1.PETIÇÃO INICIAL BPC - Deficiente

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“Teu dever é lutar pelo Direito, mas se um dia encontrares o

Direito em conflito com a Justiça, luta pela Justiça.”


Eduardo Juan Couture

AO DOUTO JUÍZO DA .....ª VARA DO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL CÍVEL DA SEÇÃO


JUDICIÁRIA DE BELÉM – PARÁ

MAYKO CORREA MAIA, brasileiro, solteiro, desempregado, portador da Car-


teira de Identidade n° 6923811 2° via, PC/PA, inscrito com CPF n° 018.922.602-12,
residente e domiciliado na Tv Timbó, n° 1785, casa A, Bairro Marco, Belém/PA,
CEP: 66.083-049, endereço eletrônico maykotrinteto@gmail.com, vem respeitosa-
mente perante Vossa Excelência, por intermédio de sua Advogada que abaixo
subscreve com escritório profissional, conforme apontado no rodapé, onde recebe
intimações, vem propor a presente

AÇÃO DE RESTABELECIMENTO DE BENEFÍCIO AMPARO SOCIAL À PESSOA


PORTADORA DEFICIENCIA (87) C/C PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

Em desfavor do INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS, Au-


tarquia Federal, Pessoa Jurídica de Direito Público, na pessoa do seu representante
legal, com sede na Av. Pedro Miranda, 1060 - Pedreira, Belém - PA, 66085-005 , pelos fatos e
fundamentos abaixo aduzidos.

DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO

Inicialmente cumpre esclarecer que a ação envolve matéria regulada pela Lei
10.048/2000, razão pela qual tem direito à prioridade da tramitação da presente
demanda.
Jardim Hortênsio Gomes, Vila 02, casa 08, Bairro Sacramenta.
CEP: 66.083-330 - Belém/PA - (091) 98037-3760
rina.advogada@gmail.com
OAB/PA:32.809
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Eduardo Juan Couture

DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

O Promovente vem requerer a Vossa Excelência os benefícios da gratuidade


de justiça, assegurada pelos arts. 98 e 99 do NCPC/2015, tendo em vista, que não
pode arcar com as custas do processo sem prejuízo do sustento próprio, conforme
declaração de hipossuficiência financeira anexa.

DADOS DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO


1. Benefício pleiteado: BPC – Benefício de prestação continuada

2. Espécie: Amparo Social À Pessoa Portadora de Deficiência (87)

3. Data inicio do beneficio 11/01/2022


(DIB):

4. Data da cessação do be- 31/12/2019


neficio (DCB):

5. Motivo da Cessação : 006: Não atendimento a Conv.do Posto

DADOS SOBRE A DEFICIÊNCIA


1. Deficiência: CID 10 - Q07.8 - Outras malformações congênitas
especificadas do sistema nervoso.
2. Limitações Primárias e seque- Sequelas neurológicas congênitas com comprome-
las decorrentes: timento de nervos cranianos, principalmente 7º par,
além de deformidade de membro superior esquer-
do e pé torto congênito – Sindrome de Moebis as-
sociado à Sindrome de Poland;
Dificuldade de locomoção e dificuldade de comuni-
cação, de caráter sequelar e irreversível; Quadro
limitante as atividades laborais.
3. Sequelas Secundárias decor- Transtornos emocionais por conta da deficiência
rentes: física congênita - Portador de ansiedade crônica.

4. Responsável Técnico Dr. Fernando M.S.Santos – Neurocirurgião


CRM/PA 5402

I-BREVE RELATO DOS FATOS

O autor, após preencher os requisitos para o Benefício de Assistencial Conti-


nuada, obteve o benefício assistencial sob o nº 1174627783, DIB 11/01/2002, o qual
foi cessado seu benefício em 31/12/2019 pelo motivo 006: Não atendimento a
Conv.do Posto.

Na ocasião da suspensão do benefício, a representante do autor, a época,


apresentou-se junto ao INSS em 11/02/2020 11:07 e tomou ciência que precisava

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fazer atualização cadastral de inscrição no CadÚnico, conforme comprovante de


GET – Gerenciador de tarefas do INSS. (Imagem 01 – doc. anexo)

Imagem 01

Em 05/03/2020 11:45, em atendimento ao seu último comparecimento ao


posto em 11/02/2020 11:07, enviou os documentos exigidos pela autarquia para a
atualização cadastral via internet conforme GET – gerenciador de tarefas. (imagem
02 – doc. anexo)

Imagem 02

Após a atualização do CadÚnico, com exigência cumprida, foi mantido o


bloqueio do benefício, em seguida o autor deu entrada no dia 28/04/2020 11:10
(imagem 03 – doc. Anexo) em um novo pedido, desta vez solicitando o pagamento
do benefício não recebido, conforme imagem anexada a seguir:

Imagem 03

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O pedido novamente foi indeferido dia 04/05/2020 08:15 (imagem 04 – doc.


Anexo), com a justificativa que informamos que o referido benefício encontrava-se
cessado pelo motivo 006 (não atendimento à convocação do posto), conforme
despacho administrativo nº69698858:

Imagem 04

Por ocasião da manutenção do bloqueio, ao mesmo tempo apresentou pedido de


reativação em 28/04/2020 11:10 (D.E.R), no afã de ter seu benefício restaurado, e
usou o canal de atendimento do INSS, central de serviços 135, conforme GET,
imagem em anexo (imagem 04 – doc. anexo):

Imagem 04

A resposta não foi satisfatória e o pedido de reativação foi INDEFERIDO


em 04/05/2020 8:41, sendo comunicado pela autarquia que o pedido não seria
possível ser atendido, visto que o benefício havia sido cessado pelo motivo 006
“não comparecimento à convocação do posto”, e que também foi encontrado um
vínculo de Contribuinte Individual desde outubro de 2013 da Sra Ana Maria Gomes
Correa, renda não inclusa no Cadúnico. (imagem 05 – doc. Anexo)

Imagem 05

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Como se percebe, a justificativa predominante para a cessação do benefício


foi o motivo 006: não convocação ao posto, no entanto, nota-se que essa
justificativa não encontra respaldo pela autarquia, pois o autor atendeu a todas as
convocações e exigências e para fundamentar e manter a suspensão arbitrária, a
autarquia fez uso da alínea C, inciso I, do §7º, do Artigo 47 do Dec. 9.462/18
(imagem 06 – doc. anexo), VEJA-SE:

Imagem 06

“Dec. 9462/18 - Art. 47. O Benefício de Prestação


Continuada será suspenso nas seguintes hipóteses:
(...)
§ 7º A suspensão do pagamento do benefício consiste na
interrupção do envio do pagamento à rede bancária e
observará as seguintes regras:
I - o benefício será suspenso:
c) quando o beneficiário não entrar em contato com os
canais de atendimento do INSS ou outros canais
autorizados para esse fim no prazo de trinta dias, contado
do bloqueio de que trata o § 3º;”

Pois bem, a linha do tempo demonstra que autor entrou em contato pelos
canais de atendimento do órgão para cumprir as exigências e também fez a
atualização conforme orientação da autarquia. No entanto, o despacho do órgão
manteve a negativa em atender a reativação, afirmando não ser possível atender
o pedido visto que o benefício foi cessado pelo motivo 006 (não comparecimento à
convocação do posto) e também incluíram uma outra justificativa, alegando
inconsistência nas informações apresentadas após a atualização cadastral,
conforme Despacho (69704337). (imagem 05 – doc. anexo)
Analisando com mais detalhes ao referido despacho, percebe-se que o
motivo que implicou na presente verificação de irregularidade foi a falta de
atualização do CadÚnico do Autor. A falta de atualização só foi percebida pela
Autarquia aproximadamente 17 (dezessete) anos após a concessão do benefício. A
inercia da autarquia em notificar o autor para a necessidade de atualização e a falta
de conhecimento do autor para suprir essa necessidade contribuiu assim para
permanência dessa inconsistência cadastral, mas tal irregularidade já foram
corrigidas, conforme ficha cadastral do CRAS (doc. anexo), onde o mesmo figura
sozinho e responsável pela unidade familiar.
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Ressalta-se ainda que, no período alegado pela autarquia (10/2013), a Sra.


Ana Maria Gomes Correa havia cedido, em 02/2013, um espaço para que o autor
usasse e construísse sua moradia, no mesmo endereço, separado de sua
residência, já não mais integrando o grupo familiar com a Sra Ana Maria Gomes
Corrêa, inclusive o comprovante de conta de telefone encontra-se no nome do autor
corroborando com a informação apresentada junto com a declaração do imóvel
cedido, sendo assim, o grupo familiar do autor seria composto apenas por ele e a
renda total familiar era oriunda da verba proveniente do AMP. SOCIAL PESSOA
PORTADORA DEFICIENCIA (87).
Foi surpresa para o autor ter seu benefício suspenso sob argumento de “o
beneficiário não entrar em contato com os canais de atendimento do INSS”,
essa justificativa não encontra amparo pela Autarquia Ré, haja vista, o autor ter
usado os canais de atendimento conforme demonstrado acima, portanto, a
alegação usada é completamente equivocada e não condiz com a realidade dos
fatos apresentados.
Mesmo certo de seu direito, o autor esclarece que desconhecia dos indícios
de irregularidades, ainda mais que vinha recebendo normalmente seu benefício e
nem tampouco a Autarquia havia notificado em qualquer outro momento sobre tal
necessidade, tendo em vista que não é conhecedor da lei previdenciária e não sabia
que teria que informar ao INSS a saída do grupo familiar da Sra. Ana Maria Gomes
Correa.

II- DO DIREITO SUBJETIVO AO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO


CONTINUADA AO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA
O benefício de prestação continuada possui embasamento legal no art. 20, da Lei n°
8.742/93 e dispõe acerca do direito a um benefício no valor de um salário mínimo mensal,
em alguns casos específicos. Veja-se:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a


garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa
com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e
cinco) anos ou mais que comprovem não possuir
meios de prover a própria manutenção nem de tê-la
provida por sua família.

A concessão do benefício assistencial de prestação continuada, portanto,


está condicionada ao preenchimento de dois requisitos: condição de deficiente
(incapacidade para o trabalho) ou condição de idoso (acima de 65 anos de idade)
e situação de risco social devido à ausência de meios dignos de prover a
própria subsistência ou de tê-la provida por sua família.

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Assim, após preenchidos todos os requisitos que autorizam a concessão do


benefício, outra não poderia ser a decisão, senão o imediato restabelecimento do
benefício, afinal:
a) Autor é portador de doença que o incapacita para a vida independente e para
o trabalho;
b) O Autor está impossibilitado de prover seus próprios meios de subsistência
ou tê-la provido pela família, por possuir baixa renda per
capta.

A constatação da incapacidade é incontroversa, conforme laudo e atestados


em anexo e confirmado por súmula do TNU:

Súmula 48: "A incapacidade não precisa ser


permanente para fins de concessão do benefício de
prestação continuada”

No caso em tela, entendeu o INSS que o autor deixou de preencher o


segundo requisito, qual seja, que foi encontrado vinculo de contribuinte individual da
representante legal do autor a época, informação auferida em virtude da
desatualização cadastral, mas tal informação encontra-se corrigida e atualizada.
A conduta unilateral da Administração de suspender o pagamento de
benefícios previdenciários – revestidos de nítido caráter alimentar –, sem atenção
aos postulados do devido processo legal administrativo, ofende as garantias
constitucionais da ampla defesa e do contraditório e, mais, colide com o
entendimento sumulado no extinto TFR, o qual trazemos a colação:

SUMULA Nº 160: A suspeita de fraude na concessão


de benefício previdenciário não enseja, de plano, a
sua suspensão ou cancelamento, mas dependerá de
apuração em procedimento administrativo.

Tendo em vista, ainda a natureza alimentar dos proventos, revela-se abusiva


o cancelamento do benefício, promovida antes de apreciado, de modo definitivo, no
âmbito administrativo e clínico, o caso concreto, já que, conforme a própria
Constituição Federal, o direito de defesa deve ser exercido mediante o emprego de
todos os meios e recursos admitidos no sistema normativo.
Pode-se dizer, dando curso a outra ordem de argumentos, que o agente
público habilitado a conceder e a manter as prestações é animado em mostrar
eficiência para proceder cancelamentos e suspensões, lento na fiscalização e
muitas vezes inerte para notificar das determinadas necessidades a seus usuários.

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A Súmula 473 do STF, de habitual uso pelo INSS, também assegura em


todos os casos a apreciação judicial, conforme texto oficial que transcrevemos:

“A administração pode anular seus próprios atos,


quando eivados de vícios que os tornam ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revogá-los,
por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada em
todos os casos a apreciação judicial”.

Bastaria que a Administração passasse a respeitar os princípios da


legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência,
constitucionalmente fixados no artigo 37 da Constituição federal, e também
previstos na Lei nº 9.784/99, artigo 2º, que ainda consagra os princípios da
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa, contraditório,
segurança jurídica, interesse público e eficiência no processo administrativo para
que as suspeitas de fraude ou irregularidades ocorridas para a manutenção de
benefícios previdenciários fossem devidamente apuradas e corrigidas sem a
necessária intervenção da já tão assoberbada Justiça.
Desta forma, mais uma vez deve o Poder Judiciário apreciar e determinar a
conclusão do óbvio, que é o restabelecimento do benefício da autora de imediato.

III- DA SITUAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICA: DA APLICAÇÃO RELATIVA DO LIMITE


LEGAL DA RENDA
É sabido que, para fins legais, o requisito socioeconômico à concessão do
benefício assistencial é preenchido quando a renda per capita do grupo familiar é
inferior a ¼ do salário mínimo vigente:

§ 3o Considera-se incapaz de prover a manutenção


da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja
renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto)
do salário-mínimo.

Cabe salientar que o limite da renda previsto no §3º do art. 20 da Lei


n.8.742/93, não deve mais ser encarado como um critério objetivo da condição ou
não de miserabilidade do Autor, mas apenas como valor de presunção.
O autor vive em um cômodo cedido pela sua mãe, sendo o mesmo
responsável pela manutenção de sua moradia, tendo que arcar com despesas de
água e luz, alimentação, vestuário e saúde (fazendo uso de ansiolíticos há cerca de

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04 (quatro) anos), conforme laudo médico anexo, tais despesas eram mantidas pela
renda proveniente do AMP. SOCIAL PESSOA PORTADORA DEFICIENCIA (87).
Assim, evidente que o restabelecimento do benefício de prestação
continuada que constitui instrumento indispensável para que as pessoas com
deficiência que não podem manter-se por si mesma, tenha suas necessidades
básicas atendidas e viva com o mínimo de dignidade.
O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADIN 1.232/DF, em
27.08.98 concluiu pela constitucionalidade do § 3.º do artigo 20, da Lei n° 8.742/93.
Todavia, o Ministro Néri da Silveira, no julgamento do recurso extraordinário
286.543-5 afirmou que o limite previsto no § 3.º, do art. 20, da LOAS "[...] não
encontra fundamento de validade jurídica na Lei Maior vigente". E o Tribunal
Regional da 3.ª Região pronunciou-se pela constitucionalidade do § 3.º, do art.
20, da Lei n.° 8.742/93, mas sem que o mesmo fosse aplicado com uma norma
restritiva à concessão do benefício.
Portanto, o benefício assistencial é destinado aos miseráveis, aos ca-
rentes, àqueles que se encontram em situação de desamparo, o que bem se en-
quadra no caso em tela. Consoante prescreve o artigo 1.° da Lei n.° 8.742/93, a as-
sistencia social “(...) é política de Seguridade Social não contributiva, que provê os
mínimos sociais”.
É preciso salientar, ainda, que a análise da situação de miserabilidade deve
ser feita em cada caso concreto. O parâmetro da Lei n° 8.742/93 (§ 3.º, art. 20),
trata de uma presunção absoluta de hipossuficiência econômica, ou seja, a pessoa
portadora de deficiência ou idoso que tenha renda per capita inferior a ¼ de do
salário mínimo, faz jus ao benefício.
Nesse sentido, vale lembrar que o limite mínimo previsto no art. 20, § 3º,
da Lei 8.742/93 gera presunção absoluta de miserabilidade, conforme tese jurídica
fixada no IRDR 12:

PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. LEI



8.742/93. PESSOA IDOSA. IRDR 12. REQUISITOS
ATENDIDOS. TUTELA ANTECIPADA. [...] 2.
Hipótese que se enquadra na tese jurídica
estabelecida no IRDR 12 (5013036-
79.2017.4.04.0000/RS): o limite mínimo previsto no
art. 20, § 3º, da Lei 8.742/93 ('considera-se incapaz
de prover a manutenção da pessoa com deficiência
ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja
inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo') gera,
para a concessão do benefício assistencial, uma
presunção absoluta de miserabilidade. [...] (TRF4, AC
5005667-05.2020.4.04.9999, TURMA REGIONAL

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SUPLEMENTAR DO PR, Relator FERNANDO


QUADROS DA SILVA, juntado aos autos em
16/09/2020, com grifos acrescidos).

Muito embora o Autor receba ajuda dos familiares (doação de remédios,


ajuda em despesas médicas) a renda per capta do grupo familiar não é superior
a ¼ do salário mínimo, é de se destacar que tal critério é objetivo, constante na
LOAS, foi declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, devendo a
condição de miserabilidade ser aferida no caso concreto, mediante o cotejo das
condições sociais e econômicas do cidadão que pleiteia o benefício.
Ainda sob o critério econômico relacionado ao benefício, o Supremo Tribunal
Federal decidiu pela inconstitucionalidade do patamar entabulado no artigo 20, § 3º
da Lei 8.742/93, de modo que a análise da vulnerabilidade social vivenciada pelo
Autor deve ser observado individualmente. Veja-se:

BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO


CONTINUADA – RENDA FAMILIAR PER CAPITA –
CRITÉRIO DE AFERIÇÃO DE MISERABILIDADE –
CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO –
AFASTAMENTO – DECLARAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 20, § 3º, DA
LEI Nº 8.742/93 SEM PRONÚNCIA DE NULIDADE –
AGRAVO DESPROVIDO. 1. O Colegiado de origem
assentou a comprovação dos pressupostos
necessários à concessão do benefício assistencial de
prestação continuada – LOAS. O recorrente insiste no
processamento no extraordinário, afirmando violados
os artigos 203, inciso V, e 229, cabeça, da Constituição
Federal, apontando não preenchido o requisito da
miserabilidade. 2. O Tribunal, no Recurso
Extraordinário nº 567.985/MT, de minha relatoria, tendo
sido designado para redigir o acórdão o ministro Gilmar
Mendes, declarou incidentalmente a
inconstitucionalidade, por omissão parcial, do artigo 20,
§ 3º, da Lei nº 8.742/93, sem pronúncia de nulidade,
asseverando o critério de renda familiar por cabeça
nele previsto como parâmetro ordinário de aferição da
miserabilidade do indivíduo para fins de deferimento do
benefício de prestação continuada. Permitiu, contudo,
ao Juiz, no caso concreto, afastá-lo, para assentar a
referida vulnerabilidade com base em outros
elementos. 3. Em face do precedente, ressalvando a
óptica pessoal, desprovejo este agravo. 4. Publiquem.
Brasília, 30 de março de 2016. Ministro MARCO
AURÉLIO Relator (STF - ARE: 937070 PE -

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PERNAMBUCO, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data


de Julgamento: 30/03/2016, Data de Publicação: DJe-
063 07/04/2016)

As leis abriram portas para a concessão do benefício assistencial fora dos


padrões objetivos fixados pelo artigo 20 da Loas, e juízes e tribunais passaram a
definir o valor de meio salário mínimo como indicação para aferição da renda
familiar per capita.
É fácil perceber que a economia brasileira sofreu alterações nos últimos
20 anos. Desde a promulgação da Constituição, foram realizadas relevantes
reformas constitucionais e administrativas com repercussão no âmbito
econômico e financeiro. A inflação galopante foi controlada, o que tem permitido
uma significativa melhoria na distribuição de renda, o contexto proporcionou que
fossem modificados também os critérios para a concessão de benefícios
previdenciários e assistenciais se tornando mais generosos e apontando para
meio salário mínimo o valor padrão de renda familiar per capita.
Portanto, os programas de assistência social no Brasil atualmente
utilizam o valor de meio salário mínimo como referencial econômico para a
concessão dos respectivos benefícios. Ressalte-se que este é um indicador
bastante razoável de que o critério de um quarto do salário mínimo utilizado pela
Loas está completamente defasado e inadequado para aferir a miserabilidade
das famílias, que, de acordo com o artigo 203, parágrafo 5º, da Constituição,
possuem o direito ao benefício assistencial.
No julgado em destaque, conforme asseverou o ministro, ao longo dos
vários anos desde a sua promulgação, a norma passou por um processo de
inconstitucionalização decorrente de notórias mudanças fáticas, políticas,
econômicas, sociais e jurídicas. Com esses argumentos, o ministro votou pela
improcedência da reclamação, consequentemente declarando a
inconstitucionalidade incidental do artigo 20, parágrafo 3º, da Loas, sem
determinar, no entanto, a nulidade da norma.
Não se pode interpretar o parágrafo 3º do artigo 20 da Lei n.º 8.742/93
como restritor à concessão de benefícios assistenciais quando a renda per capita
familiar seja superior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo, quando no caso
concreto estão presentes todos os requisitos justificadores da concessão do
benefício, pois tal interpretação é odiosa, por contrariar os princípios do instituto
em questão.

Entretanto, diante da situação de miserabilidade em que vive o Autor, tem-


se indevida a decisão administrativa que cessou a benesse, eis que o
Demandante dependia do referido benefício para proporcionar sua mínima
mantença.

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No caso sub judice, entretanto, verifica-se que a renda do autor é igual a ze-
ro, haja vista, a renda que o mantinha era oriunda do AMP. SOCIAL PESSOA
PORTADORA DEFICIENCIA (87), isso porque, em virtude de sua deficiência con-
gênita (laudo anexo), o mesmo foi beneficiado pela assistencial financeira do INSS
desde 2002, não restando outra fonte de renda ou outro meio de ter provido sua
subsistência.
O autor reside em um cômodo, cedido pela sua mãe de aproximadamente
13,5M². O Imóvel é muito simples, abrangendo apenas 01 cômodo em alvenaria, em
cimento cru, faltando acabamentos, sendo corroídos pela umidade e com a suspen-
são do seu benefício seus projetos de melhoria de uma vida mais digna foram sus-
pensos e adiados. Os móveis também são escassos e sem luxo algum.
Nesse sentido, resta evidenciada a situação de risco social vivido pelo autor,
preenchendo o segundo requisito à concessão do benefício assistencial de presta-
ção continuada, o que também será comprovado após visita do assistente social e
confecção do laudo socioeconômico, o que ora se requer.

IV- DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA


O Autor pleiteia a concessão imediata do restabelecimento de seu benefício
para custear a própria vida, tendo em vista que não reúne condições de patrocinar
seu sustento.
DA PROBABILIDADE DO DIREITO: Como ficou perfeitamente demonstrado, o
direto do Autor é caracterizada pela comprovação inequívoca do cumprimento aos
requisitos legais à concessão do benefício.
DO PERIGO DA DEMORA: Trata-se de benefício devido e única forma de garantir
a subsistência do Autor, especialmente por tratar-se de verba alimentar, ou seja, tal
circunstância confere grave risco pela demora do processo.
Os requisitos exigidos para a concessão do benefício encontram-se perfeita-
mente demonstrados para o deferimento a medida antecipatória, motivo pelo qual
imperiosa a sua concessão, conforme precedente jurisprudencial, VEJA-SE:

PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-RECLUSÃO. TUTELA DE


URGÊNCIA.1. À semelhança do entendimento firmado pelo
STJ, no julgamento do Recurso Especial 1.112.557/MG,
Representativo da Controvérsia, onde se reconheceu a
possibilidade de flexibilização do critério econômico definido
legalmente para a concessão do Benefício Assistencial de
Prestação Continuada, previsto na LOAS, é possível a
concessão do auxílio-reclusão quando o caso concreto
revela a necessidade de proteção social, permitindo ao
Julgador a flexibilização do critério econômico para

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Direito em conflito com a Justiça, luta pela Justiça.”
Eduardo Juan Couture

deferimento do benefício, ainda que o salário de


contribuição do segurado supere o valor legalmente fixado
como critério de baixa renda. 2. Presentes os requisitos
legais, cabível a concessão da tutela de urgência para
determinar a implantação do benefício. (TRF-4 - AG:
50640154520174040000 5064015-45.2017.4.04.0000,
Relator: JORGE ANTONIO MAURIQUE, Data de
Julgamento: 01/03/2018, TURMA REGIONAL
SUPLEMENTAR DE SC)

BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO


CONTINUADA. ARTIGO 20, DA LEI Nº 8.742/93 (LOAS).
IDOSO. SITUAÇÃO DE RISCO SOCIAL. REQUISITOS
PREENCHIDOS. TUTELA DE URGÊNCIA. CORREÇÃO
MONETÁRIA E JUROS DE MORA. 1. O direito ao benefício
assistencial pressupõe o preenchimento dos seguintes
requisitos: condição de deficiente (incapacidade para o
trabalho e para a vida independente, consoante a redação
original do art. 20, da LOAS, ou impedimentos de longo
prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os
quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir
a participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas,
consoante a redação atual do referido dispositivo) ou idoso
(assim considerado aquele com 65 anos ou mais, a partir
de 1º de janeiro de 2004, data da entrada em vigor da Lei
nº 10.741/2003 - Estatuto do Idoso) e situação de risco
social (ausência de meios para a parte autora, dignamente,
prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família). 2. Comprovados o requisito etário e a atual
situação de risco social, tem direito a parte autora à
concessão do benefício assistencial de prestação
continuada desde a data do requerimento administrativo. 3.
Preenchidos os requisitos exigidos pelo artigo 300, do
Código de Processo Civil, probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, é
cabível a tutela de urgência. 4. O Supremo Tribunal Federal
reconheceu repercussão geral à questão da
constitucionalidade do uso da Taxa Referencial (TR) e dos
juros da caderneta de poupança para o cálculo das dívidas
da Fazenda Pública, e vem determinando, por meio de
sucessivas reclamações, e até que sobrevenha decisão
específica, a manutenção da aplicação da Lei nº
11.960/2009 para este fim, ressalvando apenas os débitos
já inscritos em precatório, cuja atualização deverá observar
o decidido nas ADIs 4.357 e 4.425 e respectiva modulação
de efeitos. Com o propósito de manter coerência com as
recentes decisões, deverão ser adotados, no presente
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momento, os critérios de atualização e de juros


estabelecidos no art. 1º-F da Lei nº 9.494/1997, na redação
dada pela Lei nº 11.960/2009, sem prejuízo de que se
observe, quando da liquidação, o que vier a ser decidido,
com efeitos expansivos, pelo Supremo Tribunal Federal.
(TRF4 5029916-0.2014.404.9999, Sexta Turma, Relator p/
Acórdão Osni Cardoso Filho, juntado aos autos em
15/04/2016)

Como ressalta Humberto Theodoro Jr, que se justifica a antecipação de


tutela pelo princípio da necessidade, a partir da constatação de que sem ela a
espera pela sentença de mérito importaria denegação de justiça, já que a
efetividade da prestação jurisdicional restaria gravemente comprometida.
Reconhece-se, assim, a existência de casos em que a tutela somente servirá ao
demandante se deferida de imediato. (JUNIOR, Humberto Theodoro, Curso de
Direito Processual Civil, Rio de Janeiro, Forense, 2013.
Assim, requer a apreciação do feito com o deferimento do pedido de
antecipação da tutela.

V- DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, REQUER a Vossa Excelência:


1. Que seja deferido a prioridade na tramitação do processo;
2. A concessão do benefício da gratuidade de justiça, por ser o Autor pobre na
acepção legal do termo, nos termos do art. 98 e 99 do Código de Processo Civil;

3. Que seja deferida a antecipação dos efeitos da tutela, para determinar o


imediato restabelecimento do Amparo Social À Pessoa Portadora de Deficiência
(87), intimando a Autarquia a restabelecer imediatamente o Benefício Assistencial
de Prestação Continuada – BPC, NB 1174627783;
4. A citação do Réu, para, querendo, responder a presente ação;
5. Que, ao final, seja esta demanda julgada procedente, condenando a
Autarquia a restabelecer o benefício suspenso desde a sua Cessação – 31/12/2019,
devendo arcar com as parcelas vencidas e as vincendas com juros e
correção monetária, na forma da lei;
6. A condenação do INSS no pagamento das custas e despesas
processuais, além de honorários de 20% sobre o valor da condenação, nos termos
do art. 85 do CPC/2015;
Pretende provar o alegado, com as provas documentais anexas e prova
testemunhal.
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Dá-se a causa para efeitos de alçada o valor de R$ 48.334,94 (Quarenta e


oito mil, trezentos e trinta e quatro reais e noventa e quatro centavos).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Belém/PA, 27 de abril de 2022

Átara Rina Bentes Gois Souza


OAB/PA 32.809

ANEXOS:
01. Petição Inicial
02. Procuração
03. RG
04. CPF;
05. Declaração de hipossuficiência;
06. CTPS
07. Declaração de casa cedida;
08.Comprovante de residência;
09. Declaração de que não recebe outro benefício no âmbito da Seguridade Social;
10.Laudos médicos;
11.Ficha Cadastral CRAS atualizado;
12.Folha resumo CadÚnico;
13. Ciência do Cidadão Referente à Necessidade de Inscrição no CadÚnico;
14. Atualização de Dados Cadastrais;
15. Solicitação Pagamento de Benefício Não Recebido
16. Reativação de BPC Após Atualização do CadÚnico;
17. Imagem Espelho INSS.

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