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BOM JESUS
2024
Introdução
Desenvolvimento
A resistência das plantas ao fogo depende em grande medida da presença de
características adaptativas que lhes permitam tolerar melhor o calor, da percentagem de tecidos
mortos e localização desses tecidos, dos mecanismos reprodutivos e da capacidade para
recuperar dos danos sofridos. Existem duas formas de as plantas conseguirem tolerar a
exposição ao fogo. Uma é a de que as células que constituem os tecidos vitais consigam suportar
temperaturas mais elevadas, e a outra é através da protecção desses tecidos vitais evitando que
a temperatura letal seja atingida (Whelan, 1995). Por outro lado, as características que
adicionam ou conservam as reservas nutritivas da planta são também muito importantes uma
vez que permitem a recuperação dos indivíduos após o fogo (e.g. Pyne et al., 1996).
A adaptação das plantas e comunidades ao fogo evoluiu sob determinadas condições
ambientais em uma escala temporal e espacial (STEUTER & McPHERSON, 1995), sendo a
extensão do distúrbio ajustada às variações climáticas e topográficas. O ecossistema florestal
amazônico, quando impactado por secas e pelo fogo, pode ficar severamente comprometido.
Isso se deve em razão de que são poucas as espécies de árvores de florestas tropicais capazes
de tolerar o estresse térmico e hídrico e a perturbação provocada, além de afetar também a
capacidade de regeneração da floresta, uma vez que plantas jovens em estágio de muda são
destruídas e o banco de sementes das gerações futuras é danificado. A maioria das espécies de
árvores da Amazônia tem uma casca protetora muito fina para o tamanho do tronco em
indivíduos adultos e sua resistência ao fogo é mínima (BARLOW e PERES,2003).
O fogo pode ter diversos efeitos na vegetação, tanto positivos quanto negativos. É um
importante agente evolutivo para as plantas (Bond & Midgley 1995, Schwilk & Ackerly 2001)
e tem um papel importante na distribuição de savanas no mundo (Bond et al. 2005). O fogo
também promove a morte e prejudica o estabelecimento de plântulas de espécies arbóreas, reduz
o crescimento radial, pode matar rebrotas e diminuir a reprodução sexual pela destruição direta
de estruturas sexuais, o que reduz a produção de sementes no ano subsequente (Hoffman 1996,
1998, 2002). Nas vegetações sujeitas a queimadas frequentes, como na vegetação mediterrânea,
o fogo atua como um importante filtro ambiental, selecionando as espécies que podem ocorrer
na comunidade (Pausas & Verdú 2005, Verdú & Pausas 2007). Nesse sentido, a frequência de
fogo pode determinar a similaridade ecológica e o grau de parentesco das espécies vegetais
coocorrentes (Webb et al. 2002, Slingsby & Verboom 2006). Os impactos do fogo na vegetação
são amplamente reconhecidos. O fogo frequentemente reduz a densidade de árvores, através da
mortalidade de pequenos indivíduos, e altera a taxa de regeneração das espécies arbóreas
(Hoffmann 1996, Higgins et al. 2000, Hoffmann 2000, Medeiros & Miranda 2005)
beneficiando a vegetação herbácea.
Resultados
Os impactos significativos do fogo na comunidade vegetal, revelam uma série de
respostas complexas e inter-relacionadas. A ocorrência de incêndios emerge como um agente
impulsionador do florescimento em plantas que adotam estratégias adaptativas, priorizando um
crescimento que minimiza as perdas durante a queima. Esse fenômeno destaca a resiliência das
plantas diante do fogo, utilizando-o como um estímulo para aumentar o processo reprodutivo.
A recuperação pós-incêndio é fortemente influenciada pelas características que adicionam ou
conservam as reservas nutritivas das plantas.
Estudos indicam que a capacidade de regeneração está ligada à preservação dessas
reservas, contribuindo para a restauração dos indivíduos afetados pelo fogo. Essa capacidade
de recuperação é fundamental para a manutenção da biodiversidade e da estabilidade dos
ecossistemas. A adaptação das plantas e comunidades ao fogo é um processo evolutivo que
ocorreu ao longo de escalas temporais e espaciais consideráveis. Condições ambientais
específicas moldaram a resposta das plantas ao fogo, ajustando-se às variações climáticas e
topográficas. No entanto, a intensificação de distúrbios, como secas e incêndios na Amazônia,
representa uma ameaça significativa, comprometendo a resistência dessas florestas tropicais e
afetando a regeneração das gerações futuras.
Conclusão
Em síntese, a resistência das plantas ao fogo é um componente crítico na dinâmica dos
ecossistemas. A compreensão desses mecanismos adaptativos é fundamental para o
desenvolvimento de estratégias de manejo que visem preservar a diversidade biológica e a
saúde dos ecossistemas. A crescente ameaça de incêndios, especialmente em ecossistemas
sensíveis como a Amazônia, destaca a necessidade urgente de práticas de conservação e manejo
sustentáveis, visando preservar não apenas as espécies existentes, mas também as condições
ambientais que moldaram essas comunidades ao longo do tempo.
4. Referências bibliográficas
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