Arlan DISSERTACAO MDR 2023 COMPLETA
Arlan DISSERTACAO MDR 2023 COMPLETA
Arlan DISSERTACAO MDR 2023 COMPLETA
MACAPÁ
2022
ARLAN AMANAJÁS PINTO
MACAPÁ
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca Central/UNIFAP-Macapá-AP
Elaborado por Mário das Graças Carvalho Lima Júnior – CRB-2 / 1451
_________________________________________________________________________
PINTO, Arlan Amanajás. Psicologia Ambiental: uma análise da saúde mental dos discentes da Universidade
Federal do Amapá, Campus Marco Zero. Orientador: Raullyan Borja Lima e Silva. 2022. 97 f. Dissertação
(Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional. Universidade Federal do Amapá,
Macapá, 2022.
ARLAN AMANAJÁS PINTO
Banca Examinadora:
_____________________________________
Dr. Raullyan Borja Lima e Silva
Orientador – MDR/UNIFAP
_____________________________________
Dr. Galdino Xavier de Paula Filho
Examinador Titular Interno – MDR/UNIFAP
_____________________________________
Dra. Leila do Socorro Rodrigues Feio
Examinador Titular Externo - UNIFAP
À grandiosidade da vida.
À minha esposa, Julianny, e meu filho, Gregório, pelo amor, felicidade e atenção.
A minha mãe Maria Gorete Maciel Amanajás e tia Domingas Rosa Amanajás por
acreditar sempre no meu esforço em buscar o conhecimento. A minha sogra Ana Paula Gama
Penafort da Silva e sogro Walter Correa da Silva Júnior pelo incentivo no estudo.
Ao meu professor orientador, Raullyan Borja Lima e Silva, pela sua sensibilidade,
compreensão, orientações importantes e fundamentais para minha compreensão do estudo.
Aos meus amigos: André Elias Morelli Ribeiro, pelo incentivo a fazer sempre o
melhor; Mário Teixeira dos Santos Neto, pela cooperação no conhecimento; Victor André
Pinheiro Cantuário, pelas contribuições filosóficas; Christiano Ricardo dos Santos, na
compreensão do que é a universidade.
Aos meus colegas de turma, pelo conhecimento compartilhado.
Aos professores do PPGMDR/UNIFAP: Dr. Raullyan Borja Lima e Silva, Dr. Dr.
Alexandro Cezar Florentino-(Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais-
UNIFAP), Dr. Ricardo Ângelo, Dr. Antônio Filocreão, Dr. Gutemberg Silva, Dr. Iurgel
Caldas, Dr. Jadson Porto, Dr. Wardsson Borges, Dr. José Tostes, Dr. José Francisco, Dr.
Jodival Maurício da Costa e José Julio de Todelo (Programa de Pós-Graduação em
Biodiversidade Tropical-UNIFAP), que se mostraram verdadeiramente sinceros e
compromissados com o ensino e aprendizagem de cada acadêmico do mestrado.
Aos professores da banca avaliadora pelo aceite e disponibilidade. À professora Dra.
Leila do Socorro Rodrigues Feio pela sinceridade, honestidade e clareza na expressão do
conhecimento. E ao professor Dr. Galdino Xavier de Paula Filho pela fomentação de
compreender o velado e desvelar do conhecimento no desenvolvimento regional com sua
maestria.
“O maior erro que um homem pode cometer é
sacrificar a sua saúde a qualquer outra
vantagem”. Arthur Schopenhauer
RESUMO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................................................... 18
2.1 SAÚDE MENTAL E ENSINO SUPERIOR ......................................................... 18
2.2 A PSICOLOGIA AMBIENTAL ............................................................................ 21
2.3 DESENVOLVIMENTO REGIONAL ................................................................... 25
3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO .............................................. 31
3.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA UNIFAP E DO NAI NO CAMPUS
MARCO ZERO ...................................................................................................... 32
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................... 36
4.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ...................................................................... 36
4.2 TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DA PESQUISA .............................................. 36
4.2.1 Levantamento de dados documentais ................................................................. 37
4.2.2 Levantamento bibliográfico ................................................................................ 39
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................... 41
5.1 CARACTERIZAÇÃO DOCUMENTAL POR DEMANDA, SEXO
BIOLÓGICO E CURSO DOS ESTUDANTES REGISTRADOS PELO SAPE
NO NAI NO CAMPUS MARCO ZERO................................................................ 41
5.2 SAÚDE MENTAL NO ENSINO SUPERIOR POR MEIO DA PSICOLOGIA
AMBIENTAL E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL: UMA REVISÃO
DA LITERATURA ................................................................................................ 58
5.2.1 Saúde mental no ensino superior ........................................................................ 58
5.2.2 Psicologia ambiental ............................................................................................. 59
5.2.3 Desenvolvimento regional .................................................................................... 61
5.3 INTERSECÇÕES DA SAÚDE MENTAL NO ENSINO SUPERIOR POR
MEIO DA PSICOLOGIA AMBIENTAL E O DESENVOLVIMENTO
REGIONAL ........................................................................................................... 62
5.3.1 Intersecções das ideias sobre saúde mental no ensino superior ....................... 63
5.3.2 Intersecções das ideias sobre psicologia ambiental ........................................... 65
5.3.3 Intersecções das ideias sobre desenvolvimento regional ................................... 68
5.3.4 Triangulação entre saúde mental desenvolvimento regional – psicologia
ambiental – desenvolvimento regional ............................................................... 70
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 77
REFERÊNCIAS ................................................................................................... 80
APÊNDICE A – REQUERIMENTO ENVIADO À COORDENAÇÃO DO
NAI ........................................................................................................................ 95
ANEXO A – RESPOSTA DO NAI SOBRE REQUERIMENTO .................... 96
13
1 INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
[...] significar não se sentir mal, sentir-se bem ou ter satisfeitas suas necessidades.
Por isso, o conceito de saúde da definição da OMS, mesmo que estivesse bem
construído, dependeria do significado do conceito de bem-estar, ausente dele. A
rigor, a proposição da OMS significa que o ente nela caracterizado deve ter perfeita
ou completamente atendidas todas as suas necessidades. Isto é, para ser considerado
saudável o ser vivo deve ter satisfeitas todas as suas necessidades, quando os
humanos criam sempre novas necessidades. O que configura o caráter utópico desta
caracterização de saúde.
[...] que o ambiente do ensino superior é propício à discussão dos mais variados
assuntos, não somente aqueles inerentes às disciplinas dos cursos, mas também a
questões do cotidiano das pessoas, que incluem aspectos que podem melhorar sua
qualidade de vida. Dessa forma, professores e demais envolvidos das instituições de
ensino podem incentivar à adoção e manutenção de hábitos de vida saudáveis,
positivos e que proporcionem bem-estar, melhorando, consequentemente a
qualidade de vida de seus estudantes, independentemente de sua área de estudo. As
instituições de ensino também podem promover ações que contribuam para uma boa
qualidade de vida, oferecendo, por exemplo, atividades físicas extracurriculares, ou,
ao menos um local adequado para a prática e outras iniciativas como atendimento
nutricional e psicológico.
Mello, Moysés e Moysés (2010) mencionam que as universidades são espaços sociais
na construção da promoção da saúde, pois influenciam na dinâmica do bem-estar da pessoa.
Martins et al. (2012) afirmam que a dedicação integral às atividades acadêmicas, a moradia
precária, as amizades de curta duração, a distância da família e a dificuldade de associar
estudo e trabalho, e dinâmica de vida produzem alterações negativas na qualidade de vida dos
estudantes universitários.
Petrini, Margato e Vilela Júnior (2013) complementam que a relação diária no meio
acadêmico do aluno fomenta o desenvolvimento de novas relações afetivas de amizade e
energiza as interações sociais. Já Barros et al. (2017) explicam que no contexto universitário
os aspectos como a carga de atividades do dia, tempo restrito, poucas horas de descanso
reduzem a capacidade cognitiva para a aprendizagem. O resultado disso é o baixo rendimento
acadêmico e a exposição ao estado de estresse.
20
Deste modo, de acordo com Hoff, Pereira e Paula (2017, p. 511), “[...] o ensino
superior necessita ultrapassar as ‘paredes da universidade’, ou seja, ir além da construção do
conhecimento para os que estão dentro de seus muros, alcançando a comunidade local e
contribuindo de forma mais complexa para o desenvolvimento da região”.
Para Rolim e Serra (2010), a população de uma região busca o desenvolvimento da
qualidade de vida por meio do crescimento dos fatores cultural, social e econômico.
Diferentemente, as universidades se focam no ensino, na pesquisa e na extensão. Contudo, a
universidade desenvolve possibilidades para o desenvolvimento regional com o uso do tripé
ensino, pesquisa e extensão quando transcende o âmbito do ensino e gera a melhoria da
qualidade de vida das pessoas.
A universidade precisa desenvolver seus projetos educacionais e pesquisas com
característica interativa, vinculando-se a aspectos socioeconômicos contextualizados a partir
dos quais possa gerar dispositivos facilitadores na interação dela com o empresariado em
conjunto com a sociedade de modo cooperativo.
Esse processo pode ser desenvolvido por meio de consultorias, assessorias,
laboratórios, extensões, desenvolvimento e planejamento (GOEBEL; MIURA, 2004). Essa
ideia oportuniza o desenvolvimento da qualidade de vida das pessoas envolvidas na
universidade (estudantes, docentes, técnicos administrativos e pedagógicos), e engrandece a
como um lugar saudável.
A Psicologia Ambiental tem sua raiz no século XIX, porém se firma como área da
Psicologia no final da década de 1960, nos Estados Unidos, por meio do programa stricto
sensu de doutorado na Universidade de Nova Iorque. Já no Brasil, emerge com estudos
voltados para ambientes habitacionais na década de 1980 (GÜNTHER; ROZESTRATEN,
1993).
Somado a isto, a Psicologia Ambiental, de acordo com Pinheiro (1997), pretende
estudar os comportamentos dos indivíduos no ambiente com o objetivo de buscar respostas
para a crise ambiental a partir da psicologia e fora dela. Nessa percepção, Moser (1998)
afirma que a Psicologia Ambiental tem como foco de estudo o indivíduo dentro de um
contexto específico, sendo o seu enfoque central as inter-relações entre indivíduo, meio
ambiente físico e social.
22
que para compreender essa relação é importante considerar conceitos como: percepção
ambiental, cognição ambiental, estresse ambiental, atitudes pró-ambientais, desenvolvimento
sustentável, qualidade de vida e apropriação de espaço. Portanto, de acordo com Moser (2018,
p. 10), fica claro que a Psicologia Ambiental “[...] interessa-se tanto pelos efeitos das
condições ambientais sobre os comportamentos e condutas do indivíduo quanto pela maneira
como o indivíduo percebe e age sobre o ambiente [...]”.
Neste ponto, de acordo com Pinheiro (2005), a Psicologia Ambiental se integra com
diversas áreas do conhecimento como: Arquitetura e Urbanismo, Geografia, Economia, Saúde
e Ecologia. Assim, tal tese vem corroborar a ideia de Moser (2005, p. 282-283) segundo a
qual:
Com bases nesses conceitos, Moser (2018) esclarece que a Psicologia Ambiental surge
para analisar as percepções, os pensamentos, os comportamentos, as atitudes e os afetos em
uma relação explícita com o ambiente físico e social onde ocorre seu desenvolvimento
evolutivo. Essa psicodinâmica se demonstra Organograma 1.
Para estudar as percepções das pessoas, na sua interação com o ambiente, a Psicologia
Ambiental necessita definir qual o meio analisado para poder compreender as atitudes que se
formam na relação da pessoa com o seu contexto. Segundo Moser (2018), tal possibilidade
necessita da distinção dos níveis de análise socioespacial em que a pessoa está inserida. Esses
níveis são apresentados no Quadro 1.
Uma vez detectado o nível a ser investigado, Moser (1998) afirma que o modo como a
pessoa avalia e percebe o espaço influencia a forma de agir e, nesse sentido, a interação se
diferencia de acordo com o local em que está inserida no presente imediato.
24
aspecto tempo serve como estrutura que identifica e descreve as transformações psicológicas
(PASSIG, 2011).
Essa abordagem considera que o estresse é um processo relacional e não pode ser
reduzido ao seu componente ambiental nem ao seu componente individual. O
estresse é o resultado de uma relação dinâmica entre o indivíduo e as exigências do
ambiente, os recursos individuais e sociais para responder a tais requisitos e a
percepção que o indivíduo tem dessa relação. É um processo com o qual
acontecimentos que ameaçam o bem-estar de um organismo, provocam respostas
variadas, entre outros comportamentos de ajustamento perante uma ameaça. A
reação provocada é uma resposta caraterizada das mudanças fisiológicas, mediante
mudanças emocionais, e dos comportamentos dirigidos à redução do estresse. Estes
processos envolvem todo o conjunto da situação, nela compreendidos a ameaça, a
percepção da ameaça, os processos de ajustamento (coping) e a adaptação daí
resultante [...] (MOSER, 2018, p. 28).
A partir das ideias expostas, Feitosa et al. (2018) colocam o diálogo sobre a dimensão
espacial da vulnerabilidade estabelecida. A preocupação é compreender as inter-relações entre
indivíduo-ambiente.
Tal busca pretende entender que essa relação se torna fundamental no panorama da
crise ambiental e é intensificada pela cultura do consumismo, estimulada pelo sistema
capitalista de desenvolvimento, afinal, esse é um dos espaços onde a economia capitalista
prospera com a decadência do bem-estar humano, social e da natureza.
Na percepção de Corrêa, Silveira e Kist (2019), o espaço se desenvolve pela
reprodução do total social, pois as mudanças são postas pelos desejos sociais, econômicos e
políticos. Assim sendo, há reprodução de si mesmo no interior de sua unidade, isso atrelado
ao modo de produção. Contudo, ele influencia diversas estruturas na sua evolução, isso é
primordial na unidade social e em sua dinâmica.
Nessa explicitação sobre o espaço, a região precisa ser compreendida enquanto um
processo de interações de dimensões como produção e percepção que abrange o espaço
(CUNHA; SIMÕES; PAULA, 2005). Nesse princípio, segundo Corrêa, Silveira e Kist (2019),
é necessário entender desenvolvimento regional como região resultante de um processo
histórico que se modela ao longo do tempo. Existem, deste modo, mudanças nos alicerces das
estruturas sociais e econômicas junto com as atitudes dos vários atores existentes na região.
De acordo com Velasco (1996), os governos precisam verdadeiramente centralizar
suas ações no desenvolvimento do sistema educacional para incentivar as interações indústria-
universitária e também o desenvolvimento infraestrutural relacionado aos aspectos físico,
social e tecnológico. Tudo isso para a sedução dos responsáveis pelos investimentos. Essa é a
27
maneira de atrair que os governos versados adotam, o que, atualmente, contribui para
potencializar as qualidades dos municípios (regiões) para os investidores locais e externos.
Logo, o desenvolvimento regional, por meio das políticas estatais, necessita se
associar junto a um planejamento e controle de qualidade do meio ambiente, com a repartição
de benefícios sociais (educação e saúde), mas essa ação não poderá ser mediada por modelos
tradicionais de norma de planejamento visto que esses modelos não adotam as inter-relações
dos aspectos naturais e culturais da região (INACIO et al., 2013).
O desenvolvimento de uma região se associa ao estado de saúde enquanto
potencializador dela em vários níveis. Nesse sentido, a saúde vem em destaque para o aspecto
social, pois possibilita o bem-estar da população (NUSKE et al., 2017)
Além disso, Boisier (1996) reconhece que para uma região se desenvolver precisa de
inter-relações de diversos componentes, presentes nela mesma. Isso se explicita quando o
autor afirma que os componentes se inter-relacionam de maneira densa ou difusa, aleatória ou
inteligente/estruturadas. Portanto, o desenvolvimento é um produto de uma inter-relação
densa e inteligente integrado ao projeto político regional. Do contrário, o desenvolvimento
seria meramente uma “caixa preta” onde apenas existe o desconhecido e impalpável.
O êxito para o desenvolvimento de uma região se constrói com a comunidade inclusa e
integrada nela, com enaltecimento das suas qualidades locais (CARDOSO; RIBEIRO, 2002).
O desenvolvimento regional, portanto, é um binômio que serve para se entender as várias
estruturas sociais (vida, bairro, cidade, município). Com isso, percebem-se os aspectos
históricos e sua dialética temporal, além de espacial de cada região, são influenciadores nas
transformações em uma região, isso faz com que a realidade esteja em constante
transformação de modo onde o desenvolvimento se mantenha constante (LONGHI, 2012).
Essas ideias fazem considerar que o desenvolvimento regional circunde dentro de uma
dinâmica de equilibração, isto é, a necessidades de uma região apresente uma efemeridade de
demanda. Assim, suas estruturas sociais formadoras se modifiquem constantemente, e isso faz
o desenvolvimento mudar seu processo ao longo do tempo na construção do aumento das
melhorias da região. Portanto, para ajudar uma região, precisa-se pensar de maneira lobal e
integrada.
De acordo com Boisier (1996), esse contexto se expressa no Hexágono do
Desenvolvimento Regional (HDR). Trata-se de um esquema de análise apropriado para se
conhecer um determinado local, com a ideia de arquitetar estratégia e projeto para o
desenvolvimento de uma região. Esse esquema se articula nos seguintes componentes: atores,
28
Na ideia do autor, os atores são agentes categorizados por sua origem individual,
corporativa e coletiva dentro do processo de desenvolvimento no qual o individual se refere
aos participantes da sociedade civil com lugar de poder e influência no contexto regional. Os
corporativistas são os sindicalistas, empresários e estudantes legitimados por lei. Os atores
coletivos se configuram como movimentos sociais regionais. Todas essas categorias são
fundamentais para determinar o ethos das categorias dos atores.
A cultura no âmbito regional se caracteriza em cultura do desenvolvimento que se
manifesta de modo antagonista, na qual predomina a cultura competitiva individualista com
produção do crescimento e não do desenvolvimento. Há outros locais onde as prestações da
cultura cooperativa solidária se constrói com equidade, mas sem crescimento. Por fim, o
fundamental é desvendar os padrões culturais em que esses tipos de cultura se integram
(BOISIER, 1996).
O componente recursos implica a produção de desenvolvimento, e aqueles são
caracterizados como: recursos materiais, humanos, psicossociais e de conhecimento. O
primeiro trata dos recursos naturais, infraestrutura e capital. O segundo, da quantidade e
qualidade dos recursos humanos que estabelecem o vínculo regional junto à
contemporaneidade. O terceiro expressa os aspectos relacionados à autoconfiança coletiva,
29
aspiração, consenso e perseverança. Estes elementos são visíveis geralmente nas localidades
das regiões. Finalmente, o quarto trata do conhecimento, que é a parte primordial no
desenvolvimento desse século, denominado de sociedade do conhecimento (BOISIER, 1996).
Na percepção desse autor, as instituições surgem para estimular o desenvolvimento
pelo exame da institucionalidade regional. Então, o enfoque aqui não se associa apenas à lista
de instituições privadas e públicas, analisa o quanto são flexíveis, velozes, inteligentes e
virtuais (BOISIER, 1996).
Para Goebel e Miura (2004), em cidades caracterizadas por serem pequenas ou de
médio porte, nas quais vários serviços de bem de consumo florescem (restaurantes, livrarias,
bares, shopping, transportes e alojamentos), as universidades têm um papel fundamental.
Sendo que tudo isso resulta no desenvolvimento e no surgimento de trabalhos no entorno,
como também dentro da universidade.
O aspecto flexibilidade institucional objetiva adequar em geral a realidade de
instabilidade ambiental junto às instituições. O outro item é a velocidade que procura o input
e output associado a acordos junto ao sistema de redes com intuito de proporcionar
oportunidades para o entorno, pois este se transforma muito rapidamente. Já a inteligência
institucional é a maneira de se articular com outras instituições. Agora a virtualidade vem
processar operações ad hoc em contextos específicos para criar estratégias nos conceitos
regionais (BOISIER, 1996).
Em relação ao componente procedimentos do HDR, este diz respeito à natureza da
gestão do governo territorial. Essa perspectiva expressa o modo de condução e manejo dos
serviços junto à comunidade dentro de uma região (BOISIER, 1996).
O último componente é o entorno, que representa o meio externo à uma região com
sua variedade de organismos sem domínio, apenas com influência em um processo de
articulação e retroalimentação entre Estado e a teia de relações institucionais (BOISIER,
1996).
A universidade, por meio do seu entorno, produz vantagens para o capital financeiro
local visto que essa instituição compreende um corpo de pessoal altamente qualificado com
proximidade em áreas que são procuradas pelo consumidor, fornecendo para os municípios
infraestrutura hospitalar, escolar, de lazer, cultural, de telecomunicação e transporte,
tornando-se, assim, elemento atrativo para a população em geral querer se estabelecer nessa
região (MORAES, 2000).
No esquema do HDR, fica explícito que o desenvolvimento de um território se
estrutura na modernização dos componentes para produção de um projeto de coletividade com
30
A pesquisa foi realizada na Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Campus Marco Zero, no Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI), que está localizado ao lado da Biblioteca central, em Macapá (UNIFAP,
2010a) (ESQUEMA 1).
A Fundação Universidade Federal do Amapá tem sua origem em 1970, com o nome
Núcleo Avançado de Ensino (NEM), vinculado à Universidade Federal do Pará (UFPA)
(UNIFAP, 2021a).
Ela é instituída como Universidade em 1986, através da Lei nº 7.530, de 29 de agosto
do mesmo ano, que autorizou o Poder Executivo a instituir a Fundação Universidade Federal
do Amapá (BRASIL, 1986). Contudo, somente começa suas atividades no Campus Marco
Zero em 1990, legitimada pelo Decreto nº 98.997 de 1990 (BRASIL, 1990).
Nesse sentido, inicia a sua oferta de vagas no ano de 1991 com os seguintes cursos:
Direito, Secretariado Executivo, Geografia, História, Matemática, Letras, Educação Artística
e Enfermagem, estando localizada na Rodovia Juscelino Kubitschek, km 02 – Jardim Marco
Zero (UNIFAP, 2021a).
O NAI de acordo com seu Projeto Pedagógico do Núcleo de Acessibilidade e
Inclusão tem sua origem quando ressalta
Assim, nas suas atividades até o início de 2018, o NAI era formado por seis salas,
uma secretaria, uma copa, e dois banheiros adaptados, como pode ser observado na Planta
Baixa 1.
Atualmente, o espaço do NAI é formado por seis salas, uma secretaria, uma copa, um
depósito e dois banheiros, como pode ser observado na Planta Baixa 2.
Um ponto importante do NAI é a Divisão de Serviço Educacional Especializado e de
Apoio Psicopedagógico, os quais têm a responsabilidade do atendimento especializado e de
apoio psicopedagógico, possuindo o objetivo de promover a permanência dos estudantes
com deficiência no ensino superior (UNIFAP, 2016b).
34
Em 2020, de acordo com o NAI (UNIFAP, 2021b), dos 1.400 novos estudantes que
ingressaram nesse ano, cerca de 267 estudantes de graduação e pós-graduação são
portadores de necessidades especiais (PNE). O NAI, para conseguir atender essa demanda,
organizou a entrega de material didático adaptado em modo de texto ou áudio. O Núcleo
também continua com o apoio psicopedagógico e psicológico aos estudantes que necessitam
desses serviços.
36
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa adotada para realizar o estudo se classifica como pesquisa descritiva. Esta
tem a finalidade de delinear características de uma população ou fenômeno, isto é, relações
entre variáveis dependentes e independentes (GIL, 2002).
A pesquisas descritiva tem como objetivo de estudo caracterizar determinado grupo
enquanto escolaridade, idade, sexo, renda e saúde física e mental (GIL, 2008).
1
Ocorreu solicitação formal por requerimento impresso para o coordenador do NAI in loco, a fim de que
pudesse fornecer as informações necessárias para a pesquisa.
38
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Tabela 1 – continuação
Número
ID Cursos %
Absoluto
23 Matemática 8 2,64
24 Medicina 16 5,28
25 Pedagogia 18 5,94
26 Química 5 1,65
27 Relações Internacionais 12 3,96
28 Teatro 16 5,28
29 Tecnologia em Secretariado 5 1,65
TOTAL 303 100,00%
Fonte: Elaborado pelo Autor (2022).
Por meio das informações obtidas com a pesquisa documental, foi possível
identificar o perfil dos acadêmicos que solicitaram serviço psicopedagógico no NAI para o
atendimento no SAPE.
Foram registrados 303 acadêmicos da UNIPAP, Campus Marco Zero. Entre esses, 30
estudantes são do curso de Letras Português/Frances e Português/Inglês, ou seja, 9,9% do
total, 7,92% (24) dos estudantes compõem o curso de Ciências Sociais, 7,26% (22) o de
Enfermagem, 5,94% (18) são de Pedagogia, 5,61% (17) de Jornalismo, 5,28% (16) de
Ciências Biológicas, 5,28% (16) de Medicina, 5,28% (16) de Teatro, 4,62% (14) de
Educação Física, 4,29% (13) de Farmácia, 3,96% (12) de Artes Visuais, 3,96% (12) de
Física, 3,96% (12) de Relações Internacionais, 3,63% (11) de Fisioterapia, e 3,63% (11) do
Curso de Arquitetura e Urbanismo, conforme a Tabela2.
Tabela 2 - Total de estudantes registrado no SAPE por Curso no Período de 2012 a 2019 na
UNIFAP, Campus Marco Zero
Masculino Feminino Total
Cursos
NA % NA % NA %
Letras PT/FR – PT/ENG 8 2,64 22 7,26 30 9,90
Ciências Sociais 9 2,97 15 4,95 24 7,92
Enfermagem 0 0,00 22 7,26 22 7,26
Pedagogia 2 0,66 16 5,28 18 5,94
Jornalismo 6 1,98 11 3,63 17 5,61
43
Tabela 2 – continuação
Masculino Feminino Total
Cursos
NA % NA % NA %
Ciências Biológicas 3 0,99 13 4,29 16 5,28
Medicina 6 1,98 10 3,30 16 5,28
Teatro 7 2,31 9 2,97 16 5,28
Educação Física 3 0,99 11 3,63 14 4,62
Farmácia 1 0,33 12 3,96 13 4,29
Artes Visuais 4 1,32 8 2,64 12 3,96
Física 8 2,64 4 1,32 12 3,96
Relações Internacionais 4 1,32 8 2,64 12 3,96
Arquitetura e Urbanismo 6 1,98 5 1,65 11 3,63
Fisioterapia 2 0,66 9 2,97 11 3,63
História 3 0,99 5 1,65 8 2,64
Matemática 2 0,66 6 1,98 8 2,64
Administração 5 1,65 2 0,66 7 2,31
Geografia 4 1,32 2 0,66 6 1,98
Direito 2 0,66 3 0,99 5 1,65
Engenharia Elétrica 3 0,99 2 0,66 5 1,65
Química 2 0,66 3 0,99 5 1,65
Tecnologia em Secretariado 2 0,66 3 0,99 5 1,65
Ciências Ambientais 1 0,33 2 0,66 3 0,99
Engenharia Civil 1 0,33 2 0,66 3 0,99
Ciência da Computação 2 0,66 0 0,00 2 0,66
Letras Libras 1 0,33 1 0,33 2 0,66
Artes 0 0,00 0 0,00 0 0,00
Licenciatura Indígena 0 0,00 0 0,00 0 0,00
Total 97 32,01 206 67,99 303 100,00
Fonte: Elaborado pelo Autor (2022).
Em presença do que foi exposto, pode-se inferir que os acadêmicos dos cursos da
área da licenciatura e saúde têm alterações significativas em seus estados de bem-estar. Isto
mostra o locus psicomatizante da realidade deles na sua dinâmica dentro do Ensino Superior.
44
2
“[...] disfunção biológica ou psicológica, mas, sobretudo, como um modo particular de existência, uma forma,
muitas vezes trágica, de ser no mundo, de construir um destino, um modo particularmente doloroso de ser com
os outros” (DALGALARRONDO, 2019, p. 34-35).
46
adoecimento psicológico dos estudantes, isso favorecerá intervenções pontuais por parte da
universidade para o restabelecimento do estado de saúde dos discentes.
Todavia, nos adultos jovens (19 a 40 anos) existe uma tendência de que sua saúde
mental junto com o bem-estar entre em homeostase e cesse as alterações comportamentais
negativas. Porém, o surgimento de transtornos psicológicos tem aumentado, principalmente
enfermidades como: depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia.
A explicação para isso advém do processo de transição da fase da adolescência para
a adulta em que fatores como responsabilidade, independência emocional e financeira
podem ser liquidantes para sua realidade (PAPALIA; FELDMAN; MARTORELL, 2013).
Nesse contexto, alterações psicológicas negativas que resultam em sofrimento
psicológico, em estudantes jovens adultos na universidade, possuem como fatores de
predisposição autoestima e autoeficácia negativas (GRANER; CERQUEIRA, 2019).
Sobre esse assunto, Santos et al. (2019) descrevem que a incidência de transtornos
mentais entre estudantes universitários se atrela a fatores como deficiência intelectual e
dificuldades afetivo-emocionais, sendo esses, no entanto, aspectos com percentualidades
baixas se comparados à preocupação com o trabalho, ajustamento ao novo ambiente de
estudo, dificuldades interpessoais, e dúvidas na sua carreira profissional.
Gonçalves et al. (2015) já mencionavam essas causas citadas como estressores na
vida universitária e a consequência é o aparecimento de sintomas de depressão, ansiedade,
fobia social, baixo rendimento acadêmico e privação do sono.
Silva (2019) afirma que sentimentos de angústia são frequentes em jovens adultos,
pois estes estão propensos a desenvolver transtornos psicológicos e alterar seu bem-estar
para mal-estar, por estarem em uma fase de consolidação de aspectos pessoais, financeiros e
sociais.
Em relação à quantidade de estudantes registrados no SAPE, na Tabela 4 é
apresentado os dados relativos por Curso e Sexo Biológico Feminino, no período de 2012 a
2019, e o respectivo número de acadêmicos apontados para atendimento psicopedagógico.
Tabela 4 – continuação
ID Cursos NA %
4 Artes Visuais 8 2,64
5 Ciência da Computação 0 0,00
6 Ciências Ambientais 2 0,66
7 Ciências Biológicas 13 4,29
8 Ciências Sociais 15 4,95
9 Direito 3 0,99
10 Educação Física 11 3,63
11 Enfermagem 22 7,26
12 Engenharia Civil 2 0,66
13 Engenharia Elétrica 2 0,66
14 Farmácia 12 3,96
15 Física 4 1,32
16 Fisioterapia 9 2,97
17 Geografia 2 0,66
18 História 5 1,65
19 Jornalismo 11 3,63
20 Letras PT/FR – PT/ENG 22 7,26
21 Letras Libras 1 0,33
22 Licenciatura Indígena 0 0,00
23 Matemática 6 1,98
24 Medicina 10 3,30
25 Pedagogia 16 5,28
26 Química 3 0,99
27 Relações Internacionais 8 2,64
28 Teatro 9 2,97
Tecnologia em
29 3 0,99
Secretariado
TOTAL 206 67,99%
Fonte: Elaborado pelo Autor (2022).
No que diz respeito ao curso por sexo biológico, observou-se uma predominância do
sexo feminino na demanda do SAPE, sendo 7,26% (22) do curso de Letras
48
Gráfico 1 - Percentual de estudantes registrado no SAPE por Curso e Sexo Biológico Feminino no
Período de 2012 a 2019 na UNIFAP, Campus Marco Zero
et al. (2019) afirmam que a incidência de enfermidades psicológicas acomete mais mulheres,
independentemente de estarem ou não na universidade.
Diante do exposto, os estudos de Alves et al. (2010), Santos e Siqueira (2010)
mencionam que a incidência, isto é, o aparecimento de transtornos psicológicos é maior em
mulheres universitárias. Da mesma forma, outras pesquisas como a de Andrade et al. (2011),
Tavares et al. (2011) chegam a 85% dos casos de transtornos psicológicos em mulheres no
ensino superior.
A partir do publicado, nos dados apresentados por Paro e Bittencourt (2013), 75%
são de mulheres acometidas de sintomas associado a algum transtorno psicológico. Também
Silva e Costa (2012) expõem que a maior prevalência de transtornos mentais está em
mulheres que cursam o ensino superior.
Em consonância com esses autores, Santos et al. (2014) concluíram em seu estudo
que 64,16% de mulheres que estavam na universidade são acometidas de algum transtorno.
Nesse enfoque, Costa et al. (2014) ratificam a ideia de que na universidade o aparecimento
de transtornos mentais acomete significativamente o sexo feminino.
Isso é reforçado no estudo de Silva e Cavalcante Neto (2014) no qual afirmam que
69% foram mulheres acometidas de sintomas característicos de transtorno psicológico no
âmbito da universidade.
Steel (2014) aborda em sua pesquisa que é preocupante o aumento de transtornos
psíquicos no sexo feminino nas universidades, sendo necessário investigar as variáveis
sustentadoras desses índices. Nessa série de ideias, Costa e Moreira (2016), bem como
Carlotto (2017) ilustram essa alta incidência de adoecimento psicológico na universidade
atrelada ao sexo feminino, já que o ambiente acadêmico tem se tornado flagelador do bem-
estar.
Medeiros et al. (2018) corroboram as opiniões dos estudos supracitados, ressaltando
que informações do aparecimento do adoecimento feminino no ensino superior tem se
agravado ao longo dos anos, na dinâmica psicológica e comportamental da saúde mental
dessa população.
Melado et al. (2019) concordam com essa anotação, pois expressam a mesma
opinião, ou seja, de que a alteração negativa da saúde psicológica é mais recorrente entre
mulheres que cursam o ensino superior. Entretanto, para Santos et al. (2019), o aumento do
adoecimento psicológico de mulheres não se limita ao âmbito da universidade, contexto
como hospitais, escolas, empresas privadas vêm sem mostrando ambientes hostis à
qualidade de vida e bem-estar desse público.
50
Por fim, em suas análises científicas, Gomes et al. (2020) também reafirmam que a
sintomatologia das alterações psíquicas acomete mais o sexo feminino no ambiente
universitário. No estudo de Aguiar e Rodrigues (2021) estudantes do sexo feminino
apresentam maior prevalência para transtornos principalmente ansiedade e depressão.
Com referência à quantidade de acadêmicos apontados no que foi registrado pelo
SAPE, na Tabela 5, é demonstrado os dados concernentes ao Curso e Sexo Biológico
Masculino, no período de 2012 a 2019, e o relativo número de estudantes anotados para
atendimento psicopedagógico.
Tabela 5 – continuação
ID Cursos NA %
22 Licenciatura Indígena 0 0,00
23 Matemática 2 0,66
24 Medicina 6 1,98
25 Pedagogia 2 0,66
26 Química 2 0,66
27 Relações Internacionais 4 1,32
28 Teatro 7 2,31
29 Tecnologia em Secretariado 2 0,66
TOTAL 97 32,01%
Fonte: Elaborado pelo Autor (2022).
Gráfico 2 - Percentual de estudantes registrado no SAPE por Curso e Sexo Biológico Masculino no
Período de 2012 a 2019 na UNIFAP, Campus Marco Zero
Isso vem sendo mostrado no estudo de Lopes et al. (2022) quando explicitam que
cursos como Medicina, Enfermagem e Biologia são respectivamente aqueles com maior
frequência no aparecimento de transtornos psicológicos associados aos estudantes do sexo
feminino dentro da universidade.
Já Benvegnú, Deitos e Copette (1996) enfatizam de maneira geral, sem a distinção de
sexo biológico, que os cursos de Enfermagem, Medicina, Letras, Direito e Ciência da
Computação são os que contêm os acadêmicos acometidos de alguma enfermidade
psicológica.
Neves e Dalgalarrondo (2007, p. 7) afirmam em seu estudo a seguinte explicação
Após os conteúdos expostos, considera-se que o sexo feminino, a partir das analogias,
vem apresentando vulnerabilidade mais acentuada do que acadêmicos do sexo masculino.
Nesse sentido, os acadêmicos mostram que as alterações emocionais negativas são os
motivadores para buscar ajuda especializada que, no caso da UNIFAP, se consolida no NAI por
meio do SAPE.
Contudo, é notório que a procura por ajuda psicológica ainda acontece geralmente
quando todas as outras alternativas cessam. Sobre essa perspectiva, Han (2018, p. 16) afirma:
“[...] quem fracassa na sociedade neoliberal de desempenho, em vez de questionar a sociedade
ou o sistema, considera a si mesmo como responsável e se envergonha por isso [...] Ela não
transforma os explorados em revolucionários, mas sim em depressivos”.
Seguindo na discussão, na Tabela 6 é apresentado a distribuição do SAPE por demandas
Psicopatológicas. Dados como estes permitem detalhar a realidade dos estudantes acometidos
de sintomatologia psicopatológica relacionadas ao Manual de Diagnóstico e Estatística de
Transtornos Mentais, em sua 5ª edição (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
[DSM-V]), de acordo com Associação Psiquiátrica Americana (APA, 2013).
Tabela 6 - Distribuição do SAPE por demandas Psicopatológicas – UNIFAP, Campus Marco Zero
ID Psicopatologias3 N %
Transtornos do Neurodesenvolvimento4
(déficit de atenção, autismo, dificuldade na
TND 14 4,62
fala, transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade)
1
“[...] definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. É um
conhecimento que se esforça por ser sistemático, elucidativo e desmistificante” (DALGALARRONDO, 2019, p.
26).
2
“[...] são um grupo de condições com início no período do desenvolvimento [...] tipicamente se manifestam cedo
no desenvolvimento, em geral antes de a criança ingressar na escola, sendo caracterizados por déficits no
desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional [...]” (APA,
2013, p. 31).
54
Tabela 6 - continuação
ID Psicopatologias5 N %
Transtornos de Adaptação
TAD-309.0 (F43.21) Com humor deprimido6 21 6,93
TAA-309.24 (F43.22) Com ansiedade7 25 8,25
TAAD-309.28 (F43.23) Com misto de ansiedade e depressão8 6 1,98
TANE-309.9 (F43.20) Não especificado9 24 7,92
Transtornos Relacionados a Trauma e a Estressores
TEPT-309.81 (F43.10) Transtorno de Estresse Pós-traumático10 3 0,99
TAG-300.02 (F41.1) Transtorno de Ansiedade Generalizada11 3 0,99
Outras Condições que Podem ser Foco da Atenção Clínica
PREF-V61.20 (Z62.820) Problemas Relacionados à Educação12 4 1,32
Familiar (Pais e filhos)
5
“[...] definida como o conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. É um
conhecimento que se esforça por ser sistemático, elucidativo e desmistificante” (DALGALARRONDO, 2019, p.
26).
6
“A presença de sintomas emocionais ou comportamentais [humor deprimido, choro fácil ou sentimentos de
desesperança são predominantes] em resposta a um estressor identificável é o aspecto essencial dos transtornos de
adaptação [...] pode ser um único evento (p. ex., o término de um relacionamento afetivo), ou pode haver múltiplos
estressores (p. ex., dificuldades profissionais acentuadas e problemas conjugais) [...]”. (APA, 2013, p. 287).
7
“[...] sintomas emocionais ou comportamentais [nervosismo, preocupação, inquietação ou ansiedade de
separação são predominantes] em resposta a um estressor identificável é o aspecto essencial dos transtornos de
adaptação [...] pode ser um único evento (p. ex., o término de um relacionamento afetivo), ou pode haver múltiplos
estressores (p. ex., dificuldades profissionais acentuadas e problemas conjugais) [...]” (APA, 2013, p. 287).
8
“[...] sintomas emocionais ou comportamentais [predomina uma combinação de depressão e ansiedade] em
resposta a um estressor identificável é o aspecto essencial dos transtornos de adaptação [...] pode ser um único
evento (p. ex., o término de um relacionamento afetivo), ou pode haver múltiplos estressores (p. ex., dificuldades
profissionais acentuadas e problemas conjugais) [...]” (APA, 2013, p. 287).
9
“[...] sintomas emocionais ou comportamentais [para reações mal-adaptativas que não são classificáveis como
um dos subtipos específicos do transtorno de adaptação] em resposta a um estressor identificável é o aspecto
essencial dos transtornos de adaptação [...] pode ser um único evento (p. ex., o término de um relacionamento
afetivo), ou pode haver múltiplos estressores (p. ex., dificuldades profissionais acentuadas e problemas conjugais)
[...]” (APA, 2013, p. 287).
10
“[...] transtornos nos quais a exposição a um evento traumático ou estressante está listada explicitamente como
um critério diagnóstico e reúnem o transtorno de apego reativo, o transtorno de interação social desinibida, o
transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), o transtorno de estresse agudo e os transtornos de adaptação [...]”.
(APA, 2013, p. 265).
11
“[...] são ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva) acerca de diversos eventos ou atividades.
A intensidade, duração ou frequência da ansiedade e preocupação é desproporcional à probabilidade real ou ao
impacto do evento antecipado [...]”. (APA, 2013, p. 223).
12
“[...] problema de relacionamento entre pais e filhos está associado a prejuízo no funcionamento nos domínios
comportamental, cognitivo ou afetivo [...] incluem controle parental inadequado, supervisão e envolvimento com
a criança; excesso de proteção parental; excesso de pressão parental; discussões que se tornam ameaças de
violência física; esquiva sem solução dos problemas. Os problemas cognitivos podem incluir atribuições negativas
das intenções dos outros, hostilidade contra ou culpabilização do outro e sentimentos injustificados de
estranhamento. Os problemas afetivos podem incluir sentimentos de tristeza, apatia ou raiva relativa ao outro
indivíduo na relação [...]”. (APA, 2013, p. 715).
55
Tabela 6 - continuação
ID Psicopatologias N %
Transtorno Bipolar Tipo I -Não
TBI- 296.40 (F31.9) 3 0,99
especificado13
TDP-300.4 (F34.1) Transtorno Depressivo Persistente
(Distimia) com episódio depressivo maior - 2 0,66
Ideação suicida14
TOTAL 105 34,65%
Fonte: Elaborado pelo Autor (2022).
13
“[...] A categoria transtorno bipolar [Tipo I] e transtorno relacionado não especificado é usada em situações em
que o clínico opta por não especificar a razão pela qual os critérios para um transtorno bipolar e transtorno
relacionado específico não são satisfeitos e inclui apresentações para as quais não há informações suficientes para
que seja feito um diagnóstico mais específico (p. ex., em salas de emergência) [...]”. (APA, 2013, p. 149).
14
“[...] é um humor depressivo que ocorre na maior parte do dia, na maioria dos dias, por pelo menos dois anos,
ou por pelo menos um ano para crianças e adolescentes [...] representa uma consolidação do transtorno depressivo
maior crônico e do transtorno distímico [...] Depressão maior pode preceder o transtorno depressivo persistente, e
episódios depressivos maiores podem ocorrer durante o transtorno depressivo persistente. Os indivíduos cujos
sintomas satisfazem os critérios para transtorno depressivo maior por dois anos devem receber diagnóstico de
transtorno depressivo persistente, além de transtorno depressivo maior”. (APA, 2013, p. 169).
56
Gráfico 3 - Distribuição do SAPE por demandas Psicopatológicas – UNIFAP, Campus Marco Zero
Diante desse contexto, percebe-se a incidência maior nas alterações psicológicas dos
estudantes no ensino superior, relacionada à ansiedade (8,25%), seguida do transtorno de
adaptação não especificado, também pela depressão e por último o transtorno do
neurodesenvolvimento.
Papalia, Feldman e Martorell (2013) afirmam que os estudantes universitários
ingressantes viveram e ainda vivem mudanças abruptas para se adaptarem à dinâmica do
ensino superior, no qual vivenciam a cobrança da independência emocional, econômica e
social. Tudo isso influencia no desenvolvimento de doenças psiquiátricas.
Assim, Padovani et al. (2014) informam que existe um elevado índice no
aparecimento de transtornos mentais junto aos estudantes universitários, sendo que a fase do
desenvolvimento humano prevalente é entre o final da adolescência e o início da fase do
jovem adulto.
Com essas argumentações, Vasconcelos et al. (2015), bem como Cardozo et al.
(2016) corroboram a situação de que os estudantes universitários estão predispostos a
57
necessário estimular essa práxis na cultura institucional do ensino superior para desenvolver
uma dinâmica de bem-estar. De acordo com Aguiar e Rodrigues (2021) sintomas de
ansiedade a nível grave entre os estudantes em geral diminuem sua incidência ao longo do
curso, o significa adaptação funcional ao seu ambiente universitário. Mas mesmo assim, os
sintomas de ansiedade atingem mais da metade da população investigada.
d) A Psicologia Ambiental busca estudar a atitude e percepção das pessoas para examinar os
valores ambientais e ideológicos a fim de entender o comportamento da pessoa em um
contexto específico (MOSER, 2003).
e) A Psicologia Ambiental apresenta a abordagem ambiente, comportamento, percepção
ambiental, estudo do lugar, ecologia social, sem a limitação a essas áreas, ao contrário,
integrando-as entre si (PINHEIRO; GÜNTHER; GUZZO, 2004).
f) O enfoque da Psicologia Ambiental está na dinâmica da interação entre os seres humanos
e os ambientes físicos (GIFFORD, 2005).
g) A Psicologia Ambiental busca estudar a relação pessoa-ambiente com a exposição da
concepção transacional e também seu aspecto de interdependência entre pessoa e
ambiente (KRUSE, 2005).
h) Para a Psicologia Ambiental, o ambiente físico não apresenta neutralidade, interage com
o meio social, cultural e psicológico. Isso produz influência nas relações humanas de
maneira ampla e não apenas individual, além de se caracterizar como transacional
(MIRA; STEA; ELGUEA, 2005).
i) A Psicologia Ambiental é compreendida enquanto disciplina múltipla em seus enfoques
que envolvem diálogos atualizados socialmente. É o caso da saúde e do bem-estar das
pessoas na sua relação com o ambiente enquanto totalidade (MOSER, 2005).
j) Na interação pessoa com o ambiente, a ideia da Psicologia Ambiental é considerar essa
relação enquanto unidade “Ambiental” (PINHEIRO, 2005).
k) A Psicologia Ambiental estuda os problemas humanos-ambientais junto com seus
resultados negativos em relação ao par pessoa-ambiente, em que a qualidade do ambiente
passa a ser um indicador da qualidade de vida da pessoa (ALVES; BASSANI, 2008).
l) A disciplina Psicologia Ambiental traz resultados para a saúde e o bem-estar da pessoa e,
por conseguinte, para a qualidade de vida em seus estudos (CARVALHO; BASSANI,
2011).
m) Na Psicologia Ambiental existe a influência do ambiente no comportamento e vice-versa,
em que a pessoa analisa e interage com o meio dialeticamente (JERÔNIMO; SOUZA,
2015).
n) O centro de estudo da Psicologia Ambiental é o indivíduo com o ambiente independente
da escala que será analisada, incluindo os fatores físicos do ambiente, comportamento e
cognição (MOSER. 2018).
61
Quadro 4 - continuação
Convergentes Eixo central
Moser (2018)
Interação homem-ambiente
Silveira e Kuhnen (2018)
Melo (1991)
Moser (2005) Multidisciplinaridade
Silvestrin, Kuhnen e Tribéss (2019)
Pinheiro (1997)
Interdependência
Autores Kruse (2005)
Kruse (2005)
Transacionalidade
Mira, Stea e Elguea (2005)
Moser (2005)
Alves e Bassani (2008)
Saúde como bem-estar/QV
Carvalho e Bassani (2011)
Silveira e Kuhnen (2018)
Fonte: Elaborado pelo Autor (2022).
Já Melo (1991), Moser (2005), Silvestrin, Kuhnen e Tribéss (2019) entendem que a
ideia se vincula à Multidisciplinaridade. Enquanto Pinheiro (1997) e Kruse (2005)
consideram que a ideia básica para Psicologia Ambiental é a Interdependência. Por sua vez,
Kruse (2005) e Mira, Stea e Elguea (2005) convergem para a concepção de
Transacionalidade enquanto ideia fundamental. Por fim, Moser (2005), Alves e Bassani
(2008), Carvalho e Bassani (2011), Silveira e Kuhnen (2018) ponderam a ideia de que a
Psicologia Ambiental enfoca a Saúde enquanto processo de bem-estar para o
desenvolvimento da QV.
Ao observar as ideias dos autores supracitados, foi possível verificar dois domínios
principais: de um lado, as informações dadas pelos autores associadas à Psicologia
Ambiental enquanto processo de interação homem-ambiente na sua construção dialética; do
outro lado, notam-se ideias voltadas para o bem-estar do ser humano na relação com o
ambiente. No que se refere à Psicologia Ambiental, é possível concluir que tem como
característica investigar a relação homem-ambiente.
Dunlap, Michelson e Stalker (2002) afirmam que essa relação é de reciprocidade e
cíclica de maneira dinâmica e prospectiva. Nesses termos, Lemos e Higuchi (2011) explicam
que o comportamento do ser humano e sua interação com o ambiente é a condição capital
para o processo dialético de transformação de sua realidade. Tuan (2012) enfatiza que o
estabelecimento da relação homem-ambiente surge pelo processo sociocultural perpassando
aspectos tipicamente humanos.
Ainda nessa opinião, Higuchi, Calegare e Freitas (2013) abordam que a relação
homem-ambiente se fundamenta no engajamento da ação concreta do ser humano junto ao
ambiente com transformação dinâmica a partir das circunstâncias. Então, Larson et al.
(2015) elucidam que as transformações produzidas são convergentes para a evolução da
relação homem-ambiente dentro das características filogenéticas, ontogenéticas e culturais.
As teses desses autores são ratificadas pelas ideias de Acosta, Campos e Gonçalves
(2018), segundo os quais na interação entre ser humano e ambiente, a identidade social
apresenta sua sistemática dentro da relação entre eles, com desenvolvimento e incorporação
de dimensões humanas e ambientais. O resultado é uma dinâmica singular com
características contextuais, onde a interação apresenta aspectos particulares interligados
entre si.
68
Por outro lado, Bosier (1996), Velasco (1996), Cardoso e Ribeiro (2002), Theis
(2019) consideram o desenvolvimento enquanto uma edificação seguindo uma organização e
estruturação da região. Em contraste a isso, Dallabrida e Becker (2008), Gardelha et al.
(2011), Bazzanella e Onisto (2014), Melo e Vieira (2015), Correa, Silveira e Kist (2019)
abordam o desenvolvimento na perspectiva da autonomia e independência para a construção
da região.
As três ideias de Desenvolvimento Regional iniciam com o argumento de Costa e
Cunha (2002), os quais afirmam que o papel do Estado passa a ser de regulador interno no
desenvolvimento por conta da concepção de políticas supranacionais, segundo a qual as
regiões, cidades e locais estariam em equidade de importância com o Estado.
O resultado foi a inserção da importância da qualidade de vida, cidadania,
sustentabilidade ambiental e democracia. Ferreira (2002) avalia que o desenvolvimento de
uma região pressupõe integração, articulação e mobilização de todos os componentes (atores
locais e econômicos) para frutificação de tecnologias e infraestrutura, por meio da
valorização de uma atuação mais regionalizada. Aqui se evidencia a ideia de
desenvolvimento regional enquanto organização e estruturação a partir do Estado.
Na perspectiva de Santos (2003), o Estado tem o dever de possibilitar o
desenvolvimento com o oferecimento de alternativas por meio de instrumentos com a
finalidade de diminuir as carências da região, sendo que sua ação é propiciar a
sustentabilidade. Com isso, demonstra sua ação reguladora mediando parcerias com gestores
locais e regionais. Nesse sentido, percebe-se o Estado como interventor para ações
desenvolvimentistas.
Segundo Sicsú, Paula e Michel (2007), no caso do Brasil, é a partir do início do
século XXI que se pode observar o surgimento de ideias de desenvolvimento pautadas em
duas vertentes: o “novo-desenvolvimentismo” e o “social-desenvolvimentismo”. Essas
ideias vêm para combater a crise político-econômica e social do neoliberalismo da metade
de década de 1990. Então, o parecer da vertente denominada “novo-desenvolvimentista” se
baseia nas seguintes apreciações:
a) Somente existe mercado sólido com Estado forte;
b) Não é possível crescimento sustentado com altas taxas quando não há o fortalecimento do
Estado e do mercado;
c) É a estratégia do desenvolvimento nacional que propiciará um Estado e mercado fortes;
70
d) É apenas com taxas altas e contínuas que se torna possível o cumprimento da redução da
desigualdade social.
Assim, Furtado (2009) mostra que o estímulo do Estado e sua consonância com o
fator social (sociedade) possibilitam à uma dada região superar suas dificuldades, mas
apenas se for possível proporcionar reformas fundamentais no setor fiscal, urbano,
administrativo, universitário, bancário, agrário e tributário.
A outra vertente, chamada de “social-desenvolvimentista”, se baseia na
redistribuição de renda com o foco nas ideias de Prebich. Nesse sentido, pondera-se o
investimento do Estado para se chegar ao desenvolvimento, com ênfase na política tributária
e fiscal, cujo intuito é de suplantar as dificuldades estruturais da região (FONSECA, 2014;
MOLO, 2016).
Com uma nova visão, Sen (2010) compreende que o desenvolvimento acontece
quando atinge de modo direto o homem, possibilitando a opção da liberdade de escolha e
não a determinação imposta pelo governo do que se deve fazer de sua realidade.
A ideia de desenvolvimento precisa se centrar no processo de como os meios e
estilos das pessoas se constroem nas dificuldades regionais, não esquecendo a análise
econômica do desenvolvimento pelo PIB, porém, arquitetando uma mudança de realidade
através da educação e da saúde. Entende-se, nesse modelo a ideia de desenvolvimento como
autonomia e independência dos seus atores na gestação de sua região.
Souza (2009) afirma que o ser humano interage com a realidade (natureza) em busca
de realizar suas satisfações de maneira imediata. Para isso, transforma sua relação com o
ambiente social e com a natureza. Contudo, de acordo com Elali e Medeiros (2011), não
existe uniformidade temporal e espacial nessas interações, pois o contexto é importante para
a realização dessas relações. O acadêmico, na sua percepção ambiental do espaço
universitário, se desenvolve por seus fatores emocionais com o uso do apego afetivo do
local, sendo o mantenedor da sua relação com o espaço físico.
Então, a saúde mental dos acadêmicos na universidade, nas relações estabelecidas
nesse espaço, se configura em uma busca de satisfação imediata. Gomes (2012) afirma que a
saúde mental compreende itens gerados de transtorno psicológico. Isso se concatena com as
singularidades vivenciais das pessoas, os seus valores morais e culturais, as relações
interpessoais e os recursos estruturais da sociedade.
De acordo com Luz, Brizolla e Garcia (2017), por meio da universidade, o ensino
superior vem mudando seu caráter de formação profissionalizante e se voltando para a
formação acadêmica. Sua produção de capital intelectual dentro da região é um resultado
reforçador para o aspecto econômico e social.
Nessa esteira, Lara e Carniello (2018, p. 58) afirmam que
Logo, o espaço da universidade para o acadêmico, junto com seu estado de saúde,
representa o modo de construção do conhecimento. Para Bizerril (2017), as universidades
possuem um papel estratégico para o desenvolvimento regional e humano de uma sociedade,
pois é nesse espaço que as relações na produção do conhecimento científico, do cidadão e de
tecnologia podem impulsionar o crescimento de uma região. O seu fracasso, por outro lado,
significa uma ação diretamente proporcional ao desenvolvimento regional.
Souza (2009) diz que o espaço engloba alteridade na sua realidade, pois é resultado
de uma produção social, sendo uma mercadoria abstraída do ambiente com sua
singularidade e contextualidade, isso a partir de uma dialética do espaço na qual o ser
humano utiliza-o para sua sobrevivência, segundo aspectos históricos e naturais.
Para Lefebvre (2006, p. 301-302)
73
15
Modelo criado por Urie Bronfenbrenner (1917‐2005) enfatiza a compreensão da ontogênese na área da
Psicologia Social e Ambiental. Onde apresenta os diversos níveis ecológicos que estão interconectados com
influencia entre si. Explica o comportamento do ser humano, se processa na relação mutua entre esses diversos
níveis potencializando o ser humano como também fragilizando-o (BRONFENBRENNER, 2011).
75
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desse modo, foi possível examinar a Saúde Mental dos estudantes da Universidade
Federal do Amapá, do Campus Marco Zero, pelo enfoque da Psicologia Ambiental; realizar
o levantamento documental do número de estudantes da UNIFAP atendidos pelo Serviço de
Atendimento Psicopedagógico (SAPE) no Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI), no
Campus Marco Zero; identificar demanda, sexo biológico e curso dos estudantes atendidos
pelo Serviço de Atendimento Psicopedagógico (SAPE) e organizar os conceitos de Saúde
Mental dos estudantes no Ensino Superior, Psicologia Ambiental e Desenvolvimento
Regional com os fundamentos teóricos a partir de revisão da literatura em trabalhos
relacionados ao tema em que haja a intersecção entre os conteúdos.
Em primeira análise, mostrou-se plausível a apreensão dos fatores número, sexo
biológico e curso, em que os resultados revelaram que o sofrimento mental apresenta maior
ocorrência em estudantes dos cursos da área da saúde (Enfermagem 7,26%, Ciências
Biológicas 5,94%, Medicina 5,28%) e onde o objeto de estudo apresente mais a
subjetividade (Letras Português/Frances e Português/Inglês 9,9%, Ciências Sociais 7,92%,
Pedagogia 5,61%, Jornalismo 5,28%, Teatro 4,62%).
Em relação ao sexo biológico, a partir das analogias, o sexo feminino apresentou
maior vulnerabilidade, com alterações emocionais negativas, com maior incidência de
transtornos como depressão e ansiedade, em relação aos acadêmicos do sexo masculino. E
os estudos elencados ratificaram essas informações.
Ainda em analogia, no que se refere à demanda, constatou-se que o transtorno de
adaptação com ansiedade, o não especificado, e com depressão tiveram, respectivamente, os
maiores índices percentis e em quarto (4º) lugar o transtorno do neurodesenvolvimento no
seu aparecimento entre os estudantes que buscaram atendimento pelo SAPE.
A literatura científica utilizada explica que a depressão e a ansiedade são as
enfermidades mais frequentes na vida dos estudantes universitários, principalmente no sexo
feminino. Portanto, a pesquisa que foi realizada confirmou essa frequência.
Com referência ao ambiente universitário, demonstrou-se que produz sofrimento
quando não gera satisfação e prazer. Com isso, as expectativas positivas dos estudantes se
tornam negativas. De tal modo, que sua interação com o ambiente (Psicologia Ambiental)
necessita do desenvolvimento de intimidade para em resultar bem-estar. Por isso, a saúde
mental enquanto bem-estar se explica pelo apego afetivo e sua percepção em relação ao
espaço onde está interconectado.
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