Casos Práticos 2
Casos Práticos 2
Casos Práticos 2
CC)
Vasco empresta a Xavier a sua casa no Algarve para este passar férias durante o mês
de agosto com a sua família.
Empresta-lhe ainda o seu automóvel para ele poder passear durante as férias.
Durante as férias Xavier decide participar num rali com o automóvel obtendo o
primeiro lugar, ganhando um prémio no valor de 1000 euros.
Numa das noites Xavier resolve transformar a casa numa discoteca dando uma festa
para 50 pessoas.
No dia seguinte, sem que Xavier consiga explicar as causas, as paredes encontram-se
riscadas e o chão manchado.
Ao tomar conhecimento deste facto por terceiro, Vasco decide dirigir-se ao Algarve e
aproveitando o facto de Xavier se encontrar na praia mudou a fechadura da casa.
Vem agora exigir-lhe que lhe sejam pagos os danos do veículo, da casa e ainda que
lhe seja entregue o prémio recebido no rali.
Xavier pede uma indemnização a Vasco por este não lhe ter deixado usar a casa
durante todo o mês.
Quid Iuirs.
Aqui, sim, o comodatário poderá invocar a relevância negativa da causa virtual, o que
neste caso não colhe.
A resolução também pode ser consensual e por qual qualquer forma (porque não se
exige forma especial para o contrato).
Quanto à mudança da fechadura: podia invocar “ação direta” (art. 336º) porque não
conseguiu contactar o comodatário. Podia invocar que foi o único modo que ele
encontrou para resolver o contrato.
O contrato é sempre feito tendo em conta o comodante (pois se ele é gratuito não é
lógico que seja a favor do comodatário).
(ex.: se ele tivesse uma oferta para venda, mesmo que o comodatário cumprisse todas
as cláusulas do contrato, ele tinha fundamento para a resolução porque se não
vendesse tinha prejuízo, e isso não pode acontecer).
António e Berta celebraram contrato de mútuo de 1000 euros por um ano tendo
ficado estabelecido que haveria juros porém não determinaram a taxa aplicável.
Quid Iuris?
Quid Iuris?
Do disposto no art. 1143º que o mútuo de valor superior a 2 500 euros e inferior a
25 000 euros só é válido se for celebrado por documento assinado pelo mutuário.
Bastava, assim, um documento particular assinado por Julieta para garantir a validade
formal do contrato.
Sendo o contrato válido, dele emergiram direitos e deveres para os contratantes,
nomeadamente o dever de Julieta pagar os juros mensalmente vencidos.
Entretanto Julieta em mora quanto ao pagamento dos juros, deveria Ivone fixar-lhe um
prazo razoável para o pagamento em falta, sob pena de, por perda do interesse,
resolver o contrato, nos termos do art. 808º e art. 1150º.
Por força do efeito retroativo da resolução (art. 434º, nº1), Julieta teria de devolver
imediatamente o capital mutuado e pagar os juros vencidos, apesar de as partes não
terem fixado um prazo de duração do contrato.
Caso não existisse este incumprimento, qualquer das partes poderia extinguir este
contrato, por denúncia comunicada à outra parte com uma antecedência mínima de 30
dias em relação à data em que se deveria verificar o efeito extintivo (art. 1148º, nº2).
Quid Iuris?
A taxa fixada não é usurária (juro legal – 4%) eles fixaram um valor de 5% (podiam ir
até 8%) sem garantia real.
Dispõe o art. 1143º que o contrato de mútuo de valor superior a 25 000 euros só é
válido se for celebrado por escritura pública ou por documento particular autenticado
e o de valor superior a 2 500 euros se o for por documento assinado pelo mutuário.
Nos termos do art. 220º, a declaração negocial que careça da forma legalmente
prevista é nula.
O contrato celebrado entre Guilherme e Humberto é, assim, nulo por vício de forma,
pois, dado o valor mutuado, o contrato deveria ter sido celebrado por escritura pública
ou por documento particular autenticado.
(Além disso, a fixação da taxa de juros deveria sempre ser feita por escrito)
Todavia, o facto de o contrato não ser válido não permite a Humberto apropriar-se do
dinheiro mutuado.
Terá de o restituir a Guilherme por força do disposto no art. 289º, já que a invocação da
nulidade tem, neste caso, efeito retroativo.
Manuel celebrou com Natália um contrato por escrito pelo qual lhe emprestava
15.000€. Determinava o contrato que Manuel lhe entregava de imediato 50% e
passado um ano o restante.
Acordaram que Natália pagaria juros semestrais à taxa anual de 8%.
Quid iuris.
Os juros aplicados não são usuários porque os juros legais são de 4% - para ser usurário
teria de ser de ± 5% (10% de juros já seria usurário).
Não havendo garantia real, não ultrapassa os 9%, logo não são usurários.
É um contrato que foi celebrado por escrito, logo é válido nos termos do art. 1143º.
O Banco X, onde Daniel tem conta, obrigou-se a transferir para a conta Daniel 3 000
euros, que este se obrigou a restituir no prazo de 6 meses. Trata-se de um contrato
de mútuo?
Abertura de crédito (aberta linha de crédito, na qual se pode atingir um montante
final) vs contrato de mútuo (valor concreto).
De acordo com o art. 1142º o contrato de mútuo é o contrato pelo qual uma das partes
empresta dinheiro ou outra coisa fungível, ficando a segunda obrigada a restituir outro
tanto do mesmo género e qualidade.
De acordo com o art. 1143º uma vez que o contrato tem por objeto a quantia de 3 000
euros está sujeito a forma especial, neste caso, a documento assinado pelo mutuário.
Neste caso não parecem ter sido estabelecidos juros uma vez que Daniel apenas se
obrigou a restituir no prazo de 6 meses os 3 000 euros sem ser referido qualquer valor
de juros.
Do art. 1145º resulta que a onerosidade não sendo uma característica essencial é uma
característica natural do mútuo, uma vez que vigora uma presunção de onerosidade.
Importa ainda saber se se exige alguma forma especial se as partes quiserem estipular
expressamente o carácter gratuito do mútuo.
No entanto, caso o mútuo tenha por objeto dinheiro, o acordo de exoneração de juros
apenas se aplicará àqueles que seriam devidos até à data do vencimento da obrigação
de restituição do capital, uma vez que após essa data, com a entrada do mutuário
passam a ser automaticamente devidos juros legais (art. 805º, nº2, al. a) e art. 806º).
Dentro das modalidades dos especiais de mútuo assume especial relevância o caso
bancário, o que qual consiste no mútuo que é celebrado por instituições bancárias.
O mútuo bancário seja qual for o seu valor quando feito por estabelecimento bancário
autorizado pode provar-se por escrito particular ainda que a outra parte não seja
comerciante. No caso, não é referido se foi celebrado o contrato por firma escrita (mas
esta é uma exigência que provém do regime geral dos contratos de mútuo uma vez que
a quantia é superior a 2 500 euros).
Neste caso estamos assim perante um contrato de mútuo bancário curto (inferior a um
ano a partir da data em que os fundos são colocados à disposição do respetivo
beneficiário).
O mútuo bancário seja qual for o seu valor quando feito por estabelecimento bancário
autorizado podem provar-se por escrito particular ainda que a outra parte não seja
comerciante – neste caso não é referido se foi celebrado o contrato por forma escrita
(esta é uma exigência que provém não só́ do regime geral dos contratos de mútuo uma
vez que a quantia é superior a 2 500 euros, quer seja pelo estabelecido no DL nº
58/2013.
Quid Iuris?
O contrato celebrado no caso concreto não está sujeito a qualquer exigência de forma,
pelo que é válido tendo sido celebrado verbalmente.
Supondo, assim, que o contrato é firmal e substancialmente válido, dele nascem, para
ambas as partes, direitos e deveres. Questão central do problema em apreço é a de
saber se Bernardo cumpriu as suas obrigações de mandatário.
Por outro lado, Bernardo incumbiu a sua secretária de praticar atos que a si lhe
competiam, adquirindo os quadros do indicado pintor.
O art. 1165º permite que o mandatário se faça substituir por outrem ou se socorra de
auxiliares na execução do mandato, nos mesmos termos em que o procurador o pode
fazer.
Assim, Bernardo só poderia incumbir a sua secretária de comprar os quadros caso se
verificassem os requisitos do art. 264º. Deste modo, não tendo havido consentimento
do mandante para que o mandatário se pudesse substituir por outrem este não
poderia enviar a sua secretária para negociar e decidir sobre a aquisição dos quadros.
Acresce que, mesmo considerando que a secretária desempenhava apenas uma função
de auxiliar na execução do mandato (o que, em princípio, seria admitido pelo nº4 do
art. 264º), a natureza do ato a praticar dificilmente se coaduna com a execução por
quem não tem as qualidades de perito em arte. E foi pelo facto de Bernardo ter essa
qualidade que Avelino o mandatou para escolher e adquirir os melhores quadros.
Em fevereiro de 2019, Ivo faleceu num acidente de viação, mas Joel continuou aquela
atividade, tendo vendido mais algumas jóias e depositado o dinheiro na sua conta
bancária.
No caso concreto está em análise uma situação de mandato plural , já que Herculano
incumbiu duas pessoas da prática dos mesmos atos jurídicos.
Por outro lado, como Herculano não quer que terceiros saibam que as jóias lhe
pertencem, conclui-se que, no plano das relações externas, se trata de um mandato
sem representação (previsto no art. 1180º).
Como Joel depositou o preço das jóias na sua conta bancária, verifica-se a violação da
obrigação que lhe é imposta pela al. e) do art. 1161º, ou seja de entregar ao mandante
o que recebeu em execução do mandato.
Não concordando com a atuação de Joel, Herculano poderá revogar o mandato, a todo
o tempo, nos termos do art. 1170º.
No caso concreto existia, porém, outro fundamento para a extinção do mandato. Como
faleceu um dos mandatários, o mandato caducou em relação a ele, nos termos do art.
1176º. Todavia, como se tratava de um mandato conjunto, apesar de a causa de
caducidade respeitar apenas a um deles, o mandato caduca em relação a todos, nos
termos do art. 1177º.
Assim, após o falecimento de Ivo, Joel deixou de ter poderes para representar
Herculano e consequentemente para vender as jóias. Nesse momento deveria ter
cumprido a obrigação de prestar contas que lhe era imposta pela al. d) do art. 1161º.
O mandato é livremente revogável por qualquer das partes, não obstante convenção
em contrário ou renúncia ao direito de revogação (art. 1170º, nº1).
É certo que se o mandato tiver sido conferido no interesse do mandatário, não pode
ser revogado pelo mandante sem acordo do interessado, salvo havendo justa causa
(art. 1170º, nº2).
Findo o mandato, Margarida, nos termos do art. 1161º, tem a obrigação de prestar
contas, se houver em relação a ambos créditos e débitos recíprocos [al. d)], e tem
ainda a obrigação de entregar ao mandante o que recebeu em execução do mandato
ou no exercício deste (dinheiro que recebeu de terceiro, documentos, etc.).
Diogo, residente em Coimbra, tendo recebido por legado dois apartamentos situados
no distrito do Porto, pediu a Bernardo, seu amigo e residente nessa cidade, que os
vendesse, Diogo indicou a Bernardo que queria receber pelos dois imóveis um valor
não inferior a 300 000 Euros, sendo-lhe indiferente o preço pelo qual cada um deles
seria vendido individualmente. Em março de 2022, foi outorgada procuração a favor
de Bernardo, pela qual Diogo lhe conferiu os necessários poderes de representação.
Bernardo vendeu, no passado mês de abril, um dos imóveis a Eduardo, pelo preço de
180 000 Euros, e o outro a Fernando, pelo preço de 130 000 Euros.
Todavia, Eduardo ainda não pagou o preço, Diogo está profundamente aborrecido
com a situação e pretende responsabilizar Bernardo.
Quid iuris?
Estamos, também, perante um contrato gratuito, já que não foi fixada nenhuma
retribuição a Bernardo.
No contrato de mandato, o ato jurídico deve ser praticado por conta do mandante,
mas não necessariamente em seu nome.
Assim, nos termos do art. 262º, nº2, conjugado com o art. 875º (na redacção que lhe
foi dada pelo DL nº 116/2008, de 4 de Julho), a procuração deverá ter sido feita por
escritura pública ou documento particular autenticado.
Tendo Bernardo recebido poderes para agir por conta e em nome do mandante, os
negócios realizados por ele produzem imediatamente os seus efeitos na esfera jurídica
do Diogo, sem necessidade de atos posteriores de transmissão.
Quanto ao facto de Eduardo ainda não ter pago o preço do imóvel, que é uma
obrigação resultante do contrato de compra e venda [art. 879º, al.c)], o art. 1183º
estabelece que, salvo estipulação em contrário, o mandatário não é responsável pela
falta de cumprimento das obrigações assumidas pelas pessoas com quem haja
contratado.
Álvaro, emigrante na Suíça, escreveu uma carta ao seu primo Eugénio, em que lhe
pediu para arranjar um comprador para um apartamento situado em Viana do
Castelo, de que era proprietário e que estava interessado em vender.
Eugénio respondeu-lhe que não se preocupasse, que iria tratar do assunto o mais
depressa possível.
Depois de contactar com alguns amigos e conhecidos, Eugénio contratou com Carlos
a venda do apartamento por 120 000 euros, mas até agora ainda não entregou esse
dinheiro a Álvaro,
Quid iuris?
O mandato é um contrato de prestação de serviços, pelo qual uma das partes se obriga
a praticar um ou mais atos jurídicos por conta da outra (art. 1157º).
Este ato jurídico deve ser praticado por conta do mandante, mas não tem
necessariamente de ser praticado em seu nome.
Como Álvaro não outorgou a procuração a Eugénio, estamos perante um mandato sem
representação.
Este executa em nome próprio o negócio de que está incumbido, tomando-se o sujeito
dos direitos e obrigações resultantes da atividade exercida, embora os deva transferir
ao mandante.
Álvaro, no interesse de quem a atividade foi exercida (art. 1181º), pode, pois, intentar
uma ação para o cumprimento.
Com base nos poderes que lhe foram conferidos, Filipe celebrou com Raquel um
contrato promessa de compra e venda do imóvel.
Quid iuris?
O mandato é um contrato de prestação de serviços que tem por objeto a prática de
atos jurídicos, e encontra-se regulado nos art. 1157º e ss.
Nos termos do art. 1159º, nº2, este mandato abrange, além da venda propriamente
dita, todos os demais atos necessários à sua execução, como, por exemplo, receber o
preço convencionado e dar quitação.
Tendo sido outorgada a necessária procuração (art. 262º, nº1), através de escritura
pública (nos termos do art. 262º, nº2, conjugado com o art. 875º - na redacção que lhe
foi dada pelo DL nº 116/2008, de 4 de Julho - a procuração poderia ter sido feita por
escritura pública ou documento particular autenticado), estamos perante um mandato
com representação e os negócios realizados por Filipe produzem imediatamente os
seus efeitos na esfera jurídica de Carolina (contempla tio domini).
É discutível se uma procuração para venda atribui poderes para celebrar um contrato-
promessa do mesmo bem.
Há́ quem defenda que não, já que o contrato-promessa não é acessório da venda, não
é um ato necessário à execução do mandato, para efeitos do art. 1159º, nº2. Para
estes autores, o negócio é ineficaz em relação ao mandante se não for por este
ratificado.
Todavia, parece-nos que a posição mais defensável é aquela que entende que o
mandato para vender inclui o poder de celebrar um contrato-promessa de compra e
venda, que se apresenta como uma forma normal de assegurar a realização do
contrato definitivo.
Como o mandato é livremente revogável por qualquer das partes, (artº 1170, nº1),
dado o carácter intuitu personae deste contrato, Carolina pode revogá-lo ad nutum.
Todavia, tem de cumprir o contrato-prometido por Filipe, que é plenamente eficaz e
que produz efeitos na sua esfera jurídica, sob pena de responder pelo seu não
cumprimento.