CONSCIÊNCIA
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INTRODUÇÃO
Ao me propor examinar, de uma perspectiva biológica, o
conceito de consciência, me deparei com um grande problema: o
conceito de consciência apresenta múltiplas interpretações nas
diferentes áreas do conhecimento.
Francis Crick (1916~2004), Prêmio Nobel de Fisiologia em
1962, juntamente com James Watson (1928), pela elucidação da
Estrutura do DNA, em seu livro Astonishing Hypothesis - The
Scientific Search for the Soul, 1995, (Espantosa hipótese: a busca
científica da alma) dispensa a definição de consciência pois, se-
gundo ele, “todos sabem do que estou falando.”
Mas será que nós todos sabemos do que estamos falando
quando falamos de consciência?
Para me aproximar de uma conceituação no âmbito da Bio-
logia, senti ser necessário examinar as interpretações que são
feitas por outros campos do conhecimento.
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CONSCIÊNCIA NA FILOSOFIA
Na Filosofia clássica, conforme SIMHA (2009), a consci-
ência era percebida como uma espécie de “juiz interior”, como
uma testemunha interna dos atos realizados pela própria pessoa,
implicando a exigência de uma avaliação de si mesmo que pode-
ria ser compartilhada por outros.
Assim, expressões tais como “ tenho um peso na consciên-
cia”, “estou em paz com minha consciência” ou “ajo de acordo
com minha consciência”, tinham a ver com uma forma de juízo
interno ou uma espécie de opinião moral.
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CONSCIÊNCIA NA PSICOLOGIA
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CONSCIÊNCIA NA BIOLOGIA
Antes de examinar a consciência do ponto de vista da Bio-
logia eu gostaria de trazer alguns questionamentos originados das
diversas leituras que tentei fazer:
CONSCIÊNCIA OU CONSCIÊNCIAS?
Na busca de concepções e definições da consciência encon-
trei uma variedade enorme de tipos, níveis, qualidades e predica-
dos referentes ao tema.
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CONSCIÊNCIA E CONSCIENTE.
Quando uma pessoa desmaia dizemos que perdeu a consci-
ência. Isto não corresponde à verdade, pois a consciência não é
algo que se perde. Francis Crick já afirmou:
“Consciência não é uma coisa, mas um processo.” (CRICK,
1995).
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CONSCIÊNCIA E MENTE.
No mesmo capítulo citado acima, Capra examina a noção
de Mente, comparando os enfoques de Maturana e de Gregory
Bateson (1904~1980).
Mente é outro tema que apresenta múltiplas interpretações.
E não pretendo entrar neste labirinto...
Então, voltemos ao tema “Consciência na Biologia”.
Na Biologia moderna, as Neurociências, em pleno desen-
volvimento, buscam identificar as estruturas do Sistema Nervoso
responsáveis pela consciência e os fenômenos fisiológicos de sua
manifestação.
Vou basear meu texto no livro de EDELMAN (1995). Há
um bom resumo do tema na Parte III do livro de SIMHA (2009),
no capítulo “A abordagem biológica da consciência”.
Nas proposições daquele autor são sugeridos dois sistemas
principais envolvidos com os fenômenos da consciência. Para
começar, ele considera dois níveis de consciência que se manifes-
tam através das estruturas citadas.
A consciência primária, já citada acima, seria a percepção
de um mundo interior e de um mundo exterior e a consciência
elaborada (também denominada consciência de ordem superior)
permitiria a elaboração de conceitos, análises, simbolização e
linguagem.
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CONSCIÊNCIA E EVOLUÇÃO
Como já foi apontado acima, as estruturas cerebrais e pro-
cessos de manifestação da consciência seguem um caminho evo-
lutivo tanto biológico como ontológico.
Na medida em que os organismos foram evoluindo, as es-
truturas e processos da consciência foram se otimizando. De for-
ma semelhante, o desenvolvimento do indivíduo, do feto ao adul-
to, segue um caminho evolutivo até a autoconsciência.
A evolução da consciência, como já destacado por CAPRA
(2002), representa a expressão de processos cognitivos que vão se
aperfeiçoando na medida em que a organização biológica aumen-
ta sua complexidade.
Esta proposição encontra sua base teórica mais consistente
nas ideias do paleontólogo e padre jesuíta Pierre Teilhard de
Chardin (1891~1955).
Este religioso e cientista tentou construir uma visão inte-
gradora entre ciência e religião. Sua obra buscava reconciliar
estes dois campos, mas suas ideias não foram bem aceitas pelos
representantes de ambos os lados. Enquanto seus colegas da ciên-
cia negavam o valor científico de sua obra, tido por muitos como
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CONCLUSÕES E INTERROGAÇÕES
Certamente não tenho condições de “tirar conclusões” co-
mo se este trabalho fosse um relato puramente científico. Mesmo
porque cada conclusão carrega consigo muitas interrogações...
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- VIDA:
Em outro trabalho escrevi “existimos porque estamos vivos,
somos porque percebemos a vida em nós”. Para nós, seres huma-
nos, Vida é existência percebida, é consciência e vivência de exis-
tir. A Consciência só se manifesta se há Vida. O ser vivo, biologi-
camente, manifesta Consciência. E se o Universo, conforme Toro,
“é um portentoso sistema vivo”, será ele também portador de uma
Consciência?
- AMOR:
Conforme MATURANA (1999), o amor é um fenômeno
biológico. Surge da relação, do “conversar” (dar voltas juntos), da
busca ansiosa da comunicação com o Outro. A linguagem, a troca
de mensagens com significado e entendimento, nos liga ao seme-
lhante no âmbito envolvente do Amor. E este envolvimento só
nos é possível pela Consciência do Eu, do Outro e do Nós.
(BUBER, 1977).
Teilhard nos fala da força do Amor que tudo une.
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- ENERGIA:
Para os físicos é capacidade de realizar um trabalho, uma
ação que permite a atualização de uma potencialidade, uma saída
da inércia, um movimento. Afirmam que ela não se cria nem se
destrói, apenas se transforma. É eterna? Mas o termo “energia” é
usado com os mais variados sentidos e na mais ampla acepção. É
força, é poder, é intensidade, é vigor, é qualidade dos corpos e do
espírito. Explica quase tudo no campo do real e no do místico.
Os autores acima falam na Energia da Vida, na Energia do
Amor. Seria a Consciência uma forma de energia?
- SAGRADO:
Este termo eu quero relacionar com tudo que consideramos
como divino, santo, numinoso, hierofânico. Quando personaliza-
mos, das diferentes crenças nos vem a ideia de Deus, do Criador,
de Alá, de Yahweh, de Krishna, do Tao, do Buda.
Teilhard nos traz a concepção de um Ponto Ômega como
culminância da Humanização e encontro com o Cristo Cósmico,
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SÍNTESE
Depois de tudo o que foi acima explanado, arrisco tentar
uma síntese com algumas expressões talvez audaciosas, heréticas
ou mesmo levianas. Aí vão elas:
A VIDA UNIVERSAL é sagrada, é numinosa.
A VIDA é a substância do Universo.
A CONSCIÊNCIA é o espírito desta substância.
O AMOR é o atrator que conjuga estas ENERGIAS no
SAGRADO.
A Consciência Cósmica é o AMOR DO NUMINOSO se
manifestando no SER HUMANO.
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BIBLIOGRAFIA
BERGSON, Henry – A Evolução Criadora. São Paulo: Martins
Fontes, 2005.
BOHM, David A Totalidade e a Ordem Implicada. São Paulo:
Cultrix, 1992.
BUBER, Martin – Eu e Tu. São Paulo: Moraes, 1977.
CAMPBELL, Joseph A Extensão Interior do Espaço Exterior:
a metáfora como mito e religião. Rio de Janeiro: Campus, 1991.
CAPRA, Fritjof As Conexões Ocultas: ciência para uma vida
sustentável. São Paulo: Editora Cultrix/Amana-Key, 2002.
CHARDIN, Pierre Teilhard de O Fenômeno Humano. São
Paulo: Cultrix, 2006.
CHAUI, Marilena Convite à Filosofia. São Paulo: Editora
Ática, 1995.
CRICK, Francis Astonishing Hypothesis - The Scientific Search
for the Soul. Simon & Schuster, 1995.
DAMÁSIO, António O Mistério da Consciência: do corpo e
das emoções ao conhecimento de si. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000.
DICIONÁRIO DE TERMOS DA PSICANÁLISE DE FREUD
Porto Alegre: Ed. Globo, 1978.
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ADENDO:
TRANSE:
A metodologia do Sistema Biodanza, expressa no seu Mo-
delo Teórico, caracteriza como transe (trânsito) a passagem de um
estado de “consciência plena de si e do mundo” para um estado
denominado por Rolando como “regressão”, significando um
retorno ao primordial
O trânsito entre estes dois estados é proporcionado pela
metodologia de Biodança que usa uma sequência adequada de
músicas e danças para induzir um processo continuum de altera-
ção no funcionamento dos neurotransmissores e de diferentes
áreas do sistema nervoso.
De uma situação em que estão mais ativos o sistema adre-
nérgico (simpático, ergotrópico), com predominância de ação da
adrenalina e da noradrenalina, e o néocortex pré-frontal, passamos
para uma condição em que atuam mais intensamente os neuro-
transmissores acetilcolina e serotonina (colinérgico, parassimpáti-
co, trofotópico), assim como a região do sistema límbico-
hipotalâmico.
Pode-se dizer, reportando ao artigo anterior, que são dimi-
nuídas as funções do cérebro mais recente (mamífero), sede da
racionalidade e consciência elaborada, deixando que se evidenci-
em as atuações do sistema límbico (emocionalidade) e da parte
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REGRESSÃO:
Como já descrito acima, a Regressão, que seria uma espé-
cie de mergulho psicobiológico em fases uterinas ou da primeira
infância, é marcada pelo esvanecimento da vigília e das funções
de racionalidade. “A pessoa perde os limites corporais, diminui a
vigilância e se abandona a um estado cenestésico semelhante ao
do bebê dentro do útero”.
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VIVÊNCIA:
Este talvez seja o tema mais difícil de analisar em relação ao
que descrevi anteriormente sobre a Consciência. Rolando escreve:
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Além disto:
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Gostaria de advertir que estas colocações são meras conjecturas resultantes de reflexões desapai-
xonadas e sem intenções afirmativas. Espero que sirvam também para reflexões de outros curiosos
e aprendizes.
Agradeço que me tenhas lido.
Feliciano Edi Vieira Flores (Biólogo, Dr. rer. nat. ; Facilitador-Didata da Escola Gaúcha de Biodança)
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