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Aceiro Vivo – Para talhões de Eucaliptos

Sabias que existem plantas com uma maior capacidade de resistência ao fogo?
Neste artigo poderás conhecê-las e perceber de que forma as podes utilizar.
A base de dados nacional de incêndios florestais registou, entre 1 de janeiro e 15 de
julho de 2016, um total de 2880 ocorrências (403 incêndios florestais e 2477 fogachos)
que resultaram em 2147 hectares de área ardida e, comparando estes valores com o
histórico dos últimos 10 anos, verificou-se que os valores deste ano foram os mais
baixos (ICNF, 2016), até que… Agosto se tornou num verdadeiro inferno!

Período crítico 1de julho a 30 de setembro. Fonte: ICNF, 2016.


A maioria das causas apontam para o descuido do homem ocorrendo acidentalmente,
outras têm mesmo origem criminosa. Prevenir incêndios é o melhor remédio, só assim
se poderá evitar o seu aparecimento ou, pelo menos, limitar a sua propagação.
Os especialistas têm citado que a seleção das plantas para inserção nas nossas
florestas é, talvez, o fator mais importante para travar casos tão dramáticos como
os que se têm assistido.
Existem plantas capazes de retardar a disseminação do fogo, com uma maior capacidade
de resistência, uma vez que conduzem melhor o calor, isto é, o calor é distribuído por
toda a planta, fazendo com que a temperatura se eleve mais dificilmente; ao contrário de
outras espécies más condutoras de calor, que o acumulam numa pequena zona e por
isso, a temperatura se eleva mais facilmente.
A seleção da vegetação para integração nas florestas passa pela inclusão de boas
práticas a respeitar nas arborizações, tais como:
 Utilizar espécies autóctones, por estarem mais bem adaptadas às
condições edafo-climáticas de determinado território, sendo mais
resistentes a pragas, doenças e a mudanças de temperatura;
 Criar faixas e manchas de descontinuidade ao longo da rede viária,
linhas de água, cumeadas ou vales, utilizando, nomeadamente, espécies
arbóreas ou arbustivas com baixas inflamabilidade e combustibilidade,
comunidades herbáceas ou, ainda, mantendo a vegetação natural;
 Conservar maciços arbóreos, arbustivos e os exemplares notáveis de
espécies autóctones, além dos habitats;
 Recolher resíduos (DSVPF, 2003).
Outras práticas poderiam ser referidas, no entanto foram citadas as mais
relevantes. Penso que maioria não esteja a ser aplicada o quanto deveria, corrige-
me se estiver em erro.
Tem-se referido que o descuido do homem na limpeza das suas matas ou florestas é o
principal ponto de partida para o início dos incêndios. A falta de controlo no
aparecimento de vegetação espontânea promove não só um deficiente
desenvolvimento do conjunto arbóreo como um aumento de uma elevada carga de
biomassa de combustível que incrementa a propagação dos fogos. Esta é uma das
medidas que é necessário aplicar e legislar!
Mas, afinal, quais são as espécies capazes de retardar a propagação do fogo?
Espécies como os pinheiros e os eucaliptos são altamente combustíveis por integrarem
matérias voláteis. Pelo contrário, espécies folhosas como o carvalho-
alvarinho (Quercus robur) e o carvalho-negral (Quercus pyrenaica) ou
o castanheiro (Castanea sativa), além de ripícolas como o freixo (Fraxinus minor),
o choupo (Populus sp.) e a aveleira (Corylus avellana) têm menor capacidade de
combustão, ardendo com menor facilidade. Também as árvores de fruto podem ser
citadas por terem maior teor de humidade nas suas folhas. O sobreiro (Quercus suber),
quando está revestido de cortiça é uma das espécies retardadoras do fogo e, embora
perca o seu revestimento, a árvore consegue normalmente regenerar (Catry et al.
2007).Todas estas espécies exigem solos ácidos.

No caso de solos calcários, uma das árvores capazes de diminuir a propagação do fogo é
a azinheira (Quercus rotundifolia), ou em casos raros em que o solo seja suficiente,
o carvalho-cerquinho (Quercus faginea) ou a oliveira (Olea europaea var. europaea).

Uma das soluções no planeamento florestal para a diminuição da disseminação dos


incêndios é a inserção de florestas mistas, integrando espécies de maior produção,
como o pinhal e o eucaliptal, desde que de determinada dimensão para que os incêndios
não sejam incontroláveis, em conjunto com espécies autóctones como o carvalhal,
existindo assim um equilíbrio (Magalhães, M. R. et all, 2012).
É claro que a seleção das espécies depende não só das condições edafo-climáticas do
local mas também do uso que se pretende.
Poderás encontrar alguma informação sobre as caraterísticas ecológico-culturais, bem
como algumas das associações de espécies florestais para criação de florestas mais
sustentáveis aqui e aqui.
Espero que o artigo tenha sido esclarecedor. Num próximo artigo irei abordar
o Ordenamento Florestal que é regularizado por meio dos Planos Regionais de
Ordenamento Florestal (PROF). Estes instrumentos de gestão territorial permitem o
planeamento e a gestão das florestas, mediante legislação e medidas específicas, e são,
por isso mesmo, muito importantes!
Rita Basto, Green

Fonte: https://greensite2016.wordpress.com/2016/08/11/em-defesa-da-floresta-plantas-que-
retardam-a-propagacao-do-fogo/

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