Admin, V11n4a05
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Cuidados con los pies: conocimiento entre personas con diabetes mellitus
RESUMO
O conhecimento sobre o cuidado com os pés entre as pessoas com diabetes mellitus (DM) contribui para postergar as
complicações. Estudo descritivo, prospectivo e transversal realizado em um hospital universitário com o objetivo de
descrever as características sócio-demográficas, clínicas e os cuidados com os pés realizados por pessoas com DM.
Participaram 58 pessoas, entrevistadas com instrumento semi-estruturado, no período de junho e agosto de 2008. Os
dados foram digitados e analisados no EpiInfo3.2 TM. As variáveis categóricas foram submetidas à distribuição de
frequência e ao teste qui-quadrado (p<0,05). A maioria é do sexo masculino; está na faixa etária de 60 anos ou mais;
possuem 1° grau incompleto, são casados e aposentados. Metade das pessoas apresenta tempo de diagnóstico
inferior a 10 anos, a maioria possui duas co-morbidades; presença de complicações; usam hipoglicemiante oral; não
realizam consulta mensal; são cadastrados no Hiperdia; não participam de grupos educativos e seguem o tratamento
instituído. Cuidam adequadamente dos pés, exceto a forma como cortam as unhas, o tipo de calçados usados e o
ressecamento da pele. Apesar das complicações nos pés em pessoas com diabetes ser prevenível por meio de ações
de baixa complexidade, ainda é um desafio para os serviços de saúde.
Descritores: Diabetes mellitus; Pé diabético; Educação em Saúde; Enfermagem; Cuidados de enfermagem.
ABSTRACT
The knowledge of foot care among people with diabetes mellitus (DM) contributes to delay the complications.
Descriptive study, prospective and cross held in a university hospital in order to describe the socio-demographic
characteristics, clinics and care with their feet made by people with diabetes mellitus (DM) hospitalized. Involving 58
people, interviewed with semi-structured instrument for the period from June to August of 2008. Data were entered
and analyzed in EpiInfo3.2 TM. The categorical variables were subjected to the distribution of frequency and the chi-
square test (p <0.05). Most respondents are male, at the age of 60 years old or more; have incomplete 1st degree,
are married and retired. Half of the people have time of diagnosis less than 10 years; the majority has two co-
morbidities, presence of complications, uses oral hypoglycemic; not hold monthly consultations and are registered
with Hiperdia; not participate in educational groups and follow the treatment. Proper care of feet, except for the way
they cut the nails, the type of footwear used and dry skin. Despite the complications in the feet in people with
diabetes are preventable through actions of low complexity, it is still a challenge for health care.
Descriptors: Diabetes mellitus; Diabetic foot; Health Education; Nursing; Nursing care.
RESUMEN
El conocimiento sobre el cuidado con los pies entre las personas con diabetes mellitus (DM) contribuye a retrasar las
complicaciones. Estudio descriptivo, prospectivo y transversal realizado en un hospital universitario con el fin de
describir las características socio-demográficas, clínicas y los cuidados con los pies por personas con diabetes mellitus
(DM). Participaron 58 personas, entrevistadas con el instrumento semi-estructurado, en el período comprendido entre
junio y agosto de 2008. Los datos fueron digitados y analizados en EpiInfo3.2 TM. Las variables categóricas fueron
sometidos a la distribución de frecuencia y la prueba de qui-cuadrado (p <0,05). La mayoría de los entrevistados son
hombres, con 60 años o más de edad; poseen el primer grado incompleto, son casados y jubilados. La mitad de la
población tiene tiempo de diagnóstico de 10 años, la mayoría tiene dos co-morbilidad: la presencia de complicaciones,
uso de hipoglucemiantes orales; no hacen consultas mensuales, estén matriculados con HIPERDIA; no participan en
grupos educativos y siguen el tratamiento instituido. Cuidan de manera adecuada de los pies, a excepción de la forma
de cortar las uñas, el tipo de calzado usado y la piel seca. A pesar de las complicaciones en los pies en personas con
diabetes ser prevenible a través de acciones de baja complejidad, se observa que aún es un desafío para la atención
de la salud.
Descriptores: Diabetes mellitus; Pie diabético; Educación en Salud; Enfermería; Atención de enfermería.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1, verifica-se que foram entrevistados a média de idade foi de 50 (± 8,5) anos(9). Pesquisa
58 sujeitos, dos quais 51,7% são do sexo masculino multicêntrica sobre a prevalência do DM no Brasil
e 48,3% do feminino. Segundo estudo multicêntrico evidenciou que na faixa etária de 60 a 69 anos há 6,5
sobre a prevalência do DM no Brasil, não há diferença vezes mais pessoas com esta doença quando
entre os sexos(8). comparada à faixa de 30 a 39 anos(8). Por outro lado,
Quanto à idade, destaca-se que metade da ocorre aumento das hospitalizações com a elevação
população (50%) possui 60 anos ou mais de idade, da idade, particularmente a partir dos 45 anos(10).
Tabela 1. A maior ocorrência de DM em pessoas com Investigação realizada com idosos no município deste
esta faixa etária também foi encontrada em outro estudo, evidenciou que 21,5% foram internados no
estudo, como o realizado em Ribeirão Preto, na qual período de doze meses(11). Estes dados denotam o
desafio a ser enfrentado pelos serviços de saúde no Observa-se na Tabela 1 que, somente, 1,7% dos
que concerne à reorganização da atenção à saúde entrevistados não possuem co-morbidades. A maioria
tendo como recorte as doenças crônicas- apresenta duas (32,8%), seguidos pelos que referem
degenerativas e o processo de envelhecimento uma e três, com percentuais iguais (24,1%). Este
humano. estudo não se propôs a investigar quais as co-
No que se refere à escolaridade, Tabela 1, a morbidades presentes. Em pesquisa desenvolvida em
maioria (67,2%) possui o primeiro grau incompleto, Campos dos Goytacazes verificou que o DM foi mais
seguidos pelos que nunca estudaram (19%). A pouca prevalente em pessoas com hipertensão arterial,
escolaridade tem sido encontrada em outros dislipidemia e excesso de peso(15).
trabalhos realizados em serviços de saúde, como o As complicações relacionadas ao DM estão
realizado em município do interior do Estado de São presentes em 62% dos entrevistados, Tabela 1. As
Paulo em que 87% das pessoas com diabetes tinham complicações encontradas com mais freqüência são
o primeiro grau incompleto(9) e o da cidade de Rio as oftalmológicas, renais, neurológicas e
Branco, Acre em que 40,4% eram analfabetos(12). A cardíacas . Estas se tornam mais presentes à
(16)
baixa escolaridade entre pessoas com DM constitui medida que as pessoas têm maior tempo da doença
fator agravante para o desencadeamento de e menor controle metabólico(16).
complicações crônicas, devido ao possível acesso A presença de mais de uma co-morbidade e de
limitado às informações, pouca habilidade com a complicações em pessoas com menos de 10 anos de
leitura e a compreensão para o autocuidado. diagnóstico de DM chama a atenção para o
A maioria dos entrevistados apresenta o estado atendimento à saúde de pessoas com DM, no sentido
conjugal como casado ou morando com companheiro do planejamento, organização, acesso e oferta dos
(70,7%), Tabela 1. Tal resultado corrobora com serviços de saúde. Se, por um lado, questiona-se
estudo realizado em Ribeirão Preto (73,3%)(9). Estes como as pessoas com DM estão se cuidando, por
dados são favoráveis para o enfermeiro estabelecer a outro inquieta-se para o quanto os profissionais,
co-responsabilidade no cuidado das pessoas com DM, inseridos nos serviços de saúde, têm realizado: ações
com os respectivos companheiros. Investigação promocionais de saúde, diagnóstico precoce e
realizada com os familiares de pessoas com DM atendimento resolutivo.
evidenciou que 87,5% relataram que a doença Quanto ao tipo de tratamento, Tabela 1, a
poderia causar algum problema nos pés, destacando maioria (55,2%) faz uso de hipoglicemiante oral,
as amputações, úlceras, micoses, dificuldade de dado este maior do que o encontrado em trabalho
cicatrização das feridas e infecção(13). (42%) realizado em Belo Horizonte(17). Contudo, o
Em relação à atividade profissional, 48,3% são uso de insulina (27,6%), é menor do que o obtido no
aposentados e 15,5% são pensionistas. Estes dados referido trabalho (41%). O uso associado de insulina
eram esperados, tendo em vista a faixa etária desta e hipoglicemiante oral, do presente estudo,
população, sendo também obtido em outra pesquisa, representou 13,8%. Percentual alto de pessoas
na qual 69,3% são aposentados ou são do lar(9). utilizando formas associadas de medicamento denota
Ressalta-se 17,2% exercem atividade profissional, comprometimento progressivo da doença(9).
fato este que precisa ser aprofundado, pois pode Ressalta-se que a maior diferença encontrada nesta
interferir na adesão ao tratamento do DM. O exercício investigação em comparação às outros é a pequena
da atividade profissional decorre da necessidade parcela de pessoas (3,4%) utilizando tratamento não
financeira ou do interesse em continuar no mercado medicamentoso. Este percentual representou 24,8%
de trabalho, situação esta que gera satisfação, em estudo realizado em Porto Alegre(16).
contribui com a inserção social e não permite o O cadastro no Hiperdia foi referido pela maioria
sentimento de inutilidade. (93,1%) possui, entretanto, apenas 32,7% realizam
No que concerne ao tempo de diagnóstico de consulta mensal. O Hiperdia é um programa
diabetes, Tabela 1, 50% possuem a doença há menos instituído pelo Ministério da Saúde visando à
de 10 anos e 36,2% entre 10 |- 20 anos. O maior reorganização da atenção à hipertensão arterial e ao
tempo de duração do DM pode indicar mais gravidade diabetes mellitus(4). Realiza o cadastramento e
da doença com presença de complicações, a exemplo acompanhamento de pessoas com estas doenças e
das úlceras nos pés(14). Neste contexto, o enfermeiro fornece alguns medicamentos. Objetiva definir o
deve realizar o exame dos pés em todos os perfil epidemiológico dessa população e desenvolver
atendimentos, seja na consulta de enfermagem, nas estratégias que visem a modificação do quadro atual
internações hospitalares, nas visitas domiciliares e e a contribuir com a melhoria da qualidade de vida
nas ações educativas. Desta forma, o enfermeiro das pessoas(4).
contribuirá para que pessoa com DM melhore seu O baixo percentual de consulta mensal, obtido
autocuidado, postergando e evitando amputações e neste estudo, em relação ao de cadastro no Hiperdia
complicações. e ao uso de medicamento coloca alguns
questionamentos. Por meio da consulta mensal são
Tabela 2: Distribuição de freqüência dos cuidados com os pés realizados pelas pessoas com DM
internadas no HC da UFTM, Uberaba, 2008.
Total
Variáveis
N %
Sim 09 15,5
Tem o hábito de andar descalço
Não 49 84,5
Sim 49 84,5
Seca bem os pés após o banho
Não 09 15,5
Sim 31 53,4
Hidrata os pés com cremes ou óleos
Não 27 46,6
Arredondadas 41 70,7
Como corta as unhas dos pés
Retas 17 29,3
Sim 41 70,7
Apresenta pele ressecada
Não 17 29,3
Sim 09 15,5
Apresenta calos
Não 49 84,5
Sim 29 50,0
Apresenta rachaduras nos pés
Não 29 50,0
Aberto 34 58,6
Que tipo de calçado costuma usar
Fechado 24 41,4
Sim 42 72,4
Analisa o calçado internamente antes de calçá-lo
Não 16 27,6
Sim 51 87,9
Usa meias e calçados com boa adaptação
Não 07 12,1
Sim 12 20,7
Faz escalda pés
Não 46 79,3
Utiliza remédios caseiros ou medicamentos populares para tratar Sim 09 15,5
complicações nos pés Não 49 84,5
Sim 15 25,9
Tabagista
Não 43 74,1
Sim 30 51,7
Avalia os pés diariamente
Não 28 48,3
Em relação aos cuidados com os pés, Tabela 2, Observou também que a escolaridade interfere no
15,5% dos entrevistados tem o hábito de andar cuidado com os pés. Obteve-se maior proporção de
descalço. Verificou que há maior proporção de pessoas com 2° e 3° graus que hidratam os pés
mulheres que andam descalço quando comparado quando comparado às com 1º grau (χ2=12,57;
aos homens (χ2= 5,24; p= 0,02203028). Este hábito p=0,02780948). É importante destacar que na
é prejudicial, principalmente quando associado às realização de atividades de educação em saúde, o
deformidades estruturais e perda da sensibilidade enfermeiro deve utilizar linguagem simples, que
dolorosa. O uso de calçados adquire relevância na possa de ser compreendida por todos,
função de proteger os pés de agentes lesivos independentemente do tempo de estudo.
externos(9). A maioria (70,7%) das pessoas corta as unhas
Destaca-se na Tabela 2, que 15,5% das pessoas dos pés de forma arredondada, Tabela 2. O corte
afirmam não secar bem os pés após o banho. Uma inadequado das unhas também foi encontrado em
boa higiene dos pés, seguida de secagem adequada, estudo realizado no interior de São Paulo, que
principalmente das regiões interdigitais, é de grande mostrou um percentual semelhante (73,3%) de
importância para evitar complicações, como as pessoas com esta prática(9). Tal atitude contribui para
úlceras(12). o surgimento de lesões nos cantos dos dedos,
O uso de cremes ou óleos para hidratar os pés geradas por encravamento das unhas ou machucados
foi referido por 53,4% das pessoas entrevistadas, devido ao uso do objeto cortante, que associado à
Tabela 2. Manter as pernas e pés hidratados evita o infecção e ao retardo na cicatrização poderá ter a
ressecamento da pele e previne o surgimento de amputação como conseqüência.
lesões. Destaca-se que, proporcionalmente, que as O percentual de pessoas com pele ressecada
mulheres hidratam mais os pés quando comparado representou 70,7% e com rachaduras nos pés 50%,
aos homens (χ2=25,23; p=0,00000051). Esta Tabela 2. Tais dados estão acima dos encontrados em
situação pode estar relacionada às questões outro estudo que apresentaram valores de 53,4% e
culturais, de maneira que as mulheres cuidam mais 29,3%, respectivamente(9). Este fato pode decorrer
de sua pele, buscando postergar o envelhecimento. da presença de complicações crônicas como a
neuropatia periférica. Ocorre comprometimento das os pés de agentes lesivos. No entanto, quando os
fibras sensitivas, motoras e autonômicas, tendo como calçados são extremantes estreitos ou folgados, eles
conseqüência a redução ou supressão do suor nos se tornam próprios agentes lesivos. Calçados
pés, deixando-os secos e predispondo-os a apertados podem causar lesões no dorso dos dedos e
rachaduras e fissuras(20). na região lateral do antepé. Por outro lado, calçados
A presença de calos foi identificada por 15,5% folgados podem criar áreas de atrito, que favorecem
dos entrevistados, Tabela 2. Estes percentuais estão a formação de bolhas ou, inclusive, o ingresso de
abaixo dos obtidos em outros estudos que foram de pequenos objetos no interior dos mesmos(9). Por isso
45%(17) e 20,2%(9). As altas pressões em pontos a importância de calçados que se adaptem bem aos
ósseos na região plantar estão associados a pés.
calosidades, que são preditores dos processos No que concerne a realização de escalda pés,
ulcerativos(20). A comparação entre os sexos denotou 20,7% dos entrevistados a realizam, Tabela 2. A
que entre os homens há maior proporção que diminuição da sensibilidade em pessoas com DM
apresentam calos quando comparado às mulheres pode ocasionar queimaduras durante a realização
(χ2=4,26; p=0,03895948). É papel do enfermeiro dessa prática, contribuindo para o aumento da úlcera
orientar, sensibilizar e motivar as pessoas quanto às nos pés e, conseqüentemente, elevando o risco de
mudanças de atitude, que devem incorporar as amputação(14). Ao relacionar a participação em
informações recebidas. grupos educativos e os cuidados com os pés, o
Verifica-se na Tabela 2 que 58,6% utilizam com estudo mostrou maior proporção de pessoas que
mais freqüência sapados abertos. Os calçados participam de grupos educativos que fazem escalda
abertos, de ponta fina ou sandálias de dedo também pés quando comparado às que não participam (χ
foram identificados como a escolha de 41% de 2=3,99; p=0,04583860).
pessoas com DM(20). Estes dados sugerem o As complicações nos pés são tratadas por 15,5%
desconhecimento das pessoas sobre o risco de lesões das pessoas com remédios caseiros ou medicamentos
com o uso de calçados abertos. Pessoas com DM populares, Tabela 2. Ao analisar a participação em
pode apresentar maior dificuldade de cicatrização, de grupos educativos com o tratamento das
maneira que tais lesões podem evoluir para complicações nos pés, verificou maior proporção de
amputações. Ao analisar os sexos obteve maior pessoas que participam de grupos educativos
proporção de mulheres usando sapatos abertos utilizando remédios caseiros ou medicamentos
quando comparado aos homens (χ2=5,88; populares para tratar complicações nos pés enquanto
p=0,01527954). Mulheres, motivadas pela vaidade, que os que não participam não realizam tal prática (χ
muitas vezes optam pelo uso de sandálias, tanto as 2=13,49; p=0,00024020). Questiona-se, então, mais
do tipo rasteirinha como as com salto, o que pode uma vez, sobre os temas abordados nesses grupos,
propiciar o surgimento de lesões nos pés. Indica-se, já que foi observado um resultado significativo de
portanto, o uso de calçados fechados, tipo esportivo pessoas que os freqüentam e realizam cuidados
ou mocassim, evitando os com costuras internas(9). A inadequados com os pés.
escolaridade influenciou no uso de sapatos O tabagismo foi encontrado em 25,9% dos
adequados. Os sapatos fechados são usados em entrevistados. Percentuais maiores (37,6%) foram
maior proporção por pessoas com mais tempo de encontrados em estudo semelhante(9). O tabagismo é
estudo (2° e 3° graus), enquanto que os com menos fator de risco podendo causar ou acelerar o processo
tempo de estudo (que possuem até o 1º grau), de aterosclerose(12). O enfermeiro pode aproveitar os
optam pelos sapatos abertos (χ2=12,57; momentos de atendimento às pessoas com DM e
p=0,02780948). sensibilizá-los para o abandono dessa prática,
De acordo com a Tabela 2, 72,4% das pessoas evidenciando seus benefícios e malefícios.
analisam o calçado internamente antes de calçá-lo. Destaca-se na Tabela 2, que 51,7% dos
Esta prática ajuda na prevenção de lesões, uma vez entrevistados avaliam os pés diariamente. Quando o
que, o comprometimento do componente sensitivo indivíduo com DM não tem o hábito de inspecionar
produz perda gradual da sensibilidade à dor(17). Desta por completo os pés diariamente, a presença de
forma, qualquer objeto, ainda que pequeno, presente lesões ou fissuras podem passar despercebidas, até
no interior do sapato pode não ser sentido pela que uma infecção grave tenha se desenvolvido.
pessoa com DM e causar lesão nos pés. É necessário que as pessoas com DM conheçam
O uso de meias e calçados com boa adaptação, os mecanismos que podem causar lesões nos pés,
Tabela 2, foi relatado por 87,9% das pessoas. Os para tomarem consciência da necessidade de cuidar
pontos de alta pressão, calosidades, deformidades de seus pés, tanto com medidas de higiene,
nos pés e amputações de dedos são problemas que hidratação e proteção com calçados apropriados,
podem ser evitados com o uso de calçados quanto com a inspeção diária dos pés na procura de
confortáveis ou confeccionados sob medida(20). Os algum sinal de lesão, salientando-se a inspeção do
calçados devem ter como principal objetivo proteger interior dos calçados, antes de usá-los(9).
Nesta pesquisa não foi encontrada diferença 2. American Diabetes Association. Diagnosis and
significativa entre a idade e os cuidados realizados Classification of Diabetes Mellitus. Diabetes Care.
com os pés. Porém, sabe-se que se trata de um fator 2008;31 Suppl S55-60.
que interfere no autocuidado(9). As lesões de 3. McLellan KCP, Motta DG, Lerario AC, Campino ACC.
extremidades são mais prevalentes nas faixas etárias Custo do atendimento ambulatoriale gasto hospitalar
mais elevadas e com mais tempo de diagnóstico(9). do diabetes mellitus tipo 2. Saúde em Revista.
2006;8(20):37-45.
CONSIDERAÇÕES FINAIS 4. Ministério da Saúde; Secretaria de Políticas
No presente estudo verificou que a maioria dos Públicas; Departamento de Ações Programáticas
entrevistados é do sexo masculino; está na faixa Estratégicas. Plano de reorganização da atenção à
etária de 60 anos ou mais; possuem 1° grau hipertensão arterial e ao diabetes mellitus. Brasília
incompleto, são casados ou moram com companheiro (Brasil): Ministério da Saúde; 2002.
e são aposentados. 5. Briceño-Leon R. 1996. Siete tesis sobre la
Em relação às características clínicas, metade educación sanitária para la participación comunitaria.
das pessoas apresenta tempo de diagnóstico inferior Cad. Saúde Pub. 1996;12(11):7-30.
a 10 anos, a maioria possui duas co-morbidades; 6. Maia FFR, Araujo LR. Projeto “Diabetes Weekend”
presença de complicações; usam hipoglicemiante – Proposta de Educação em Diabetes Mellitus Tipo 1.
oral; não realizam consulta mensal; são cadastrados Arq Bras Endócrinol Metab. 2002;46(5):566-73.
no Hiperdia; não participam de grupos educativos e 7. Cárdenas JMN, Moctezuma RR, Miranda CM,
seguem o tratamento instituído. Santiago JLH. Nivel de information médica sobre
Ressalta-se que a maioria cuida adequadamente diabetes, actitud de los pacientes hacia la
dos pés, com exceção da forma como corta as unhas, enfermedad y su asociación com el nivel de control
o tipo de calçados que usam e o ressecamento da glucémico. Aten Primaria. 2000;26(5):283-6.
pele. Há maior proporção de mulheres que andam 8. Malerbi DA, Franco LJ. Multicenter study of the
descalço e hidratam os pés quando comparadas aos prevalence of diabetes mellitus and impaired glucose
homens. Proporcionalmente as pessoas com 2° e 3° tolerance in the urban Brazilian population aged 30-
graus hidratam mais os pés quando comparado às 69 yr. Diabetes Care. 1992;15(11):1509-16.
com 1º grau de escolaridade. Constatou-se que entre 9. Ochoa-Vigo K, Torquato MTCG, Silvério IAS,
os homens há maior proporção que apresentam calos Queiroz FA, De La Torre Ugarte-Guanilo MC, Pace AE.
quando comparado às mulheres e que há maior Caracterização de pessoas com diabetes em unidades
proporção de mulheres usando sapatos abertos de atenção primária e secundária em relação a
quando comparado aos homens. Os sapatos fechados fatores desencadeantes do pé diabético. Acta paul.
são usados em maior proporção por pessoas com enferm. 2006;19(3):296-303.
mais tempo de estudo, enquanto que os com menos 10. Rosa RS, Schmidt MI, Duncan BB, Souza MFM,
tempo de estudo optam pelos sapatos abertos. Ao Lima AK, Moura L. Internações por diabetes mellitus
relacionar a participação em grupos educativos e os como diagnóstico principal na Rede Pública do Brasil,
cuidados com os pés, o estudo mostrou maior 1999-2001. Rev. Bras. Epidemiol. 2007;10(4):465-
proporção de pessoas que participam de grupos 78.
educativos que fazem escalda pés e que utilizam 11. Tavares DMS, Guidetti GECB, Saúde MIBM.
remédios caseiros ou medicamentos populares para Características sócio-demográficas, condições de
tratar complicações nos pés quando comparado às saúde e utilização de serviços de saúde por idosos.
que não participam. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2008 [cited 2009 dez
A presença de úlceras nos pés e amputações, 30];10(2):299-309. Available from:
apesar de preveníveis, ainda é prevalente nos http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n2/v10n2a02.htm
serviços de saúde, levando a danos irreparáveis na .
vida dessas pessoas. Avaliar o conhecimento acerca 12. Cosson ICO, Oliveira FN, Adan LF. Avaliação do
dessa e de outras complicações do DM, função do Conhecimento de Medidas Preventivas do Pé
enfermeiro e de toda equipe multidisciplinar, contribui Diabético em Pacientes de Rio Branco, Acre. Arq Bras
para subsidiar as ações em saúde, em especial, as Endocrinol Metab. 2005;49(4):548-56.
educativas, visando a promoção da saúde e 13. Pace AE, Nunes PD, Ochoa-Vigo K. O
prevenção de complicações. conhecimento dos familiares acerca da problemática
do portador de diabetes mellitus. Rev. Latino-Am.
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Mellitus. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde; 2006. bacteriológica de 141 casos. Arq Bras Endocrinol
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