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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

BACHARELADO EM ENGENHARIA FLORESTAL


DISCIPLINA: INCÊNDIOS FLORESTAIS

EFEITOS DO FOGO SOBRE A


VEGETAÇÃO

Análise de focos ativos de fogo na região


Sudeste. A pesquisa abrange aspectos
sobre os efeitos do fogo na vegetação.
Professor : Ronie Silva Juvanhol

BOM JESUS
2024
Introdução

A capacidade de resposta das plantas ao fogo pode variar significativamente de


fogo para fogo ou entre diferentes áreas dentro de um mesmo incêndio. O tipo de resposta será
na maior parte dos casos variável em função da interação entre uma série de fatores como o
regime de fogo (e.g., intensidade do fogo, duração da combustão, época do ano), as
características do local (e.g., solos, topografia, clima) e as características de cada planta (e.g.,
espécie, vigor vegetativo, idade). A capacidade de sobrevivência e de regeneração das
comunidades vegetais no período após o fogo depende ainda da intensidade de ocorrência de
fatores adicionais de perturbação (e.g., seca, pastoreio, mobilizações de solo, pragas).
O fogo pode causar um efeito marcante na estrutura da vegetação e modificar as
condições ambientais (Veenendaal et al. 2018). Ele pode contribuir para manter os processos
ecológicos, a diversidade de ambientes e a conservação da biodiversidade (Parr & Andersen
2006). Entretanto, os efeitos do fogo dependem da intensidade, da frequência e época de
ocorrência (Smit et al. 2010). Assim, mudanças no regime de incêndios podem causar efeitos
negativos para esses ambientes, sendo necessários programas adequados de gerenciamento de
incêndios, baseados no conhecimento científico e de povos tradicionais (Pivello 2011).
A ocorrência de fogo impulsiona o florescimento em plantas que possuem um
crescimento que minimiza a perda de material durante a queima. Além disso, o fogo favorece
a liberação de sementes por meio de choque térmico ou de substâncias liberadas na fumaça. Na
comunidade vegetal, os impactos do fogo nas plantas são percebidos em termos de estratégias
de sobrevivência, características naturais e localização dos tecidos regenerados. O fogo afeta
diretamente o crescimento, a sobrevivência e reprodução das plantas e ainda atua sobre a
dinâmica do banco de sementes. É um dos poucos distúrbios que mata plantas adultas, abrindo
espaços e promovendo a sucessão vegetal e contribuindo para que acentuadas mudanças
ocorram na composição florística das pastagens naturais (STEUTER & McPHERSON, 1995;
BOND & WILGEN, 1996). A utilização de técnicas apropriadas para monitorizar os efeitos
específicos do fogo sobre a vegetação é necessária para detectar as alterações ocorridas na
comunidade de plantas.

Desenvolvimento
A resistência das plantas ao fogo depende em grande medida da presença de
características adaptativas que lhes permitam tolerar melhor o calor, da percentagem de tecidos
mortos e localização desses tecidos, dos mecanismos reprodutivos e da capacidade para
recuperar dos danos sofridos. Existem duas formas de as plantas conseguirem tolerar a
exposição ao fogo. Uma é a de que as células que constituem os tecidos vitais consigam suportar
temperaturas mais elevadas, e a outra é através da protecção desses tecidos vitais evitando que
a temperatura letal seja atingida (Whelan, 1995). Por outro lado, as características que
adicionam ou conservam as reservas nutritivas da planta são também muito importantes uma
vez que permitem a recuperação dos indivíduos após o fogo (e.g. Pyne et al., 1996).
A adaptação das plantas e comunidades ao fogo evoluiu sob determinadas condições
ambientais em uma escala temporal e espacial (STEUTER & McPHERSON, 1995), sendo a
extensão do distúrbio ajustada às variações climáticas e topográficas. O ecossistema florestal
amazônico, quando impactado por secas e pelo fogo, pode ficar severamente comprometido.
Isso se deve em razão de que são poucas as espécies de árvores de florestas tropicais capazes
de tolerar o estresse térmico e hídrico e a perturbação provocada, além de afetar também a
capacidade de regeneração da floresta, uma vez que plantas jovens em estágio de muda são
destruídas e o banco de sementes das gerações futuras é danificado. A maioria das espécies de
árvores da Amazônia tem uma casca protetora muito fina para o tamanho do tronco em
indivíduos adultos e sua resistência ao fogo é mínima (BARLOW e PERES,2003).
O fogo pode ter diversos efeitos na vegetação, tanto positivos quanto negativos. É um
importante agente evolutivo para as plantas (Bond & Midgley 1995, Schwilk & Ackerly 2001)
e tem um papel importante na distribuição de savanas no mundo (Bond et al. 2005). O fogo
também promove a morte e prejudica o estabelecimento de plântulas de espécies arbóreas, reduz
o crescimento radial, pode matar rebrotas e diminuir a reprodução sexual pela destruição direta
de estruturas sexuais, o que reduz a produção de sementes no ano subsequente (Hoffman 1996,
1998, 2002). Nas vegetações sujeitas a queimadas frequentes, como na vegetação mediterrânea,
o fogo atua como um importante filtro ambiental, selecionando as espécies que podem ocorrer
na comunidade (Pausas & Verdú 2005, Verdú & Pausas 2007). Nesse sentido, a frequência de
fogo pode determinar a similaridade ecológica e o grau de parentesco das espécies vegetais
coocorrentes (Webb et al. 2002, Slingsby & Verboom 2006). Os impactos do fogo na vegetação
são amplamente reconhecidos. O fogo frequentemente reduz a densidade de árvores, através da
mortalidade de pequenos indivíduos, e altera a taxa de regeneração das espécies arbóreas
(Hoffmann 1996, Higgins et al. 2000, Hoffmann 2000, Medeiros & Miranda 2005)
beneficiando a vegetação herbácea.
Resultados
Os impactos significativos do fogo na comunidade vegetal, revelam uma série de
respostas complexas e inter-relacionadas. A ocorrência de incêndios emerge como um agente
impulsionador do florescimento em plantas que adotam estratégias adaptativas, priorizando um
crescimento que minimiza as perdas durante a queima. Esse fenômeno destaca a resiliência das
plantas diante do fogo, utilizando-o como um estímulo para aumentar o processo reprodutivo.
A recuperação pós-incêndio é fortemente influenciada pelas características que adicionam ou
conservam as reservas nutritivas das plantas.
Estudos indicam que a capacidade de regeneração está ligada à preservação dessas
reservas, contribuindo para a restauração dos indivíduos afetados pelo fogo. Essa capacidade
de recuperação é fundamental para a manutenção da biodiversidade e da estabilidade dos
ecossistemas. A adaptação das plantas e comunidades ao fogo é um processo evolutivo que
ocorreu ao longo de escalas temporais e espaciais consideráveis. Condições ambientais
específicas moldaram a resposta das plantas ao fogo, ajustando-se às variações climáticas e
topográficas. No entanto, a intensificação de distúrbios, como secas e incêndios na Amazônia,
representa uma ameaça significativa, comprometendo a resistência dessas florestas tropicais e
afetando a regeneração das gerações futuras.
Conclusão
Em síntese, a resistência das plantas ao fogo é um componente crítico na dinâmica dos
ecossistemas. A compreensão desses mecanismos adaptativos é fundamental para o
desenvolvimento de estratégias de manejo que visem preservar a diversidade biológica e a
saúde dos ecossistemas. A crescente ameaça de incêndios, especialmente em ecossistemas
sensíveis como a Amazônia, destaca a necessidade urgente de práticas de conservação e manejo
sustentáveis, visando preservar não apenas as espécies existentes, mas também as condições
ambientais que moldaram essas comunidades ao longo do tempo.

4. Referências bibliográficas

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