As Escolas de Mistério

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As Escolas

de Mistérios
As Escolas de Mistérios

P rimeiro gostaríamos de esclarecer que alguns livros de referência


mencionam Religiões de Mistério, provavelmente porque estas
proclamavam a crença na reverência por um Ser Supremo que comanda
o Universo. No entanto, a forma na qual existiam era mais um local de
aprendizado, uma instituição, uma universidade com um corpo discente,
operando de forma hierárquica com classes e graus sucessivos. Portanto a
Ordem Rosacruz de nossos dias sempre usou um nome mais apropriado:
Escolas de Mistérios.

Com relação à palavra mistério, existe pouca dúvida de que na remota


antiguidade a busca por respostas aos grandes enigmas da existência
deram origem aos termos desconhecido e mistério sendo usados mais
ou menos como sinônimos. Entretanto, com a evolução gradual da
consciência nesses corredores secretos do aprendizado, a palavra mistério
desenvolveu um significado muito mais exaltado e poderoso. Por
exemplo, nascer e morrer era perfeitamente óbvio para os antigos, mas
uma questão surgiu quanto ao que exatamente era acrescentado ao corpo
para criar a personalidade. Que animava o ser interior, causava vida e

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consciência? Além do mais, o que ocorria na morte? Para onde ia essa
essência vivificadora? Ela retornaria a outro corpo? Estas e muitas outras
perguntas desafiadoras se tornaram os verdadeiros mistérios da vida e
grupos de homens e mulheres corajosos se reuniam, frequentemente sob
ameaça de perseguição do clero dirigente, em busca de respostas para as
inúmeras leis da existência mortal. Causava vida e consciência? Além do
mais, que ocorria na morte? Para onde ia essa essência vivificadora? Ela
retornaria a outro corpo? Estas e muitas outras perguntas desafiadoras se
tornaram os verdadeiros mistérios da vida e grupos de homens e mulheres
corajosos se reuniam, freqüentemente sob ameaça de perseguição do
clero dirigente, em busca de respostas para as inúmeras leis da existência
mortal.”

Quando falamos das antigas escolas de mistérios tendemos a pensar no


Egito e, de fato, este foi o lugar onde primeiro o conhecimento acumulado de
um passado esquecido, mas poderoso, encontrou um lar e uma terra fértil
para ser preservado e aprofundar os estudos e explorações. Para prevenir
que essa acumulação de conhecimento desaparecesse, alguns governantes
estabeleceram firmemente as diretrizes da sistemática de instrução e
iniciações dessas escolas secretas. Também tendemos a nos referir a essas
instituições como sendo várias, mas o Frater, Dr. Harvey Spencer Lewis,
em um artigo do Rosicrucian Digest de maio de 1935, expressou este
ponto esclarecedor: “Falamos dessas escolas como se houvesse muitas. O
fato é, no entanto, que existia apenas uma, apesar de ter inúmeros ramos
ou lugares de instrução em diferentes partes do território egípcio. Mas os
ensinamentos e atividades dessa organização representavam uma única
escola. Ela não tinha um nome nem símbolo definido além da marca pela
qual o membro poderia identificá-la ou identificar-se como iniciado. Os

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registros indicam que a Sede ou principal centro das escolas de mistérios
do Egito foi localizado primeiro na antiga cidade de Filadélfia, depois em
Mêmfis, com um ramo num lugar chamado Mizraim e depois em Tebas
e Luxor. Finalmente, a última sede das escolas de mistérios foi localizada
na cidade de Akhenaton, nas margens do Nilo, na área da antiga cidade
de Tel-El-Amarna.”

Existiam várias diretrizes sólidas sob as quais elas operavam. A seguinte


lista pode não estar completa mas ilustra os elevados princípios da
organização e por que ela atraía pessoas de elevada inclinação espiritual.

Nenhuma Glorificação à Personalidade: Essa pedra fundamental da


organização era absolutamente crucial para sua sobrevivência e sucesso
contínuo. Os ideais e princípios que a fraternidade defendia eram de
primordial importância e o enfoque na personalidade muito menos
significativo. É quase certo que os líderes das antigas escolas rejeitavam
aqueles que estavam cheios de auto engrandecimento e tinham o ego
inflado. Também não toleravam estudantes que tentavam deificar os
líderes e anciãos da organização. Exemplos eminentes de pessoas que
insistiram na humildade como um bom exemplo, independente do seu
nível de iluminação pessoal, foram Pitágoras na sua escola em Crótona na
Itália e Jesus, o Cristo entre os Essênios na Palestina.

Humildade: Definitivamente relacionada com o critério anterior para


o reconhecimento de uma autêntica escola de mistério, é o fato de que
pessoas eram admitidas como estudantes sem considerar preferências
pessoais, raça, religião, nacionalidade, renda, posição social ou poder
político. Elas eram selecionadas de acordo com seu nível de sinceridade

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e desejo de conhecimento. Portanto, não importava se uma pessoa vinha
até a escola como um humilde carpinteiro, trabalhador, fazendeiro ou
artesão. Independente de ser um cantor, dançarino, faraó, sábio, príncipe
ou princesa; não importava qual o cargo ou nível de realização mundana,
era esperado que cada um não fosse mais que uma humilde alma em
busca de mais Luz.

Homens e Mulheres Eram Membros: Aqui está um aspecto dos


procedimentos operacionais das escolas de mistérios que sem dúvida foi
implantado na remota antiguidade e foi perpetuado ao longo das eras
por causa da verdade que refletia, isto é, a personalidade-alma é capaz
de se desenvolver e com tempo atingir a iluminação independentemente
de gênero e em qualquer encarnação. Os líderes das escolas eram tão
inflexíveis a esse respeito que qualquer ramo que se recusasse a aderir
a esse princípio perdia sua autorização de representar a Fraternidade.
Um bom exemplo é o caso de Salomão (mais tarde conhecido como
Rei Salomão), que estudou no Egito, retornou à sua terra, estabeleceu
uma Ordem mística, mas a autorização de representar a Sede egípcia foi
negada porque ele acrescentou dois princípios que violavam as antigas
diretrizes: Primeiro, usou o Sol como ponto focal exclusivo da sua ordem,
nomeando-o como o próprio corpo de Deus e não apenas um símbolo a
exemplo do que foi estabelecido em Tel-El-Amarna; e segundo porque
restringiu o acesso a sua ordem somente a homens.

Iniciática Por Natureza: Hoje, quando começamos um novo processo,


normalmente dizemos que vamos iniciar algo. Nas antigas escolas de
mistérios, no entanto, iniciar significava apresentar uma pessoa aos
mistérios. Sabia-se que uma pessoa compreenderia mais prontamente e

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aceitaria certas verdades quando estas fossem dramatizadas em cenários
significativos, por exemplo, maravilhosos templos, lagos magníficos,
grutas etc. Assim, na consciência do Neófito, a essência dos ensinamentos
não seria um mero conhecimento intelectual mas uma sabedoria
espiritual sentida profundamente, uma gnose emocional que jamais
seria esquecida. Não importa se as iniciações eram da Escola Osírica
Egípcia, de Elêusis, da Órfica, da Mitraica, ou Brahmânica; não importa
se continham elementos de unção, batismo, canto ou prece, as iniciações
estavam baseadas em verdades eternas e tinham como base a crença num
Ser Supremo.

Instrução Progressiva: Essa diretriz de funcionamento está de certa


forma relacionada com o item da humildade. Os novos estudantes, tanto
aquele que era versado em conhecimento místico quanto aquele que era
um mero iniciante, todos começavam o sistema de instrução do zero. Os
estágios sucessivos de instrução eram rigidamente seguidos e o estudante
progredia no desenvolvimento da personalidade-alma de acordo com sua
própria iniciativa e suas habilidades inatas. De qualquer forma, nenhum
nível de instrução era dado, nenhuma iniciação era testemunhada até que
o estudante tivesse completado os passos precedentes. Hoje, encontramos
esse sistema adotado pela Ordem Rosacruz. Por exemplo, o Primeiro Grau
do Templo não é conferido ao estudante até que este tenha completado
os níveis de estudo de Neófito. Então é permitido que cruze o Umbral do
Templo. O estudante progride em sua ascensão, passo a passo, através
dos Graus de estudo. A Tradicional Ordem Martinista também segue
diretrizes muito similares.

Círculos Interiores e Exteriores: É notório o fato de que existiam

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ensinamentos privativos nas antigas escolas. Menos conhecido é o fato
de que nas autênticas organizações místicas existiam dois níveis de
instrução: um nível era o corpo exterior de ensinamentos passados ao
público em geral e o outro representava o interior, o coração e a alma das
doutrinas, reservada somente aos iniciados. Os ensinamentos exteriores,
frequentemente passados por meio de criativos dramas ritualísticos,
ajudavam a proteger os interiores da verdadeira ameaça do ataque por
autoridades religiosas contemporâneas e forças políticas ansiosas por
manter as massas nas trevas e na ignorância. O círculo exterior também
servia como um filtro sutil que atraía aqueles que estavam prontos para
aprofundar seu conhecimento e por outro lado ocultava e protegia o cerne
interior e mais puro.

Como afirmamos anteriormente, as diretrizes acima são uma amostra


dos costumes e práticas seguidos por várias escolas de mistérios. Além
dessas diretrizes, sabemos que era exigido dos estudantes que: tivessem
uma razão aceitável para desejar a afiliação e deveriam declará-la
pessoalmente; fossem submetidos a testes específicos para demonstrarem
seu merecimento; exibissem honestidade, sinceridade e integridade em
seu dia-a-dia; sinais de reconhecimento e palavras de passe utilizadas
para a entrada nas reuniões seriam mantidos em sigilo; espontaneamente
prestassem juramentos de compromisso e votos solenes de lealdade à
organização; os ensinamentos fossem transmitidos oralmente visando
à segurança; a organização se refrearia de envolver-se em controvérsias
políticas ou religiosas.

É essencial ressaltar que como uma marca ou sinal das antigas escolas
de mistérios, devemos procurar os produtos do sistema: os místicos. Que

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almejavam eles? O objetivo e o desejo das escolas de mistérios não era
somente descobrir e entender as leis ocultas da natureza e da humanidade,
mas alcançar uma consciência mais elevada, a união com o Infinito.
Que reconheciam a importância da autoconsciência do Deus interior é
evidente, pois não veneravam ídolos. Além disso, à medida que o ser era
transmutado através da elevação gradual do caráter e da personalidade,
os místicos do passado buscavam demonstrar o alvorecer da consciência
de maneira prática, espelhar o Amor Divino o máximo possível em seus
relacionamentos cotidianos.

Ironicamente, esse modo de vida exemplar fez com que muitas vezes
os estudantes fossem esquecidos, temidos e evitados por algumas pessoas.
Mesmo assim tinham o relutante respeito do povo e em certos círculos
eram admirados como os melhores exemplares que raça humana tinha
a oferecer e merecedores de serem imitados. É certo que as escolas de
mistérios e seus devotados estudantes tiveram um profundo efeito na
terra onde habitavam e sem dúvida foram de grande importância no
desenvolvimento das religiões ocidentais que surgiram

Mais tarde, legados e emissários do Egito foram autorizados a


estabelecer ramos das escolas de mistérios na Grécia, em Roma, na Índia
e em outros países. A Ordem Rosacruz, AMORC é um prolongamento
das escolas de mistérios egípcias, e perpetua até hoje o seu legado.”

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