Tombo
Tombo
Tombo
ALEXANDRE LYMBEROPOULOS
Nesta breve discussão vamos retomar a “regra do tombo”, ou seja, como derivar a função
f ( x ) = x n , com n ∈ N. Feito isso vamos estender a regra, incialmente para n ∈ Z e depois
para n ∈ Q. A regra para expoentes dados por constantes reais também é válida, e pode ser
obtida através de funções exponenciais, assunto da segunda parte do curso.
1. D ERIVANDO f ( x ) = x n , n ∈ N
Quando n ≥ 1 a função não é mais constante e mostramos que função f : R → R dada por
f ( x ) = x n é derivável em todo x0 ∈ R e f 0 ( x0 ) = nx0n−1 . Esta é a popularmente conhecida
“regra do tombo”:
Para tanto, basta calcular diretamente, utilizando a fatoração apresentada no Exercício 10,
item a, da Lista 0:
f ( x ) − f ( x0 ) x n − x0n
lim = lim
x → x0 x − x0 x → x0 x − x 0
A última igualdade se justifica pela continuidade das funções polinomiais, o valor do limite
em x0 é o valor do polinônio em x0 . Logo f 0 ( x0 ) existe e f 0 ( x0 ) = nx0n−1 .
Observação 1.1. A fórmula acima também poderia ser obtida utilizando o binômio de Newton
f ( x0 + h ) − f ( x0 ) ( x0 + h)n − x0n
para calcular o limite lim = lim .
h →0 h h →0 h
Voltando ao caso n = 0, f ( x ) = 1, você poderia pensar em “tombar” o expoente nulo
obtendo f 0 ( x0 ) = 0.x0−1 = 0, certo? Isso funciona bem, exceto na origem! Seria preciso escrever
o caso x0 = 0 em separado, não vale a pena.
1
e g( x ) = x −n , para
Se n ≤ −2, escrevemos f ( x ) = x n como f ( x ) = (h ◦ g)( x ), com h(y) =
y
x 6= 0. Observe que −n ≥ 2, permitindo o uso de (1.1). Com (2.1) e a regra da cadeia, temos:
1
f 0 ( x0 ) = h0 g( x0 ) g0 ( x0 ) = − −2n (−n) x0−n−1 = nx0n−1 .
x0
Até agora temos que
tomando o devido cuidado: se n < 0, então x0 = 0 não está no domínio de f e portanto não faz
sentido falar em f 0 (0) nesse caso.
Observação 2.1. Na argumentação acima você também poderia ter escrito, com as mesmas
notações, f ( x ) = ( g ◦ h)( x ), obtendo o resultado. Cuidado: em geral ( g ◦ h)( x ) 6= (h ◦ g)( x )!
(nem é garantido que ambas estejam definidas simultaneamente)
1 √
3. D ERIVANDO f ( x ) = x n = n
x, n ∈ N, n ≥ 2
x
x
( A ) Gráfico de g( x ) = x3 ( B ) Gráfico de g( x ) = x2
1 1 1 1 1− n 1 1
f 0 ( x0 ) = = n−1 = y01−n = ( x0 ) n = ( x0 ) n −1 ,
g 0 ( y0 ) ny0 n n n
√ 1 1 n1 −1
f (x) = n
x = x n =⇒ f 0 ( x0 ) = x , para todo n ∈ N, n ≥ 1,
n 0
com x0 6= 0 no domínio de f . A argumentação acima não vale para x0 = 0, mas mesmo assim
poderia existir f 0 (0). É preciso verficar pela definição:
√
f ( x ) − f (0) n
x 1
lim = lim = lim 1 ,
x →0 x−0 x →0 x x →0 x 1− n
o qual não existe, para cada natural n > 1. Note que, se n é par, só faz sentido o limite lateral
pela direta3, que resulta em +∞; se n é ímpar, os dois laterais fazem sentido, sendo +∞ e −∞
pela esquerda e direita, respectivamente.
Observação 3.1. Uma alternativa4 a esta abordagem seria usar novamente o Exercício 10 da
Lista 0, mas achamos importante ver como podemos usar os resultados teóricos para obter
novas fórmulas. Uma terceira alternativa seria imitar a Observação 1.1, calculando o limite
f ( x0 + h ) − f ( x0 ) 1
lim . Assim você se depara com a expressão ( x0 + h) n , que se parece com
h →0 h
o binômio de Newton, mas o expoente não é natural! Isto motivou o estudo, pelo próprio
Newton, do que viria a ser chamada de série binomial:
∞
α ( α − 1) 2
α k
(3.1) (1 + x ) = ∑
α
x = 1 + αx + x +··· ,
k =0
k 2!
onde α é um número real!!! O que seria (αk ) com α ∈ R? Você já viu (nk), com naturais n > k.
Faz sentido falar em fatorial de um número real? Sim, olhe para os coeficientes das potências
de x em (3.1), mas isso é assunto para um outro curso.
5. PALAVRAS FINAIS
Resta apenas ver o que acontece com um expoente real fixo. Afirmamos que a “regra do
tombo” ainda é válida:
f ( x ) = x α =⇒ f 0 ( x0 ) = αx0α−1 , para todo α ∈ R e x0 > 0.
Se x0 = 0, as mesmas restrições para expoentes racionais se aplicam. Para uma demonstra-
ção clara da validade dessa afirmação é necessário definir o significado de x α . Isso pode ser
feito como o limite das potências de x por expoentes numa sequência de racionais que con-
verge para α ou como o supremo das potências xr , r ∈ Q, tais que xr ≤ x α . Qualquer uma
dessas duas definições é muito complicada para se trabalhar na definição de derivada.
Uma alternativa, envolvendo exponenciais e logaritmos, é usar a mudança de base expoen-
cial, ab = cb logc a , para escrever x α = eα ln x . Mas isso depende da construção do número de
Euler e da diferenciabilidade das funções exponenciais e logaritmicas, o que será feito ainda
neste curso. Aguardem!