Análise Do Conto Sempre É Uma Companhia
Análise Do Conto Sempre É Uma Companhia
Análise Do Conto Sempre É Uma Companhia
Introdução
Resumo do conto
Porém, tudo muda quando um carro para em frente à venda e traz a novidade da
telefonia, a caixa que vai alterar a vida não só do casal como de toda a aldeia.
Apesar da oposição inicial da mulher do Batola, numa postura firme que surpreende
pela situação de violência vivida, que não permite a compra a crédito (“assinar
letras”), Batola, habituado a receber ordens, impõe-se e a telefonia fica um mês “à
experiência”.
Naquele mês, a aldeia de Alcaria mudou. Mas também Batola, que passou a acordar
cedo, a atender os clientes na venda, a vaticinar sobre os assuntos da guerra. Ao fim
de um mês, a aldeia tinha “um sopro de vida” nunca antes sentido e Batola tinha
conquistado a admiração da mulher. Assim, a telefonia fica, porque “sempre é uma
companhia” naquele deserto.
O aparecimento daquele vendedor com aquele aparelho vai ser a força motora que
desencadeia a mudança de toda uma aldeia.
Incapaz de tomar uma posição face à atitude controladora da mulher, António afoga a sua
impotência e a sua humilhação no vinho, acabando por agredir a mulher, situação bem
conhecida por todos na aldeia e que dura há já 30 anos.
Pela primeira vez, assume uma atitude assertiva quando resolve ficar com a telefonia, ainda
que contra a vontade da mulher, e altera o seu comportamento a partir daí – torna-se ativo e
enérgico.
Ao fim de um mês, consegue a admiração da mulher que, “com uma quase expressão de
ternura”, lhe dá a possibilidade de escolher se ficam com o aparelho ou não.
Mulher do Batola
Indiferente à argumentação do vendedor, esta mulher ameaça Batola, afirmando, num tom
vagaroso e confiante, que o marido terá de escolher entre ela e a telefonia.
Ao aceitar a proposta do vendedor – ficar com a telefonia durante um mês, à experiência –,
a figura feminina está, sem o saber, a permitir a transformação do seu marido, o que a leva,
no final, a abandonar o seu tom superior e a pedir ao Batola que tome a decisão de
conservar ou não a telefonia.
Velho Rata
Incapaz de enfrentar o imobilismo que o reumatismo lhe impôs, suicida-se, atirando-se para
a ribeira da aldeia.
Vendedor e Calcinhas
Persuasivo como todos os vendedores, instala o conflito no casal, já que a mulher do Batola
é avessa à compra da telefonia.
Ao olhar para as personagens, facilmente se parte para o estudo das relações que
entre elas se estabelecem. Pela análise do casal, aborda-se o tema da repressão
sexual a que as mulheres nas décadas de 40/50, sobretudo num ambiente
provinciano, estavam sujeitas.
Entre este casal e os habitantes da aldeia há uma relação distante, devido à árdua
vida dos ceifeiros no campo, que lhes tira a vontade de conviver no fim de mais um
dia de jornada. No entanto, a partir do dia em que a telefonia se instala na venda,
tudo se altera e o convívio é evidente.
Solidão e convivialidade
A apresentação inicial do Batola pinta logo essa preguiça existencial que domina o
dono da venda, cansado do tédio, derrotado por viver em solidão
permanente. “Espreguiça-se, boceja e arrasta-se até à caixa de lata
enferrujada” para medir o café “a olho, um olho cheio de tédio, caído sobre o
canudinho de papel.” Esta “sonolência pegada” é ainda pior no verão, quando os dias
são longos e a solidão maior. Ao Batola resta relembrar as histórias que o velho Rata
lhe contava, enquanto se arrasta para o exterior da casa, depois de dormir a sesta,
para olhar para a mesma paisagem carregada de silêncio profundo.