O Poder Do Pecado
O Poder Do Pecado
O Poder Do Pecado
Ef. 2.1-3
Introdução
O primeiro capítulo de efésios acentua o amplo alcance do plano de Deus, o qual inclui
o Universo todo e se estende de eternidade a eternidade. O capítulo dois mostra a
historificação desse plano na vida de seu povo, por meio da ressurreição espiritual dos
crentes.97
Tendo descrito nossa possessão espiritual em Cristo, Paulo volta-se, agora, para nossa
posição em Cristo. Fomos tirados da sepultura e conduzidos ao trono. Paulo, primeiro, sonda
as profundezas do pessimismo acerca do homem e, depois, sobe às alturas do otimismo
acerca de Deus.
O que Paulo faz nesse parágrafo é pintar um contraste vívido entre o que o homem é
por natureza e o que pode vir a ser mediante a graça de Deus. Curtis Vaughan diz que as duas
ideias dominantes são “Estando vós mortos” (2.1) e “Ele [Deus] vos deu vida” (2.4,5). O
parágrafo todo é uma espécie de biografia espiritual contando como eram os destinários da
carta de Paulo antes de conhecer o evangelho de Cristo (2.1-3), o que vieram a ser “em Cristo
Jesus” (2.4-6) e qual o propósito de Deus em realizar tão extraordinária transformação (2.7-
10)."
Warren Wiersbe sugere uma percepção preciosa desse texto. Ele fala de quatro grandes
obras realizadas na vida do homem que saiu da sepultura para o trono: a obra do pecado
contra nós, a obra de Deus por nós, a obra de Deus em nós e a obra de Deus por nosso
intermédio.100
A obra do pecado contra nós (2„1-3)
A condição do homem é desesperadora sem Deus. O diagnóstico que Paulo faz se refere
ao homem caído em uma sociedade caída em todos os tempos e em todos os lugares. Esse é
um retrato da condição humana universal101 O pecado não é como uma dessas enfermidades
que alguns homens contraem e outros não. É algo em que todo ser humano está envolvido e
de que todo ser humano é culpado. O pecado não é uma simples erupção esporádica, mas o
estado, a condição universal do homem. Paulo elenca quatro fatos dramáticos a respeito do
homem antes de sua conversão:
1 - Em primeiro lugar, o homem está morto (2.1). “Ele vos deu vida, estando vós mortos nas
vossas transgressões e pecados.”
Antes de argumentar o sentido dessa morte espiritual, deixe-me explicar o que ela não
é. Ela não quer dizer que o homem que está morto em seus pecados não possa fazer coisas
boas. O indivíduo não regenerado pode levar uma vida moralmente aprovada, civilmente
decente e familiarmente responsável. Uma pessoa não regenerada pode ser um bom cidadão,
um bom pai, uma boa mãe, um bom filho. Os pecadores podem fazer o bem àqueles que lhes
fazem bem (Lc 6.33). Às vezes, os bárbaros revelam “muita bondade ” (At 28.2). Portanto, o
que quer dizer a expressão “Mortos nas vossas transgressões e pecados”? E claro que Paulo
está falando de uma morte espiritual. Antes de Cristo, o homem está vivo para as atrações do
pecado, mas morto para Deus. O homem é incapaz de entender e apreciar as coisas
espirituais. Ele não possui vida espiritual nem pode fazer nada que possa agradar a Deus. Da
mesma maneira que a pessoa morta fisicamente não responde a estímulos físicos, também a
pessoa morta espiritualmente é incapaz de responder a estímulos espirituais.
Um cadáver não vê, não ouve, não sente, não tem fome nem sede. Ele está morto.
Também uma pessoa morta espiritualmente não tem percepção para as coisas espirituais nem
gosto por elas. Uma pessoa morta espiritualmente não tem apetite pelas coisas espirituais.
Não tem. prazer nas coisas lá do alto. As iguarias do banquete de Deus não lhe apetecem. O
indivíduo morto em suas transgressões e pecados não se deleita em Deus.
A causa da morte são as transgressões e os pecados. A palavra grega paraptoma,
“transgressão”, quer dizer queda, dar um passo em falso que envolve ultrapassar uma
fronteira conhecida ou desviar do caminho certo. Já a palavra grega hamartia, “pecado”, quer
dizer errar o alvo, ou seja, ficar aquém de um padrão. Pecado é não chegar a ser o que deveria
ou poderia ser.103 Russell Shedd ilustra esse “errar o alvo” com a história de dois caçadores
que estão à procura de um coelho mas matam um ao outro em vez de ao coelho. A intenção é
completamente contrariada, frustrada; isso é o pecado.104
William Barclay tem razão quando diz que, no Novo Testamento, hamartia não descreve
um ato definido de pecado, mas um estado de pecado, do qual dimanam as ações
pecaminosas.105 Juntas, as duas palavras paraptoma e hamartia abrangem os aspectos
positivo e negativo, ou ativo e passivo, do mau procedimento do homem, ou seja, nossos
pecados de comissão e omissão. Diante de Deus somos tanto rebeldes como fracassados.
Como resultado disso, estamos mortos.106
O salário do pecado é a morte (Rm 6.23). Morte é separação. Da mesma forma que a
morte separa o corpo da alma, a morte espiritual separa o homem de Deus, a fonte da vida. E
como se o mundo todo fosse um imenso cemitério e cada pedra tumular tivesse a mesma
inscrição: “Morto por causa do pecado”.107
É importante ressaltar que o incrédulo não está apenas doente; ele está morto. Ele não
necessita apenas de restauração, mas de ressurreição.108 Não basta uma reforma; ele precisa
nascer de novo. O mundo é um grande cemitério cheio de pessoas mortas espiritualmente.
Embora elas estejam vivas fisicamente, estão desprovidas de vida espiritual. Embora estejam
em plena atividade mental, estão completamente mortas espiritualmente.
4 - Em quarto lugar, o homem está condenado (2.3c). “E éramos por natureza filhos da ira,
assim como os demais.”
O homem não convertido, por natureza, é filho da ira e, pelas obras, é filho da
desobediência. A pessoa incrédula, não salva, já está condenada (Jo 3.18). À parte de Cristo, o
homem está morto por causa do pecado, escravizado pelo mundo, pela carne e pelo diabo,
além de condenado sob a ira de Deus.112 A ira de Deus é sua reação pessoal frente a
qualquer pecado, qualquer rebelião contra ele.113 É sua santa repulsa a tudo aquilo que
conspira contra sua santidade. A ira de Deus não é apenas para esta vida, mas também para a
era vindoura. Aqueles que vivem debaixo da ira de Deus são entregues a si mesmos pela
escolha deliberada que fizeram de rejeitar o conhecimento de Deus e de se entregar a toda
sorte de idolatria e devassião; além disso, terão de suportar por toda a eternidade a
manifestação plena do furor do Deus Todo-Poderoso.