A Bíblia Que Mordeu o Homem
A Bíblia Que Mordeu o Homem
A Bíblia Que Mordeu o Homem
Hebreus 1:1-2 diz que “Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras aos nossos
antepassados, pelos profetas. Mas agora, que o fim está perto, falou-nos por meio do
seu Filho”. De forma clara o texto afirma que Deus falou “muitas vezes” (a palavra no
original grego é polumeros = muitas porções, muitos livros, muitas secções) referindo-
se aos livros proféticos, históricos, poéticos e ao Pentateuco que formam o Velho
Testamento; e de “muitas maneiras” (no grego a palavra é polutropos). Aqui o
significado terá a ver com todos os símbolos usados no Velho Testamento, assim
como as visões, as cerimónias, as teofonias e até as vozes audíveis, pela quais Deus
comunicava com o homem. Ele chegou a escrever numa parede com a ponta dos
dedos. Além disso o texto ainda afirma que agora Deus tem falado de forma
conclusiva pelo Seu Filho Jesus Cristo. Há aqui uma comunicação a dois tempos:
primeiro Deus fala e os registos dessa acção, estão no velho Testamento; depois
Deus fala de novo, pelo Filho, e essa atitude aparece documentada no Novo
Testamento. Os Evangelhos, são o registo da forma como Deus comunica através de
Jesus – o Verbo feito carne; os Actos revelam Deus a consolidar a mensagem de
Jesus Cristo; as Epístolas fundamentam o significado espiritual do ministério de Cristo
e o Apocalipse regista a consumação do todas as coisas e a visibilidade do Reino de
Jesus Cristo. Por isso, temos aqui uma afirmação da capacidade comunicativa de
Deus. E, sendo que comunicar significa “tornar comum”, a Bíblia é a história dum Deus
que deseja ter coisas em comum com o homem. Ele quer partilhar vivências,
emoções, sonhos e planos, com a humanidade. A Bíblia retrata, ao vivo e a cores, um
Deus comunicativo.
O processo da comunicação
O conteúdo da comunicação
E naturalmente surge uma outra questão: bem, Deus comunicou ideias e conceitos
genéricos, mas não transmitiu as palavras exactas que os autores humanos deveriam
registar. Esta é uma questão interessante, mas acaba por ser uma falsa questão.
Senão vejamos: como é que é possível comunicar ideias sem palavras. Mesmo sendo
Deus, como seria possível comunicar conceitos que não se traduzissem em verbos e
adjectivos documentados na versão escrita? Não faz muito sentido. Quando Moisés
reagiu escusando-se a falar pelo Senhor lá em Êxodo 4:10, dizendo que era “pesado
de boca, e pouco eloquente”, Deus respondeu-lhe: “eu serei com a tua boca!” Há uma
determinação clara da parte de Deus em comunicar pela palavra. Isaías diz que “ouviu
a voz do senhor dizer”; Jeremias 1:4 enfatiza: “o Senhor esticou a Sua mão, tocou na
minha boca e disse: eis que ponho as Minhas palavras na tua boca”; e Ezequiel diz:
“filho do homem, Eu te mando para os filhos de Israel, todas as Minhas palavras que
Eu falar ...” Paulo em Actos 22:14, dá uma testemunho poderoso da sua conversão
afirmando que: “o Deus do nossos antepassados escolheu-te, para O ouvires falar
pessoalmente”. Fica claro que Deus comunica ideias concretas e de forma concreta
através de palavras, não apenas conceitos genéricos. Acreditar nisso seria como
acreditar em numa melodia sem notas, ou num sol sem luz, ou numa soma aritmética
sem números, ou na possibilidade de termos geologia sem rochas, ou ainda
antropologia sem homens. Deus portanto, através duma comunicação pessoal, aero-
transportou os escritores sagrados de forma a que eles registassem as palavras
exactas de Deus. O clímax desta atitude é a vinda ao mundo do “verbo (palavra no
grego = “logos” que significa Palavra Primordial) que se fez carne” (João 1:1). É
preciso acrescentar que nesta comunicação não houve suspensão das capacidades
dos escritores que foram energizados por Deus. A comunicação aconteceu integrando
as experiências, o vocabulário, as paixões, os antecedentes sociais e emocionais, dos
escritores da Bíblia. Os homens foram conduzidos de forma a nunca violarem a
Palavra de Deus. Daí podermos dizer com convicção: “toda a escritura (“pasa graphe”)
é divinamente inspirada (“theopneutos”)” (2ª Timóteo 3:16).
Ruídos na comunicação
Quando viajamos de carro gostamos de ligar o rádio para ouvir as notícias ou para
termos companhia. Se subirmos uma montanha é previsível que o sinal da estação
que estamos a ouvir comece a desaparecer. E ouvimos o zumbido característico das
ondas hertzianas a interromper a comunicação. Dizemos que estamos mal
sintonizados, há ruído na comunicação.
Será possível que nesta comunicação Deus-homem tenha havido alguns ruídos
irritadiços que se intrometeram na ligação entre Deus e os escritores da Bíblia!?
Haverá erros na Bíblia? Será que a Bíblia tem legitimidade quando entra em áreas
científicas, históricas, geográficas e matemáticas? Vejamos alguns exemplos.