Artigo - Daniel e Adilma - Vii Semana de Pedagogia
Artigo - Daniel e Adilma - Vii Semana de Pedagogia
Artigo - Daniel e Adilma - Vii Semana de Pedagogia
Resumo
Abstract
This article was part of the monograph research presented to the pedagogy course, whose
main objective was to report the personal experiences of popular theater in the city of Tefé-
AM, since its emergence in 2015, which was the first project to be thought of for the
municipality with a way of bringing together young people to discover the theatrical world.
The methodological framework of the work was bibliographical research based on Boal
(1996, 2008, 2015) as the main author, field research, documentary research, qualitative
approach, using data analysis and interview transcription as techniques. The artists
interviewed during the research were participants in the project in question and due to the
difficult demand to bring everyone together, including the producer and creator of the project,
they were limited to 6 (six). The results achieved in the research resulted in the personal
achievement of everyone who participated in the project, being the starting point for future
theater groups that emerged over the years. The interviews highlighted a strong change in the
way each local artist sees their worldview, considering that they all stand out in their fields to
this day.
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VII SEMANA DA PEDAGOGIA
A presente pesquisa teve como objetivo geral relatar experiências com as artes teatrais
no decorrer dos anos desde o primeiro contato no ano de 2015 com o Projeto talentos de Tefé.
Os objetivos específicos foram: investigar grupos de teatros existentes na cidade de Tefé-AM,
coletar informações e experiências dos participantes do primeiro projeto de teatro na cidade
de Tefé-AM, analisar as experiências de vida dos participantes durante a execução dos
projetos e a transformação pessoal de cada um (a).
As questões norteadoras para esta pesquisa foram as seguintes: De que forma será
possível a produção de material suficiente para relatar os acontecimentos nos projetos em
questão? Quais ex-integrantes do projeto Talentos de Tefé (2015) encontram-se disponíveis
para entrevistas?
Desde o início do ano de 2021, foi pensado todo um plano para compilar na pesquisa,
um arcabouço de vivências, relatos pessoais de participação e materiais como fotografias e
entrevistas realizadas com alguns dos participantes do projeto Talentos de Tefé no ano de
2015. Tal projeto completará oito anos no mês de dezembro e, apesar de ser pouco comentado
na cidade, só aumentou a inquietação e a necessidade de sua publicação, já que ganhou muita
repercussão em sua época.
A construção dos atores e de seus respectivos personagens deram-se através de novos
conhecimentos provenientes dos jogos teatrais praticados com a ajuda de um professor
simpatizante com o projeto, criando um ambiente de harmonia e de acolhimento,
principalmente para aqueles (as) que precisava superar a timidez e seus medos interiores, algo
que produziu muitas experiências corporais no palco.
A retomada para a as atividades com o primeiro grupo no ano seguinte (2016) não
foram bem-sucedidas, devido ao afastamento de mais da metade dos atores, por conta de seus
novos planos para o trabalho e para a vida acadêmica, o que culminou no encerramento total
do projeto, apesar da sequência da peça final estar pronta para os primeiros ensaios e uma
possível reposição de novos personagens com histórias mais hilárias.
O arcabouço teórico aborda o Teatro do Oprimido do teatrólogo Augusto Boal, cujas
obras foram a base para a construção deste trabalho, bem como sua prática aplicada a prática
dos participantes de cada projeto Na metodologia do trabalho foi utilizado o uso dos jogos
teatrais empregados projetos, bem como os resultados envolvendo os ex-integrantes e suas
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VII SEMANA DA PEDAGOGIA
Na concepção do autor, percebemos que a técnica elaborada por Boal era voltada para
a denúncia das contradições das questões sociais e ao incentivo pela participação política do
povo, por isso ele é conhecido como um teatro popular voltado para a emancipação dos
sujeitos, algo que não é apenas para o entretenimento, mas para trazer uma verdade construída
através de falas, gestos e sons. Segundo Boal (2015):
De acordo com o autor, os atores possuem uma peculiaridade única, como os não-
atores, que ignoram as regras do teatro básico e usam a realidade ao redor para atuar,
utilizando seu corpo, fala e movimentos.
Os atores envolvidos com o teatro popular de Boal são comumente traçados por uma
estética única, algo voltado para o coletivo, que transmite o que sente através da comédia e do
drama, algo que transmita a mensagem com mais veemência, com significados que nem
sempre são compreendidos pelo público novato que adere a esta categoria, podendo
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VII SEMANA DA PEDAGOGIA
compreender seu propósito posteriormente. “Os espectadores não prestarão a menor atenção
quando se disser que tal personagem é assim ou assado, mas verão com interesse tudo aquilo
que ele fizer, e que o mostre como sendo assim ou assado” (BOAL, 1996, p. 93).
Em concordância com as palavras do autor, o personagem precisa mostrar em ações o
porquê de suas ações, não apenas por quem ele é, por exemplo, se a personagem é uma vilã,
ela precisa mostrar na ação as atitudes de uma vilã de verdade.
Um ator desse porte se compromete àquilo que é imprevisível, pois o teatro de Boal
nem sempre é uma coisa só, isto é, não segue uma única linha de pensamento, mas se
consolida no pensamento contraditório social e político. “A palavra ‘teatro’ é tão rica de
significados diferentes – alguns se complementando, outros se contradizendo! – que nunca
sabemos ao certo sobre o que estamos falando quando falamos de teatro” (BOAL, 2015, p.
19).
O teatro por si só é uma arte e, por essa razão, precisa mostrar não somente beleza,
graça e postura, mas também revolta, contradição, questionamentos e também a clareza na
mensagem que ele quer repassar para o espectador.
No meio de toda essa miscelânea de conceitos e experiências do cotidianos dos
indivíduos (incluindo os atores e sua trupe), o trabalho desenvolvido por diretores desta
categoria, sempre está envolvido com o social, com os problemas que estão mais latentes
sociedade, tendo em vista de que a voz do povo nem sempre pode ser ouvida e ter em mãos
algo que possa ser usado para transmitir essa necessidade, é de fato instigante, sobretudo os
temas aplicados à trama. Corroborando com o teatrólogo. De acordo com Nascimento (2017):
Boal defende que para um teatro ser popular, é necessário que esteja presente em
cena o entendimento do povo acerca dos fenômenos e das relações sociais, mas isso
não significa que seu conteúdo precise ser necessariamente político
(NASCIMENTO, 2017, p. 47).
No ano de 2015, o Projeto Talentos de Tefé foi criado pelo professor Hudson Ferreira
do curso de fotografia realizado no CETAM 1. Ademais, este projeto estava em andamento
para o desenvolvimento de um possível grupo de teatro para a cidade.
A partir daí, fui convidado para participar do projeto como roteirista, com a missão de
produzir a peça final do curso, que seria apresentada para o público. Então, ele entregou uma
folha com o esboço da história, que contava a vida de um cientista cujo avião caía no meio da
floresta e assim, ele sofreria todo tipo de situações engraçadas envolvendo personagens de
nosso folclore, cujas personalidades estariam trocadas, pois o gênero era a comédia.
Com relação às inscrições, os dados surpreenderam a todos, pois no total foram mais de
noventa com anúncio nas rádios, no Facebook e até mesmo em um jornal local, daí a
quantidade excedida de participantes, já que a notícia foi bem mais divulgada do que apenas
com panfletos, que também foram espalhados pela cidade.
Dessa forma, o produtor do projeto juntamente com o professor convidado, Israel Klinger,
o mediador com exercícios e jogos teatrais, desenvolveram o projeto em escrito para melhor
compreensão do corpo editorial.
Antes do curso iniciar, já estava produzindo o roteiro da peça final em manuscrito, sendo
que ainda não tínhamos um título fixo, mas já tínhamos os personagens principais, como:
Johnson Hansell, Chapolin Colorido, o macaco, Pajé Tibira, Caboré, Jurema, Prefeito
Fernandinho e Dr. Rasteirinha. O primeiro título esboçado foi Pirados da Selva, apenas
temporário para definir melhor o corpo da história, e antes que eu pudesse finalizar o roteiro,
o projeto já havia começado.
O projeto foi realizado com a duração de três meses, iniciando no meio de outubro.
Estavam na mesa da direção o Hudson Ferreira, Rondinelly Pereira, o professor Israel e a
minha pessoa como o roteirista. O auditório estava cheio, as pessoas se entreolhavam,
algumas já se conheciam e outras ainda estavam tendo o primeiro contato. O Hudson
começou dando as boas-vindas a todos, apresentando o projeto e seu propósito, logo em
seguida, apresentou os membros da comissão editorial e assim, o professor Israel Klinger deu
início ao curso, abordando os princípios do teatro, informações básicas para não se aprofundar
muito no assunto.
Finalmente, tivemos nosso primeiro Breves Cenas2, que seria uma seletiva para que
pudéssemos selecionar aqueles que melhor se destacariam em seus papéis, e a montagem e
tema de cada peça estava a critério dos grupos.
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Centro de Educação Tecnológica do Amazonas.
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Refere-se a peças de 5 a 10 minutos.
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A seleção, contudo, não foi realizada na hora, mas sim na casa do Hudson, juntamente
comigo, Rondy e o professor Israel, que a partir do acesso às listas de inscrição, montamos
uma apresentação em Power Point com as fotos dos selecionados para permanecer no projeto
e para fazer parte do elenco da peça final, que, durante esse tempo, já estava praticamente
pronta, só faltava terminar o final.
Planejamos algo bem instigante para anunciar os vencedores da primeira fase do
projeto: utilizamos um data show para que todos vissem os escolhidos e aqueles que,
infelizmente não continuariam mais conosco, pois, eram muitas pessoas e precisávamos
passá-los por um “crivo”. No final, 26 integrantes foram selecionados.
Após a seleção feita, a peça final já havia ganhado o título definitivo de “Deu a louca
na selva”, nome sugerido pelo meu amigo Rondinelly Pereira, que foi aprovado por
unanimidade. Então, todos tiveram acesso ao roteiro finalmente pronto, com cópias para
todos. Todos leram, deram muitas gargalhadas e alguns até se identificaram com os
personagens, o que era bom já que íamos fazer algumas audições para saber qual personagem
ficaria melhor. Alguns eram tão perfeitos para um determinado personagem, que dissemos: “é
ele!” ou “é ela!”, então durante as audições, percebemos que seria mais divertido se as
mulheres interpretassem papéis masculinos e os homens papéis femininos, o que acabou
dando super certo durante os ensaios das primeiras cenas. Os atores e seus respectivos
personagens foram então divididos.
A apresentação final se deu no dia 5 de dezembro de 2015, no auditório do CETAM,
com o local super cheio. Contamos com o apoio do nosso amigo Ronildo do Photo Studio
Design, para realizar a gravação da peça inteira a nível profissional, em alta definição, para no
final ser produzido um DVD com a capa personalizada com o elenco para quem quisesse
adquiri-lo. Foi um espetáculo de atuação naquela noite! Todos os atores deram o melhor de si,
muitas gargalhadas, interação com a plateia, aplausos e muitos elogios no final.
Metodologia da pesquisa
Para este trabalho, foi realizada a pesquisa bibliográfica, que segundo Lakatos e
Marconi (2013, p. 57) “abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de
estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias,
teses, material cartográfico, etc”.
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VII SEMANA DA PEDAGOGIA
Para a coleta de dados, foi realizada uma pesquisa de campo, caracterizada pela busca
dos ex-integrantes do Projeto Talentos de Tefé, cujos encontros variaram de local. Severino
(2013) caracteriza a pesquisa de campo como:
[...] o objeto/fonte é abordado em seu meio ambiente próprio. A coleta dos dados é
feita nas condições naturais em que os fenômenos ocorrem, sendo assim diretamente
observados, sem intervenção e manuseio por parte do pesquisador. [...]
(SEVERINO, 2013, p. 107).
[...] qualquer tipo de pesquisa que produza resultados não alcançados através de
procedimentos estatísticos ou de outros meios de quantificação. Pode se referir à
pesquisa sobre a vida das pessoas, experiências vividas, comportamentos, emoções e
sentimentos, e também à pesquisa sobre funcionamento organizacional, movimentos
sociais, fenômenos culturais e interação entre nações (STRAUSS e CORBIN, 2008,
p. 22).
Por meio delas, colhem-se informações dos sujeitos a partir do seu discurso livre. O
entrevistador mantém-se em escuta atenta, registrando todas as informações e só
intervindo discretamente para, eventualmente, estimular o depoente. [...]
(SEVERINO, 2013, p. 108).
Analisar cada áudio coletado das entrevistas é o próximo passo para entender cada
ponto de vista dos indivíduos e como eles viveram seus momentos durante o evento em
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questão. Logo após, foram realizadas as transcrições de cada arquivo de áudio, para facilitar a
leitura e a escolha das partes mais relevantes como resultado. A técnica de transcrição de
entrevistas a nível profissional é melhor abordada por Alberti (2004):
Os Jogos Teatrais, além de fazerem parte de um método que traz prazer e ludicidade,
ajudam a estimular a ação criadora de alunos e professores. A partir da sua
aplicação, pode-se perceber o desenvolvimento de habilidades e competências que
vão ajudar os educandos a lidar com novas situações, tornando-os mais seguros em
relação ao jogo, aceitando e sugerindo novas regras, trabalhando em grupo, além de
contribuir para a socialização (PINTO, et al, 2013, p. 4).
conhecer, ter certeza de que pode se libertar de suas aflições usando seu corpo como
instrumento para as artes cênicas, sobretudo para aqueles que não costumam se exercitar no
dia a dia.
Os jogos e exercícios empregados durante os anos de projetos, incluindo os da obra de
Boal “Jogos para atores e não atores”, e suas categorias: Dinâmica dos sentimentos (voz e
expressão), Só Perguntas (improvisação), Dinâmica da Árvore (aquecimento), Improviso
Alfabético (improviso), Breve Cenas, Equilíbrio do corpo com objetos (sentir tudo o que se
toca), Corrida das Cadeiras (sentir tudo o que se toca), Ninguém com Ninguém (jogos de
integração), Estátua de Sal (jogos de integração) e o Imã Afetivo (série do cego).
Resultados e discussões
Logo após o sucesso do projeto Talentos de Tefé, cada ator e atriz tiveram as suas
vidas modificadas pelo teatro, já que muitos deles, que iniciaram o curso sem muitas
expectativas, estavam totalmente tímidos, temendo que pudessem ser expostos de maneira
negativa. Os integrantes que pude encontrar na cidade e até mesmo aqueles que foram
entrevistados via WhatsApp, concederam seus relatos, experiências e pontos de vista sobre o
projeto Talentos de Tefé, quais foram suas dificuldades, seus papéis interpretados na peça
Deu a Louca na Selva e como essa convivência com as artes cênicas pôde moldar suas vidas
depois de tantos anos.
Bom, primeiro que foi o início, né, de um sonho, que era participar de um teatro
grande, e a experiência de aprendizado, a iniciação do teatro... acho que foi como
aquele berço de criança, crescendo e aprendendo com os Talentos de Tefé, tendo
com os melhores professores no caso, o Israel e o Hudson, e foi uma experiência de
berço de criança, eu me senti uma criança [...] (Entrevistado 1).
Eu me sinto assim que eu... cresci, né, saí de menina pra mulher, eu até falei que eu
fiz trinta anos, né, então, tipo é uma coisa muito mágica fazer trinta anos, e de vez
em quando eu fico lembrando de tudo o que eu fiz pra chegar o que eu sou hoje, eu
me considero mais uma pessoa tão tímida, até porque, há pouco tempo, né, passei a
ser professora, né, no ensino médio, sou professora, e isso me ajudou muito, né, tipo
o teatro, a filmagem também, né, todo esse processo (Entrevistado 2).
Bom... depois de seis anos... nossa, seis anos já... cara... esses seis anos foi... naquele
momento eu tava, era uma adolescência, né, era uma coisa bem legal, né, aí o tempo
foi passando, os objetivos foram mudando... mas... eu me sinto grato por ter
participado, porque eu conheci pessoas legais, pessoas importantes, pessoas que me
ajudaram a enriquecer intelectualmente, pessoalmente, de todas as formas e tá com
vocês, tá com aquelas pessoas é gratificante, posso dizer que eu me sinto grato...
(Entrevistado 3).
Como pessoa... eu me sinto uma pessoa bem mais liberta... essa temporada de teatro,
como eu já citei, ela foi uma... eu sentia que eu tinha um certo talento, porque a
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galera também não... pra entrar nisso, mas ao mesmo tempo muita insegurança, mas
eu sempre fui muito de dar a cara à tapa... eu lembro que eu entre com muita, muita,
muita, muita timidez e eu consegui me libertar real, nossa... eu lembrando disso e eu
vendo essa pequena cena que tu me mostrou deu uma lagrimazinha assim lá dentro
do meu peito, porque eu sinto muita falta, eu daria tudo pra ter aquilo de volta, de
verdade, aquela galera... (Entrevistado 4).
Eu me vejo como aquelas atrizes aposentadas! (risos), depois não atuei mais, por
não focar na área e não ter um certo incentivo, talvez eu poderia ter ido longe, mas
tudo que aprendi, levo comigo até hoje, muitos dos ensinamentos do professor Israel
e professor Hudson, continuam em minha vida. E quando aparecer a oportunidade e
que eu possa participar, serei uma das primeiras na fila. Atuar te ensina não só criar
uma personalidade, um jeito que se encaixe no personagem, mas você aprende a
olhar a personalidade das pessoas ao seu redor, a lidar com situações inusitadas, que
por você saber e analisar, você pode dizer: “a atitude dessa pessoa não é a dela”.
(Entrevistado 5).
Hoje eu me sinto... uma mulher, né, que eu era uma menina, me sinto uma mulher
completamente diferente assim, não perdi minha essência mas também aprendi
muita coisa, né, eu estou ainda em processo de aprendizado... eu como pessoa, né,
senti que evoluí muito... e esse processo ainda tá acontecendo, e muito... com certeza
esse projeto fez parte desse processo assim de mudança em mim, e sempre lembro
com muita saudade, sempre lembro com muito carinho, na verdade, em momentos
que eu tô refletindo sobre tudo assim, o que eu já vivi, o que eu já passei, e aí acabo
lembrando e com muito carinho, né, daquele tempo..; (Entrevistado 6).
Analisando todos os depoimentos dos atores e/ou personagens, é visível que todos,
sem exceção sofreram mudanças internas com relação ao seu estilo de vida, a maneira como
enxergava o mundo, sobretudo a sua capacidade de ir mais além do que esperavam. Depois de
anos, comparando aquela época com o depoimento dos integrantes deste projeto, a postura, o
jeito de falar e andar também mudaram, influenciando suas vidas no trabalho e na faculdade.
O que foi percebido no decorrer dos encontros, foi que esses jovens e adolescentes,
que participavam dos encontros, até mesmo se deslocando de sua comunidade para uma outra,
onde as programações estavam acontecendo, foi que a participação deles no sentido de se
comunicar em público, individualmente ou em grupo, foi gradativamente aumentando, sendo
que muitos deles tinham talentos como cantar e dançar, mas muitas das vezes não conseguiam
demonstrar com muitas pessoas em volta, e o teatro permitiu que cada um deles perdesse sua
timidez e inibição, tornando-os mais confiantes e dispostos a representar cada vez mais a sua
comunidade através da arte, não apenas no teatro, mas no canto, na dança e na poesia.
Dessa forma, promover o teatro popular nas comunidades ribeirinhas é contribuir para
a formação dos jovens e adolescentes que ainda não sabem ao certo o que farão de suas vidas
no futuro, mesmo aqueles que já constituíram família, precisam de algo que possam estruturar
ainda mais suas mentes, através do movimento do corpo, da fala e das expressões, tornando-
os sujeitos autores de sua própria história.
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VII SEMANA DA PEDAGOGIA
Durante os exercícios corporais, eles demonstravam muita maestria, fosse nos jogos de
movimentos, como em cenas de duplas onde precisavam interpretar seguindo algumas
instruções, apesar dos erros, o que era bastante comum, os acertos eram cada vez mais
frequentes. Muitos deles ainda queriam montar uma novela local na comunidade, com a ajuda
de seus pais e amigos, o que me pareceu uma boa ideia, já que em breve não poderia mais
ficar ali, dado o início das aulas.
A apresentação foi muito bem assistida pelo público, todos os atores foram
excepcionais, podendo ver que um ou outro já estava totalmente solto, sem timidez e sem
medo de errar, todos se entregaram aos personagens que interpretaram e no final, não queriam
nem remover o figurino e os adereços, pois queria registrar os momentos em fotografias para
manter como registro.
No final, muita coisa foi refletida sobre o trabalho que foi produzido naquele ano, e
por essa razão, o desejo de continuar com o teatro na cidade de Tefé – AM cresceu a partir
deste projeto, apesar de algumas dificuldades enfrentadas pelos novos coordenadores, a marca
que o Projeto Talentos de Tefé deixou nunca de fato se apagará completamente da memória
de seus ex-integrantes, e principalmente do mundo acadêmico atual.
1. CONSIDERAÇÕES FINAIS
opiniões não construtivas, mas mostrando que a nossa arte não é somente entretenimento, mas
é luta e conquista.
Referências
ALBERTI, Verena. Manual de história oral. 2. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2004.
BOAL, Augusto. Teatro Legislativo: versão beta. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1996.
_____________. Jogos para atores e não-atores. São Paulo, Cosac Naify, 2015.
PINTO, et al. Jogos teatrais, de Viola Spolin, como ferramenta pedagógica no ensino da
arte. In: Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor – PDE, 2013.
SOUZA, Rondinelly Pereira de (Direção). Deu a louca na selva. Produção: Hudson Ferreira
dos Santos. Roteiro: Daniel Siqueira Ribeiro. Intérpretes: Anna Beatriz Falcão, Maria
Eduarda, Ingrid Costa Rodrigues e outros. Projeto Talentos de Tefé; Tefé (AM), 2015, 1
DVD.