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Turismo e sustentabilidade: uma introdução ao desenvolvimento*

Mary Sandra Guerra Ashton1

Resumo: Esse artigo propõe uma reflexão a cerca dos fundamentos que norteiam a
sustentabilidade, Turismo e desenvolvimento, com o objetivo de investigar a relação que
pode existir entre Turismo e sustentabilidade, revelando a sua importância para o
desenvolvimento de cidades e regiões. Para tanto, a sustentação teórica será fundamentada
nos conceitos de sustentabilidade, Turismo e desenvolvimento, destacando a s
características intrínsecas e conceituais específicas de cada uma, promovendo o diálogo e
buscando os vetores comuns dessa trilogia. O método utilizado foi o exploratório por meio
de revisão bibliográfica. As investigações revelaram a amplitude e abrangência do conceito
de sustentabilidade, as convergências entre as três categorias sob uma perspectiva voltada
para o bem estar da população, além do importante papel que o Turismo pode
desempenhar na promoção do desenvolvimento sustentável para as cidades destinos.

Palavras Chave: Turismo; Sustentabilidade; Desenvolvimento.

Introdução

As discussões nos meios acadêmicos, empresariais e políticos colocam as questões


que giram em torno da sustentabilidade em local de destaque. A preocupação sobre essa
temática tem-se revelado universal. O esgotamento dos recursos naturais e culturais não
renováveis leva a população a encontros mundiais em busca de soluções urgentes e
coletivas para a problemática.
O Turismo, por sua vez, tem se apresentado como um fenômeno social, de
importância econômica e cultural, em crescimento em nível mundial. A viagem turística
tornou-se um dos mais importantes fenômenos humanos do novo século. Em 2006 foram
contabilizados 842 milhões de turistas estrangeiros no mundo, descrevendo um
crescimento de 4,5% em relação ao ano anterior, já a América do Sul é quem assiste ao

1
Docente do Centro Universitário Feevale. E-mail: marysga@feevale.br.
maior registro de crescimento com 7,2% em relação aos dados divulgados em 2005,
segundo declaração da Organização Mundial do Turismo – OMT2 . Assim, torna-se
relevante analisar o tema proposto sob a perspectiva do desenvolvimento sustentável. Sua
complexidade exige a participação de vários atores desde a formatação dos produtos e
serviços até a consolidação dos destinos turísticos, além da necessidade de compreender
como as relações sociais, econômicas, culturais e ambientais são estabelecidas.
Dessa forma, o artigo propõe uma reflexão a partir da relação entre Turismo,
sustentabilidade e desenvolvimento, observando o compromisso social como vetor desse
tripé, focando na utilização racional dos recursos naturais e processo participativo em prol
do bem estar da população. Quanto à metodologia, assume um caráter de pesquisa
exploratória com revisão bibliográfica.
Portanto, este artigo foi estruturado da seguinte maneira: inicialmente, aborda os
conceitos de sustentabilidade buscando a compreensão do termo na sua amplitude. Num
segundo momento, foi apresentada a contextualização a cerca do Turismo como um
fenômeno social de importância econômica, para em seguida, tratar da questão do
desenvolvimento, contemplando as esferas social, cultural, ambiental e econômica, como
promotor do bem estar e melhoria da qualidade de vida da população,

Sustentabilidade: utilização racional dos recursos

A sustentabilidade envolve questões econômicas, sociais, culturais e ambientais,


sendo que o seu nível de influência e de compreensão abrange a cultura e a sociedade,
estando diretamente ligada aos indivíduos e ao comportamento dos mesmos e,
principalmente, às suas ações. A sustentabilidade tem a ver com a biodiversidade e com a
sociodiversidade e só pode ser construída/realizada pela mobilização da coletividade
(ENDEAVOR, 2007). Tem ligação com a redução da pobreza, com os direitos das crianças e
adolescentes, com o acesso à educação e ao trabalho, com a solidariedade, com o respeito à
diversidade e à liberdade de expressão. Está vinculada, ainda, à valorização dos saberes e do
conhecimento. Ela decorre das políticas públicas, coordenadas pelos governantes, mas
também de decisões individuais (BUENO, 2008).

2
OMT - Declaração do Secretário Geral, Francesco Frangialli em 29/01/2007. Disponível em:
<http:// www.oglobo.com.br>. Acesso em: setembro de 2007.
Assim, adquire um aspecto sistêmico, relacionado com a continuidade dos elementos
intrínsecos ao desenvolvimento humano, não podendo ser compreendida, apenas,
relacionada às questões ambientais. Para tanto, comporta sete eixos fundamentais, conforme
desenvolvido pela Rede de Cooperação para a Sustentabilidade - Catalisa (2003):

Sustentabilidade Social – envolve as questões ligadas a melhoria da qualidade de


vida da população, eqüidade na distribuição de renda e de diminuição das diferenças
sociais, com participação e organização popular;
Sustentabilidade Econômica – trata dos públicos e privados, regularização do fluxo
desses investimentos, compatibilidade entre padrões de produção e consumo,
equilíbrio de balanço de pagamento, acesso à ciência e tecnologia;
Sustentabilidade Ecológica – encontra-se vinculada ao uso dos recursos naturais,
com o objetivo de minimizar danos aos sistemas de sustentação da vida: redução dos
resíduos tóxicos e da poluição, reciclagem de materiais e energia, conservação,
tecnologias limpas e de maior eficiência e regras para uma adequada proteção
ambiental.
Sustentabilidade Cultural – está relacionada ao respeito aos diferentes valores entre
os povos e incentivo a processos de mudança que acolham as especificidades locais,
além da manutenção dos valores e da cultura local, visando a preservação do
patrimônio cultural (material e imaterial);
Sustentabilidade Espacial – trata do equilíbrio entre o rural e o urbano, equilíbrio de
migrações, desconcentração das metrópoles, adoção de práticas agrícolas mais
inteligentes e não agressivas à saúde e o ambiente, manejo sustentado das florestas e
industrialização descentralizada;
Sustentabilidade Política - no caso do Brasil, a evolução da democracia
representativa para sistemas descentralizados e participativos, construção de espaços
públicos comunitários, maior autonomia dos governos locais e descentralização da
gestão de recursos;
Sustentabilidade Ambiental - conservação geográfica, equilíbrio de ecossistemas,
erradicação da pobreza e da exclusão, respeito aos direitos humanos e integração
social. Abarca todas as dimensões anteriores através de processos complexos.
Portanto, os eixos que envolvem a sustentabilidade devem ser contemplados com
equilíbrio e igualdade (figura 1) por parte dos setores públicos e privados, a fim de que
possa garantir o bem estar da população. Fazem parte do desenvolvimento do ser humano
na sua integridade e totalidade. Tem uma dimensão essencialmente humana e precisa ser
entendida desta forma.

Figura 1:

Sustentabilidade
Ambiental
Sustentabilidade Sustentabilidade
ecológica Espacial
Sustentabilidade
Social
Sustentabilidade Sustentabilidade
Política Cultural
Sustentabilidade
Econômica

Desse modo, a sustentabilidade pode ser definida como “a capacidade de desenvolver


a atividade econômica atendendo as necessidades da geração atual sem comprometer as
gerações futuras” (ONU, 2007). A sustentabilidade assume um papel fundamental na
sociedade e deve contribuir para diminuir as desigualdades e aprofundar as justiças, além
de indicar caminhos, resgatar vivências e experiências e convidar a todos para uma ação
coletiva, solidária e corajosa. Bueno (2008) relata que estudos e experiências recentes
mostram que não há incompatibilidade entre crescimento econômico e responsabilidade
social e ambiental. Investir em tecnologias limpas e cuidados socioambientais gera valor
para as empresas, no longo prazo. Desse modo, a sustentabilidade significa mais do que a
soma das partes. Ela deriva de relações saudáveis, éticas, democráticas, equânimes e
socialmente justas.
Assim, a mobilização mundial unindo governos e civis que por meio de
investigações, congressos, conferências mundiais e documentos oficiais disponibilizados
para a população, vêm buscando compreender, explicar e aplicar os conhecimentos a cerca
da sustentabilidade de maneira ampla e abrangente priorizando o compromisso social.
Portanto, a busca por novos indicadores que possam ajudar empresas, governos e pessoas
na utilidade social das atividades pode construir uma base para decisões políticas e criação
de estratégias empresariais condizentes com o estado atual do mundo.

Turismo: relações socioeconômicas

A viagem turística tornou-se um dos mais importantes fenômenos humanos do novo


século, os números alcançados pelo turismo mundial são extraordinários. Em 2005, 808
milhões de pessoas viajaram a Turismo no mundo e gastaram US$ 682 bilhões,
representando 6% do crescimento das exportações mundiais de bens e serviços turísticos,
conforme dados divulgados pela Organização Mundial do Turismo – OMT3 . Esses
números têm despertado a atenção de muitos investigadores que passam a ocupar-se em
compreender a sua abrangência e complexidade, bem como a necessidade do envolvimento
e participação dos vários atores sociais.
Para De La Torre, “o Turismo é um fenômeno social, por derivar de deslocamentos
humanos e de interações com o meio receptivo” (DE LA TORRE, 1997, p. 101). A
complexidade e interdisciplinaridade do Turismo exige a participação de vários agentes
desde a formatação até a consolidação dos destinos turísticos, além da necessidade de
compreender como as relações sociais, econômicas, culturais e ambientais são
estabelecidas, no sentido de favorecer o desenvolvimento das regiões e consagrar o
Turismo como um dos agentes do desenvolvimento (NICKERSON, 1996).
O Turismo exige profissionais que se assumam como agentes sociais. Para tanto,
devem estar atuando nas diversas áreas que compõem o sistema produtivo do Turismo,
com o propósito de serem multiplicadores das idéias e das ações para a transformação. No
entanto, êxito econômico e compromisso social fazem parte de um binômio rumo ao bem
estar da população, devem andar juntos, premissa básica do desenvolvimento sustentável.
De tudo isso, apreende-se a importância da elaboração das políticas de turismo,
conforme Kadt, “o principal objetivo de uma política é elevar o bem estar de seus cidadãos
[...] a entrada de divisas deve estar entre os objetivos secundários” (KADT, 1991, p.52).
Para Montejano, “a política é a ciência do Estado que trata da atividade relacionada com o
bem público da sociedade baseada no conjunto de operações realizadas por indivíduos,
3
MARES GUIA, Walfrido dos. 2006. A Construção do Turismo Sustentável. O estado de São Paulo.
07/11/2006.
grupos ou poderes estatais” (MONTEJANO, 1999, p.33). Assim, o objetivo das políticas
públicas não deve ser a maximização do resultado quantitativo, mas sim oferecer
oportunidades para que os indivíduos alcancem o bem estar.
Beni (2004) destaca que sujeito, economia e preservação socioambiental devem estar
alinhados, caminhando juntos, somente assim, pode-se conceber um novo tipo de Turismo
– o Turismo Sustentável. Assim, torna-se consenso mundial de que o Turismo tem de
firmar-se em quatro pilares fundamentais: ambiental – trata-se da principal fonte de
matéria prima dos atrativos turísticos; social – é abrangente e compreende a comunidade
receptora, o patrimônio histórico-cultural e a interação com os visitantes, ao mesmo tempo
e m q ue elevam o padrão de vida e a auto-estima dessa comunidade; econômico -
estabelecer uma rede de empresas a fim de atuar de forma integrada, proativa e interativa,
obtendo níveis de comparatividade e produtividade para o alcance de competitividade;
político - que se instrumentaliza mediante estratégias de gestão que possibilitem coordenar
as iniciativas locais de produção, favorecendo o desenvolvimento sustentável (BENI,
2004).
O Turismo Sustentável, portanto, em sua vasta e complexa abrangência, envolve:
compreensão dos impactos turísticos; distribuição justa de custos e benefícios; geração de
empregos locais diretos e indiretos; fomento de negócios lucrativos; injeção de capital com
conseqüente diversificação da economia local; interação com todos os setores e segmentos
da sociedade; desenvolvimento estratégico e logístico de modais de transporte;
encorajamento ao uso produtivo de terras tidas como marginais (Turismo no espaço rural);
subvenções para os custos de conservação ambiental.
Conforme Mares Guia (2006)4 , a OMT, em 1995 declarava que: Turismo Sustentável
é aquele ecologicamente suportável no longo prazo, economicamente viável, assim como
ética e socialmente eqüitativo para as comunidades locais. Logo, entende-se que o Turismo
Sustentável trata da utilização consciente e responsável dos recursos naturais e culturais
para que o crescimento não comprometa o ambiente para as gerações futuras.
Um desenvolvimento sustentável do Turismo satisfaz as necessidades dos turistas
atuais e das regiões receptoras enquanto protege e aumenta oportunidades no futuro.
Porém, isso leva a um manejo de todos os recursos, de uma maneira que necessidades
econômicas, sociais e estéticas podem ser satisfeitas enquanto a integridade cultural,

4
idem.
processos biológicos essenciais, diversidade biológica e sistemas de suporte da vida são
mantidos.

Desenvolvimento: premissa para o comprometimento social

A soma dos diferentes fatores de produção de bens e serviços que emergem na


atualidade, facilitados pela globalização, pelas preocupações com as questões ambientais,
cidadania, bem estar social, enfim, pelos elementos intrínsecos a sustentabilidade, vem
contribuir para a diversificação de alternativas na busca do desenvolvimento de regiões e
nações.
Assim, as questões que envolvem a definição de desenvolvimento são bastante
amplas e diferem da noção de crescimento. Amartya Sen define o “desenvolvimento como
um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam”, incluindo a idéia
de eliminação da privação na sua totalidade (SEN, 2000, p. 53). Para o autor, a liberdade
figura como o papel constitutivo do desenvolvimento. Observa-se um distanciamento da
idéia do desenvolvimento estar, unicamente, baseado no crescimento do PIB ou da
industrialização, mas destaca a liberdade como parte integrante do enriquecimento do
processo de desenvolvimento, aqui, vista como meio e como fim.
Portanto, o desenvolvimento requer um papel eficiente dos diversos atores
responsáveis pelas suas instituições e interações. “A formação de valores e a emergência e
a evolução da ética social são igualmente partes do processo de desenvolvimento” (SEN,
2000, p. 336). Logo, a contribuição do crescimento econômico “tem de ser julgada não
apenas pelo aumento de rendas privadas, mas também pela expansão de serviços sociais”
(SEN, 2000, p.57), uma vez que os indivíduos encontram-se condicionados às
oportunidades sociais, econômicas e políticas. A liberdade individual é um
comprometimento social, na medida em que é transformadora, ou seja, promove o
desenvolvimento e, portanto, o bem estar da sociedade em sentido amplo e eqüitativo.
Logo, é necessário destacar que o desenvolvimento está interligado a três aspectos
fundamentais: “o papel do bem estar e da liberdade das pessoas, o papel da influência para
a mudança social e o papel para a produção econômica” (SEN, 2000, p. 335). Esses fatores
devem ser considerados juntos, na sua interdependência, como premissas básicas para as
nações que almejam o desenvolvimento de longo prazo. Para Barquero (2002), o
desenvolvimento pode se dar em duas dimensões, a primeira econômica, na qual se
enfatiza a organização da capacidade de produção tornando-a o mais produtiva possível e,
em segundo lugar, a sociocultural em que as bases recaem sobre os valores constitutivos da
sociedade local.
O grande marco para o desenvolvimento sustentável mundial foi a Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em
junho de 1992 (a Rio 92, ECO 92), onde se aprovaram uma série de documentos
importantes, dentre os quais a Agenda 21, um plano de ação mundial para orientar a
transformação desenvolvimentista, identificando, em 40 capítulos, 115 áreas de ação
prioritária. A Agenda 21 apresenta como um dos principais fundamentos da
sustentabilidade o fortalecimento da democracia e da cidadania, através da participação dos
indivíduos no processo de desenvolvimento, combinando ideais de ética, justiça,
participação, democracia e satisfação de necessidades (CATALISA, 2003).
Para Tavares (2001), por meio da Agenda 21 brasileira, foram realizados, entre
setembro de 2000 e maio de 2001, 26 encontros estaduais, onde foram apresentadas e
discutidas 5.800 propostas com a participação de cerca de 3.800 entidades e instituições
dos setores governamental, civil e produtivo, além de cinco seminários regionais e
audiências públicas de âmbito nacional. Tudo isso para produzir um documento a ser
apresentado ao Governo, ao Congresso Nacional e à sociedade, como referência para o
desenvolvimento sustentável nos próximos anos.
A Agenda 21 propõe um modelo de desenvolvimento sustententável a ser adotado
mundialmente, por considerá- lo responsável, abrangente e consolidador, como forma de
evitar, atitudes ingênuas e impensadas que possam levar a ações desastrosas. Assim, o
desenvolvimento se acha centrado na mudança social para a expansão do bem estar e para
a produção econômica no respeito aos direitos humanos e aos das demais espécies.

Relações e Interrelações: em busca do bem estar

Por meio da contextualização das categorias foi possível observar que as noções
apresentadas se acham complementares. Assim, sustentabilidade, desenvolvimento e
Turismo, apesar de suas particularidades, possuem pontos em comum, já que parte de
princípio comum ligados ao bem estar da população, da justiça social e da relação com a
capacidade de desenvolver a atividade econômica de maneira responsável.
A sustentabilidade, por sua vez, tem suas bases fundamentadas nas questões ligadas
ao bem estar da sociedade, portanto, assume uma perspectiva de ordem humana, quando se
refere aos benefícios socioambientais e outra de ordem econômica ligada ao uso racional
dos recursos. Porém, a dimensão econômica e a humana se cruzam numa relação de
equilíbrio e cidadania, pautados pela ética e pela mobilização coletiva. É importante ter
consciência de que a sustentabilidade está intimamente associada à redução das
desigualdades sociais priorizando projetos centrados na solução da exclusão social e das
disparidades regionais.
Desse modo, não pode ser dissociada da noção de desenvolvimento. Ambas,
sustentabilidade e desenvolvimento tratam do bem estar social e econômico. Assim, torna-
se premissa, que o desenvolvimento só pode se dar dentro dos limites propostos para a
sustentabilidade. Então, o desenvolvimento se acha envolto pela sustentabilidade. Um
pressupõe o outro, pode-se dizer que se encontra em estado de simbiose, sendo impossível
dissocia-los.
O desenvolvimento sustentável está centrado na relação homem- natureza, enfocando
a utilização racional dos estoques de recursos naturais. Portanto, o compromisso social
deve ser o ponto de partida para o desenvolvimento sustentável que pressupõe a
convergência dos planos e projetos na direção das expectativas das pessoas, com relação ao
futuro e a qualidade de vida. Deve, ainda, ser complementado com o processo participativo
de construção, no qual as instituições políticas, a sociedade civil e os grupos de interesse
organizados encontrem espaço para exercer o seu papel de representação política e
institucional como agentes de transformação.
A complementaridade entre desenvolvimento e sustentabilidade também encontra
relação com o Turismo. Os vetores comuns quanto ao bem estar e o desenvolvimento
econômico são, fortemente, interrelacionados com a atividade turística. O Turismo
apresenta entre seus objetivos a proposta de desenvolvimento econômico e tem como
principal motivador dos deslocamentos os atrativos turísticos. Portanto, a utilização
consciente dos recursos naturais e culturais é premissa básica para garantir o êxito do
Turismo no longo prazo, isto é, não se podem destruir as bases que o sustentam. Portanto
devem seguir os critérios pré-estabelecidos para a sustentabilidade, como ecologicamente
aceitável no longo prazo; financeiramente viável; justo para as comunidades locais, sob um
ponto de vista social e ético; conservar as tradições e heranças culturais; melhorar a
qualidade de vida das comunidades locais; atores envolvidos; comunidade; visitantes; setor
público; setor privado; ONG’s.
Partindo do exposto, apreende-se que a sustentabilidade é pressuposto do
desenvolvimento do Turismo. Assim, as três categorias dialogam entre si formando um
trinômio, no qual um é complementar ao outro (figura 2). Quanto à questão conceitual de
sustentabilidade destacada no texto, revela a necessidade do desenvolvimento econômico,
porém, deve ser compreendido como gerador de bem estar, cidadania e justiça social,
presente, ainda, no conceito e nos objetivos do desenvolvimento do Turismo proposto pela
OMT e ONU.

Figura 2:

Sustentabilidade

Desenvolvimento Turismo

Portanto, conforme a investigação, o desenvolvimento, compreendido como a


expansão das liberdades reais, a sustentabilidade fundamentada na noção de bem estar
socioambiental e o Turismo na formação de agentes sociais, formam um novo conceito
quanto aos valores coletivos da ética social contribuindo com partes iguais no processo de
desenvolvimento.

Considerações Finais

Este artigo ocupou-se da reflexão em torno da relação existente entre as categorias


sustentabilidade, Turismo e desenvolvimento. A contextualização revelou que os
movimentos sociais observados na atualidade, delineados no Turismo e sustentados pela
interação e pela relação social que se estabelece, são elementos motivadores e responsáveis
pelos deslocamentos, juntamente com os recursos e atrativos turísticos do local receptivo.
Além disso, as bases para o desenvolvimento do Turismo no longo prazo, como os
recursos naturais e culturais são extraídas, definidas e determinadas no local, assim, devem
manter a identidade local e, portanto utilizadas de maneira racional e direcionada ao bem
estar da população.
Logo, os ingredientes importantes para o desenvolvimento sustentável que permeiam
o embasamento conceitual das noções apresentadas promovem uma nova base conceitual,
agora formada por três elementos que se mostraram complementares e até mesmo
inseparáveis. Assim, a sustentabilidade, o Turismo e o desenvolvimento assumiram as
convergências reveladas entre si, por meio de um diálogo preliminar, como uma
possibilidade de conhecimento, respeitando as particularidades dos teóricos e
estabelecendo os níveis de convergência entre as noções apresentadas.
Assim, foi possível observar que os fatores determinantes das formas de produção de
bens e produtos, característicos do desenvolvimento sustentável, estão presentes na noção
de Turismo. Por outro lado, o artigo buscou mostrar, ainda, que o Turismo desempenha um
papel relevante na sociedade nas formas de interação entre os agentes econômicos e
socioambientais.

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