1 PB

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 20

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

ÁREAS CRÍTICAS NA AQUISIÇÃO DO


PORTUGUÊS EM MOÇAMBIQUE

Critical Areas in the Acquisition of Portuguese in Mozambique

Carlito António COMPANHIA


Universidade Eduardo Mondlane
ccompanhia@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0001-6635-0415

RESUMO: O presente artigo tem como objectivo descrever as áre-


as críticas na aquisição do português em Moçambique. Do ponto de
vista metodológico, o estudo adota uma abordagem qualitativa e
toma como base dados naturais extraídos de entrevistas semi-estru-
turadas produzidas por aprendentes do português que se encontram
num estágio intermediário de aquisição. Os resultados deste estudo
mostram que as áreas críticas da gramática de interlíngua dos apren-
dentes do português em Moçambique se situam ao nível da alte-
ração das propriedades de seleção categorial, da escolha do tempo
verbal, da omissão do artigo e do encaixe de orações subordinadas.
PALAVRAS-CHAVE: Áreas Críticas; Aquisição do Português; Mo-
çambique.

ABSTRACT: This article aims to describe the critical areas in the acqui-
sition of Portuguese in Mozambique. From the methodological point of
view, the study adopts a qualitative approach and takes natural data from
semi-structured interviews produced by Portuguese learners in an inter-
mediate stage of acquisition. The results of this study show that the critical
areas of Portuguese learners’ interlanguage grammar include the change
of the verbal categorical selection properties, the choice of verbal tense,
the omission of the articles and the embedding of subordinate clauses.
KEYWORDS: Critical Areas; Portuguese Acquisition; Mozambique.

1. INTRODUÇÃO

Em Moçambique, à semelhança de muitos países africanos pós-coloniais, o


português é, para a maior parte dos falantes, uma língua segunda (L2). A situação de

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1414


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

contacto linguístico1 em que ela se encontra com as línguas do grupo bantu (LB) e a
ausência de uma exposição à norma europeia do português (PE), que é o modelo-alvo,
são factores fundamentais que explicam o desencadeamento de uma nova variedade
desta língua – o Português de Moçambique (PM) (GONÇALVES, 2002; 2010a). Este
facto tem implicações no que respeita ao processo de aquisição desta língua uma vez que,
tal como refere Gonçalves (2002, p. 344), as evidências que poderiam conduzir à fixação
de parâmetros da língua-alvo são menos robustas. Consequentemente, a gramática dos
aprendentes caracteriza-se por apresentar desvios relativamente ao PE ao nível das
diferentes componentes.
O conhecimento das áreas críticas na aquisição do português em Moçambique,
isto é, das dificuldades dos aprendentes no estabelecimento das propriedades gramaticais
desta língua, constitui uma importante fonte de informação sobre as etapas de
desenvolvimento linguístico dos aprendentes no processo de aquisição. Nesse sentido,
tendo em consideração que o sucesso da aquisição do português se torna mais dependente
do acesso ao ensino formal – dado o contexto social em que a sua gramática emerge –
este tipo de informação tem relevância no que se refere à elaboração de programas e
produção de materiais de ensino desta língua.
O presente artigo situa-se neste âmbito geral e tem como objectivo descrever as
áreas críticas na aquisição do português por parte dos aprendentes em Moçambique. Com
efeito, embora já estejam disponíveis estudos que façam uma descrição de diferentes
aspectos relacionados com as gramáticas de interlíngua dos aprendentes do português
em Moçambique2, este estudo pretende ser mais um contributo para a sistematização
das dificuldades dos aprendentes do português em Moçambique, sobretudo no estágio
intermediário de aquisição. Na verdade, tal como afirma Gonçalves (2010a):

o conhecimento de estágios intermédios de aquisição permite aceder às


hipóteses que emergem nas gramáticas da interlíngua, tornando assim
possível captar ‘por dentro’ o processo cognitivo que dá origem à nova
gramática do PM, e mostrando as dificuldades de aprendentes com L1
bantu no estabelecimento das propriedades gramaticais da língua-alvo,
o PE (p. 198).

1
Veja-se Gonçalves e Chimbutane (2015) para uma visão sobre as assimetrias que se observam
nas mudanças induzidas por contacto linguístico em Moçambique.
2
Veja-se Companhia (2017) para uma visão panorâmica dos estudos sobre a gramática de
interlíngua dos aprendentes do português em Moçambique.
Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1415
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

O artigo estrutura-se da seguinte maneira: a seguir a presente introdução, faz-


se um breve enquadramento teórico em torno do conceito de aquisição de L2. Depois,
apresenta-se a metodologia de investigação adotada. Em seguida, apresentam-se e
descrevem-se os resultados da análise dos dados. Finalmente, traçam-se as considerações
finais que decorrem deste estudo.

2. AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM

O termo ‘aquisição’ dá conta do processamento mental das estruturas gramaticais


de uma língua. Na literatura, costuma fazer-se uma distinção entre ‘aquisição’ e
‘aprendizagem’ de língua. De acordo com Krashen (1988, p. 1-2), o conceito de
‘aquisição’ refere-se a um processo implícito e subconsciente de internalização de
regras gramaticais de uma língua e resulta da interação que os aprendentes estabelecem
com a língua-alvo através de um processo de comunicação natural. Por seu turno, tal
como refere o autor, o termo ‘aprendizagem’ diz respeito ao processamento explícito e
consciente das regras da gramática de uma língua e resulta da experiência de instrução
formal que os aprendentes vivem.
No processo de aquisição de uma L1, a Gramática Universal (GU) constitui o
estado inicial da aquisição, sendo que a criança constrói a representação mental da sua
língua com base no input a que está exposta (KLEIN e MARTOHARDJONO, 1999, p.
11). A tarefa da criança consiste, por um lado, na internalização mental das formas lexicais
da língua com as suas propriedades fonológicas, sintácticas e semânticas, (RAPOSO,
1992, p. 55). Por outro lado, segundo o mesmo autor, a aquisição de L1 implica a fixação
de parâmetros da GU que têm relevância para a língua que a criança está a adquirir. Uma
vez fixados todos os valores de parâmetro, pode dizer-se que a criança adquiriu a sua
gramática nuclear (core grammar, em inglês).
A aquisição de L2 refere-se ao processo através do qual os indivíduos adquirem
uma língua diferente da sua L1 (RITCHIE e BHATIA, 1996, p. 1). O processo da aquisição
de L2 distingue-se do processo da aquisição da L1 não só em relação ao estágio inicial da
aquisição, como também em relação ao grau de sucesso no seu estágio final, dado que a
gramática atingida pelos aprendentes de uma L2 nem sempre converge plenamente com a
gramática da língua-alvo. Assim, diferentemente do que se verifica na aquisição da L1, no
estágio inicial, os aprendentes de uma L2 já possuem o conhecimento prévio da sua L1,
o qual pode afectar de forma particularmente crítica o processo de aquisição de L2. Na
literatura, o papel da L1 dos aprendentes tem sido abordado no âmbito da transferência
linguística. Odlin (2003, p. 436-437) considera que o fenómeno da transferência consiste
Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1416
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

na influência resultante das similaridades e diferenças entre a língua-alvo e qualquer outra


língua que tenha sido previamente adquirida (e talvez de forma imperfeita), podendo
afectar todos os subsistemas linguísticos, incluindo a pragmática, semântica, sintaxe,
morfologia, fonologia, fonética e ortografia.
Durante o processo de aquisição de L2, os aprendentes atravessam diversos
estágios em direção à gramática da língua-alvo, construindo sistemas gramaticais
provisórios e intermédios denominados “interlínguas” (SELINKER, 1974, p. 35). As
interlínguas constituem sistemas de conhecimento transitórios diferentes quer da L1,
quer da língua-alvo e que possuem consistência interna. Por isso, estes sistemas devem
ser descritos como línguas naturais e não como “gramáticas selvagens” (GOODLUCK,
1986, p. 55), evitando-se deste modo, a “subestimação ou sobrestimação” da competência
linguística dos aprendentes (LAKSHMANAN e SELINKER, 2001, p. 339).
As gramáticas de interlíngua caracterizam-se por serem dinâmicas e por
estarem num processo contínuo de reestruturação (GASS; SELINKER, 2001; ELLIS,
2008). De acordo com Ellis (2008, p. 442), a reestruturação refere-se às mudanças
qualitativas que ocorrem na interlíngua dos aprendentes em determinados estágios do
seu desenvolvimento linguístico. Para o autor, nesse processo, emerge uma série de
representações da interlíngua que constituem um continuum de gramáticas transitórias,
resultantes das tentativas dos aprendentes de atingirem uma competência plena na
língua-alvo. O autor considera que tal continuum de interlíngua consiste de uma série de
gramáticas sobrepostas; cada gramática partilha algumas regras da gramática anterior,
sendo mais complexa relativamente à gramática precedente.
As gramáticas de interlíngua são intrinsecamente variáveis, de tal modo que os
aprendentes de uma L2 podem variar entre o uso de formas corretas e o uso de formas
incorretas em relação à norma da língua-alvo (ELLIS, 2008, p. 117). Nalguns casos,
as formas incorretas podem resultar de tentativas de verificação de diferentes hipóteses
sobre a forma como a língua-alvo é construída. Na literatura sobre a aquisição de L2,
estas formas incorretas recebem o nome de ‘erros de desenvolvimento’ e, do ponto de
vista psicolinguístico, incluem, entre outros processos, a simplificação das estruturas e
elementos da língua-alvo, a sobregeneralização de algumas estruturas da língua-alvo
e a transferência.
Na maior parte dos casos, no final do processo de reestruturação gramatical,
a representação da língua-alvo por parte do aprendente pode não convergir com a
língua-alvo. Por outras palavras, diferentemente do que acontece na aquisição de L1,
o desenvolvimento em direção à gramática da língua-alvo pode não ser totalmente bem

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1417


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

sucedido, sendo que o último nível de proficiência alcançado pelo aprendente nem
sempre é semelhante ao de falantes que aprendem essa mesma língua como L1. O termo
“fossilização” foi proposto por Selinker (1974, p. 36) para explicar este fenómeno e
alberga os itens linguísticos, regras e subsistemas que os aprendentes de uma L2 tendem
a conservar na sua gramática de interlíngua.
Os investigadores que trabalham na área da Aquisição de Língua Segunda se
interessam em compreender os factores da fossilização, tentando, igualmente, prever as
formas particulares da interlíngua potencialmente fossilizáveis. Long (2003, p. 516-517)
destaca a falta de sensibilidade ao input associada à saliência perceptiva das estruturas
da língua-alvo. Na óptica do autor, a sensibilidade ao input compreende a habilidade
de os aprendentes identificarem as propriedades das estruturas da língua-alvo no input,
enquanto a saliência perceptiva diz respeito à frequência destas mesmas estruturas no
input. Tomando como base o trabalho de Todeva (1992), o autor identifica um conjunto
de “categorias linguísticas de alto risco” potencialmente candidatas à fossilização
destacando-se, nomeadamente, as categorias em que não existe uma relação forma-
função como é o caso das regras semi-produtivas, cujas exceções constituem conjuntos
definidos como, por exemplo, a alternância dativa em inglês e as unidades de natureza
altamente arbitrária (preposições e a atribuição do género dos nomes).

3. METODOLOGIA

Neste artigo, adota-se uma abordagem metodológica qualitativa apesar de


se ter recorrido ao critério quantitativo para a formulação de hipóteses sobre as áreas
críticas do conhecimento gramatical dos aprendentes do português em Moçambique. Tal
como referem Larsen-Freeman e Long (1991, p. 11-13), diferentemente do que sucede
na pesquisa quantitativa, a pesquisa qualitativa é aquela em que os investigadores não
procuram testar hipóteses, mas observam os factos que os rodeiam de modo a desenvolver
generalizações empíricas.3
Nesse sentido, a base empírica para a realização deste estudo é constituída por
dados naturais extraídos de um corpus-amostragem4 de 16 entrevistas semi-estruturadas

3
Note-se, porém, que, este tipo de pesquisa, não elimina a existência de um quadro teórico que
direcione a recolha, análise e a interpretação dos dados.
4
Para a constituição deste corpus-amostragem, foram selecionadas quatro entrevistas por província
(2 de informantes de cada sexo) e o critério para a sua seleção foi o número de palavras produzidas
por entrevista, sendo que, para cada província, foram selecionadas as que apresentavam maior
número de palavras.
Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1418
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

(cerca de 17500 palavras), retiradas de um conjunto de 60 entrevistas a alunos da 5ª


classe das províncias de Cabo Delgado, Zambézia, Maputo-Cidade e Maputo-Província
(15 entrevistas por província) em representação das zonas norte, centro e sul do país. A
escolha de alunos da 5ª classe como população-alvo para a presente pesquisa deve-se
ao facto de se considerar que estes aprendentes do português se encontram num estágio
intermediário de aquisição desta língua.
As entrevistas foram efetuadas por uma equipa de investigadores do Instituto
Nacional de Desenvolvimento da Educação no âmbito do Projeto Avaliação Educacional
da qual o autor deste artigo fez parte. Elas tinham como objetivo recolher informação
sobre a competência linguístico-comunicativa dos alunos da 5ª classe, tendo em vista a
melhoria do processo de ensino-aprendizagem desta língua. Com uma duração entre 15
e 20 minutos, tais entrevistas consistiram na solicitação aos alunos que (i) descrevessem
rotinas dos fins de semana em casa, na zona residencial ou noutra; (ii) relatassem
experiências pessoais relacionadas com “brincadeiras de mau gosto”, acidentes de viação,
incêndios, lutas entre meninos; (iii) narrassem ou recontassem uma história conhecida e
(iv) descrevessem uma sequência de imagens previamente apresentada aos alunos.
Tendo em vista a descrição dos dados, foi feita uma identificação, agrupamento
e quantificação dos principais desvios produzidos pelos informantes, à luz da tipologia
adotada por Gonçalves (1997)5 que prevê quatro grandes áreas linguísticas de
classificação, nomeadamente, léxico, léxico-sintaxe, sintaxe e morfossintaxe. Assume-
se que esta grelha proporciona um quadro indicativo das principais áreas gramaticais
em que os aprendentes apresentam mais dificuldades, captando as áreas críticas da
competência linguística em português da população auscultada. Por conseguinte, ela
permite caracterizar propriedades específicas da gramática da interlíngua dos aprendentes,
base imprescindível para a sua posterior utilização na planificação do processo de ensino-
aprendizagem da língua-alvo. Assim, na área do léxico, foram identificados os desvios
que se referem às unidades lexicais. No domínio do léxico-sintaxe, foram integrados
os casos em que a alteração das propriedades dos itens lexicais dá origem a estruturas
sintáticas desviantes relativamente à norma do PE. Na sintaxe, foram agrupados os casos
que resultam da aplicação de regras sintáticas distintas da norma europeia. Finalmente,
quanto à morfossintaxe, foram incluídos os casos relacionados com o uso da morfologia

5
Trata-se de uma grelha tipológica usada no âmbito do “Projecto Panorama do Português Oral
de Moçambique” (PPOM) cujo objectivo era constituir um corpus de língua oral que fosse
representativo da comunidade moçambicana de locutores de Português. Com mais ou menos
adaptações, essa grelha foi usada em vários outros estudos sobre o português de Moçambique
(Siopa et al., 2003; Gonçalves, 2010b) e Europeu (Leiria, 2006).
Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1419
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

flexional que exprime as categorias gramaticais de tempo, pessoa, número, género,


modo e caso.
Para cada uma destas grandes áreas, os desvios foram classificados em diferentes
subtipos, tendo em vista tornar mais clara a sua natureza. O quadro 1 apresenta uma
caracterização dos tipos de desvios por área:

Quadro 1: Caracterização dos tipos de desvio por área.

Área Tipo de desvio Caracterização do tipo de desvio


Neologismo utilização, com sentido diferente de palavras
semântico existentes no PE
Léxico Neologismo de criação de novas palavras a partir da aplicação de
forma regras de formação de palavras existentes no PE
Empréstimo uso de palavras de outras línguas
Seleção categorial alteração da regência dos itens lexicais
escolha incorrecta - do ponto de vista semântico e
Seleção semântica
não categorial – de complementos de verbo
Passivas má formação de frases passivas
Pronome pessoal omissão do pronome de flexão reflexiva associado à
reflexo posições argumentais
alteração da regência dos chamados complementos
Léxico-sintaxe Expressões circunstanciais de tempo
temporais escolha lexical relacionada com a expressão de
intervalos de tempo
alteração do formato de expressões de gradação,
Expressões
que inclui o grau dos adjectivos e a escolha dos
quantitativas
quantificadores
Expressões omissão do pronome de flexão reflexiva que permite
Recíprocas exprimir a reciprocidade

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1420


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

alteração do formato de estruturas sintáticas que


Encaixe
contenham diferentes tipos de orações subordinadas
Colocação de
desvio ao nível do padrão de colocação de pronomes
Pronomes Pessoais
pessoais átonos
Átonos
Sintaxe Uso dos artigos omissão de artigo
a determinação do nome é expressa pela flexão do
nome em número (singular ou plural) e não pela
Determinação
presença de determinante como previsto na norma
europeia
Ordem de palavras inversão da ordem de palavras
Concordância flexão do verbo em número e/ou pessoa que não está
Verbal de acordo com a norma europeia
Concordância ausência concordância (de nomes, adjectivos e
nominal determinantes) em género e em número
Morfossintaxe Modo Verbal desvios em que o modo verbal é afectado
Tempo Verbal desvios em que os tempos verbais são afectados
casos em que se regista o emprego da forma não
Infinitivo flexionada em contextos em que se devia ser usada a
forma flexionada
Flexão casual dos
casos em que é usada uma forma de flexão casual
pronomes pessoais
inapropriada
átonos

Fonte: Carlito Companhia.

O quadro 2 sintetiza os dados sociolinguísticos dos informantes que produziram


o corpus tomado como base para a presente investigação. Esta informação foi recolhida
com recurso a uma ficha do informante administrada no âmbito da recolha de dados.

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1421


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

Quadro 2: Perfil sociolinguístico dos informantes.

Variável Província
sociolinguística Zambézia C. Delgado P. Maputo C. Maputo Total
Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %
Sexo M 2 13 2 13 2 13 2 13 8 50
F 2 13 2 13 2 13 2 13 8 50
Idade 9 0 0 0 0 0 0 1 6.5 1 6
10 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
11 0 0 0 0 3 19 0 0 3 19
12 1 6.5 0 0 0 0 1 6.5 2 12
≥ 13 3 13 4 25 1 6 2 13 10 63
L1 LB 4 25 0 0 1 6 2 13 7 44
Port. 0 0 4 25 3 19 2 13 9 56

Fonte: Carlito Companhia.

4. APRESENTAÇÃO DOS DADOS

À luz da tipologia de desvios adoptada, a análise dos dados permitiu verificar a


ocorrência de estruturas desviantes com respeito à norma do PE ao nível de diferentes
componentes da gramática, nomeadamente léxico, léxico-sintaxe, sintaxe e morfossintaxe
(cf. Anexo I - Amostragem de desvios). Reconhecendo o facto de no domínio da
Linguística Aplicada e do ensino tradicional da gramática haver uma tendência para
se considerarem os níveis do léxico, (morfo-)sintaxe e semântica como categorias de
análise, neste trabalho, opta-se por uma análise separada dos aspectos do léxico, sintaxe
e os fenômenos de interface léxico-sintaxe e morfossintaxe. Ao optar estas duas últimas
categorias, pretende-se, por um lado, captar os desvios relacionados com a alteração do
formato sintático das frases que decorrem das alterações das propriedades das unidades
lexicais e, por outro, os casos em que a aplicação da “morfologia” tem efeitos ao nível da
sintaxe, respectivamente.
Assim, no que concerne à área do léxico, verificou-se a ocorrência de neologismos
de forma (1a), neologismos semânticos (1b) e empréstimos (1c). Exemplos:

1) a. Às vezes batem-lhe se fazer uma coisa ingostosa. (=…feia).

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1422


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

b. Aquele calou não se mostrou (=…denunciou).


c. Depois nhola de novo (=…atira a bola).

Na área do léxico-sintaxe, os tipos de desvios identificados dizem respeito à


alteração das propriedades de seleção categorial (2a) e seleção semântica (2b), às
construções passivas (2c), ao pronome pessoal reflexo (2d), às expressões locativas (2e),
às expressões temporais (2f), às expressões quantitativas (2g), às expressões recíprocas
(2h) e, finalmente, a atribuição do género dos nomes (2i). Exemplos:

2) a. Concordaram no que a professora disse. (=…com o que …).


b. Outros rapazes gostam de comer comida. (=…comer).
c. A casa foi queimada com marido dela. (=…pelo marido dela).
d. E o menino despediu a mãe (=…despediu-se da mãe).
e. Um lugar ficam dois meninos (= Num lugar…).
f. Uns tempos vou na machamba (= Às vezes…).
g. É porque você é forte do mundo (=…o mais forte).
h. Um empurrar aí para não se lutarem (=…lutarem).
i. Então a guarda era o macaco (=…o guarda…).

Na área da sintaxe, foram registados casos de encaixe de orações subordinadas


(3a), da colocação dos pronomes pessoais átonos (3b), do uso dos artigos (3c) e de
determinação (3d). Exemplos:

3) a. Viu ele não estava a sair ali. (= Viu que ele…).


b. Apanhei nervos e comecei a lhe bater (=…bater-lhe).
c. Manda esta carta para namorado (=…o namorado).
d. Agora eu vou levar lenhas (=…lenha).

Na área da morfossintaxe, foram identificados os casos de concordância nominal


e verbal (4a-b), de escolha do tempo verbal (4c), de flexão do infinitivo (4d) e de flexão
casual dos pronomes pessoais (4e). Exemplos:

4) a. Aquele ali Elsinha estava ali sentada em baio (= Aquela…).


b. E na mesa haviam garrafas, copos e pratos (=…havia…).
c. Levaram o homem e ir deixar no cadeia (=...foram…).
d. Vamos matar e levarmos a cabeça (=…levar…).

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1423


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

e. Depois a hiena lhe pôs na cadeira (=…pô-lo).

O quadro 3 apresenta dados quantitativos referentes aos desvios identificados em


cada uma das áreas gramaticais analisadas.

Quadro 3: Dados quantitativos referentes aos desvios identificados.

Total
Nº de ocorrências Percentagem
Área Tipo de desvio
Tipo de Tipo de
Área Área
desvio desvio
Neologismos de forma 18 19
Léxico Neologismos semânticos 75 77
97 12
Empréstimos 4 4
Seleção categorial 175 67
Seleção semântica 5 2
Passiva 13 5
Expressões locativas 8 3
Léxico-Sintaxe Expressões quantitativas 6 2
Expressões temporais 7 3
Expressões recíprocas 1 1
Pronome pessoal reflexo 24 261 9 32
Género 22 8
Pronome pessoal – colocação 31 17
Encaixe 49 28
Sintaxe Determinação 5 3
Artigo 82 178 46 23
Ordem de palavras 11 6
Concordância verbal 44 20
Concordância nominal 31 14
Infinitivo 10 4
Morfossintaxe
Tempo verbal 98 44
Pronome pessoal – flexão 16 7 28
Formas de tratamento 25 224 11
Dispersos 43 43 5 5
Total Geral 811 811 100

Fonte: Carlito Companhia.

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1424


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

O quadro 3 mostra que, de um modo geral, as áreas da gramática do português


que colocam mais dificuldades aos informantes são as do léxico-sintaxe (32%), da
morfossintaxe (28%) e da sintaxe (23%).

5. DESCRIÇÃO DOS DADOS

Nesta secção, faz-se uma descrição das principais propriedades da gramática de


interlíngua dos aprendentes com particular destaque aos desvios mais frequentes em cada
área gramatical nomeadamente léxico-sintaxe (subsecção 5.1.), morfossintaxe (subsecção
5.2.) e sintaxe (subecção 5.3.).

5.1. Léxico-sintaxe

Como se viu, na área do léxico-sintaxe, predominam desvios que revelam uma


alteração das propriedades de seleção categorial dos itens lexicais. A caracterização destes
desvios permitiu identificar quatro grandes grupos de fenómenos. O primeiro refere-se à
escolha de uma preposição diferente daquela que é requerida pela norma do PE (SPx
→ SPy) (5a). O segundo envolve os casos em que se verifica a transitivização de verbos
com a adoção do padrão [V SN] para verbos que requerem o padrão [V SP] no PE (SN
→ SPx) (5b). O terceiro integra os casos em que se verifica ou a inserção de preposições
complementos nominais do PE (SPx → SN) (5c) ou a regência por preposição de
complementos frásicos (SPx → F) (5d). Finalmente, o quarto grupo refere-se às formas
verbais complexas construídas com um verbo auxiliar, destacando-se a tendência para o
uso do padrão [AUX V INFINITIVO] nos casos em que o PE prevê o padrão [AUX Prep V
] (5e) ou a escolha do padrão [AUX Prep V INFINITIVO] em vez do [AUX V INFINITIVO]
INFINITIVO

(5f). Exemplos:

5) a. Quando eu volto da escola vou em casa (=…para…).


b. Tiraram um pouco de arroz deram os cães (=…aos…).
c. A mãe lhe manda varrer no pátio ele nega (=…o pátio…).
d. Enquanto sabe de que ele é casado (=…que…).
e. Já mamã está começar a fritar (=….está a começar…).
f. Costumo a fazer os meus deveres (= Costumo fazer…).

O quadro 4 sintetiza a informação quantitativa resultante da análise dos casos de


seleção categorial.
Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1425
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

Quadro 4: Dados quantitativos na categoria “Seleção Categorial”6.

Tipo de desvio Subtipo Total % Subtotal %


Grupo I: SPx→SPy SPem →SPa 43 24.6
SPem →SPpara 11 6.3
SPem →SPcom 2 1.1
SPem →SPde 8 4.5 76 43.4
SPcom →SPa 4 2.3
SPcom →SPde 2 1.1
SPde →SPpor 2 1.1
SPpor →SPem 2 1.1
SPpara →SPa 2 1.1
Grupo II: SN→SPx SN →SPem 31 17.7
SN →SPcom 9 5.1 62 35.4
SN →SPa 10 5.7
SN →SPde 8 4.5
SN →SPpor 4 2.3
Grupo III: SPa →SN 2 1.1
SPx→SN/F SPem →SN 1 0.6
SPcom →SN 1 0.6 19 10.9
SPde →F 15 8.6
Grupo IV: Formas Aux Inf →AuxPrepInf 10 5.7
verbais complexas Aux Prep Inf → Aux Inf 8 4.5 18 10.3
Total 175 100 175 100

Fonte: Carlito Companhia.

Os dados apresentados no quadro acima mostram que, em primeiro lugar, a maior


parte dos desvios de seleção categorial diz respeito aos casos do grupo I (43.4%) e II
(35.4%). No primeiro caso, destacam-se os casos em que os informantes escolhem a
preposição em ao invés da preposição a, prevista na norma do PE (24.6%). No segundo

6
Neste quadro, o símbolo → quer dizer “em contextos em que o PE seleciona…”. Por exemplo
SPem→SPa significa que no corpus ocorre um SP regido pela preposição em em contextos em que
o PE prevê um SP regido pela preposição a.
Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1426
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

caso, sobressai a tendência para a transitivização de verbos que, no PE, selecionam


complementos preposicionados introduzidos pela preposição em (17.7%).

5.2. Morfossintaxe

Nesta área, predominam desvios relacionados com o uso do tempo verbal,


destacando-se o uso do presente em vez de outros tempos (6a), o uso de uma forma
infinitiva quando se trata do padrão [QUANDO/SE+ V], em que devia ser usado o futuro
do conjuntivo (6b-c), com a flexão quer de verbos regulares, quer de verbos irregulares
(6d-e) e com o uso de infinitivo em vez do presente (6f). Exemplos:

6) a. Anda e lá em América havia um amigo dele (= Foi…).


b. Quando eu fazer anos (=…fizer…).
c. Se termos tempo mais longo vamos assistir (=…tivermos).
d. Atrasíamos a tirar aquelas coisas (=Atrasámos…).
e. Quando eu pido a minha prima (=…peço…).
f. Quando eu vir do mercado tomar banho (=…venho…tomo…).

O quadro 5 apresenta a informação quantitativa relativa aos desvios ao nível da


morfossintaxe.

Quadro 5: Dados quantitativos referentes aos desvios na categoria “Tempo Verbal”.

Tipo de desvio Total %


Uso do presente em vez de outros tempos 14 14.3
Uso do infinitivo em vez do presente 40 40.8
Uso do padrão QUANDO/SE+VInf 32 32.7
Flexão de verbos irregulares 12 12.2
Total 98 100

Fonte: Carlito Companhia.

De acordo com o quadro acima, a maior parte dos desvios diz respeito aos casos
que envolvem o uso do infinitivo em vez do presente com 40.8% do total dos casos.

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1427


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

5.3. Sintaxe

No domínio da sintaxe, destacam-se os casos relacionados com a omissão do


artigo definido (7a) e indefinido (7b) e com os mecanismos envolvidos no encaixe de
orações completivas (7c), relativas (7d) e do discurso direto (7e). Exemplos:

7) a. Ajudar a mamã descascar mandioca (=…a mandioca).


b. Ao chegar no rio levou cesto pôs no chão. (=…um cesto…).
c. Viu ele não estava a sair ali (=…que ele…).
d. Havia uma escola que se ensinava ladrões (=…onde…).
e. Disse que ‘eu não quero comer’ (=…disse: eu não quero…/disse que ela não
queria…).

No que se refere à omissão de artigo, conforme revela o quadro 6, destaca-


se a tendência para a omissão do artigo definido em SNs com a função de
complemento direto (44%).

Quadro 6: Dados quantitativos referentes aos desvios na categoria “Artigo”.

Tipo de desvio Contexto sintático Total %


Omissão de artigo SN com a função de Sujeito 18 22.0
definido SN com a função de Objecto Directo 36 44.0
Omissão de artigo SN com a função de Sujeito 10 12.0
indefinido SN com a função de Objecto Directo 18 22.0
Total 82 100

Fonte: Carlito Companhia.

Relativamente ao encaixe, verifica-se que os casos mais frequentes dizem respeito


à omissão do introdutor de subordinação (42.8%). O quadro 7 apresenta a informação
quantitativa referente aos casos de encaixe.

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1428


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

Quadro 7: Dados quantitativos referentes aos desvios na categoria “Encaixe”.

Tipo de desvio Total %


Omissão do introdutor 21 42.8
Orações subordinadas relativas
Escolha do introdutor 19 38.8
Encaixe de discurso direto 9 18.4
Total 49 100

Fonte: Carlito Companhia.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo tinha como objectivo descrever as áreas críticas na aquisição do


português em Moçambique. Para alcançar este efeito, do ponto de vista metodológico,
esta pesquisa adotou uma abordagem qualitativa apesar de que as hipóteses foram
formuladas com base na observação de dados quantitativos. Ela tomou como base um
corpus-amostragem constituído por 16 entrevistas semi-estruturadas produzidas por
alunos da 5ª classe em Moçambique aprendentes do português.
Os resultados deste estudo mostram que, nesta fase do seu desenvolvimento
linguístico, as áreas críticas da gramática de interlíngua dos aprendentes do português em
Moçambique se situam ao nível do léxico-sintaxe, morfossintaxe e sintaxe. Em primeiro
lugar, na área do léxico-sintaxe, destaca-se a alteração das propriedades de seleção
categorial, e de um modo particular, a escolha de uma preposição diferente daquela que
é requerida pela norma do PE e a tendência de transitivização dos verbos que no PE
selecionam complementos preposicionados. Em segundo lugar, ao nível da morfossintaxe,
pode referir-se à escolha do tempo verbal, destacando-se o uso do infinitivo em vez do
presente. Em terceiro lugar, no domínio da sintaxe, salienta-se a omissão do artigo com
particular referência à tendência para a omissão do artigo com SNs que desempenham
a função sintática de complemento direto e o encaixe de orações subordinadas, onde
sobressaem aspectos relacionados com a omissão do introdutor de subordinação.
Assumindo que o ensino da gramática deve também ter em consideração a forma
como os aprendentes desenvolvem as suas interlínguas no processo de aquisição, os
resultados desta pesquisa podem contribuir para o desenho de estratégias de intervenção
didática que possam garantir o processo de reestruturação gramatical das hipóteses que
emergem durante o desenvolvimento linguístico dos aprendentes neste estágio de aquisição.
Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1429
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

Isto é particularmente importante na medida em que tanto quanto a pesquisa sobre o PM já


demonstrou (cf. GONÇALVES, 2010a), logo nos primeiros estágios de desenvolvimento
linguístico, verifica-se a emergência de hipóteses divergentes relativamente ao PE que
acabam por ser retidas no estágio final de aquisição do PM, revelando que o processo de
reestruturação gramatical não altera substancialmente as hipóteses iniciais. Assim, tendo
em consideração que a maximização dos efeitos benéficos do ensino da gramática ocorre
a partir dos estágios intermediários da aquisição de uma língua (ELLIS, 2002), sugere-se a
incorporação destes tópicos nos programas de português do ensino básico como forma de
reduzir as possibilidades de fossilização das estruturas identificadas como problemáticas.
Para concluir este estudo sobre as áreas críticas na aquisição do português em
Moçambique, sugere-se que sejam levados a cabo estudos da mesma natureza com
alunos de outras classes como uma forma de sistematizar aspectos relacionados com
o desenvolvimento linguístico dos aprendentes que frequentam os diferentes níveis de
ensino. A par destes estudos, recomenda-se também a realização de trabalhos de cunho
teórico tendo em vista compreender as razões que explicam as diferentes hipóteses que os
aprendentes constroem sobre a gramática da sua interlíngua.

REFERÊNCIAS

COMPANHIA, C. Panorama dos estudos sobre a aquisição do português L2 em


Moçambique. Revista Odisseia, Natal, v. 3, n. 1, p. 1-15, jan./jun., 2017.

ELLIS, R. The study of second language acquisition. Oxford: Oxford University Press,
2008.

________. The place of grammar instruction in the second/foreign language curriculum.


In: HINKEL, E.; FOTOS, S. (Eds.). New perspectives on grammar teaching in second
language classrooms. New Jersey: Laurence Ermaum Associates, 2002. p. 17-34.

GASS, S.; SELINKER, L. Second language acquisition: an introductory course.


London: Lawrence Erlbaum, 2001.

GONÇALVES, P. Tipologia de “erros” do português oral de Maputo: um primeiro


diagnóstico. In: STROUD, C.; GONÇALVES, P. (Orgs.). Panorama do português oral
de Maputo, vol. II – a construção de um banco de “erros”. Maputo: Instituto Nacional
de Desenvolvimento de Educação, 1997. p. 37-68.

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1430


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

_____________. The role of ambiguity in second language change: The case of


Mozambican African Portuguese. Second Language Research, v. 18, p. 325-347, 2002.

_____________. A génese do português de Moçambique. Lisboa: Imprensa Nacional,


2010a.

_____________. Perfil linguístico dos estudantes universitários: áreas críticas e


instrumentos de análise. In: GONÇALVES, P. (Org.). O português escrito por
estudantes universitários: descrição linguística e estratégias didácticas. Maputo:
Livraria Universitária, 2010b. p. 15-50.

______________.; CHIMBUTANE, F. Assimetrias da mudança linguística em contextos


pós-coloniais: o caso do português e das línguas bantu em Moçambique. In: GONÇALVES,
P. (Org.). Multilinguismo e multiculturalismo em Moçambique: em direcção a uma
coerência entre discurso e prática. Maputo: Alcance Editores, 2015. p. 77-101.

GOODLUCK, H. Language acquisition and linguistic theory. In: FLETCHER, P.;


GARMAN, M. (Eds.) Language acquisition. Cambridge: Cambridge University Press,
1986. p. 49-68.

KLEIN, E.; MARTOHARDJONO, G. Investigating second language grammars: some


conceptual and methodological issues in generative SLA research. In: KLEIN, E.;
MARTOHARDJONO, G. (Orgs.). The development of second language grammars: a
generative approach. Amesterdam: John Benjamins, 1999. p. 3-34.

KRASHEN, S. 1998. Second language acquisition and second language learning.


New York: Prentice Hall International, 1998.

LAKSHMANAN, U.; SELINKER, L. Analysing interlanguage: how do we know what


learners know? Second Language Research, v. 17, p. 393-420, 2002.

LARSEN-FREEMAN, D.; LONG, M. An introduction to second language acquisition


research. New York: Longman, 1991.

LEIRIA, I. Léxico, aquisição e ensino do português europeu língua não materna.


Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e a Tecnologia/
Ministério da Ciência e do Ensino Superior, 2006.

LONG, M. Stabilization and fossilization in interlanguage development. In: DOUGHTY,


C.; LONG, M. (Eds.). The handbook of second language acquisition research. Malden:
Blackwell Publishers, 2003. p. 487-535.

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1431


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

ODLIN, T. Cross-linguistic influence. In: DOUGHTY, C.; LONG, M. (Eds.). The


handbook of second language acquisition research. Malden: Blackwell Publishers,
2003. p. 436-486.

RAPOSO, E. Teoria da gramática: a faculdade da linguagem. Lisboa: Caminho, 1992.

RITCHIE, W.; BATHIA, T. Second language acquisition: introduction, foundations,


and overview. In: RITCHIE, W.; BHATIA, T. (Eds.). Handbook of second language
acquisition. San Diego: Academic Press, 1996. p. 1-45.

SELINKER, L. Interlanguage. In: RICHARDS, J. C. (Ed.). Error analysis perspectives


on second language acquisition. London: Longman, 1974. p. 34-54.

SIOPA, C.; ERNESTO, N.; COMPANHIA, C. A competência em português dos estudantes


universitários em Moçambique: primeira abordagem. Idiomático 1 (Revista Digital de
Didáctica PLNM). Instituto de Camões – Centro Virtual Camões, 2003.

Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1432


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
Departamento de Letras Estrangeiras Modernas

ISSN: 1980-0614

ANEXO I - AMOSTRAGEM DE DESVIOS7

I. LÉXICO
1. Chegaram limparam todo dinheiro (=…roubaram…). (CD. NEL)
2. Aí atrás tinha um elefante. (=...havia…) (CD. NEL)
3. Lutaram quase a noite de manhecer (=…amanhecer). (PZ. JUM)
4. Batem-lhe se fazer uma coisa ingostosa. (=…feia) (PZ. ELD)
5. Magagada estava aí dentro (=…mandioca seca…). (PZ. ELD)

II. LÉXICO-SINTAXE
1. Chegaram bateram o miúdo (=…bateram no miúdo). (CM. LUI)
2. O filho foi na pesca (=…à pesca). (PM. JOA)
3. É porque você é forte do mundo (=…o mais forte…). (CD. JUA)
4. Ao andar do tempo (=…com o andar do tempo). (CD. JUA)
5. Foi amarrado com o coelho (=…pelo coelho). (PZ. JUM)

III. SINTAXE
1. Descascar batatas meter hum (=…as batatas…). (CM. LAT)
2. Vou tentar que apanho (=…tentar apanhar). (CD. JUA)
3. Disse que “eu não quero comer” (=…disse: eu não quero…). (PM. ZIT)
4. Ele se mostrou (=…mostrou-se). (CD. BEN)
5. Atropelou o homem a criança (=…o homem atropelou a criança). (CD. FAD)

IV. MORFOSSINTAXE
1. Depois levo a frigideira põe no lume (=…ponho…). (CM. LUI)
2. Uma vez ganhámos três bola (=…três bolas). (CD. FAD)
3. O meu irmão provocou ele (=…provocou-o). (CM. LAT)
4. Quando você apanhas estás no meio dá (=…apanha…está…). (CD. JUA)
5. Se ser um dia de jogo assistimos (=…for…). (PZ. JUM)

Recebido em: 26 jul.2021


Aceito em: 10 set.2021

7
No final de cada frase, apresenta-se o código do informante que produziu a frase. Assim, as
primeiras duas letras indicam a província enquanto as três últimas indicam as iniciais do nome
do informante.
Revista X, v. 16, n. 6, p. 1414-1433, 2021. 1433

Você também pode gostar