Princípios de Ensino para A Educação Física Na Escola: Suraya Darido
Princípios de Ensino para A Educação Física Na Escola: Suraya Darido
Princípios de Ensino para A Educação Física Na Escola: Suraya Darido
Suraya Darido
LETPEF - Laboratório de Estudos e Trabalhos Pedagógicos em Educação Física
Departamento de Educação Física -UNESP- Rio Claro
Por isso, discutir “questões metodológicas” implica reconhecer o que move o professor a
agir em sua prática, portanto envolve as suas concepções de humanidade, sociedade e de aluno.
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Neste capítulo, buscaremos os aspectos relacionados ao “como” ensinar. Discutir as-
Para Libâneo (1991), as orientações didáticas são determinadas pela relação entre ob-
jetivo e conteúdo. Elas fornecem a forma pela qual se concretiza esta relação em condições
didáticas específicas; ao mesmo tempo que influenciam na reformulação ou modificação dos
objetivos e conteúdos. Referem-se aos meios para alcançar objetivos gerais e específicos do
ensino, ou seja, ao “como” do processo, envolvendo as ações a serem realizadas pelo pro-
fessor e pelos alunos para atingir os objetivos e conteúdos. São características dos métodos:
estarem orientados para os objetivos; implicar uma sucessão planejada e sistematizada de
ações, tanto do professor, quanto dos alunos (LIBÂNEO, 1991).
A relação que se estabelece entre objetivo, conteúdo e método tem como característica
a mútua interdependência. O método é determinado pela relação objetivo-conteúdo, mas
pode também influir na determinação de objetivos e conteúdos.
Inclusão: todos devem jogar para apreciar, mas cuidado: existe a autoexclusão.
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Participação ativa dos alunos, roda, modificação das atividades e das regras dos
O que sabem os alunos sobre bandeja, técnica ou tática? O que conhecem sobre o
contexto, nome dos jogadores de equipes e de cultura da modalidade? Essas são questões
importantes para iniciar o trabalho, por isso mesmo é preciso mapear o que seus alunos já
sabem sobre as práticas corporais, quais experiências e conhecimentos apresentam.
Paulo Freire (1996) afirma que ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. O
autor ressalta que pensar certo coloca ao professor e a escola o dever de respeitar os saberes
dos educandos, sobretudo aqueles das classes populares e, além disso, deve-se discutir com
os alunos a razão de ser de alguns desses saberes. Freire questiona acerca do porquê de não
aproveitar a experiência que têm os alunos de viver em áreas da cidade descuidadas pelo
poder público. Por meio dessa experiência, pode-se discutir, por exemplo, a poluição dos
riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem-estar das populações.
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Em um paralelo com o esporte, poderíamos questionar junto aos alunos: as pessoas da
Estamos propondo, como Freire, aproveitar o conhecimento que o aluno traz e discutir
com ele as implicações políticas e ideológicas desse conhecimento, de modo a permitir que
se estabeleça uma “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais do aluno e a ex-
periência social que ele tem como indivíduo (FREIRE, 1996, p. 30).
Na verdade, quanto mais detalhes obtivermos dos nossos alunos, mais chances de
acertarmos no ensino, de escolhermos as melhores estratégias e procedimentos pedagógicos.
Uma das coisas que devemos buscar é oferecer práticas corporais para todos os alunos
e alunas. Não se pode mais tolerar a exclusão dos menos habilidosos, baixinhos, gordinhos
etc. Em outras palavras, deve haver um grande esforço do professor de tentar incluir todos(as)
os(as) alunos(as) nas aulas. Para isso, é fundamental despertar o interesse dos alunos, apre-
sentando atividades que, de alguma forma, permitam a experiência do prazer.
Outra prática mais ou menos comum, mas nem sempre consciente dos professores, é o
“olhar feio” para os erros dos alunos, para aqueles que têm menos habilidade ou apresentam
alguma dificuldade na aprendizagem. Os professores lidam como se errar fosse uma escolha
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ou “culpa” dos alunos e não um passo para a aprendizagem. Por isso, uma dica importante,
Esse tipo de incentivo não precisa ser expresso necessariamente por palavras, mas por
atitudes de ajuda efetiva. Por sua posição, o professor exerce grande influência sobre os alu-
nos: a forma como os vê interfere não só nas relações que estabelece com eles, mas também
na construção da autoimagem de cada estudante. Se o professor não acredita que o aluno
possa aprender, acaba por convencê-lo disso. Mesmo que não explicite verbalmente, sua
forma de agir, suas expressões, seu tom de voz podem conter mensagens que dizem muito.
As estratégias escolhidas devem não apenas favorecer a inclusão, como também discu-
ti-la e torná-la clara para os alunos. É preciso lembrar também que muitas vezes os próprios
alunos se autoexcluem. Em outras palavras, mesmo com o esforço do professor de utilizar
estratégias que incluam todos os alunos naquela atividade, o aluno sentindo-se incompetente
diante de uma situação pode desistir de participar, o que chamamos de autoexclusão.
É muito importante ficar atento a essas situações e lembrar aos alunos que não existe
aprendizagem sem erro, pois o erro é parte importante do processo de desenvolvimento e
que, além disso, as experiências entre os alunos nas práticas corporais são muito diferen-
ciadas, o que acaba acarretando em desempenhos diferentes. Outro aspecto para o qual o
professor deve chamar a atenção é que ninguém deve se sentir melhor do que outro só porque
tem um desempenho superior.
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Uma característica bastante comum é a existência de turmas extremamente heterogê-
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O tratamento contextualizado é o recurso de que o professor deve lançar mão para
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Recomenda-se iniciar e finalizar as aulas em roda, de modo que todos os alunos pos-
Na roda final, podem-se discutir os erros, os acertos, o que foi aprendido, o que faltou
para ser complementado, o que será trabalhado no próximo encontro, além de outros aspec-
tos que o professor e os alunos julgarem importantes. Na roda, não há início nem fim, há um
sentido de igualdade e união, pois todos falam e são ouvidos, enfim este é um espaço coleti-
vo. A roda propicia a aprendizagem de ouvir o colega, aguardar a sua vez de falar, respeitar
opiniões, argumentar, discordar, concordar, além de outros.
Além da participação dos alunos nas rodas, é importante garantir a sua participação
ativa em todas as atividades e pode-se, inclusive e sempre que possível, solicitar aos alunos
que indiquem caminhos para modificar os jogos, as atividades propostas pelos professores,
bem como as regras dos jogos e dos esportes. Essa é uma forma de trazer o aluno para a
aula, respeitar as suas contribuições e torná-lo mais ativo e participante. Por exemplo, depois
de um mesmo time realizar algumas cestas consecutivas, o/a professor(a) intervém junto a
equipe que está frágil e com ela reflete acerca de uma forma de se proteger melhor do ataque
adversário. Destaca-se que deve haver um incentivo para que os participantes opinem e ana-
lisem a situação, e proponham soluções ao problema, isto é, para que os participantes sejam
incentivados a analisar o quadro e apresentar uma possível solução.
As práticas corporais a serem desenvolvidas nas escolas colocam-se como mais uma
atividade em consonância com a proposta pedagógica da escola e em contribuição às ações
e aos propósitos idealizados no seu Projeto Pedagógico.
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é fundamental para o sucesso do ensino e da aprendizagem dos alunos organizar e desenvol-
Há, ainda, a possibilidade de eventos com a participação dos pais na organização, logís-
tica e até mesmo na divulgação de campeonatos, festivais, gincanas ou outros. Com a família
envolvida, pode-se ter a chance de um avanço social ampliado, pois todos aprendem coletiva-
mente desde o esporte até as regras básicas de convivência da escola e de sua comunidade.
Na verdade, entre os alunos, pode acontecer de alguns se identificarem com uma de-
terminada modalidade e, por isso, desejarem conhecê-la melhor. Às vezes, a própria escola
oferece práticas esportivas fora das aulas, mas quando isso não ocorre, podemos encaminhar
os alunos interessados em manter a prática do esporte ou da dança, ou de qualquer outra
prática corporal, para outros locais, como clubes, prefeituras, entre outros.
As aulas de Educação Física devem ser diversificadas tanto quanto possível, ou seja,
o aluno não pode chegar e achar que sempre haverá o mesmo jogo, ou a mesma atividade,
sempre no mesmo espaço e com os mesmos materiais. Isso pode tornar a prática repetitiva e
motivar apenas o grupo mais habilidoso, e os que apreciam os famosos “rachões”. Na verda-
de, aulas repetidas podem aumentar as chances de evasão na prática das aulas e também em
situações de aprendizagem futuras.
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A diversificação favorece a inclusão e autonomia dos alunos, dois aspectos fundamen-
Assim, para promover de fato a autonomia é preciso que as aulas se tornem diferentes,
tanto do ponto de vista da escolha sobre o que se deve ensinar (conteúdos), como pelos pro-
cedimentos que os professores deverão utilizar nas suas aulas.
Um procedimento que pode ser utilizado nas aulas é o de estimular os alunos a prati-
carem as habilidades aprendidas nas aulas também em casa, com materiais alternativos. Por
exemplo, o aro da cesta de basquete pode ser substituído por latas de lixo etc. É uma proposta
que estimula a prática da atividade para além dos horários formais.
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Observando a prática docente, tanto na escola, como em programas esportivos, per-
Na verdade, a Educação Física, na escola, separava os meninos das meninas sem qual-
quer discussão até meados da década de 1980 do século passado, o que historicamente sig-
nifica até “ontem”. É somente a partir deste período que se inicia o debate em busca da
coeducação.
O que podemos constatar é que, por força do processo de transmissão cultural, refor-
çam-se os preconceitos, colaborando para que as meninas não tenham as mesmas experiên-
cias dos meninos, criando-se, então, uma cadeia de situações que leva à exclusão e à falta de
motivação por parte delas quanto à prática do esporte (SOUZA JR.; DARIDO, 2003).
É importante destacar que existem de fato inúmeras diferenças entre rapazes e garotas.
Desde a infância, os meninos são incentivados a praticar as brincadeiras mais agressivas e
mais livres: jogar bola na rua, soltar pipa, andar de bicicleta, rolar no chão em brigas inter-
mináveis, escalar muros e realizar várias outras atividades que envolvem riscos e desafios.
As meninas, ao contrário, são desencorajadas de praticar tais brincadeiras e atividades. Esse
tratamento diferenciado reflete-se em desempenho motor igualmente diferenciado.
Para tanto, é importante que o professor evite atitudes sexistas – como relacionar as
meninas por último, escolher apenas meninos para fazer demonstrações e dirigir sua atenção
preferencialmente aos meninos. Além disso, deve evitar piadas e linguagem com conotações
sexistas (“marcação homem-homem”, em jogo de mulheres), e utilizar estratégias de mo-
delização com fotos e desempenhos de jogadores, e jogadoras de futebol, para ficarmos em
apenas um exemplo (FARIAS JR., 1995).
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A adaptação e a modificação de atividades, no sentido de contemplar a heterogeneidade
A indisciplina tem uma série de razões. Uma delas refere-se às dificuldades que, atu-
almente, muitos pais enfrentam em impor limites aos filhos. Na maioria dos casos, porque
não permanecem tempo suficiente com os seus filhos e quando os veem, preferem não dis-
cutir. Além disso, vive-se uma crise de valores, sobretudo com a imposição de referenciais
midiáticos, nos quais vale mais a aparência do que o conhecimento ou o engajamento social.
Outra razão possível para a indisciplina refere-se ao novo ritmo na vida dos meninos
e das meninas marcado pelas novas tecnologias. As imagens da TV são muito rápidas, os
cortes são alucinantes, assim como, os jogos de computadores e de vídeo-games, o que pode
mudar a percepção dos alunos.
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Na verdade, o tema da indisciplina é bastante complexo e delicado. Complexo porque
Alves (2002) ressalta que o aluno não pode ser o único culpado pelo acontecimento da
indisciplina, pois as questões sociais referentes à família, à instituição escolar, à política, à
religiosidade ou a qualquer outro âmbito social, também são fatores que contribuem para a
ocorrência da mesma. A autora ainda considera que, se as propostas curriculares estabeleci-
das, a metodologia utilizada e a postura adotada pelo professor forem inadequadas ao con-
texto em que se insere, a possibilidade de surgir o comportamento indisciplinado será maior.
Sendo assim, a indisciplina parece ser causada pela soma de diversas razões distribuídas
igualmente entre escola, família, desigualdade social, aluno e professor.
É fato que a dinâmica, nas aulas de Educação Física, produzida através de atividades
ligadas aos conteúdos de jogos, esportes, danças, lutas e ginásticas, maximiza os conflitos e
as questões ligadas às atitudes e aos valores.
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c. Se as regras estão de acordo por que devemos obedecê-las e/ou cumpri-las?
Referências
FARIA JÚNIOR, A. G. Futebol, Questões de Gênero e Co-educação – Algumas considerações didáticas sob
enfoque multicultural. Revista do Núcleo de Sociologia do Futebol. Rio de Janeiro, n. 2, 1995.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Educação Físi-
ca. São Paulo: SEE, 2008.
SOUZA JUNIOR, O.; DARIDO, S. C. Influências da cultura escolar no desenvolvimento de propostas co-
educativas em aulas de Educação Física. Motriz (Rio Claro), v. 9, p. 143-152, 2003.
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