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Manejo Resistencia Algodao

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CIRCULAR TÉCNICA

Nº9 / 2014

Julho de 2014
Publicação periódica
de difusão cientí-
fica e tecnológica
editada pelo Instituto
Mato-grossense do
Algodão (IMAmt) e
dirigida a profissio-
nais envolvidos com
o cultivo e beneficia-
mento do algodão.

Diretor executivo
Álvaro Salles

Contato
www.imamt.com.br

Email
imamt@
imamt.com.br

Tiragem
2000 exemplares

Helicoverpa spp. em maçã de algodoeiro (Foto: IMAmt).

Algodão Bt e refúgio: orientações


para manejo da resistência
(1) Instituto Mato-
grossense do Érica Martins1, Paulo Queiroz1, Carlos Marcelo Soares1 e Rose Monnerat2
Algodão – IMAmt.
Convênio IMAmt/
Embrapa Recur-
sos Genéticos e O algodão transgênico com atividade in- redução dos custos de produção e a pre-
Biotecnologia.
Brasília, DF. Email: seticida, popularmente conhecido como servação de insetos benéficos que favo-
ericamartins@ algodão Bt, é uma ferramenta importan- recem o controle biológico natural.
imamt.com.br.
te dentro do Manejo Integrado de Pragas
(2) Embrapa Re- (MIP), pois foi transformado com a incor- Como funcionam as plantas Bt no con-
cursos Genéticos poração de uma ou mais toxinas isoladas trole das pragas?
e Biotecnologia.
Laboratório de
da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt), co- As proteínas Cry são altamente específi-
Bactérias Ento- nhecidas como proteínas Cry. Diversas cas para matar algumas espécies de in-
mopatogênicas. são as vantagens da utilização das plantas setos da Ordem Lepidoptera (lagartas).
Prédio do Controle
Biológico. PqEB Bt, tais como: a eficiência no controle das As lagartas, ao se alimentarem de algo-
– Av. W5 Norte pragas-alvo; a redução do emprego de dão Bt por meio da raspagem das folhas
(Final). Brasília, DF inseticidas químicos, com consequente ou demais tecidos, ingerem as toxinas,
CEP: 70770-917.
que se ligam a receptores específicos das algodão Bt ocorre durante todo o ciclo de
células do intestino, causando a sua morte vida da planta. Por isso elas são responsá-
(Figura 1). veis por exercer uma elevada pressão de
No intestino do inseto, existem diferen- seleção nas populações de insetos-praga.
tes proteínas que exercem a função de re- Poucos são os eventos e grande parte deles
ceptores das toxinas expressas nas plantas expressa a mesma toxina, o que aumenta
Bt. Esses receptores podem ser associados ainda mais a pressão de seleção sobre os
à ideia de uma fechadura. Na população de insetos-alvo.
insetos em campo, existem lagartas com Atualmente, no Brasil, existem 38 even-
vários possíveis receptores, ou seja, várias tos transgênicos liberados para uso em
possíveis fechaduras. A função da toxina Bt campo, em diversas plantas. As variedades
é funcionar como uma chave que desen- de algodão expressando as toxinas Bt libera-
cadeia várias modificações nas células do das comercialmente incluem as tecnologias
intestino do inseto e que o levam à morte. Bollgard I® (Cry1Ac), Bollgard ll® (Cry2Ab2/
Assim, o inseto que possuir uma fechadura Cry1Ac), TwinLink® (Cry1Ab, Cry2Ae) e Wi-
(receptor) reconhecida pela toxina Bt (cha- destrike® (Cry1Ac, Cry1F).
ve) morrerá. A lagarta que tiver uma fecha- O uso contínuo de plantas Bt pode se-
dura (receptor) não reconhecida pela toxi- lecionar populações de insetos resisten-
na não morrerá. Então, o inseto sensível é tes, que sobrevivem à exposição da toxina
aquele que possui um receptor reconhe- Bt. Atualmente, um grande desafio para o
cido pela toxina Bt, que é produzida pela agricultor é retardar a resistência.
planta transgênica, e o resistente é aquele
cujo receptor não é reconhecido pela toxi- Mas o que é a resistência?
na Bt, ou seja, que não morrerá pela ação A resistência é a seleção de organismos que
desta toxina (Figura 2, página ao lado). possuem habilidade para tolerar doses de
A expressão das toxinas inseticidas no toxinas que seriam letais para a maioria da

Figura 1.
Esquema ilus-
trando o modo
de ação das
toxinas Cry.
Após a inges-
tão pelo inseto,
as toxinas Cry,
expressas nos
tecidos da
planta de al-
godão (1), são
ativadas pelo
conteúdo do
intestino do in-
seto e tornam-
se ativas. Esta
toxina se liga
aos receptores
(fechadura) (2)
e forma um
poro na mem-
brana da célula
do inseto (3).
O resultado
é a morte do
inseto (4).
Figura 2. Modelo de reconhecimento das toxinas Cry pelos receptores nas células dos insetos.
população normal (sensível: ou ) Como podemos retardar a evolução da
da mesma espécie. É uma característica he- resistência?
reditária que está presente nas populações Com o objetivo de evitar ou retardar a evolu-
dos insetos que já estão no campo. É ne- ção da resistência das pragas ao algodão Bt,
cessário, portanto, acompanhar a evolução deve-se utilizar o manejo da resistência de
desses indivíduos resistentes ( ). insetos (MRI), que consiste em um conjunto
Os insetos de uma mesma população de várias práticas aplicadas nas áreas agríco-
possuem diferentes combinações de re- las, destacando-se entre elas a utilização de
ceptores. Alguns possuem somente re- plantas que expressam as toxinas em quanti-
ceptores (fechaduras) que reconhecem as dade suficiente para matar os insetos-alvo e a
toxinas Bt e são sensíveis ( a ) a essa tec- existência e manutenção de áreas de refúgio.
nologia. Outros possuem receptores que A expressão das toxinas Bt nos diferentes
não reconhecem as toxinas Bt e são resis- eventos é variável, mas as empresas que comer-
tentes ( ). E há, ainda, alguns que pos- cializam as sementes garantem que os insetos
suem os dois tipos de receptores ( ), -alvo são controlados ou têm sua população su-
mas, mesmo assim, são sensíveis à toxina. primida (Tabela 1), isto é, com pelo menos 60%
Essas diferentes combinações, dentro de de controle, segundo a definição da Monsanto.
uma mesma população, são denominadas Essa expressão significa que as plantas
variabilidade. As plantas Bt exercem sele- produzirão quantidades suficientes da toxina
ção nos insetos sensíveis, permitindo que Bt para eliminar da população os insetos sen-
somente os resistentes sobrevivam (adap- síveis a toxinas Bt. É justamente por isso que
tação) e passem essa característica aos se faz necessário manter insetos heterozigo-
seus descendentes (Figura 3). tos em campo (Figura 3).

Figura 3.
Esquema ilus-
trando a dinâ-
mica genética
dos insetos em
uma população
de campo.
Tabela 1. Tecnologias Bt usadas para o controle das principais pragas do algodão.

Indicações
Algodão Referência
Controle Supressão

Helicoverpa zea, Heliothis virenscens, Plutella


TwinLink® - Bayer (2008)
gossypiella e Spodoptera frugiperda

Alabama argillacea, Pectinophora gossypiella, He- Helicoverpa spp.,


Bolgard II® Monsanto (2014)
liothis virenscens, Chrysodeixis includens Spodoptera spp.

Heliothis virescens, Pectinophora gossypiella,


Spodoptera frugiperda, Spodoptera eridania, Dow AgroSciences
Widestrike® -
Trichoplusia ni, Chrysodeixis includens, Agrotis (2007)
ipsilon, Alabama argillacea

Lagarta de Heliothis virescens em algodoeiro (Foto: IMAmt).


A dose da toxina expressa na planta de A fim de manter baixo o número de in-
algodão deve ser suficiente para matar divíduos resistentes, deve haver cruzamen-
mais de 99% dos insetos heterozigotos tos desses indivíduos com outros que não
(____). Nas áreas com plantas Bt, sobre- tenham sido expostos à pressão de seleção
viverão apenas os insetos homozigotos das plantas Bt. E como fazer isso?
recessivos ( ). Dessa forma, os insetos A melhor estratégia para disponibilizar in-
resistentes ( ) serão mantidos em baixa setos susceptíveis à tecnologia Bt é a imple-
frequência no campo. No início da comer- mentação de áreas de refúgio. Essa ferramenta
cialização de plantas Bt, estimava-se que preconiza a estruturação de área com planta
aproximadamente um em cada mil insetos não Bt, de porte e ciclo vegetativos similares
poderia ser portador do gene para resis- aos do transgênico. No refúgio, a praga-alvo
tência. Assim, apenas um em um milhão terá condições de sobrevivência e reprodução,
seria portador de duas cópias desse gene sem ser exposta à pressão de seleção da pro-
(Figura 4). teína inseticida expressa na planta Bt.

Figura 4.
Representação
esquemática
da migração de
insetos sensí-
veis (de áreas
de refúgio) e
resistentes (se-
lecionados pela
tecnologia Bt)
para acasala-
mento.

Possibilitar o encontro
de resistentes e sensíveis
para acasalamento
Como implantar refúgios nas lavouras de al- vem ser realizados como na lavoura convencional e
godão Bt? não se deve utilizar bioinseticidas à base de Bt que
O refúgio deve ser estruturado para maximizar a possuam em sua composição as mesmas toxinas
chance de as mariposas suscetíveis se acasalarem expressas no algodão Bt. O Instituto Mato-grossen-
com as resistentes. Com relação às plantas, elas se do Algodão (IMAmt) recomenda, assim como a
devem ter o mesmo porte e ciclo das plantas Bt, instrução que será lançada pelo Ministério da Agri-
sendo melhor utilizar exatamente a mesma cul- cultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que o
tivar, mas que não expresse qualquer toxina Bt. tratamento de refúgio siga as recomendações das
Devem ser, também, semeadas na mesma época. empresas detentoras das tecnologias Bt.
Assim, presume-se que o complexo de lagartas
-praga que se sucedem nas diferentes fases feno- • Recomendação Bayer – área de refúgio da tecno-
lógicas da lavoura terá seu par ocorrendo no mes- logia TwinLink®: a recomendação técnica é para
mo período no refúgio. que haja refúgio estruturado com 20% da área
Os tratamentos fitossanitários no refúgio de- plantada com sementes não Bt de variedades de

Lagarta de Spodoptera frugiperda em flor de algodoeiro (Foto: C. F. Cardoso).


mesmo ciclo ou similar, respeitando-se a trole especificados no “manual técnico
distância máxima de 800 metros entre o de produto” (Monsanto, 2012 e 2014). O
refúgio e as culturas Bt, com realização ideal seria não ultrapassar quatro aplica-
de MIP e aplicação quando necessário e ções suplementares.
uso das demais práticas de MRI (Bayer,
2008 e Bayer, 2014). Não apenas cada propriedade que cul-
tiva plantas Bt deve instalar suas próprias
• Recomendação Dow – área de refúgio áreas de refúgio, como também as áreas de
da tecnologia Widestrike®: a recomen- refúgio devem ser planejadas em parceria
dação técnica é para que haja refúgio com os vizinhos de propriedade. Os produ-
estruturado com 20% da área plantada tores vizinhos podem estabelecer parcerias
com sementes não Bt de variedades de tanto para as escolhas das plantas Bt que
mesmo ciclo ou similar, respeitando-se irão cultivar quanto para a organização das
a distância máxima de 800 metros entre áreas de refúgio visando a maximização do
o refúgio e as culturas Bt, com realização efeito das mesmas nas diferentes proprie-
de MIP e aplicação quando necessário dades estabelecidas na região.
e uso das demais práticas de MRI (Dow Além disso, a área de refúgio estrutu-
AgroSciences, 2007). rado não deve estar a mais de 800 me-
tros de distância (Figura 5) das plantas
• Recomendação Monsanto – área de re- transgênicas. Essa é a distância máxima
fúgio da tecnologia Bollgard ll®: a área verificada pela dispersão dos adultos de
de refúgio, usando uma variedade não S. frugiperda no campo, por exemplo. To-
Bt, pode ser de 5%, com exatamen- das as recomendações são no sentido de
te o mesmo manejo químico da área sincronizar os cruzamentos dos possíveis
Bollgard ll®, ou de 20%, com aplicações adultos sobreviventes na área de plantas
químicas suplementares visando o con- Bt com susceptíveis emergidos na área de
trole de lagartas, usando níveis de con- refúgio (Figura 6, página ao lado).

Figura 5.
Exemplos de
configurações
de refúgio.

*
* O IMAmt não recomenda o uso desta
configuração de refúgio (vide texto)
Figura 6. Proporção da área de refúgio.

Lavoura de algodão em Mato Grosso.


Devido à crescente infestação do bi- lógico com vírus, Trichograma, entre outros.
cudo do algodoeiro, o IMAmt recomen- O MAPA está regulamentando um Comi-
da que não seja usada a configuração tê Técnico que será composto por empresas
de refúgio em bordadura (no períme- públicas e privadas (e do qual o IMAmt fará
tro). Pois, nesse caso, são necessárias parte) com o objetivo de avaliar e discutir,
aplicações sistemáticas na bordadura ano a ano, a situação das áreas de refúgio no
para o controle do bicudo, reduzindo Brasil, assim como a evolução da resistência
ao mesmo tempo as populações de das pragas-alvos. Em função dos resultados,
lepidópteros, o que desconfiguraria a será possível modificar as recomendações
situação de refúgio em bordadura. de área de refúgio, com o intuito de evitar
a perda da eficácia da tecnologia Bt.
Adotando-se as estratégias para mane-
jo da resistência, as plantas transgênicas Então, é preciso considerar o seguinte: o
manterão sua eficácia por mais tempo sem inseto resistente já está no campo, mas em
a necessidade do uso excessivo de inseti- pequena quantidade, e são as nossas ações
cidas. E, sempre que possível, deve-se dar em campo o que determinará se eles serão
preferência pela utilização do controle bio- maioria ou minoria.
Recomendações dos obtentores

BAYER. BayerCropScience LP. Alejandra L. Scott. Petition for Determination of Nonregulated Status for In-
sect-Resistant and Glufosinate Ammonium-Tolerant cotton: TwinLink™ cotton (events T304-40 x GHB119).
United States Petition, December 4, 2008.

BAYER, 2014. Disponivel em: http://fibermaxbrasil.com.br/refugio/. Acessado em: 09 de julho de 2014.

Dow AgroSciences; Boletim Técnico: WideStrikeTM : Algodão resistente a insetos, com as proteínas Cr-
y1Ac e Cry1F. Dow AgroSciences LLC, Indianapolis, IN. 2007. Disponível em: http://www.fibermaxbrasil.
com.br/Boletim_Tecnico_WideStrike.pdf. Acesso em: 01 de julho de 2014.

MONSANTO. BOLLGARD II RR FLEXTM – Manual Técnico de produto. 2012.

MONSANTO, Treinamento Bollgard II RRFlex e RRFlex. 2014.


REALIZAÇÃO

APOIO FINANCEIRO

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