitus
is the most common metabolic disorder, causes multivisceral repercussions, and classified as type 1 and type
2. When uncontrolled it can generate a series of renal, ocular and vascular and other systemic complications,
including oral manifestations, which can reach an occurrence of 80%. The most common oral lesions include:
xerostomia, dental caries, periapical lesions, gingivitis, periodontal disease, oral candidiasis, burning mouth
syndrome, changes in taste, geographical tongue, oral lichen planus and recurrent aphthous stomatitis.
Diabetes mellitus, as well as its complications in the oral cavity, most of the time can be prevented mainly by
increasing the practice of physical activities, controlling blood pressure, cholesterol levels, emotional problems,
in addition to reducing the body weight, while the main purpose of treatment is to maintain the patient's
metabolic and glycemic control. Final considerations: Full understanding and knowledge of the
pathophysiology, manifestations and management of different types of orofacial infections related to diabetes
mellitus by the endocrinologist and dentist are essential to optimize the care of diabetic patients.
Key words: Mouth, Diabetes mellitus, Dentistry.

1 Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória – ES. *E-mail: carolthomesodonto@gmail.com


2 Faculdade Pitágoras, Imperatriz – MA.
3 Faculdade Pitágoras, São Luís – MA.
4 Centro Universitário Unileão, Juazeiro do Norte – CE.
5 Centro Universitário ITPAC, Araguaína – TO.

SUBMETIDO EM: 4/2021 | ACEITO EM: 4/2021 | PUBLICADO EM: 5/2021

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RESUMEN
Objetivo: Describir las manifestaciones bucales de la diabetes mellitus. Revisión bibliográfica: La diabetes
mellitus es el trastorno metabólico más común y causa repercusiones multiviscerales, clasificadas como tipo
1 y tipo 2. Cuando no se controla puede generar una serie de complicaciones renales, oculares, vasculares y
otras sistémicas, incluidas manifestaciones orales, que pueden llegar a ocurrencia del 80%. Las lesiones
orales más comunes incluyen: xerostomía, caries dental, lesiones periapicales, gingivitis, enfermedad
periodontal, candidiasis oral, síndrome de boca ardiente, cambios en el gusto, lengua geográfica, liquen plano
oral y estomatitis aftosa recurrente. La diabetes mellitus, así como sus complicaciones en la cavidad bucal, la
mayoría de las veces se puede prevenir principalmente aumentando la práctica de actividades físicas,
controlando la presión arterial, los niveles de colesterol, problemas emocionales, además de reducir el peso
corporal, mientras que los principales El propósito del tratamiento es mantener el control metabólico y
glucémico del paciente. Consideraciones finales: La comprensión y el conocimiento completo de la
fisiopatología, las manifestaciones y el manejo de los diferentes tipos de infecciones orofaciales relacionadas
con la diabetes mellitus por parte del endocrinólogo y el dentista son esenciales para optimizar la atención de
los pacientes diabéticos.
Palabras clave: Boca, Diabetes mellitus, Odontología.

INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus é um dos distúrbios metabólicos mais comuns e causador de repercussões


multiviscerais. É caracterizado pela presença de um quadro de hiperglicemia crônica que pode ser
desencadeado por deficiência de secreção de insulina, por uma resistência à ação da insulina ou pelas duas
simultaneamente, podendo ser acompanhada também pela presença de alterações metabólicas referentes
ao metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios (NAZIR MA, et al., 2018; ROHANI B, 2019; MAURI-
OBRADORS E, et al., 2017; TERNOIS MGM, 2017; SOUSA M, et al., 2011).
A intensidade das complicações diabéticas geralmente acompanha o grau e a duração da hiperglicemia
em proporcionalidade. Quando descontrolada, pode gerar uma série de complicações renais, oculares e
vasculares, sendo que os sintomas mais comumente encontrados nos portadores de diabetes mellitus
incluem: quadros de polidipsia, poliúria-nictúria, polidipsia associada à xerostomia, polifagia, hálito cetônico,
cãibras e emagrecimento rápido (ROHANI B, 2019; YAMASHITA JM, et al., 2013).
O número de pessoas portadoras de diabetes aumentou consideravelmente de 108 milhões em 1980 para
422 milhões em 2014. A prevalência geral de diabetes entre adultos maiores de 18 anos aumentou, portanto,
de 4,7% em 1980 para 8,5% em 2014 e a Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que isso aumente até
cerca de 439 milhões, quase 10% dos adultos em 2030 (WHO, 2020).
As duas formas mais comuns de classificação da doença são o diabetes mellitus tipo I e o tipo II. Além
dessas, existem outras menos frequentes, mas, que são igualmente importantes clinicamente: diabetes
gestacional, diabetes associado a medicamentos; associado às doenças do pâncreas, como a fibrose cística;
relacionado às infecções, como a rubéola congênita e outras relacionadas às síndromes genéticas (PRADO
BN e VACCAREZZA G, 2013).
De etiologia autoimune, o diabetes mellitus tipo I, conhecido também como diabetes mellitus
insulinodependente se caracteriza pela diminuição da secreção da insulina devido à destruição das células
beta das ilhotas de Langherans pancreáticas que frequentemente leva à perda completa de insulina. Ocorre
principalmente nos pacientes pediátricos e constitui de 5% a 10% de todos os casos de diabetes mellitus
(NAZIR MA, et al., 2018; FARAG AM, et al., 2017; YAMASHITA JM, et al., 2013; PRESHAW PM e BISSETT
SM, 2019).
O diabetes mellitus tipo II, tipo mais comumente encontrado (90% dos casos de DM) e relacionado à
fatores genéticos e ambientais, é caracterizado pela resistência dos tecidos periféricos à insulina. Assim, o
organismo é incapaz de utilizá-la, mesmo com a presença dela no corpo. Essa forma também é conhecida
como diabetes mellitus não insulinodependente e, ocorre principalmente em adultos após os 40 anos de

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idade, sendo normalmente associada a um estilo de vida do tipo sedentário (YAMASHITA JM, et al., 2013;
SOUSA M, et al., 2011; SOBRINHO KN, et al., 2014; PRESHAW PM e BISSETT SM, 2019).
Tanto o diabetes mellitus tipo I quanto o diabetes mellitus tipo II apresentam inúmeras complicações em
longo prazo. Com repercussões multiviscerais, a mucosa oral e elementos dentários também constituem alvos
dessa doença metabólica. As manifestações orais são dependentes do controle glicêmico do paciente e,
mesmo aqueles que possuem uma boa higiene oral estão sujeitos às lesões, uma vez que a frequência de
ocorrência delas pode chegar a 80%. As complicações orais nesses indivíduos podem estar relacionadas à
função neutrofílica deficiente, aumento de atividade da colagenase, redução da síntese de colágeno,
microangiopatia e neuropatia (MAURI-OBRADORS E, et al., 2017; PRADO BN e VACCAREZZA G, 2013;
ROHANI B, 2019).
A hiperglicemia prolongada, característica do DM, além de gerar alterações sistêmicas, pode alterar a
função das glândulas salivares e pode causar mudanças na composição e no volume de saliva secretada
(CARRAMOLINO-CUÉLLAR E, et al., 2018). Esta hipofunção da glândula salivar se deve a várias causas,
como infiltração gordurosa, desidratação causada por poliúria, doença microvascular, inflamação local,
irritação da cavidade bucal, distúrbios metabólicos e neuropatias, e, além disso, esta hipofunção aumenta o
risco de cárie, doença periodontal, saburra lingual, halitose e candidíase oral (CARRAMOLINO-CUÉLLAR E,
et al., 2018).
A hiperglicemia não controlada provoca alterações vasculares no fluxo sanguíneo e no aumento da
permeabilidade com efeitos microvasculares ou macrovasculares reconhecidas nas doenças periodontais
(YAMUNADEVI A, et al., 2014).
Considerando a relevância do conhecimento sobre as complicações orais do diabetes mellitus e de suas
terapêuticas, o objetivo da presente pesquisa é realizar uma consulta às bases de dados PubMed e Google
Scholar sobre as manifestações orais mais comuns ocasionadas pelo diabetes mellitus a fim de enfatizar a
atenção dos cirurgiões-dentistas e dos médicos no diagnóstico precoce dessa doença.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Diagnóstico
O diagnóstico da diabetes mellitus para muitos pacientes têm um impacto psicossocial, ou seja, causa
ansiedade, depressão, falta de energia, disfunções sexuais, dificuldades no trabalho e sensação de solidão.
Então, para o paciente esse momento é importante, uma vez que marca uma nova etapa, a qual exige estilo
de vida saudável, controle de peso e medicações. Entretanto, esse processo é extremamente necessário para
o alcance da saúde e bem-estar do assistido; e deve ser precoce, eficaz e sustentado para prevenir
complicações crônicas e evitar efeitos deletérios no metabolismo. A realização do procedimento de
rastreamento do diabetes mellitus deve ser feito em todo paciente com superioridade a 45 anos de idade
acerca de cada 3 anos, ou ainda mais precocemente e mais frequentemente em indivíduos assintomáticos
quando os mesmos apresentarem a existência de fatores de risco para o desenvolvimento da doença.
Atualmente, para realizá-lo são utilizados: glicemia plasmática em jejum; hemoglobina glicosilada; teste oral
de tolerância à glicose (LAZO C e DURÁN-AGÜERO S, 2019; ADA, 2019; ASCHNER P, et al., 2016;
BERTONHI LG e DIAS JCR, 2018).
A glicemia plasmática em jejum mede a glicose no sangue após, no mínimo, 8 horas de jejum. Nesse
exame para o paciente ser considerado diabético o valor da glicose plasmática deve ser superior a 126 mg/dL
(7.0 mmol/L). Quando comparada ao teste oral de tolerância à glicose, a glicemia plasmática em jejum é mais
econômica, fácil execução, favorecendo a realização em um maior número de pessoas e apresenta um menor
coeficiente de variação interindividual (ADA, 2019; BERTONHI LG e DIAS JCR, 2018).
A dosagem de hemoglobina glicosilada, também chamada de hemoglobina glicada, hemoglobina A1c ou
simplesmente HbA1c, monitora a glicose média no sangue nos últimos 2-3 meses. Para o paciente ser
considerado diabético o valor de A1C deve ser superior a 6,5% (48 mmol/mol), entretanto existem alguns

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fatores que podem afetar a glicação da hemoglobina independentemente da glicemia. São eles: tratamento
do HIV, idade, etnia (indivíduos asiáticos e afrodescendentes apresentam níveis mais elevados de
hemoglobina glicada quando comparados à caucasianos), gravidez, genética, hemoglobinopatias, anemias
hemolíticas e ferropriva (Métodos e critérios para o diagnóstico do diabetes mellitus (NAYA LD e ÁLVAREZ
ED, 2016; ADA, 2019).
O teste oral de tolerância à glicose (TOTG), também conhecido como exame de curva glicêmica, determina
a capacidade que um indivíduo tem de manter a homeostase da glicose sanguínea após uma sobrecarga de
glicose. Para isso é realizada a medição em dois momentos: após jejum e após 2 horas da ingestão de 75g
de glicose dissolvida em água, segundo a OMS. Para um diagnóstico de Diabetes Mellitus a glicemia
plasmática deve ser igual ou superior a 200 mg/dL após duas horas da ingestão de glicose dissolvida (NAYA
LD e ÁLVAREZ ED, 2016; ADA, 2019).
Prevenção
O diabetes mellitus assim como as suas complicações manifestadas na cavidade oral, na maioria das
vezes pode ser prevenido principalmente por meio do aumento da prática de atividades físicas, do controle
da pressão arterial, dos níveis de colesterol, dos problemas emocionais, além da redução do peso corporal
(NAZIR MA, et al., 2018).
Nos indivíduos de alto risco, ou seja, mais suscetíveis a desenvolver o diabetes mellitus que possuem uma
tolerância menor à glicose ou glicemia de jejum, os aspectos preventivos também incluem mudanças em
relação ao estilo de vida padrão, a prática regular de exercícios físicos, dieta adequada e até mesmo o uso
de medicamentos antidiabéticos quando indicados (NAZIR MA, et al., 2018).
Tendo em vista os aspectos observados anteriormente, infere-se que as manifestações orais do diabetes
mellitus podem ser minimizadas por vários aspectos preventivos que se baseiam no controle da glicemia, na
prática de autocuidado em relação à doença, além da manutenção da saúde bucal de maneira consciente
(NAZIR MA, et al., 2018).
Sendo assim, o envolvimento de profissionais de saúde bucal em estratégias para identificar indivíduos
em risco de diabetes estenderá os esforços preventivos e de triagem necessários para retardar o
desenvolvimento dessas doenças (LEITE RS, et al., 2013).
Tratamento
O tratamento do diabetes mellitus tem como finalidade envolver principalmente a manutenção do controle
metabólico e glicêmico do paciente. O diabetes mellitus é uma doença de caráter metabólico incurável, no
entanto, pode ser controlada (BERTONHI e DIAS, 2018; COSTA AC, 2018).
Dentro desse contexto, é estritamente necessário que o médico oriente o paciente a seguir tanto as
mudanças aplicadas em seu estilo de vida que se referem principalmente a prática regular de exercícios
físicos e o seguimento de dieta específica quanto à prescrição de medicamentos (VILLAS BOAS LCG, et al.,
2012).
A terapêutica medicamentosa do diabetes mellitus se baseia geralmente no uso de antidiabéticos orais e
na insulinoterapia. O uso da metformina geralmente é recomendado para o tratamento inicial com
medicamentos. Se a metformina for contraindicada, mal tolerada ou inadequadamente eficaz, inúmeras
alternativas terapêuticas e suplementos encontram-se disponíveis (PFEIFFER AFH e KLEIN HH, 2014).
Grande parte dos ensaios clínicos sobre o assunto disponíveis demonstraram que as sulfonilureias e a
insulina são benéficas em relação aos parâmetros de avaliação relevantes para o paciente, mas dados
comparáveis de ensaios clínicos ainda não estão disponíveis para qualquer outro medicamento antidiabético
(exceto metformina) (PFEIFFER AFH e KLEIN HH, 2014).
A terapêutica deve ser orientada de forma individual, tendo em vista a idade do paciente, o estágio da
doença, peso corporal, comorbidades, situação de trabalho, adesão e prioridades pessoais. Portanto, a
combinação além de dois antidiabéticos não é recomendada de acordo com esses parâmetros (PFEIFFER
AFH e KLEIN HH, 2014).

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Manifestações orais do diabetes mellitus


As manifestações orais provenientes do quadro do diabetes mellitus são comuns e podem afetar tanto o
controle metabólico da doença quanto o tratamento odontológico. É de extrema importância que os
profissionais da área da saúde atuem no controle metabólico dos portadores dessa doença. As principais
manifestações orais e complicações relacionadas ao quadro de diabetes mellitus incluem xerostomia, cárie
dentária, lesões periapicais, doença periodontal, queimação na boca e alterações no paladar (MAURI-
OBRADORS E, et al., 2017; PRADO BN e VACCAREZZA G, 2013; ROHANI B, 2019).
Xerostomia
Os pacientes portadores de diabetes mellitus geralmente apresentam disfunções relacionadas à saliva
que podem reduzir o fluxo salivar, além de alterações relacionadas às mudanças na composição salivar.
Sendo assim, a prevalência universal estimada de xerostomia em pacientes portadores da doença varia entre
34% e 51% (ROSAS CY, et al., 2018; ROHANI B, 2019).
O quadro de xerostomia pode ocasionar inúmeros problemas, como dificuldades na alimentação, no ato
de engolir e até no falar, causando um impacto negativo significativo na qualidade de vida dos pacientes com
diabetes mellitus. A etiologia dessa condição ainda é desconhecida, mas, pode se relacionar a poliúria,
neuropatias autonômicas, alterações microvasculares e alterações nas membranas basais das glândulas
salivares. Além disso, existe uma inter-relação significativa entre o grau de xerostomia e os níveis de glicose
na saliva. Portanto, o nível mais alto de disfunção salivar geralmente é notado em diabéticos com pobre
controle glicêmico (ROSAS CY, et al., 2018; ROHANI B, 2019).
O tratamento da xerostomia deve-se evitar fatores irritantes como, a ingestão de grande quantidade de
água e líquidos sem açúcar, uma higienização ideal com aplicação regular de flúor que busque auxiliar no
processo de remineralização do esmalte. Além disso, outros tratamentos auxiliares são representados pela
estimulação salivar natural e artificial, o uso de salivas artificiais, géis e pastilhas lubrificantes, spray de
mucina, além do próprio uso de ômegas que diminuem os sintomas, uso de corticosteroides orais e até mesmo
a irrigação das glândulas parótidas com medicamentos. Dessa forma, medicamentos sialagogos podem
colaborar com o estímulo do fluxo salivar como, por exemplo a pilocarpina e a cevimelina, o uso de anti-
inflamatórios para tratamento de mialgias quando necessário. Por último, regularmente deve-se realizar
consultas ao cirurgião-dentista para acompanhamento (ADIVÍNCULA MA e PIEDADE SF, 2016).
Cárie dentária
Pacientes diabéticos encontram-se mais suscetíveis ao desenvolvimento de cáries dentárias novas e
recorrentes. Essa incidência alta deve-se em grande parte pela redução da capacidade de limpeza e
tamponamento da saliva, aumento de carboidratos presentes na saliva, além do aumento de leveduras orais,
Streptococcus mutans e Lactobacilos. Além disso, o quadro hiperglicêmico crônico pode levar a pulpites
crônicas irreversíveis, podendo progredir para casos de necroses pulpares (ROHANI B, 2019).
A terapêutica da cárie envolve principalmente a aplicação de programas de prevenção individualizada
representada pela adição de mais consultas de controle dentário, aplicações tópicas de flúor em gel, educação
de higiene oral com ênfase na importância de uma higiene oral meticulosa. Além do próprio uso de flúor em
forma de bochechos ou em aplicações periódicas no cirurgião-dentista também colaboram com a prevenção
da cárie (CARVALHO DFN, 2013).
A definição da presença de lesão de cárie, do diagnóstico e da terapêutica empregada de acordo com
cada caso envolve a utilização de diferentes métodos de diagnóstico, desde o exame clínico (inspeção visual
e exame tátil) e o exame radiográfico, até métodos mais complexos de ordem complementar como o uso do
ultrassom, corante e o uso laser (CARVALHO DFN, 2013).
Lesões periapicais
Os pacientes diabéticos com o quadro da doença não controlada, apresentam maior prevalência de lesão
periapical. Afirma-se que, se a hiperglicemia não estiver controlada, a cicatrização da lesão periapical não irá
ocorrer e esta irá aumentar, mesmo com o tratamento endodôntico. Assim, a polpa que acaba não possuindo

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a circulação limitada irá causar comprometimentos na resposta imune, aumentando o risco destes à infecção
ou necrose pulpar (FERREIRA CM, et al., 2014; MAURI-OBRADORS E, et al., 2017).
As lesões periapicais são caracterizadas como doenças infecciosas desencadeadas por micro-organismos
que infectam o sistema de canais radiculares. Nos casos de necropulpectomia, o profissional endodontista
lida com o combate do quadro de infecção primária do canal, enquanto que nos casos de retratamento
endodôntico estão relacionados a existência de uma infecção persistente ou secundária do canal (SIQUEIRA
JR JF, et al., 2012).

De maneira conceitual, as lesões periapicais são tratadas por meio da eliminação dos micro-organismos.
É neste sentido que se insere justamente o tratamento de elementos dentários com polpa necrosada, ou seja,
além da importância da prevenção da introdução de novos micro-organismos no interior do sistema de canais
radiculares, deve-se ter como base prioritária eliminar a infecção endodôntica ou até mesmo reduzi-la de
forma significativa para que se tenha êxito nessa terapêutica (SIQUEIRA JR JF, et al., 2012).

Doença periodontal

A deficiência do controle glicêmico pode estar associada ao aparecimento e a progressão do quadro de


gengivite e periodontite. Nesse sentido, a doença periodontal tem tido uma maior prevalência e incidência em
pacientes portadores de diabetes mellitus tipo I e tipo II e com prevalência grave em pacientes diabéticos
(59%) em comparação com os pacientes não diabéticos (39%). Dentro desse contexto, a doença periodontal
expressa um impacto negativo sobre o diabetes, assim como o controle da doença periodontal exerce efeitos
desejáveis em relação ao controle da glicemia. A própria eliminação de patógenos que ocorre na terapêutica
periodontal leva a uma redução no quadro de inflamação, corroborando com a diminuição da resistência à
insulina e assim, reduzindo os níveis de glicose (INDURKAR MS, et al., 2016; KHAN T, 2018; DANIEL R, et
al., 2012; ROHANI B, 2019).

O tratamento da doença periodontal traz inúmeros benefícios para o controle glicêmico do diabetes, o que
torna o profissional periodontista uma peça importante durante o acompanhamento do paciente diabético.
Dentro desse contexto, os pacientes diabéticos devem ser orientados em relação ao risco do diabetes para a
doença periodontal. Além disso, os mesmos devem ser encorajados a possuírem uma higiene oral criteriosa
e a entenderem que o controle de placa bacteriana quando praticado em casa é a maneira na qual o quadro
de inflamação que conduz a destruição do periodonto será mantida sob controle. Ademais, esses pacientes
devem receber uma terapia periodontal de suporte com base em intervalos necessários para manter um alto
nível de saúde periodontal e, além disso, a frequência das consultas deve ser definida pelo periodontista
considerando a extensão e o grau de severidade da doença periodontal, com a habilidade do paciente para
a prática dos procedimentos de higiene oral e com o nível do controle metabólico do paciente (ABREU IS, et
al., 2014).

Queimação na boca

A sensação de ardência na boca ou disestesia na cavidade oral de pacientes diabéticos se atribui ao


próprio controle glicêmico ineficaz, alterações no metabolismo da mucosa oral, angiopatia, candidíase e
neuropatia. Nesses pacientes, a dor neuropática pode se manifestar por meio de queimação, formigamentos
ou até mesmo choque elétrico ou sensação de pontada que têm efeitos significativos nas próprias funções
físicas e psicológicas associadas à distúrbios do sono, depressão e quadros de ansiedade (ROHANI B, 2019).

Os tratamentos disponíveis se baseiam no uso tópico de medicamentos à base de Clonazepam,


medicamentos dos tipos sistêmicos com ácido alfa-lipóico, inibidor seletivo da recaptação da serotonina e
amisulprida, e por meio de terapia comportamental cognitiva. Além disso, outras alternativas conceituadas
com base na opinião de experts e na prática clínica, mas não ainda avaliadas de forma concreta, incluem os
tratamentos também tópicos à base de medicamentos como capsaicina, doxepina e lidocaína, além de
tratamentos de ordem sistêmica tais como o uso de medicamentos antidepressivos tricíclicos, inibidores da
recaptação de norepinefrina serotonina, anticonvulsivantes, opioides e benzodiazepínicos como Clonazepam
e Alprazolam (MONTADON AAB, et al., 2011).

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Alterações no paladar
A presença de disfunções relacionadas ao paladar pode atingir pacientes diabéticos sem o controle da
doença, podendo ocasionar alterações da sensação do paladar ou até mesmo aumento dos limites de
detecção por meio de quadros de neuropatia, sendo que essa alteração sensorial pode causar a inibição da
capacidade de manter uma boa dieta, levando a uma regulação deficiente da glicose (ROHANI B, 2019).
A predominância de um controle rigoroso da glicemia demonstra ser fundamental no processo da
estabilização e, mesmo, para a melhora das alterações relacionadas a neuropatia diabética correlacionada
as alterações no paladar. Nesse sentido, todo empenho possível deve ser aplicado para que o paciente seja
mantido em um estado característico de normoglicemia (NASCIMENTO OJM, et al., 2016).
Inúmeras evidências inferem que o quadro de estresse oxidativo se encontra envolvido com os princípios
das alterações relacionadas a neuropatia diabética. Dessa forma, o uso de fármacos antioxidantes seria uma
ótima alternativa terapêutica. O ácido α-lipoico administrado por via venosa é, atualmente, o único tratamento
baseado no mecanismo da doença com eficácia comprovada e passível de utilização na prática clínica. A
utilização do mesmo medicamento por via oral, que representa a única apresentação atualmente disponível
no Brasil, ainda precisa de mais estudos comprobatórios, por mais que os indícios sugiram sua eficácia.
(NASCIMENTO OJM, et al., 2016).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O diabetes mellitus é uma doença que não apresenta cura, e seu controle se dá por meio de atividades
físicas habituais, dieta regulada e uso dos medicamentos antidiabéticos. As evidências apontam que
complicações orais crônicas e persistentes nesses pacientes afetam adversamente a glicemia. Neste sentido,
a prevenção e o controle das complicações orais são consideráveis. Portanto, médicos e cirurgiões-dentistas
devem estar atentos às diversas manifestações orais do diabetes com o intuito de realizar o diagnóstico
precoce.

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